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CONTOS DO GIN-TONIC
SUMÁRIO
A verruga 7
Gin sem tónica 9
Livre, cristã e ocidental 11
Carreirismo 15
Jogos olímpicos 16
A estratégia 19
FC, o banho e não só 21
O menino e o caixote 24
Facilidade 27
Discussão 28
Negócios ferroviários 29
Aviso urgente 31
O losango e a serpente 34
Julgamento definitivo 38
Ida sem volta 41
Meu sósia, o general 43
Última ceia 53
Título: Contos do Gin-Tonic Xeque-mate 54
Autor: Mário-Henrique Leiria Babelite ou segismondo o babélico 56
1.ª edição: Editorial Estampa, 1973 Tropicália 62
2.ª edição: Editorial Estampa, 1976 Cinegética 64
Torah 65
Capa: Ricardina Fernades & Luís Ribeiro Joãozinho volta a casa 66
Design: Ricardina Fernades & Luís Ribeiro Intervalo 72
Felina 73
Impressão e Acabamento: Goldabel Entre o tigre e o eufrates 76
© Copyright: Mário-Henrique Leiria Noivado 78
Editorial IPCA Desabamento 79
Depósito Legal n.º 28.303/89 Sejam bem-vindos 82
ISBN 972-33-0822-3 Casamento 84
Regresso 85
Gulodice 86
Indústria caseira esqueletos lda. 90
Maternidade 92
Medicina tropical 93
A viagem, enfim 94
A velha e as coisas 97
Hitler? Não sei ouem é 100
Cegarrega para crianças 104
Surpresas da pesca 106 A VERRUGA
A sombra 107
Kgb ataca ao entardecer 110
História exemplar 113
O bode imarcescível 115 Estava eu sentado lá em casa, quando ouvi a minha tia dizer “uff!”.
Questão de terras 118 Suspeitei logo que havia coisa. Fui ver. Tinha-lhe nascido uma
O discurso 120 verruga na orelha. Não me pareceu normal.
Jornalismo 121 Procurei imediatamente o meu tio, que é brigadeiro.
Repreensão 123 – Vamos falar com o ministro – disse o meu tio.
Explicação 124 Fomos.
Pôr-do-sol 127 O ministro, em princípio, não quis acreditar. Não podia ser, aq-
Profissão é profissão 129 uilo não era normal. Claro que não era normal mas eu tinha visto,
Shalom e vou-me embora 131 e foi o que lhe disse.
O que dizem os teus olhos 134 – Nesse caso, o melhor será fazer como se não soubéssemos de
Engano 135 nada – propôs o ministro. – O senhor já pensou o que isso pode
Cidade 136 causar? – continuou, ansioso. –Começam por aí a inquirir, a ver-
Evocação 142 ruga complica-se, os anarquistas, sempre prontos para a insídia,
A perna e os outros 144 aproveitam o momento, a greve surge, as coisas atrapalham-se,
Cessar-fogo 146 intervenção das Potências, a guerra, que sei eu? Não, não digamos
a ninguém. Guardamos segredo, o Estado o compensará.
Olhei para o meu tio, brigadeiro como já tive oportunidade de
fazer notar, e vi que realmente o caso parecia grave. No entanto,
duvidando um pouco, inquiri ao ministro:
– A coisa é assim tão importante, Excelência?
– Mais que isso, meu amigo, mais que isso. A pátria está em
tremendo perigo.
contos do gin-tonic 5
Senti que era a hora da decisão.
– Se a pátria periga, não desejo a mínima recompensa.
Comigo é assim. Pela pátria, tudo. Calarei.
Calámos.
Dias depois a minha tia recebia uma carta escrita pelo próprio
imperador. Agradecendo. Louvando.
A carta ainda lá está. A verruga também.
Quanto a mim, continuo sentado lá em casa. Calado.
Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai
admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do senhor Esteves da mercearia
da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chofér fardado.
Era Director Geral das Polícias. Seu pai teve o enfarte.