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GESTÃO DE

RECURSOS NATURAIS

autores
BEATRIZ CRUZ GONZALEZ
BRUNO G. DE OLIVEIRA

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  solange moura; roberto paes; gladis linhares; karen bortoloti;
marcelo elias dos santos

Autores do original  beatriz cruz gonzalez e bruno garcia de oliveira

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gladis linhares

Coordenação de produção EaD  karen fernanda bortoloti

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Imagem de capa  yongnian gui | dreamstime.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

G643g Gonzales, Beatriz Cruz


Gestão em recursos naturais / Beatriz Cruz Gonzales; Bruno Garcia de
Oliveira
Rio de Janeiro : SESES, 2016.
136 p. : il.

isbn: 978-85-5548-216-8

1. Recursos naturais. 2. Crise ambiental. 3. Pesquisa científica.


4. Fontes energéticas. I. SESES. II. Estácio. cdd 304.2

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Recursos Naturais 9
1.1  Recursos Naturais 11
1.2  Classificação dos recursos naturais 11
1.3  Utilização dos recursos naturais 14
1.4  Economia dos recursos naturais 15
1.5  Brasil colônia 17
1.6  Revolução Industrial 18
1.7  Exploração da Biodiversidade 21
1.8  Implicações ambientais do crescimento populacional 25
1.9  Impacto causado pelos padrões de produção e consumo 28
1.10  Escassez dos recursos naturais. 30

2. Crise Ambiental: Problemas e Soluções 35

2.1  Crise Ambiental: problemas e soluções 37


2.2  Efeito Estufa 37
2.2.1  Convenção da Mudança Climática 38
2.2.2  Protocolo de Kyoto 39
2.3  Aquecimento Global 40
2.4  Soluções para a crise 43
2.4.1  Movimentos sociais que colocaram em
discussão a problemática ambiental 43
2.4.2  Desenvolvimento sustentável 46
2.4.3  Sustentabilidade no Brasil e a preocupação
com o meio ambiente 48
2.4.4  Direito ambiental 51
2.4.5  Educação ambiental 52
2.5  Políticas públicas na promoção da
sustentabilidade ambiental 55
2.6  Gestão sustentável da biodiversidade 56

3. Pesquisa Aplicada 61
3.1  Pesquisa Aplicada 63
3.2  Método Científico 63
3.2.1  Tipo de métodos 65
3.3  Pesquisa Científica 67
3.3.1  Classificação da pesquisa 68
3.4  Projeto de Pesquisa 76
3.4.1  Título do projeto 76
3.4.2 Introdução 77
3.4.3  Revisão Bibliográfica 77
3.4.4  Procedimentos metodológicos 78
3.4.5 Cronograma 78
3.4.6  Referências Bibliográficas 79
3.5  Técnicas de coleta, análise e interpretação de dados. 79

4. Projeto de Pesquisa: Estrutura e Etapas 85

4.1  Definição de Pesquisa 87


4.2  Necessidade de Realizar Pesquisas 87
4.3  Recursos Necessários para Pesquisa 89
4.4  Tipos de Pesquisa 92
4.5  Elaboração de um Projeto de Pesquisa 95
4.6  Estrutura de um Projeto de Pesquisa 98
4.6.1 Justificativa 98
4.6.2  Problema de Pesquisa 98
4.6.3  Objetivos de Pesquisa 99
4.6.4 Hipóteses 99
4.6.5 Metodologia 100
4.6.6  Referências Bibliográficas 100
4.6.7  Cronograma e Orçamento 101
4.7  Formação da Equipe do Projeto 101
4.8  Administração de Projetos de Pesquisa 102
4.9  Composição dos Projetos de Pesquisa Ambiental 103

5. Recursos Naturais Renováveis e


Não Renováveis 107

5.1  Recursos Naturais não Renováveis 109


5.2  Recursos Minerais 111
5.3  Minerais Energéticos 113
5.3.1 Nuclear 114
5.3.1.1  Urânio 114
5.3.1.2  Tório 116
5.3.2 Fósseis 117
5.3.2.1  Carvão 117
5.3.2.2  Petróleo 118
5.3.2.3  Gás Natural 120
5.3.2.4  Xisto Betuminoso 121
5.4  Fontes de Energia Renováveis 121
5.4.1 Solar 122
5.4.2 Eólica 122
5.4.3 Hidrelétrica 123
5.4.4 Hidrogênio 124
5.4.5 Biomassa 125
5.5  Recursos Agrícolas 126
5.5.1 Pesca 127
5.5.2 Florestais 127
5.5.3 Hídricos 128
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

Seja bem-vindo ao estudo da Gestão dos Recursos Naturais. Esta disciplina


trata de um assunto muito importante encontrado na natureza, os recursos na-
turais. As atividades de controle de todos os fatores do meio físico do homem,
que influenciam de alguma forma a disponibilidade dos recursos naturais
também serão focos da presente. Os recursos naturais que incluem as plantas,
animais e minerais, vêm sendo explorados de maneira desenfreada há muitos
anos. Porém, frente ao fato de que a utilização demasiada dos recursos naturais
poderia levá-los à exaustão, diversas mudanças foram iniciadas, tanto no âmbi-
to social quanto no econômico. Nesta disciplina serão abordados os assuntos
relacionados aos recursos naturais, tais como a sua importância, utilização e
preservação. A fim de introduzir à você uma abordagem voltada para as ciên-
cias, o presente livro também irá incluir a pesquisa científica como um de seus
temas principais. Este material visa preparar indivíduos conscientes que lutam
por uma melhor qualidade do meio ambiente e consequentemente, uma me-
lhor qualidade de vida.

Bons estudos!

7
1
Recursos Naturais
Definidos por Abramovay (2002) como “aqueles cuja reprodução não pode ser
feita pela atividade humana. Podem ser usados ou geridos, mas não produzi-
dos” os recursos naturais serão o foco deste primeiro capítulo juntamente com
temas relevantes relacionados aos mesmos como, o desenvolvimento sustentá-
vel, a revolução industrial e a crise ambiental, contemplando-se assim a forma
com que os recursos naturais que, por não serem estáticos, se expandem e se
contraem em resposta às necessidades e às ações humanas.

OBJETIVOS
As temáticas a seguir serão tratadas neste capítulo: o modelo predatório de produção e a
exploração da biodiversidade, as implicações ambientais do crescimento populacional, o im-
pacto causado pelos padrões atuais de produção e consumo e a problemática da escassez
dos recursos naturais. Espera-se que você assimile quais são os tipos de recursos naturais
existentes, como é feita a sua utilização e economia e como a Revolução Industrial repercutiu
na exploração da biodiversidade. Está preparado para embarcar nessa aventura? Espero que
sim! Então, mãos à obra?!

10 • capítulo 1
1.1  Recursos Naturais
Este material aborda um dos elementos mais importantes para a manutenção
da vida: os recursos naturais. De acordo com Randall (1987) os recursos natu-
rais são aqueles que possuem valor e que são úteis na forma com que se encon-
tram na natureza, desde que eles sejam usados com outros fatores de produção
para geração de um bem ou de um serviço que possam vir a ser benéficos para
a população.
Barbieri (2007) define os recursos naturais como sendo bens e serviços ori-
ginais ou primários dos quais todos os demais dependem. Encontram-se inclu-
sos entre os recursos naturais elementos ou partes do meio ambiente físico e
biológico, tais como solo, plantas, animais, minerais e tudo que possa ser pro-
veitoso e acessível à produção da subsistência humana.
Assim, o conceito tradicional de recurso natural deriva do fato de que nem
tudo o que existe na natureza trata-se de recurso, e sim apenas aquilo que de
alguma maneira represente alguma utilidade aos seres humanos.

1.2  Classificação dos recursos naturais


Classificam-se, comumente, os recursos naturais como renováveis e não reno-
váveis. Os recursos renováveis são aqueles que podem ser obtidos a partir de
uma mesma fonte por período de tempo indeterminado enquanto que os re-
cursos não renováveis consistem naqueles que apresentam quantidade finita
que em algum momento se esgotarão caso sejam continuamente explorados.
Esta classificação, apesar de ser a mais utilizada, deve ser vista com ressalvas, já
que na verdade todos os recursos podem se renovar por meio de ciclos naturais,
porém alguns ciclos duram milhões de anos, período de tempo muito superior
ao da raça humana sendo, portanto definidos como não renováveis. Dessa for-
ma, as condições que definem se um recurso natural é renovável ou não são a
perspectiva de tempo dos seres humanos e o seu modo de uso, conforme ilus-
trado na figura 1.1.

capítulo 1 • 11
Não se alteram
com o uso
Renováveis

Alteram-se
com o uso

Recursos Naturais
Esgotam-se
com o uso
Não renováveis
Esgotam-se, mas
podem ser reciclados
e reutilizados

Figura 1.1  –  Classificação dos recursos naturais. Fonte: Adaptado de Barbieri (2007).

Como exemplo de recursos naturais renováveis que não se alteram com o


uso podem ser citadas a energia direta solar, energia dos ventos e das marés
(figura 1.2). Destacam-se como exemplos de recursos renováveis que são altera-
dos conforme consumidos os seguintes: lenha, madeira e solo.
©© SCRUGGELGREEN | DREAMSTIME.COM

12 • capítulo 1
©© NRQEMI | DREAMSTIME.COM
©© CHRIS VAN LENNEP | DREAMSTIME.COM

Figura 1.2  –  Recursos naturais renováveis que não se alteram com o uso: energia solar
(primeira), energia eólica (segunda) e energia das marés (terceira).

O petróleo, carvão mineral, gás natural e a energia nuclear se tratam de re-


cursos naturais não renováveis que se esgotam com o uso enquanto que a areia,
a argila e o granito são exemplos de recursos não renováveis que são esgotáveis
podendo, contudo, ser reutilizados e/ou reciclados.

capítulo 1 • 13
A água que teoricamente é um recurso natural renovável encontra-se em si-
tuação delicada de escassez ao redor do mundo inteiro. Os cenários previstos re-
lacionados à qualidade e quantidade dos recursos hídricos são muito preocupan-
tes tanto que espera-se que a água seja a causa de muitas guerras no século XXI.
Ressalta-se que os recursos naturais, sejam eles renováveis ou não, não po-
dem ser considerados como independentes, pois o ciclo de um determinado
recurso vai influenciar, de algum jeito, no ciclo de um outro recurso. Ou seja, o
uso desenfreado ou impróprio de um dado recurso natural pode comprometer
o ciclo de um outro recurso que depende do primeiro. Por exemplo, a argila e o
húmus arrastados do solo como resultado de atividades agrícolas inadequadas
diminuem a sua capacidade em reter água podendo atingir a desertificação do
mesmo caso o processo de carreamento dessas partículas seja continuado.
A degradação do meio ambiente decorre da má utilização dos recursos na-
turais e das externalidades negativas geradas pelos processos produtivos e de
consumo dos mesmos, ou seja, da economia dos recursos naturais, como será
discutido a seguir.

1.3  Utilização dos recursos naturais


Os recursos naturais são explorados para servir de matéria ou energia aos seres
humanos, como por exemplo, minérios, petróleo, vegetais, animais, água, solo,
ar, luz solar, etc. Além de serem classificados como renováveis e não renováveis,
conforme exposto anteriormente, os recursos naturais também são classifica-
dos em quatro grupos de acordo com o seu uso:

consistem nos recursos vegetais e animais existentes no


RECURSOS planeta, tais como as florestas. Estes são considerados
BIOLÓGICOS recursos renováveis sendo usados na alimentação, no ves-
tuário, na medicina e construção, dentre outros;

são recursos renováveis provenientes da água superficial e


RECURSOS subterrânea (rios, lagos e oceanos), utilizados para diversos
HÍDRICOS fins, sobretudo para a irrigação e alimentação humana;

14 • capítulo 1
incluem aqueles que são usados para geração de energia,
por exemplo, os combustíveis fósseis como o carvão, o pe-
tróleo e o gás natural, sendo também utilizados na produção
RECURSOS de materiais, construção, transporte e eletricidade. Os recur-
ENERGÉTICOS sos energéticos podem ser renováveis (energia solar, eólica,
hidroelétrica, geotérmica, biomassa, etc.) ou não renováveis
(energia nuclear e combustíveis fósseis);

são recursos não-renováveis de natureza geológica, com-


postos pelos minerais (ouro, grafite, diamante, ferro, cobre,
RECURSOS manganês, níquel, titânio, etc.) e as rochas (areia, argila,
MINERAIS calcário, mármore, etc.), sendo muito usados para constru-
ções, adornos, etc.

Inicialmente, os recursos naturais eram utilizados de modo predatório, sem


qualquer preocupação com a sua preservação e da diversidade biológica como
um todo, porém após a Revolução Industrial essa questão se agravou e atual-
mente a falta dos recursos naturais é uma das maiores apreensões humanas.

MULTIMÍDIA
Vivemos em uma sociedade em que produzimos muito, quase tudo é descartável, mas pouco
é reaproveitado situação que provoca desperdício não só de dinheiro, mas também de recur-
sos naturais. Assista o vídeo e veja como o não aproveitamento dos recursos naturais pode
causar a sua escassez: https://www.youtube.com/watch?v=mmAyr2sHN8Q.

1.4  Economia dos recursos naturais


Na economia clássica a produção é vista como sendo formada por três fatores
de produção: “terra, trabalho e capital”. Por terra entende-se a matéria, ou seja,
os recursos naturais oferecidos livremente para auxiliar o homem em sua luta
pela sobrevivência. Os recursos naturais são então transformados em produtos

capítulo 1 • 15
úteis ao homem por meio do trabalho, que demanda e ao mesmo tempo gera
capital (dinheiro).
Esta visão clássica previa que o crescimento populacional estimularia a
produção a qual demandaria cada vez mais recursos naturais para satisfazer
as necessidades. Assim, como a tecnologia conhecida não era suficiente para
atender à sociedade, por não ter como promover o aumento da produção, cada
vez mais, terra, capital e trabalho necessitam de ser empregados. O constante
acréscimo produtivo seria determinante para esgotamento dos recursos natu-
rais levando ao estacionamento da economia, no qual o crescimento do pro-
duto, do emprego e da renda é nulo. Verifica-se, então, que apesar de a natu-
reza, limitar o crescimento econômico, a mesma era vista como bem comum
permitindo-se o seu livre acesso, sem necessidade de pagamento, e, à medida
que novos recursos naturais eram incorporados à produção, o custo social de
utilização desses recursos era aumentado, tornando-os cada vez mais improdu-
tivos e escassos, frente à intensidade e forma de uso, o que, consequentemente,
limitaria a expansão da produção pela impossibilidade de se aumentar a oferta
de tais recursos naturais (BARROS; AMIN, 2006).
A teoria neoclássica relacionada aos recursos naturais é baseada na modi-
ficação da forma com que o homem se apropria da natureza como resultado
da Revolução Industrial e da invenção da máquina a vapor. A partir daí, os ho-
mens passaram a controlar, totalmente, o processo de produção intensifican-
do o uso dos recursos naturais visando o aumento de escala produtivo e conse-
quentemente o crescimento econômico. Para tanto, diversas tarefas manuais
passaram a ser realizadas por máquinas, o que resultou na maior variedade
de produtos.
Ao contrário da teoria clássica, a teoria neoclássica prevê que a natureza é
incapaz de limitar o crescimento da economia, já que a crescente incorporação
de tecnologia aos processos produtivos superaria quaisquer problemas refe-
rentes à escassez dos recursos naturais. Dessa forma, tem-se que os fatores pro-
dutivos determinantes do padrão de crescimento econômico neoclássico são
o capital, o trabalho e a tecnologia, sendo os recursos naturais considerados
como ilimitados.
De acordo com May (2001) a teoria neoclássica pressupõe que o capital na-
tural pode ser substituído infinitamente pelo capital material produzido pelo
homem, ou seja, o progresso tecnológico é capaz de superar todos os limites
que possam surgir ao crescimento devido à escassez dos recursos. Segundo

16 • capítulo 1
Miller (2007) a economia neoclássica considera os recursos naturais importan-
tes, mas não essenciais, devido a capacidade dos seres humanos de encontrar
substitutos para os escassos recursos e serviços do ecossistema, visto que o
crescimento econômico contínuo é necessário, desejável e ilimitado.
A economia dos recursos naturais baseou-se por muitos anos na teoria neo-
clássica que apresenta como finalidade a perpetuação do padrão de bem-estar
da sociedade, por meio do capital total, para as gerações futuras, demonstran-
do que, apesar de a natureza ser importante, na maioria dos casos, ela pode ser
substituída pelo capital manufaturado.
Mattos (2005) afirma que a economia atual do meio ambiente apresenta uma
abordagem preventiva contra as catástrofes ambientais iminentes defendendo
a conservação da biodiversidade através de uma ótica que atenda às necessida-
des potenciais das gerações futuras. Isso implica que os limites ao crescimento
baseado na escassez dos recursos naturais e a sua capacidade de suporte é real
mas não necessariamente superáveis mediante avanços tecnológicos.

1.5  Brasil colônia


A colonização do Brasil realizada pelos portugueses a partir do século XVI dei-
xou de herança à população rural um modelo sociocultural de adaptação ao
meio que perduram até hoje entre várias comunidades do país. Esse modelo
sociocultural de ocupação do espaço e de utilização dos recursos naturais deve
a maior parte de suas características às influências das populações indígenas e
ao caráter cíclico e irregular do avanço da sociedade nacional sobre o interior
do país.
De forma geral a colonização portuguesa dedicou-se à exploração intensiva
de certos produtos valiosos no mercado internacional, causando o adensamen-
to populacional apenas nas regiões em que essa exploração era melhor sucedi-
da. Assim, o centro da economia brasileira migrou de região em região confor-
me um produto era substituído por outro. Cada uma dessas regiões: o litoral no
ciclo do pau-brasil; o Nordeste no ciclo da cana-de-açúcar; Minas Gerais, Mato
Grosso e Goiás no ciclo do ouro e pedras preciosas; os Estados de Amazonas e
Pará no ciclo da borracha, concentrou em períodos diversos da história do Brasil
núcleos populacionais e produção econômica baseados no trabalho escravo e
na monocultura ou extrativismo de um único produto. A perda da relevância

capítulo 1 • 17
econômica ou o esgotamento do recurso natural alvo de exploração deslocava o
eixo do povoamento que abandonavam sua região, restando no mais das vezes
núcleos populacionais relativamente isolados e dispersos subsistindo numa
economia voltada para a auto-suficiência (ARRUDA, 1999).
Desde então a população brasileira adotou técnicas adaptativas indígenas
para uso dos recursos naturais. Delas incorporaram na sua base alimentar
alimentos como milho, mandioca, abóbora, feijões, amendoim, batata-doce,
cará, etc. Adotaram os produtos de coleta compondo sua dieta com a extração
do palmito e de várias frutas nativas como maracujá, pitanga, goiaba, banana,
caju, mamão e tantas outras. E, como complemento essencial, apoiaram-se na
caça e na pesca.
O surgimento da agricultura transformou a relação do homem com a natu-
reza, visto que a atividade agrícola demanda a criação de um meio artificial para
cultivo de plantas e de gado. A necessidade de uso de recurso hídrico para ma-
nutenção da agricultura fez com que surgissem aglomerados nas margens dos
rios que resultaram no início da crise ambiental, com a construção das cidades.
Além disso, a prática da agricultura resultou na modificação do comporta-
mento do homem primitivo, o qual deixou de ser fundamentalmente um caça-
dor para assumir uma postura de produtor. De forma gradativa, o homem foi
domesticando plantas e animais para atender às suas necessidades, degradan-
do assim o meio ambiente. Contudo, o papel do homem no processo de altera-
ção da biodiversidade só passou a ser seriamente preocupante nos últimos dois
séculos (VALENTE, 2005).

1.6  Revolução Industrial


A revolução industrial foi iniciada na Inglaterra no século XVIII, porém o seu
espalhamento se deu de forma muito rápida em diversos continentes promo-
vendo o crescimento econômico dos países e abrindo perspectivas de maior ge-
ração de riquezas e consequentemente aumento do qualidade de vida.
Durante a revolução industrial novos processos produtivos foram descober-
tos, visando aumentar a produção e qualidade dos produtos, sempre buscando
maiores lucros.
Um dos elementos marcantes da Revolução Industrial foi a introdução da
máquina a vapor (figura 1.3). Tal máquina representa a principal inovação

18 • capítulo 1
realizada na época a fim de acelerar o crescimento econômico. Ao mesmo tem-
po ela também representa uma mudança na relação da humanidade com a na-
tureza, pois por meio do uso da máquina a vapor a sociedade pôde intensificar
o uso de recursos naturais para a produção de força de forma versátil, controlá-
vel e constante, com qualidade muito superior àquela produzida anteriormen-
te por meio do uso de animais e de moinhos de vento e de água.

©© HANSENN | DREAMSTIME.COM
Figura 1.3  –  Máquina a vapor introduzida na Revolução Industrial.

Assim, a máquina a vapor permitia captar e empregar energia de uma forma


inteiramente inovadora. Ela proporcionava aos seus operadores controle total do
processo de produção. Além disso, a máquina a vapor não estava sujeita a doen-
ças e não carecia de tantos cuidados quanto os animais empregados na produção.
Ademais, tal máquina apresentava uma versatilidade que permitiu a introdução
de máquinas para realizar atividades que antes só podiam ser realizadas manual-
mente por humanos. À medida que novas aplicações para a máquina a vapor iam
sendo desenvolvidas, observava-se ganhos de produtividade e um crescimento
econômico em ritmo sem precedentes. Dessa forma, a substituição do homem
por máquinas foi fato marcante incluso nesta revolução (HOCHSTETLER, 2002).

capítulo 1 • 19
MULTIMÍDIA
Assista um trecho do filme “Tempos Modernos” que mostra a mudança da vida de ope-
rários com a revolução industrial, em que houve a passagem da produção artesanal, para
a produção em série. Os operários se submetiam a uma forma de produção incompatível
com suas condições físicas e psicológicas para obtenção de uma maior produção que visa-
vam maior lucro independente das suas condições de trabalho: https://www.youtube.com/
watch?v=XFXg7nEa7vQ.

As consequências da ação humana sobre o meio ambiente não foram ime-


diatamente percebidas pelos seus causadores, frente à vasta área que ainda en-
contrava-se inexplorada. Concomitantemente, o crescimento das populações e
das necessidades de consumo resultaram na expansão das indústrias, tanto em
número, quanto áreas de atuação e variedade de produtos.
A industrialização resultou, contudo, em vários problemas ambientais,
como:
•  Alta concentração populacional;
•  Consumo excessivo de recursos naturais;
•  Contaminação do ar, do solo, das águas;
•  Desflorestamento, entre outros.

CURIOSIDADE
Apesar de a proteção ambiental ser tema considerado como “recente” na história da Humani-
dade, nos primórdios da industrialização, mais precisamente em 1798, um economista inglês
famoso, Thomas Robert Malthus, publicou uma pesquisa intitulada de “Ensaio sobre a po-
pulação: como afeta o futuro progresso da humanidade”. Nesta obra o economista abordou
uma série de preocupações referentes aos problemas decorrentes do aumento populacional
e à possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, juntamente com os reflexos no
crescimento econômico (DIAS, 2011).

A urbanização consistiu em um dos maiores problemas provenientes da


revolução industrial. Em meados de 1850 havia um maior número de cida-
dãos britânicos morando em cidades do que nos campos, e grande parte da

20 • capítulo 1
população residia em centros urbanos com mais de 50.000 habitantes. Como
resultado disso, as cidades começaram a ficar cobertas de fumaça, os rios a
serem poluídos pelos resíduos domésticos e industriais e consequentemente,
por falta de saneamento básico, houve um alastramento de epidemias de doen-
ças de veiculação hídrica, como cólera e febre tifoide.
Os novos mecanismos e formas de produção, somados à exploração inten-
siva e sistemática dos recursos naturais trazidos pela revolução industrial alas-
traram-se de maneira descontrolada, sem prever as consequências para o meio
ambiente. Os processos de industrialização aumentaram de forma excessiva,
porém estes foram concebidos de maneira irresponsável resultando no grave
problema ambiental que afeta todo o planeta nos dias atuais. O desmatamento
intenso feito visando-se a criação de novas áreas agrícolas e a produção de car-
vão vegetal causou o desaparecimento de grande parte da cobertura vegetal da
Europa no século XIX e início do século XX (DIAS, 2011).
A exploração desmedida do meio ambiente foi mantida durante todo o sé-
culo XIX e a maior parte do século XX. A concepção equivocada de que os recur-
sos naturais eram ilimitados começou a ser questionada somente na década de
70, apesar do surgimento de algumas ações pontuais nesse sentido nos anos 50
e 60. Assim, os países desenvolvidos, após terem explorado de forma desenfrea-
da a sua biodiversidade, iniciaram o processo de conscientização da necessida-
de de controlar os processos de industrialização, assim como de recuperação
do meio ambiente, desenvolvendo para tanto o controle dos processos produti-
vos e das emissões de resíduos.

1.7  Exploração da Biodiversidade


Biodiversidade ou diversidade biológica significa vida, pois esses dois termos
referem-se a todos os seres vivos e seus elementos. A biodiversidade pode ser
expressa na forma de diversidade genética, de espécies e de indivíduos dentro
de uma mesma espécie e de ecossistemas. A quantidade total de espécies no
planeta é incerta existindo apenas estimativas, conforme apresentado na tabe-
la 1.1.

capítulo 1 • 21
A diversidade de ecossistemas inclui a variedade das espécies que vivem um
uma determinada área, de seus habitats e dos componentes abióticos, ou seja,
sem vida. Segundo Dias (2011) a biodiversidade pode ser considerada como
sendo um dos recursos naturais mais importantes para todas as atividades
humanas, já que a mesma além de fornecer bens tangíveis essenciais para a
humanidade, como alimentos, madeira, lenha, fibras, entre outros, a biodiver-
sidade promove atividades ambientais muito importantes, como por exemplo:
a reciclagem dos nutrientes, estabilidade climática e a regulação hídrica.

REINO ESPÉCIES DESCRITAS TOTAL ESTIMADO


MONERA 4.000 1.000.000
(BACTÉRIAS E CIANOBACTÉRIAS)
PROTISTA 80.000 600.000
(PROTOZOÁRIOS, ALGAS, ETC)
ANIMAIS 1.320.000 10.600.000
FUNGI 70.000 1.500.000
PLANTAS 270.000 300.000
TOTAL 1.744.000 14.000.000

Tabela 1.1  –  Variedade de espécies conhecidas e estimadas. Fonte: DIAS, 2011.

A diminuição da biodiversidade reduz a capacidade de um ecossistema de


retornar ao seu estado inicial após o mesmo ter sofrido algum impacto ambien-
tal. Outra consequência da redução da biodiversidade é a extinção, que se agra-
va cada vez mais.

PERGUNTA
Como pode ser definido o fenômeno chamado de extinção?

A extinção é, genericamente, o desaparecimento de um grupo taxonômi-


co, ou seja, o desaparecimento de espécies. Segundo Valente (2005) cinco ex-
tinções em massa aconteceram no passado geológico. A maior parte destas
foram causadas por mudanças climáticas. A taxa de extinção média antes dos

22 • capítulo 1
humanos era de 2 a 10 espécies por ano. Uma estimativa média, apresentada
por Mckinney e Schoch (1998) é de que 50 espécies por dia se estejam a tornar
extintas (equivalente a 170 000 por ano).
Apesar da extinção das espécies ser uma parte natural do processo evolu-
tivo, nos dias de hoje, devido às atividades do homem, as espécies e os ecos-
sistemas encontram-se mais ameaçados do que em qualquer outro período da
história. As perdas de diversidade ocorrem tanto nas florestas tropicais, onde
estão presentes 50 a 90% das espécies já identificadas, como nos rios, lagos, de-
sertos, florestas mediterrânicas, montanhas e ilhas. As estimativas mais recen-
tes apontam que, se as taxas atuais de desflorestação forem mantidas, 2 a 8%
das espécies que vivem na Terra irão desaparecer nos próximos 25 anos. Além
destas extinções serem uma tragédia ambiental, elas refletem profundamente
no desenvolvimento econômico e social, tendo-se em vista que a espécie huma-
na depende da diversidade biológica para a sua própria sobrevivência, dados
que pelo menos 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos
dependem dos Recursos Biológicos.
A extinção tem, atualmente, quatro causas básicas, sendo que é recorrente
a ocorrência de extinções de espécies envolvendo duas ou mais de duas cau-
sas combinadas:
•  Destruição do habitat;
•  Introdução de espécies exóticas;
•  Caça excessiva;
•  Extinções secundárias (efeitos - cascata provocados por alterações nas co-
munidades biológicas).

A Lista Vermelha de espécies ameaçadas de extinção, divulgada em 2002,


mostra que 816 espécies foram extintas nos últimos 500 anos como resultado
da ação antrópica (IUNC, 2002). As listas vermelhas divulgadas em 2004 e 2006
apresentam cenários mais graves ainda, indicando que o número de espécies
ameaçadas de extinção vem crescendo de modo assustador. Na figura 1.4 en-
contram-se presentes duas espécies ameaçadas de extinção: o boto cor de rosa
e a araucária.

capítulo 1 • 23
©© ARNALDO JR. | DREAMSTIME.COM

Figura 1.4  –  Araucária.

A fim de combater a exploração desenfreada da biodiversidade criou-se a


Convenção da Biodiversidade em 1992 e em julho de 2006 tal convenção con-
tava com 188 países, incluindo o Brasil. A finalidade desta vai além de conser-
vação da diversidade biológica, abrangendo o uso sustentável dos seus com-
ponentes e a distribuição justa dos benefícios obtidos mediante utilização da
biotecnologia moderna.

CONCEITO
A biotecnologia moderna é definida como o conjunto de técnicas embasadas na biologia
molecular e na manipulação de material genético de qualquer organismo, com a finalidade de
criar produtos e processos específicos. As suas aplicações alcançam praticamente todos os
setores da atividade humana, tais como: saúde, agricultura, geração de energia, recuperação
de minerais, eletrônica, entre outros, fato este que justifica o motivo pelo qual a biotecnologia
é considerada como uma das áreas mais promissoras da economia atual.

24 • capítulo 1
Além da Convenção da Biodiversidade outros instrumentos foram criados
com o mesmo objetivo, como a Convenção Ramsar, Convenção para Proteção
de Espécies Migratórias de Animais Selvagens, o Acordo Internacional sobre
Madeiras Tropicais e a convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies
da Fauna e da Flora Selvagens em Perigo de Extinção (Cites).

1.8  Implicações ambientais do crescimento


populacional

O processo de desenvolvimento industrial contribuiu de modo considerável


para o crescimento populacional desordenado. A ocupação urbana, que se
agravou após a Revolução Industrial, se deu de forma totalmente desorganiza-
da sem nenhum planejamento.
O aumento da população nas grandes cidades resultou basicamente da falta
de perspectivas de trabalho no campo, de onde os trabalhadores rurais começa-
ram a migrar buscando empregos e melhores condições de vida, episódio que
ficou conhecido como “êxodo rural”, que no Brasil alcançou grandes dimen-
sões em meados dos séculos XIX e XX.
O grande contingente de pessoas indo dos campos para as cidades acarre-
tou no crescimento de forma desordenada, ou seja, sem planejamento. Porém,
frente ao fato de que a demanda por emprego não atingia à todos na maioria
das sociedades, muitas pessoas passaram a se abrigar nas periferias das cida-
des, o que ocasionou o nascimento das favelas.
As favelas se concentram, comumente, em áreas que não deveriam ser ha-
bitadas. Assim, constroem-se as habitações de forma irregular, aumentando
consideravelmente as chamadas ocupações de risco que são as construções
irregulares realizadas nas áreas de risco. Tais construções irregulares prejudi-
cam não só o solo como também alguns afluentes de rios que passam por suas
proximidades, como é o caso da favela apresentada na figura 1.5, que beira o
Rio Amazonas.

capítulo 1 • 25
©© PAURA | DREAMSTIME.COM

Figura 1.5  –  Favela localizada na margem do Rio Amazonas.

De acordo com Nolasco (2008) as cidades cresceram de forma desesperado-


ra durante o período de desenvolvimento industrial, e que as inúmeras cons-
truções não deixavam espaço para serviços sociais nem para o verde público.
Assim, o homem se apropriou do meio ambiente visando sempre ao enriqueci-
mento e ao crescimento material da sociedade, não dando importância à explo-
ração predatória de suas ações sobre o meio ambiente, acreditando cegamente
que os recursos naturais seriam inesgotáveis.
Contudo, tais explorações acarretaram em impactos ambientais negativos
primeiramente em escala regional, porém rapidamente já surgiu o termo “im-
pactos em larga escala mundial”, como por exemplo: o efeito estufa, a chuva
ácida, a desertificação do solo, dentre outros.
Além do mais, com a expansão territorial, as cidades passam a ter mais
territórios pavimentados do que áreas verdes. Sem a preservação das florestas
nativas, principalmente das matas ciliares, o solo se torna impermeável e, por-
tanto, mais frágil, já que não vai mais ser capaz de absorver as águas das chuvas,
podendo acarretar assim em erosão do solo, avalanches e desmoronamentos.

26 • capítulo 1
CURIOSIDADE
O nome mata ciliar tem origem no nome dos pequenos pelos que ficam acima dos olhos
humanos, os cílios. Nos seres humanos, os cílios possuem como função proteger os olhos,
evitando a entrada de sujeira e suor. Com função similar, as matas ciliares protegem os rios
e lagos, principalmente, de erosões.

Ademais, segundo Salomão (2010), a ampliação das áreas construídas e pa-


vimentadas acelera de forma significativa o volume e a velocidade das enxurra-
das. E devido a isso, a ocupação de terrenos irregulares multiplica os riscos de
acidente e enchentes.
Com o crescimento populacional ocorre o surgimento da demanda de uma
maior produção por parte da indústria, visando-se suprir as necessidades da
população. Com o aumento do número de indústrias trabalhando com sua po-
tência máxima, a concentração de emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera
aumentou em grandes escalas e suas consequências foram e ainda são catas-
tróficas, destacando-se como exemplo o conhecido “efeito estufa”.
Weyemüller (2010) aponta que as principais fontes de degradação ambien-
tal, como é o caso da poluição de rios e destruição de matas, são resultantes do
processo de industrialização que o planeta passou em suas últimas décadas.
Para que esse cenário possa ser transformado muitas mudanças são neces-
sárias, destacando-se a necessidade da participação mais efetiva por parte do
Estado, somadas a conscientização individual das populações que possuem
um papel fundamental perante a sociedade, não só por intermédio de cobran-
ças, mas também exercendo seu papel de cidadão ativo e responsável.

capítulo 1 • 27
1.9  Impacto causado pelos padrões de
produção e consumo

O crescimento populacional e econômico do pós-guerra deu origem ao cenário


perfeito para o surgimento, explosão e consolidação do consumo de massa e,
consequentemente, iniciou-se o processo de estabelecimento de uma cultura
baseada no consumo.
A população mundial passou, então, a consumir cada vez mais e, mais que
isso, adotou-se em todo o mundo padrões de produção e consumo incompatí-
veis com a capacidade dos ecossistemas e das reservas existentes de recursos
se recuperarem. Com a chegada dos anos 1970 – precisamente 1973 – o mode-
lo que funcionava tão bem há mais de duas décadas sofre uma crise intensa,
provocada pela entrada dos países produtores de petróleo, representados pela
Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP.
O petróleo, que já em tal época era um dos principais produtos consumidos
pela sociedade capitalista, ao redor do mundo inteiro, teve seu preço enorme-
mente aumentado, não sendo capaz, porém, de inviabilizar as indústrias basea-
da na queima de combustíveis fósseis, mas esse fez com que pela primeira vez
a população começasse a questionar ser possível que aquele modelo de cresci-
mento não fosse o mais adequado.
Os anos 70 representaram um momento marcante em que houve um au-
mento da preocupação da sociedade com relação às questões ambientais e que
progressivamente levou a discussão a abranger os relacionados aos padrões de
produção e consumo. Ao mesmo tempo iniciou-se a consolidação das confe-
rências internacionais organizadas pelos integrantes do sistema das Nações
Unidas (MELO, HOGAN, 2006).
O consumo cotidiano de produtos industrializados é responsável pela pro-
dução contínua de lixo. A produção de lixo nas cidades é de tão intensa que não
é possível conceber uma cidade sem considerar a problemática gerada pelos
resíduos sólidos, desde a etapa da geração até a disposição final. Nas cidades
brasileiras, geralmente esses resíduos são destinados a céu aberto na forma de
lixões, como exposto na figura 1.6 (IBGE, 2006).

28 • capítulo 1
©© NOOMHH | DREAMSTIME.COM
Figura 1.6  –  Disposição de lixo a céu aberto em lixão.

A geração de lixo nas cidades devido à cultura do consumo é inevitável.


Segundo o IBGE, em 2006, foi registrado que somente 33% (1.814) dos 5.475
municípios daquele ano coletavam a totalidade dos resíduos domiciliares ge-
rados nas residências urbanas de seus territórios. Os dados dessa pesquisa re-
velaram que diariamente o Brasil gerava 228.413 toneladas diárias de resíduos
sólidos. Isso implica numa produção de 1,2 kg/habitante (IBGE, 2006).
Em meio aos impactos ambientais negativos decorrentes do lixo urbano
produzido estão os efeitos que resultam da prática de disposição inadequada
de resíduos sólidos em fundos de vale, às margens de ruas ou cursos d’água.
Tais práticas habituais podem causar, entre outras coisas, a contaminação de
corpos d’água, assoreamento, enchentes, proliferação de vetores transmisso-
res de doenças, tais como cães, gatos, ratos, baratas, moscas, vermes, entre ou-
tros. Além disso, destacam-se a poluição visual, mau cheiro e contaminação do
ambiente (MUCELIN; BELLINI, 2008).
Portanto, se faz necessário neste atual momento de globalização refletir so-
bre a revisão dos padrões de consumo da sociedade contemporânea, que deve
prezar mais pelo valor da natureza a partir de uma conscientização humanitá-
ria que substitua o atual estilo de vida insustentável, buscando a qualidade e o
equilíbrio dos recursos naturais.

capítulo 1 • 29
1.10  Escassez dos recursos naturais.
Durante muito tempo o meio ambiente foi capaz de absorver os impactos ne-
gativos das ações antrópicas e ao mesmo tempo de se renovar. A maioria dos
recursos naturais já foi modificada pelo homem e poucos “originais” restaram.
Contudo, o aumento populacional fez com que esses impactos se tornassem
cada vez mais agudos, tornando a capacidade de autorrenovação do ambiente
deficitário aumentando os danos causados aos recursos naturais (CALDERO-
NI, 2004). No século XX, os problemas ambientais agravaram- se ainda mais,
resultando no agravamento do Efeito Estufa, poluição ambiental nas águas e
nos solos, desmatamentos, a desertificação e outros.
A conscientização de que o processo de crescimento econômico e social
vem contribuindo para o esgotamento dos recursos naturais, degradando as-
sim o ambiente e a qualidade de vida, gerando processos de exploração, opres-
são e exclusão do homem, acarretou na necessidade de se zelar pela qualidade
dos produtos e dos processos, evitando os desperdícios e aprimorando o uso
dos recursos. Esse “despertar” para a crise ambiental levou a sociedade a repen-
sar o seu comportamento resultando na adoção de novos parâmetros de análi-
se, nos quais a perspectiva ambiental passou a ter importância fundamental
e preponderante na equação do desenvolvimento, ou seja, a partir do advento
do desenvolvimento sustentável, as sociedades visam adotar um novo modelo
econômico capaz de gerar riqueza e bem-estar enquanto promovem a coesão
social e impedem a destruição da natureza.
A premissa básica do desenvolvimento sustentável consiste na satisfação
das necessidades presentes sem comprometimento da capacidade das gera-
ções futuras de suprirem as suas próprias necessidades, demandando dessa
forma que os recursos naturais sejam utilizados, de forma racional, sem com-
prometer a produção e nem devastar a natureza. Assim, o “novo” pensamento
econômico visa conciliar a economia e ecologia de modo que a variável ambien-
tal, antes fora do sistema, passe a ser essencial ao crescimento e desenvolvi-
mento econômico.

30 • capítulo 1
MULTIMÍDIA
Assista ao vídeo presente no link: https://www.youtube.com/watch?v=Q9AcSF6CCCU que
resume a divulgação de um relatório feito por ONG americana, em parceria com o Instituto
Akatu, do Brasil. Tal relatório mostra que caso o atual padrão de consumo da humanidade
seja mantido, o planeta não vai aguentar e o esgotamento de recursos naturais irá acontecer
antes do que se imagina.

ATIVIDADES
01. Como os recursos naturais podem ser definidos?

02. Explique por que a distinção entre recursos renováveis e não renováveis deve ser vista
com reservas?

03. Cite qual foi um dos elementos mais marcantes da Revolução Industrial e como o mes-
mo transformou o uso dos recursos naturais.

04. Quais foram os principais problemas ambientais decorrentes da industrialização?

REFLEXÃO
Chegamos ao final deste capítulo conhecendo melhor os recursos naturais e a forma com
que o utilizamos, a fim de atender as diversas demandas do homem. Contudo, a quantidade
dos recursos naturais vem sendo alterada em função das atividades do homem, que por meio
da exploração da biodiversidade, modifica a reciclagem natural de tais recursos em diversas
formas. A vida humana depende dos recursos naturais, como a terra, água, florestas, recursos
marinhos e costeiros, bem como de suas múltiplas funções. Tanto os seres humanos quanto
os demais seres vivos, agora e no futuro, têm direito a um meio ambiente saudável, que for-
neça os meios necessários a uma vida digna. Para isto, é preciso manter os ecossistemas, a
biodiversidade e os serviços ambientais em quantidade e qualidade apropriadas.

capítulo 1 • 31
LEITURA
Maiores detalhes do uso de recursos naturais no Brasil, em especial, os recursos minerais
podem ser encontrados no livro “Recursos naturais e desenvolvimento: estudo sobre o po-
tencial dinamizador da mineração na economia brasileira” (FURTADO; URIAS, 2013).
Para saber mais sobre a Revolução Industrial, incluindo os seus reflexos até os dias
atuais, tanto na tecnologia como nas leis trabalhistas, leia o artigo intitulado de “A importância
da Revolução Industrial no mundo da tecnologia” (CAVALCANTE; SILVA, 2011).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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32 • capítulo 1
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capítulo 1 • 33
34 • capítulo 1
2
Crise Ambiental:
Problemas e
Soluções
Nos últimos 300 anos, o desenvolvimento tecnológico alcançado pela huma-
nidade mediante exploração dos recursos naturais foi expressivo. Em nenhum
outro período histórico o homem evoluiu tanto, tecnologicamente, como hoje.
No entanto, o período em questão também se destaca pela intensa crise am-
biental decorrente das atividades antrópicas. Os recursos naturais do meio
ambiente, que vêm sendo devastados por tanto tempo de forma insustentável,
começam a se exaurir podendo causar a extinção do próprio homem, conforme
previsto por Thomas Hobbes: “o homem, sem predadores naturais torna-se o
lobo de si mesmo”. Para transformação deste cenário encontra-se o desenvol-
vimento sustentável baseado na perspectiva da utilização de recursos naturais
com a sua preservação para as gerações futuras.

OBJETIVOS
Os seguintes temas serão abordados no presente capítulo: crise ambiental incluindo o efeito
estufa, o aquecimento global e a escassez de recursos naturais. Posteriormente à explana-
ção da crise ambiental, será apresentado o “novo” modo de pensar o ambiente que aponta a
sustentabilidade como solução para crise, abrangendo os movimentos sociais que colocaram
em discussão a problemática ambiental no século XX; os fundamentos do conceito de de-
senvolvimento sustentável, os principais marcos regulatórios (políticas públicas) e normativos
na promoção da sustentabilidade ambiental e por fim, a gestão sustentável da biodiversidade.
Vamos lá?!

36 • capítulo 2
2.1  Crise Ambiental: problemas e soluções
Os problemas ambientais, causados pelos humanos, decorrem principalmente
do uso do meio ambiente para obtenção dos recursos naturais a serem utili-
zados na produção de seus bens e serviços necessários. Porém, o uso de tais
recursos nem sempre ocasionou a degradação ambiental. Como inicialmente
a escala de produção era reduzida, o meio ambiente após ter sido explorado
era capaz de se auto recuperar, através de seus ciclos biogeoquímicos naturais.
Contudo, a crescente escala produtiva estimulou a exploração dos recursos na-
turais, aumentando também a quantidade de resíduos gerados, que consiste
em um dos principais problemas ambientais conhecidos atualmente.
A crença de que a natureza existe para satisfazer as necessidades dos seres
humanos contribuiu fortemente para o estado de degradação ambiental que se
observa nos tempos atuais. A forma com que a produção e o consumo vêm sen-
do realizados, desde a Revolução Industrial, demanda recursos naturais e gera
resíduos, ambos em quantidades alarmantes, que já ameaçam a capacidade de
suporte do próprio Planeta.
A seguir os principais problemas ambientais globais serão apresentados, e
posteriormente a tomada de consciência da crise ambiental juntamente com
as suas possíveis soluções será abordada.

2.2  Efeito Estufa


O planeta irradia para o espaço a mesma quantidade de energia que ele absorve do
sol. Tal irradiação se dá sob a forma de radiação eletromagnética na faixa do infraver-
melho, assim, a Terra funciona como um irradiador de infravermelho que iria todo
para o espaço, se não fosse à presença de alguns gases na atmosfera que absorvem
grande parte dessa radiação e, consequentemente, a aquecem. Dessa forma, pode-se
dizer que a atmosfera faz com que a Terra se comporte como uma enorme estufa.

PERGUNTA
Antes de darmos continuidade ao tema “efeito estufa” é importante que você responda a
seguinte pergunta: Qual é a composição da atmosfera terrestre?

capítulo 2 • 37
A atmosfera terrestre é uma mistura de gases, com predominância de nitro-
gênio (78%) e oxigênio (21%), porém esses gases não absorvem radiação infraver-
melha. Outros gases, contudo, naturalmente presentes na atmosfera ou resul-
tantes de atividades antrópicas são capazes de absorver uma fração significativa
da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre. Tais gases, por sua
vez, também começam a irradiar no infravermelho, espalhando esta radiação em
várias direções, inclusive retornando à superfície, que conforme já foi dito ante-
riormente, se mantém mais quente do que seria na ausência da atmosfera.
A retenção de energia pelos gases do efeito estufa é decorrente de um mecanis-
mo físico-químico. Destaca-se que grande parte do efeito estufa natural se deve
à presença da água na atmosfera: vapor d'água (85%) e partículas de água (12%).
Outros gases-estufa consistem em: dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o
óxido nitroso (N2O), os clorofluorcarbonetos (CFCs), os hidroclorofluorcarbone-
tos (HCFCs) e o hexafluoreto de enxofre (SF6). O aumento do teor desses gases na
atmosfera como resultado de atividades humanas pode causar um agravamento
do efeito estufa e, consequentemente, um aquecimento global do planeta.
A Convenção da Mudança Climática e o Protocolo de Kyoto são exemplos de
ferramentas criadas a fim de controlar as emissões e regular o uso da atmosfera
como um bem público mundial. O emprego destes visa à redução da emissão
dos gases do efeito estufa em setores e países variados, em especial naqueles
que contribuem de forma intensa para o agravamento do problema.

2.2.1  Convenção da Mudança Climática

Um episódio marcante da tomada de consciência relacionada ao efeito estufa


e ao aquecimento global consistiu no depoimento proferido pelo físico James
Edward Hansen, da NASA, em 1988 no qual ele relatou que os humanos esta-
vam interferindo de maneira perigosa no clima. Suas colocações colaboraram
para o estabelecimento do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climáti-
ca (IPPC) feito pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) a fim de juntar
todas as evidências científicas referentes ao assunto.
Como um dos resultados da Conferência “Rio 92” encontra-se a Convenção
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que foi assinada em tal ocasião
por 155 países. O principal objetivo desta Convenção tratava-se da estabilização
das concentrações de gases causadores do efeito estufa a níveis que não interfi-
ram no sistema climático, essencial para manutenção da vida na Terra.

38 • capítulo 2
A Convenção ainda definiu que os países fizessem inventários nacionais de
suas emissões e estabelecessem metas e programas nacionais. Além do mais,
a alguns países inclusos no Anexo I (que engloba os países desenvolvidos ou
com economias em transição) foram impostos limites de emissões de gases do
efeito estufa para o ano de 2000. Contudo, como foi verificado que as metas
estabelecidas pela Convenção não estavam sendo alcançadas, em 1995 insti-
tuiu-se por meio de um mecanismo denominado de “Implementação conjun-
ta” que as atividades apontadas pela Convenção teriam caráter voluntário e que
essas poderiam ser realizadas de forma conjunta entre os países desenvolvidos
(DIAS, 2011).

2.2.2  Protocolo de Kyoto

O principal resultado da terceira Conferência das Partes realizada em Kyoto no


ano de 1997 se tratou do famoso Protocolo de Kyoto. De acordo com este pro-
tocolo, assinado por 84 Nações, os países industrializados teriam que reduzir
as suas emissões a um número inferior à suas emissões registradas em 1990.
Apesar de o Protocolo ter sido assinado por 84 países, dentre eles os EUA,
para que o acordo entre em vigor ele precisa ser aprovado por 55 países. Os
Estados Unidos, embora se trate de um dos maiores emissores de gases do efei-
to estufa, o assinou sob o governo de Bill Clinton, porém não o ratificou, ou
seja, não aprovou o acordo alegando que o mesmo seria prejudicial à economia
norte-americana.
A divulgação do terceiro relatório mundial feita pelo IPPC em maio de 2001
confirmou os efeitos devastadores da ação antrópica sobre o planeta. Este
relatório causou tanta repercussão que em julho deste mesmo ano a União
Europeia e o Japão decidiram dar continuidade ao Protocolo de Kyoto, inde-
pendentemente da participação dos EUA. Em 2005, como resultado da aprova-
ção da Rússia que assinou o acordo em 2004, o Protocolo entra em vigor.
Assim, tornou-se evidente a elevação do grau de conscientização mundial
em relação à necessidade de diminuir os possíveis danos decorrentes do aque-
cimento global.

capítulo 2 • 39
CURIOSIDADE
Embora os EUA não sejam adeptos ao Protocolo de Kyoto, em 2005 um grupo de mais de
130 prefeitos de várias cidades dos Estados Unidos, incluindo Nova Iorque, se reuniu para
assumir o compromisso de cumprir o Protocolo de Kyoto reduzindo as emissões de gases
estufa em 7% até o ano de 2012. A fim de atingir essa meta foram anunciadas as medidas
básicas que seriam tomadas, tais como: desligamento dos motores dos navios quando es-
ses se encontram ancorados, promoção de campanhas de informação pública, aquisição de
energia eólica, redução da emissão de gases a partir da substituição de veículos tradicionais
por veículos híbridos (movidos a base de energia elétrica).

2.3  Aquecimento Global


A radiação solar é determinante na definição do clima. As temperaturas mé-
dias e extremas de uma região, assim como as precipitações, os ventos e outros
fenômenos climáticos que ocorrem em tal lugar são todos determinados pelas
condições térmicas da atmosfera e da superfície do solo. Porém, as alterações
climáticas resultantes de ações antrópicas vêm ocorrendo de forma constante
em todos os tempos. Como exemplo disso, destaca-se a alteração do clima que
levou ao colapso uma cidade localizada no norte da Mesopotâmia no terceiro
milênio A.C., devido à exploração agrícola intensa ocorrida na região. Outro
exemplo disso é a cidade de São Paulo, antigamente conhecida como a “Ter-
ra da garoa”, onde atualmente a famosa garoa já não acontece com a mesma
frequência.
De forma natural a manutenção da atmosfera aquecida é obtida pelos gases
do efeito estufa como o dióxido de carbono (CO2), ozônio (O3), metano (CH4),
óxido nitroso (N2O) e vapor d’água que permitem a passagem das radiações so-
lares de ondas curtas e retardam as radiações infravermelhas de ondas longas
refletidas pela superfície terrestre. Na ausência desse processo natural a Terra
seria muito mais fria.
O aquecimento global consiste em fenômeno relacionado com o aumento
de emissões de gases do efeito estufa gerados pelas atividades humanas, que
agrava ainda mais a retenção das radiações infravermelhas e, como conse-
quência, eleva a temperatura média global do Planeta. De acordo com dados

40 • capítulo 2
do Painel Intergovernamental de Mudança climática (IPCC), a temperatura da
Terra ao longo do século XX se tratou da mais alta de todos os períodos já re-
gistrados, destacando-se o aumento de 0,4oC a 0,8oC que se deu nos últimos
100 anos. A tabela 2.1 mostra a mudança das concentrações dos gases do efeito
estufa na atmosfera com o passar do tempo.

CONCENTRA- TAXA ANUAL DE


CONCENTRAÇÃO TEMPO DE VIDA
GASES DO EFEITO ESTUFA ÇÃO EM 1750 MUDANÇA DA
EM 1998 NA ATMOSFERA
(PRÉ-INDUSTRIAL) CONCENTRAÇÃO
DIÓXIDO DE CARBONO 280 ppm 365 ppm 1,5 ppm/ano 5 a 200 anos
(CO2)
METANO (CH4) 700 ppb 1.745 ppb 7 ppb/ano 12 anos
ÓXIDO NITROSO (N2O) 270 ppb 314 ppb 0,8 ppb/ano 114 anos
CLOROFLUORCARBONOS --- 268 ppt -1,4 ppt 45 anos
HIDROFLUORCARBONOS --- 14 ppt 0,5 ppt/ano 260 anos
PERFLUOROMETANO (CF4) 40 ppt 80 ppt 1 ppt/ano >50.000 anos

Tabela 2.1  –  Concentração de alguns gases do efeito estufa na atmosfera. Fonte: IPCC,
2001.

A queima de combustíveis fósseis está entre os principais causadores do


aumento das concentrações de CO2 na atmosfera, assim como as queimadas
de florestas e de resíduos. Visto que este gás pode permanecer por décadas
na atmosfera, seus efeitos perduram por muitos anos depois de sua emissão.
Os gases metano e o óxido nitroso também tiveram as suas concentrações au-
mentadas devido às ações humanas, porém estes são ainda mais danosos ao
meio ambiente quando comparados ao CO2. Todavia, frente ao fato de que o
CO2 é emitido por diversas fontes em variados setores da atividade humana,
esse gás acabou sendo escolhido para servir de base para medição do grau de
aquecimento global. Assim, embasando-se no tempo médio de permanência
dos gases do efeito estufa na atmosfera, o IPCC inventou uma medida de po-
tencial de aquecimento global tomando-se como base o CO2 como unidade de
referência. Como exemplo disso, cita-se: o potencial de aquecimento do CH4 é
21 vezes maior do que o CO2 enquanto que o potencial de aquecimento do N2O
é 310 vezes maior do que o do CO2.
Dentre os problemas resultantes do aumento da temperatura encontram-se:
•  Mudança nos regimes das chuvas e de circulação de ar;
•  Aumento da frequência de turbulências climáticas (furacões e terremotos);
•  Elevação dos níveis dos oceanos pelo derretimento das geleiras (figura 2.1).

capítulo 2 • 41
As regiões litorâneas seriam primeiramente as mais afetadas pela elevação
dos níveis dos oceanos, contudo, como consequência todo o planeta sofreria
depois, pois atualmente existe uma quantidade significativa de pessoas que
residem em regiões litorâneas (mais de 6 bilhões). A migração dessas pessoas
para o campo, reduziria a área agricultável e causaria conflitos sociais pela pos-
se de recursos, que ficariam cada vez mais escassos (BARBIERI, 2007).
©© DENIS BURDIN | DREAMSTIME.COM

Figura 2.1  –  Fotografia de paisagem na Groelândia mostrando a formação de pequenos


icebergs de coloração diferenciada como resultado do aquecimento global.

MULTIMÍDIA
Assista ao vídeo do link a seguir e entenda como a intensificação do aquecimento glo-
bal vem causando até a alteração dos mapas do Planeta Terra. https://www.youtube.
com/watch?v=epqLConeA2M

Apesar da existência de controvérsias relacionadas a veracidade do aque-


cimento global, frente aos seus possíveis efeitos catastróficos, tem-se que a
melhor atitude é seguir o princípio de precaução, adotado pela Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Convenções sobre o
clima), que será discutido ainda neste capítulo.

42 • capítulo 2
2.4  Soluções para a crise
Até meados dos anos 1960, os problemas decorrentes da relação homem & na-
tureza foram contemplados de forma bastante superficial. Porém, no ano de
1962 o livro publicado pela americana Rachel Carson, que trabalhou por 17
anos no US Fish and Wild life Service, Departamento de Caça e da Vida Selva-
gem dos EUA, no qual ela relata o impacto ambiental causado pelo inseticida,
o DDT. Este livro, chamado de Primavera Silenciosa, serviu como alarme cau-
sando nos anos seguintes um aumento considerável das inspeções das terras,
mares, rios e ares por parte de muitos países preocupados com a ocorrência de
possíveis danos ao meio ambiente. A partir daí iniciou-se o movimento global
que se traduziu em inúmeros encontros, conferências, tratados e acordos assi-
nados pelos países do mundo em prol do meio ambiente.

2.4.1  Movimentos sociais que colocaram em discussão a


problemática ambiental

Na segunda metade do século XX, com a intensificação do crescimento econô-


mico ao redor de todo o mundo, os danos ao meio ambiente se agravaram e
emergiram com maior visibilidade para vários setores da população, especial-
mente dos países desenvolvidos, que consistiram nos primeiros a sentirem os
impactos causados pela Revolução Industrial. A partir daí aflora um novo modo
de pensar o meio ambiente e a tentativa de introdução da sustentabilidade
como saída para crise ambiental.
Ainda antes de 1970, mais especificamente em 1968, ocorreram três encon-
tros que foram essenciais para definição de uma estratégia para o combate aos
problemas ambientais da década de 70 e as posteriores:
•  Em abril de 1968 reuniram-se em Roma (Itália), pessoas de diversas na-
cionalidades e especializações a fim de tratarem sobre temas diversos relacio-
nados aos problemas atuais e futuros do homem. Este encontro deu origem ao
Clube de Roma, que consistiu em um organização informal que visava a pro-
moção de entendimento por várias partes aliando o viés econômico, o natural,
o político e o social;
•  A Assembleia Nacional das Nações Unidas decide, neste ano, realizar a
Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano, em 1972, na cidade de
Estocolmo (Suécia);

capítulo 2 • 43
•  É promovida pela UNESCO em Paris, uma Conferência sobre a conserva-
ção e o uso racional dos recursos da biosfera.

O começo da década de 70 foi marcado pela insistência no questionamento


sobre o modelo de crescimento e desenvolvimento econômico promovido pela
Revolução Industrial. Questionava-se de forma insistente a abundância inesgo-
tável dos recursos naturais frente ao agravamento da deterioração ambiental
que se tornava cada vez mais evidente.
Em 1971, a UNESCO lança o Programa Homem e a Biosfera (MAB) que pre-
conizou o melhoramento da relação global entre o homem e o meio. Por meio
deste programa foi criada uma rede mundial de áreas protegidas chamadas de
Reservas da Biosfera, que envolvia a criação de reservas em regiões com ecos-
sistemas terrestres ou costeiros que necessitassem de proteção, tanto de sua
fauna e flora e de seus recursos naturais. A partir deste programa se deu a cria-
ção de seis reservas nacionais: a Mata Atlântica, o cinturão verde de São Paulo,
o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e a Amazônia Central.
Em 1972, a ONU, realiza em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas so-
bre o Meio Ambiente Humano, que resultou na elaboração de uma Declaração
sobre o Ambiente Humano e na produção de um Plano de Ação Mundial que
inclui mais de 109 recomendações visando-se a preservação e a melhoria no
ambiente humano. Outro marco desta Conferência foi o surgimento da abor-
dagem dos problemas ambientais sob uma ótica global de desenvolvimento,
o que se tornaria posteriormente no conceito de desenvolvimento sustentável.
Frente a imensa repercussão da Conferência de Estocolmo de 1972, nos
anos que se seguiram foram realizadas outros inúmeros encontros e acordos
relacionados à crise ambiental: Convenção sobre o comércio internacional de
espécies ameaçadas da fauna e flora silvestres (1973), Convenção Internacional
para a Prevenção da Poluição de navios (1973), Convenção sobre a Proteção
da Natureza no Pacífico Sul (1976), Conferência das Nações Unidas sobre a
Água (1977), Conferência das Nações Unidas sobre a Desertificação (1977),
Conferência Mundial sobre o Clima (1978), entre outros (DIAS, 2011).
A década de 80 foi marcada pela criação da Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) promovida pela Assembleia Geral da
ONU presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland.
Tal Comissão foi criada visando-se examinar as relações entre meio ambiente
e o desenvolvimento e apresentar propostas exequíveis. Poucos anos depois,

44 • capítulo 2
em 1987, ocorreu outro fato histórico dessa década: a elaboração do Informe
Brundtland, da CMMAD, chamado de “Nosso Futuro Comum”. Este documen-
to, considerado como um dos mais importantes relacionado a questão ambien-
tal e o desenvolvimento, vincula de maneira bem estreita economia e ecologia
e estabelece com bastante precisão o eixo em torno do qual se deve discutir o
desenvolvimento, consagrando o conceito de desenvolvimento sustentável e
definindo os parâmetros que os Estados deveriam seguir assumindo responsa-
bilidades não somente pelos danos ambientais, como também pelas políticas
que geram tais danos.
O documento divulgado pela CMMAD, “Nosso Futuro Comum”, foi tão im-
portante que serviu de base para a realização da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, em
1992. Esta Conferência, que se popularizou como Rio 92, apresentava como fi-
nalidade identificar as políticas que geravam os efeitos ambientais negativos.
Como resultado dessa reunião, assinaram-se cinco documentos que aponta-
vam as discussões referentes ao meio ambiente dos anos seguintes:
•  Agenda 21;
•  Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB);
•  Convênio sobre Mudanças Climáticas;
•  Princípios para a Gestão Sustentável das Florestas;
•  Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento.

Outro episódio marcante da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio


Ambiente e Desenvolvimento consistiu na popularização do conceito de
Desenvolvimento Sustentável, tornando as questões ambientais intimamente
ligadas com o desenvolvimento.
No final do ano de 2000, a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu que
o Conselho sobre o Desenvolvimento Sustentável (CDS), criado em 1992 para as-
segurar a implementação das propostas da Rio 92, teria que atuar como Órgão
Central organizador da Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável,
chamada de “Rio + 10”, que aconteceria em Johannesburgo em 2002 a fim de
avaliar a condição do meio ambiente global frente as medidas empregadas
na CNUMAD-92. Após esta Conferência, concluiu-se que as metas fixadas na
CNUMAD-92 não foram cumpridas e assim, os integrantes da Cúpula Mundial

capítulo 2 • 45
sobre o Desenvolvimento Sustentável (CMDS) apontam novamente que os três
pilares do desenvolvimento sustentável se tratam dos seguintes: proteção am-
biental, desenvolvimento social e desenvolvimento econômico.
A vinculação do meio ambiente com o desenvolvimento é considerada como
um marco na história do Desenvolvimento sustentável, já que a mesma permite
uma nova abordagem das questões ambientais por meio da sua associação com
os problemas comuns de países em desenvolvimento, tais como desigualdade e
injustiça social (DIAS, 2011).

2.4.2  Desenvolvimento sustentável

Uma das definições mais usadas para o desenvolvimento sustentável consiste


na seguinte: “Desenvolvimento econômico e social que atenda às necessidades
da geração atual sem comprometer a habilidade das gerações futuras atende-
rem a suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND, 1987).
Apesar de ser um conceito questionável por não determinar quais são as ne-
cessidades do presente nem as do futuro, o relatório de Brundtland (1987) cha-
mou a atenção do mundo sobre a necessidade de se encontrar novas formas de
desenvolvimento econômico, sem a redução dos recursos naturais e sem danos
ao meio ambiente.
O conceito de desenvolvimento sustentável foi consolidado por meio da
Agenda 21, documento elaborado na Conferência “Rio 92”, e incorporado em
outras agendas mundiais de desenvolvimento e de direitos humanos, porém de
acordo com a maioria dos autores que escrevem sobre o tema, tais como Canepa
(2007), Veiga (2005) e Ascelard (1999), o conceito ainda está em construção.
Outra definição para “desenvolvimento sustentável”, proposta por
Satterthwaite (2004) é a de que o mesmo consiste na resposta às necessida-
des humanas nas cidades com o mínimo ou nenhuma transferência dos cus-
tos da produção, consumo ou lixo para outras pessoas ou ecossistemas, hoje e
no futuro.
O desenvolvimento sustentável deve ser uma consequência do desenvol-
vimento social, econômico e da preservação ambiental, conforme exposto na
figura 2.2.

46 • capítulo 2
©© ELENA DUVERNAY | DREAMSTIME.COM
Figura 2.2  –  Desenho esquemático relacionando parâmetros para se alcançar o desenvol-
vimento sustentável.

Para Sachs (1986), qualquer plano de desenvolvimento sustentável deveria


levar em conta cinco aspectos de viabilidade, resumidos por BRINCKMANN
(1995) da seguinte maneira:

que visa constituir uma civilização caracterizada por uma


VIABILIDADE maior justiça na repartição das riquezas e das vendas, tendo
SOCIAL como objetivo principal a diminuição da distância no nível de
vida entre os providos e os desprovidos;

que deve ser facilitada pela repartição e pela gestão mais


VIABILIDADE eficiente dos recursos e por um fluxo regular de investimen-
ECONÔMICA tos públicos e privados;

a qual poderia ser aprimorada mediante a adoção das seguin-


tes medidas: aumentar a capacidade de carga da nave Terra;
VIABILIDADE limitar o uso de combustíveis fósseis; incitar os ricos a limitar
ECOLÓGICA o consumo de bens materiais; intensificar as pesquisas em
tecnologias que assegurem um bom rendimento de recursos;
definir regras de proteção ao meio ambiente;

capítulo 2 • 47
que deveria ter como finalidade a de conseguir um melhor
equilíbrio entre cidade e campo, bem como uma melhor
repartição populacional da atividade econômica sobre o
território. As principais metas seriam cessar a destruição
VIABILIDADE predatória dos ecossistemas, promovendo o emprego de
ESPACIAL métodos modernos de agricultura e de agroflorestamento
regenerativo para produtores familiares, fornecendo, princi-
palmente, módulos técnicos apropriados e possibilidades de
crédito e de acesso aos mercados;

que requer a pesquisa das raízes dos modelos de moderni-


zação e dos sistemas agrícolas integrados, assim como dos
VIABILIDADE processos que buscam mudanças na continuidade cultural, e
CULTURAL tradução dos conceitos normativos de ecodesenvolvimento
em uma pluralidade de soluções locais específicas para cada
ecossistema, cada cultura e cada situação.

A exigência de um desenvolvimento sustentável frente aos desequilíbrios


do mundo moderno, principalmente nos países de Terceiro Mundo, vem resul-
tando em uma mudança de paradigma: não são mais a tecnologia e a produção
o centro de alvos abstratos da política desenvolvimentista; ao contrário, espera-
-se que as pessoas atingidas identifiquem seus próprios problemas e elaborem
por si mesmas soluções técnicas e institucionais, para promover um desenvol-
vimento que seja sustentável (SALAMONI, 2000).

2.4.3  Sustentabilidade no Brasil e a preocupação com o meio


ambiente

Para alguns autores o conceito a ser discutido a seguir, sustentabilidade, signi-


fica a “possibilidade de se obterem continuamente condições iguais ou supe-
riores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em dado ecossiste-
ma” (CAVALCANTI, 2003).
A sustentabilidade no Brasil, passa a ser motivo de preocupação para o
poder público brasileiro somente em meados dos anos de 1930. Até o início
do século XX o campo político não se sensibilizava com a temática do meio

48 • capítulo 2
ambiente, apesar da exploração desenfreada dos recursos naturais nacionais
feita por Portugal, colonizadora do Brasil. Algumas denúncias “precoces” fo-
ram realizadas sobre o mau uso dos recursos naturais, por políticos renomados
como José Bonifácio, Joaquim Nabuco e André Rebouças, no entanto, as mes-
mas não encontraram lugar na esfera política da época (BARBIERI, 2007).

CURIOSIDADE
No início da década de 1930 o rio Tietê, localizado na cidade de São Paulo, servia de lazer
para a população paulistana, que se banhava em suas águas aos finais de semana. Infeliz-
mente, esta prática tornou-se inviável algumas décadas depois devido a poluição de suas
águas decorrente das atividades humanas.

Um ano marcante na história da Política Ambiental brasileira foi o de 1934


quando os seguintes documentos relacionados à gestão dos recursos naturais
foram divulgados:
•  Código da Caça;
•  Código Florestal;
•  Código de Minas;
•  Código de Águas.

Ainda nesse ano de 1934, aconteceram algumas iniciativas governamen-


tais consideradas como importantes na proteção do meio ambiente: criação
do Parque Itatiaia e a organização do patrimônio histórico e artístico nacional.
Ademais, foram compostos órgãos especiais, como o Departamento Nacional
dos Recursos Minerais, Departamento Nacional de Água e Energia Elétrica, en-
tre outros.

CONEXÃO
Saiba mais sobre o Parque Nacional do Itatiaia acessando ao seguinte link: http://www.
icmbio.gov.br/parnaitatiaia/

capítulo 2 • 49
Foi somente em meados dos anos de 1970 quando os danos ambientais
tornaram-se mais evidentes que o poder público assumiu uma nova postura.
Instituiu-se então a Secretaria Especial do Meio ambiente e, além disso, diver-
sos Estados criaram as suas agências ambientais especializadas, como a Cetesb
no estado de São Paulo (1973) e a Feema do Rio de Janeiro (1975).
Em 1981 promulgou-se a Lei 6.938 que estabeleceu a Política Nacional do
Meio Ambiente. Tal lei apresenta como principal meta a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, a fim de garantir con-
dições de desenvolvimento socioeconômico, os interesses de segurança nacio-
nal e a proteção da dignidade humana (BRASIL, 1981). A implementação desta
Política representou uma transformação importante relacionada à questão am-
biental, visto que dentre outras ações, ela instituiu o Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA) responsável pela proteção e melhoria do meio ambiente.
O SISNAMA é composto por diversos órgãos e entidades da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, conforme exposto na tabela 2.2.

TIPO DE ÓRGÃO COMPONENTE


SUPERIOR Conselho de Governo

CONSULTIVO E DELIBERATIVO Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Ama-


CENTRAL zônia Legal (MMA)
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
EXECUTOR (IBAMA)
SECCIONAIS Órgãos ou entidades estaduais
LOCAIS Órgãos ou entidades municipais

Tabela 2.2  –  Componentes do SISNAMA. Fonte: Lei 6.938/1981, art. 6o.

Apesar de a Lei em questão ter sido aprovada em 1981, a sua implementa-


ção só foi efetivada em 1988 mediante a promulgação da Constituição Federal
de 1988, considerada como outro avanço significativo da questão ambiental no
Brasil.
No final do século XX, o meio ambiente já era dotado de lugar privilegiado
na agenda global, tendo se transformado em assunto praticamente obrigatório
nos vários encontros internacionais. A Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) realizada no Rio de Janeiro em
1992 tornou-se marco histórico principalmente por ter popularizado o concei-
to de desenvolvimento sustentável.

50 • capítulo 2
Atualmente, tanto os países em desenvolvimento (como o Brasil), quanto os
desenvolvidos almejam a elaboração de uma agenda comum como resultado
dos fóruns internacionais que vêm ocorrendo, visando o ataque à pobreza e à
destruição ambiental.

2.4.4  Direito ambiental

O direito ambiental, apesar de apresentar caráter interdisciplinar, é embasado


nos conceitos referentes à proteção ambiental. Assim, os princípios formado-
res do direito ambiental têm como alvo principal orientar o desenvolvimento e
a aplicação de políticas ambientais que servem como instrumento de proteção
ao meio ambiente e, consequentemente, à vida humana.
A justiça ambiental se atém a uma problemática sensível relacionada tanto
à questão do desenvolvimento capitalista quanto à do debate referente ao meio
ambiente: a questão social. Os movimentos sociais denunciaram a desigualda-
de da garantia ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado a to-
dos, verificando-se que um grupo de pessoas (geralmente aquelas com menor
poder aquisitivo), suportava uma parcela desproporcional de degradação do
espaço coletivo.
Embora exista um princípio constitucional referente à sustentabilidade,
toda e qualquer política pública ambiental deverá se preocupar com a ques-
tão social por detrás envolvida. No caso do Brasil, Herculano e colaboradores
(2004) relatam que: “o potencial político do movimento pela justiça ambiental
é enorme. O país é extremamente injusto em termos de distribuição de renda
e acesso aos recursos naturais. Sua elite governante tem sido especialmente
egoísta e insensível, defendendo de todas as formas os seus interesses e lucros
imediatos. (...) O sentido de cidadania e de direitos, por outro lado, ainda en-
contra um espaço relativamente pequeno na nossa sociedade, apesar da luta de
tantos movimentos e pessoas em favor de um país mais justo e decente. Tudo
isso se reflete no campo ambiental. O desprezo pelo espaço comum e pelo meio
ambiente se confunde com o desprezo pelas pessoas e comunidades.”
SIRVINSKAS (2002) lista o que os doutrinadores apontam como Princípio do
Direito Ambiental: "princípio da obrigatoriedade de informações e de consulta
prévia; princípio de precaução; princípio do aproveitamento equitativo e ótimo
e razoável dos recursos naturais; princípio do poluidor-pagador; princípio da
igualdade; princípios da vida sustentável consubstanciados em: 1)- respeitar

capítulo 2 • 51
e cuidar da comunidade dos seres vivos; 2)- melhorar a qualidade da vida hu-
mana; 3)- conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra; 4)- minimi-
zar o esgotamento dos recursos não renováveis; 5)- permanecer nos limites da
capacidade de suporte do planeta Terra; 6)- modificar atitudes e princípios do
direito humano fundamental; princípio da supremacia do interesse público
nas práticas pessoais; 7)- permitir que as comunidades cuidem de seu próprio
meio ambiente; 8)- gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvol-
vimento e conservação; 9)- constituir uma aliança global", dentre outros.

MULTIMÍDIA
Para saber mais sobre o direito ambiental nacional assista ao vídeo em que um dos cria-
dores do Direito Ambiental no Brasil, que participou da Eco 92 e da Rio+20, aborda o
tema relatando a sua experiência, acessando ao link a seguir: (https://www.youtube.com/
watch?v=iRO6cP6DZU0)

Por fim, prevenir o dano ambiental e a degradação, em si mesmo, é um ele-


mento decisivo em qualquer regime construído sobre o princípio do desenvol-
vimento sustentável, uma vez que a sustentabilidade pressupõe o afastamen-
to de danos irreversíveis ou degradação, e a efetividade do Direito Ambiental
é dependente da gestão dos riscos, e principalmente, do diagnóstico cautelar
dos mesmos.

2.4.5  Educação ambiental

Embora os primeiros registros do emprego do termo “Educação Ambiental”


datem de 1948, ocorrido em um encontro da União Internacional para a Con-
servação da Natureza (UICN) em Paris, o norteamento da Educação Ambien-
tal começa a ser realmente definido a partir da Conferência de Estocolmo, em
1972, onde se estipulou a inserção do tema “Educação Ambiental” na agenda
internacional. Em 1975, foi lançado em Belgrado o Programa Internacional de
Educação Ambiental, que define os princípios e orientações para o futuro.
No Brasil, o processo de institucionalização da Educação Ambiental teve
início em 1973 com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema),
associada à Presidência da República. Outro passo na institucionalização

52 • capítulo 2
da Educação Ambiental foi dado em 1981, com a Política Nacional de Meio
Ambiente (PNMA) que instituiu, no âmbito legislativo, a necessidade de inclu-
são da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, incluindo a educação
da comunidade, visando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio
ambiente. Reforçando essa tendência, a Constituição Federal, em 1988, apre-
sentou a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
Em 1991, a Comissão Interministerial para a preparação da Rio 92 definiu a
Educação Ambiental como um dos instrumentos da política ambiental brasi-
leira. Daí então foram criadas duas instâncias no Poder Executivo, destinadas a
lidar somente com esse aspecto: o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental
do MEC, que em 1993 se transformou na Coordenação-Geral de Educação
Ambiental (Coea/MEC), e a Divisão de Educação Ambiental do Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), cujas
competências institucionais foram determinadas no sentido de representar
um marco para a institucionalização da política de Educação Ambiental no âm-
bito do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama).
São inúmeras as definições de educação ambiental. No Congresso de
Belgrado, promovido pela UNESCO em 1975, a Educação Ambiental foi defini-
da como sendo um processo que tem como finalidade: “(...) formar uma popu-
lação mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas
que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as com-
petências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e en-
gajamento que lhe permita trabalhar individualmente e coletivamente para re-
solver os problemas atuais e impedir que se repitam (...)” (SEARA FILHO, 1987).
Já na Agenda 21, consta que a Educação Ambiental é o processo que busca:
“(...) desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio
ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que te-
nha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para
trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas
existentes e para a prevenção dos novos (...)” (MARCATTO, 2002).
Tem-se que o objetivo da educação ambiental é o de atingir o público em
geral já que se considera que todas as pessoas devem ter oportunidade de aces-
so às informações que lhes concedam a chance de participar de forma ativa na
busca de soluções para os problemas ambientais atuais. De maneira didática, a
Educação Ambiental é dividida em duas categorias básicas:I) Educação Formal:

capítulo 2 • 53
Inclui estudantes em geral, desde a educação infantil até a fundamental, média
e universitária, além de professores e demais profissionais envolvidos em cur-
sos de treinamento em Educação Ambiental e; II) Educação Informal: Engloba
todos as partes da população, como por exemplo: grupos de jovens, trabalha-
dores, políticos, empresários, associações de moradores, profissionais liberais,
dentre outros.
De acordo com a Conferência de Tbilisi, os princípios que devem nortear
programas e projetos de trabalho em educação ambiental são:
•  Considerar o ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos natu-
rais e artificiais, tecnológicos e sociais (econômico, político, técnico, histórico-
cultural e estético);
•  Construir-se num processo contínuo e permanente, iniciando na edu-
cação infantil e continuando através de todas as fases do ensino formal e não
formal;
•  Embasar em um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo
específico de cada disciplina, para que se adquira uma perspectiva global
e equilibrada;
•  Analisar as principais questões ambientais em escala pessoal, local, re-
gional, nacional, internacional, de modo que os educados tomem conhecimen-
to das condições ambientais de outras regiões geográficas;
•  Focar-se nas situações ambientais atuais e futuras, levando em considera-
ção também o viés histórico;
•  Persistir no valor e na necessidade de cooperação local, nacional e inter-
nacional, para prevenção e solução dos problemas ambientais;
•  Ponderar, de maneira clara, os aspectos ambientais nos planos de desen-
volvimento e crescimento;
•  Promover a participação dos alunos na organização de suas experiências
de aprendizagem, proporcionando-lhes oportunidade de tomar decisões e de
acatar suas consequências.

A educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora,


na qual a conscientização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para
promoção de um novo tipo de desenvolvimento: o desenvolvimento sustentá-
vel. Compreende-se, assim, que a educação ambiental consiste na condição

54 • capítulo 2
necessária para transformar um quadro de crescente degradação socioam-
biental, mas ela ainda não é suficiente, o que, no dizer de Tamaio (2000), se
converte em “mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas,
comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a constru-
ção das transformações desejadas”. O educador tem a função de mediador na
construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos
para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza
(JACOBI, 2003).

2.5  Políticas públicas na promoção da


sustentabilidade ambiental

De acordo com Floriano (2007) as políticas de gestão ambiental podem ser ca-
racterizadas quanto ao seu caráter e o seu nível de abrangência. Quanto ao ca-
ráter, as mesmas podem ser classificadas como de caráter público e privado.
Quanto à abrangência, as políticas de gestão ambiental podem ser políticas in-
ternacionais, federais, estaduais ou municipais, entre outros.
Resumidamente, pode-se dizer que a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA) faz uso de cinco instrumentos principais (apoiados em ferramentas,
sistemas e metodologias):
Muitos instrumentos usados na gestão ambiental tanto pública quanto pri-
vada são comuns. A gestão pública dá ênfase aos instrumentos que conduzem
à proteção e controle ambientais, enquanto a gestão privada privilegia o plane-
jamento e melhoria contínua, a partir de uma situação atual.
Os principais instrumentos da política brasileira de gestão ambiental pú-
blica são, de um lado, o comando e controle através do licenciamento, que
procura manter os efeitos das atividades antrópicas sob controle. De outro, a
proteção do meio ambiente, através das unidades de conservação da natureza
e corredores para a biota, que visam conservar as partes mais significativas do
ambiente natural e da cultura humana no território nacional.

capítulo 2 • 55
é baseado em Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), Es-
tudo de Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Am-
biental (RIMA), Plano de Controle Ambiental (PCA), Plano
de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), Relatório
de Avaliação Ambiental (RAA), Relatório de Controle Am-
LICENCIAMENTO biental (RCA), Analise de Risco (AR), Estudo de Viabilidade
Ambiental (EVA), Projeto Básico Ambiental (PBA), Termo
de Referência (TR), Audiência Pública (AP), estabeleci-
mento de padrões de qualidade ambiental e no sistema de
informações e cadastro técnico ambiental federal;

INCENTIVOS Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA); financiamentos


ECONÔMICOS através do BNDES para grandes projetos, etc;

INIBIÇÕES Impostos ecológicos (ICM, Taxa de Reposição Florestal, etc);


ECONÔMICAS

PUNIÇÃO Lei dos Crimes Ambientais, Código Florestal, etc;

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),


Corredores Ecológicos, Programa Piloto para a Proteção
das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), restrição ao uso
CONSERVAÇÃO de recursos naturais nas propriedades privadas (impostas
pela Lei 4771/65, entre outras), recuperação ambiental,
auto suprimento e reposição florestal.

2.6  Gestão sustentável da biodiversidade


A biodiversidade, definida de forma simplista como a variedade da vida existen-
te em nosso planeta, foi divulgada em 1985 por Walter G. Rosen no decorrer da
preparação de um congresso cujo relatório final, publicado em 1988, populari-

56 • capítulo 2
zou este termo entre ecólogos e ambientalistas (BARBAULT, 1997). No entanto,
apenas sete anos mais tarde, com o estabelecimento da Convenção sobre Diver-
sidade Biológica (CDB), que se deu durante Conferência das Nações Unidas so-
bre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, que a “biodiversidade” passou
a ser considerada como um dos grandes problemas a serem enfrentados em
esfera global no século XXI.
A criação da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em 1992, impôs
ao Brasil a necessidade de debater e implantar arranjos político-institucionais
específicos para a gestão sustentável da biodiversidade. Essa tarefa, ainda em
curso no país, tem como finalidade não somente atender positivamente a CDB,
como também consolidar um projeto que atenda as demandas nacionais.
De acordo com Brando e colaboradores (2005) o Brasil possui cerca de 13%
da biota total do planeta. O país, ao lado da Indonésia, é considerado como o
mais rico do mundo em biodiversidade (MITTERMEIER et al., 2005). Tal riqueza
representa um desafio ainda maior do que aquele enfrentado por outros países
de forma que a sua gestão abrange uma série de arranjos políticos, econômicos
e sociais, essenciais para que o país possa ser favorecido pela sua biodiversida-
de em conformidade com os três paradigmas estabelecido pela CDB que são a
conservação, o uso sustentável e a repartição justa e equitativa dos benefícios.
A Política Nacional da Biodiversidade (PNB), estabelecida por meio do Decreto
4339/02, pode ser considerada um elemento central desse processo de estrutura-
ção política, pois através da mesma instituiu-se um marco legal para a gestão da
biodiversidade no país. Sua criação resultou de um longo processo de elaboração
e consulta ampliada a diversos segmentos da sociedade de forma a garantir uma
efetiva representatividade na construção de uma proposta de consenso.
A PNB visa promover, de forma integrada, a conservação da biodiversidade
e a utilização sustentável de seus componentes. Para tanto, ela recoloca os mes-
mos alvos estabelecidos pela própria CDB, sendo organizada em sete compo-
nentes que representam os eixos temáticos que deverão orientar a sua implan-
tação: 1) conhecimento da biodiversidade; 2) conservação da biodiversidade; 3)
utilização sustentável dos componentes da biodiversidade; 4) monitoramento,
avaliação, prevenção e mitigação de impactos sobre a biodiversidade; 5) acesso
aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados e reparti-
ção de benefícios; 6) educação, sensibilização pública, informação e divulgação
sobre a biodiversidade e 7) fortalecimento jurídico e institucional para a gestão
da biodiversidade.

capítulo 2 • 57
MULTIMÍDIA
O Projeto Tamar se trata de um programa pioneiro de conservação da biodiversidade ma-
rinha. Para saber mais sobre esse projeto assista ao vídeo presente no link: https://www.
youtube.com/watch?v=kVYV6wdFrnE

ATIVIDADES
01. Como ocorre o aquecimento global?

02. Explique, resumidamente, a “Convenção da Mudança Climática” e o “Protocolo de Kyoto”.

03. Defina: Desenvolvimento Sustentável.

04. Cite três dos cinco principais instrumentos utilizados pela Política Nacional do Meio Am-
biente para proteção dos recursos naturais.

REFLEXÃO
Agora que estamos no fim do segundo capítulo deste livro já sabemos que os transtornos na
natureza vão além das mudanças climáticas, culminando em efeitos econômicos locais, onde,
por exemplo, pesqueiros perdem seu meio de sobrevivência e deixam de distribuir o seu
produto para a população, terras agrícolas deixam de ser férteis e florestas repletas de maté-
ria-prima desaparecem. Catástrofes naturais como enchentes, secas, terremotos e incêndios
florestais aumentam a cada dia sob o efeito da atividade humana. Apesar de o planeta estar
dando sinais de que estamos vivendo uma crise ambiental, ainda é muito difícil conscientizar
os investidores que almejam cegamente a geração de riquezas econômicas no curto prazo.
Assim, cabe a todos nós fazer nossa parte como cidadãos que respeitam a natureza, conser-
vando e disseminando os conceitos da preservação do meio ambiente.

58 • capítulo 2
LEITURA
Para se aprofundar nas questões associadas a crise ambiental e o desenvolvimento sus-
tentável, dê uma lida no artigo “O desenvolvimento do capitalismo e a crise ambiental” de
Quintana e Hacon (2011).
Leia o artigo intitulado de “Educação ambiental nas escolas” para maiores informações
sobre a educação ambiental nas escolas brasileiras (CUBA; 2010).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 1, 1999.
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Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências.
Brasília, DOU de 02/09/1981.
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capítulo 2 • 59
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março/ 2003.
MARCATTO, C. Educação ambiental: conceitos e princípios. Belo Horizonte: FEAM, 2002.
MITTERMEIER, R. A.; FONSECA, G. A. B.; RYLANDS, A.; BRANDON, K. A brief history of
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FE/Unicamp. Campinas, 2000.
VEIGA, J. E. Cidades Imaginárias – o Brasil é menos urbano do que se calcula. Campinas: Editora da
Unicamp, 2005.

60 • capítulo 2
3
Pesquisa Aplicada
Toda e qualquer atividade desenvolvida, seja teórica ou prática, requer procedi-
mentos adequados. Justamente é o que a palavra método traduz. Sendo assim,
o estudo e o aproveitamento das atividades acadêmicas também não dispen-
sam um caminho adequado, demandando organização, disciplina e dedicação
corretamente orientada. Tudo isso facilita a realização da pesquisa, obtendo-se
como resultado um maior rendimento da mesma. Dessa forma, inspire-se no
filósofo Francis Bacon que já dizia que “O conhecimento é o poder” e almeje
cada vez mais ser um bom conhecedor através da pesquisa que consiste em ca-
minho perfeito para aquisição de sabedoria.

OBJETIVOS
No presente Capítulo serão abordados temas muito importantes para que ao final do mesmo
você seja capaz de produzir, sistematizar e divulgar pesquisas e conhecimentos. Tais temas
consistem nos expostos a seguir: pesquisa aplicada, método científico, pesquisa científica,
técnicas de coleta, análise e interpretação de dados. Espera-se que, mediante a explanação
dos temas em questão você compreenda a importância da metodologia científica no proces-
so do conhecimento. Preparado?!

62 • capítulo 3
3.1  Pesquisa Aplicada
Há muito tempo atrás o homem iniciou uma jornada em busca do conheci-
mento visando encontrar possíveis respostas para questões relacionadas a
problemas do seu cotidiano. Inicialmente, frente ao limitado conhecimento
científico, algumas destas respostas eram encontradas na mitologia. No entan-
to, quando o homem passou a questionar tais respostas e a buscar explicações
mais palpáveis, por meio da razão, deixando de lado as suas emoções e crenças
religiosas, respostas mais realistas passaram a ser obtidas, as quais apresenta-
ram maior aceitação pela sociedade. Acredita-se que essa nova forma de pensar
do homem criou a possibilidade do surgimento da ideia de ciência.

PERGUNTA
Mas afinal, o que é a ciência?

A palavra ciência, proveniente do latim scientia, significa conhecimento, sa-


bedoria. A ciência é embasada em uma série de princípios, de teorias organiza-
das metódica e sistematicamente, sendo considerada como uma área do saber
humano, que apresenta relação direta com um fenômeno ou objeto de estudo.
Segundo Morin (2001) a ciência não se trata da acumulação de “verdades”, mas
sim de um campo aberto onde há uma luta constante entre as teorias, os prin-
cípios e as concepções de mundo.
Para se alcançar o conhecimento científico se faz necessário usar o método
científico. O método científico é também fundamental para validar as pesqui-
sas fazendo com que os seus resultados sejam aceitos. Assim, para que a pesqui-
sa seja considerada científica, um procedimento formal é necessário, realizado
de “(...) modo sistematizado, utilizando para isto método próprio e técnicas es-
pecíficas” (RUDIO, 1980). A seguir o tema Método Científico será contemplado.

3.2  Método Científico


É bastante comum que pesquisadores, no início de sua jornada científica re-
duzam o método, em ciência, a uma simples apresentação dos passos de uma
pesquisa. Na verdade, ao se tratar do método, deve-se explicitar quais são os

capítulo 3 • 63
pretextos que o fez optar por determinadas rotas e não outras. De acordo com
Selltiz e colaboradores (1965) o método científico é definido como parte funda-
mental da pesquisa, que visa responder ao problema formulado e alcançar os
objetivos da pesquisa de forma eficaz, com o mínimo possível de influência da
subjetividade do pesquisador, referindo-se às regras da ciência para disciplinar
os trabalhos, assim como para oferecer diretrizes sobre os procedimentos a se-
rem empregados.
Segundo Gil (1999), o método científico trata-se de um conjunto de procedi-
mentos intelectuais e técnicos usados para atingir o conhecimento sendo que
para que um conhecimento seja considerado como científico, é necessária a
identificação dos passos para a sua verificação, ou seja, determinar o método
que possibilitou alcançar o conhecimento. Ainda, de acordo com Gil (1999),
no passado muitos pesquisadores achavam que o método poderia ser generali-
zado para todos os trabalhos científicos. Contudo, os cientistas da atualidade,
consideram que há uma grande variedade de métodos, que são determinados
pelo tipo de objeto a ser pesquisado e pelas proposições a serem descobertas
pelo mesmo.
Eco (1977) afirma que, ao se fazer uma pesquisa científica, o pesquisador
aprenderá a ordenar as suas ideias, no intuito de organizar os dados obtidos.
Sendo a meta de um estudo científico atender a um propósito pré-definido es-
pecífico, a utilização de um determinado método torna-se fundamental para
alcançar o que foi planejado.
Para Dio (1979) apesar de a verdade ser uma só – ainda que a mesma possa
ser vista de ângulos diferentes –, os caminhos que conduzem os pesquisadores
a ela podem ser inúmeros, sendo que a existência desta grande diversidade de
métodos consiste em uma vantagem e não em um inconveniente. Dessa forma,
quando, por técnicas ou processos diferentes, se alcança a mesma conclusão,
existe uma maior razão para aceitá-la.
Richardson (1999) define o método científico como a forma encontrada
pela sociedade para legitimar um conhecimento adquirido empiricamente, ou
seja, quando um conhecimento é obtido pelo método científico, qualquer pes-
quisador que repita o mesmo estudo, nas mesmas circunstâncias, poderá obter
um resultado parecido.

64 • capítulo 3
MULTIMÍDIA
Agora que você já sabe o que é o método científico, assista ao vídeo exposto no link https://
www.youtube.com/watch?v=ksHmilEOdQI e observe a metodologia usada para alcance dos
objetivos da pesquisa realizada, que visava identificar a causa da transmissão da malária.

3.2.1  Tipo de métodos

De acordo com Heerdt e Leonel (2007) é impossível descrever todos os méto-


dos. Cada ciência e/ou área científica apresenta as suas características próprias
demandando um método adequado à sua natureza. Apesar disso, a descrição
de alguns métodos mais gerais, praticamente comuns a um grupo de ciências
e presentes em grande escala na literatura sobre este assunto, é possível, como
pode ser observado no exemplo exposto a seguir.

EXEMPLO
Suponhamos que um professor peça para seus alunos fazerem um trabalho sobre a cultura
dos fazendeiros de café na década de 1780 nas terras da antiga Sesmaria do Pinhal, hoje
chamada de São Carlos (SP). De acordo com o tipo de estudo, pode-se utilizar: I) o método
comparativo: visando-se comparar os costumes (ou um específico) com o de outra cidade,
ou duas fazendas diferentes dentro da mesma cidade; II) o método histórico: caso o objetivo
seja o de estudar a cultura sob o ponto de vista histórico; III) o método estudo de caso: a fim
de aprofundar no caso específico daquela cidade.

É possível, no entanto, identificar quatro tipos de métodos de abordagem:


•  Dedutivo;
•  Indutivo;
•  Hipotético-dedutivo;
•  Dialético.
O Método Dedutivo considera parte do conhecimento de dados universais
para a conclusão de questões mais específico, particulares. Veja um exemplo
característico de um pensamento dedutivo: Todos os metais são condutores

capítulo 3 • 65
de eletricidade. A prata é um metal. Logo, a prata é condutor de eletricidade
(FACHIN, 2001).
Já o Método indutivo baseia-se em um raciocínio que, a partir de uma análise
de dados particulares, se encaminha para noções gerais. A marcha do conheci-
mento principia pelos elementos singulares e vai caminhando para os elementos
gerais. Como exemplo deste método, destaca-se (HEERDT; LEONEL, 2007):

“Antônio é mortal.
Benedito é mortal.
Carlos é mortal.
Zózimo é mortal.
Ora, Antônio, Benedito, Carlos, ... e Zózimo são homens.
Logo, (todos) os homens são mortais.”

A partir da observação, é possível formular uma hipótese explicativa da cau-


sa do fenômeno. Portanto, por meio da indução alcança-se conclusões que são
apenas prováveis e nem sempre corretas.
Tratando-se agora do Método Hipotético-dedutivo tem-se que este foi de-
finido por Karl Popper, a partir de suas críticas ao método indutivo. Para ele,
o método indutivo não se justifica, pois, de acordo com ele, o salto indutivo
de “alguns” para “todos” exigiria que a observação de fatos isolados fosse infi-
nita. Baseando-se no Método Hipotético-dedutivo, quando os conhecimentos
disponíveis sobre um determinado assunto são insuficientes para explicar um
fenômeno, surge o problema. Para tentar explicar o problema, são formuladas
hipóteses; destas hipóteses são deduzidas as consequências que deverão ser
testadas ou falseadas. Falsear significa tentar tornar falsas as consequências
deduzidas das hipóteses. Opostamente ao método dedutivo que visa confirmar
a hipótese, o método hipotético-dedutivo apresenta como finalidade buscar
evidências empíricas para derrubá-la.
Por fim, o método dialético reconhece a dificuldade de se apreender o real,
em sua determinação objetiva, assim a realidade se constrói diante do inves-
tigador mediante as noções de totalidade, mudança e contradição. De acordo
com Diniz (2008) desenvolver ciência por meio do uso do método dialético é
assumir que o saber está contaminado por ideologias e que é função do cientis-
ta social descobrir o que está escondido na aparência dos fenômenos sociais,
especialmente na experiência cotidiana da vida em sociedade.

66 • capítulo 3
ATENÇÃO
É importante ressaltar a diferença entre metodologia e métodos. A metodologia refere-se a
validade do caminho escolhido para se chegar ao fim proposto pela pesquisa; não podendo
ser confundida com o conteúdo (teoria) nem com os procedimentos (métodos e técnicas).
Assim, a metodologia vai além da descrição dos procedimentos (métodos e técnicas a serem
utilizados na pesquisa), indicando a escolha teórica realizada pelo pesquisador para abordar
o objeto de estudo.

3.3  Pesquisa Científica


A pesquisa pode ser definida como o “(...) procedimento racional e sistemático
que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propos-
tos. A pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, des-
de a formulação do problema até a apresentação e discussão dos resultados”
(GIL, 2007).
Uma pesquisa só é iniciada na existência de uma pergunta para a qual se
deseja buscar a resposta. Pesquisar, é portanto, buscar ou procurar resposta
para alguma questão. Os motivos que levam à concretização de uma pesquisa
científica podem ser divididos em razões intelectuais (desejo de conhecer pela
própria satisfação de conhecer) e razões práticas (desejo de conhecer com vis-
tas a fazer algo de maneira mais eficaz). Para se fazer uma pesquisa científica,
não basta o desejo do pesquisador em realizá-la; é fundamental que tal pes-
quisador tenha conhecimento do assunto a ser investigado, além de possuir
recursos humanos, materiais e financeiros. A visão romântica de que o pes-
quisador é aquele que inventa e promove descobertas por ser genial é ilusória
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009).
Silveira e Córdova (2009) referem-se a pesquisa como sendo a atividade nu-
clear da Ciência que possibilita uma aproximação e um entendimento da rea-
lidade a investigar. Esses pesquisadores defendem ainda que a pesquisa é um
processo permanentemente inacabado. Processa-se por meio de aproximações
sucessivas da realidade, fornecendo-nos subsídios para uma intervenção no
real.

LEITURA
capítulo 3 • 67
Leia o livro “O ponto de mutação” ou assista ao filme com o mesmo nome, de autoria de Fritjof
Capra, físico austríaco, que retrata a história do pensamento científico visando-se apoiar a
ideia de que é preciso quebrar as bases da ciência moderna, embasada no sistema mate-
mático cartesiano, que considera o mundo como uma máquina perfeita a serviço do homem.

3.3.1  Classificação da pesquisa

De acordo com a grande variedade de tipos de pesquisas, são várias as classifi-


cações dadas à pesquisa científica, sendo as principais as seguintes:
•  Quanto a abordagem;
•  Quanto a natureza;
•  Quanto aos objetivos;
•  Quanto aos procedimentos.

Com relação a abordagem, a pesquisa científica pode ser classificada em


três tipos básicos: qualitativa, quantitativa e um misto dos dois tipos.
A pesquisa qualitativa, não se atém à representatividade numérica, mas,
sim, ao aprofundamento do entendimento de um grupo social, de uma organi-
zação, de uma cidade, entre outros. Os pesquisadores que se baseiam na abor-
dagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de
pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especifici-
dade, demandando uma metodologia própria (GOLDENBERG, 1997). Na abor-
dagem qualitativa, o cientista é concomitantemente o sujeito e o objeto de sua
pesquisa. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível e o objetivo da mesma
consiste em produzir informações profundas e ilustrativas, sejam elas poucas
ou muitas, o que importa é que por meio delas seja possível a obtenção de no-
vas informações.
A pesquisa quantitativa, opostamente à qualitativa, apresenta resultados
que podem ser quantificados. Visto que as amostras comumente são grandes
e consideradas representativas da população, os resultados são considerados
como sendo um retrato real de toda a população alvo da pesquisa. A pesquisa
quantitativa foca na objetividade. Influenciada pelo positivismo, afirma que
a realidade só pode ser entendida com base na análise de dados concretos,

68 • capítulo 3
obtidos com o uso de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quanti-
tativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenôme-
no, as relações entre variáveis, etc.
A utilização combinada da pesquisa qualitativa e quantitativa permite reco-
lher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente, ou seja, por
meio do uso de somente um dos dois tipos de pesquisa. Isso decorre do fato de
que tanto a pesquisa quantitativa quanto a pesquisa qualitativa apresentam di-
ferenças com pontos fracos e fortes. Contudo, os elementos fortes de um com-
plementam as fraquezas do outro, possibilitando a obtenção de um melhor re-
sultado. A tabela 3.1 apresenta uma comparação entre o método quantitativo e
o método qualitativo.

CURIOSIDADE
A ideia de que o conhecimento gerado na área das ciências exatas tem mais validade do que
o conhecimento produzido na área das ciências sociais e humanas ainda persiste, embora
muito se tenha evoluído. O famoso conceito do físico Galileu Galilei: “conhecer era o mesmo
que quantificar”, por muito tempo esteve presente na produção do conhecimento; dessa
forma, o método quantitativo, mesmo nas Ciências Sociais, era utilizado como único meio até
as discussões se iniciarem, na década de 1980, no Brasil, em torno da abordagem qualitativa
de pesquisa para a análise e investigação dos fenômenos humanos (PIETROBON, 2006).

ASPECTO PESQUISA QUANTITATIVA PESQUISA QUALITATIVA


Enfoque na interpretação do
Menor Maior
objeto
Importância do contexto do
Menor Maior
objeto pesquisado
Proximidade do pesquisador
em relação aos fenômenos Menor Maior
estudados
Alcance do estudo no tempo Instantâneo Intervalo maior
Quantidade de fontes de dados Uma Várias
Ponto de vista do pesquisador Externo a organização Interno a organização
Quando teórico e hipóteses Definidas rigorosamente Menos estruturadas

Tabela 3.1  –  Comparação entre o método quantitativo e o método qualitativo. Fonte: POLIT
et al., 2004.

capítulo 3 • 69
Tratando-se agora da classificação segundo a natureza, tem-se que a pesqui-
sa pode ser do tipo “básica” ou “aplicada”, sendo que a primeira, a educação bá-
sica, visa gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência de interes-
se universal, sem aplicação prática prevista. Já a pesquisa aplicada, apresenta
como finalidade a geração de conhecimentos para aplicação prática, voltados à
solução de problemas específicos de interesses locais (SILVEIRA E CÓRDOVA,
2009).
A classificação da pesquisa científica com base nos objetivos a divide em
três tipos: exploratória, descritiva e explicativa a serem discutidas em seguida
(CASTRO, 1976).
A pesquisa exploratória tem como finalidade proporcionar maior familia-
ridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hi-
póteses. A grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento biblio-
gráfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o
problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreen-
são. Essas pesquisas podem ser classificadas como: pesquisa bibliográfica e es-
tudo de caso (GIL, 2007). Segundo Selltiz e colaboradores (1965), encontram-se
na categoria de pesquisas exploratórias todas aquelas que buscam desvendar
ideias e intuições, na tentativa de adquirir maior familiaridade com o fenôme-
no pesquisado. Nem sempre existe a necessidade de formulação de hipóteses
nesse tipo de pesquisa. Eles possibilitam incrementar o conhecimento do pes-
quisador sobre os fatos, resultando na formulação mais precisa de problemas,
criação de novas hipóteses e realização de novas pesquisas mais estruturadas.
Nesta abordagem, o planejamento da pesquisa precisa ser flexível o bastante
para permitir a análise dos inúmeros aspectos relacionados ao fenômeno. Já
para Zikmund (2000), os estudos exploratórios, comumente, são muito pro-
veitosos para diagnosticar situações, explorar alternativas ou descobrir novas
ideias. Essas pesquisas são conduzidas durante a fase inicial de um processo
de pesquisa mais amplo, em que se busca esclarecer e definir a natureza de um
problema e produzir mais informações que possam ser adquiridas para a reali-
zação de pesquisas conclusivas futuras.
A pesquisa descritiva demanda do pesquisador uma série de informações
sobre objeto de estudo. Esse tipo de pesquisa tem como finalidade a descrição
dos fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). Para Gil
(1999), as pesquisas descritivas têm como meta principal a descrição das ca-
racterísticas de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de

70 • capítulo 3
relações entre variáveis. São várias as pesquisas que podem ser inclusas nesta
classificação sendo que uma de suas características mais significativas aparece
no emprego de técnicas padronizadas de coleta de dados. Esse tipo de pesqui-
sa, segundo Selltiz et al. (1965), visa descrever um fenômeno ou situação em
detalhe, especialmente o que está ocorrendo, permitindo englobar, com exati-
dão, as características de um indivíduo, uma situação, ou um grupo, bem como
desvendar a relação entre os eventos.
Por último, a pesquisa explicativa tem como finalidade a identificação dos
fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência de um fenômeno.
A pesquisa explicativa é a que explora de forma mais profunda o conhecimento
da realidade, já que mediante a mesma tenta-se explicar a razão e as relações
de causa e efeito dos fenômenos (GIL, 1999). Para Lakatos & Marconi (2001),
este tipo de pesquisa apresenta como objetivo o estabelecimento de relações de
causa-efeito por meio da manipulação direta das variáveis referentes ao objeto
de estudo, buscando identificar as causas do fenômeno. Comumente, é mais
realizada em laboratório do que em campo.

PERGUNTA
E a classificação da pesquisa quanto ao seu procedimento? Você imagina como ela é feita?

A classificação relacionada ao procedimento separa as pesquisas em doze


tipos distintos: 1) experimental, 2) bibliográfica, 3) documental, 4) de campo,
5) ex-post-facto, 6) de levantamento, 7) com SURVEY, 8) estudo de caso, 9) par-
ticipante, 10) pesquisa-ação, 11) etnográfica, 12) etnometodológica. A seguir
encontram-se expostas as principais caraterísticas de cada uma dessas classes:

consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as


PESQUISA variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as for-
EXPERIMENTAL mas de controle e de observação dos efeitos que a variável
produz no objeto (GIL, 2007);

capítulo 3 • 71
é realizada mediante o levantamento de referências teóricas
já estudadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos,
como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Esse
PESQUISA tipo de pesquisa é embasada unicamente na pesquisa biblio-
BIBLIOGRÁFICA gráfica, buscando referências teóricas publicadas visando a
obtenção de informações ou conhecimentos prévios a res-
peito do problema alvo de investigação (FONSECA, 2002);

assim como a bibliográfica, faz uso de fontes constituídas por


material já elaborado, englobando livros e artigos científicos,
somados as mais diversas fontes, utilizadas sem tratamento
PESQUISA analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, rela-
DOCUMENTAL tórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas,
tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de te-
levisão, etc. A imensa diversidade de fontes é o que diferencia
a pesquisa documental da bibliográfica (FONSECA, 2002);

CONCEITO
Segundo Heerdt e Leonel (2007) a diferença entre a pesquisa bibliográfica e a documental está,
essencialmente, no tipo de fonte que cada uma utiliza. Enquanto a pesquisa documental faz uso de
fontes primárias, a pesquisa bibliográfica utiliza fontes secundárias. As fontes primárias consistem
nas seguintes: documentos oficiais, publicações parlamentares, publicações administrativas, docu-
mentos jurídicos, arquivos particulares, fontes estatísticas, iconografia, fotografais, canções folclóri-
cas, estátuas, cartas, autobiografia e diário. Já as fontes secundárias tratam-se de: livros, boletins,
jornais, monografias, teses e dissertações, artigos em fontes de papel e em meio eletrônico, revistas,
material cartográfico, anais de congresso, relatórios de pesquisa, publicações avulsas.

72 • capítulo 3
é um tipo de estudo que visa o aprofundamento
de uma realidade específica. É realizada median-
te a observação direta das atividades do grupo
PESQUISA DE CAMPO objeto de estudo e de entrevistas com informantes
que captam as explicações e interpretações do
que acontece naquele meio (HEERDT; LEONEL,
2007);

tem como finalidade investigar possíveis relações


de causa e efeito entre um determinado fato
identificado pelo pesquisador e um fenômeno que
PESQUISA ocorre posteriormente. A principal distinção deste
EX-POST-FACTO tipo de pesquisa consiste no fato de os dados se-
rem recolhidos depois da ocorrência dos eventos
(SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009);

de acordo com Gil (2002) “[...] caracterizam-se


pela interrogação direta das pessoas cujo com-
portamento se deseja conhecer. Basicamente,
PESQUISAS DE procede-se à solicitação de informações a um
LEVANTAMENTO grupo significativo de pessoas acerca do proble-
ma estudado para, em seguida, mediante análise
quantitativa, obterem-se as conclusões correspon-
dentes aos dados pesquisados.”;

pode ser definida como sendo a obtenção de


dados ou informações a respeito de características
PESQUISA COM ou as opiniões de grupo de pessoas específico,
SURVEY apontado como representante de uma população
-alvo, mediante o uso de um questionário como
instrumento de pesquisa (FONSECA, 2002).

capítulo 3 • 73
programa, uma instituição, um sistema educativo,
uma pessoa, ou uma unidade social. Apresenta
como finalidade a de conhecer profundamente a
PESQUISA DE UMA forma e o motivo da ocorrência de uma determina-
ENTIDADE da situação que se supõe ser única em muitos as-
pectos, buscando-se descobrir o que existe nela de
mais essencial e característico (FONSECA, 2002).

PESQUISA caracteriza-se pelo envolvimento e identificação


PARTICIPANTE do pesquisador com as pessoas investigadas;

CURIOSIDADE
A pesquisa participante foi inventada pelo antropólogo polaco Bronislaw Malinowski, que
em 1915, com o objetivo de conhecer melhor os nativos das ilhas Trobriand, ele foi se tornar
um deles. Rompendo com a sociedade ocidental, armava sua tenda nas aldeias que queria
pesquisas, aprendia suas línguas e observava seu dia-a-dia e coletava, da forma mais real
possível, os dados da sua pesquisa.

implica em uma participação planejada do pesqui-


sador na situação problemática a ser investigada. O
pesquisador, ao participar na ação, traz consigo uma
série de conhecimentos que serão o substrato para a
PESQUISA-AÇÃO realização da sua análise reflexiva sobre a realidade
e os elementos que a compõe. A reflexão sobre a
prática resulta em modificações no conhecimento do
investigador;

PESQUISA aquela que tem como finalidade realizar estudo de


ETNOGRÁFICA um grupo de pessoas ou um povo;

74 • capítulo 3
apresenta como objetivo o de compreender como as
PESQUISA pessoas constroem ou reconstroem a sua realidade
ETNOMETODOLÓGICA social.

CONCEITO
O termo “etnometodologia” significa, de acordo com as suas raízes gregas, o estudo das
estratégias que as pessoas utilizam cotidianamente para viver, fato este que justifica a busca
da pesquisa etnometodológica

3.2.3. Elaboração da pesquisa


Na área da pesquisa científica, o que é realmente importante, acima de
tudo, é que uma boa pesquisa é aquela que busca pela verdade. Não a verdade
absoluta, estabelecida uma vez por todas pelos dogmas, mas sim uma verdade
que se permite questionar e que se aprofunda incessantemente pelo desejo do
pesquisador de compreender de forma mais justa a realidade na qual vivemos
e que construímos.
Para que a articulação das etapas de elaboração de uma pesquisa possa ser
compreendida, Quivy e Campenhoudt (1995) recorrem aos princípios contidos
nos três eixos de uma pesquisa e da lógica que os une:
•  A ruptura: O primeiro eixo necessário para realização de uma pesquisa
trata-se da ruptura. A bagagem “teórica” do pesquisador representa várias ar-
madilhas à qualidade da pesquisa a ser realizada, já que grande parte de suas
ideias são inspiradas em aparências imediatas ou em partidarismos. Este passo
demanda o rompimento com as ideias preconcebidas e com as falsas evidên-
cias do pesquisador;
•  A construção: A construção de novas propostas explicativas do objeto em
estudo, das operações necessárias a serem colocadas em prática e dos resulta-
dos esperados ao final da pesquisa são a base desse eixo. Sem esta construção
teórica, não há pesquisa válida;
•  A constatação: Uma proposta de pesquisa merece o status científico
quando ela é suscetível de ser verificada por meio de informações concretas.
Tal verificação é chamada de constatação ou experimentação.

capítulo 3 • 75
Os três eixos da pesquisa científica são dependentes uns dos outros, ou seja,
a ruptura não é realizada somente no início da pesquisa, mas sim também du-
rante a construção da pesquisa. De forma análoga, a construção não pode acon-
tecer sem a ruptura necessária, nem a constatação, pois a qualidade desta está
intimamente ligada à qualidade da construção da pesquisa. No desenvolvimen-
to real de uma pesquisa, os três eixos metodológicos são realizados ao longo
de uma sucessão de operações distribuídas em sete etapas (GERHARDT, 2009):
1. Formulação da questão inicial;
2. Exploração da questão inicial;
3. Elaboração da problemática;
4. Construção de um modelo de análise;
5. Coleta de dados;
6. Análise das informações;
7. Conclusões.

Após apresentação das etapas necessária para elaboração de uma pesquisa,


o tema a ser abordado a seguir consiste na estruturação de uma pesquisa, ou
seja, do documento que dirige e resume o processo investigativo, chamado de
o “projeto de pesquisa”.

3.4  Projeto de Pesquisa


A estruturação de um Projeto de Pesquisa varia bastante, de acordo com as exi-
gências da Instituição para a qual o projeto está sendo realizado, porém a estru-
tura básica de um projeto de pesquisa deve conter:

3.4.1  Título do projeto

O título do projeto é muito importante, pois consiste em um dos principais


meios pelos quais outros pesquisadores terão acesso à sua pesquisa. Portanto,
o uso de conceitos e expressões claras é indicado. Além disso, um bom título
deve ser breve, claro e objetivo, sem a inclusão de detalhes do estudo.

76 • capítulo 3
3.4.2  Introdução

A introdução deve contemplar de forma breve as pesquisas já realizadas acerca


do tema a ser pesquisado, ou de temas próximos, no contexto da disciplina em
que a pesquisa se desenvolve; bem como a sua viabilidade e o motivo da escolha
por aquele tema.
É bastante comum, porém, encontrar projetos de pesquisa que apresentam a jus-
tificativa, que segundo os critérios habituais deve apresentar a relevância e a originali-
dade do projeto a ser desenvolvido, como parte de sua introdução, assim como os ob-
jetivos, que também podem ser apresentados em item separado, após a introdução.
De forma usual, os projetos de pesquisa incluem objetivos gerais e especí-
ficos em tópico separado dispostos logo após a introdução. Os objetivos gerais
são aqueles relacionados aos resultados mais importantes e abrangentes que
pretende-se alcançar. Já os objetivos específicos devem representar o que dese-
ja-se atingir até a conclusão da pesquisa. Ressalta-se que a redação dos objeti-
vos deve ser também bastante concisa e direta.

CONCEITO
Você já reparou que normalmente os “objetivos” presentes em um projeto de pesquisa come-
çam sempre com um verbo. Porém, que verbo usar? Doxsey e De Riz (2003) definiram quais
verbos usar de acordo o tipo de pesquisa que está sendo realizada: em uma pesquisa explo-
ratória, o objetivo geral começa pelos verbos conhecer, identificar, examinar, levantar e des-
cobrir; em uma pesquisa descritiva, utilizam-se os verbos caracterizar, descrever e traçar; e,
em uma pesquisa explicativa, empregam-se os verbos analisar, avaliar, verificar, explicar, etc.

3.4.3  Revisão Bibliográfica

A revisão bibliográfica deve apresentar resumidamente as principais ideias,


críticas, dúvidas e conclusões já expostas por outros autores que investigaram
previamente o tema alvo do projeto de pesquisa a ser realizado. A inclusão do
fator diferencial da sua pesquisa bem como da forma pela qual ela irá contri-
buir para a ciência em que a mesma se enquadra é essencial para integração da
revisão bibliográfica do projeto.

capítulo 3 • 77
Veiga (1996) define a revisão bibliográfica de um projeto de pesquisa como
sendo a sistematização do conhecimento científico acumulado sobre o tema
específico do seu projeto. Para realização da escolha do tema do projeto, o pro-
cesso de revisão de literatura já foi forçosamente começado. A diferença é que,
neste tópico do projeto de pesquisa, deve-se apresentar um texto bem articula-
do e bem concentrado no tema específico escolhido.

3.4.4  Procedimentos metodológicos

Os procedimentos metodológicos, muitas vezes chamados de “Materiais e Mé-


todos: ou somente “Métodos”, incluem tanto os tipos de pesquisa quanto as
técnicas de coleta e análise de dados. Também abrangem os procedimentos
éticos para pesquisas que envolvem seres humanos. Apontam como realizar a
pesquisa, a partir da descrição detalhada de todas as suas etapas e dos procedi-
mentos que serão empregados em cada uma delas.
A Metodologia também é definida como o caminho traçado para atingir os
objetivos do projeto. Em alguns casos, como nas ciências exatas ou biológicas,
já existem metodologias convencionais que podem ser vistas como um conjun-
to de procedimentos replicáveis em qualquer situação por pesquisadores dis-
tintos. Em contrapartida, algumas pesquisas relacionadas ao meio ambiente,
que envolvem diversos campos do conhecimento, não apresentam metodolo-
gias preestabelecidas. Neste caso, elabora-se um conjunto de procedimentos
que, articulados numa ordem lógica, permitam alcançar os objetivos preesta-
belecidos pelo projeto. É fundamental se atentar à coerência lógica dos proce-
dimentos empregados e a sua relação com os objetivos do projeto. Quando os
objetivos específicos encontram-se claramente definidos a elaboração da me-
todologia de um projeto de pesquisa é muito facilitada.

3.4.5  Cronograma

Trata-se da apresentação do plano de execução das atividades descritas na me-


todologia do projeto. O cronograma é comumente exposto na forma um qua-
dro ou tabela, onde constam as atividades que serão desempenhadas e os me-
ses em que as mesmas serão realizadas. A marcação de tais atividades costuma
ser feita utilizando-se um X.

78 • capítulo 3
3.4.6  Referências Bibliográficas

As referências bibliográficas, também denominadas de bibliografia, consistem


em lista em ordem alfabética das obras que foram usadas para a elaboração de
seu projeto de pesquisa. O tópico em questão tem como objetivo expor toda
a bibliografia citada e/ou consultada, para que todos os leitores do projeto de
pesquisa possam consultar os materiais mencionados. Este tópico localiza-se
no final do projeto e as referências devem ser elaboradas de acordo com as nor-
mas oficiais que constam no site da ABNT, disponível no seguinte link: http://
www.usjt.br/arq.urb/arquivos/abntnbr6023.pdf

3.5  Técnicas de coleta, análise e interpretação


de dados.

A coleta de dados é a busca por informações para o entendimento/explicação


do fenômeno ou fato que o pesquisador quer descobrir. Salienta-se que os ins-
trumentos técnicos a serem usados pelo investigador para o registro e a medi-
ção dos dados deverá satisfazer aos seguintes requisitos: validez, confiabilida-
de e precisão.
A realização da coleta de dados resulta na obtenção das mais variadas res-
postas; sendo assim, para que a análise de tais dados seja passível de ser efeti-
vada adequadamente, os referidos devem ser organizados mediante o seu agru-
pamento em certo número de categorias.
Os tipos de técnicas de coleta de dados ou instrumentos de coleta de dados
variam de acordo com a classe da pesquisa que se pretende realizar. Pesquisas
bibliográficas e documental têm seus dados coletados a partir de fontes escri-
tas já consagradas, como artigos e livros, diferentemente das pesquisas experi-
mentais, que por muitas vezes recorrem a um instrumento simples de anota-
ções, como um caderno de laboratório utilizado pelo investigador em seu dia
a dia de pesquisa, onde todas as suas observações de fatos concretos, fenôme-
nos, acontecimentos, relações verificadas, suas reflexões e comentários encon-
tram-se descritos.

capítulo 3 • 79
CONCEITO
É importante observar que métodos e técnicas se relacionam, porém se tratam de dois ter-
mos distintos. O método consiste em um plano de ação, composto por um conjunto de etapas
dispostas de forma ordenada, que visam realizar e antecipar uma atividade na busca de um
resultado, enquanto que a técnica refere-se ao modo com que tal atividade é realizado. O
primeiro está relacionado à estratégia e o segundo à tática. Para melhor compreensão da
diferença entre método e técnica faz-se necessário entender que o método refere-se a forma
pela qual obteve-se o cumprimento de um objetivo, enquanto que a técnica faz referência à
operacionalização do método. As técnicas adotadas em pesquisa estão, geralmente, relacio-
nadas a coleta de dados, ou seja, com a parte prática da mesma (FACHIN, 2001).

Com relação à análise dos dados, tem-se que essa é feita visando-se organi-
zar os dados de uma forma que possibilite o fornecimento de respostas para
o problema proposto no projeto de pesquisa. Em uma pesquisa qualitativa, a
análise dos dados é feita simultaneamente com a coleta de dados, por meio de
análise de conteúdo, de discurso, entre outros. Diferentemente das pesquisas
qualitativas, os dados de uma pesquisa quantitativa são, de forma usual, anali-
sados via análise estatística, que implica no processamento de dados, mediante
a geração (empregando-se de cálculo matemático), a apresentação (em gráficos
ou tabelas) e da interpretação. A descrição das variáveis é imprescindível como
um passo para a adequada interpretação dos resultados de uma investigação.
Segundo Triviños (1987), o processo de análise dos dados pode ser realiza-
do seguindo-se a sequência de etapas: pré-análise (organização do material),
descrição analítica dos dados (codificação, classificação, categorização), inter-
pretação referencial (tratamento e reflexão). Rauen (1999) afirma que o objetivo
da análise é resumir as observações, de modo que estas forneçam respostas às
perguntas da pesquisa. O mesmo autor ainda defende que objetivo da inter-
pretação é a busca do sentido mais amplo de tais respostas, por meio de sua
ligação com outros conhecimentos já obtidos
A análise e a interpretação de dados constam na apresentação dos resulta-
dos obtidos no decorrer da pesquisa e na análise do cumprimento dos objetivos
e/ou das hipóteses. Dessa forma, a apresentação dos dados é a evidência das
conclusões e a interpretação consiste no contrabalanço dos dados com a teoria
(RAUEN; 1999).

80 • capítulo 3
Ressalta-se que tanto os processos de análise quanto os de interpretação va-
riam de maneira significativa de acordo com os diferentes tipos de pesquisa.
Enquanto que nas pesquisas experimentais, bem como nas pesquisas de levan-
tamento, a identificação e ordenação dos passos a serem seguidos trata-se de
tarefa simples, nos estudos de caso o mesmo não ocorre, devido ao fato de que
esse tipo de pesquisa não apresenta esquema rígido de análise e interpretação.

ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre método e técnica?

02. O que é e qual a importância do projeto de pesquisa no contexto da pesquisa científica?

03. Avalie a afirmação a seguir, verifique se ela é verdadeira ou falsa e justifique a sua
resposta. “A classificação dos tipos de pesquisa só é possível mediante o estabelecimento
de um critério. Se classificarmos as pesquisas levando em conta os objetivos, teremos três
grandes grupos: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa experimental”.

04. Assinale V para verdadeiro e F para falso:


( Na introdução devemos apresentar os resultados da pesquisa.
( A metodologia da pesquisa, além de estar mencionada na introdução, pode ter um ca-
pítulo a parte dentro do trabalho.
( Os objetivos mencionados na introdução devem ser operacionalizados no desenvolvi-
mento do trabalho.
( O desenvolvimento é a parte mais extensa do trabalho e está sempre dividido em partes.
( A conclusão deve detalhar aspectos novos que não foram trata- dos no desenvolvimento.

REFLEXÃO
Neste capítulo você estudou o conceito e os principais elementos que compõem uma pes-
quisa científica. Foi abordado também no presente capítulo a importância da metodologia
científica para compreensão do debate científico. Por meio dela você desenvolverá habilida-
des para elaborar e realizar de pesquisas, bem como produzir posteriormente trabalhos cien-

capítulo 3 • 81
tíficos. Ela servirá, igualmente, de subsídio para que você prepare seus trabalhos de forma
adequada, assim como, pesquisas e monografias de outras disciplinas do curso, garantindo a
qualidade necessária para que você obtenha um bom desempenho acadêmico.

LEITURA
Para mais informações a respeito da elaboração de projetos de pesquisa, leia o livro “Como
elaborar projetos de pesquisa” (GIL, 2002). O objetivo deste livro consiste em justamente au-
xiliar os estudantes e profissionais na elaboração de projetos de pesquisa, embora o mesmo
contemple também alguns aspectos teóricos que envolvem o processo de criação científica.
Leia também o material elaborado por Carlos Rodrigues Brandão (1999) intitulada de “O
afeto da terra”. Tal livro contempla um interessante e raro exemplo de diário de campo. Para
os interessados em saber mais sobre as relações entre os homens e os seres da natureza
no mundo rural, vale a pena ler!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, C. R. O afeto da terra: imaginários, sensibilidades e motivações de relacionamentos
com a natureza e o meio ambiente entre agricultores e criadores sitiantes do bairro dos Pretos, nas
encostas paulistas da serra da Mantiqueira, em Joanópolis / SP. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1999.
CASTRO, C. M. Estrutura e apresentação de publicações científicas. São Paulo: McGraw-Hill,
1976.
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1997.
DIO, R. A. T. D. Prefácio à edição brasileira. In: CAMPBELL, D. T.; STANLEY, J. C. Delineamentos
experimentais e quase-experimentais de pesquisa. São Paulo: EPU, 1979.
DOXSEY J. R.; DE RIZ, J. Metodologia da pesquisa científica. ESAB – Escola Superior Aberta do
Brasil, 2002-2003. Apostila
ECO, U. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1977.
FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila
GERHARDT, T. E. A construção da pesquisa. In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de
pesquisa. Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRG– Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. Universidade Aberta do Brasil – UAB/
UFRG– Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.

82 • capítulo 3
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999
______. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007
HEERDT, M. L; LEONEL, V. Metodologia científica e da pesquisa. 5. ed. rev. e atual. Palhoça: Unisul
Virtual, 2007.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991.
MORIN, E. Ciência com consciência. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
PIETROBON, S. R. G. A prática pedagógica e a construção do conhecimento científico. Práxis
Educativa, Ponta Grossa, v. 1, n. 2, p. 77-86, 2006
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enferma- gem: métodos,
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QUIVY, R.; CAMPENHOUDT, L. V. Manuel de recherche en sciences sociales. Paris: Dunod, 1995.
RAUEN, F. J. Elementos de iniciação à pesquisa. Rio do Sul: Nova Era, 1999.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa cientifica. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 1980.
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SILVEIRA, D. T; CÓRDOVA, F. P. A pesquisa científica. In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos
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TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação.
São Paulo: Atlas, 1987.
VEIGA, J. L. Como elaborar seu projeto de pesquisa, 1996.
ZIKMUND, W. G. Business research methods. 5.ed. Fort Worth, TX: Dryden, 2000.

capítulo 3 • 83
84 • capítulo 3
4
Projeto de
Pesquisa: Estrutura
e Etapas
Neste capítulo iremos aprender a importância da realização de pesquisa, quais
são suas principais etapas, e para quais perguntas podemos realmente em-
preender pesquisas a fim de respondê-las.
Além disso, iremos compreender a importância de se realizar os projetos
para obter êxito nas pesquisas e de que maneira isso deve ser feito. Por isso,
veremos a estrutura dos projetos, elementos essenciais a sua composição além
da importância na administração da pesquisa.

OBJETIVOS
Após este capítulo, esperamos que você seja capaz de:
•  Compreender os fundamentos básicos da pesquisa;
•  Saber diferenciar os tipos de pesquisa;
•  Estruturar um projeto de pesquisa;
•  Identificar e descrever as principais partes de um projeto.

86 • capítulo 4
4.1  Definição de Pesquisa
“Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem
como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos” (GIL,
2010, p.1). Apesar de ser uma atividade fundamental para fins acadêmicos e
comerciais, não existe um consenso acerca de sua definição exata, porém há
uma concordância relativa a algumas características específicas que devem es-
tar presente na definição de pesquisa, como a existência de caráteres investi-
gativo, sistemático e metódico além de consistir em um trabalho em ordem do
aumento do conhecimento (COLLINS; HUSSEY, 2005).
A pesquisa é desenvolvida a partir do momento em que não se possui a in-
formação desejada ou ainda, quando esta existe, porém é organizada de manei-
ra desordenada. A necessidade de conhecer essa informação leva o pesquisa-
dor a utilizar-se dos conhecimentos disponíveis e de técnicas de investigação
para obter a informação desejada, passando por diversas fases que vão desde a
formulação correta do problema de pesquisa até a apresentação dos resultados
(GIL, 2010).
Em nosso dia a dia, a pesquisa está presente, uma vez que o tempo todo es-
tamos procurando novas informações sobre algum tema específico. Por exem-
plo, uma ida ao cinema exige alguma pesquisa sobre horários e locais além de
sobre o próprio filme de maneira a descobrir se este está de acordo ao seu gosto
e expectativa. Na história, existem registros de comerciantes no período Antigo
que realizavam pesquisas a fim de compreender os gostos de seus clientes po-
tenciais e adaptar a sua mercadoria para estas preferências (HAIR et. al., 2005).

4.2  Necessidade de Realizar Pesquisas


Assim que nasce, o ser humano inicia seu contato com diversos tipos de coi-
sas que o cercam e causam estímulos externos. As civilizações mais antigas já
compreendiam que o conhecimento só é possível através das percepções, pois
nenhuma imagem poderia estar armazenada no intelecto sem que houvesse
passado pelos sentidos. Assim, o homem, ao receber um estímulo do mundo
externo, capta essa sensação e forma uma imagem em sua consciência (MAR-
TINS, 2007).

capítulo 4 • 87
Para a nossa natureza, apenas receber conhecimentos não é o bastante. A
humanidade tem como característica inata a indagação das coisas que o cer-
cam, pois sempre procura solucionar o oculto, o enigmático ou os mistérios por
meio de estudos e investigações. O homem, por características naturais, não se
contenta com as percepções recebidas e passa a ser uma figura produtora de co-
nhecimento. Com o passar do tempo, foram desenvolvidas técnicas e procedi-
mentos padrões a serem empregados na atividade investigativa e em pesquisas
que possibilitam atingir os objetivos gerais do estudo. (MARTINS, 2007).
Diversos são os motivos pelos quais se realizam pesquisas, mas estes são
usualmente divididos em dois grandes grupos: os de ordem intelectual e os de
ordem prática. No primeiro, conhecido como pesquisa “pura”, a busca é pelo
conhecimento em si, ou seja, em saber por querer aprofundar o conhecimento
naquele assunto, ao passo que no segundo, denominado “aplicada”, a resposta
procura solucionar uma questão prática a fim de auxiliar a tornar uma ativida-
de mais eficiente. Ainda que sejam terminologias comuns nas áreas de pesqui-
sa, a ciência trata as duas da mesma maneira uma vez que estão interligadas e
não há diferenciação prática (GIL, 2010).
Nesse sentido, é importante frisar também que a humanidade deve buscar
o conhecimento científico na medida em que este é um impulso para que os
seres humanos não se tornem passivos e sujeitos aos fatos e objetos, sem que
possua um poder de ação ou de controle. Dessa maneira, deve procurar desen-
volver análises sistemáticas e metódicas, aonde consiga explicar a ocorrência
de fenômenos através de leis gerais, elevando o seu grau de compreensão das
coisas do universo (MARTINS; THEÓPHILO; 2007).
Como recorda Richardson (2008), embora o pesquisador possa realizar os
estudos em benefício próprio, o objetivo imediato da pesquisa social é a aqui-
sição de conhecimento. Assim, de acordo com o autor, os projetos de pesquisa
devem ser orientados para três pilares: resolução de problemas, onde o foco é
descobrir a solução para uma situação pontual, formulação de teorias, onde
pesquisas exploratórias tentam explicar a relação entre fenômenos e por fim,
teste de teorias já existentes, onde a busca é por melhorar teoremas existentes.
É por meio do trabalho de pesquisa que indivíduos podem identificar pro-
blemas e investiga-los a fim de encontrar as soluções. Montando um projeto de
pesquisa é possível aplicar a teoria conhecida e existente junto a um problema
ou ainda explorar questões mais gerais, sempre com o foco na solução do pro-
blema de pesquisa. São comuns alguns objetivos de pesquisa como a revisão

88 • capítulo 4
do conhecimento existente, investigação de uma situação atual, fornecimento
de soluções para um problema, análise de questões genéricas, criação de no-
vos procedimentos, explicação de novos fenômenos, criação de novos conheci-
mentos ou a combinação de diversos itens (COLLINS; HUSSEY, 2005).
A necessidade de realizar pesquisa está ligada a característica inata que o
ser humano possui de realizar indagações uma vez que este não se contenta
apenas em absorver o conhecimento que o cerca. A sua natureza investigativa
levou ao desenvolvimento de pesquisas e de teorias sobre métodos e técnicas
adequados para o desenvolvimento destas. Constantemente, o homem busca
o conhecimento a fim de não tornar-se passivo daquilo que o cerca e poder de
alguma maneira possuir um poder de ação aos fenômenos que lhe interessa.

4.3  Recursos Necessários para Pesquisa


Usualmente, os problemas que servem como base as pesquisas surgem a partir
de teorias, ou como resultado das observações, ou como a identificação de la-
cunas nestas ou ainda na incompatibilidade dentre duas teorias. Dessa forma,
percebe-se que as pesquisas científicas estão estritamente relacionadas com
o conhecimento de base dentro da área representado pelas teorias que fun-
cionam como diretrizes para as publicações do campo. Consequentemente, é
fundamental para que a pesquisa ocorra, a revisão bibliográfica sobre o tema
através da familiarização das teorias chaves e das pesquisas recentes em geral
(ALVES-MAZZOTI; GEWANDSZNAJDER; 1999).
Outra característica necessária para o bom andamento da pesquisa parte
exatamente de seu autor. Em nosso sistema educacional tradicional, somos
acostumados a aceitar o que está nos livros e mentes dos especialistas, sem cri-
ticar o indagar a origem disso. Porém o pesquisador deve possuir uma atitude
autocrítica perante o seu trabalho, sempre preocupado com a veracidade de
sua publicação e de que maneira isso pode ser mensurado. Essa atitude permi-
te grandes avanços no campo do conhecimento tratado, pois permite o questio-
namento das abordagens realizadas (RICHARDSON, 2008).
Além da autocrítica uma série de outras qualidades e habilidades são exi-
gidas pela pesquisa para que um bom trabalho seja feito. Pode ser que o pes-
quisador já possua algumas características naturalmente, mas outras tantas

capítulo 4 • 89
deverão ser adquiridas durante o processo. A figura a seguir traz um esquema
das qualidades e habilidades necessárias além de explicações sobre cada uma
das características levantadas:

Capacidade de Capacidade
comunicação intelectual

Habilidades
relativas À
Indepêndencia Perseverança tecnologia da
informação

Habilidades
Motivação organizacionais

Figura 4.1  –  Qualidades e habilidades necessárias ao pesquisador. Fonte: Collins e Hussey


(2005)

presente no momento de expressar as ideias no


CAPACIDADE DE próprio trabalho da pesquisa ou ainda em etapas
COMUNICAÇÃO do projeto;

CAPACIDADE reunir diversas capacidades como conhecimento,


INTELECTUAL análise, síntese, a fim de compreender os dados;

HABILIDADES RELATIVAS Compreender e saber utilizar ferramentas como


À TECNOLOGIA DA editor de texto, sites de pesquisa, softwares esta-
INFORMAÇÃO tísticos, entre outros específicos a cada área;

90 • capítulo 4
HABILIDADES Saber organizar-se ao elaborar uma pesquisa é
ORGANIZACIONAIS preciso pois deve-se saber administrar o tempo;

A motivação deve partir de antes do início da


MOTIVAÇÃO pesquisa para que o pesquisador não possua um
sentimento de apenas querer terminar logo;

O pesquisador deve ser independente a ponto de


INDEPENDÊNCIA ser capaz de se motivar, se disciplinar e saber os
caminhos da pesquisa (COLLINS; HUSSEY, 2005).

Apesar da importância das qualidades e habilidades pessoais do pesqui-


sador, somente elas não são capazes de trazer bons resultados. Além desse
conjunto de características, é preciso que haja uma administração de recursos
materiais, financeiros e humanos uma vez que estes não são ilimitados para
nenhum processo de pesquisa. Embora em muitos casos o pesquisador possua
maior conhecimento em um campo de estudos bem distante da administra-
ção, obter recursos e administrá-los adequadamente é uma tarefa essencial da
pesquisa (GIL, 2010).
Como dito anteriormente, para que a pesquisa exista é necessária que haja
uma motivação para ela. Esta motivação parte da existência de uma situação,
denominada problema de pesquisa. Entretanto, não é qualquer problema que
possui caráter científico já que muitos deles procuram solucionar questões
práticas como a melhoria de eficiência ou o encontro da técnica mais adequa-
da. Problemas científicos envolvem afirmações passíveis de serem testadas
quando há uma verificação empírica (GIL, 2010).
Vimos, portanto, alguns elementos fundamentais para que a pesquisa te-
nha um andamento adequado. É necessário que o pesquisador agregue uma
série de habilidades e características próprias e seja capaz de utilizá-los ao seu
favor. Além disso, recursos de ordem financeira, humana e material são funda-
mentais e o pesquisador deve consegui-los e principalmente saber administrá-
-los. Por fim, a pesquisa só pode realmente existir caso haja uma indagação de
caráter científica.

capítulo 4 • 91
4.4  Tipos de Pesquisa
Como recorda Gil (2010), o ser humano naturalmente busca classificar dife-
rentes coisas de maneira a organizar melhor os assuntos e facilitar a sua com-
preensão sobre o tema. Quando se trata de pesquisas, não se foge a regra. A
classificação, como lembra o autor, busca aproximar o projeto de outros seme-
lhantes, maximizando o uso dos recursos e tornando a pesquisa mais eficiente.
Para isso, as pesquisas podem ser divididas de acordo com o campo do conhe-
cimento, a finalidade, os objetivos gerais e os métodos utilizados.
A divisão de acordo com a área de conhecimento é importante para órgãos
governamentais na elaboração e definição da priorização de políticas de pesqui-
sa. Assim, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) divide esses campos em sete grandes áreas: 1. Ciências Exatas e da
Terra; 2. Ciências Biológicas; 3. Engenharias; 4. Ciências da Saúde; 5. Ciências
Agrárias; 6. Ciências Sociais Aplicadas e 7. Ciências Humanas, as quais são pos-
teriormente segmentadas em menores classificações (GIL, 2010).
Outra classificação-padrão já tratada anteriormente, divide as pesquisas de
acordo com a existência ou não de uma questão prática a ser resolvida com pelo
objeto da pesquisa. A pesquisa básica ou pura procura elevar o entendimento
sobre uma questão genérica ao passo que a pesquisa aplicada procura a respos-
ta para um problema específico existente (COLLINS; HUSSEY, 2005).
Também é importante segmentar os trabalhos de acordo com a escolha do
método de análise, a qual é um dos pontos cruciais de um projeto de pesquisa.
As pesquisas quantitativas são focadas na coleta e mensuração de dados nu-
méricos através da utilização de testes estatísticos. Já as qualitativas possuem
maior subjetividade e o pesquisador deve analisar e refletir sobre as percepções
a fim compreender a atividade estudada (COLLINS; HUSSEY, 2005).
Uma popular maneira de classificar as pesquisas leva em conta os objetivos
gerais. Obviamente, cada pesquisa possui um intuito diferente de qualquer ou-
tra, porém de acordo com o seu propósito é possível segmentá-las em explora-
tórias, descritivas e explicativas:

São pesquisas com o intuito de tornar o tema mais fa-


PESQUISAS miliar e mais explícito, e até elaborar hipóteses acerca
EXPLORATÓRIAS dele (GIL, 2010);

92 • capítulo 4
São estudos que buscam descrever características de
PESQUISAS um grupo ou sociedade ou ainda relacionar duas ou
DESCRITIVAS mais variáveis dentro de uma população (GIL, 2010);

Trata-se do grupo de pesquisa que busca explicar a ra-


PESQUISAS zão do acontecimento de alguns fenômenos, buscando
EXPLICATIVAS aprofundar o conhecimento da realidade (GIL, 2010).

Gil (2010) ainda propõe a classificação das pesquisas por meio de suas di-
ferentes formas de delineamento. Por delineamento, entende-se a dimensão
mais ampla do planejamento da pesquisa, onde são considerados a metodo-
logia, os objetivos, o ambiente de pesquisa, e as técnicas de coleta e análise de
dados. A seguir será apresentado, de maneira resumida os tipos de pesquisas
propostos pelo autor:

é realizada com base em materiais multimídia já publi-


PESQUISA cados. Grande parte dos trabalhos possuem uma seção
BIBLIOGRÁFICA com esse delineamento (GIL, 2010);

comumente usada nos campos da História e Economia, ba-


PESQUISA seia-se em procurar informações em documentos, os quais
DOCUMENTAL são diferentes de materiais bibliográficos (GIL, 2010);

bastante utilizada em meios científicos, este delineamen-


to define um objeto de estudos e as variáveis capazes
PESQUISA de influenciá-lo, e, a partir de testes, definir as forma de
EXPERIMENTAL controle e observação dos efeitos das variáveis sobre o
objeto (GIL, 2010);

rata-se da aplicação de um tratamento por um investigador,


ENSAIO CLÍNICO onde este observa os efeitos sobre o objeto (GIL, 2010);

capítulo 4 • 93
são caracterizados por grupos de pesquisa que possuem
um atributo em comum e recebem um acompanhamento
ESTUDO DE CORTE do pesquisador ao longo de um período a fim de analisar
o que ocorre com os indivíduos (GIL, 2010);

neste método, o estudo é realizado de trás para frente,


ESTUDO ou seja, primeiro analisa-se a doença e depois procura-
CASO-CONTROLE se os fatores de exposição (GIL, 2010);

ocorre através da indagação direta a indivíduos perten-


centes de um grupo acerca do problema estudado, para
LEVANTAMENTO que em seguida, por meio de uma análise qualitativa,
obter as conclusões correspondentes (GIL, 2010);

consiste no estudo minucioso de um ou poucos objetos


onde é possível obter ampla compreensão do conheci-
ESTUDO DE CASO mento e relacioná-lo com hipóteses ou o desenvolvimen-
to de teorias (GIL, 2010);

procura conhecer a compreensão dos fenômenos pre-


PESQUISA sentes no mundo baseada na experiência dos indivíduos
FENOMENOLÓGICA (GIL, 2010);

desenvolvida para pesquisa acerca de sociedades sem


PESQUISA escrita, trata-se da coleta de informações em campo usa-
ETNOGRÁFICA da para descrição de elementos de uma sociedade, como
comportamentos, valores e ainda crenças (GIL, 2010);

surgida com o intuito de ser uma alternativa as pesqui-


sas sociais, esta teoria permite que o pesquisador colha
GROUNDED os dados referentes a um fenômeno e, após realizar o
THEORY tratamento destes, chegue a uma conclusão com teorias
fundamentadas (grounded) nos dados (GIL, 2010);

94 • capítulo 4
esta técnica não se limita a simplesmente pesquisar para
PESQUISA-AÇÃO gerar conhecimento mas procura também fomentar a
ação em comunidades ou organizações (GIL, 2010);

também distinta dos métodos tradicionais, este gênero


PESQUISA de pesquisa permite que a população discuta e con-
PARTICIPANTE sidere os seus principais problemas e os informe aos
pesquisadores, que irão estuda-los (GIL, 2010).

Por fim, outra classificação possível sobre as pesquisas diz respeito a ori-
gem das teorias testadas. No método dedutivo o pesquisador sabe da existência
de uma teoria genérica e resolve realizar o teste empírico, ao passo que o méto-
do indutivo o surgimento da teoria ou da hipótese vem de um caso específico
por meio da observação da realidade (COLLINS; HUSSEY, 2005).
Como visto, as pesquisas podem ser classificadas de acordo com diversos
critérios e, portanto, pertencem a mais de uma classe ao mesmo tempo. Em
projetos de longo prazo, inclusive, classificações concorrentes podem descre-
ver a pesquisa durante etapas distintas desta. Conhecer os tipos de pesquisa
permite que a elaboração dos projetos respeite critérios fundamentais e assim
possam preencher corretamente as lacunas a que se propõem.

4.5  Elaboração de um Projeto de Pesquisa


Projetar algo está ligado a expressar, seja por meio verbal, gráfico ou escrito, a
intenção ou a proposta de realizar uma ideia. O projeto deve traduzir o caminho
que o indivíduo deseja seguir a fim de cumprir a tarefa proposta. Portanto, se
uma pessoa toma uma decisão de cumprir algo, ela está realizando um projeto
pois mentalmente traçou um caminho a fim de atingir aquilo a que se propôs
(MARTINS, 2007).
“Pode-se considerar projeto como a representação oral, escrita, desenhada,
gráfica, modelada que, a partir de um motivo, gera a intenção numa pessoa de
realizar certa atividade usando meios adequados para alcançar determinada

capítulo 4 • 95
finalidade” (MARTINS, 2007, p. 34). O autor ainda propõe um quadro com estes
elementos básicos e algumas das principais formas em que aparecem em pro-
jetos de pesquisa:

POR QUÊ? O QUE? COMO? PARA QUE?


O MOTIVO
A INTENÇÃO A REALIZAÇÃO OS MEIOS O RESULTADO
Uma causa Gera intenção De realizar Utilizando Para atingir
motivadora em alguém alguma coisa certos meios a finalidade

Pode ser: Pode ser: Pode ser Podem ser: Pode ser:
Um interesse Conhecer/saber Um trabalho Métodos Aprendizagem
Uma necessidade Solucionar Um estudo Técnicas Soluções
Uma dificuldade Esclarecer Uma obra Estratégias Conhecimentos
Uma preocupação Resolver Uma pesquisa Hipóteses Explicação
Um problema Determinar Formal/informal Análise Bem material
Um assunto/tema Produzir algo Uma atividade Procedimentos Um serviço

Figura 4.2  –  Elementos do Projeto de Pesquisa. Fonte: Martins (2007).

Dessa maneira, é importante compreender que o projeto de pesquisa é uma


maneira de planejar os procedimentos a serem desenvolvidos no estudo com
a finalidade de encontrar as conclusões com maior assertividade. Ele contém
todas as informações acerca da estrutura e do caminho a ser seguido durante a
evolução da pesquisa (COLLINS; HUSSEY, 2005).
A elaboração de um projeto deve ser iniciada pela formulação do problema
de pesquisa. A definição dessa etapa, entretanto, não ocorre a esmo. É preciso
que antes disso o pesquisador já tenha definido o seu paradigma de pesquisa
e tenha realizado a leitura de importantes obras dentro do tema selecionado.
Ainda sim, existe o risco de que o problema selecionado não se encaixe com os
demais elementos e sejam necessárias algumas alterações (COLLINS; HUSSEY,
2005).

CONCEITO
Por paradigma de pesquisa, entenda um conjunto de métodos, técnicas e teorias amplamen-
te aceitos como formas de realizar a definição dos dados.

A visão geral do projeto é demonstrada na figura a seguir. A estrutura básica


de um projeto de pesquisa será tratada na seção 1.6.

96 • capítulo 4
Identificar o problema

Determinar o objetivo de pesquisa

Desenvolver uma estrutura teórica

Definir questões/hipóteses de pesquisa

Definir termos

Identificar limitações do estudo

Definir-se sobre a metodologia

Determinar o resultado esperado

Figura 4.3  –  Visão geral do projeto de pesquisa. Fonte: Collins e Hussey (2005).

Ainda que não seja possível definir uma estrutura engessada para escrever
projetos de pesquisa uma vez que estes defiram muito entre si, alguns itens são
essenciais em qualquer estrutura de tópicos adotada. Dentre os elementos pré-
textuais, a folha de rosto, (que deve conter o nome dos autores, título, subtítulo,
tipo de projeto e nome e cidade da entidade, e o ano de entrega), bem como
o sumário são elementos obrigatórios em qualquer projeto. Além disso, itens
opcionais como a capa, lombada, e lista de ilustrações, tabela de abreviaturas,
siglas e símbolos, são opcionais e podem ser usadas se assim desejarem os au-
tores. Já em relação aos elementos pós-textuais, as referências bibliográficas
são de ordem obrigatória e devem ser redigidas conforme norma da ABNT NBR
6023, ao passo que o apêndice, os anexos e o glossário são de caráter opcional.
(GIL, 2010).
Além de estruturar e administrar o estudo, o pesquisador deve estar tam-
bém atento a redação do texto uma vez que sua pesquisa será provavelmente,
avaliada por especialistas no assunto. Portanto, o texto deve conter algumas ca-
racterísticas básicas a fim de não fugir as regras, como ser impessoal, possuir
uma linguagem objetiva, clara e precisa, além de evitar longos períodos com di-
versas orações subordinadas. Deve-se sempre buscar uma redação que facilite
a compreensão do tópico abordado pelo leitor (GIL, 2010).

capítulo 4 • 97
4.6  Estrutura de um Projeto de Pesquisa
Como dito anteriormente, não existe uma estrutura única e engessada para a
formulação de projetos de pesquisa uma vez que é muito grande o leque de ti-
pos existentes e uma estrutura única não seria capaz de suprir a necessidade
desses diferentes projetos. Entretanto, iremos abordar aqui tópicos bastante
comuns em projetos de pesquisa que podem ou não ser utilizados, a depender
da preferência do autor e do requerimento do projeto.

4.6.1  Justificativa

Essa parte inicial do projeto deve abordar os motivos pelos quais a pesquisa é
justificada, buscando responder por que se deseja realizar a pesquisa. Alguns
elementos são básicos para apresentar de maneira correta a justificativa do
problema, como: de que forma o tema abordado foi escolhido e porque ele é
relevante a ponto de ser pesquisado; a experiência do autor com o tema; as con-
tribuições possíveis para o campo do conhecimento e ainda a sustentação da
viabilidade do projeto. (RICHARDSON, 2008).
Richardson (2008) sugere como estrutura básica para a redação da justifi-
cativa o início com um trecho sobre a experiência pessoal do pesquisador em
relação ao objeto de estudo, seguido pela formulação de qual problema preten-
de-se estudar e por fim, as possíveis contribuições do trabalho naquela área de
conhecimento. O autor ainda frisa que a justificativa, diferentemente da reda-
ção do projeto, contém uma linguagem pessoal. Usualmente, o tamanho máxi-
mo dessa parte é de até duas páginas.
Gil (2010) propõe que a justificativa esteja inclusa dentro da Introdução jun-
tamente com outros elementos como o tema do projeto, a hipótese, além do
problema e dos objetivos de pesquisa. Como dito, não há uma maneira abso-
luta e correta de escrever um projeto e por isso, autores recomendam formatos
distintos.

4.6.2  Problema de Pesquisa

Para a formulação do problema de pesquisa do projeto, o pesquisador deve pos-


suir amplo domínio do fenômeno a ser estudado. Dessa maneira, é preciso que
antes da definição do problema, seja realizado uma revisão do conhecimento

98 • capítulo 4
acumulado até o momento. Tal revisão irá auxiliar na elaboração de um marco
teórico o qual deve conter uma análise crítica de todas as perspectivas apresen-
tadas pela literatura relativas ao fenômeno em questão (RICHARDSON, 2008).
Portanto, a definição do problema de pesquisa tem início com a escolha
do fenômeno a ser estudado e o desenvolvimento de uma análise crítica que
aborde as principais definições e perspectivas referentes a ele. A formulação
do problema deve ocorrer de maneira clara e objetiva, em tom interrogativo,
procurando originalidade no levantamento da questão e ser passível de ser ob-
servado empiricamente e ser cabível a diversos casos (RICHARDSON, 2008).

4.6.3  Objetivos de Pesquisa

Os objetivos de pesquisa devem definir de maneira bastante clara e precisa


qual o principal intuito da realização do estudo e devem ser baseados na defini-
ção dos problemas de pesquisa. O objetivo geral, único em cada trabalho, deve
abordar de maneira ampla a finalidade da pesquisa, ao passo que os objetivos
específicos descrevem etapas a serem cumpridas a fim de cumprir com o obje-
tivo geral (RICHARDSON, 2008). Usualmente, utiliza-se algumas nomenclatu-
ras específicas para a redação dos objetivos de acordo com o tipo de pesquisa,
conforme tabela abaixo:

TIPO DE PESQUISA VERBOS INICIAIS COMUNS


Exploratória Conhecer, identificar, levantar, descobrir.
Descritiva Caracterizar, descrever, traçar.
Explicativa Analisar, avaliar, verificar, explicar.

Tabela 4.1  –  Verbos Iniciais Comuns por Tipo de Pesquisa. Fonte: Richardson (2008)

4.6.4  Hipóteses

Também extraída da formulação dos problemas de pesquisa, as hipóteses bus-


cam apresentar a relação entre uma ou mais variáveis apresentadas e o fenôme-
no selecionado para ser estudado.
Existem três possíveis maneiras de classificar as hipóteses: univariadas, que
contam com apenas uma variável, multivariável, que englobam duas ou mais
variáveis ou ainda hipóteses de relação causal, que expressam uma relação de
causa e efeito entre as variáveis (RICHARDSON, 2008).

capítulo 4 • 99
A formulação adequada de uma boa hipótese demanda que a definição das
variáveis apresente-se de maneira operacional, ou seja, de forma a ser mensura-
da. Dizer apenas que há o efeito de um fator em relação a um fenômeno é mui-
to vago, e é necessário que haja uma definição que explique de maneira mais
precisa esta variável, pois somente assim é possível realizar o teste empírico.
Por exemplo, ao afirmar que a obesidade é uma tendência familiar, pode-se de-
finir que obeso é o indivíduo que está 20% acima de seu peso, o que torna pos-
sível testar a hipótese de herança genética para obesidade (ALVES-MAZZOTI;
GEWANDSZNAJDER; 1999).

4.6.5  Metodologia

A seção aqui denominada metodologia tem como intuito descrever ao especia-


lista que irá avaliar o projeto qual será a forma de operacionalização da pesqui-
sa levantada até este ponto. Isto é, já está claro o que se deseja pesquisar e qual
o intuito disso, porém é preciso que seja explicado como isso será feito.
Um importante passo é descrever qual o tipo de estudo a ser utilizado como
plano de pesquisa. Se o intuito do estudo é conhecer o tema, trata-se de um
estudo exploratório, enquanto se o desejo é descrever as características do ob-
jeto, trata-se de descritivo e se a busca é pela análise das causas e consequên-
cias, o estudo é explicativo. Feito isto, é possível explicar o tratamento que será
destinado aos dados das variáveis bem como os procedimentos estatísticos a
serem adotados. Também aqui, pode-se definir qual serão os instrumentos
de coleta de dados selecionados, como questionários, entrevistas, fichas, etc.
(RICHARDSON, 2008).
Também é neste espaço que o pesquisador deverá incluir um trecho, ainda
que pequeno, acerca de suas limitações e delimitações no desenvolvimento do
estudo. Embora isso possa dar a impressão de desvalorizar a pesquisa, é fun-
damental que o pesquisador esteja ciente dos limites e preparado para realizar
um bom trabalho apesar deles (COLLINS; HUSSEY, 2005).

4.6.6  Referências Bibliográficas

Informar o conjunto de documentos e textos utilizados para a elaboração do


trabalho mediante as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).

100 • capítulo 4
4.6.7  Cronograma e Orçamento

É necessário preparar um cronograma que conste as diversas etapas do projeto


e o tempo que cada uma delas irá ocupar da equipe do projeto. Uma forma bas-
tante comum em projetos de pesquisa é utilizar o Gráfico de Gannt, o qual con-
siste em uma tabela onde as atividades estão dispostas nas linhas e os meses
ou dias (dependendo da duração do projeto) nas colunas. Deve-se preencher os
quadrados onde está previsto que cada atividade estará em desenvolvimento
(GIL, 2010).
Também é preciso realizar uma estimativa de custos do projeto a partir da
necessidade dos diferentes tipos de recursos. É recomendável que essa estima-
tiva seja realizada de forma mensal e considere eventuais mudanças de preço
durante a execução da pesquisa (RICHARDSON, 2008).

4.7  Formação da Equipe do Projeto


Muitos dos projetos que você encontrará pela frente necessitarão do trabalho
em conjunto. A formação de uma equipe de projeto é uma tarefa que requer
bastante cuidado uma vez que as pessoas alocadas devem estar bem posiciona-
das para que haja a êxito no cumprimento do projeto.
Muitas organizações possuem uma equipe especialmente dedicada ao ge-
renciamento de projetos que é responsável por realizar esse desígnio de recur-
sos humanos. “A equipe do projeto é composta de pessoas com funções e res-
ponsabilidades atribuídas para o término do projeto” (PMBOK, 2004, p. 199).
Independente do tamanho da equipe, é importante que os membros estejam
envolvidos nas decisões relativas ao projeto, pois isso traz maior comprometi-
mento dos participantes além de criar especialização destes indivíduos.
O guia PMBOK, marco no tema de gerenciamento de projetos, apresenta a
divisão relativa a administração de recursos humanos em projetos em quatro
etapas: planejamento dos recursos humanos, contratação ou mobilização da
equipe, desenvolvimento da equipe do projeto e gerenciamento desta.
O planejamento de recursos humanos é a parte que deve determinar as atri-
buições, a hierarquia e as responsabilidades do pessoal do projeto, que podem
ser alocadas a pessoas ou grupos, de caráter interno ou externo à empresa. É
nessa parte que a empresa define como e a qual instante será mobilizada a mão

capítulo 4 • 101
de obra necessária para cada tarefa, o ponto de saída do pessoal do projeto bem
como o método de avaliação do desempenho e a remuneração e/ou premiação
(PMBOK, 2004).
A etapa de contratação e mobilização dos recursos humanos ocorre após a
definição das tarefas a serem desenvolvidas e quando já existe a noção da mão
de obra necessária. Então, a organização já está apta a obter os recursos huma-
nos necessários para a finalização do projeto (PMBOK, 2004).
Após a formação do time, deve ocorrer o desenvolvimento da equipe do pro-
jeto, com dois principais objetivos: desenvolver as habilidades dos membros
para cumprirem com maior excelência suas atribuições e aumentar a coesão e
o sentimento de confiança de cada indivíduo em seus pares. Esses dois objeti-
vos podem ser conquistado, por exemplo, através de treinamentos, atividades
de formação da equipe, reconhecimento e premiação (PMBOK, 2004).
“Gerenciar a equipe do projeto envolve o acompanhamento do desempe-
nho de membros da equipe, o fornecimento de feedback, a resolução de pro-
blemas e a coordenação de mudanças para melhorar o desempenho do proje-
to” (PMBOK, 2004, p. 215). É durante esta etapa que o gerente deve administrar
os problemas de maneira a contorná-los e evitar prejuízos na realização do pro-
jeto, bem como prover feedback aos membros da equipe, ajudando-os no pró-
prio desenvolvimento bem como o da equipe como um todo.

4.8  Administração de Projetos de Pesquisa


Embora a realização de pesquisas já consuma bastante energia do pesquisador
com o desenvolvimento dela própria, é extremamente importante que ele dê
atenção a administração desta. Como qualquer atividade, a pesquisa consome
recursos, mais especificamente, tempo e dinheiro. Saber administrá-los é fun-
damental, ou caso contrário, a pesquisa torna-se inviável (GIL, 2010). Por isso, é
recomendável que no projeto conste uma seção com o cronograma previsto de
execução das atividades bem como um orçamento dos recursos.
Independentemente do tipo de atividade a ser desenvolvida no projeto, a orga-
nização através de uma programação de atividades é essencial. Ainda que ela exis-
ta, é importante relembrar que o desenvolvimento da pesquisa não irá ocorrer em
estágio ordenado e sequencial, mas haverá sim uma sobreposição de tarefas e será
necessário que os pesquisadores saibam lidar com isso (COLLINS; HUSSEY, 2005).

102 • capítulo 4
ESTÁGIO NO PROCESSO DE PESQUISA TEMPO NECESSÁRIO (%)
Identificando tópico de pesquisa 15
Identificando problema de pesquisa 10
Determinando como realizar a pesquisa 10
Coletando dados de pesquisa 20
Analisando e interpretando dados de pesquisa 20
Escrevendo relatório 25
Total 100

Tabela 4.2  –  Tempo permitido aproximado para os principais estágios da pesquisa. Fonte:
Collins e Hussey (2005).

O Guia PMBOK (2004), em uma ampla visão sobre o gerenciamento de projetos,


traz ainda que entre as atividades, o gerenciamento de projetos inclui identificar
as necessidades, criar objetivos claros e possíveis para o projeto, saber lidar com o
conflito entre tempo, custo, qualidade e escopo e adaptar os planos de acordo com
as preocupações e necessidades das diferentes partes envolvidas no processo.
Outro ponto importante na administração do projeto diz respeito a orga-
nização do pesquisador. Boa parte da redação será baseada no conhecimen-
to prévio do campo de estudo. Ou seja, o pesquisador deverá ler artigos, teses,
dissertações e outros documentos e citá-los conforme a regra da ABNT em seu
texto. Para isso, deverá ser capaz de criar uma maneira de organizar e preser-
var estes materiais para que quando chegar o momento de escrever o relatório
final, seja fácil encontrar as referências desejadas (COLLINS; HUSSEY, 2005).
É possível então perceber que embora todos os aspectos técnicos e episte-
mológicos inerentes ao projeto de pesquisa estejam corretos, ele não sairá do
lugar se a sua administração e o gerenciamento de seus mais diversos recursos
não for feita de maneira apropriada. O pesquisador e sua equipe devem ser ca-
pazes de realizar mais com menos e acima de tudo controlar os recursos para
que estes não cessem antes do término do projeto.

4.9  Composição dos Projetos de Pesquisa


Ambiental

A elaboração de projetos de pesquisa ambiental possui estrutura bastante si-


milar a outros projetos. Entretanto, usualmente, este gênero de pesquisa busca
realizar um impacto no ecossistema a que se refere. Para isso, deve contar com

capítulo 4 • 103
o auxílio de patrocinadores ou órgãos financiadores, os quais podem ser de ori-
gem governamental, através de programas do Ministério do Meio Ambiente, ou
mesmo de caráter privado, como empresas que possuem políticas de preserva-
ção do meio ambiente e procuram firmar parcerias com entidades desenvolve-
doras de projetos ambientais.
Se existirem órgãos patrocinadores, independente do gênero destes, o pro-
jeto a ser apresentado precisa conter alguns itens a mais dos que já vistos aqui.
Uma vez que os recursos financeiros e alguns casos até humanos, provêm de
uma fonte externa, o pesquisador deve preocupar-se em demonstrar transpa-
rência no uso do dinheiro bem como apresentar formas de controle dos resul-
tados. O órgão que está investindo certamente quer ver resultados positivos,
através do êxito na realização da pesquisa e no impacto socioambiental a que o
projeto se propõe a realizar.
Dessa maneira, ao submeter o projeto, é importante constar a caracteriza-
ção e o histórico do proponente. Isto é, os dados cadastrais como nome, razão
social, CNPJ, responsável legal, missão e visão da entidade, projetos já realiza-
dos, entre outras informações mais. Além disso, junto ao orçamento a entidade
deve entregar um memorial de cálculo, que pode constar cada um dos itens a
serem consumidos individualmente. Tudo isso tem a importância de garantir
credibilidade a organização que está em busca de um financiador.
Também é importante procurar convencer o possível parceiro de que o pro-
jeto é digno do investimento dele. Por isso, a justificativa torna-se um item es-
sencial uma vez que deve transmitir a importância da realização da pesquisa
proposta. Ademais, deve-se apresentar um modelo de definição de metas de
maneira bastante específica e pontual para que os avanços realizados na pes-
quisa possam ser mensurados sem dificuldade.
É importante que o projeto demonstre-se também autossustentável. Isso
quer dizer, se caso a intenção for manter a intervenção no ecossistema durante
alguns anos, é importante que na proposta esteja descrito o que será feito para
angariar fundos sem a necessidade do financiamento externo. Além disso, o
conhecimento ali adquirido deve ser disseminado para a sociedade, uma vez
que se houver êxito no projeto, este possa tornar-se um modelo para outros pro-
blemas similares.

104 • capítulo 4
ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre pesquisa exploratória, explicativa e descritiva?

02. Quais são as etapas de um projeto de pesquisa?

03. Discorra sobre a diferença de uma análise qualitativa e uma quantitativa.

04. Escolha um fenômeno hipotético e escreva a justificativa de seu projeto de pesquisa


sobre ele.

REFLEXÃO
Neste capítulo estudamos a importância para a humanidade na realização de pesquisas e
como esta deve buscar ampliar o conhecimento seguindo os padrões que ela mesmo criou
a fim de manter a credibilidade dos estudos. Aprendemos a diferenciar os tipos de pesquisa
de acordo com diversos critérios.
Principalmente, vimos a importância dos projetos de pesquisa, os passos para chegar-
mos a sua constituição e por fim, as etapas que podem ser contidas nele. Por último, enten-
demos a importância na administração de recursos humanos, financeiros e cronológicos na
elaboração de pesquisas.

LEITURA
GIL, A. C.. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010
VIEIRA, P. F.; WEBER, J.. Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimen

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES-MAZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F.. O método nas ciências naturais e sociais:
pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
COLLIS, J.; HUSSEY, R.. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e
pós-graduação. São Paulo: Bookman, 2005.

capítulo 4 • 105
GERENCIAMENTO DE PROJETOS (Guia PMBOK®) 3º Ed. Four Campus Boulevard, Newton Square,
PA 19073-3299 EUA, 2004.
GIL, A. C.. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010
HAIR JR, J. F. et al.. Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. São Paulo:
Bookman, 2005.
MARTINS, J. S.. Projetos de Pesquisa: estratégias de ensino e aprendizagem em sala de aula.
Campinas: Armazém do Ipê, 2007.
MARTINS, G. A.; TEOPHILO, C. R.. Metodologia da investigação científica para ciências sociais
aplicadas. São Paulo: Atlas, 2007.
RICHARDSON, R. J.. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas, 2008.

106 • capítulo 4
5
Recursos Naturais
Renováveis e Não
Renováveis
Neste capítulo iremos aprender um pouco mais sobre os recursos naturais pre-
sentes em nosso planeta, bem como o que ocorreu para a formação destes e a
importância que estes elementos possuem para a perpetuação da vida animal.
Além disso, vamos entender a diferença entre recursos não renováveis e re-
nováveis e estudar as fontes de geração de energia a partir de elementos diver-
sos. Por fim, vamos analisar a importância da gestão de recursos agrícolas e as
dificuldades encontradas nesse sentido..

OBJETIVOS
Após este capítulo, esperamos que você seja capaz de:
•  Saber diferenciar recursos renováveis e não renováveis;
•  Compreender os principais minerais energéticos e as formas de obtenção de energia a
partir destes;
•  Saber identificar as principais energias renováveis do futuro;
•  Conhecer a importância da gestão de recursos agrícolas.

108 • capítulo 5
5.1  Recursos Naturais não Renováveis
Os recursos naturais consistem em elementos presentes na natureza e que são
muitas vezes empregados pela humanidade em benefício próprio. Usualmen-
te, são utilizados para desenvolvimento da civilização, para sobrevivência ou
ainda para conforto da sociedade em geral. Importante frisar que os recursos
naturais têm como essencial característica o fato de possuírem algum valor,
mesmo que não de ordem financeira, para a sociedade. Isto é, deve ser um ele-
mento útil a civilização.
A expansão do pensamento econômico aliado a evolução da sociedade e a
menor importância existente para barreiras geográficas foram fatores contri-
buintes para que o pensamento econômico começasse a enxergar os recursos
naturais como elementos passíveis de estudo. Antes disso, imaginava-se que a
oferta desses itens era tamanha que eles podiam ser considerados gratuitos.
Somente nos anos 70 é que a sociedade começou a preocupar-se com a pos-
sível escassez dos recursos naturais e iniciaram-se debates acerca desse tema
(SILVA, 2003).
Até esse momento, poucas eram as vozes que chamavam atenção para o es-
gotamento de alguns recursos naturais. Esse perigo de escassez dos elementos
da natureza está intimamente conectado com o modelo econômico adotado na
maioria das nações, o qual se fundamenta no lucro a qualquer preço, visando
elevar o volume de produção e consequentemente, aumentado o nível de ex-
tração dos recursos da natureza, como se essa fosse um grande supermercado
provedor de suprimentos de maneira ilimitada (SEIFFERT, 2007).
Os recursos físicos são produtos de formações ocorridas durante ciclos na-
turais que duraram milhões de anos no planeta Terra. Atualmente, estes ele-
mentos são divididos em renováveis ou reprodutíveis e não renováveis ou não
reprodutíveis. Os recursos renováveis são aqueles cujos ciclos de recomposição
acompanham a atividade de extração por humanos, tais como água, solo, flo-
restas ou faunas. Já os recursos não renováveis, como os minérios, o petróleo ou
o gás natural são elementos cuja reposição não acompanha o ciclo humano no
planeta pois estes processos demoram eras geológicas (SILVA, 2003).
É importante ressaltar que apesar destas denominações, os recursos re-
nováveis, se expostos a exploração excessiva podem acabar esgotados já
que a regeneração de suas fontes não irá acompanhar a atividade humana.

capítulo 5 • 109
Analogamente, os recursos não renováveis também podem, em raros casos,
não chegar ao fim, porém isso é algo que depende em grande parte do avanço
tecnológico (SILVA, 2003).
Devido a essa limitação de recursos naturais e considerando que estes são
elementos básicos para o funcionamento da economia na sociedade moderna,
torna-se essencial o estudo da gestão dos recursos naturais renováveis e não
renováveis. Compreender a importância de um desenvolvimento sustentável e
os meios para a realização disso é fundamental para que nossa sociedade não
esgote seus recursos.
A teoria dos recursos exauríveis aponta para um diagrama que identifica os
recursos comercialmente extraíveis. Isto é, diversos minerais estão presentes em
muitos materiais, porém economicamente não é vantajoso explorá-los, pois sua
concentração é muito baixa. Por meio do diagrama a seguir, esta teoria aponta
como reservas os locais onde os elementos são conhecidos e em grande concen-
tração para serem explorados. Recursos são locais onde a existência é conhecida
porém o nível de detalhe não é tão alto quando as reservas. Já os recursos hipotéti-
cos resumem-se a todos os materiais na crosta terrestre, independente de sua con-
centração que podem ser utilizados em um futuro, caso necessário (SILVA, 2003).

Recursos totais
Grau de certeza de existência crescente Graus de praticabilidade econômica
Econômico

(medida pelo preço/custo)


de recuperação crescente
Relação preço/custo

Reservas
(> 1)

Recursos hipotéticos

Recursos
Subeconômico
(< 1)

Recursos
condicionais

Conhecidos Desconhecidos

Figura 5.1  –  Caixa de MacKelvey - critério para delimitação de reservas minerais. Fonte:
May, Lustosa e Vinha (2003).

110 • capítulo 5
A gestão dos recursos naturais não renováveis procura uma estratégia que
considere os ganhos financeiros presentes resultantes da exploração do ele-
mento em contrapartida a possibilidade de salvar estes recursos para as gera-
ções futuras. Isto é, é melhor consumir no momento atual estes recursos ou
será mais lucrativo deixar para o futuro? O estudo profundo dessa indagação
acarreta alguns princípios sobre o efeito da exaustão dos recursos:
•  A velocidade da extração será maior quanto menor forem os estoques de
um recurso, pois ele será caro no mercado e, portanto, mais lucrativo;
•  O aumento da taxa de juros eleva a velocidade da extração, devido a re-
dução dos investimentos nas atividades extrativas, que leva a diminuição
de estoques;
•  O comportamento dos recursos não renováveis é incerto já que dependem
da escassez do item e do progresso técnico que introduz tecnologias mais baratas
para extração, porém o mercado atua para a estabilização do preço (SILVA, 2003).

Alguns dos principais recursos não renováveis são também grandes polui-
dores do meio ambiente, emitindo gases que comprometem a camada de ozô-
nio e poluem nossa atmosfera. A partir daí, o uso responsável destes elementos
é preciso não somente devido ao iminente esgotamento, mas também a fim de
preservar o planeta e a vida animal nele presente.
Dessa maneira, nações do mundo começaram a se reunir a fim de apontar
soluções para questões ambientais. Um dos resultados destas conversas foi a
criação do Princípio Poluidor Pagador (PPP), o qual consiste em responsabili-
zar o órgão causador do dano ambiental de maneira objetiva e financeira. Na
prática, isso significa que o produtor irá ter de arcar financeiramente com os
custos de poluição como se fizessem parte dos custos de produção (SEIFFERT,
2009).
A seguir, serão apresentados alguns dos recursos naturais mais importan-
tes para a atividade econômica humana e suas principais características.

5.2  Recursos Minerais


Os recursos minerais estão presentes na vida humana desde os tempos mais
primórdios. Inicialmente, utilizavam-se estes elementos em itens fundamen-
tais para o desenvolvimento das sociedades como o silex e a obsidiana, duas

capítulo 5 • 111
rochas encontradas na natureza, que quando quebradas produzem bordas cor-
tantes geravam ferramentas para caça e pesca. Posteriormente, o cobre foi des-
coberto pelas civilizações antigas e era utilizado para ferramentas em gerais.
O cobre permitiu o desenvolvimento do bronze, um metal formado pela
fundição de cobre e estanho, o qual era usado para ferramentas e armas de
guerras. Com o avanço técnico, as sociedades passaram a explorar o ferro, pre-
sente em meteoritos e outros locais, pois descobriu-se que era possível criar
instrumentos com maior resistência. Mais tarde, os metais preciosos, ouro e
prata, encontrados em minas mundo a fora, começaram a ser utilizados como
moedas de troca.
Em nossa sociedade atual, utilizamos minerais em grande parte de nossos
bens. Estes recursos estão presentes nas janelas por meio dos vidros, nas tintas,
nos lápis através dos grafites, no petróleo presente no combustível do carro,
bem como nas novas tecnologias como a fibra ótica, as baterias de celular feitas
de lítio, entre muitos outros exemplos.
É importante frisar porém que nem todo mineral é um minério. Para este, é
necessário que haja um valor econômico. Assim, podemos definir que minério
é todo recurso mineral que pode ser explorado, processado e entregue ao mer-
cado. A mineração então corresponde a extração dos minérios das fontes de re-
cursos naturais do planeta Terra enquanto o conjunto de ações para a retirada
dos minerais do solo é denominada lavra.
Por fim, mina é a fonte de recursos minerais exploradas. As minas podem
ser a céu aberto, subterrâneas, as quais são de mais cara exploração, porém
mais precisas ou ainda garimpos , os quais não possuem estudo técnico preciso
sobre a localização dos minerais.

MULTIMÍDIA
O filme Serra Pelada traz a história do maior garimpo de ouro do Brasil.

Os minérios podem ser classificados em quatro principais tipos: energéti-


cos, metálicos, industriais e essenciais. A seguir, um quadro com as subclassifi-
cações destes minérios e alguns exemplos de elementos encontrados na natu-
reza representante das respectivas classes:

112 • capítulo 5
Fósseis Óleo, gás, carvão
Nucleares Urânio, tório
METÁLICOS CATEGORIAS EXEMPLOS
Ferroligas Ferro, manganês, níquel
Ferrosos Básicos Cobre, chumbo, zinco e estanho
Não Ferrosos Leves Alumínio, magnésio, titânio
Preciosos e raros Ouro, prata, platina
INDUSTRIAIS CATEGORIAS EXEMPLOS
Brita, areia silicoses, calcário,
Materiais de construção
argila,
Tijolos e Louças de mesa Argila comum, sílica, calcário
Materiais para indústria química Enxofre, cromita, barita, calcário
Fosfeto, minerais de potássio,
Agrominerais
enxofre, nitrato
Refratários Bauxita
Diamante, rubi, turmalina,
Gemas
topázio
ESSENCIAIS CATEGORIAS EXEMPLOS
Água, Solo

Tabela 5.1  –  Classificação dos recursos minerais. Fonte: Recursos Minerais Energéticos
(s/d).

5.3  Minerais Energéticos


Os minerais energéticos são todos aqueles recursos encontrados na natureza e
passíveis de serem explorados pelas civilizações e que são destinados a geração
de energia elétrica. Eles podem ser divididos entre nucleares, representados
pelo urânio e pelo tório, e fósseis, onde os principais componentes são o carvão
mineral, o petróleo, o xisto e o gás natural.
Como já vimos, estes elementos são de caráter não renovável uma vez que
a velocidade da exploração humana é mais rápida do que a de recomposição
destes materiais nas fontes de recursos minerais. Ademais, estes elementos,
em geral, ao serem processados, liberaram substâncias nocivas ao equilíbrio
natural de nosso planeta, atingido a camada de ozônio e contribuindo para as
chuvas ácidas e para o efeito estufa.
A seguir, iremos aprender um pouco mais sobre cada um desses minerais,
de que maneira ocorre a geração de energia por meio deles e os efeitos que suas
respectivas queimas causam no meio ambiente.

capítulo 5 • 113
5.3.1  Nuclear

Da ordem dos recursos minerais energéticos com propriedades nuclear, temos


como expoentes o urânio, primeiro mineral descoberto emissor de radioativi-
dade e o tório, outro mineral energético com propriedades nucleares.

5.3.1.1  Urânio
Conhecido por sua aplicação em armamento militar, o urânio é um minério
cuja utilização para geração de energia apresenta-se em uma crescente. Sua
existência foi descoberta em 1789, pelo cientista alemão Martin Klaproth, e seu
nome foi dado em homenagem ao planeta Urano, encontrado oito anos antes.
Antes de descoberta da utilidade do urânio para a geração energética, este ele-
mento era empregado nas indústrias de fotografia, têxtil e de madeira.
Este mineral está presente em muitas rochas sedimentares pela crosta ter-
restre, porém em concentrações diferentes e poucos são os países do mundo
que possuem reservas economicamente exploráveis. Sua extração depende da
viabilidade técnica e econômica, já que são necessários recursos tecnológicos
para o trabalho.
É um metal com propriedades radioativas, de coloração prateada, maleável,
menos rígido que o aço e que ao ser posto em contato com o ambiente junta-se
ao oxigênio e forma uma camada de óxido de urânio em sua superfície, de cor
amarela.
No âmbito mundial, poucos são os países com reservas de urânio descober-
tas. A Austrália, maior detentora de reservas, possui quase 30% do total de urâ-
nio mapeado no planeta. A tabela a seguir apresenta os dados da World Nuclear
Association (WNA), referentes ao ano de 2013.

TONELADAS DE URÂNIO PERCENTUAL


Austrália 1.706.100 29%
Cazaquistão 679.300 12%
Rússia 505.900 9%
Canadá 493.900 8%
Níger 404.900 7%
Namíbia 382.800 6%
África do Sul 338.100 6%
Brasil 276.100 5%

114 • capítulo 5
TONELADAS DE URÂNIO PERCENTUAL
EUA 207.400 4%
China 199.100 4%
Mongólia 141.500 2%
Ucrânia 117.700 2%
Uzbequistão 91.300 2%
Botswana 68.800 1%
Tanzânia 58.500 1%
Jordânia 33.800 1%
Outros 191.500 3%
Total Mundial 5.902.500

Tabela 5.2  –  Reservas Mundiais de Urânio. Fonte: World Nuclear Association (2015)

Apesar disso, Estados Unidos, França, Rússia, Coréia do Sul e China são os
países que mais produzem energia elétrica de origem nuclear, sendo que ela
representa 76,9% da matriz energética francesa e é a maior representatividade
global de acordo com dados da associação.
O Brasil, apesar de ser atualmente a 8ª maior reserva do mundo, ainda não
possui a maior parte do seu território prospectado. As maiores reservas desco-
bertas são as de Santa Quitéria (CE), Lagoa Real (BA) e Caldas (MG). Estima-se
ainda que o potencial nacional pode chegar a 900.000 toneladas se todo o perí-
metro fosse prospectado.
O potencial energético começou a ser explorado com maior afinco graças às
crises do petróleo na década de 1970, a qual encareceu o valor deste minério e
incentivou que as nações iniciassem a busca por fontes de energia alternativas
a fim de não se tornarem tão dependentes dos maiores produtores de petróleo.
Ademais, o crescimento da procura por fontes alternativas também teve a
contribuição do crescimento da população mundial, da poluição gerada pelas
usinas movidas a petróleo e carvão bem como uma necessidade mundial maior
por energia elétrica graças tanto a expansão da população como ao maior uso
de eletricidade em indústrias e residências.
O processo de geração de energia elétrica baseada no urânio ocorre de ma-
neira similar àqueles baseados em outros minérios. A usina nuclear funciona
como uma central termoelétrica onde o vapor, aqui gerado pela fissão dos áto-
mos de urânio, força o movimento de turbinas acopladas a geradores que por
sua vez produzem energia que será transformada em elétrica.
Em uma usina nuclear, o urânio é transformado em pastilhas com 1 cm de
diâmetro e acoplado em grandes varetas de 3 a 4 metros de comprimento. A

capítulo 5 • 115
fissão, ou seja, o choque entre nêutrons e átomos de urânio libera energia que
é responsável por aquecer água, a qual irá transformar-se em vapor e acionar o
funcionamento das turbinas.
A energia nuclear não contribui, em circunstanciais ideais, para a degrada-
ção do meio ambiente pois não libera gases prejudiciais a camada de ozônio ou
contribuintes para a chuva ácida. Além disso, as plantas da usina são compactas
se comparadas a outras tecnologias e esta é uma técnica que não é dependente
de variações climáticas além de possuir procedimentos bastante conhecidos.
Em contrapartida, as dificuldades em armazenar os resíduos, que devem
permanecer isolados durante anos, a necessidade de enclausurar a central
após o término das operações, o fato de ser o método de geração de energia
mais caro, e principalmente a possibilidade de acidentes catastróficos como o
de Chernobyl na Ucrânia e de Fukushima, no Japão aparecem como algumas
desvantagens da energia nuclear.

5.3.1.2  Tório
O outro mineral energético nuclear é conhecido como Tório, em homenagem
ao deus escandinavo do trovão, Thor. Foi descoberto em 1828 por um químico
sueco chamado Jons Berzellius, primeiramente no formato de óxido e um ano
após, isoladamente. Por algumas décadas o material não possuía nenhuma
aplicação prática até a invenção da lâmpada de manta. O Tório era misturado
ao tecido pois brilhava intensamente quando queimado, criando maior lumi-
nosidade ao ambiente.
Além da aplicação para geração de energia elétrica, este elemento em sua
versão óxido também possui aplicação em lentes de câmeras, como catalisa-
dor de processos químicos, ou no processo de fabricação dos fios de tungstênio
presente nas lâmpadas elétricas. O dióxido de tório era usado nas radiografias,
porém sua alta radioatividade cessou esta aplicação.
O tório não é um elemento encontrado de maneira pura na terra como
elementos fósseis. Sua ocorrência está comumente aliada a existência de um
mineral denominado terra rara, que correspondem a uma série de elementos
químicos. Antigamente, os óxidos eram conhecidos como terras e alguns ele-
mentos apresentavam-se sempre juntos e com características similares, além
de serem inicialmente encontrados somente na escandinava, criando a alcu-
nha de terras raras.

116 • capítulo 5
No Brasil, sua existência está usualmente condicionada a monazita, um
elemento natural componente da terra rara que pode chegar a ser constituída
por 12% de óxido de tório, bem como pode conter 0% deste elemento. Porém,
a WNA estima que o país possua a segunda maior reserva de tório do mundo,
perdendo apenas para a Índia.
Apesar de ser encontrado em abundância pela crosta terrestre, o tório não
é comumente utilizado na produção de energia nuclear, pois a maioria dos
reatores em operação no mundo utilizam a água como refrigerador e o urânio
enriquecido como combustível. As construções de usina mais recente tem co-
meçado a considerar o uso deste elemento.
A WNA inclusive destaca o uso do tório como combustível em detrimento
do urânio devido a sua abundância no planeta, e aponta para o fato de que a
popularização dele demandará uma boa dose de pesquisa, que será recompen-
sada com a popularização do tório enquanto combustível e a queda no preço da
energia nuclear.

5.3.2  Fósseis

Os minerais energéticos fósseis, comumente conhecidos como recursos fós-


seis são combustíveis formados a partir da decomposição de seres vivos através
de processos naturais. A principal característica deste grupo é a alta concentra-
ção de carbono presente em seus elementos.
Grande parte da matriz energética mundial é proveniente dos combustíveis
fósseis. Esse fato traz duas graves consequências: a primeira é que estes ele-
mentos são recursos não renováveis, o que indica que irão esgotar-se em algum
momento do futuro. A segunda é que todos eles, ao serem queimados, liberam
altos níveis de carbono, substância que ataca diretamente a camada de ozônio
e contribui para o efeito estufa.
A seguir, iremos conhecer melhor os quatro principais combustíveis fósseis
utilizados atualmente.

5.3.2.1  Carvão
O Carvão Mineral é um combustível fóssil de cor preta ou marrom presentes em
estratos da crosta terrestre. Sua formação ocorreu a milhões de anos atrás, após
a extinção de florestas onde os restos dos vegetais se depositaram na superfície

capítulo 5 • 117
e foram encobertos por camadas de lama e água, que deram origem a rochas. A
pressão e o tempo geraram uma substância negra denominada carvão.
Este minério pode ser encontrado em diversas camadas do solo terroso e
quanto mais profundo for, mais puro é o material. A pureza, no caso do carvão
é medida de acordo com a quantidade de carbono presente, sendo o antracito o
mais puro de todos e indicado para uso doméstico.
O emprego do carvão foi um dos fatores que mais influenciaram o avanço
tecnológico da humanidade, pois ele representava uma fonte de energia muito
mais eficiente que as existentes àquela época. Assim, foram criadas algumas
máquinas movidas a vapor, provenientes da queima do carvão mineral. Embora
estas tenham sido aperfeiçoadas, os princípios permanecem semelhantes.
Atualmente, o maior emprego do carvão mineral é como fonte de geradora
de energia nas usinas termelétricas. Nessas centrais, o carvão é a fonte de calor
para uma caldeira cheia de água, a qual ao esquentar, evapora e é direcionada
para uma turbina acoplada a um gerador, que transforma a energia potencial
em energia elétrica.
Apesar da simplicidade do processo, para que consiga produzir quantida-
des de energia comercialmente viáveis, uma usina termelétrica ocupa uma área
enorme, podendo chegar a 4 km², mais vias de acesso e linhas de transmissão
de energia. Além disso, outro problema deste tipo de geração de energia é a
grande contribuição para o aquecimento global existente graças a liberação de
monóxido de carbono e nitrogênio ao ambiente.
Como vantagens, contam a favor das usinas termelétricas o fato de poderem
ser construídas próximas a centros urbanos além de obterem um nível de pro-
dução de energia constante, sem ser dependente de chuvas ou outros fatores
climáticos.
De acordo com dados da Associação Nacional de Energia Elétrica (ANEEL),
o Brasil conta com 23 usinas termelétricas movidas a carvão mineral, que são
responsáveis por gerar 2,5% do total ofertado na matriz energética nacional.

5.3.2.2  Petróleo
O petróleo consiste em uma substância oleosa, encontrado nas cores negras e
castanho escuro, menos denso do que a água e com um cheiro característico.
Sua formação ocorreu da decomposição de elementos do plâncton de águas
salgadas e doces, que quando submetidas a ação de bactérias e a pouco oxige-
nação, deram origem a este mineral. Com o passar dos anos, camadas de sedi-

118 • capítulo 5
mento se dispuseram sobre os restos de microrganismos, fazendo com que o
petróleo se localizasse atualmente entre camadas da crosta terrestre.
Diferentemente de outros minerais, o petróleo não permanece estagna-
do na rocha de sua formação, mas sim procura um local para se concentrar.
Usualmente, estes lugares são rochas porosas que consigam aprisionar o líqui-
do petrolífero, dando origem às jazidas. O petróleo é então, encontrado nor-
malmente em bacias sedimentares pois acumula-se nos poros destas.
A extração de petróleo inicia-se pelo processo de exploração, onde técnicos
procuram descobrir se a área estudada possui o minério. Em seguida, ocorre a
perfuração, onde a abertura de um poço preliminar irá verificar a real existên-
cia do petróleo e demais poços, a extensão da jazida, a fim de provar se é comer-
cialmente viável a exploração.
Feito isto, ocorre a produção, etapa onde é extraído o petróleo e armazena-
do. Essa extração pode ser espontânea, se a pressão aplicada pelo gás natural
(que é normalmente encontrado junto do petróleo) o pressionar para a super-
fície, ou realizada através de bombeamento por maquinário especial. Após a
extração, acontece o refino do minério, que consiste na separação dos diversos
componentes e posteriormente o transporte a centros de consumo dos deriva-
dos produzidos no refino.
O petróleo é atualmente o minério mais cobiçado do mundo e já foi motivo
de guerras, disputas entre nações e crises econômicas. Sua importância consis-
te na ampla aplicação deste minério, que é usado como matéria prima para a
gasolina dos automóveis. Além disso, produtos de uso comercial são derivados
de sua produção e/ou extração, como o GLP ou gás de cozinha, a parafina, o gás
natural, asfalto, óleos lubrificantes, óleo diesel, combustível de avião, diversos
tipos de plásticos, entre outros.
Entretanto, um dos principais empregos do petróleo é a geração de energia
elétrica. Alguns derivados que surgem na etapa de refinamento são utilizados
como combustível em usinas termelétricas, sendo o gás de refinaria, o óleo
combustível e o óleo diesel os mais comuns. O princípio de funcionamento é o
mesmo do carvão mineral, onde o calor alimentado pelos derivados aquecem a
caldeira cheia de água.
No Brasil, de acordo com dados da ANEEL, atualmente cerca de 6,7% da ma-
triz energética brasileira é constituída de fontes provenientes do petróleo. O
óleo diesel é o mais popular deles respondendo por cerca de 3% da produção
elétrica nacional. Da mesma maneira que o carvão mineral, o petróleo também

capítulo 5 • 119
um combustível criticado devido a emissão de gases poluentes e maléficos ao
meio ambiente que a queima de seus derivados acarreta.

5.3.2.3  Gás Natural


Assim como os demais combustíveis fósseis, o gás natural também é formado
da decomposição de seres vivos que habitaram o planeta Terra a milhões de
anos atrás. Pode ser encontrado junto a existência de petróleo ou não, porém é
bastante comum essa ocorrência. O gás natural é um composto inodoro e inco-
lor e que permanece no estado gasoso nas Condições Normais de Temperatura
e Pressão (CNTP).
Desde o tempo da Antiguidade o gás natural era conhecido pela humanida-
de, pois algumas civilizações estavam instaladas em locais onde porções de gás
natural eram expelidas espontaneamente para a superfície e eram utilizadas
para alimentar o fogo. A princípio, a descoberta desse composto pela sociedade
moderna, não teve grande repercussão pois era muito difícil transportar este
material das jazidas até destinos comerciais.
Com o advento da tecnologia e o avanço em técnicas de metalurgias, tor-
nou-se popular e prática a construção de gasodutos, isto é, grandes tubos espe-
cificamente elaborados para o transporte do gás sem vazamentos, o que levou
o minério a uma maior popularidade. Além disso, outras tecnologias já permi-
tem que o gás seja transportado por navios e caminhões, em sua forma líquida.
Esta facilitação no transporte, aliado ao modelo de negócios da exploração
de gás, que garante acordos bilaterais de longo prazo, bem como o fato de ser
um minério que possui a queima mais limpa que o petróleo e o carvão, são ele-
mentos que estão contribuindo para que este elemento esteja a cada dia mais
presente no dia a dia do brasileiro.
Cada vez mais motoristas estão convertendo seu veículo para serem abaste-
cidos com o Gás Natural Veicular (GNV) já que é um combustível mais barato e
mais limpo. Além disso, possui aplicação também como gás de cozinha e prin-
cipalmente como combustível de usinas termoelétricas. De acordo com dados
da ANEEL, atualmente, cerca de 8,8% da matriz energética nacional provém da
queima dos elementos deste minério.

120 • capítulo 5
5.3.2.4  Xisto Betuminoso
O último dos combustíveis fósseis que iremos tratar aqui corresponde ao xisto
betuminoso. Este minério é encontrado na natureza na forma de uma rocha
sedimentar de grão fino e quando submetido a altas temperaturas produz o
óleo de xisto, o qual é um componente substituto do petróleo. Apesar de ser
um substituto, a sua extração é mais cara e a sua queima emite mais gases
poluentes.
Assim, pode-se pensar que não há vantagens em investir na exploração de
xisto betuminoso. De fato, poucas usinas termoelétricas funcionam no Brasil
com essa combustível, porém na década de 1970, a crise do petróleo mostrou
a necessidade ao mundo de outras alternativas de fontes de energia e o xisto
ganhou algum espaço.
Talvez a única vantagem deste minério seja a abundância em que é encon-
trado na crosta terrestre. Estima-se que podem chegar a cinco vezes a quanti-
dade de xisto betuminoso no mundo em relação ao total de petróleo global. O
Brasil, junto dos Estados Unidos e da Rússia são os principais detentores deste
minério, porém em nosso país, o xisto é muito pouco explorado como fonte de
energia devido aos problemas ambientais causados e ao seu alto custo.

5.4  Fontes de Energia Renováveis


As fontes de energia renováveis são aquelas que utilizam elementos capazes de
se recomporem na natureza na mesma velocidade do ciclo humano. Por isso,
tornam-se fontes teoricamente inesgotáveis de energia, como a radiação solar,
a água e os ventos. Ainda sim, é preciso ter cuidado uma vez que condições cli-
máticas podem reduzir o fornecimento destes elementos naturais em um nível
menor do que a demanda humana para geração de energia. Por exemplo, a es-
cassez de chuva pode comprometer o funcionamento de usinas hidrelétricas.
Outro ponto genérico importante das energias renováveis é a sua caracterís-
tica de não emitir gases de efeito estufa, diferentemente dos combustíveis fós-
seis, sendo opções ecologicamente mais corretas. Ainda sim, as energias ditas
limpas, também produzem efeitos ambientais como será visto em cada um dos
tópicos a seguir.

capítulo 5 • 121
5.4.1  Solar

A Energia Solar, como o nome sugere, é aquela proveniente da emissão de luz e


calor do Sol. Existem dois grandes grupos classificados com referência na for-
ma de captura da energia solar. O primeiro deles, o ativo, é referente a formas
de exploração que captam, processam e distribuem a energia, como usinas fo-
tovoltaicas e sistemas de aquecimento de água usado em residências. O segun-
do grupo, a geração passiva, engloba formas de captação que não processam a
luz e o calor solar, como os projetos de engenharia que favorecem o uso da luz
e a circulação do ar.
Comercialmente, as maiores aplicações da energia solar são destinadas a
geração de energia elétrica ou ainda ao aquecimento da água, que é na prática,
a não utilização da energia da rede, costumeiramente gerada por outras fontes.
A geração de energia ocorre através da instalação de painéis fotovoltaicos que
possuem material semicondutor em sua superfície e quando expostos a luz,
são capazes de gerar corrente elétrica.
Para a boa produtividade desse sistema, não é necessário que a luminosida-
de seja muito intensa porém é preciso que seja baixa a densidade das nuvens. A
eficiência das células é mensurada de acordo com o aproveitamento em relação
aos raios solares recebidos e Seiffert (2009) afirma que as células fotovoltaicas
atualmente produzidas conseguem atingir até 25% de eficiência.
O aquecimento de água para uso doméstico é realizado através do uso de
coletores, popularmente conhecidos como painéis solares, que são instalados
nos tetos das residências. O calor recebido dos raios solares é captado pelos
coletores que o enviam a um boiler que por sua vez é o responsável por realizar
o aquecimento da água armazenada na caixa d’agua.
A energia solar contribui duplamente para a redução do efeito estufa, uma
vez que não contribui com a emissão de gases poluentes além de naturalmente
contribuir para reduzir as ilhas de calor em âmbito local já que as células fotovol-
taicas retiram da atmosfera parte dos raios solares emitidos (SEIFFERT, 2009).

5.4.2  Eólica

Desde os tempos mais primórdios, a humanidade vem utilizando a força dos


ventos em benefício próprio. Inicialmente, isso ocorria com os moinhos, com a
finalidade de bombear água ou moer grãos ou ainda através dos populares bar-

122 • capítulo 5
cos a vela. Com o avanço tecnológico, a sociedade descobriu também que era
possível gerar energia elétrica através dos ventos, o que consiste em uma fonte
bem menos impactante que o uso de combustíveis fósseis.
As pás da turbina eólica são impulsionadas pela força do vento e por sua vez,
fazem girar um rotor, interno a turbina. O rotor está conectado a um gerador
através de um multiplicador de velocidade, que potencializa o movimento. O
papel do gerador é transformar a energia mecânica em energia elétrica e, após
isso, a carga é enviada ao transformador, que a converte em alta tensão para ser
distribuído na rede. Existem casos de turbinas que não estão conectadas a rede,
gerando energia especialmente para comunidades ou individualmente.
Os impactos ambientais da utilização de energia eólica são bastante limita-
dos se comparados a fontes de combustíveis fósseis. Resumem-se basicamente
a possível morte de alguns pássaros pelo movimento das pás e a alta poluição
sonora causada também pelas turbinas, o que pode incomodar pessoas e ani-
mais nas proximidades (SEIFFERT, 2009).
O Global Wind Energy Council (GWEC) coloca China, Estados Unidos, Alemanha,
Espanha e Índia como os países com maior capacidade de energia eólica instalada
em seus territórios ao fim de 2014. No Brasil, de acordo com dados da ANEEL, a ca-
pacidade instalada é de 6.620 MW, o que representa 4,5% do total da matriz nacional.

5.4.3  Hidrelétrica

A energia hidrelétrica é gerada através da força das águas, utilizando-se da ener-


gia potencial gravitacional criada em movimentos como a queda d´agua, a qual
é convertida dentro do sistema em energia mecânica que por sua vez, torna-se
energia elétrica a ser distribuída na rede.
O funcionamento das usinas hidrelétricas inicia com o represamento de
um rio e a formação do lago artificial, onde é construída uma enorme barragem
capaz de suportar a pressão exercida pela água e que tem a função de controlar
a vazão do líquido de maneira que este seja constante. A energia hidrelétrica só
será eficiente se a vazão não sofrer desequilíbrios, pois isso causaria alterações
na capacidade de geração de energia. A água, após ultrapassar a barragem é
usada para rotacionar um eixo conectado a um gerador que converte a energia
mecânica em elétrica e a envia para o transformador, o qual por sua vez, eleva a
voltagem a ponto de ser transmitida pela rede.

capítulo 5 • 123
A energia hidrelétrica pode ser considerada de baixo impacto ambiental se
a sua instalação for realizada de maneira apropriada. Caso contrário, a instala-
ção de uma usina desse gênero pode causar desequilíbrios no meio ambiente,
prejudicando a vida marinha, interrompendo fluxos migratórios de animais
aquáticos, além de afetar a vida de populações instaladas as margens dos rios
uma vez que para o represamento da água é preciso realizar grandes obras no
entorno do leito original.
A energia hidrelétrica é a principal fonte de energia da matriz nacional. O
Brasil é um país que possui fatores propícios para a exploração deste tipo de
energia por dois principais fatores: recursos hídricos abundantes (35.000 m³
per capita) e relevo apropriado. Isso significa que o país possui muitos rios e
lagos e boa parte deles são rios de planalto, facilitando a exploração (SEIFFERT,
2009). De acordo com dados da ANEEL, atualmente este tipo de geração repre-
senta 61,5% da capacidade instalada da matriz nacional.

5.4.4  Hidrogênio

O hidrogênio é um elemento químico encontrado na natureza em abundância


e que possui alta capacidade de armazenar energia. Ele é considerado por mui-
tos o combustível do futuro, pois especialistas apontam que é a fonte de ener-
gia mais limpa e eficiente que existe atualmente. Entretanto, este elemento não
é encontrado em sua forma pura na natureza, sendo necessária a ocorrência de
um processo de separação. Esse fato faz com que a geração de energia através
do hidrogênio ainda esteja em desenvolvimento.
Na maioria dos casos, extrair energia do hidrogênio custa mais energia do
que a gerada, o que o torna economicamente inviável, ainda mais se compara-
da a outras fontes de energia. Porém, o hidrogênio pode ser obtido de diversas
fontes como a água, o biogás, o etanol ou até o gás natural (SEIFFERT, 2009).
Reconhecendo a importância econômica e socioambiental que o desenvol-
vimento de tecnologias com o uso energético deste elemento possui, é cres-
cente o número de universidades e instituições de pesquisa que investem em
projetos relativos a ele. Atualmente, já existem veículos, como carros e ônibus
alimentados por hidrogênio, porém ainda não atingiram um patamar econo-
micamente viável.
Apesar de tudo, o hidrogênio é uma fonte de energia secundária já que ainda
é preciso que outro recurso natural seja processado para sua emissão. Portanto,

124 • capítulo 5
o hidrogênio só será considerado uma energia totalmente limpa e sem emissão
de gases poluentes se a sua dissociação de outros elementos ocorrer por meio
também de energias limpas (SEIFFERT, 2009).

5.4.5  Biomassa

O termo biomassa refere-se a matéria ou massa viva e portanto, a sua existência


na natureza começa com a realização de fotossíntese pelos seres autotróficos,
que dão início ao andamento da matéria orgânica ao longo da cadeia alimen-
tar, até atingir o topo desta. Qualquer resíduo de natureza orgânica é capaz de
prover a biomassa necessária para a geração de energia (SEIFFERT, 2009).
A biomassa é considerada uma fonte de energia limpa, pois se utiliza de com-
ponentes que se não fossem empregados na produção dela, iriam estar dispostos
na natureza, também emitindo gases como o gás carbônico e o metano. Para a
composição da biomassa, é possível empregar resíduos de atividades pecuárias ou
agrícola, além de restos florestas, sobras industriais orgânicas e resíduos de madei-
ra. No Brasil, é comum o uso do bagaço da cana de açúcar (SEIFFERT, 2009).
Para ocorrer a decomposição da biomassa três técnicas são possíveis. Na
combustão, o composto libera calor, o qual pode ser usado na geração de ener-
gia elétrica. A gaseificação converte a biomassa em gás hidrogênio e monóxido
de carbono, que podem ser utilizados para energia ou indústria química. Por
fim, no processo de fermentação, uma bactéria anaeróbica desintegra a bio-
massa dando origem ao dióxido de carbono e metano, que também podem ser
destinados a geração de energia.
A biomassa pode ser utilizada como fonte de diferentes tipos de energia
em diversos estados e é considerada no geral, uma energia bastante limpa.
Entretanto, é fundamental que a instalação da central de biomassa seja reali-
zado considerando os impactos no meio ambiente e fazendo um rigoroso con-
trole ambiental de forma a não se transformar uma fonte limpa em poluente
do meio. Portanto, os construtores dos empreendimentos devem demonstrar
respeito a diversidade e preocupação ambiental (SEIFFERT, 2009).
O tratamento da biomassa dá origem a alguns subprodutos que possuem um
leque de aplicações práticas, ajudando a fomentar a proliferação de usinas desse
tipo, já que não somente a eletricidade será produzida, mas também elementos
com amplo espaço no mercado. Um desses itens é o biogás, resultado da decom-
posição da matéria orgânica, e que possui características semelhantes ao gás

capítulo 5 • 125
natural. Este elemento pode ser empregado, além da geração de energia, como
combustível veicular e fonte para a produção de hidrogênio (SEIFFERT, 2009).
Outro produto possível de ser extraído a partir da biomassa são os biocom-
bustíveis, mais fortemente representado pelo etanol e pelo biodiesel. Embora
ambos tenham origens parecidas (resíduos orgânicos), o etanol brasileiro, que
é popular desde o lançamento do Proalcool na década de 70, é produzido com
resíduos da cana de açúcar ao passo que o biodiesel é obtido a partir de ma-
térias primas oleaginosas como soja, girassol e milho. Considerando que es-
tes três itens são também fonte alimentar, há uma grande discussão acerca da
viabilidade social de privilegiar a produção de combustível em detrimento de
alimentos (SEIFFERT, 2009).
De qualquer maneira, a biomassa é uma fonte de energia atrativa já que ela
utiliza material que já entraria em um processo de decomposição e causaria
impacto ambiental naturalmente, para reduzir este impacto e ainda aproveitar
para a geração de energia, combustíveis e hidrogênio.

5.5  Recursos Agrícolas


Além dos recursos energéticos já estudados, o planeta também nos oferece
uma série de outros elementos que nos acostumamos a explorar e utilizar em
nosso dia a dia. São itens cuja formação ocorreu a partir de uma série de manei-
ras distintas, mas que são essenciais para o nosso desenvolvimento econômico
e social.
Muitas vezes nem percebemos que estamos utilizando recursos da nature-
za, mas a verdade é que os consumimos sim, e nossa vida seria muito diferente
sem eles. Por exemplo, quantas vezes não desfrutamos do sabor de um peixe,
ou comemos uma pizza assada no forno a lenha? Imagine se não tivéssemos
nossos móveis de madeira!
Os recursos agrícolas são parte importante do cotidiano humano e indús-
trias importantes do ponto de vista econômico. Entretanto, a gestão correta
destes elementos é fundamental para que a humanidade não tenha que viver
sem eles. A seguir, iremos compreender um pouco mais sobre alguns desses
itens e as práticas corretas para a sua gestão.

126 • capítulo 5
5.5.1  Pesca

A atividade pesqueira é uma das maneiras mais antigas que diferentes civiliza-
ções encontraram para retirar alimentos da natureza. Inicialmente, com pou-
ca tecnologia desenvolvida, era impossível para moradores distantes de rios e
oceanos consumirem produto pescado em suas residências. Porém, o avanço
técnico permitiu a conservação por mais tempo do sabor e nutrientes dos pei-
xes caçados, expandindo assim o potencial consumidor e consequentemente,
a atividade pesqueira.
O desenvolvimento tecnológico também criou novas técnicas para as pes-
carias, que se apresentavam mais eficientes. Uma delas foi através das redes
de arrasto. Entretanto, esse aumento na oferta de peixes começou a ter con-
sequências, já que ficou cada vez mais difícil fisgar os peixes desejados pelos
consumidores, realizando o que hoje é conhecido como sobrepesca, que é a de-
finição de quando o esforço para extrair o peixe de seu habitat é maior do que o
benefício, tanto do ponto de vista comercial como do biológico. Com o advento
da 2ª Guerra Mundial, a atividade pesqueira na Europa praticamente cessou, e
as populações de peixe voltaram a níveis abundantes (CASTELLO, 2007).
A partir daí, ganhou força em âmbito global a corrente que defendia a explo-
ração sustentável dos recursos pesqueiros para que as sociedades não ficassem
sem. Porém, a sustentabilidade em recursos pesqueiros é um conceito difícil
de ser aplicado, pois os recursos são limitados ao passo que a sua exploração é
irrestrita devido ao abertura a população de rios, mares e oceanos.
Dessa maneira, muitas pescarias tornam-se insustentáveis por entrarem
em situação de sobrepesca. Com isso, ganhou força entre os pesquisadores a
ideia de que a combinação de uso irrestrito e recursos limitados é perigosa para
o manejo das espécies de peixes.

5.5.2  Florestais

Florestas são grandes espaços de terra coberto por diferentes espécies de árvo-
res de grande tamanho. Esses locais formam um ecossistema, onde as árvores
são elementos essenciais mas que também abrigam uma série de espécies ani-
mais, as quais dependem do equilíbrio natural para sua perpetuação. Entretan-
to, a exploração dos recursos florestais é uma atividade econômica importante
em nossa sociedade.

capítulo 5 • 127
Dessa maneira, é necessário que haja um meio termo entre a extração e o
ganho econômico para que não afete a vida silvestre com a extinção de espécies
ao mesmo tempo em que a exploração seja feita de maneira sustentável. Por
isso, existe a gestão de recursos florestais, que consiste no controle e proteção
destes elementos.
Uma das principais técnicas defendidas por especialistas do assunto é o
envolvimento da comunidade local na gestão florestal. Esse modelo propõe
a formação de um conselho entre moradores, indivíduos ligados a empresas
interessadas na exploração da floresta e membros de ONGs e as negociações
ocorrem entre eles.
Apesar de o Brasil possuir uma vasta área florestal, somente em 2006 foi
criado um marco regulatório com políticas de gestão traduzidas em medidas
como o cadastro nacional florestal, que cataloga e torna pública a situação das
florestas nacionais, a concessão florestal, que garante o direito de exploração
de uma floresta desde que seja realizada de maneira sustentável e ainda a cria-
ção de um fundo financeiro para desenvolvimento de pesquisa sobre mane-
jo florestal.

5.5.3  Hídricos

A água é provavelmente o recurso mais essencial dentre todos já que sua utiliza-
ção é primordial para a perpetuação da vida animal no planeta. Este elemento
é fundamental para quase todas as atividades humanas exercidas no planeta
já que além de ser fonte vital para os indivíduos, é empregada na agricultura e
na pesca, na geração de energia, no lazer, no transporte, no tratamento de resí-
duos humanos, e em processos industriais.
O ciclo hidrológico corresponde ao caminho natural que água percorreria
se não houvesse exploração desta por seres vivos. Os diversos empregos que a
sociedade destina a água requerem diferentes requisitos de qualidade. Isto é,
em sua forma natural, a água não é encontrada pura, mas sim misturada com
uma série de substâncias como sólidos dissolvidos, compostos orgânicos, ga-
ses, entre outros.
Além disso, devido a interação deste elemento com outros recursos pre-
sentes no ambiente, esta sofre alterações em sua qualidade. Um dos exemplos

128 • capítulo 5
dessa alteração em sua pureza é a diluição de esgoto, que muitas vezes é despe-
jado sem tratamento, em rios próximos a aglomerados urbanos.
Devido a sua importância para a sociedade e seu vasto de leque de aplica-
ções, as quais possuem requisitos diferentes, torna-se essencial a gestão de re-
cursos hídricos, a qual pode ser entendida como a maneira utilizada para solu-
cionar a questão da escassez de água em contrapartida ao uso adequado dela.
A gestão deve procurar realizar o planejamento e implementar ações pensadas
a fim de garantir a exploração sustentável dos recursos. Para isso, é necessá-
rio que haja motivação política e que a administração designada seja capaz de
operacionalizar os mecanismos de controles definidos no planejamento para
que assim, rios, lagos e oceanos não sofram com a ação humano e tornem-se
recursos finitos.

ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre elementos renováveis e não renováveis?

02. Qual elemento é considerado a energia do futuro? Por quê?

03. Quais são os pontos negativos da energia nuclear?

04. Discorra sobre o processo de obtenção de energia hidrelétrica.

REFLEXÃO
Neste capítulo vimos que tradicionalmente, a energia elétrica de toda a humanidade está
baseada em recursos naturais não renováveis, como petróleo, carvão e urânio, que além de
serem elementos finitos, também são causadores de grandes impactos ambientais.
Também conhecemos fontes alternativas de energia que apresentam um menor risco ao
meio ambiente além de serem renováveis, como o sol, o vento, a água, o material orgânico,
e principalmente o hidrogênio. Por fim, percebemos a importância da existência de políticas
capazes de gerar os recursos agrícolas evitando a exaustão destes.

capítulo 5 • 129
LEITURA
CASTELLO, J. P. Gestão sustentável dos recursos pesqueiros, isto é realmente possível. Pan-
American Journal of Aquatic Sciences, v. 2, n. 1, p. 47-52, 2007.
SEIFFERT, M. E. B.. Mercado de carbono e protocolo de Quioto: oportunidades de negócios em
busca da sustentabilidade. São Paulo. Atlas, 2009.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTELLO, J. P. Gestão sustentável dos recursos pesqueiros, isto é realmente possível. Pan-
American Journal of Aquatic Sciences, v. 2, n. 1, p. 47-52, 2007.
MAY, P. H.; LUSTOSA, M. C., VINHA, V.. Economia do meio ambiente. Rio de Janeiro. Elsevier, 2003.
SEIFFERT, M. E. B.. Gestão ambiental: instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. São
Paulo. Atlas, 2007.
SEIFFERT, M. E. B.. Mercado de carbono e protocolo de Quioto: oportunidades de negócios em
busca da sustentabilidade. São Paulo. Atlas, 2009.
RECURSOS MINERAIS ENERGÉTICOS. Universidade de São Paulo. São Paulo: E-Aulas USP, s/d.
Disponível em: <http://eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=218> Acesso em: 09 de Set. 2015.
RICKETS, R. E.. A economia da natureza. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2011.

GABARITO
Capítulo 1

01. Os recursos naturais são aqueles que possuem valor e que são úteis na forma com que
se encontram na natureza, desde que eles sejam usados com outros fatores de produção
para geração de um bem ou de um serviço que possam vir a ser benéficos para a população.
Uma outra definição para os recursos naturais é a de que os mesmos são bens e serviços
originais ou primários do quais todos os demais dependem. Encontram-se inclusos entre os
recursos naturais elementos ou partes do meio ambiente físico e biológico, tais como solo,
plantas, animais, minerais e tudo que possa ser proveitoso e acessível à produção da subsis-
tência humana.

130 • capítulo 5
02. Esta classificação, apesar de ser a mais utilizada, deve ser vista com ressalvas, já que na
verdade todos os recursos podem se renovar por meio de ciclos naturais, porém alguns ciclos
duram milhões de anos, período de tempo muito superior ao da raça humana sendo, portanto
definidos como não renováveis. Dessa forma, as condições que definem se um recurso natu-
ral é renovável ou não são a perspectiva de tempo dos seres humanos e o seu modo de uso.
03. Um dos elementos marcantes da Revolução Industrial foi a introdução da máquina a
vapor. Por meio do uso da máquina a vapor a sociedade pôde intensificar o uso de recursos
naturais para a produção de força de forma versátil, controlável e constante, com qualidade
muito superior àquela produzida anteriormente por meio do uso de animais e de moinhos de
vento e de água.
04. A industrialização resultou em vários problemas ambientais, como: alta concentração
populacional; consumo excessivo de recursos naturais; contaminação do ar, do solo, das
águas; desflorestamento, entre outros.

Capítulo 2

01. O aquecimento global consiste em fenômeno relacionado com o aumento de emissões de


gases do efeito estufa gerados pelas atividades humanas, que agrava ainda mais a retenção das
radiações infravermelhas e, como consequência, eleva a temperatura média global do Planeta.
02. A Convenção da Mudança Climática e o Protocolo de Kyoto são exemplos de ferra-
mentas criadas a fim de controlar as emissões e regular o uso da atmosfera como um bem
público mundial. O emprego destes visa à redução da emissão dos gases do efeito estufa
em setores e países variados, em especial naqueles que contribuem de forma intensa para o
agravamento do problema.
03. Uma possível definição para desenvolvimento sustentável: Desenvolvimento econômico
e social que atenda às necessidades da geração atual sem comprometer a habilidade das
gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades.
Outra definição para “desenvolvimento sustentável” é a de que o mesmo consiste na res-
posta às necessidades humanas nas cidades com o mínimo ou nenhuma transferência dos
custos da produção, consumo ou lixo para outras pessoas ou ecossistemas, hoje e no futuro.
04. A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) faz uso de cinco instrumentos principais
(apoiados em ferramentas, sistemas e metodologias) para proteção dos recursos naturais:
1. Licenciamento – é baseado em Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), Estudo de Im-
pacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), Plano deControle Ambiental
(PCA), Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), Relatório de Avaliação Am-
biental (RAA), Relatório de Controle Ambiental (RCA), Analise de Risco (AR), Estudo de

capítulo 5 • 131
Viabilidade Ambiental (EVA), Projeto Básico Ambiental (PBA), Termo de Referência (TR),
Audiência Pública (AP), estabelecimento de padrões de qualidade ambiental e no sistema de
informações e cadastro técnico ambiental federal;
2. Incentivos econômicos – Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA); financiamentos
através do BNDES para grandes projetos, etc;
3. Inibições econômicas – Impostos ecológicos (ICM, Taxa de Reposição Florestal, etc);
4. Punição – Lei dos Crimes Ambientais, Código Florestal, etc;
5. Conservação – Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), Corredores
Ecológicos, Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), res-
trição ao uso de recursos naturais nas propriedades privadas (impostas pela Lei 4771/65,
entre outras), recuperação ambiental, auto-suprimento e reposição florestal.

Capítulo 3

01. Método é o “conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, a serem vencidas na inves-


tigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar determinado em.” Técnica é
o “modo de fazer de forma mais hábil, mais seguro, mais per- feito, algum tipo de atividade,
arte ou ofício”.
02. Projeto de pesquisa corresponde ao planejamento da pesquisa. O engenheiro antes de
construir a casa faz a planta e o pesquisador antes de fazer a pesquisa faz o projeto. A função
do projeto é traçar o curso da pesquisa; estabelecer, além do objeto, os meios técnicos da
pesquisa, ou seja, como vai ser investigado tal objeto.
03. A afirmação é falsa. O correto é: se classificarmos as pesquisas levando em conta os
objetivos, teremos três grandes grupos: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesqui-
sa explicativa.
04. (F) Na introdução devemos apresentar os resultados da pesquisa.
(V) A metodologia da pesquisa, além de estar mencionada na introdução, pode ter um
capítulo a parte dentro do trabalho.
(V) Os objetivos mencionados na introdução devem ser operacionalizados no desenvol-
vimento do trabalho.
(V) O desenvolvimento é a parte mais extensa do trabalho e está sempre dividido
em partes.
(F) A conclusão deve detalhar aspectos novos que não foram trata- dos no desenvolvimento.
Apenas a primeira e a última alternativas são falsas, os resultados da pesquisa devem
ser apresentados no desenvolvimento e não na conclusão e a conclusão não pode detalhar
aspectos que não foram tratados no desenvolvimento

132 • capítulo 5
Capítulo 4

01. São pesquisas com o intuito de tornar o tema mais familiar e mais explícito, podendo
servir para elaboração de hipóteses acerca de um tema;
Pesquisas descritivas: São estudos que buscam descrever características de um grupo ou
sociedade ou ainda relacionar duas ou mais variáveis dentro de uma população;
Pesquisas explicativas: Trata-se do grupo de pesquisa que busca explicar a razão
do acontecimento
02. Identificação do problema, Determinação do objetivo de pesquisa, Desenvolvimento da
estrutura teórica, Definição de hipóteses, Definição de termos, Identificação das limitações
do estudo, decisão acerca da metodologia e determinação do resultado esperado.
03. As pesquisas quantitativas são focadas na coleta e mensuração de dados numéricos
através da utilização de testes estatísticos. Já as qualitativas possuem maior subjetividade
e o pesquisador deve analisar e refletir sobre as percepções a fim compreender a ativida-
de estudada.
04. Espera-se que o texto contenha alguns elementos essenciais para uma boa justifica-
tiva: de que forma o tema abordado foi escolhido e porque ele é relevante a ponto de ser
pesquisado; a experiência do autor com o tema; as contribuições possíveis para o campo do
conhecimento e ainda a sustentação da viabilidade do projeto. A linguagem também deve ser
avaliada, devendo estar na forma culta da língua portuguesa e é aceitável, para este trecho
um caráter pessoal.

Capítulo 5

01. Os recursos renováveis são aqueles cujos ciclos de recomposição acompanham a ati-
vidade de extração por humanos, tais como água, solo, florestas ou faunas. Já os recursos
não renováveis, como os minérios, o petróleo ou o gás natural são elementos cuja reposição
não acompanha o ciclo humano no planeta pois estes processos demoram eras geológicas.
02. O hidrogênio, uma vez que ele é considerado o combustível de queima mais limpa e que
é encontrado em maior abundância na natureza. Entretanto, sua obtenção ainda depende
de outros processos geradores de energia o que o torna inviável economicamente. Ainda
sim, cada vez mais pesquisas avançam buscando tornar o hidrogênio um combustível viável.
03.
•  Dificuldades em armazenar os resíduos, que devem permanecer isolados durante anos,
•  Necessidade de enclausurar a central após o término das operações,
•  Método de geração de energia mais caro
•  Possibilidade de acidentes catastróficos

capítulo 5 • 133
04. O funcionamento das usinas hidrelétricas inicia com o represamento de um rio e a forma-
ção do lago artificial, onde é construída uma enorme barragem capaz de suportar a pressão
exercida pela água e que tem a função de controlar a vazão do líquido de maneira que este
seja constante. A energia hidrelétrica só será eficiente se a vazão não sofrer desequilíbrios,
pois isso causaria alterações na capacidade de geração de energia. A água, após ultrapassar
a barragem é usada para rotacionar um eixo conectado a um gerador que converte a energia
mecânica em elétrica e a envia para o transformador, o qual por sua vez, eleva a voltagem a
ponto de ser transmitida pela rede.

134 • capítulo 5
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 135
ANOTAÇÕES

136 • capítulo 5

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