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12/02/2016 Autogestão 

habitacional no Brasil: utopias e contradições

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Dec
Autogestão habitacional no Brasil: utopias e
contradições
Lido 11781 vezes  |  Publicado em Publicações  |  Última modificação em 18­12­2012 13:51:08
 

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Autogestão habitacional no Brasil: utopias e contradições
Metrópoles: Entre A
Fragmentaç...
O direito à cidade (e à moradia) é o direito de se disputar outras formas de apropriação do espaço urbano
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que subordinem a lógica mercantil às necessidades e desejos da maioria dos seus usuários e que reafirmem
a cidade como força geradora de conflito social. Esse conceito lefevriano é uma das premissas que norteiam
o livro “Autogestão habitacional no Brasil: utopias e contradições”, novo lançamento do INCT Observatório Metrópoles De Porte
das Metrópoles. A publicação expõe o contexto político em que se deu a expansão da autogestão de moradia Médio: Nat...
no país, das lutas dos movimentos sociais desde os anos 80 para a formulação do PNHIS até os programas 2015­12­17
federais pós­2003 direcionados à produção associativa, como Crédito Solidário e Minha Casa Minha Vida
Entidades.

O livro “Autogestão habitacional no Brasil: utopias e contradições” é o mais novo produto da Rede Nacional
INCT Observatório das Metrópoles. Organizado pela professora Luciana Corrêa do Lago (IPPUR/UFRJ), com o
apoio do CNPq, FAPERJ e FINEP, a publicação é composta de oito textos que partem de uma mesma
motivação: entender e romper as barreiras econômicas, políticas e culturais para a construção de uma outra
cidade, onde o princípio do bem­estar urbano subjugue o princípio da valorização monetária do ambiente
construído. Essa motivação, de natureza política, carrega ainda a aposta noutra forma de se produzir a
cidade: a produção autogerida coletivamente para o uso.

Dessa forma, os estudos presentes no livro, com enfoques distintos, buscaram observar a potência de tal
forma de produção no atual contexto político brasileiro, assim como as barreiras a sua difusão. Dentre as
políticas redistributivas propagadas no país na última década, estão em curso programas federais de
financiamento para empreendimentos habitacionais autogeridos por associações e cooperativas (Crédito
Solidário, Ação de Produção Social de Moradia e Minha Casa Minha Vida Entidades), não considerados como
uma das ações prioritárias pelos governantes, mas como uma resposta (tímida) às reivindicações dos
movimentos nacionais de moradia.

“O que se vê nesses textos é que, no campo habitacional, os recursos federais alocados para a produção
associativa representaram até o momento, não mais do que 2% dos financiamentos para casa própria,
evidenciando a força política das grandes empresas construtoras na disputa pelo fundo público. Porém, o que
privilegiamos aqui não são as condições desiguais dessa disputa, mas a própria existência desse campo de
disputa e dos avanços contra­hegemônicos que, embora tímidos em termos quantitativos, exigem análises
minuciosas das práticas associativas difundidas pelo Brasil”, explica a professora Luciana Corrêa do Lago.

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12/02/2016 Autogestão habitacional no Brasil: utopias e contradições

O direito à moradia no Brasil: contexto político

As cidades brasileiras estão imersas num contexto político e econômico marcado por novas e velhas
contradições. Assistimos, desde os anos 90, ao crescente poder dos agentes financeiros em pautarem e
controlarem as condições de vida em nossas cidades, através da interação do setor imobiliário com o circuito
financeiro global e das interferências nas políticas urbanas nacionais e locais.

A voracidade com que, desde o lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) em 2009, as mais
influentes construtoras vêm reestruturando o espaço das grandes, médias e pequenas cidades do país, com
efeitos muitas vezes dramáticos sobre os grupos despossuídos de poder de reação, expressa o atual
contexto. A pressa em fechar um milhão de contratos para a compra da casa própria foi a tônica do
Programa: no final de 2010, tal meta já havia sido alcançada e 237 mil casas entregues. E assim,
paralelamente às políticas urbanas locais, começam a ser produzidos, nas precárias periferias das cidades
brasileiras, grandes conjuntos habitacionais para famílias com renda até três salários, abrigando em média
mil moradias por empreendimento.

“Trata­se de um processo violento sustentado e legitimado por um aparato ideológico, estatal e empresarial,
que recoloca a ‘casa própria’ como necessidade primeira e urgente. Em nome da urgência em zerar o tão
calculado e recalculado ‘déficit habitacional’, milhares de domicílios são construídos nas fronteiras urbanas ou
além delas, aonde a cidade não chegou, mas com a promessa governamental de que chegará em breve. Não
há um pensamento urbanístico orientando essas ações edilícias; o que há é a negação da cidade. Dentro da
trama de carnês e boletos bancários em que as famílias brasileiras se movem, encontramos as prestações da
casa própria, da televisão, do carro, dentre outras mercadorias. A mercadoria casa pode, ou não, conter a
cidade, o que vai depender da capacidade de endividamento da família para acessar um espaço inserido no
urbano. Esse quadro não apresenta qualquer novidade ao olharmos a história da nossa urbanização e as
contradições urbanas de um país capitalista periférico. No entanto, se ampliarmos um pouco o foco sobre o
contexto político, novas contradições se revelam”, afirma Luciana Corrêa do Lago.

Desde a Constituição de 1988 não faltam no Brasil leis e planos fundamentados numa racionalidade de
produção do espaço urbano que exalta a função social da propriedade e o controle da valorização monetária
do bem imóvel pelo poder público. Instrumentos como a Zona de Especial Interesse Social (ZEIS), a
desapropriação para fins de moradia social e a captura de mais valia, entre outros, pensados como redutores
do poder de monopólio dos proprietários fundiários e como recurso ideológico na luta contra a
mercantilização do bem imóvel, passam a compor o marco regulatório da política urbana brasileira.

A institucionalização desse marco regulatório provoca uma nova contradição urbana ao se confrontar com o
projeto liberal de desregulação do mercado, que se instala no país no início dos anos 90 e se consolida desde
então. Nesse contexto, os instrumentos regulatórios da valorização imobiliária não são aplicados, porém
expressam um conflito urbano que passou a ocupar a esfera pública nos anos 80 e que se mantém ativo:
empresas do setor construtivo e movimentos sociais organizados nacionalmente disputam a apropriação e a
gestão do fundo público para a habitação e assumem posturas e práticas divergentes em relação aos marcos
constitucionais de regulação urbana.

Como desdobramento desse conflito amplia­se, a partir de 2003, o quadro de contradições frente à crescente
alocação de recursos públicos para formas associativas de produção habitacional e, dialeticamente, à
crescente absorção dessas experiências pela racionalidade dominante da valorização imobiliária. Isso deixa
claro que a disputa pelo fundo público não pode ser compreendida apenas pelo volume dos recursos
monetários apropriados pelos agentes, mas sobretudo, pelo poder de cada agente em (re)definir as regras
de distribuição desses recursos. O que significa dizer que, no caso específico da política habitacional, a
conquista pelos movimentos sociais de recursos públicos para a produção associativa da moradia não foi
acompanhada por uma significativa alteração na correlação de forças por trás das normas e princípios que
regulam o uso desses recursos.

“Um dos propósitos do livro é identificar as contradições na evolução dos programas federais e nas
experiências autogeridas. Outra premissa que nos orienta é a compreensão lefebvriana da cidade como o
lugar da sobreposição e do confronto entre modos de viver, ou seja, a cidade como centralidade. O direito à
cidade (e à moradia) é o direito de se disputar outras formas de apropriação do espaço urbano que
subordinem a lógica mercantil às necessidades e desejos da maioria dos seus usuários e que reafirmem a
cidade como força geradora de conflito social. Neste caso, privilegia­se a função política da cidade em
detrimento de sua função econômica no processo de acumulação. A cidade é produto e produtora de conflito
e assim sendo, nossos aglomerados urbanos devem ser apreendidos como cidade, apesar da pouca
visibilidade na esfera pública dos conflitos em curso, especialmente as disputas no campo habitacional”,
aponta Luciana.

Autogestão habitacional no Brasil

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12/02/2016 Autogestão habitacional no Brasil: utopias e contradições
Os trabalhos reunidos no livro “Autogestão habitacional no Brasil: utopias e contradições” resultaram de
estudos sobre experiências concretas no campo da autogestão habitacional, abrangendo tanto as práticas
discursivas expressas nas leis, programas de financiamento e pautas de ação política, quanto as próprias
ações de produção, gestão e reivindicação. Esses estudos integram uma linha de pesquisa e de formação
acadêmica e política iniciada em 2009 no âmbito do Observatório das Metrópoles e apresentam os resultados
de um primeiro esforço de sistematização e análise das experiências em curso.

Os quatro artigos iniciais compõem a primeira parte da coletânea, dedicada ao campo da política habitacional
na perspectiva dos pactos e confrontos entre os movimentos nacionais de moradia e o Estado, em torno da
formulação e implementação dos programas federais pós­2003. Edilson Mineiro e Evaniza Rodrigues, autores
do artigo “Do Crédito Solidário ao MCMV Entidades: uma história em construção”, resgatam a gênese e a
trajetória dos dois principais programas federais voltados para a autogestão habitacional, mapeando as
alterações em suas normas ao longo da última década em confronto com a pauta de reivindicações dos
movimentos de moradia. Temos, assim, um quadro das conquistas e derrotas desses movimentos no campo
da política habitacional.

O trabalho de Felipe Drago “Programa Crédito Solidário: avanços em direção à autogestão ou cavalo de Troia
dentro das “muralhas” do confronto político?”, produto de sua dissertação de mestrado, desenvolve uma
leitura política do Programa Crédito Solidário realizado no Rio Grande do Sul, leitura essa orientada por duas
categorias analíticas centrais: interdependência entre os movimentos sociais e o Estado na formulação e
implementação do programa e ciclo de confronto, que contem as fases de mobilização, desmobilização,
coalisão e enfrentamento por parte dos movimentos no período. O autor analisa os efeitos políticos da
interdependência nas estratégias de luta dos movimentos, apontando os riscos de um crescente
distanciamento entre as reivindicações que deram origem ao programa e as ações vinculadas à produção de
moradias.

Jéssica Naime, autora do artigo “Política de Habitação Social no Brasil pós 2003: incentivos e barreiras
estatais à produção associativa”, centrou sua análise no papel dos agentes da burocracia da Caixa Econômica
e do Ministério das Cidades na implementação dos dois programas federais voltados para a autogestão, cujas
normas foram examinadas no primeiro artigo da coletânea. O pressuposto da análise é de que as ações dos
agentes operadores da política não são neutras e explicam, em grande parte, as barreiras e os incentivos
encontrados ao longo do processo de aprovação e execução das propostas apresentadas pelos movimentos
de moradia.

O trabalho de Regina Ferreira “Movimentos sociais, Autogestão e a construção da política nacional de
habitação” aborda centralmente a longa trajetória de luta dos movimentos de moradia e de reforma urbana,
desde os anos 80, com ênfase no protagonismo desses movimentos na formulação da Política Nacional de
Habitação de Interesse Social.

A segunda parte da coletânea reúne quatro artigos voltados para a prática da autogestão habitacional no
Brasil. O trabalho de Regina Ferreira “A autogestão habitacional no Brasil a partir do Governo Lula: produção
e agentes.” nos apresenta a dimensão quantitativa da produção habitacional financiada pelos três programas
federais voltados para a autogestão: Crédito Solidário, MCMV Entidades e Ação de Produção Social da
Moradia. O mapeamento dos empreendimentos por estado da federação e segundo a vinculação com os
movimentos nacionais de moradia serviu de instrumento de análise para a avaliação da efetividade dos
programas.

Os três últimos artigos abordam temas específicos com base em estudos de caso. Luciana Lago, autora do
trabalho “O associativismo produtivo na periferia urbana: novos conflitos em pauta”, trabalha com a ideia da
emergência de novos conflitos urbanos, tanto em áreas centrais quanto em áreas periféricas das grandes
cidades, provocados pelos programas habitacionais implementados na última década. A análise baseia­se nas
experiências de autogestão habitacional nas metrópoles de São Paulo e Porto Alegre. O artigo de Julia
Wartchow “O acesso a terra para autogestão na Região Metropolitana de Porto Alegre: o caso do
Loteamento Vivendas São Tomé”, produto de sua dissertação de mestrado, apresenta um estudo minucioso
de todo o processo de aquisição de terra urbana pelas cooperativas habitacionais, para a realização de um
empreendimento por autogestão. O estudo de caso permite uma leitura mais fina das relações entre agentes
públicos, proprietários de terra, empreiteiros e cooperativas. Por fim, Irene Mello, também se utilizando de
um estudo de caso, buscou analisar em seu trabalho “Direito à moradia X direito de propriedade” a visão dos
moradores e lideranças de uma ocupação no centro do Rio de Janeiro, sobre o direito de propriedade privada
e as possibilidades de superação ou de controle desse direito. A ocupação é coordenada pelo Movimento
Nacional de Luta pela Moradia cuja pauta de reivindicações contém o instituto da propriedade coletiva da
terra.

Leia também:

Minha Casa, Minha Vida: experiências de autogestão coletiva

Vídeo: "A gente não só constrói

Autogestão de moradia na superação da periferia urbana: conflitos e avanços

SUMÁRIO

Introdução ­ Luciana Corrêa do Lago

I Parte: Pactos e confrontos no campo da política habitacional.

Do Crédito Solidário ao MCMV Entidades: uma história em construção. (Edilson Mineiro e Evaniza Rodrigues)

Programa Crédito Solidário: avanços em direção à autogestão ou cavalo de Troia dentro das “muralhas” do
confronto político? (Felipe Drago)

Política de Habitação Social no Brasil pós 2003: incentivos e barreiras estatais à produção associativa.
(Jéssica Naime)

Movimentos sociais, autogestão e a construção da política nacional de habitação no Brasil. (Regina Fátima
Ferreira)

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12/02/2016 Autogestão habitacional no Brasil: utopias e contradições
 

II Parte: Experiências de autogestão habitacional.

A autogestão habitacional no Brasil a partir do Governo Lula: produção e agentes. (Regina Fátima Ferreira)

O associativismo produtivo na periferia urbana: novos conflitos em pauta. (Luciana Corrêa do Lago)

O acesso à terra para autogestão habitacional na Região Metropolitana de Porto Alegre: o caso do
Loteamento Vivendas São Tomé. (Julia Wartchow)

Direito à moradia X direito de propriedade. (Irene de Queiroz e Mello)

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