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CONGRESSO DE
ENSINO, PESQUISA,
EXTENSÃO E
CULTURA
2020
REITOR
EDWARD MADUREIRA BRASIL
VICE-REITORA
SANDRAMARA MATIAS CHAVES
COORDENAÇÃO GERAL
COORDENADORA DA GRADUAÇÃO
CARINA FOLENA CARDOSO, UFG Regional Goiás
COORDENADOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PEDRO HENRIQUE GONÇALVES, UFG Regional Goiás
COORDENADORA DE EXTENSÃO E CULTURA
SUZETE ALMEIDA DE BESSA, UFG Regional Goiás
COORDENAÇÃO CIENTÍFICA
GABRIEL TEIXEIRA RAMOS, UFG Regional Goiás
COLABORADORES
ARTHUR SIMÕES CAETANO CABRAL, UFG Regional Goiás
RENATO PRADO, IFG Campus Cidade de Goiás
SUZETE ALMEIDA DE BESSA, UFG Regional Goiás
COORDENAÇÃO CULTURAL
ARTHUR SIMÕES CAETANO CABRAL, UFG Regional Goiás
DERYK SANTANA, IFG Campus Cidade de Goiás
COORDENAÇÃO DE DIVULGAÇÃO
HEITOR DE CARVALHO PAGLIARO, UFG Regional Goiás
IAGO BRAGA, UFG Regional Goiás
SUZETE ALMEIDA DE BESSA, UFG Regional Goiás
COORDENAÇÃO DE MONITORIA
SUZETE ALMEIDA DE BESSA, UFG Regional Goiás
WAGNER FALCÃO, IFG Campus Cidade de Goiás
COORDENAÇÃO DE TRANSMISSÃO
RODRIGO BOMBONATI, UFG Regional Goiás
COLABORADORES
ARTHUR MARESCA, UFG Regional Goiás
JOÃO PAULO MACHADO, UFG Regional Goiás
DIAGRAMAÇÃO
IAGO BRAGA, UFG Regional Goiás
NAYARA CRISTINA GONÇALVES SILVA, UFG Regional Goiás
SUZETE ALMEIDA DE BESSA, UFG Regional Goiás
REVISÃO
CARINA FOLENA CARDOSO, UFG Regional Goiás
MARIA CAROLINA CARVALHO MOTTA, UFG Regional Goiás
SUZETE ALMEIDA DE BESSA, UFG Regional Goiás
12 a 14 de novembro de 2020, ufg regional goiás
anais do
ix Congresso de Ensino, Pesquisa, Extensão e
Cultura
VOLUME ÚNICO
ORGANIZAÇÃO
ARTHUR SIMÕES CAETANO CABRAL
CARINA FOLENA CARDOSO
GABRIEL TEIXEIRA RAMOS
PEDRO HENRIQUE GONÇALVES
RENATO FRANCISCO DOS SANTOS PAULA
RENATO PRADO
SUZETE ALMEIDA DE BESSA
DIAGRAMAÇÃO
CAROLINA MARIANI PIANA
ISBN 978-65-00-19604-7
TROCA E CONSTRUÇÃO DE SABERES ATRAVÉS DA EXTENSÃO
UNIVERSITÁRIA POPULAR NO BAIRRO TEMPO NOVO EM GOIÁS-
GO
Autor 1
CORDEIRO, Camomila
Estudante de graduação; Universidade Federal de Goiás - Regional Goiás
camocordeiro@gmail.com
Coautor(a) 1
THIESEN, José Rodolfo Pacheco
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo; Universidade Federal de Goiás - Regional Goiás
joserpt@ufg.br
Coautor(a) 2
OLIVEIRA, Karine Camila
Mestrado profissional em Preservação do Patrimônio Cultural ; Universidade Federal de Goiás - Regional
Goiás
karineco@ufg.br
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Resumo: A extensão universitária − um dos pilares da universidade pública brasileira − deve ter
como centralidade o diálogo com a comunidade e a troca de saberes oriunda desse processo,
costurando uma rede de ações e experiências que envolvem a técnica e os saberes empíricos
populares com a tecnologia e os métodos científicos da universidade. Essa troca permite que o
aprendizado e a prática se desenvolvam em conjunto, alinhadas às demandas populares. A
demanda por habitação, principalmente no interior do país, expressa as desigualdades da
sociedade no acesso a esse direito fundamental, expondo a população às vulnerabilidades da
autoconstrução e a ausência de assessoramento técnico adequado. O artigo propõe discutir
experiências de estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo vividas a partir de ações de
extensão, vinculadas ao assessoramento técnico a moradores do bairro Tempo Novo no
município de Goiás-GO, abarcando as reflexões teórico-metodológicas sobre os temas que
tangenciaram a vivência. Esse processo representou a construção de um repertório técnico-
social estabelecido entre os estudantes e as moradoras durante as oficinas participativas. As
ações foram voltadas para a cooperação coletiva e capacitação da mão de obra dessas famílias
e se efetivaram na construção participativa de um abrigo de ônibus no bairro por um grupo de
mulheres. Foram utilizadas as técnicas construtivas que as mesmas tinham mais vontade em
aprender, podendo assim, replicá-las em suas residências em pequenas obras de melhoria
habitacional.
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INTRODUÇÃO
Há um certo senso comum de que a arquitetura está relacionada apenas a grandes construções
e edificações de elite. Essa compreensão não considera que a arquitetura também diz respeito
à moradia, não apenas dos que podem pagar pelos serviços especializados de um profissional
de arquitetura. A moradia, por sua vez, é um dos direitos fundamentais previstos na Constituição
Brasileira de 1988. Nessa condição, subentende-se que todos deveriam ter casas para morar e
também assessoramento técnico para que esse direito se realizasse de modo adequado e
seguro. Porém, é possível perceber que muitas edificações para moradia popular são feitas a
partir da autoprodução.
Isso sem falar naquela arquitetura produzida pelo Estado, projetada por arquitetos urbanistas,
destinada à moradia dos mais pobres, que parece intencionalmente se expressar como “não-
arquitetura”. Nos referimos aqui aos conjuntos habitacionais produzidos pelo Estado, formados
por casas ou prédios da mais baixa qualidade arquitetônica e urbanística. Eles precisam se
afirmar como arquitetura pobre, para que sejam reconhecidos pela população como ação de
Estado voltada exclusivamente aos pobres. Restam, portanto, aos mais pobres três alternativas:
moradia nenhuma, a moradia de baixa qualidade fornecida pelo Estado ou a autoprodução da
moradia.
Por autoprodução1, entendemos os processos construtivos que, em geral, não contam com um
projeto de arquitetura formulado e acompanhado por um profissional habilitado. A
autoprodução da moradia pode ser realizada pelo próprio dono da obra (autoconstrução) ou
por pessoas por ele contratadas. Isso acontece em virtude de alguns fatores, por exemplo, o
valor dos honorários profissionais do arquiteto, o desconhecimento por parte da população das
vantagens de contar com esse apoio profissional (seja pela qualidade funcional do futuro
edifício, pela economia em manutenção futura, e planejamento da obra), e, por fim, a
dificuldade de diálogo entre usuários e profissionais de arquitetura para que haja entendimento
recíproco em torno de programa de necessidades, uso de materiais, funcionalidade dos
ambientes, gestão da obra, e expectativas estéticas. Nesse sentido, Silke Kapp, et. al., (2009)
aponta a dificuldade dos usuários em terem um diálogo franco e uma abertura por parte dos
profissionais para aceitarem as ideias e opiniões de quem realmente vai usufruir da construção,
o que resulta em projetos que não atendem às necessidades dos usuários.
Esta questão também está presente nas ações de assessoramento técnico promovidos pelas
universidades por meio de projetos de extensão. Superada a questão do preço, pois a
universidade não cobra da comunidade por esta assessoria, resta o problema da dificuldade em
se estabelecer um diálogo efetivo para que a comunidade possa entender a importância dos
conhecimentos que os profissionais de arquitetura podem trazer para ela, e, no outro polo, para
que arquitetos e urbanistas compreendam a importância de conhecimentos detidos pela
comunidade assessorada. Para parte do campo da arquitetura e do urbanismo esta é uma
questão relevante e motiva ações de extensão universitárias que se denominam “populares”,
por pretenderem realizar esse diálogo e viabilizar o protagonismo da população nos projetos de
habitação popular.
Neste artigo, buscaremos discutir essa questão no âmbito de realização do projeto de extensão
“CAU-GO: Experiências de cooperação e capacitação de moradores para melhoria habitacional
1
Sobre o conceito de autoprodução aqui empregado, ver KAPP, et. al., 2009.
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no bairro Tempo Novo em Goiás-GO”, promovido pelo Laboratório de Projetos (LabProj) em
parceria com o Laboratório de Tecnologias da Construção (LabTecs), ambos do Curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás - Regional Cidade de Goiás, no ano
de 2019, junto à comunidade do Bairro Tempo Novo, na Cidade de Goiás, estado de Goiás, com
financiamento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO).
DESENVOLVIMENTO
Antecedentes do projeto
O Curso de Arquitetura e Urbanismo da Regional Goiás da UFG iniciou suas atividades no ano de
2015. Com a contratação de professores e a estruturação do curso, foi criado o Laboratório de
Projetos (LabProj), que sediou o desenvolvimento de projeto piloto de Assessoria Técnica para
Habitação de Interesse Social (ATHIS), com financiamento do CAU-GO, no ano de 2017. Este
primeiro projeto envolveu diversos professores e também estudantes bolsistas, tendo atendido
um total de 15 famílias da cidade, por meio da elaboração de projetos de reforma.
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Batista. O principal deles era denominado “Serviço Social: arte, cultura e sociabilidade no
Residencial Tempo Novo em Goiás-Goiás”, que tinha como objetivo promover momentos de
sociabilidade e interação entre os moradores do bairro, desenvolvendo atividades como feiras
de trocas, festa junina, reuniões comunitárias.
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Para que o projeto pudesse ser realizado, ele contou com a participação dos professores
coordenadores do LabProj e também com estudantes bolsistas do curso de Arquitetura e
Urbanismo e do curso de Serviço Social, além de estudantes voluntários e da participação de
professores e colaboradores de outras instituições de educação superior da cidade de Goiás,
como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).
O projeto, que tinha como intenção dar continuidade às ações desenvolvidas no ano anterior,
já possuía algumas informações importantes para o seu desenvolvimento, como, por exemplo,
a necessidade de se construir algo que fosse do usufruto da comunidade em geral. Caberia à
comunidade definir qual mobiliário urbano seria construído. Por meio da construção desse
mobiliário, a capacitação técnica iria ocorrer.
Além disso, o projeto também visava respeitar o protagonismo das mulheres, já que, na grande
maioria das reuniões dos anos anteriores, pode se perceber que a presença e o
comprometimento das mulheres era sempre maior. A partir disso, foram definidas ações
preparatórias para execução do objetivo principal do projeto, sendo elas: reuniões de equipe,
reuniões com a comunidade, e oficinas participativas.
Atividades realizadas
1º Reunião (07/07/2019): A primeira atividade do projeto aconteceu em conjunto com uma ação
do projeto de extensão parceiro “Tempo Novo: Arte, Cultura e Sociabilidade”, desenvolvido pelo
curso de Serviço Social. Neste momento, foi possível realizar as seguintes ações: 1) apresentar
a proposta do projeto de extensão aos moradores; 2) dialogar com os moradores do bairro para
levantar o número de pessoas que gostaria de participar das oficinas construtivas; 3) apresentar
diversos sistemas e técnicas construtivos que poderiam ser utilizados nas oficinas, dentre os
quais os moradores deveriam escolher aqueles que mais tivessem interesse em aprender; 4)
definir o mobiliário urbano a ser construído; 5) definir o local de implantação deste mobiliário;
6) Realizar cadastro prévio das famílias interessadas; 7) Promover oficinas de desenho, pintura
e maquete, como estratégia para levantar os anseios das crianças em relação ao bairro. Essas
atividades e as informações obtidas por meio delas possibilitaram à equipe se munir de
informações para organizar as ações seguintes, projetar o mobiliário urbano definido pelos
moradores, e propor atividades destinadas às crianças para que as mães (e pais) pudessem
participar tranquilamente das oficinas. A decisão foi por um abrigo em um dos pontos de parada
de ônibus do sistema de transporte coletivo público municipal, que seria construído com as
técnicas indicadas pelos moradores.
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Figura 1(esquerda): Localização dos pontos de ônibus.
Fonte: Elaboração própria com uso da ferramenta Google Maps, 2016.
Figura 02(direita): Local do ponto de ônibus escolhido (Ponto do Pequizeiro)
Fonte: LabProj, 2019.
3ª Oficina Colaborativa de Construção - Reboco e Cobertura (19 e 20/10/2019): Para esta oficina,
o plano era já concluir o que fosse necessário para que a população pudesse utilizar o abrigo.
Por isso, foi finalizada a alvenaria, com o chapisco e o reboco, e colocada a cobertura, o que
viabilizou seu uso pela população para se proteger das intempéries.
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Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás, na condição de financiador, o encerramento das
atividades junto à comunidade, prestando contas do que foi realizado, e entregar, em uma
cerimônia simbólica de formatura, os certificados de participação nas oficinas colaborativas de
construção às mulheres moradoras do bairro participantes do projeto.
No dia seguinte, aconteceu a última oficina participativa no bairro Tempo Novo, que foi a pintura
do abrigo do ponto de ônibus. Para ela acontecer, a equipe do LabProj organizou todo o material
necessário (tinta, pigmento para colorir a tinta, brocha, rolos de pintura e pincéis) e contou com
a ajuda de uma estudante de Artes Visuais do IFG que fez o desenho-base nas paredes. A
proposta era envolver as crianças, que sempre tiveram uma boa participação nas atividades
propostas pelo projeto. A elas, caberia a conclusão da pintura a partir do desenho-base. Além
da pintura, também foi confeccionado um banco para os moradores terem onde se sentar
enquanto aguardam o ônibus. Não foi possível concluir toda a pintura em um só dia, sendo
necessário um dia a mais de trabalho. Porém, desta vez, somente a equipe do LabProj realizou
a finalização, colocação das placas de identificação do ponto de ônibus e do projeto e equipe
executora.
Extensão universitária é um dos três pilares da universidade pública no Brasil, juntamente com
o ensino e a pesquisa, de acordo com o artigo 207 da Constituição brasileira. No entanto,
embora legalmente previsto, o conceito de extensão universitária ainda não é um só, estando
em disputa. Como afirma o pesquisador André Rubião (2013):
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Revolução Industrial, quando as universidades se viram obrigadas a
responder às demandas sociais, diversificando suas atividades. Criou-se,
então, uma extended university, ou seja, um alargamento da universidade em
direção à sociedade, por meio de pequenos cursos profissionalizantes ou de
formação contínua, que se diferenciavam substancialmente da formação das
elites, características dos modelos emergentes (“napoleônico”,
“humboldtiano” e “newmaniano”) daquela época. (...)
Dentre as concepções possíveis, a extensão pode ser vista como a oportunidade que a
universidade tem de se comunicar e trocar conhecimentos com a comunidade externa
a ela. Nesta de troca de conhecimentos, é preciso que o processo seja proveitoso para
ambas as partes, a comunidade precisa falar e ensinar e a universidade também, todos
precisam aprender, e, quando esse processo acontece, podemos dizer que a extensão
universitária foi realmente popular. Nesse sentido, a autora Rossana Maria Souto Maior
Serrano (2011), assim define a extensão universitária popular:
Neste projeto, o grande desafio seria conseguir realizar essa troca com a comunidade, já que o
objetivo seria realizar oficinas participativas em que os moradores aprenderiam com os
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representantes da Universidade, além de aprender e ensinar uns aos outros e também ensinar
a própria equipe da UFG. Porém, com a parceria com projetos que já aconteciam anteriormente
no bairro, foi possível uma aproximação mais tranquila, na qual os moradores abriam suas casas
para a equipe da universidade realizar as atividades. Mesmo tímidos, os moradores conseguiam
expressar suas opiniões e deixar claro o que pensavam para as melhorias habitacionais e
também do bairro. Essa abertura dos moradores possibilitou que a universidade conseguisse
desenvolver projetos que realmente fossem pertinentes para a comunidade em questão, como
foi demonstrado no tópico anterior.
Esse aspecto é absolutamente fundamental, pois sem identificação dos sujeitos com a finalidade
daquilo que se constrói, dificilmente pode se desenvolver algum grau de autonomia. O limiar
entre a emancipação e a reprodução de relação de opressão pode se tornar tênue caso a ação
não consiga dar vazão aos anseios da comunidade envolvida. Se o objetivo é a emancipação e a
autonomia, não se pode iniciar qualquer tipo de ação prática sem antes planejar em conjunto:
universidade e comunidade. Os sujeitos da ação é que precisam determinar os rumos daquilo
que será feito. “Alimentar a imaginação e o reconhecimento de suas reais necessidades é o
primeiro passo para um processo autogestionário, cujo fim seja, em alguma medida,
emancipador e não a reiteração das opressões. ” (HIRAO, et. al., in USINA, 2015).
Esse processo se reproduz internamente ao canteiro de obras. Sérgio Ferro, ao discorrer sobre
o assunto, ressalta que “A venda imposta da força de trabalho obriga o trabalhador a subordinar-
se à vontade alheia e fazer-se meio para uma finalidade que jamais poderá assumir como sua,
sua própria exploração para a obtenção de mais-valia. ” (FERRO, in USINA, 2015, p. 21). Assim,
no canteiro de obras instalado no bairro Tempo Novo para construção de um abrigo para a
parada de ônibus havia, como um elemento basilar, o fato de que se estava produzindo um valor
de uso para aquela coletividade, ao mesmo tempo produtora e usuária do equipamento. A
universidade apareceu realmente como mediadora.
Com a experiência de pouco mais de cinco meses de trabalho, no ano de 2019, e cerca de um
ano de trabalho de outros projetos, no ano de 2018, foi possível perceber que a intenção de se
efetivar uma extensão universitária popular, na medida do possível, foi realizada.
Além da atuação interdisciplinar das instituições de educação superior, foi articulada uma rede
técnica e política que contou com o apoio e financiamento do Conselho de Arquitetura e
Urbanismo de Goiás e apoio operacional da Prefeitura da Cidade de Goiás para a realização das
atividades, que, por suas características, apoiam a política pública de habitação.
Ao longo do desenvolvimento do projeto, foi ficando cada vez mais claro que o sujeito
protagonista na comunidade atendida é o conjunto de mulheres moradoras do bairro. Esse
protagonismo foi se revelando pela expressiva participação feminina nas reuniões e outras
atividades propostas desde os projetos que antecederam a ação que é analisada por este artigo.
O projeto buscou ouvir atentamente as demandas dessas mulheres para com elas trocar saberes
e experiências, com o objetivo de que elas pudessem, ao final, ter ferramentas técnicas para o
trabalho construtivo e também ferramentas de auto-organização comunitária. Conforme
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relatado informalmente durante as atividades, por meio projeto, as moradoras do bairro
puderam se conhecer melhor entre si e vislumbrar uma rede de apoio entre elas.
CONCLUSÃO
Foi possível concluir que os principais objetivos do projeto foram realizados seguindo o conceito
de extensão universitária popular, pois houve uma grande troca de conhecimentos entre os
sujeitos envolvidos, com destaque para as mulheres do bairro participantes.
Ficou clara a necessidade de se conseguir envolver outros sujeitos como, por exemplo, as
crianças, que tiveram uma efetiva participação em ambos os projetos desenvolvidos pelo
LabProj no bairro, nos anos de 2018 e 2019, e os homens, que participavam de forma pouco
ativa nas atividades.
Mesmo assim, o projeto conseguiu abrir muitas portas para universidade e mostrou a
necessidade e potencialidade de se desenvolver mais atividades no local. Por ser um bairro
desassistido pelo poder público, a universidade pode contribuir no fortalecimento e
empoderamento desta comunidade gerando condições para que ela consiga lutar pelos seus
direitos diante do poder público.
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REFERÊNCIAS
KAPP, Silke. NOGUEIRA, Priscilla. BALTAZAR, Ana Paula. Arquiteto sempre tem conceito, esse é o
problema. In: Anais do IV Projetar. Projeto como Investigação: ensino, pesquisa e prática. São Paulo: FAU-
UPM, 2009. Disponível em:
<http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/biblioteca_novo_2/arquivos/kapp_nogueira_baltazar.pdf>.
Acesso em agosto de 2020.
MENDONÇA, Carina Guedes de. Arquitetura na Periferia: Uma experiência de assessoria técnica para
grupos de mulheres (Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Belo Horizonte: Escola de
Arquitetura da UFMG, 2014. Disponível em:
<http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/biblioteca_novo_2/arquivos/Diss_Carina_FINAL.pdf>. Acesso em
agosto de 2020.
USINA. CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO DE SÃO PAULO. Usina: entre o projeto e o canteiro.
São Paulo: CAU-SP, 2015. Disponível em: <https://www.caubr.gov.br/wp-
content/uploads/2017/04/LivroGrupoUsina.pdf>. Acesso em agosto de 2020.
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