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E CIDADANIA
Direitos Humanos e
Cidadania
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transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e
Distribuidora Educacional S.A.
ISBN 978-85-8482-115-0
CDD 360
Sumário
Olá pessoal! É com prazer que apresentamos neste livro alguns temas relevantes
para que você possa ter uma dimensão atual da realidade.
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
DA CIDADANIA
Introdução à unidade
Seção 1
A noção de cidadania não surgiu nos tempos modernos, mas sim na Grécia
clássica, antes da era cristã, visto que os gregos estabeleceram relações em
que os cidadãos tinham direitos políticos e contribuíam para a formação do
governo. Porém, não eram considerados cidadãos: os escravos, as mulheres e os
estrangeiros, os quais, em conjunto, constituíam mais de três quartos da população
ateniense adulta.
Ainda segundo Coutinho (2005, p. 3), citando John Locke, o autor coloca
que “[...] no mundo moderno, a noção e a realidade da cidadania também estão
organicamente ligadas à ideia de direitos, mas, num primeiro momento, ao
contrário dos gregos, precisamente à ideia de direitos individuais ou civis”. Locke
baseia seu pensamento na afirmação de que os seres humanos têm direitos
naturais independente da organização social em que vivem.
sociólogo britânico T. H. Marshall, foi muito “[...] importante sua contribuição para a
compreensão da dimensão histórica da cidadania quando [...] definiu três níveis de
direitos de cidadania [...] (civil, político e social) e também de insistir na dimensão
histórica, processual, do conceito e da prática da cidadania na modernidade”.
Civis: relativos aos direitos à vida, à liberdade, à segurança pessoal, entre outros;
Assim, Coutinho (2005, p. 12) afirma que “[...] a ampliação da cidadania – esse
processo progressivo e permanente de construção dos direitos democráticos que
caracteriza a modernidade – termina por se chocar com a lógica do capital”. Ou
seja, no limite, a cidadania plena (democracia, soberania popular) só existirá numa
Para situar o leitor sobre a tese de Gramsci, citamos a síntese de Peruzzo (1998,
p. 49, grifo do autor):
O que é participação?
Para Teixeira (2002, p. 32), “[...] a questão fundamental que se apresenta para a
teoria política diz respeito a quem e como – quem toma as decisões no Estado,
como isso acontece – ao sujeito e ao processo decisório”. Ou seja, elites técnicas
que devem decidir e governar, ou, se são cidadãos comuns que devem utilizar
mecanismos de expressão e deliberação.
Assim, a participação vai contra a lógica liberal (Estado mínimo); como noção
de soberania popular que detém o controle público do poder nos setores do
Executivo, do Legislativo e do Judiciário, e também, em toda esfera política,
inclusive na política econômica. TEIXEIRA (2002, p. 39) argumenta que,
As ordens fluem de baixo para cima, tanto na escolha da diretoria quanto nas
decisões complexas para o futuro da empresa. De certo modo, este modelo
acarreta uma sobrecarga nos trabalhadores e, às vezes, os conflitos de decisões
podem prejudicar a solidariedade entre eles.
Seção 2
Com o golpe de 64, quase não havia lugar, na sociedade civil, para associações
livres, e foi longo o período de redemocratização do país. Apenas em 1986 foi
formada uma Assembleia Nacional Constituinte e em 1988 promulgada a nova
Constituição brasileira, assegurando aos cidadãos brasileiros os direitos de
cidadania.
No Brasil, a pirâmide dos direitos analisada por Marshall foi colocada de cabeça
para baixo. Nossas liberdades civis foram historicamente suprimidas enquanto o
Executivo praticou uma política paternalista de empregos e favores.
Com o golpe de 64, quase não havia lugar, na sociedade civil, para associações
livres. Através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), a Igreja Católica era
praticamente um dos únicos lugares em que a população podia se reunir para
dialogar sobre as dificuldades do cotidiano.
Mesmo com a derrota pela campanha “Diretas Já”, a era militar acabara com
a eleição de um civil para a Presidência da República após 21 anos de dominação
militar. O período de 1985/1988 foi um período de redemocratização. Em 1986
foi formada uma Assembleia Nacional Constituinte e em 1988 promulgada a
nova Constituição brasileira; assegurando aos cidadãos brasileiros os direitos de
cidadania.
No campo dos direitos políticos ficou garantida a soberania popular por meio
das seguintes características: sufrágio universal; voto direto e secreto; direito a
plebiscito; referendo e iniciativa popular; dentre outras regulamentações.
Já no Brasil, país que “[...] ocupa o segundo lugar mundial nos índices de
concentração de renda e de má distribuição da riqueza, mas ocupa o oitavo lugar
em termos do Produto Interno Bruto” (CHAUÍ, 2006 apud BARROCO, 2008, p.
225), os dados são revoltantes.
De acordo com o IBGE (2010), a diferença da renda média mensal per capita
da maioria das famílias, excluindo-se as que não têm nenhum rendimento, é
monstruosa. Enquanto os 10% mais pobres detém R$ 77,37, os 10% mais ricos
chegam a R$ 3.160,36. Considerando-se as medidas de pobreza (renda per capita
inferior a ½ salário mínimo), são cerca de 50 milhões de “cidadãos” brasileiros, e na
linha da indigência (renda per capita inferior a ¼ do salário mínimo), são quase 25
milhões de “cidadãos” brasileiros.
Cerca de 2% dos proprietários são donos de 48% das terras férteis do país.
Cinco por cento da população possui 75% de todas as riquezas do país. Dos
recursos destinados aos aposentados, quase a metade vai para os 10% mais ricos
da população. Sete grupos, em situação de monopólio, controlam a mídia e a
informação no país (CNBB, 2004).
Omitindo muitas outras questões sociais que poderíamos abordar, tais como os
graves problemas nas áreas de habitação, saúde, segurança pública, discriminação
por raça e sexo, vamos deter-nos agora em apontar a situação da educação no
país, por ser o tema desta pesquisa e porque entendemos já ter abordado, mesmo
que sinteticamente, as principais questões, que são a renda e o trabalho, além de
outras brevemente citadas.
Outra política social que conta com uma atenção específica à família é a saúde.
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem desenvolvido desde 1994 um modelo de
assistência designado “Saúde da Família”, que é realizado a partir da implantação de
equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde, conforme as explicações
do Departamento de Atenção Básica – DAB – do Ministério da Saúde do Brasil.
Apesar destas políticas sociais (assistência social e saúde) terem certa lógica
de ação a partir da família, há ainda a necessidade de superação do atual quadro
brasileiro. Um caminho para uma verdadeira “política familiar” ou políticas
públicas para a família necessita de uma efetiva responsabilização por parte do
Estado em relação à proteção social dos membros de suas famílias, conforme
as características apontadas pela autora: “[...] serviços universais, de acesso local,
em quantidade e qualidade, sistemáticos e continuados, que garantam direitos e
gerem independência para jovens, idosos, mulheres” (TEIXEIRA, 2009, p. 263).
Em suma, o que queremos refletir com você é que não há uma política pública
para família no Brasil, que, nos moldes discutidos, venha a ter a família como foco
integralmente, oferecendo serviços em todas as suas necessidades.
Nessa mesma linha, citamos a mortalidade infantil. Embora ainda seja alto, o
índice diminui a cada ano no Brasil. Em 1995, a taxa de mortalidade infantil era de
66/1000, já em 2005, este índice caiu para 25,8/1000. Em países desenvolvidos
a taxa de mortalidade infantil é de aproximadamente, 5/1000, informações
oriundas da “Síntese das principais discussões sobre a dinâmica das mudanças na
mortalidade no período pós-guerra”.
Porém, esse ainda é um índice insatisfatório, porque, para atender 100% das
crianças, adolescentes e jovens em idade escolar, o número de matrículas foi
menor que o ano anterior, 52,5 milhões de crianças atendidas na educação básica.
As mulheres são maioria, representam cerca de 60% das pessoas com mais de
60 anos, a maioria dos idosos são responsáveis pelos domicílios e têm em média,
69 anos de idade e 3,4 anos de estudo. Com um rendimento médio de R$ 657,00,
o idoso ocupa, cada vez mais, um papel de destaque na sociedade brasileira, tais
resultados estão na nova publicação do IBGE que traz números sobre a situação
no Brasil, nas Grandes Regiões.
A boa notícia é que: a expectativa de vida no país aumentou cerca de três anos
entre 1999 e 2009, atualmente é de 73,1 anos. Entre as mulheres são registradas as
menores taxas de mortalidade. No período avaliado, a expectativa de vida feminina
passou de 73,9 anos para 77 anos. Entre os homens, passou de 66,3 anos para
69,4 anos.
Nos próximos 40 anos, o total da população brasileira vai crescer a uma média de
apenas 0,3% ao ano, enquanto o número de idosos aumentará a uma taxa de 3,2%,
ou 12 vezes maior. O estudo mostra igualmente que a população brasileira está a
envelhecer a um ritmo mais rápido do que o registrado em países desenvolvidos. O
relatório afirma que as nações desenvolvidas ficaram ricas e depois envelheceram,
mas o Brasil e outros países emergentes estão a ficar velhos antes de enriquecer.
Enquanto a França levou mais de um século para duplicar a sua população acima
dos 65 anos, o Brasil passará pelo mesmo processo em duas décadas.
Outra consequência é que a população idosa terá cada vez menos apoio
Além disso, de toda a água derramada nos oceanos por todos os rios do planeta
1/5 vem da bacia amazônica, que cobre 3,9 milhões de km², ou 45% do território
brasileiro. O rio Amazonas tem mais de 7 mil afluentes e possui 25 mil km de vias
navegáveis, além de atingir profundidades de 120 metros em vários trechos.
Ainda de acordo com o portal, a Mata Atlântica se estendia por 1,3 milhão de
km², atravessando um território onde hoje se situam 17 estados (do Rio Grande
do Sul ao Piauí). Esse bioma ocupava 15% do território brasileiro antes do início da
colonização do país, além de partes onde atualmente estão Paraguai e Argentina.
Mesmo assim, esse bioma ainda engloba sete das nove maiores bacias
hidrográficas do país, além de lagos e rios (entre eles o São Francisco, o Paraná,
o Tietê, o Paraíba do Sul, o Doce e o Ribeira do Iguape). Nesses ecossistemas
vivem 261 espécies de mamíferos, entre mico-leão-dourado, onça-pintada, bicho-
preguiça e capivara, 620 espécies de aves, 200 de répteis, 280 de anfíbios e 350 de
peixes, sendo que 567 são endêmicas, ou seja, típicos só da região.
87% tem acesso à água e 70% tem acesso ao saneamento básico; (problema de
saúde pública);
Qualidade da água: 90% dos esgotos domésticos e 70% dos efluentes industriais
não são tratados;
Produção de lixo: 161.084 toneladas de lixo urbano por dia, cerca de 52 kg/dia
por pessoa, somente 56% das cidades brasileiras tem coleta seletiva do lixo.
O documento final foi bastante criticado, principalmente pela Cúpula dos Povos
na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, evento paralelo à Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20, organizado pelo
Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20 (CFSC), composto
por 33 redes e organizações de representação nacional.
Dessa forma, a luta pela cidadania deve ter um aspecto estratégico, vinculado
De acordo com Carvalho (2001, p. 224), o “[...] remédio para muitos estaria nas
reformas políticas eleitorais, partidária, forma de governo”. Mas, principalmente, o
caminho mais sólido a se percorrer é a organização da sociedade para a construção
de uma verdadeira cidadania democrática, através da participação da população
na efetivação dos direitos adquiridos e na luta por outros direitos.
1. O que é cidadania?
Referências
_______. Temas da Doutrina Social da Igreja. Caderno 1. São Paulo: Paulinas: Paulus,
2004.
CORTELLA, Maria Sergio. Nos labirintos da moral. 5. ed. Campinas: Papirus, 2009.
COVRE, Maria de Lourdes Manzini. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 1996.
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
Brasileira 2009/2010. Brasília: Diretoria de Pesquisas Coordenação de População
e Indicadores Sociais, 2010. (Estudos e pesquisas: informação demográfica e
socioeconômica n. 26).
NETTO, José Paulo. A conjuntura brasileira: o serviço social posto à prova. Revista
Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 79, set. 2004.
SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Perseu Abramo, 2002.
TONET, Ivo. Educar para a cidadania ou para a liberdade? Disponível em: <http://
ivotonet.xpg.uol.com.br/arquivos/Educar_para_a_cidadania_ou_para_a_liberdade.
pdf>. Acesso em: 28 nov. 2014.
A CIDADANIA NA SOCIEDADE
CAPITALISTA
Wilson Sanches
Introdução à unidade
Seção 1
Bobbio (1993) afirma que correntes teóricas muito diversas entre si podem ser
identificadas com o contratualismo, e, por esta razão a definição do termo é bastante
complexa. No entanto, este mesmo autor define este termo da seguinte maneira:
Seção 2
O pós-Segunda Guerra Mundial foi marcado pela Guerra Fria, a Guerra Fria é
uma expressão utilizada para caracterizar um tipo de conflito que se dá no plano
ideológico. A Guerra Fria dividiu (ideologicamente) o mundo em dois blocos: o
bloco comunista conduzido pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)
e o bloco capitalista conduzido pelos Estados Unidos da América que ascendeu
no pós-Guerra como a principal potência mundial. Esta bipolarização do mundo
perdurou até o final da década de 1980 e o marco do fim desta divisão é a queda
do muro de Berlim.
A colônia inglesa que surgiu como sendo a Nova Inglaterra, em 1776 luta contra
seus colonizadores e constrói um ideário de liberdade sob o nome de Estados
Unidos da América.
A cidadania surgida nos EUA, foi uma cidadania liberal, esta cidadania obtida
nos primeiros anos após a independência estava em pleno acordo com o grupo de
pessoas que estiveram à frente do processo de independência. Portanto, o grupo
que dirigiu o processo de independência, segundo Karnal (2010), foi o grande
beneficiado por esta cidadania. Outros grupos como os indígenas, os negros (que
O modelo de liberdade individual surgido nos EUA foi norteador dos modelos
de democracia e cidadania no ocidente por conta dos valores que eles propagaram
por todo o mundo, este modelo aparece como ideal porque permite que o
indivíduo, dentro do âmbito da lei, possa se desenvolver e qualquer problema que
há, como por exemplo para os que não têm acesso ao sistema de saúde porque
não conseguem uma remuneração adequada, o problema não é do modelo de
democracia e de cidadania, o problema também é individualizado, o problema é do
indivíduo. Mas mesmo assim, a partir do pressuposto do modelo norte-americano
os indivíduos podem se associar para pedirem por mais direitos, aqui se constitui
uma ideia fundamental da cidadania moderna: a cidadania é uma construção diária
e nunca uma forma acabada e dada.
Além da categoria ação social, Weber constrói outro tipo de categoria para
compreender a política, a categoria criada por Weber é a categoria poder. Para
Weber, o centro da atividade política é a luta pela participação no poder ou na
busca por influenciar a repartição do poder. A definição de poder para Weber é a
possibilidade de um indivíduo, um grupo maior ou menor de indivíduos, imporem
sua própria vontade, contra a vontade dos outros.
O poder, para ser exercido por bastante tempo, precisa encontrar obediência
dentro de um grupo, mas não só obediência, é preciso encontrar um tipo de
obediência que não seja necessário impor a força e a violência a todo momento
para que as pessoas obedeçam. Portanto, a probabilidade de encontrar obediência
dentro de um grupo Weber chamou de dominação. A Dominação com capacidade
de longa duração e sem precisar do uso contínuo da força e da violência, foi
chamada de dominação legítima.
Weber apontou que há três tipos puros de dominação legítima: 1ª) Dominação
Tradicional, que é baseada em costumes que já estão enraizados em cada um de
nós; 2ª) Dominação Carismática – baseada nas qualidades extraordinárias do líder;
3ª) Dominação Racional/Legal, baseada na crença de que a melhor coisa que se
pode fazer é obedecer as leis, não porque as leis vieram de alguma força divina, ou
algo do tipo, mas porque há um entendimento racional de que as leis são formas
melhores para se viver em sociedade.
Para Weber, os Estados modernos tendem a ser cada vez mais burocráticos
e utilizar a dominação racional/legal para exercer seu poder dentro de um
determinado território, é claro que como o Estado tem que fazer com que suas leis
sejam cumpridas por todos aqueles que moram dentro de seu território, os Estados
modernos possuem o monopólio da violência legítima. Os Estados modernos
podem usar, por vezes, de violência, por meio de seus representantes legais, como
a força policial e o exército, para fazer com que suas leis sejam obedecidas, no
entanto ele não precisa usar de violência com a maior parte da sua população, pois
a maioria da população aceita as leis e creem racionalmente que estas leis são boas
para a manutenção da vida em sociedade. Então, por exemplo, a lei de trânsito
atua no sentido de organizar o trânsito, a maioria das pessoas obedecem estas
leis, não por terem medo de serem multadas ou terem seus carros apreendidos,
mas obedecem porque sabem que se não houvesse leis que regulamentassem o
trânsito ele se tornaria um caos.
Para Weber, os Estados modernos tendem a ficarem cada vez mais burocráticos,
assim qualquer tipo de cidadania nestes estados estariam vinculadas exclusivamente
às leis que possibilitassem tal cidadania. A cidadania se torna uma condição jurídica
e as lutas por igualdades, ou mesmo condições melhores, devem ser lutas para
alterar as leis de um país. Weber também aponta que o processo de burocratização
tende a impedir qualquer tipo de mudança. A ideia de que, no mundo moderno,
vivemos em uma gaiola de aço.
Ainda hoje há uma série de influências da obra de Marx sobre a política. É evidente
que maior questão que se levanta sobre seus escritos é sobre a possibilidade de
haver, ou não, uma revolução. Quais são as reais possibilidades de uma revolução
do proletariado nos dias de hoje? Quem é o proletariado nos dias de hoje? Uma
Seção 3
A expressão cidadão ganha uma tríplice conotação. Ser cidadão significa possuir
direitos civis, que surgiram nas lutas contra a nobreza e os colonizadores no século
XVII e XVIII, direitos políticos, que envolve os direitos eleitorais e a formação dos
Estados Nacionais, e direitos sociais, que significa ter acesso à saúde, programas
habitacionais, educação etc. Segundo Tomazi (2000, p. 139),
Os movimentos sociais são importantes formas de luta pelos direitos, são ações
coletivas que têm por objetivo manter ou mudar alguma situação. Os movimentos
sociais lutam por reconhecimento de direitos, por igualdades ou mesmo por
reconhecimento de identidade.
As greves foram extremamente importantes uma vez que a maioria das pessoas
nas sociedades capitalistas são trabalhadores, mas ao longo do século XX outras
demandas foram aparecendo e os movimentos sociais foram assumindo novas
facetas. Uma destas facetas nova é o movimento ambiental.
Olympe foi morta, mas várias foram as ativistas que continuaram a luta pelos
direitos das mulheres. A própria Olympe inconformada com a discriminação da
mulher questionou a Revolução Francesa: “[...] quem te deu o direito soberano de
oprimir o meu sexo? [...] esta revolução só se realizará quando todas as mulheres
tiverem consciência de seu destino deplorável e do direito que elas perderam na
sociedade” (TOMAZI, 2000, p. 136).
Pinsky e Pedro (2010) apontam que o século XIX foi um século de distribuição
deficiente dos direitos dos cidadãos na sociedade como um todo, e as mulheres
constituem um caso a parte, pois houve casos em que os avanços na legislação
significaram prejuízo para elas.
Os direitos sociais foram também alvo das lutas femininas no século XX,
sobretudo no que diz respeito ao fim da segregação ocupacional por conta do
sexo. Durante o período das grandes guerras que ocorreram no século XX foi
testemunhada o ingresso maciço das mulheres no mercado de trabalho, sempre
em condições salariais piores que dos homens. A persistência da diferença salarial
entre homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos é um indício desta
segregação que foi combatida ao longo do século XX, mas ainda está presente no
século XXI.
A luta das mulheres não ocorre apenas no plano político e econômico, mas
atinge outras esferas da vida como os direitos sexuais e reprodutivos. Estas lutas,
“[...] significa para as mulheres, o direito de decidir sobre sua própria sexualidade
e sua capacidade reprodutiva, bem como de exigir que os homens assumam
também a sua parcela de responsabilidade nesta questão” (PINSKY; PEDRO, 2010,
p. 301).
A luta por direitos civis, políticos e sociais para as mulheres está longe de cessar.
Há várias frentes que precisam ainda serem discutidas e avançar em relação a estes
direitos, mas o engajamento, não só feminino, mas masculino pelos direitos das
mulheres, pode ser decisivo nestes avanços.
Sempre foi complexa a discussão das questões raciais e étnicas no Brasil, seja
porque existe um preconceito velado e a crença de que se ninguém falar sobre o
assunto ele não existe, seja porque durante muitos anos se vendeu a ideia de que
o Brasil é um país miscigenado. Assim quando começa-se a discutir as políticas
de promoção de igualdade no país aparecem várias vozes afirmando que é um
despropósito ações afirmativas em um país miscigenado como o Brasil. Na verdade
esta tem sido a imagem de nosso país no exterior a de um “paraíso racial”. No
Brasil, segundo vários estudiosos norte-americanos não há a “linha de cor”. A linha
de cor, ou color line em Inglês, é a nomenclatura usada nos Estados Unidos que
definia a segregação racial. Essa concepção de um país miscigenado fica evidente
Assim, não há no Brasil uma linha de cor, uma lei que estabeleça distinções
entre brancos e negros, mas há a realidade que todos os dias bate a porta e mostra
algo diferente do que a teoria nos diz. O Brasil é de fato um país miscigenado,
portanto não há uma linha de cor (color line) como nos Estados Unidos da América
para estabelecer uma segregação social explícita, mas no Brasil se produz uma
ideologia em que se afirma que há igualdade onde não há.
algo específico.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à
filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.
DEMANT, Peter. Direitos para os excluídos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla
Bassanezi. (Orgs). História da cidadania. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Instituto José
Luis e Rosa Sundermann, 2003.
A ORGANIZAÇÃO DO
ESTADO, DOS PODERES E DA
ORDEM SOCIAL
Wilson Sanches
Introdução à unidade
O Estado não nasce de uma “evolução natural”, acontece a partir das relações
sociais e estas formas de associações surgidas das relações sociais influenciam
a forma como os indivíduos se relacionarão, bem como estas novas relações
irão influenciar a sociedade, assim, a própria sociedade, a maneira como nos
organizamos, não é definitiva, está em constante mudança.
um único indivíduo, um gênio que liderou os outros homens para que se fundasse
o Estado, mas há todo um contexto coletivo que está pesando sobre os eventos
sociais.
Seção 1
gregos sejam nossa grande referência sobre filosofia e política nenhum de seus
filósofos, em suas obras, rompeu com a estrutura social a qual pertencia. Platão
escreve o livro A República em que debate sobre o ideal de uma cidade, neste
debate as divisões sociais continuam a existir.
A República para Platão deveria ser organizada como um corpo, todas as partes
do corpo possuem uma virtude e a justiça é produzida pela harmonia entre todas
as virtudes, observe o quadro abaixo:
Como vimos no capítulo anterior, Roma passou por diversas fases, a monarquia,
a República e o Império. O monarca governava de maneira absoluta, deste período
destacou-se a preocupação do rei Tarquínio em embelezar a cidade e construir
o esgoto principal e do rei Sérvio Túlio que proclamou as primeiras leis sociais
de Roma e levantou a primeira muralha da cidade. Com a queda da monarquia
romana, a cidade foi governada por uma aristocracia formada pelos patrícios e
a figura do rei foi substituída por dois cônsules e por um senado formado por
300 membros vitalícios formado exclusivamente por patrícios, mas quem eram os
patrícios?
A lei das XII tábuas criada no ano 450 a.C. ditava várias normas e
eliminava a diferença entre as classes no que tange às leis. A lei das XII
tábuas deu origem ao direito civil. Os temas são divididos da seguinte
forma: Tábuas I e II: Organização e procedimento judicial; Tábua III
- Normas contra os inadimplentes; Tábua IV - Pátrio poder; Tábua V
- Sucessões e tutela; Tábua VI - Propriedade; Tábua VII - Servidões;
Tábua VIII - Dos delitos; Tábua IX - Direito público; Tábua X - Direito
sagrado; Tábuas XI e XII - Complementares.
3 O ESTADO FEUDAL
Organizado por feudos – que pode, resumidamente, ser definido como porções
de terra herdadas ou recebidas por herança ou como pagamento por serviços
de guerra – a idade média experimentou um despotismo aristocrático em que o
“feudatário” não experimentava limite para o poder que exercia dentro dos limites
de sua terra.
A religião passa a ser a tônica da vida na idade média, Araújo (2013, p. 240)
afirma que
Apesar do rei ser uma figura integradora no período feudal, era uma figura
também esvaziada de poder uma vez que a autonomia dos nobres para elaborar
leis e exercer o mando em seus feudos fazia com que eles fizessem aliança e
determinassem o apoio ao rei em função dos benefícios que poderiam ter, muitas
vezes, se fosse benéfico para um feudo de fronteira não apoiar o rei em alguma
incursão militar não o fazia.
A partir do século XIV existe um processo de centralização dos poderes que irá
submeter os senhores feudais ao poder central do governante da nação. O Estado
neste sentido passa a centralizar as forças armadas e a estrutura jurídica, ou seja, não
mais vários exércitos cada um pertencendo a um feudo e uma diversidade de leis,
mas há um conjunto de leis elaboradas por um poder central que todos os estados
(estamentos) devem obedecer. Os impostos também foram centralizados e passou a
existir funcionários especializados para administrar o patrimônio público.
Seção 2
1. A IMPORTÂNCIA DA TEORIA
Por vezes afirmamos que a teoria é uma coisa e a prática é outra. Esta é uma
afirmação que precisa ser discutida de maneira mais profunda. Quando falamos em
teoria em Sociologia, estamos discutindo de que forma o ambiente social pode ser
mais bem interpretado, quais os dados que devemos coletar, como coletar, enfim
toda uma discussão que é resultado de um determinado paradigma. O paradigma é
um modelo, um padrão que é assumido em uma determinada época e lugar e que
orienta, de alguma forma, as maneiras de pensar. Compreendemos a importância
da cientificidade porque estamos em um paradigma técnico científico, em outras
Na unidade anterior vimos brevemente que Thomas Hobbes aponta que a saída
do estado de natureza se deu porque o estado de natureza era também o estado de
terror em que os homens eram plenamente livres e não havia nada que impedisse
estes homens de fazer o que queriam, assim estes submetem suas liberdades ao
poder de um soberano que poderá agir com violência contra aqueles que não
respeitam o contrato social para manter a paz, assim o soberano é alguém dotado
de espada para poder cumprir sua parte no contrato social. Em Hobbes o locus
do poder não muda, o poder ainda está centrado na autoridade de um soberano
absoluto, mas o fundamento de seu poder não é de origem divina, mas de origem
mundana, esta é a contribuição de Hobbes para pensarmos o Estado Moderno.
Este primeiro pacto é falso porque beneficia exclusivamente aos que possuem
a propriedade, no Contrato Social (2004), o que Rousseau pretende estabelecer
as leis do soberano que é o povo. Mas como pode haver um governo em que o
governante não se torne um tirano? Não dando todos os poderes a ele. E como
governar sem ter em mãos todos os poderes?
Agora entramos em algo que está presente em nosso cotidiano, quantas vezes
você ouviu falar dos poderes executivo, legislativo e judiciário no Brasil? Pois é, a
teoria dos três poderes, ou a teoria da separação dos poderes, aparece na obra
de Montesquieu, mas não só isso. Montesquieu também tratará das tipologias dos
governos.
O autor francês, em uma de suas muitas viagens, vai à Inglaterra o que poderia
dar equilíbrio à monarquia. Na Inglaterra ele analisa o Parlamento inglês dividido
em suas duas câmaras – o sistema bicameral em que há a Câmara dos Lords
(constituída pela Nobreza) e a Câmara dos Comuns (eleita por voto popular) – e a
função dos três poderes: executivo, legislativo e judiciário.
Você percebeu como a teoria dos três poderes está presente hoje e é uma das
bases da República que vivemos? Você também deve ter percebido que o autor
que estamos estudando falou que a república era coisa de um passado em que os
homens poderiam se reunir para discutir as coisas, então qual a tendência política
de Montesquieu?
Para responder a esta questão vamos pedir o auxílio de Aranha e Martins (2003,
p. 249, grifo do autor),
O século XIX será marcado pelos governos liberais, como vimos na unidade
anterior, as revoluções burguesas farão com que o ideal liberal se torne a tônica
para reger os Estados europeus, no entanto a democracia liberal precisa conciliar
dois temas difíceis: Liberdade e Igualdade.
pensador político que viveu durante o século XIX na França. Sua principal obra é “A
Democracia na América”.
Porque o processo em curso nos Estados Unidos apontava para uma igualdade
crescente entre os cidadãos, ao mesmo tempo em que estes cidadãos conseguiam
preservar a liberdade. Para Tocqueville isto era fantástico, mas por quê? Nosso autor,
desde que se deparou com os contratualistas clássicos, formulou uma questão
central para todos os seus estudos: “O que fazer para que o desenvolvimento da
igualdade irrefreável não seja inibidor da liberdade, podendo por isso vir a destruí-
la?” (QUIRINO, 2000, p. 152).
antes ele tenta indicar aos homens o que é preciso fazer para escaparem à tirania
e à degradação.
3. AS FORMAS DE GOVERNO
República é uma nova palavra que surge em Roma para definir uma nova forma
de organização do poder após a saída dos reis. Segundo Bobbio (1993, p. 1107,
grifo do autor),
Portanto, a República é a coisa de todos em que todos podem, a partir das leis
vigentes, influenciar em suas decisões mediante os diversos organismos sociais que
permitem haver um equilíbrio entre as forças do Estado, pela divisão dos poderes, e
dos cidadãos, pelo acesso à participação nas decisões que os afetam diretamente.
Maluf (2013, p. 187) apresenta uma definição mais sucinta de República: “República
é o governo temporário e eletivo”. No plebiscito feito em 1993 se pensava na separação
entre Monarquia e República neste sentido, se o chefe de Estado seria um cargo
temporário exercido por alguém escolhido pelo povo (República) ou se seria alguém
vindo de uma família cujos valores tradicionais lhe garantiriam ficar como chefe do
Estado de maneira vitalícia (Monarquia).
Permite a soberania nacional porque não precisa esperar quatro anos para
escolher novos representantes, se o chefe do governo não atende aos anseios da
população ele pode ser destituído pelo parlamento mesmo que não seja o período
eleitoral. Da mesma forma que o parlamento pode ser dissolvido pelo chefe de
Estado se este não atende os seus cidadãos. A consulta pública é constante.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia De; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à
filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.
BOBBIO, N. A teoria das formas de governo. 10. ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 1998.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
NO BRASIL E OS DIREITOS E
GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Introdução à unidade
Olá! Preparados para iniciar uma viagem em busca do Direito? Espero que sim!
Imagino que você, em algum momento da sua vida, deve ter ouvido falar que o
nosso país é um Estado federal. Acredito também que, em algum momento, você
ouviu ou leu a expressão “Estado Democrático de Direito”. Pois bem, mas o que
significa esses termos? Você já refletiu sobre isso?
Seção 1
Tenho certeza de que será muito proveitoso o seu estudo, não só para a sua
vida profissional, mas também para sua vida pessoal. Tendo em vista que esta
unidade introduz o estudo do direito, faz-se necessário antes de começar qualquer
discussão, conhecer alguns elementos, conceitos e institutos do direito, com o fim
de entender um pouco melhor esse ramo do conhecimento.
Não há como iniciar uma discussão sobre o Direito sem apresentar uma noção
basilar sobre o assunto. O jurista Reale (2006), em seu clássico Noções Elementares
do Direito, ao citar o grande pensador Martin Heidegger, chama a atenção para o
fato de que não é possível estudar um assunto sem ter dele uma noção preliminar.
É neste sentido que proponho a você uma breve análise introdutória sobre o
Direito.
Instituições de direito no Brasil e os direitos e garantias fundamentais 155
U4
Desta feita, pergunto: O que é o Direito para você? Ordem e lei? Um conjunto
de regras obrigatórias que garante a convivência social? Se assim entender, pode-
se, então, afirmar que o Direito corresponde à exigência para uma convivência
ordenada, sendo que nenhuma sociedade poderia existir sem um mínimo de
ordem. Ordem esta dada pelo Direito.
Pois bem. Partindo deste pressuposto, ou seja, de que o Direito tem o objetivo
de trazer harmonia social, é que Reale (2006, p. 2) concluiu que: “[...] ubi societas,
ibi jus, (onde está a sociedade está o Direito)”.
Com fulcro nesse adágio, você poderia concluir que o Direito é um fato ou
fenômeno social, não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora
dela.
Quer saber mais sobre o que é o direito, não deixe de ler o texto: Afinal,
o que é direito? Disponível em: <http://www.sociologiajuridica.net.br/
lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/66-historia-e-teoria-do-
direito-/99-afinal-o-que-e-direito>.
O Direito pode ser visto como instrumento de controle social, mas é importante
que você saiba que ele não é o único responsável pela harmonia da vida em
sociedade, uma vez que a religião, a moral, as regras de trato social igualmente
contribuem para o sucesso das relações sociais.
Veja que o direito não visa ao aperfeiçoamento interior do homem, sendo este
o objetivo da moral. O direito também não pretende preparar o ser humano para
uma vida supraterrena, ligada a Deus, finalidade buscada pela religião. O direito
não se preocupa, da mesma forma, em incentivar a cortesia, o cavalheirismo
ou as normas de etiqueta, campo este específico das regras de trato social, que
procuram aprimorar o nível das relações sociais.
Na próxima seção, você irá estudar um pouco mais sobre os campos direito e
moral. Agora, basta que você perceba a diferença entre uma regra do direito, uma
regra moral e uma regra de cunho religioso, ainda que todas estas regras sirvam
de controle social.
O fato é que o direito provoca, pela precisão de suas regras e sanções, um grau
de certeza e segurança no comportamento humano, que não é o mesmo pelos
outros tipos de controle social.
Das explanações acima, você deve ter entendido que a ciência do direito,
sucintamente, é o campo do conhecimento que estuda o direito e as normas
jurídicas.
Isso significa que a Teoria Geral do Direito fornece estudos sobre elementos
importantes para a ciência do direito, tais como “fonte jurídica”, “relação jurídica”,
“fato jurídico”, “sujeito de direito”, “norma jurídica”. Mas a Teoria do Direito também
busca na filosofia pressupostos importantes para o seu estudo. Por isso, todos
estes campos do conhecimento – Filosofia do Direito x Ciência do Direito x Teoria
do Direito – estão interligados.
Você pode não ter percebido, mas, acima, acabei por mencionar um importante
elemento da Teoria Geral do Direito: o direito positivo. Você sabe o que é direito
positivo?
Está claro que o termo “direito” pode se referir à norma jurídica, mas também
pode ser utilizado como sinônimo de “justo”, de “autorização”, de “permissão”, de
“correto” etc. Enquanto norma jurídica, pode-se afirmar que o direito positivo é um
conjunto de normas estabelecidas pelo poder político que se impõem e regulam
a vida social de um dado povo em determinada época.
jurídico brasileiro. Quem exerce o poder político no país tem o poder de exigir o
cumprimento da norma, sob pena de sofrer uma sanção.
As pessoas, o tempo todo, estão se relacionando entre si, sob diversos fins e
interesses. Quando uma relação social passa a ter a proteção de uma norma jurídica,
podemos dizer que se trata de uma relação jurídica. Imaginemos, por exemplo, a
relação social entre um vendedor e um comprador de uma casa: teríamos aqui
uma relação jurídica por meio de um contrato de compra e venda, orientado por
uma norma do Código Civil. No caso de conflito nesta relação social, o Direito
(normas do Código Civil) passaria a tutelar esta relação jurídica.
Veja, então, que toda relação jurídica pressupõe estes elementos. As pessoas,
às quais as regras jurídicas se destinam, chamam-se sujeitos de direito, que podem
ser uma pessoa natural ou física, ou uma pessoa jurídica (empresa).
do Direito Tributário. O que eu quero dizer a você é que o Direito, tanto para fins
didáticos, quanto para atender ao objeto da relação jurídica, é dividido em campos
ou ramos do Direito.
Para entender melhor, não deixe de ler o artigo “Direito Público e Direito
Privado: uma eterna discussão”. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=9178>.
do Direito Internacional.
O Direito Civil que é conhecido também como Direito Comum, eis que disciplina
o modo de ser e de agir das pessoas. Protege as relações sociais particulares, no
seio da família (o Direito de Família se insere no campo do Direito Civil), a relação
das pessoas com os seus bens, as relações obrigacionais, as relações empresariais.
Cada Estado, geralmente, tem um TRT. O Paraná, por exemplo, tem o TRT da 9ª
Região.
Juízes de primeiro grau (Juízes eleitorais) → Tribunal Regional Eleitoral (TRE) → Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) → Supremo Tribunal Federal (STF).
Juízes de primeiro grau (varas – Juiz Estadual) → Tribunais de Justiça (TJ) → Superior
Tribunal de Justiça (STJ) → Supremo Tribunal Federal (STF).
Juízes de primeiro grau (varas – Juiz Federal) → Tribunal Regional Federal (TRF) →
Superior Tribunal de Justiça (STJ) → Supremo Tribunal Federal (STF). Os TRFs são
divididos por região. Por exemplo, o TRF da 4ª Região abrange o estado do Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Você deve ter verificado que o STF (Supremo Tribunal Federal) é a última instância
de todas as áreas (comum estadual, comum federal, trabalhista, eleitoral). Isso
ocorre porque o Supremo é o tribunal guardião da Constituição Federal, ou seja,
julga processos, em última instância, que discutem leis e fatos que supostamente
violaram a nossa Constituição.
Seção 2
Você já aprendeu que a nossa Carta Magna é o maior documento, a maior Lei
do nosso país. Isso significa que nenhuma lei brasileira poderá violar o contido na
Constituição. Inclusive, o Supremo Tribunal Federal (STF) serve justamente para
julgar lides que discutem violações à Constituição Federal.
Não sei se você tem conhecimento, mas os “direitos fundamentais” são todos
aqueles direitos inerentes a qualquer vida digna, tais como o direito à vida, à saúde,
à educação, à liberdade, à propriedade, à igualdade, ao trabalho digno etc.
Ora, não podemos esquecer que “os valores sociais do trabalho” se constituem
como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Além disso, temos
que questionar qual é o papel da cidadania na ordem econômica. A ordem
econômica, segundo o art. 170 da Constituição, está fundada na valorização do
trabalho humano, tendo por fim assegurar a todos existência digna. Isso significa
que o qualificativo “humano” é no sentido de distinguir um tipo de trabalho, que
é prestado pelo homem, sem as formas desumanizadoras de trabalho, como o
trabalho escravo, por exemplo.
Aliás, urge ressaltar que estes direitos são fundamentais porque são inerentes a
qualquer vida digna. É impossível sermos exemplo de Estado democrático sem a
efetivação dos direitos fundamentais, como também é impossível preservarmos a
dignidade da pessoa humana sem a concretização destes direitos.
Dentre os maiores bens jurídicos, sem dúvida, destaca-se a vida. Afinal, sem ela
não é possível preservar ou tutelar os demais bens jurídicos. O direito à vida, em
que pese seja um direito evidente ou natural, está previsto expressamente no caput
do art. 5º da Constituição Federal. Assim, todos têm o direito de não ser morto,
de não ser privado da vida, e de ter uma vida digna. Por isso, no nosso país há a
proibição da pena de morte.
<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/32745-
40386-1-PB.pdf>
<http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=8420&revista_caderno=9>
<http://www.youtube.com/watch?v=jqEtZQFQQQM>.
culto, que a escola não pode reprovar um aluno pelo fato de não frequentar a
aula de ensino religioso. Aliás, o art. 210, § 1º, CF/1988, estabelece que o ensino
religioso é de matrícula facultativa.
a título de curiosidade, vamos citar mais dois temas correlacionados com este
direito individual. Os crucifixos existentes em repartições públicas no Brasil são
vistos como símbolos culturais e não religiosos, devido à laicidade do Estado.
Outro aspecto interessante é o caso das pessoas que seguem a religião Adventista.
Os adventistas não podem estudar e nem trabalhar nas sextas, no período noturno,
e aos sábados. Neste sentido, para garantir a liberdade de culto dos adventistas,
a escola, por exemplo, deve criar alternativas para que haja cumprimento das
atividades realizadas nos horários supracitados. Veja abaixo a decisão judicial do
Estado de Santa Catarina que determinou a uma universidade a criação de tarefas
alternativas, bem como o abono de faltas das aulas de sexta-feira à noite:
Mais um direito individual fundamental é aquele assegurado pelo art. 5º, incisos
IX e X, da CF/1988 referente à liberdade de atividade intelectual, artística, científica
ou de comunicação e indenização em caso de dano. É livre a expressão da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura
ou licença. Por isso, veda-se a censura de natureza política, ideológica e artística
(art. 220, § 2º, CF/1988). Por meio da lei federal, deverá haver regulamentação das
diversões e espetáculos públicos (informar natureza delas, as faixas etárias, locais
e horários da apresentação). No mesmo sentido, deverá haver impedimento de
propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao
meio ambiente (art. 220, § 3º, I e II, CF/1988), e se houver violação da intimidade,
vida privada, honra e imagem das pessoas, será assegurado o direito à indenização
pelo dano moral e material (art. 5º, X, CF/1988).
XXV e XXVI, CF/1988). Este direito poderá ser restringido quando a propriedade
for desapropriada por necessidade ou utilidade pública. Tanto a propriedade
agrária, quanto a propriedade urbana devem atender a sua função social, sob
pena de sofrer uma desapropriação-sanção. No caso da propriedade agrária, a
desapropriação ocorre se não houver produção na terra. No caso da propriedade
urbana, a desapropriação-sanção é a última medida, mas é possível impor o
IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) progressivo, caso o proprietário não
mantenha de forma adequada a propriedade. O direito de propriedade também
poderá ser restringido através de requisição, no caso de iminente perigo público.
No caso de glebas de qualquer região onde forem localizadas culturas ilegais de
plantas psicotrópicas, haverá expropriação (e não desapropriação) sem qualquer
indenização ao proprietário (art. 243, CF/1988). É garantida a pequena propriedade
rural desde que trabalhada pela família.
Direito essencial nos dias atuais devido à complexidade do “mundo das compras”,
a defesa do consumidor também é considerada um direito fundamental. O art. 5º,
XXXII, CF/1988 previu a defesa do consumidor, regulamentada pelo Código de
Defesa do Consumidor – Lei 8.078/1990. O respeito ao consumidor é princípio
da ordem econômica no Brasil (art. 170 CF/1988) e suas normas de proteção são
normas de ordem pública e interesse social. Sobre elas não se opera a preclusão e
as questões que delas surgem podem ser decididas e revistas a qualquer tempo e
grau de jurisdição (LENZA, 2010).
ilegal, abusivo ou contra direitos, para que este tome as medidas necessárias. Não
se pode confundir direito de petição com a necessidade de preenchimento de
capacidade postulatória para a obtenção de pronunciamento judicial a respeito da
pretensão formulada. O direito de petição não assegura, por si só, a possibilidade
de o interessado ingressar em juízo sem advogado.
Vale informar que a Lei 9.051/95 dispõe que as certidões para defesa de
direitos e esclarecimentos de situações, requeridas aos órgãos da administração
centralizada ou não, devem ser expedidas no prazo improrrogável de quinze dias.
Faz-se necessário esclarecer os fins e as razões do pedido. Registrado o pedido
de certidão e não sendo atendido, cabe mandado de segurança e não habeas
data. Pode-se destacar como exemplo o pedido de certidão perante a autoridade
administrativa para requerer a aposentadoria. O direito pode ser negado em caso
do sigilo ser imprescindível à segurança da sociedade ou do Estado.
O art. 5º, XXXVII e LIII, CF/1988 prescreve o princípio do juiz natural ou legal
com o objetivo de proteger o cidadão na medida em que ninguém será sentenciado
ou processado senão pela autoridade competente. Assim, não haverá juízo ou
tribunal de exceção. Em que pese no Brasil seja vedado a criação de um tribunal
de exceção (tribunais temporários para julgar crimes de guerra, por exemplo),
o país aderiu ao Tratado de Roma que criou o Tribunal Penal Internacional (art.
5º, § 4º, CF/1988). Sendo assim, a República Federativa do Brasil pode entregar
um nacional (brasileiro) ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para ser julgado por
crimes de guerra, crime contra a humanidade, crimes de agressão e genocídio.
Isso não quer dizer que o TPI esteja substituindo a justiça brasileira, pois com base
no princípio da complementaridade, um brasileiro só será julgado pelo TPI se a
justiça brasileira se omitir. Ao contrário do que estabelece a Constituição brasileira,
o TPI prevê a pena de prisão perpétua.
Tendo em vista que alguns crimes tipificados no nosso país têm por objeto
proteger a vida, o texto constitucional e o direito penal brasileiro resolveram tratar
de forma diferenciada estes crimes ao criar o Tribunal do Júri. Previsto no art. 5º,
XXXVIII, CF/1988, o tribunal do júri tem competência para julgar os crimes dolosos
contra a vida: homicídio, aborto, infanticídio, induzimento ao suicídio. Por isso,
todas as pessoas que cometem estes crimes serão julgadas por um tribunal do júri
formado por pessoas comuns.
O art. 5º, incisos XXXIX a LXVII, da CF/1988 estatui acerca de vários direitos
relacionados à segurança criminal. O princípio da anterioridade e legalidade,
e da retroatividade da lei mais benéfica no sentido de beneficiar o réu estão
previstos nos incisos XXXIX e XL. Os incisos XLI a XLIV prescrevem acerca dos
crimes considerados imprescritíveis, inafiançáveis, insuscetíveis de graça ou anistia:
tortura, racismo, terrorismo, tráfico ilícito de entorpecentes, crimes hediondos. A
Constituição Federal tratou de forma diferenciada tais crimes devido ao seu alto
teor ofensivo.
A Constituição Federal, por meio do inciso LIX do art. 5º, possibilitou ao cidadão
ajuizar ação penal, no caso de inércia do Ministério Público, por meio de ação
privada subsidiária da pública. O MP é parte legítima para entrar com ação penal
porque representa o interesse do Estado/sociedade/coletividade, mas se diante
de um crime permanecer inerte e não ajuizar a ação, é assegurado à vítima ajuizar
ação privada subsidiária da pública.
O art. 5º, LIV e LV, CF/1988 prevê o princípio do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa, ao prever que ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens sem o devido processo legal; e garantir aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Ofende a garantia constitucional
do contraditório fundar a condenação exclusivamente em elementos informativos
do inquérito policial não ratificados em juízo (LENZA, 2010).
Àquele que não possui condições financeiras de arcar com um processo judicial
sem comprometer o seu sustento e de sua família, foi assegurada a assistência
judiciária integral e gratuita (art. 5º, LXXIV, CF/1988), por meio da isenção de
taxas e do uso da defensoria pública. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) tem
entendido que o cidadão, cuja remuneração mensal não ultrapasse a quantidade
de 10 (dez) salários mínimos, poderá requerer a assistência judiciária gratuita. A
As ações de habeas corpus e habeas data também são gratuitas, nos termos do
art. 5º, LXXVII, CF/1988. Adiante, veremos o conceito e o objetivo das ações de habeas
corpus e habeas data.
A ação de habeas corpus, prevista no art. 5º, LXVIII, é usada em casos de lesão à
liberdade de ir e vir. Todas as vezes que houver possibilidade de restrição de liberdade,
de forma ilegal, a ação de habeas corpus será o melhor remédio para proteger este
direito. Qualquer pessoa física, o Ministério Público e a pessoa jurídica podem impetrar
esta ação para defender pessoa física. Pode ser formulada sem advogado e sem
formalidade processual ou instrumental. O habeas corpus pode ser interposto para
trancar ação penal ou inquérito policial, ou em face de particular (hospital psiquiátrico
que priva o paciente de sua liberdade e age ilegalmente, por exemplo). A ação tem viés
preventivo (ameaça de restrição da liberdade) ou repressivo para cessar a violência. No
caso de ação preventiva, o autor irá obter o salvo-conduto para garantir o livre trânsito
de ir e vir.
O art. 5º, LXIX e LXX, da CF/1988 prevê acerca da ação de mandado de segurança.
Trata-se de ação constitucional de natureza civil que protege direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus e habeas data. A prova no mandado de segurança deve
estar pré-constituída, já que não se admite instrução processual. O réu no mandado
de segurança é a autoridade pública ou pessoa jurídica no exercício do poder público
quando age na ilegalidade ou abuso de poder. É admitido o mandado de segurança
coletivo para proteger direitos individuais homogêneos e coletivos. Neste caso, pode
ser impetrado por partido político com representação no Congresso, por organização
sindical, por entidade de classe ou associação, em defesa dos membros ou associados.
O mandado de injunção, por sua vez, previsto no art. 5º, LXXI, CF/1988, é a ação
que visa a proteger um direito diante da ausência de uma norma regulamentadora que
torna inviável o exercício de outros direitos relacionados às liberdades constitucionais
O habeas data, garantido pelo art. 5º, LXXII, CF/1988, visa a assegurar o
conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou banco de dados públicos e para assegurar a retificação de dados do
impetrante, tais como informações erradas, imprecisas; ou corretas e verdadeiras,
mas desatualizadas, constante em sistema de dados públicos ou governamentais.
Essa garantia não se confunde com o direito de obter certidões ou informações de
interesse particular, coletivo ou geral. Havendo recusa no fornecimento de certidões
para a defesa de direitos ou esclarecimento de situações de interesse pessoal,
próprio ou de terceiro, o remédio constitucional é o mandado de segurança. Se
for relativo à pessoa do impetrante, o remédio é o habeas data. Qualquer pessoa
física ou jurídica poderá ajuizar a ação. O polo passivo é preenchido pela pessoa
jurídica do banco de dados.
polo passivo (réu) na ação popular pode ser preenchido pela pessoa jurídica ou
pelo agente que praticou o ato, pelos beneficiários do ato lesivo etc. O Ministério
Público atuará como fiscal da lei, mas pode promover o prosseguimento da ação,
se o cidadão desistir.
Para facilitar o seu estudo, saiba que o art. 7º prevê os direitos individuais
dos trabalhadores, enquanto os artigos 8º ao 11º preveem direitos coletivos dos
trabalhadores (relacionados aos sindicatos, por exemplo).
2.4 Nacionalidade
Para saber quem possui capacidade eleitoral ativa, ou seja, quem tem direito
ao voto, leia o art. 14, §1º e §2º da CF/1988. Para saber quem possui capacidade
eleitoral passiva, ou seja, tem direito de ser votado, faça a leitura do art. 14, §3º, da
CF/1988. Se você quer conhecer as inelegibilidades que impedem o cidadão de
eleger-se, com o intuito de proteger a probidade administrativa e a moralidade para
o exercício do mandato, faça a leitura do art. 14, § 4º, § 5º, § 6º, § 7º, da CF/1988.
Referências
BETIOLI, Antonio Bento. Introdução ao direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 32. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 14. ed. São Paulo: Saraiva,
2010.
MORAES, Alexandre de. Curso de direito constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas,
2007.
______. Curso de direito constitucional. 30. ed. São Paulo. Atlas, 2013.
REALE, Miguel. Noções preliminares do direito. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.