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CAPÍTULO SEGUNDO
Morte em Nápoles
CAPÍTULO QUARTO
Um lindo bebê
2
Brigitte se refere a bruxa Mogamba, que conheceu na aventura 71, intitulada
Feitiço. (Nota do Revisor)
impressionante, porém, não era isso. O impressionante era
todo o homem. Especialmente os olhos. Pareciam-se com os
do filho. Pequenos, por trás das lentes grossas. Pequenos e
frios, embora no rosto enrugado houvesse uma expressão
capaz de ser definida como sorridente. Alto, magro,
encurvado, com os cabelos quase raspados, a boca sumida
entre as rugas, Hermann Scheuner parecia uma... barra, de
ferro velho, retorcida a mais não poder.
— Como está, Fraulein Katzenberger? — perguntou ele,
estendendo a mão.
— Muito bem, obrigada, Herr Scheuner. Encantada por
conhecê-lo.
— A senhorita é muito amável. Eu digo o mesmo,
naturalmente. Bem, não dê muita importância a Wilfried.
Apesar de se terem conhecido esta tarde, deve ter notado que
ele é um pouco brincalhão.
— Brincalhão? — perguntou Alice, sorrindo. — Por que
diz isso?
— Pelo grande Hermann. Sou apenas um pobre velho que
quer apanhar sol e descansar. A senhorita é muito bonita.
Encantadora, mesmo.
— E o senhor é muito gentil — murmurou Alice,
tornando a sorrir.
— Permita-me apresentá-la a meus amigos, os senhores
Helmutt Kleist, Johannes Loos e Robert Schallenberg, que
tiveram a boa ideia de passar por aqui para me fazer uma
visitinha.
Os três homens, que se tinham levantado, aproximaram-
se de Alice Westmoreland, sorridentes, estendendo a mão à
medida que iam sendo apresentados. Alice manteve o
sorriso, como uma máscara, ocultando sua impressão diante
de cada um daqueles anciãos. O mais jovem deles já deve ter
ultrapassado os setenta anos.
Helmutt Kleist também era coxo, como Hermann
Scheuner. Caminhava com evidente dificuldade. Johannes
Loos não tinha o braço esquerdo. Robert Schallenberg
parecia não ter defeito algum. Ao apertar-lhe a mão, porém,
Alice notou que o olho direito era de vidro. Ali, naquela sala,
havia dois coxos, um maneta e um caolho. Nenhum deles
com menos de setenta anos. Os quatro magros, de rostos
angulosos e enrugados como pergaminho.
Isso causou tamanha impressão em Alice que ela não
prestou grande atenção nas frases amáveis que lhe dirigiram.
Quanto às respostas dela, foram absolutamente protocolares.
Embora fingisse muito bem, não conseguia evitar aquela
profunda impressão.
— Se não me engano, disseram-me que é amiga de meu
filho, Fraulein Katzenberger — disse Hermann Scheuner.
— Sim. Nós nos encontramos algumas vezes em
Dusseldorf por motivos de trabalho. Foi uma surpresa mútua
nos encontrarmos aqui.
— Uma surpresa agradável — acrescentou Hermann
Scheuner, sorrindo.
— Naturalmente.
— Thomas está viúvo há muito tempo. É natural que ele
goste desse tipo de surpresas. Mas sente-se, por favor...
Wilfried convidou-a para tomar um drinque?
— Sim. Sim, foram muito gentis.
— A gentileza é uma das coisas que tornam a vida
suportável, não concorda?
— Sem dúvida — respondeu Alice, sentando-se. — Mas
existem muitas outras coisas que tornam a vida suportável.
Muito agradável, até, Herr Scheuner.
— Por exemplo? — perguntou o ancião, curioso.
— Por exemplo... dar banho em bebês.
Hermann Scheuner encarou-a, surpreso.
Wilfried não conteve uma gargalhada. Kitty sorriu. O
espanto de Hermann Scheuner durou pouco. Pigarreou e
disse com naturalidade:
— Sim, concordo com a sua opinião. Embora não esteja
em condições de desfrutar dessa atividade. Meu netinho não
estaria seguro em minhas mãos. É um menino precioso, não
concorda?
— Oh, vamos, vovô — exclamou Kitty, rindo.
— Não é? Que diz, Fraulein Katzenberger?
— Acho-o encantador.
— Na realidade, todos os bebês são encantadores.
Preciosos, realmente. Depois a vida os vai marcando, nem
sempre de um modo agradável. Estou querendo dizer,
simplesmente, que meus amigos e eu também fomos bebês.
— Não lhe falei? — exclamou Wilfried, rindo e
entregando um copo de uísque a Alice. — Vovô é um sujeito
simpático. Já pensou nele como um bebê?
—Por que não? — respondeu Alice, arqueando as
sobrancelhas. — Todos nós conservamos certas
características... infantis.
— Acha? — exclamou Helmutt Kleist. — É uma ideia
engraçada. Que vê de infantil em nós?
— Sim — apoiou Schallenberg, com seu olho de vidro
brilhando. — Gostaria de ouvir sua opinião, Fraulein
Katzenberger.
— Para pensar isso de nós, deve ter uma imaginação
fabulosa — acrescentou Johannes Loos. — Gostaria de saber
o que vê de bebês em quatro velhos maltratados.
— Não me referia ao aspecto físico, é claro — respondeu
Alice. — E, sim, a manifestações de caráter, de mentalidade.
Posso admitir que os senhores sejam diferentes de mim,
naturalmente, mas me surpreendo às vezes, pensando como
se fosse uma menina, recordando mais coisas de minha
infância que coisas recentes.
— Muito interessante — murmurou Scheuner. —
Conversar com a senhorita, além de interessante, há de ser
estimulante. Para fazermos uma ideia do que pode pensar e
sentir na atualidade, diga-nos a que se dedica, Fraulein
Katzenberger.
— Trabalho como secretária de idiomas numa empresa
dedicada à exportação de produtos fotográficos.
— Ah... secretária de idiomas... Sendo assim, fala várias
línguas, hem?
— Algumas.
— Deve ter viajado muito...? — perguntou Johannes
Loos.
— Bastante. Quase sempre a serviço. Agora, porém,
estou de férias.
— Não insista muito nisso — balbuciou Wilfried,
inclinando-se para Alice. — O velho está convencido de que
você é amante de meu pai.
— Que está cochichando aí? — atalhou Hermann
Scheuner.
— Nada, vovô — respondeu o rapagão, rindo. — Estava
dizendo a Inge que posso servir-lhe outro uísque, se ela
quiser.
— Ah, Fraulein Katzenberger bebe muito?
— Não — respondeu ela, divertida.
— Que lugares deste mundo nojento a senhorita conhece?
— perguntou Schallenberg.
***
— Que impressão tirou de tudo isso e dessa gente? —
perguntou Elvis North, quando Alice terminou a narrativa.
— Estou atordoada. De verdade. Não sei... Apesar de
tudo, há algo meio... sinistro em tudo isso...
Elvis ficou pensativo. Tinha seguido Alice até à casa dos
Scheuner e tornou a segui-la, quando ela se retirou. Não
precisaram entrar em contato para saber o que deviam fazer.
Alice foi para o interior da ilha, passeando, aproveitando o
começo da noite de lua. Num ponto adequado, juntaram-se,
afastados de qualquer olhar curioso. Sentados no chão, à
sombra de uma oliveira, analisavam a situação.
— Pode ser uma casualidade — disse Elvis, de repente.
— O fato dos quatro velhos terem uma mutilação? Não
creio. As mutilações foram produzidas casualmente, é claro.
Mas em minha opinião não estão juntos por casualidade.
— Explique.
— Estou atordoada, já disse. Eles esperam mais dois
amigos de Hermann Scheuner. Mais dois anciãos, sem
dúvida.
— Está imaginando se também terão algum defeito
físico?
— Sim. Breve ficarei sabendo. Devem chegar amanhã ou
depois. Estou ansiosa para vê-los. Enquanto isso, Wilfried,
Kitty e eu estaremos juntos. Simpatizamos muito uns com os
outros. E o bebê é um anjinho!
— Se você liberar seu instinto maternal, nos meteremos
em apuros. Tratemos de esclarecer uma coisa: Thomas
Scheuner admitiu claramente ser o chefe desse caso?
— Sim, admitiu claramente... embora eu tenha notado
nele uma certa hesitação.
— A que a atribuiria?
— Tive a impressão de que Thomas Scheuner e o filho
pouco podem fazer, num lugar onde se encontrar o velho
Hermann Scheuner. É um ancião, mas com uma aparência de
ferro.
— O verdadeiro chefe pode ser ele?
— Pode.
— Não entendi o casal com o bebê. Que diabos farão em
tudo isso?
— Também pensei nesse detalhe e talvez tenha
encontrado uma explicação aceitável. Em minha opinião,
Hermann Scheuner resolveu vir a Ponza com o filho Thomas
mas não pensou, por um minuto, sequer, em Wilfried e Kitty
com o bebê. Mas o bebê se resfriou e Wilfried achou bom
trazê-lo para um lugar quente e ensolarado. Quando falou
com o pai e com o avô sobre isso, os dois não puderam opor-
se, é lógico.
— E se o bebê não fosse deles e sim um bebê... comprado
por aí para dar um aspecto mais respeitável a tudo isso?
— Santo Deus! Você é maquiavélico, meu amor!
— Você disse que de todas as pessoas daquela casa a que
lhe pareceu mais inteligente foi Wilfried Scheuner. É jovem,
forte, está em pleno vigor físico. Quanto à mulherzinha
dele... poderia ser outra Simonetta, por exemplo.
— Você fala pouco, mas quando abre a boca, é
demolidor, querido. Está arrasando com a minha simpatia
pelo jovem casal e pelo bebê.
— Então mudemos de assunto. Quem mais há naquela
casa?
— Uma cozinheira e um criado para todo o serviço.
— Viu os dois?
— O criado, apenas.
— Sabe se são alemães?
— O criado é — respondeu Alice, suspirando. — Sou
obrigada a calcular que também trouxeram a cozinheira da
Alemanha.
— De qual dos outros três velhos é o iate e quantas
pessoas ficaram na embarcação?
— É de Robert Schallenberg. Não sei quantas pessoas
ficaram a bordo. Não creio que haja mais de quatro
tripulantes. Não há mulher alguma no iate. Disso eu sei.
Olhe, querido, não se arrisque indo fuçar nesse iate. Duvido
que haja algo interessante.
— Fala assim por que se chegar algo interessante será no
iate que eles estarão esperando?
— Sim.
— De qualquer modo, precisamos agir.
— O mais indicado seria você ir dar um passeio em
Nápoles, enquanto eu fico trabalhando aqui. Mas não quer ir,
com medo de que as coisas se compliquem do meu lado,
hem? Vá descansado. Até a chegada do iate, posso resolver
tudo sozinha.
— Fazer o que? Passear de iate?
— Não. Você tem na lancha o material de que vou
precisar?
— Garante que conseguirá movimentar-se pela casa, sem
que a vejam ir colocando os microfones?
— Claro. Oh, vamos! Preciso apenas de uns microfones
ligados a um gravador. Na verdade talvez fosse melhor
limitar-me a ouvir o que dizem na sala. É lá que os quatro
velhotes se fecham, conversando. Se alguma conversa
naquela casa for interessante, só pode ser a deles.
— Deixarei o material aqui mesmo, dentro de duas horas.
Virá apanhar, quando julgar conveniente.
— Vai a Nápoles?
— Se estão aguardando instruções, irei. Além disso, estou
curioso para conhecer o tal sujeito localizado pelos seus
Johnnies. Espero que me tratem bem.
— Deixe de tolices — exclamou Alice. — Vão tratá-lo
como de costume. Isto é: com o máximo respeito.
— Não devíamos ter recorrido à CIA — resmungou Elvis
North.
— Ah, ah — cortou Alice Westmoreland, agitando o
dedinho. — Nada de CIA! Não se esqueça de um detalhe:
somos Alice Westmoreland e Elvis North, da Vigilância
Universal. Se eu tivesse começado o caso, nós seriamos da
OAU. Da nossa sempre crescente Organização do Amor
Unido. Mas foi um dos seus amigos quem avisou do que se
passava, em Nápoles e deixamos a OAU, usando a VU. E
daí? O nome não importa, desde que continuemos a ser os
mesmos. A ser Número Um e “Baby”.
Número Um abraçou “Baby” e murmurou:
— Sinto-me muito mais tranquilo quando você é
simplesmente Brigitte...
CAPÍTULO SEXTO
Os últimos convidados
CAPÍTULO SÉTIMO
Juramento de vingança