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PRESIDENTE PRUDENTE/SP
Victor Hugo Quissi Cordeiro da Silva
Introdução
Este texto está baseado nos resultados parciais alcançados em pesquisa de
mestrado, ainda em andamento e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP) – processo: 2021/04735-1. Tal projeto de pesquisa busca
estudar as práticas espaciais de moradores de conjuntos habitacionais do programa Minha
Casa Minha Vida (faixa 1) e dos espaços residenciais fechados em Presidente Prudente
(SP). Para a realização deste trabalho entrevistamos citadinos residentes nestas áreas e
identificados com diferentes perfis de idade e gênero.
Objetivos
Metodologias
O programa MCMV foi, sobretudo, uma medida econômica adotada pelo governo
do Partido dos Trabalhadores (PT), em março de 2009, com a finalidade de contrapor a
crise de 20081. Ao mobilizar recursos públicos para a construção de habitações, pretendia-
se ativar toda uma cadeia produtiva, que, por sua vez, minimizaria os efeitos cíclicos da
desaceleração econômica, gerando empregos e renda às famílias (MARICATO, 2009).
Ao mesmo tempo, almejava-se solucionar o problema do “déficit habitacional” nas
cidades brasileiras. Amore (2015) ressalta a relevância da habitação de interesse social para a
população que se encontra nas faixas de renda mais baixas e que é mais afetada pelo déficit
habitacional no país. Entretanto, os dois principais gargalos ou contradições do PMCMV,
apontados pelo autor, estavam na questão da terra e na segregação socioespacial, isto é, na
escolha de áreas periféricas e pouco integradas ao tecido urbano e carentes de
infraestruturas e serviços urbanos.
Para compreender a complexidade da produção do espaço urbano, Calixto e Redón
(2021) relatam a importância dos diferentes empreendimento destinados para públicos
distintos, como os advindos do PMCMV e dos espaços residenciais fechados de alto
padrão. Nas cidades médias a construção desses diferentes conjuntos produziu efeitos
socioespaciais que contribuíram para a redefinição da estrutura urbana, alterando o par
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Iniciada nos Estados Unidos da América, foi uma crise provocada pelo mercado de títulos, chamados de
subprimes. Não tardou para que todo o mercado financeiro e outros setores da economia fossem afetados,
causando graves consequências em toda a economia capitalista (MARICATO, 2009).
centro-periferia que marcou as cidades médias da segunda metade do século XX. Um dos
efeitos mais imediatos, apontados pelos autores, é a nova espacialização das desigualdades
nas cidades cujos vetores de promoção estão firmados nas dinâmicas imobiliárias.
De acordo com Maia et. al. (2021), quando observamos as iniciativas de habitação
social e os condomínios fechados para os públicos de rendas média e/ou alta, é perceptível
o interesse privado e público nas zonas de transição entre o rural e o urbano, promovendo
um acelerado processo de expansão da malha urbana, mesmo que em detrimento de
interesses ambientais ou sociais. Para Amore (2015) a questão da moradia passa pelo
enfrentamento do problema do financiamento (atender a demanda não solvável) e do
problema da terra (adquirir terras para incorporação imobiliária), o modelo adotado a partir
do PMCMV deixou a questão da terra para ser solucionada na esfera municipal e o
financiamento na esfera federal. Um dos desdobramentos dessa política econômica é a
reprodução do espaço como valor de troca em detrimento do espaço como reprodução da
vida.
O acesso ao centro é longe demais. Porque, praticamente, como a cidade vai crescendo o acesso
vai ficando maior ainda. Agora, aqui já está fora praticamente do centro. E o ligamento
assim... Como eu posso te falar... O problema do acesso é longe né. Porque mercados grandes,
como Muffato e Carrefour, estão bem longe (José, 50 anos, monitor de escola, Jardim
Panorâmico (MCMV, faixa 1), Presidente Prudente).
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