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Teologia Soteriológica:

Demonologia.

Obsessão demoníaca.
Bibliografia complementar:

Exorcistas e psiquiatras.
Autor: Pe. Gabriele Amorth
Editora: Palavra & Prece
As ações dos demônios podem ser ordinárias, como é a tentação, mas
também extraordinária, como a ação dele na história, conforme
abordado anteriormente.
* Porém, há outras duas formas deles agirem de maneira
extraordinária, através da obsessão e da possessão.
* Precisamos fazer a distinção entre obsessão e possessão.

Obsessão:
A primeira ação extraordinária é a obsessão.
Na obsessão o demônio faz um ataque externo à pessoa, enquanto que
na possessão o demônio toma conta do corpo da pessoa.
* Em seu curso sobre “Demonologia”, nosso querido Pe. Paulo Ricardo
faz uma analogia entre essas ações demoníacas e um ataque à uma
cidade murada.
A obsessão seria um exército inimigo que cercou e sitiou a cidade,
enquanto que a possessão é como um exército inimigo que conseguiu
invadir e tomar conta da cidade.
* A natureza da obsessão é mais próxima à da tentação do que da
possessão, é um ataque mais claro e tem como objetivo levar a pessoa
à pecar.
As principais diferenças é que a obsessão é mais forte, mais clara e
inequívoca.
* A pessoa continua livre e domina seus atos, porém o demônio ataca
de forma mais obstinada e incisiva.
Pe. Royo Marin diz sobre a obsessão em seu livro que:

“Sempre que o demônio atormenta o homem desde fora, de uma


maneira tão forte sensível e inequívoca, que não deixe lugar para
dúvidas de sua presença e de sua ação.”

Quando somos tentados, nem sempre sabemos se é realmente o


demônio quem está nos tentando, mas quando se trata de uma
obsessão temos a certeza de que é ele.
* O mais comum é a obsessão ser usada como arma contra os santos.
Misteriosamente Deus permite que os demônios tentem os santos de
uma forma ainda mais forte que uma pessoa comum.
* Caso como o de Stª Bernadete Soubirous, que recebeu a graça de ser
a escolhida para a mensagem em Lourdes, mas no final de sua vida
ficou atormentada por influência demoníaca, achando que não tivesse
correspondido à graça recebida por Deus.
* Santa Catarina de Sena, tinha visão de demônios que à
atormentavam e à acusavam de ter feito tudo o que fez ao longo de sua
vida por pura vaidade e que por isso seria condenada ao Inferno.
* Santa Faustina Kowalska, freira que ouvia o demônio acusá-la de
levar pessoas para o Inferno por pregar a devoção à Divina
Misericórdia.
Dizendo que isso deixaria as pessoas mais presunçosas, incluindo ela
própria.
Talvez caso mais conhecido seja o de Stº Antão, que recebia a visita
de demônios materializados, em forma de animais e mulheres nuas.

Talvez Deus permita a obsessão para ajudar os santos à reconhecerem


o valor, o mérito e a virtude de cada um deles diante de Deus.
Deus gosta de nos ver lutar, a glória de Deus se manifesta nessas
vitórias dos santos sobre os demônios.

Existem dois tipos de obsessão.


1) Obsessão Interna: O demônio age em nossos pensamentos, usando
a nossa imaginação.
Ele não tem acesso à nossa alma, à nossa inteligência e vontade, mas
tem acesso às demais realidades entre a alma e o corpo como a
fantasia e a memória e usa isso para nos perturbar.
* O resultado dessa ação pode ser a repugnância pelas coisas divinas,
a pessoa pode achar que não está correspondendo devidamente às
graças recebidas, a pessoa é atormentada constantemente por
imagens blasfemas, dentre outros.
* Quanto maior o grau de santidade da pessoa, mais evidente fica a
ação demoníaca.
2) Obsessão externa: Também chamado de “obsessão sensível”,
porque se utiliza dos 5 sentidos humanos.
Esse tipo se distingue ainda mais da tentação, já que na tentação os
demônios não atacam os sentidos.
* Muitos santos, de tanto serem atacados em seus sentidos por
demônios, e tendo sido vencedores, se acostumaram com isso e
conquistaram uma paz interior e uma confiança ainda maior em Deus.
Isso é um sinal que não se trata de uma psicose ou de outra disfunção
qualquer.
* Muitos santos viam demônios ou ouviam vozes e outros sons
demoníacos.
* Sentiam cheiros agradáveis, que os atraíam para o pecado ou
desagradáveis, que os afastavam da santidade.
* Sentiam sabores que faziam quebrar jejuns ou gostos repugnantes
que os afastavam da comida.
* Sentiam toques físicos, na forma de carícias e afagos, mas também
como golpes e flagelos.
Causa e origem da obsessão:
Satanás e seus demônios não tem esse poder, a origem é a permissão
divina.
A causa é a inveja de Satanás por nós.
Como descrito no Livro de Jó.

* Temos que conhecer a psicologia demoníaca, o que está por trás


dessas ações.
O homem é vocacionado à estar na presença de Deus, à santidade e
Satanás odeia isso, porque ele nunca verá a Deus.

* É insuportável para Satanás e seus demônios o fato da Virgem Maria


ser plena de graça.
De ela ter sido agraciada de uma forma que ele nunca será.
A oração da Virgem Maria, “Ave, cheia de graça”, é um golpe fortíssimo
nele, lhe causa um sofrimento inimaginável.
* “O Senhor é convosco”, o fato de ela já estar vendo Deus face à face
e dele saber que jamais passará por isso lhe causa muito ódio por ela.
Daí a inimizade entre eles.
* Então temos a Virgem Maria, que já vê a Deus, Satanás e seus
demônios que nunca verão a Deus e nós, que estamos com nosso
destino ainda incerto.
Daí o seu esforço para que nossas almas se percam.
*Outra causa pode ser a imprudência da pessoa vítima da obsessão.
Buscando desafiar o demônio, confiando em suas próprias forças.
Isso pode ter consequências desastrosas.

Por fim, uma predisposição natural também pode ser a causa de uma
obsessão.
* Nesse caso há a dificuldade em distinguir a ação demoníaca da
realidade psiquiátrica.
* Embora o mais comum seja a ocorrência da obsessão em pessoas
com grau de santidade elevado, também pode acontecer com pessoas
comuns e que tenham uma predisposição para alucinações.
* Com essas pessoas, há uma reação desproporcional à tentação
demoníaca, potencializando-a e fazendo com que pareça uma
obsessão.
Sobre isso, Pe. Royo Marin escreveu:

“A obsessão pode acontecer por uma propensão natural do


obsessionado, que dá ocasião para Satanás atacá-lo no seu ponto
fraco.
Essa razão não vale para as obsessões exteriores, que nada tem há ver
com o temperamento ou compreensão natural de que padecem.
Porém é válida para os obsessões internas, enquanto que o terreno
seja abonado por uma pessoa de temperamento melancólico,
escrupuloso, inquieto ou com incertezas.
Seja como for, a obsessão por violenta que seja, não priva nunca o
sujeito de sua liberdade e, com a Graça de Deus, pode sempre vencê-la
e tirar para si maiores bens.
É somente por isso que Deus permite a obsessão.
É certo, sem dúvida, que, por mais que o obsessionado não perca a sua
liberdade interior, ele perde, muitas vezes, o domínio de suas
potências, dos seus sentidos inferiores, vendo-se forçado por impulsos
quase incontroláveis à dizer e à fazer o que não quer.
É possível, às vezes, que a obsessão esteja unida, de certa forma, à
uma possessão diabólica parcial.”
Como combater a obsessão:
Em primeiro lugar, como toda doença, é preciso ter o diagnóstico e
isso deve ser feito pelos diretores espirituais.
O diretor espiritual deve sempre se recordar de que esses são casos
que acontecem ordinariamente em pessoas com alto nível de
santidade.
Deve identificar na pessoa se ela cultiva hábitos virtuosos.
Isso é um indício de que pode se tratar de uma obsessão.

O segundo ponto é distinguir a obsessão da tentação.


Para isso deve-se lembrar que no caso da obsessão a ação se dá com
mais clareza, enquanto que a tentação nos deixa mais confusos.
* Para discernir uma tentação é necessário um carisma dado por Deus.
É muito difícil sabe a origem , se é da carne, do mundo ou do diabo,
mesmo porque essas coisas não são excludentes.
Já no caso de obsessão é mais clara a sua origem.

* Descobrir o perfil psicológico da pessoa, conhecer a sua psicologia,


descobrir se há alguma doença mental, etc....
Se a pessoa tiver um perfil de doenças mentias, a chance de não se
tratar de uma obsessão é alta.
Nesses casos pode até haver uma ação demoníaca, mas não se trata
de obsessão.
A histeria, que é quando a pessoa geralmente vive mais a realidade
daquilo que ela sente, do que aquilo que ela vê, sabe e conhece,
costuma ser uma doença que causa essa confusão.
* A histeria é diferente de um fingimento porque, de fato, a pessoa
sente aquilo que está expressando.
* A psicose é outra doença que costuma ser confundida coma
obsessão.
Se dá quando a pessoa realmente vê e ouve coisas.
Ela ouve sons e vozes, também vê animais e insetos, etc....
A psicose se dá em variados graus, cada um com seus variados
sintomas, o fato é que isso deve ser levado em conta.
* Dessa forma, a psicose pode se parecer em muito com o caso de
obsessão que age nos sentidos.

Mesmo havendo um caso psiquiátrico, o diretor espiritual não pode


descartar de início uma ação demoníaca.
Pode estar acontecendo um caso de tentação demoníaca que está
sendo potencializada pelo quadro psiquiátrico da pessoa.
E isso pode se parecer com uma obsessão.
* É como se alguém pisasse no nosso pé sadio, nesse caso sentiríamos
uma dor momentânea, mas se alguém pisar num pé com uma unha
encravada a sensibilidade potencializa essa dor e a reação.
São causas concorrentes.
Feito o diagnóstico, deve-se primeiramente incutir na pessoa uma forte
confiança na bondade e na misericórdia de Deus.
O diretor deve consolar a pessoa mostrando uma visão sobrenatural e
que vencendo essas batalhas nós crescemos na virtude e no amor a
Deus.

No caso de haver um quadro psiquiátrico, a pessoa deve fazer um


acompanhamento e um tratamento clínico, mas sem excluir o
tratamento espiritual.
A Igreja não exclui o tratamento psiquiátrico dos trabalhos dos
exorcistas.
Isso seria uma soberba.
* O problema é que, para algumas pessoas, é mais fácil e cômodo
acreditar numa ação demoníaca do que numa debilidade psiquiátrica.
Porém, o cérebro é o “órgão” da nossa alma, é por ele que ela se
manifesta, por isso precisamos cuidar dele.
Nosso cérebro estando bem, nossa vida espiritual também estará.
Não dá para dormir pouco, se alimentar mal, viver estressado e querer
que na nossa vida em oração ocorra tudo bem.
O sono, por exemplo, é uma arma muito usada pelos demônios.
* O equilíbrio é necessário, combinar jejum com uma devida
alimentação, vigílias com boas noites de sono, obrigações com lazer.
Outro tratamento recomendado após o diagnóstico são os
sacramentais (água benta, medalhas milagrosas, sal bento exorcizado,
etc.....), nos ajudam no combate às tentações e obsessões.

Também se faz necessário manter os pés firmes na realidade, crendo


nas Sagradas Escrituras, também é uma maneira de enfrentar as
seduções diabólicas.

Os sacerdotes podem e devem usar os exorcismos menores.


São orações de exorcismos feitas privadamente.
* Havendo um caso comprovado de debilidade psiquiátrica, o padre
deve fazer as orações em latim e de modo discreto, para não alarmar a
pessoa.
Obs: Uma oração de exorcismo recomendada é a pequena oração do
Papa Leão XIII.
Alguns porém dizem que essa oração está proibida para sacerdotes
não exorcistas, com base no Código de Direito Canônico.
“Ninguém pode legitimamente exorcizar os possessos, à não ser com
licença especial e expressa do Ordinário local.
Esta licença somente seja concedida pelo Ordinário do lugar a um
presbítero dotado de piedade, ciência, prudência, e integridade de
vida.”
CDC nº1172
O Pe. Antônio Roya Marin ensina que essa proibição se aplica somente
aos exorcismos solenes e não aos privados.

“Nos casos mais graves e persistentes poderá lançar mão, o diretor


espiritual, de exorcismos previstos no ritual romano ou outras formas
aprovadas pela Igreja.
Porém, sempre em privado.”

Trata-se de orações de libertação.


Não há nenhuma carta de orientação emitida por algum Dicastério do
Vaticano, assinada por algum Papa, para nenhum bispo, proibindo a
oração de Leão XIII para exorcismos privados.
* O próprio texto de Leão XIII prevê a possibilidade de até mesmo fiéis
leigos utilizarem a oração para benefício próprio.
* O exorcismo solene, também chamado de exorcismo maior, esse sim,
requer todo um ritual.
Todo sacerdote faz um exorcismo menor quando ministra o Batismo ou
quando faz a iniciação de adultos, com os chamados “escrutínios”.
* Exorcismos menores podem ser feitos, de forma privada e não
pública, para não possessos.
Mas casos de tentação severa e obsessão são permitidos exorcismos
menores.
Para tentações severas e obsessão, exorcismos menores não
provocam reações imediatas nas pessoas.
Mas se durante essas orações, a pessoa sai de si, perde os sentidos ou
convulsiona, provavelmente se trata de um caso de possessão.
Nesses casos deve-se recorrer a um exorcista.
* Pequenos exorcismos podem servir de diagnósticos, quando feito de
modo discreto e sem que a pessoa saiba do que se trata.

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