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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 18ª VARA DO TRABALHO

DE SÃO PAULO -CAPITAL

Processo nº 1001576-43.2021.5.02.0018

ZDENKA CERNY, devidamente qualificada nos autos dos embargos


em epígrafe, que litiga em face da UNIÃO FEDERAL, vem, por seus advogados
infra-assinados, perante Vossa Excelência, apresentar suas CONTRARRAZÕES AO
RECURSO interposto pela citada municipalidade, o que faz pelos motivos de fato e
de direito à seguir.

Termos em que
Pede deferimento.

São Paulo/SP, 05 de agosto de 2022.

LUCAS PARREIRA
OAB/SP nº 342.809
CONTRARRAZÕES AO RECURSO

RECORRENTE: CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA


DO BRASIL –CNA

RECORRIDA: ZDENKA CERNY

Processo n.º 1001576-43.2021.5.02.0018

Origem: 18ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO

EGRÉGIO TRIBUNAL

COLENDA CÂMARA

.I.
BREVE SÍNTESE

Trata-se de ação de cobrança da Recorrente de supostos


valores de contribuições sindicais rurais do exercício de 2017.

Ocorre que, é manifestamente insubsistente a presente


cobrança, em especial considerando que (i) o valor cobrado é inexigível por por
ausência de respectivo órgão público fiscalizador e lançador; (ii) os imóveis em
comento não são de propriedade da Requerida; (iii) são imóveis sem qualquer tipo de
benfeitoria, sem qualquer atividade, totalmente cobertos por mata nativa.

Albergada nessas razões versadas na exordial, o R. Juízo a


quo, julgou improcedente os pedidos da Recorrente julgando “Na hipótese, o sindicato-
autor fundamenta sua pretensão na propriedade de mais de umimóvel rural, cuja soma das áreas
afigura-se superior a dois módulos rurais da região, estando enquadradana hipótese descrita no art.
1º, inciso II, letra "c", do Decreto-Lei 1.166/1971.Contudo, em que pese ser a Requerida
proprietária de dois lotes de terreno em área rural no Município de Barreira/BA, cujas áreas, somadas,
importam no equivalente a 1.084 hectares, superior ao limite de dois módulos rurais, não há quaisquer
provas a evidenciar o exercício de alguma atividade rural conômico-produtiva em tais imóveis, o
que inviabiliza o enquadramento jurídico do Réu na condição de empresário ou empregador rural.Com
efeito, a contribuição sindical rural tem como fato gerador a exploração econômica dapropriedade,
o que efetivamente não restou demonstrado nos autos

Irresignada, Recorre a CNA, basicamente dizendo que


“calculada essa medida agraria, na hipótese dos autos, em 23,68 módulos rurais (fl. 333), fato
incontroverso, forçoso é concluir que há atividade econômica rural e que está presente o requisito
legal exigido para se determinar o enquadramento sindical rural.”

Apesar do R. recurso, sem razão a recorrente, senão


vejamos:

DAS RAZÕES DE MANUTENÇÃO DA R. SENTENÇA

Ilegalidade e inconstitucionalidade da cobrança da Contribuição Sindical


Rural

É pacífico na doutrina e na jurisprudência que o crédito


tributário resulta do ato de lançamento definido no art. 142 do CTN.

Conceituamos o lançamento como “um procedimento administrativo


no sentido de que uma agente capaz procede a averiguação da subsunção do fato concreto à hipótese
legal (ocorrência do fato gerador), a valoração dos elementos que integram o fato concreto (base de
cálculo), a aplicação da alíquota prevista na lei para a apuração do montante do tributo devido, a
identificação do sujeito passivo, e, sendo o caso, a propositura de penalidade cabível. Esta série de atos
pode ser praticada, inclusive, em diferentes dias, mas no final da verificação dos requisitos previstos no
art. 142 do CTN haverá sempre um documento exteriorizador daqueles atos, que é o lançamento
eficiente para a constituição definitiva do crédito tributário.1”

Daí porque não há, nem pode existir tributo sem lançamento
por uma das três modalidades conhecidas: o lançamento direto ou de ofício; o
lançamento por declaração e o lançamento por homologação, esta última denominada
por parcela da doutrina de autolançamento no equivocado pressuposto de que é o
contribuinte quem verifica a ocorrência do fato gerador e promove o cálculo do tributo
devido.

Na verdade cabe ao agente público competente homologar


expressa ou tacitamente a atividade exercida pelo contribuinte na apuração do tributo
devido (art. 150 e § 4º do CTN). Sem essa homologação não há que se falar em crédito
tributário regularmente constituído.

Pois bem, a Contribuição Sindical Rural instituída pelo art. 4º da


Lei nº 1.166 de 15 de abril de 1971 para ser lançada e cobrada conjuntamente com o
Imposto Territorial Rural pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
INCRA – teve essa competência transferida para a Secretaria da Receita Federal pelo
art. 1º da Lei nº 8.022 de 12 de abril de 1990, sem solução de continuidade. Acontece
que a Lei de nº 8.847, de 28 de fevereiro de 1994 cessou a competência fiscalizadora e
lançadora daquela Contribuição Sindical Rural a partir de 31 de dezembro de 1996, sem
designar órgão sucessor.

Aproveitando o vácuo legislativo a Confederação Nacional da


Agricultura – CNA – detentora de apenas 5% do produto de arrecadação dessa
contribuição sindical arvorou-se em órgão fiscalizador e lançador do tributo e vem
promovendo a sua cobrança por via de ação ordinária na falta de certidão expedida

1 Cf. nosso Direito financeiro e tributário. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 561.
pelo órgão competente que a habilite a promover a cobrança executiva conforme
disposto no art. 606 da CLT.

Inconfundível a atividade de cobrança que pode ser delegada ao


particular, notadamente, às agências bancárias, com a atividade de fiscalização,
lançamento e cobrança coativo do tributo que é privativa de órgão público. A cobrança
da Dívida Ativa é atribuída no âmbito da União à Advocacia Geral de União por meio
da Procuradoria da Fazenda Nacional e nas esferas estaduais e municipais às
Procuradorias Gerais dos Estados e dos Municípios.

A CNA vem promovendo a cobrança da Contribuição Sindical


Rural que legalmente passou a ser inexigível a partir de 1º de janeiro de 1997 por
ausência de respectivo órgão público fiscalizador e lançador.

A inexigibilidade do tributo acarreta a sua extinção, pois, não


pode existir tributo inexigível a não ser nas hipóteses mencionadas no art. 151 do CTN,
que cuida dos casos de suspensão temporária da exigibilidade.

A proposta legislativa a seguir formulada visa extinguir


formalmente a Contribuição Sindical Rural que desde o dia 1º de janeiro de 1997 perdeu
a sua exigibilidade por ausência de órgão público competente para promover o seu
lançamento e arrecadação.

Projeto de Lei nº ____________

Extingue a Contribuição Sindical Rural instituída pelo art. 4º da


Lei nº 1.166, de 15 de abril de 1971, a partir de 1º de janeiro de
1997.

Art. 1º. É extinta a Contribuição Sindical Rural instituída pelo


art. 4º da Lei nº 1.166 de 15 de abril de 1971 a partir do dia 1º
de janeiro de 1997 considerando que a competência para
fiscalização, lançamento e arrecadação desse tributo cometida
originariamente ao Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária – INCRA – e posteriormente transferida para
a Secretaria da Receita Federal, atualmente, Secretaria das
Receita Federal do Brasil, cessou em 31 de dezembro de 1996,
sem designação de órgão público sucessor.

Art. 2º O disposto no art. 1º não enseja a restituição da


Contribuição Sindical Rural paga até a data da vigência desta lei.

Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

A Contribuição Sindical Rural foi instituída pelo art. 4º da Lei nº


1.166, de 15 de abril de 1971, conferindo ao Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária – INCRA – a competência
para a sua fiscalização, lançamento e arrecadação (art. 4º e § 1º).

Nos termos do art. 5º, essa contribuição era cobrada juntamente


com o Imposto Territorial Rural – ITR – igualmente de competência impositiva do
INCRA.

Conforme dispõe o art. 6º as guias de lançamento da


Contribuição Sindical emitidas pelo INCRA constituem documento hábil para a
cobrança executiva da dívida nos termos do art. 606 da Consolidação das Leis do
Trabalho.

O art. 1º da Lei nº 8.022 de 12 de abril de 1990 transferiu a


competência para lançar e arrecadar essa Contribuição Sindical e o Imposto Territorial
Rural para a Secretaria da Receita Federal, hoje, secretaria da Receita Federal do Brasil.

Contudo, essa competência outorgada à Secretaria da Receita


Federal, hoje, Secretaria da Receita Federal do Brasil, em relação à Contribuição
Sindical Rural, cessou a partir do dia 31 de dezembro de 1996, nos precisos termos do
art. 24, I da Lei nº 8.847, de 28 de janeiro de 1994.
A partir dessa data a Secretaria da Receita Federal do Brasil
passou a ter competência apenas para lançar e cobrar o Imposto Territorial Rural –
ITR, facultada a delegação dessa atribuição ao Município competente nos termos do
inciso III, do § 4º, do art. 153 da CF. Essa Lei de nº 8.847/97 não designou órgão
público sucessor para a fiscalização, lançamento e arrecadação da referida Contribuição
Sindical Rural, acarretando a sua inexigibilidade por ausência do órgão público para
promover o ato de lançamento tributário.

Ocorre que a Confederação Nacional da Agricultura – CNA –


mera beneficiária de 5% do produto de arrecadação dessa Contribuição Sindical,
conforme dispõe o art. 589, inciso I, letra “a” da Consolidação das Leis do Trabalho,
vem se arvorando em órgão fiscalizador, lançador e arrecadador promovendo sua
cobrança judicial por meio de ação ordinária à vista da ausência da certidão de dívida
ativa expedida pelo órgão público competente, na forma exigida pelo art. 606 da CLT.

Ora, a competência do órgão sindical para cobrar a contribuição


sindical é uma coisa. E a competência para fiscalizar e lançar a contribuição é coisa bem
diversa. A constituição do crédito tributário pelo lançamento é privativa do agente
público nos termos do art. 142 do CTN sendo ela indelegável. O que comporta
delegação é a atividade de cobrança do tributo lançado, que pode ser cometida até às
agências bancárias.

Depois de lançada a Contribuição Sindical pelo INCRA, pela


Receita Federal do Brasil ou por qualquer outro órgão público designado por lei poderá
a CNA, com base na Certidão de Divida Ativa, promover a execução. A falta dessa
certidão não abre o caminho para a CNA, uma entidade privada, promover a cobrança
por via de ação ordinária como vem fazendo até hoje. A instauração da relação jurídico-
tributária é matéria que se insere no âmbito do Direito Público, precisamente, no
campo do Direito Tributário onde impera o princípio da legalidade em seu sentido
material e processual.
Todo tributo (imposto, taxa, contribuição sindical, contribuição
de melhoria, contribuição previdenciária, contribuição de intervenção no domínio
econômico etc.) só pode ser cobrado mediante título líquido certo e exigível com o
respectivo valor expresso na Certidão da Dívida Ativa. O ato de inscrição na Dívida
Ativa representa o controle administrativo da legalidade da cobrança do crédito
tributário. É ato inerente ao Poder Público não passível de delegação, nem passível de
sua dispensa para instauração do processo judicial de cobrança do tributo.

A ausência de órgão público competente para fiscalizar e


promover o lançamento da Contribuição Sindical Rural importa em manutenção de um
tributo legalmente inexigível o que equivale à sua extinção, pois não pode existir um
tributo que não seja exigível a não ser nos casos de suspensão temporária da
exigibilidade nos termos do art. 151 do CTN.

Porém, a CNA vem promovendo a cobrança judicial dessa


Contribuição Sindical à luz da jurisprudência, sendo certo que o STJ editou a Súmula
de nº 396 segundo a qual a “Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade
ativa para cobrança da contribuição sindical rural.”

O enunciado da Súmula não estará incorreto se entendermos


que a expressão “cobrança da contribuição sindical rural” não abrange o poder de
fiscalizar e de lançar a contribuição em questão, como vem ocorrendo na prática.

Cobrar ela pode, desde que munida da Certidão de Dívida a que


alude o art. 606 da CLT, ou munida da guia de lançamento da contribuição a que se
refere o art. 6º da Lei nº 1.166/71.

O que ela não pode é promover o ato de lançamento da


Contribuição Sindical Rural que é privativo do agente público.
Da área do imóvel Rural – Sem benfeitorias – totalmente
tomada por mata nativa

O imóvel em questão é isento de ITR, por ser 100% tomado por


mata nativa, sem qualquer tipo de acessão ou benfeitoria.

Essa foi a conclusão, inclusive, proferida pelo MM juiz Federal


da Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Barreiras-BA nos autos da ação anulatória
nº : 0002383-09.2016.4.01.3303, que assim constatou (doc.1):

Isto é, tratam-se de imóveis rurais que mantém vegetação


nativa preservada desde sempre, até os dias atuais.

Aliás, note-se o que consta no Laudo produzido nos referidos


Autos (doc.3):
Portanto, Excelência, não existindo nenhum uso alternativo do solo
que sequer justificaria o ITR, não há que se falar em contribuição sindical.
Por fim, vale ressaltar que a Requerida não é mais proprietária dos
referidos imóveis rurais.

. DOS PEDIDOS

Assim sendo, Excelências, considerando as razões acima


consubstanciadas, é o presente para requerer o não provimento do recurso interposto.

Termos em que.
E. Deferimento
São Paulo, 07 de abril de 2022.

LUCAS PARREIRA
OAB/SP nº 342.809

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