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JORNAL DO AGRICULTOR 393
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SAPOTACEA ^& % WÊ

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d Rio, 19 de Dezembro de 1891


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o? SAPOTEAS, Robert-Broiun.—Sapotas, Jussieu.—Hilospermeas (menos as Jacquinia


e as Myrsine), Ventenat.—Vacciniaceas, em parte, \Adanson. (I).

a Consta esta família interessantíssima dos climas tropicaes, de arvores e á


o arbustos de ordinário latescentes, folhas simples, inteiras, coriaceas, perminervi as
05 sem stipulas quasi sempre, ou stipnlas caducas, alternas, muito conchegada uma as
os
outras, ou apparentemenle verticilladas, outras vezes quasi oppostas, glasbras, ou
d
d então pubescentes, com pellos avermelhados ou côr de ferrugem, ou sedosos, ou as-
tf
ou tendo cerlo brilho metallico • flores hermaphroditas, ou poligamas por
i peros,
03 aborto em alguns typos; inflorescencia solitária asilar ou pauciflora; cálice regular»
valvar
persistente gamo-sepalo 5—partido, rara vezes 4 ou 8—partido de prefloração
O
o

O
ou imbricaliva ; corolla gamo-pelala, tendo os lobos cm numero egual aos da divisão
08 do cálice, e com elles alternas, tendo seus. segmentos em 1,2 ou 3 series, e caduca;
a sua prefloração é imbricaliva; estames indefiidos ou em numero egual ao das
u divisões da corolla, muitos d'ellcs estéreis e pelallodes, ou squamiformes, ou dentea-
O
p. dos inseridos na corolla; íileles filiformes, antheras 2—loculares, extrorsas, de
dehiscencia longitudinal; ovario livre, pluri-locular; óvulos anatropos, ou quasi cam-
I stylo terminal, glabro, stigma
u pylotropos, solitários, pendentes, ou ascendentes;
o
«r* lobulado, ou agudo; fructo carnoso (baga), indehiscente; sementes de episperma
crustáceo, com ou sem alDumen oleaginoso, ou carnoso, embryão recto; cotyledones
fl

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05
randes e muitas vezes folheaceos; radicula inteira e curta. «

CLASSIFICAÇÃO DAS SAPOTACEAS. — Acceitamos a seguinte: gêneros
>
*+

Chrysaphyllum, Sideroxylon, Isonandra, Pouteria, Labatia, Sersalisia, Bumelia,


Argania, Sapota, Dipholis, Lucuma, Bassia, Synauhen, Hormogyne, Mimusops,
3 Labourdcennaisia, LaDramia, Azaola, Kakosmanthus, Keralephorus, Payena, Im-
Q bricaria, Onphalocarpim e Rostellaria.
«•
u DAS SAPOTACEAS jBRAZILEIRAS — O Sr. Micquel
o CLASSIFICAÇÃO
o
os
•o
menciona como brazileiros os gêneros seguintes:
Mimusops, Dipholis, Bumelia, Sideroxylon, Sapota, Labatia, Lucuma, Pas-
03
saveria, Chrysophillum e o Oxythece.
Sapota, o qual vem do nome indígena
(i) O nome sapotaceas ó tirado de seu principal gênero
SapotaW Braziliensis de
f«^razileiros 0CCUpou-se o Sr. Aiig. Guilherme Micquel, na Flora
Martius.
ANNO XIII—TOMO XXV— N. 651
19 DE DEZEMBRO DE 1891.
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Honaoraov oa ivMHor *

SAPOTACEAS ÚTEIS E CURIOSAS—De um modo geral podemos asseverar


one não ha siquer uma que o não seja-, pois que ou fornecem fruetos comestíveis ou
tem a casca adstringente e medicinal, ou dá madeira de construcção, ou emfim, for-
nece gutta-pcrha, precioso producto industrial; convém porem mencionar em parti-
lar as seguintes.
BALATA (balota, páo-de-esteira, bois-de-naüe-á feuilles-de-poirrier, dos co-
lonos francezes * bully tree, ou bullet tree, dos colonos inglezes de Sunnan, ma-
nikara ou manikara, etc.) Minunsops Balata Gaertu, (Minunsops Balota BI , Achras
Balata Aubl., ? Achras cissecta, Lin. Filho Lucuma mammosa De Vnes, nao da
Gaertner, nem Miquel, Sapota Muelleri BI., Mimusops Mamcapa Don.) das Goya-
nas provavelmente do Brazil e de outros paizes daAmerica meridional; seus fruetos
são comestíveis, as folhas piladas com gengibre em calaplasmas, são preconisadas,
como auti-paralyticas; a madeira é excellente para obras hydraulicas;o sueco lei-
toso fornece gutta-percha preciosa e abundantíssima.
SAPOTE-GRANDE (sapote, arvore-da-marmetada, marmelade-tree, dos in-
Lucuma mamesa Gaertn. L., ? Sapota mamosa Gaerln., Achras Lucuma
glezes).
' Blvanco ? Lucuma mamosa Juss.), das Antilhas e de outro vários paizes dWmenca
seus fruetos, conhecidos vulgarmente pelos nomes da marmelada natural, ovo vo-
, ,

e delicados para
getal, gemmada de ovo (1), depois de bem maduros.são muito doces
sobremesa : enquanto verdes, são elles adstringentes e anti-hemorragicos ; asse-
mentes passam tambem por comestíveis (2) e o leite da arvore passa por cautono.e
como lal usad contra as verrugas, e até reputado toyico, mas em pequenas doses
empregam-no como vomitivo, e d"á uma tinta sympalhica; seu principal uso. porem
é para extrahir-se a gutta-percha; a casca da arvore é adstringente e febrifuga ; o
lenho é grosseiro ; serve para diversos usos de carpinteria, como traves, barrotose
vigas.
SAPOTA— (Sapote, sapotiseiro do Brazil, nispero,impropriamote zapota,sapo-
tella ou zapotella, dos Hespanhóes, mispelbosm, dos hollandezes, sapotier, dos fran-
cezes, sapdille-tree dos inglezes) Sapota achras Mill. (Achras Sapota L., Achras Za-
pota Jacq.) das Anlilhase de vários outros paizes d'America, dá fruetos deliciosos,
viajantes
quondo maduros; suas sementes são mencionadas por vários naturalistas e
como diurectos úteis no traclamento das areias e cálculos vesicaes,ccomoapperienles;
em dozes consideráveis, porem, diz Lindley, as referidas sementes causam pertur-
baçâo graves na economia ; a casca da arvore é citada como adstringente e febrifuga
no Brazil, porem, onde é geralmente cultivada esta planta não é usada-para tal fim;
o leile do sapotiseiro é rico em gutta-percha.
C Sr. Guilherme Micquel, monographista d'esta familia na Flora Braziliensis
de Martins, apresenta as seguintes variedades d'esta espécie :
"
Var. (6) spherica (é o que chamam propriamente sapota ou sapoti na Bahia e
• nos outros estados naisseptentrionaes do Brazil, o que Jacquim denominava Zapo-
tilla.
Var. (y) depressa (que é o de fructo acompridado e as vezes ligeiramente acha-
lado; a este é que chamam na Bahia sapoti ou sapoti-chato) (1)

(l)Este nome vulgar é dado tambem ao fructo de chrysophylum caimito,Aubl.


(2)Não são absolutamente agradáveis ao paladar: elinssào principalmeuie aconselhadas na me-
dicina popular contra o catarrho vesical em locções ou injecçoes, e como diureticas internamente; a
dose dizem ser de 6 sementes machucadas com assucar.
(1) Este nome vulgar foi-me conimunicado pelo professor Bomfmi, da Bahia, consnitado-me
a respeito d'elle no Rio de Janeiro, onde tal não é dado.

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JORNAL DO AGRICULTOR 395

No Indostão existe uma variedade provavelmente cultivada, é a Var. Labata


(achras Sapota Wight, ou mimusops hexandra? Walhch).
Sapota trichomano J. Caminhóa (achras trichemane Perrot.), de Manilha, dá
também fructos comestíveis e gutta percha.
ARVORE DA MANTEIGA (mahoa, madhuca-tree, ? mungo-parck dos colonos
inglezes), Bassia butyracea Roxb., da Índia, os fructos, bem como as flores seccas
assadas, cosidas, são comestíveis; das sementes obtem-se um óleo espesso de as-
pecto similhante ao da manteiga, conhecido nos mercados pelos nomes de manteiga
de Galam, que os habitantes da Costa do Coromandel usam na comida e que tem
diversos usos industriaes; por exemplo, para o fabrico do sabão ; é usado também
na medicina popular.
MOPHA (maddoodoomah, ou madura, dos indianos), Bassia latipolia Roxb.
madhura Indica, Gmel), do Indostão, as flores são comestíveis e dão por distillaçãon
ma bebida espirituosa vulgarmente conhecida pelo nome de mowra; as sementes
ao óleo espesso butyraceo usado na industria e na economia domestica.
ILLUPIE-TREE, dos inglezes, Bassia longifolia L., da índia, como na prece-
dente espécie, as flores são comestíveis, as sementes dão óleo consistente que tem os
mesmos usos que o da mopha, serve para illuminação e fabrico do sabão e é muito
empregado na medicina popular, contra diversas affecções da pelle, o sueco lei-
toso e cosido dos fructos, bem como a casca, è considerado excellente ante-rheuma-
ticoe calmante; o mesmo uso tem o cosimento das folhas; os ramos seccos e em
iexes servem para archotes; o lenho é bom para diversas obras, e o látex dá gutta-
ercha; o pó da casca e usado como parisiticida contra a sarna.
ABIU (abi, caimito)Lucuma CaimitoAlph., De Cand. (CachrasCaimito Mart)
fo Peru, hoje aclimado perfeitameule no Brazil, onde o creôm espontâneo, seus
ruetos são deliciosos, o sueco do caule dá gutta-percha; o lenho é procurado para
cabo de ferramenta e para outros misteres.
CAIMITO outro (caimito, por errro de copia, provavelmente, caimitisr, e ca-
himitier, caimitier e feuille d'or dos colonos francezes etc), Chrysophyllum Caimi-
tum L.f Caimitum ponimifferum Tuss., Caimitum Chrysophyllum Tuss., Chrysophil-
lum aquaticum Klh., Chrysophillum argenteum.Jacq., Chrysophilliummonopyrenum
Spreng., nãodeSwarlz chrysophillum obtusalum Kietzsch, Chrysophillum Ottonis
Klotzsch), de vários paizes d'America intertropical ; seus fructos são conhecidos
também pelo nome vulgar de fruetas de doente, esão muito saborosos ; a casca da
arvore é adstringente ; as sementes são emolientes, e as folhas, segundo a crença
ferida, fal-a supurar,
popular, sendo collocadas por suas face iuferior sobre qualquer
e o sendo pela parte superior, tem acção adstringente; o sueco latescente dá gutta-
carpinteiro, (i)
percha, e a madeira é procurada para diversas obras de
O mesmo dizem das variedades;
Jamaicense (que è o star-apple, dos colonos inglezes da Jamaica).
(a)
frncezes).
(6) Cceruleum (que é os gros-bouis dos
(y) Portoricence.

(i) Almins autores desanimaram esta planta erradamente caimito-de pelo que também ficou errad
este motivo, propomos o nome certo e verdadeiro, accordo com o que determ.
o seientifleo ?or botânicos inter-nacionaes.
nam a Tchnologia e a decisão dos congressos
5 *'
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396 JORNAL DO AGRICULTOR

CAIMITO DE FRUCTO PEQUENO. —(caimito-cor de ferrugem, caimitier


olivaire, dos freneezes), Chrysophillum monopyrenom Swartz, não de Sprengel,
Chrysophillum Cainito (a) L., Chrysophuilum olivaeforme Lam., Chrysophillum
ferrugineumGaertn.),das Antilhas, tem mas ou menos os mesmos usos que as espécies
nrecedente
A mesma cousa dizemos de sua variedade (6) microphyllum (chrysophillum Cai-
mito ou mycrophillum Jacq., Chrysophillum microphyllum, A. De Cand.)
CHICHIMICUNA — (caimito-cor de ferrugem, outro), chrysophillum ferrugi-
neum Steud., não de Gaertner (Nycterisition ferrugineum R. e Pav., Chrysophillum
do Peru, e provavelmente do Noroeste do Brazil, a madeira e
splendensSpreng.),
boa para diversas obras; do sueco obtem-so gutta-percha, os fruetos são muito apre-
oiados pelos macacos. (2)
MACOUCU. dos goyanenses, Chrysophillum Macoucou Ambl. (Chrysophillum
Wilden.), os fruetos são também alimentares, a casca adstringente, e o
piritonnne,
sueco leitoso dá bellissima borracha.
Chrysophyllum Philippinense Perrot., das Ilhas Philippinas, dá também fruetos
alimentares.
TMBRICARIA DE BOURBON. —)imbriganá-de-Madagasgar, bardothier, bois
de-natte, nattier dos francezes), Imbricaria Borbonica Gaertn. (Imbricaria máxima
Lamk., Mimusops Imbricaria Willden.), das ilhas de Bourbon e de Madagasgar,
etc, dá fruetos comestíveis, e bom lenho para ripas e caibros.
Em vários logares do Brazil conta-nos que se aclimada esta espécie.
IMBRICARJA DO MALABAR — Imbricaria Malabarica, De Cand., tem, mais
ou menos, os mesmos usos que a precedente.
Lucunna Keule Mol )Adenos lemum nitidum Pers., Cormotega nitida R. e Pav.)
do Chili e Peru. dá frneto alimentar e temas folhas adstringentes.
ELENGI (medlarde-Surinam), Mimusop ELFNGl L. da índia dá flores muito
aromaticas, das quaes obtem-se uma agua distillada medicinal ; os fruetos são co-
mestiveis, suas somentes dão abundante óleo em usado para pintura, eaconselhado
parteiras para facilitar o parto, usa-se lambem dos fruetos machucados ifagua
pelas
quente contra a hypochondria, a casca em decocto passa por febrifuga, e é útil
em gargarejos contra as anginas.
KAKI (kauki) (1) Mimusops Kaki L. (Mimusops Kauk L. Imbricaria obtusi-
folia Lamk.) da ilha de Frauça; da índia, etc, dá fruetos doces e comestíveis a casca
da arvore é adstringente, e produz uma espécie de gomma rica de mucilágem, a ma-
deira é boa para diversas obras de carpinteiro ; è planta aconselhada em cataplasmas
conterá os tumores; para o que, usam das folhas contusas, depois de cosidas e mis-
tu radas com gemgibre.
No Malabar éusada contra o beriberi, do modo seguinte; cozem-se as folhas
no óleo de sésamo, e ajunta-se o pó da casca da arvore, para fricções.
PAU-FERRO.— (1) Sideroxylum cinereum L. da ilha de Bourbon, a madeira
é muito resistente^e è procurada para obras de carpinteiro e marcineiro ; de seu

(2) O Chrysophillum microcarpum eo Chrysophilium argenteum, das Antilhas, além de ai-


guns outros são também citados como dando fructo comestíveis.
(1) Linley denomina-o Kaki o que nos parece mais certo, e Duchesne Kauhú
(i) Gomo já vimos e dissemos por diversas veses, ha diíTerentes arvores de lenho duro e resis-
tente com este nome vulgar.
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JORNAL DO AGRICULTOR 397

e conhecidos
tronco fazem grandes canoas de uma só peça ; os fructos são curiosos
pelo nome de caveiras (lêt-de-mort). Roemena . .
ínermw
Sideroxylum inerme L. Sideroxylum atro virens, Lamk.
o lenho e m-
Thbg.), da África, a casca é reputada anti-syphilitica e anliscorbutica;
/

corruptível e precioso. . , •»
Sideroxylum loxiferum Thbg. do Japão e daHoltenlotia, o látex passa por muiU
dizem d'clle se utilizam os hottenlotes para envenenar suas flechas.
venenoso ; que salicifolia, A. De üand.
GALÍMETTA (while-Bulle-lree, dos inglezes), Dioholis
L. Bumelia salicifolia Sw. Sideroxylon salicifolium Gaertn.) Bu-
(Adiras salicifolia Gaertn.), das Anlilhas, da
melia higra Sw. Achras nigrá Poir. Sideroxylon nigrurn
reciosa madeira. (2)

J. M. CAMINnOA
e Gyranasio Nacional
Lente Calbedratico do botânica da Escola de Medecina

*>"

retusa, a Bunelia Lycioiáes, e a Bumelia graveo -


í$\ A Bumelia niffk, bem como a Bumelia
Isitoso, além de posiuir««
lenos, sào citadas pelos autores como amadas febrifugas, e rieas de sueco
lenho magnífico,
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398
v- JORNAL DO AGRICULTOR
"emprega
o vulgo o contra o
pela qual
rheumatismo.
CULTURA DO ALHO Com o summo do alho colla-se osso e
madeiras finas, por ser muito espesso, mu-
(Alium sativum) cilaginoso e gultinoso.
Na antigüidade não era permittido aos
que que comiam alho a entrada aos
gregos
O alho, esta planta que é conhecida per templos consagrados à deusa Cybele.repara-
todos, é de raiz bulbosa, compondos-se ate Virgílio recommendava-o como
de doze pequenos bulbos. que acham-se dor das forças perdidas.
apertados em uma pelicula delgada e um- Galeno o chamava tnaca dos lavra-
dos pela base; isto é o que se chama cabeça dores.
de alho,e cada um dos pequenos bulbos tem Raspail chamou-o canphora dos pobres.
o nome de dente de alho. Os athenienses ao embarcarem para uma
As raizes de alho, que são fibrosas nascem viagem longa, faziam grandes provisões de
da parte inferior dos pequenos bulbos.^ alho. '
e os ij a
soldados
O oleo volátil que o alho contem é de Era adorado pelos gregos
forte. romanos o comiam com grande satisfação
côr amarella , muito acre e sabor
assim como os trabalhadores agrícolas de
As propriedades estimulantes d'esta Portugal ainda hoje.
planta são devidas a seu oleo.
O alho é um bom estimulante e também
se emprega como febrifugo e contra as do-
res rheumaticas pisado com mel, e dizem Industrias Agrícolas
que contra a hyarophobia. REFINAÇÃO DO ÁLCOOL DE ALGODÃO
-O xarope de alho é um expectorante
este xarope com A10 galões de oleo cru de algodão, jun-
poderosíssimo; prepara-se e xarope simples, tando-se 6 de
alhos em água fervendo potassa cáustica a 45° Beaumé
algumas
em partes iguaes de cada substancia, ta- mexendo-se constantemeute por
bem a vasilha que o contem por horas.. .
pando-se Também obtem-se o mesmo etteito jun-
espaço de umas doze horas afim de que os de oleo a 6
alhos percam que o tem acre. tando-se a mesma quantidade
não o emprega galões de soda a 56° a 30 Baumé na tem-
Atheurapeutica moderna de 200° a 240° Fahr; mexendo-
antigüidade peratura
quasi para cousa nenhuma, na se sempre a mistura.
porem gosava grandede nomeada. decanta-se depois o
Deixa-se esfriar o
Hoje só entre o vulgo é que elle tem *oleo clarificado filtrando-se o residuo por
roga. meio de sacos de lona e expremendo-os.
W verdade que é um estimulante poderoso Purificado o oleo de algodão assemelha-se
o estômago, porem infelizmente^ é ao de oliveiras, sendo usado nos trabalhos
para
A'-
um tanto indigesto, por causa dos prin- culinários e servindo para a falsificação do
cipios alilicos sulfurados que contem. oleo de oliveiras.
Os russos o empregam contra a hydro- ossos
phobia. fertilisar ura
A eliminação do essência do alho se faz A quantidade de ossos para
razão hectaro de terra varia geralmente entre
pelas vias respiratórias, pela qual
ser receitado em algumas bronchites. 1,000 a 1,700 kilogrammas.
S-: pôde Esta quantidade é suficiente para 7 a 8
Introduzindo-se um dente de alho no annos de cultura de pastos.
recto, determina um accesso de febre Os ossos devem ser triturados para pro-
ephemera. duzirem em pouco tempo bons resultados.
Este facto è posto em pratica tanto pelos E' um dos fertilisantes mais empregados
v marinheiros como pelos soldados quando na lavouraingleza.
querem passar á enfermaria.
Applicado em cataplasmas sobre a pelle .
'«Wbr*^'

produz erosão o atè leve vesicação, razão


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JORNAL DO AGRICULTOR 399

de agua tepida aos leites concentradas que


se vendem em latas selladas para que se
A 1UDUSTRA DO LEITE obtenha um liquido tão espesso quanto o
ao jorrar da vacca, de qualidade
natural^senão
OS LACT1CINI0S E SUAS FALSIFICAÇÕES igual, superior. Na realidade ha
muita differença de um para outro.
Continuação (I) Em primeiro logar, por uma circums-
tancia fatal para o publico e proveitosa
ni para o industrial, é positivo que a operação
dá muito melhor resultado quando é feita
Em sua obra sobre o leite, o Sr.Duclaux com leite desnatado em vez de um liquido
indica, além dos meios já mtncionados, rico em manteiga. A duração da conserva
outro processo de conservação afim de ob- não é tão longa quanto deveria ser theori-
ter-se um producto rigorosamente isento camente. O que prova a imperfeição dos
de micróbios. E' escusado dizer que o pro- differentes processos que os inventores teem
cesso apontado, preciosíssimo para o chi- posto em pratica, para conservar o leite, è
mico ou o biologista, nenhum resultado precisamente o grande numero de inven-
daria na pratica industrial (1). tores e a multiplicidade dos methodos pre-
Logo que as primeiras gottas de leite conisados por cada um delles.
tenham limpado as tetas da vacca, interpõe de si um di-
rapidamente sob o filete branco que jorra O consumidor tem deante
a extremidade aberta de um tubo lema impossível de resolver; deita elle no
da teta de agua
de vidro fechado na outra extremidade. O xarope concentrado a proporção
ficar junto da recommendada pelo prospecto do fabri-
tubo deve quanto possível j
sem comtudo tocal-a. Antes da ope- cante? Obtém leite aguado, menos nutritivo
teta desnatado das cida-
ração, dever-se-ha ter o cuidado de aque- que leite mais mediocre
espaço do muitas horas e na des, e entretanto por demais assucarado.
cer o tubo por
de 120 até o ultimo Diminue a quantidade de agua? Obtém um
temperatura gráos; mas muitissi-
momento o tubo deve-se achar obstruído liquido com bastante creme,
algodão esterilisado. Desde que tiver mo doce. Effectivãmente o leite submettido
com sempre, previamente,
suficiente quantidade de leite deve-se ta- á concentração é dose de assucar de
misturado com certa
pal-o de novo. dura sem canna esse assucar incorporado ao residuo
O liquido assim conservado, ;
intima. Entretanto seu aspecto lácteo dissolve-se mais tarde ao mesmo
alteração Comquanto o assucar em
exterior se transforma insensivelmente, tempo que elle.
elementos do leite separam-se si nada tenha de nocivo, o leite adoçado
os diversos convém menos a um esto-
artificialmente
pouco a pouco. mago joven do que a secreção pura da teta
mmm*^ m*m***> «"-¦-¦¦• »***-"¦••¦»

tentativas se tem feito na Suissa da vacca, então os elementos nutri-


(i) Recentes porque entre
para obter a conservação do leite preservando-o tivos são exactamente equilibrados
da acção dos micróbios, emo liquido latas hermeticamente si sob a influencia da própria natureza.
soldadas, sem desnaturar fresco. : crer, nas
na exposição Seria, pois, grave erro que,
Estes productos foram premiados cidades onde o leite vendido a
de 1889. , grandes
Naturalmente o creme sobrenada; em varejo è muitas vezes falsificado, conviria
na inferior, a caseina amon- recorrer aos leites condensados para ali-
seouida, parte
toa-se em uma camada transparente ; mais mentar os recém-nascidos.
abaixo distingue-se outra zona apenas
em cujo seio fluctuam parti- As farinhas lácteas são ainda menos
translúcida, cumpre
cuias mucosas de caseinas em suspensão. dignas de serem recommendadas;
na base do tubo renova-se um a todo o custo usar leite puro e mais nada.
Finalmente de leite,
deposito esbranquiçado e opaco de phos- E' claro, porém, que as conservas
phato de cal precipitado em vez de serem despresadas, podem pres-
ta- ter
A dar-se credito aos prospectos dos grandes serviços aos viajantes, princi-
culinárias que
brícantes, bastaria juntar certa proporção palmente nas preparações
exijam a presença do assucar, por exemplo
353, os doces»
tt) Vide tomo XXV pag.

. .:-.•
400 JORNAL DO AGRICULTOR

IV nado tenha sido despojado de seus melhores


princípios ; poder-se-hia estar em presença
Como, no fim de algumas horas, o leite de leite natural fervido.
depositado em uma adega bastante fresca Do desnatamento ao baptismo do leite a
separa-se expontaneamente em duas cama- transição é natural, tanto mais quanto as
das superpostas, expontaneamente aquosas, duas praticas não se repellem. Bapti-
desigualmente ricas em manteiga, a própria sado, às vezes, na leiteria rural, soffre a
natureza parece favorecer uma fraude sim- mesma operação pelo intermediário que o
pies e que consiste em tirar e utilisar o compra e remette para Pariz, baptisado
o creme e vender o leite desnatado, sob a invariavelmente pelo leiteiro que o vende
denominação de garantido sem agua e por atacado, baptisado emfim pelos merca-
isento de qualquer matéria estranha. Isto dores a varejo, o leite após tantos accres-
constitue um delicto que deve ser punido cimos, chega ás vezes a ter 57 por 100 de
por lei. O leite, depois de desnatado perde agua !
saas melhores qualidades, passa ao estado A quantidade de agua é proporcional ao
de simples residuos e só serve para fazer numero dos intermediários ; fácil é compre-
queijo. hender que o leite que se vende aos vinténs,
Em alguns paizes, a legislação leva a se- tendo passado por muitas mãos, deve se
veridade ao ponto de prohibir a venda, sob achar algum tanto diluído em agua.
qualquer pretexto, do leite desnatado,"mes- O mercador ambulante não abusa muito
mo qualificando-o com o seu verdadeiro da agua quando seus freguezes não são for-
nome. Provavelmente pensou-se, e com çados, obrigatórios, e que, ao envez destes,
razão, que a principio dar-se-lhe-hia seu reclamam e abandonam o fornecedor. O
nome, mas que algum tempo depois a fraude mesmo não se dá com os collegios. E todos
triumpharia. nós conservamos recordações do leite agua-
Sob o ponto de vista nutritivo, o leite dissimo que nos davam ao almoço no col-
desnatado não deixa de ter algum valor. legio.
Não lhe faltam nem a caseina, nem a ai- Entretanto nas grandes e cidades pôde-
bumina, nem assucar; mas a substancia se ter leite puro; questão de preço e de
graxa foi em grande parte eliminada, ex- abastecer-se directamente de algum estabe-
cedendo de dous terços do algarismo pri- lecimento agricola que remetta o leite em
mitivo a perda verificada. Submettido á
evaporação graduada, o leite desnatado garrafas fechadas e lacradas.
deposita um residuo sensivelmente menor O mercador por atacado, objectará,
que o do leite analysado logo depois da para defender-se, que elle não é chimico
ordenhação. e não pôde, a priori, reco nhecer si
O desnatamento, como vimos, augmenta o leite que lhe vem do campo ou dos
a densidade do leite, e longe de approxi- arrabaldes tem agua ou não. O mer-
mal-o da agua, tende a afastal-o da uni- cador a varejo responderá, do mesmo modo,
dade. Com effeito, a parte mais leve do leite, que elle recebe o leite de um interme-
isto é, a manteiga, tendo desapparecido, a diário.
influencia da caseina, mrteria bastante pe- Ambos, entretanto, incorrem na respon-
sada de per si, não é oontrariada como sabilidade plenp e inteira das fraudes com-
antes, e o liquido pesa mais. mettidas em detrimento do leite que com-
Entretanto a fraude não é difficil de reco- pram, em virtude de um principio bem co-
nhecer-se, mesmo para quem não seja hábil nhecido : « Cada qual deve poder julgar da
experimentador. Recorre-se ácôr: anuance qualidade das mercadorias com que ne-
própria do creme é tão conhecida que ser- gocia.»
viu para denominar-se uma côr amarellada, Além disso, os laboratórios municipaes,
muito em moda. Privado do creme, o leite fundados em todas as cidades de certa im-
reveste uma cor azulada. Pela ausência de
matérias graxas, é menos viscoso portancia, só teem por fim permittir aos
que o negociantes por atacado e a varejo, aos con-
leite verdadeiro. O cremometro nenhuma sumidores, de garantir-se sobre a boa
indicação fornecerá com o liquido lidade das mercadorias que compram com qua-
Mas, por não haver subida de creme,pobre. não intenção de revendel-as ou
a
se segue forçosamente que o leite exami- quandQ clesti-
nados para seu uso.
-" '.

JORNAL DO AGRICULTOR 401

Muitas vezes não é impossível a qualquer baixo. Este leite nao foi previamente des-
pessoa verificar directamente um accrescimo natado, mas addicionaram-lhe água; a sua
de água mal feito. Para demonstral-o im- diminuta densidade não se pode explicar
mediamente, tomemos os dous apparelhos pela presença de grande dose de manteiga.
que jà decrevemos: o lacto-densimetro de Neste exemplo o excesso de água é de quasi
Quevenne e o cremometro de Chevallier. um quinto.
Mergulhe-se o areometro em leite fresco Contentar-se com o simples exame do
puro de qualquer mistura: o instrumento lacto-densimetro, sem estudar a subida do
de 15 gràos centígrados marcará 30 1/2 creme, é correr o risco de commetter mui-
gràos. Depois de ter tomado nota deste ai- tos erros graves. Um leite muito rico em
garismos, deite-se o leite no cremometro e creme, por cuja razão sua densidade se
espere-se que o creme se tenha reunido aproximaria da água, parecia a um inexpe-
formando uma camada de espessura conhe- riente, ao ver mergulhar o areometro, que
cida. continha excesso de água.
Tire-se esta com uma colher, e recorra-
se de novo ao pesa-leite ; a priori, o novo Inversamente, tome-se leite fresco de
numero que elle marcar ha de ser superior primeira qualidade, peze-se puro e, em se-
a 30°,5. guida, após a separação do creme.
Effectivamente, o leite, pela perda da Não se encontrará mais a densidade pri-
maior parte de sua manteiga, terá aug- mitiva; em resumo, a leite desnatado é
mentado de densidade, o ponto de contacto mais pesado que o leité"puro.
será na divisão 34. Vê-se, pois, que a Addicione-se, porém, um pouco de água
differença é bastante sensível, porquanto ao leite desnatado agitando-o bem, e em
cada gráo do instrumento occupa na haste breve ler-se-ha na escala do lacto-densime-
o espaço de alguns millimetros. tros o algarismo encontrado primitiva-
Examinemos agora os leites suspeitos. mente.
A primeira amostra apresentada è bas-
tante densa. Derrama-se esse leite no pro- Assim, o leite desnatado e bem baptisado,
vete cremometrico; apesar de todas as pede perfeitamente conservar uma densi-
dade normal, com tanto que as duas opera-
precauções tomadas na superfície se for-
mará apenas pequena camada de creme, ções sejam correlativas uma á outra; e
4 a 5 por 100, por exemplo; tirada essa deste modo um liquido muito manipulado
camada, o areometro continuará a marcar pelo falsificador pode á primeira vista pa-
o mesmo algarismo, quando muito com recer de excellente qualidade.
mais uma ou duas unidades. E' claro que Em taes condições, à desnatação exage-
esse leite havia sido antes privado de gran- rada, deve corresponder copiosa addição de
de parte de creme; em compensação é bas- água. Quando houver exagero facilmente
tante pesado, por conseguinte não lhe jun- revelará, não havendo necessidade mesmo
taram muita água. de recorrer ao cremometro, o liquido terá
A segunda amostra não tem mào aspecto: côr azulada e será inspirado. Supponha-se,
entretanto marca unicamente 27 gráos, o porém, que o falsificador tenha desnatado
que è pouco. Não nos demos pressa em con- e o leite moderadamente e não tenha abu-
demnal-a, porque poderemos verificar que sado do regador de água, a fraude é de
sua leveza especifica é devida á abundância difficil verificação, porquanto nem pelo pa-
de creme. ladar, nem pelo cremometro poderá ser des-
Tire-se do prevete a camada graxa que coberta. Neste caso sò uma analyse chimica
sobrenada; a parte desnatada, visivelmente completa poderá revelar a falsificação cri-
mais pesada que o leite primitivo, não minosa.
differe da medida ordinária.
\ densidade da terceira amostra é ainda A. DE Saporta
menor do que a da segunda, e traduz-se por
25 gráos. Muito pouco creme, entretanto
em maior porção do que na primeira amos* (Continua)
tra.
O lacto-densimetro, depois da desnatação,
accusa 28 gráos, algarismo muitíssimo
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40 2 JORNAL DO AGRICULTOF

IMIOS^ICO O TAUXETO
Os couros seccos sem preparo algum
apodrecem facilmente, impregnam-se de
• 7> »

agua e destroem-se rapidamente por um


attricto repetido.
Ajuda a natureza que ella remunerará Remedia-se a todos estes inconvenien-
teu esforço. tes e tornam-se elles próprios aos differen-
tes usos aos quaes são destinados, tirando-
se partido de uma propriedade que lhes e
commun com quasi todos os outros teci-
Observa se queres conhecer os segre- dos animaes, a de poder unir-se intima-
dos da agricultura. mente ao tanino,
O tanino è encontrado em todas as subs-
tancias vegetaes adstrigentes, sendo pois
um dos principios mais disseminados no
A secreção de um vegetal é sempre reino vegetal.
prejudicial aos da mesma < specie.
Effectivameute o numero dos vegetaes ou
dos órgãos dos vegetaes cuja decocção ene-
grece os saes de ferro e precipita a gelati-
Não ha terra estéril para quem sabe na e albumina (dois caracteres essenciaes
aproveitada com um vegetal adequado. do tanino) é por assim dizer innumera-
vel.
A casca da maior parte das arvores, os
ramos novos e as folhas das arvores e dos
Transplanta a arvore emquanto dura a arbustos, principalmente as dos carvalhos,
seiva. betulas, faias, sumagres olmos, castanhei-
rso, jiquitibás,guarabús,aroeiras, araribás,
sangue de drago, mangue vermelho, etc.di-
versas raizes e nozes, assim como o sueco
Não plantes uma arvore sem aparar- de muitos vegetaes contem em grande
lhe as raizes machucadas. quantidade o tanino ao qual ctavem suas
propriedades adstringentes.
Considerado outr'ora como um principio
immediato neutro o tanino é cellocado hoje
Não assentes uma arvore sobre terra entre os ácidos orgânicos.
endurecida.
Para se obter o ácido tannico em estado
de pureza introduz-se em uma allonge, cujo
cabo é arrolhado por uma mecha de algo-
Quando podares, lembra-te que os ga dão, introduz-se, dissemos, noz dp galha
lhos não devem ficar tão altos que to- em pó e acama-se de leve.
quem o ceu, nem tão baixos que varram Depois de se ter disposto esta allonge so-
o chão; no primeiro caso nao f ratificam, bre ura frasco, despeja-se ether sulfurico
no segundo não vegetam. nydratado em volume igual ao do e
abandona-se o apparelho a si mesmo depois pó
de se haver arrolhado.
Dias da Silva Júnior
No dia seguinte encontra-se no fundo do
frasco duas camadas distinetas que se sepa-
ram com o auxilio c}e um fuuü. '¦»
JORNAL DO AGRICULTOR 403

A camada inferior recolhida em uma fermentação de alguma matéria azotada


cápsula é lavada em uma nova porção de ou gluttinosa que às vezes cohtem.
ether e depois evaporada, quer em uma es- O ácido tannico ou para melhor dizer, as
tufa, quer sob o recipiente de uma machi- substancias vegetaes que o contem em
na pneumatica, obtendo-se por essaforma
um resíduo amarellado, esponjoso, brilhan- grande quantidade são principalmente em-
crystaliisado, que não é outra cousa que pregadas no cortume de pelles e na fabri-
cação de tintas para escrever. --•;
ácido tandico tão puro quanto possivel.
O ácido tanico forma tanatos com as
Assim obtido, o ácido tannico è inodoro bases.
Possue sabor adstringente no mais alto Destes compostos o único empregado é o
tanato de peroxydo de ferro, que faz a base
grào ; a agua dissolve-o em grande quan- da tinta de escrever.
tidadee sua solução avermelha a tintura
de tornesol; decompõo os carbonates com ¦ A tinta
prepara-se juntando-se a infu-
effervescencia e precita a maior parte das são de noz do galha, sulfato de ferro e
dissoluções metallicas, combinando-se com uma certa quantidade do gomma arábica
os oxydos. para impedir a precipitação do pertanato
formado.
Seu caracter distinctivo, como jà disse- Eis a melhores quantidades a empre-
mos é precipitar a solução de gelatina em
flocos brancos e os saes de peroxydo de gar:
ferro em preto azulado escuro. Noz de galha. • , 800 gr.
O álcool e o ether dissolvem também o Sulfato de ferro. , 250 »
ácido tanico, porem não tão perfeitamen- Gomma 250 i
te como a agua. Agua fervendo. . . 8000 »
O ácido tannico é composto de: Apóz ter-se pilado a noz de galha, mette-
se em infusão em agua fervendo durante
Carbono 51,18 vinte e quatro horas; junta-se depois o sul-
Hydrogeneo. . . . 4,18 fato de ferro que se faz dissolver pela
Oxygenio. . . . 44,64 agitação.
O ácido sulfurico concentrado, posto em
Sua formula—C6 H6 O*. contacto a quente com a camphora decompõe-
n'a, isola, em parte o carbono e dá por essa
Este ácido combina-se com a pelle, for- forma nascimento a uma matéria solúvel na
da maior parte das proprie-
mando com ella um composto imputrescivel, agua, gesando
conhecido pelo nome de couro. dades do tanino, e tendo por isso recebido o
nome de tanino artificial.
Quando se introduz em uma solução
aquosa de ácido tanico um pedaço de pelle,
esta membrana apodera-se de todo o aci-
do.
Economia domestica
O augmento de peso da pelle secca pede RESTAURAÇÃO DAS FITAS
servir para determinar, de modo approxi-
mativo, a quantidade de ácido tanico encer- Uma fita de seda que jà servio, torna-se
rado na solução. novamente lustrosa e fresca quando passa-
A propriedade que possue o ácido tanico da a ferro, depois de mergulhada em aguar-
de precipitar de suas soluções certos pro- dente.
duetos azotados, taes como albumina a ge-
latina, o glutten, faz com que o empre-
guem com vantagem para melhorar certos
yinhos brancos <jue tornauHe maus jela
¦...¦''¦

404 JORNAL DO AGRICULTOR

0 SAL NA ALIMENTAÇÃO DO GADO HYGIENE GERAL


Os suissos affirmam que um kilog. de sal AR
fornecido ao hado em doses convenientes,
produz dez kilog. de carne; entre elles isto O ar é o encarregado de fornecer ao san-
tem o valor de máxima.
Àmadeo Yurck, que teve a idéa de pro- gúe os elementos que lhe são precisos para
curar conhecer a verdade da asserção, ve- transformar-se em sangue vermelho.
riflcou a sua exactidão e conheceu até que Cada movimento de inspiração faz pene-
ella estava um pouco abaixo da verdade. trar na economia grandes quantidades de
Porem, que dose deve-se dar ? Eis a ar, com todas as matérias que tem em sus-
questão. *
Para deterrainal-a veja-se como proce- pensão ou formando com elle ura composto
deu Mr. A. Yurck. qualquer.
... Mi

Experimentou em carneiros que tinha á Importa, pois, que o ar soja puro, em


mão; tomou 25 cordeiros anglo-merinós, quantidade sulíiciente, de temperatura mo-
de um anno que gosavam boa saúde e do derada, com uma quantidade de agua em
mesmo peso mais ou mesmo ; fez delles estado de vapor e outras propriedades que
cinco lotes iguaes e deu a cada um por ca- mais adianto veremos, para que não seja
beca e por dia,uma ração composta de um nocivo ao homem e aos animaes.
kilog. de boa forragem artificial, de 500
gr. de palha de trigo e de 2 kilos e 500 gr. O ar é uma mistura de oxygenio, nitro-
de talhadas de beterrabas. geneo ou azoto, vapor de agua e uma po-
Esfe regimen, regularmente fornecido á quana quantidade de gaz carbônico.
hora fixa, durou um mez e eis os resulta- E' muito fácil porem que se carregue de
dos obtidos: matérias estranhas.
O lote n. 1 não recebeu sal, augmentou
14 kilog. Effectivamente na proximidade dos vul-
O lote n. 2 recebeu 24 gr. de sal au- cões pôde conter gazes produzidos pela
gmentando 15 kilog. erupção, como gaz sulfuroso e ácido carbo-
O lote n. 3 recebeu 12 gr. de sal e o au- nico.
gmento foi de 18 kilog. Quando o ar passa pelos pântanos, car-
O lote n, 4 recebeu 6 gr. de sal e au- rega-se de produetos que origina-se da de-
gmentou 21 kilog. e 500 gr. composição das matérias animaes e vege-
O lote ir. 5 recebeu apenas 3 grammas e taes, e outro tanto succede na proximidade
augmentou 31 kilog. e 500 gr. dos rios, lagos pouco profundos, chame-
Por conseguinte o melhor resultado foi cas etc.
o obtido com a dose de 3 grammas. Por isso notam-se tanto as febres palus-
Quando os alimentos são de qualidade três naquellas pessoas que vivem em regiões
inferior deve-se augmentar um pouco a pantanosas, tendo os que habitam na pro-
quantidade de sal. ximidade dos focos de infecção uma côr
Accrescentemos que a lã ganha com isto amarellada, pelle transparente e outros
e que as forragens más que os animaes a symptomas que indicam claramente a pro-
miúdo regeitam tornam-se comestíveis funda alteração experimentada pelo orga-
quando são salgadas. nismo.
Desde que a dose melhor é perfeitamente Devem-se por essa causa, collocar as ca-
conhecida em conseqüência de experiências sas nos logares altos, bem ventilados, para
comparativas, basta multiplical-a por 10 não se respirar os miasmas, que parece são
para se ter a dose que melhor convém a mais abundantes ao cahir da tarde.
uma vacca^ou boi.
Tornam o ar impuro as emanações dos
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matadouros, as fabricas de phosphoros, ae
de sabão e velas, os mercados, em que ss
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JORNAL DO AGRICULTOR 405

vendem carnes salgadas, peixe secco e ou- Recolhido e queimado o ar do salão de


trás substancias que carregam o ar de ma- um hospital deu grande quantidade de ma-
terias estranhas. terias orgânicas.
Em regra geral, é impuro o ar dos car- Se os enfermos estão submettidos á me-
ceres, cemitérios, igrejas, como todos aquel- dicação mercurial este deposita-se no pavi-
les logares em que se agglomera grande mento e nas paredes da habitação, poden-
quantidade de gente. do-se com uma lente regular, observar-se
pequenos glóbulos de mercúrio.
E' contrario á saúde o deixar nas habi"
tações;roupa suja, flores odoriferas ou fruc" O ar dos grandes centros de população é
tos carregados de matérias aromaticas, ei- bastante impuro e seus perigos são numero-
em quantidade, tabaco, café, os se não for exercida uma vigilante hy-
garros grande
etc. giene,
O mal sobe de ponto se collocam taes ma- As esterqueirasdos pateos, as emanações
terias em aposentos pequenos, mal ventila- das latrinas, as águas de cosinha, etc. etc,
dos, que servem para dormitórios. são focos le infecção que viciam o ar que
Procure-se renovar constantemente oar se respira.
nos dormitórios e quartos dos enfermos,prin- : os vegetaes se
cipalmente se padecem de enfermidades 0 ar do campo é puro
apossam uma grande parte dos princípios
contagiosas.
nocivos contidos na athmosphera e por isso
Ha entre nós o péssimo costume de fechar a saúde das pessoas do campo e muito mais
ejanellas ha enfèrmóem casa, robusta as das cidades, nas quaes sao
portas quando que
que o ar prejudica à saúde. tão communs a anemia, o rachitismo, e a
julgando-se
Conhecemos pessoas que preferem fugir a enorme serie das moléstias nervosas.
ficar perto do buraco da chave, com temor
de adquirirem umcatharro; trazem o corpo A respiração do homem produz um vene-
coberto com pannos o que os obriga a uma no que se deposita lentamente nas portas,
abundante transpiração naquellas partes paredes e vidros dasjanellas ; de nosso cor-
abrigadas em excesso e por conseguinte um po desprendem-se a todo momento grandes
desequilíbrio na economia. quantidades de matéria orgânica, producto
doar da renovação de nossos tecidos.
O fogo que se apodera do oxygeneo
e lbe cede grande quantidade de cazearbo- Por isso não serão demais as lavagens
nico, torna o ar impróprio para a respira- se fizerem de casas, moveis, panellas e
.nao é renovado com regulan- que
ção, quando portas.
dade.
mais ar Para as paredes cobertas com cal, uma
Uma só vela ardendo gasta que fazer
de má mão desta substancia bastará para
quatro pessoas e se a vela é matérias quali-
muito desapparecer os germens infecciosos.
dade espalha pela habitação
nocivas para os pulmões, produzidas pela diversas em uma habita-
combustão das matérias carbonadas. Estando pessoas
mais ventilada que esta seja se
ção, por depois, sen-
dormir com luz fecha-se e abre-se pouco tempo
Nada ê tão nocivo como especial, aceusa a de-
em aposento pequeno emal ventilado: mui- te-se um odor que
do ar.
tas mo-tes por asphvxia tem-se a deplorar composição
todos sabem
por tao pernicioso costume; de suicidar- Seçue-se disto que é mau para a saúde o
que um dos modos mais baratos costume de fechar as habitações depois de
se ê queimar carvão em um quarto peque- reunião, sem esperar que se renove o
no, fechando-se as portas para se impedir umo
do elemento necessário para a ar em sua totalidade.
a renovação
respiração. As pessoas abastadas tem o habito de aro-
em tornam matizar os salões com flores em grande
As pessoas enfermas, geral, de composição sus-
impróprio para a respiração o ar que as ro- quantidade, perfumes
peita, resinas, etc.
deia.
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406 JORNAL DO AGRICULTOR

Saiba-se que muitas flores podem occa-


sionar a morte quando deixadas nos dormi- CONHECIMETOS ÚTEIS
torios; que o abuso de perfumes traz debi-
lidade de estômago, dor de cabeça, zumbi-
dos nos ouvidos, alem de outros incommo- A REVOLTA DAS FREIRAS DE ODIVELLAS
dos quo muitas vezes tem serias consequen-
cias. Catharina e sua mãe sahiram absoltas
Os perfumes de composição desconhecida em auto particular. Nem levemente lhes
jà tem oceasionado alguns envenenamen- inflingiram penitencias; que as testemu-
tos. nhas inquiridas em Odivellas e Montemór
Conhecemos pessoaes muito irritaveis alliviavam da menor suspeita de judaísmo
a viuva e a filha.
que não podem passear durante muito tem-• Assim que ao mosteiro chegou a nova
po em um jardim sem sentirem desfalleci de que a Mídeirinha ia ser reintegrada na
mentos e grande perturbação no systema
nervoso. sua cella, soror Paulo deu a perceber que
o orgulhadas inimigas de Catha-
Algumas pessoas pouco sensatas aliegam pisara
pinar. A maioria da communidade odiava a
que o ar de uma localidade não é mào, amante do rei—umas freiras por inveja do
visto nunca terem sentido nenhum mau vicio, e algumas, restante dellas, por que a
odor ou incommodo. concubina de D. João V se affrontava pe-
Não olvidemos no entanto que o nosso oi- tulante com as mais fidalgas. Logo, pois,
fato pôde perverter-se em muito poaco que Paula se manifestou arrogante pro-
tempo, acostumando-se a não sentir sensa- tectora da Muleirinha, até as indifferentes
ção desagradável. à rival de Francisca de Mello se confede-
Poderíamos recordar o que acontece aos raram contra a protegida. As pouquíssimas
fumantes: o primeiro cigarro deixa uma amigas da calumniada christã-nova alhea-
amarga recordação, porem poucos tem che- ram-se do bando hostil, mas não se encos-
gado ao oitavo sem sentir as primicias do taram a Paula, que as ropellia todas, como
estender
prazer que cabe ao tabagista. Concluamos quem desejava lutar sosinha, e as caras
com uma reflexão : uma bofetada de mão real a todas
Mais de uma vez temos visitado as mise- das suas irmãs em S. Bernardo e co-esposas
raveis cabanas dos pobres, temos podido de Jesus.
ver as crianças metendo a mãosinha no co- Imagine-se os conluios, o reboliço, o re-
cho em que com os porcos, perus, gallinhas demoinho de duzentase setenta eoito frei-
e cães, apanhando no solo fragmentos de ras, á mistura com mais duzentas e tantas
fruetas, folhas, farrapos, em ambiente pes- entre seculares e criadas!
tilencial e pesado e paredes humidas. Havia conventiculos particulares sujeitos
ás deliberações do centro, presidido pela
E nos queixamos depois das enfermidades Pimentinha. Discutiam ornais peremptório
que os acconimettem sendo a culpa nos- expediente a seguir logo que Catharina de
sa? ¦
Castro reentrasse no mosteiro. A prelada,
por conselho e industria dos frades ciste-
. * .

Convenhamos em que a pobreza não é


rival do aceio, nem a miséria pode deseul- rienses, procuradores e directores do reba-
nho, fez uma allocução às mais mexediças,
par tal incúria. admoestando-as a submetterem-se ás ordens
Sabeis queridos leitores, qual ó a causa d'el-rei edo bom abbade de Alcobaça,de que
mais commun de tal descuido ? eram subordinadas. Patearam-a com gritos
e com os saltos dos sapatos em desaforada
Eu vos direi muito baixinho para não es- rebellião. A abbadessa não ousou impor
candalisar ninguém :
penas, porque não tinha força, nem queria
— E' a preguiça. pedil-a ao rei para não assoprar a soberbia
de soror Paula Perestrello.
L. do Valle. Os zangãos daquelle colmeal de abelhas
celestiaes, os fidalgos e conegos atiçavam
-—•¦--'—
a revolta, afim de prolongarem a força,
e conduzil-a à catastrophe das gargalhadas.
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* -"" "... .
.'

JORNAL DO AGRICULTOR 407

O voto commum dos distructadores con- veis explicações, pedindo prudência ejuizo.
veiu em que as freiras sahissem todas in- Mostrou a ordem do prelado de Alcobaça,
corporadas, logo que a christã nova regres- e lendo as phrases respectivas á falsa de-
sasse. Parece que a trama era havel-as cà nuncia, accrescentou:
fora muito á mão e dispersas, como fato de — Deus queira que as inimigas de Ca-
cabrinhas novas por giestaes em flor, quando tharina de Castro não tenham maiores
lhes abrem os cancellos do. curral. E como trabalhos...
se não bastasse a zombaria com Deus com Serpentou o boato por aquelle labytintho
as suas doidas esposas, zombavam também do mosteiro. Batia-se as portas, resmonea-
do rei, induzindo-as a que se encaminhas- va-se, sahiam grupos de umas cellas, dis-
sem processionalmente em assoada ao paço persavam-se entrando em outras. O ruido
da Ribeira, a pedir providencias contra o ao principio receioso, era jà tumulto, uma
próprio soberano e contra a omnipotencia gralheada de vozes argentinas, em que
de soror Paula. O antrincheirarem-se no realçavam as incitações de Francisca Mello,
convento, trancarem as portas e resistirem applaudidas por palmas e um bater de tacão
ao ingresso da freira, não era caso original, fremente de cólera. Aquellas senhoras assa-
nem esperançoso de bom successo ; além de nhadas como collarejas, eram a nata da
que, os mal intencionados dos alvitristas pe- nobreza luzitana.
diam o lanço de que pescar nas águas tur- Paula sabia pontualmente a hora da en-
vas aquolla pesca, de certo menos estranha trada da freira. Enviou-lhe os seus com-
que a estranha caça de Camões. primentos e as suas melhores criadas. Este
No entanto, Paula e sua irmã com as encurtou a fúria das outras. Vocife-
passo
poucas faccionarias, riam, mofavam e es- ravam-se palavras obcenas, aprendidas na
peravam em jovial soviel sobresalto a re- vida pratica e nas poesias fescininas de
conducção da Muleirinha. Thomaz Pinto Brandão, poeta muito de
Um dia, pouco depois de nascido o sol, casa. Applicavam a soror Paula uns epi-
quando se não esperava, chegou á portaria thetos que vexariam a comborça de um
de Odivellas D. Cathãrina de Castro em lacaio. Cathãrina ouvia o tropel nos dor-
sege com sua mãe, e dous monges de Sio mitorios, a vozeria que troava pelas abo-
Bernardo em outra sege. A prelada rece- badas, e tinha medo. Paula e Maria da
beu a nova que lhe levou a porteira junta- Luz desceram dos seus aposentos, entraram
mente com a ordem de D. abbade geral, á cella da religiosa e levaram-a comsigo
em a qual se incluiu a sentença absoluto- aterrada em turvaçães de louca.
ria da freira, accusada falsa e proterva-
mente por denunciantes contra quem as Exacerbações novas nas insurgentes, e
cruz
leis civis iam proceder, se o santo officio, a deliberação definitiva desahirem de os
fosse contra os usos e direitos, menos exe- alçada. A abbadessa mandou entrar
cutivo. frades, que arengaram debalde. Ninguém
os attendeu, posto que trovejassem: mas
Afim de não amotinar a communidade, não abriram o sacco das excommunhões,
que ainda resonava ensopada nas mollezas porque até certo ponto, os filhos de São
da manhã, a prelada foi silenciosamente á Bernardo gostavam de ver o rei e a sua
portaria, recebeu com boa sombra a freira freira enredados no escândalo.
e ordenou que se recolhesse a mãe á lios-
do mosteiro. As freiras tumultuarias eram cento e
podaria noventa. Ficaram as provectas, as entre-
Cathãrina entrou na sua cella, e fe- neutraes que eram poucas, e as
vadas, as
chou-se para chorar e gemer, abafando os de Paula que eram menos.
parciaes
gritos com o lenço premido na bocca. Mas
ás vezes a pontada no coração era tão lan- Quando a torrente golphou da portaria
formar
cinante, agonisavam-na tão iusoffridas e espadanou no amplo atrio para seda cruz,
afflicções, que os soluções estalavam-lhe em fileira e marchar no couce à espora
agudissimos da violenta repreza. sahiu para o paço um cavalheiro
fita, com carta de Paula para o rei.
Escutaram-na as religiosas nas circum-
*
sahiram assustadas do dormito- Momentos depois, abalava de Lisboa um
visinhas, do crime
rio. Disseram com supersticioso assombro, troço de cavallaria com o juizo
se ouviam na cella de Cathãrina do bairro da Mouraria, Caetano José d^
que gritos
de Castro. A abbadessa deu as indispensa- Silva Sottomavor.
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408 JORNAL DO AGRICULTOR


~^iX"X'-^'¦'*'-

As revoltosas, quando chegaram ahi pela monjas. Assim que as atalaias lhes deram
Lumiar, avistaram umas nuvens de poeira signal de se avistar o exercito, acas-
e ouviram tropear os cavallos. tellaram se na parte defensável do palácio.
Algumas subiram ao terraço da casa, cujo
A condessa do Pio Grande, prevenida parapeito era formado de adobes desconjun-
pelo marido a quem posto que já passasse tados pelo tempo, e circuitado de ameias,
dos cincoenta annos, doia o desastre de com suas torrinhas ou miradoures angu-
uma das mais galantes rebeldes—no lanço lares. As que galgaram aquella espécie de
em que a tropa se avistou, convidou-as a adarves eram as mais condicionadas, e
entrar no seu palácio. Acceitaram espavo- mais virilmente apostadas a triumphar ou
ridas do esquadrão e da carranca do cor- morrer.
regedor, que as intimou a retrocederem. o ministro, frustrados
Responderam tumultuosamente que não Assim, pois, que
os expedientes cortezes, deu voz de escala
voltariam a sua casa, emquanto lá estivesse aos quadrilheiros e solda-
uma judia sahida da inquisição. O Camões e arrombamento
em dos, do alto do terraço granisou sobre os
do Rocio, que tinha graças e farçolices uma chuva de tijolos à mistura
com as assaltantes
primeira mão, chasqueou bastante com de ameias alluidas. Ao mesmo
bernardas e, despedindo-se, disse que a sua pedaços
vez, e tempo, do segundo andar do palácio irrom-
vontade era agarrar uma de cada beleguins, fulos de marciaes
leval-a ao santo redil, pelo caminho mais piam sobre os?
não sem ordem raivas, não só as alfaias de madeira, mas
torto; porém, que o fazia' barro, mais secretas e
até as vasilhas de
de sua mestadade, que estava em primeiro das alcovas. A gritaria das
lugar, e não gostava de fazenda em se- menos olorosas
assaltadas seria a imagem do inferno, se
gunda mão. ellas, tão lindas, não figurassem os anjos
bons nos luciferinos prelios cantados por
Milton.

A condessa empregou todos os recursos


de persuação para as fazer regressar ao
convento, Era enfurecel-as mais, depois Os sitiadores,favorecidos talvez por trai-
que viram a tropa, e os aspectos marota- ção da própria dona da casa— victima pnn-
mente petulantes dos soldados, e os sorrisos cipal do conflicto, como o boticário de
amoriscados dos sargentos que lhes pisca- Nicolào Tolentino, entraram no palácio,
vam os olhos como o fariam ás mulatas de acoroçoados pelo juiz. As freiras ainda qui-
re ia. zeram lutar peito a peito; mas vedavallu)
o pudor e habito. Nao foram agarradas
Confiavam no patrocinio dos parentes; como dizem alguns historiadores: rende-
mas nenhum fidalgo se aventurou a ferir ram-se incólumes, intactas e pura? como
o rei na pessoa de soror Paula, desde que eram. Seria inverosimil agarração essa : a
á individualidade da Muleirinha se con- menos que os aguazis não tivessem os bra-
fundiu no capricho ostensivo da amante de
D. João V. Concorreu ao Lumiar, durante ços de Briareu. Elles eram menos de qua-
renta, e ellas pouco menos de duzentas.
dous dias, a parentella d'aquellas senhoras
com o frustrado propósito de as reçôr no Quando os coches pararam no terreiro
do convento, ouviu-se uma gargalhada es-
mosteiro. tridula no segundo andar do paiacete con-
Per fim o rei, conformando-se ao pare- tiguo ao mosteiro.
cer do secretario de estado, mandou o Era soror Paula Perestrello. Estava vin-
ser
magistrado Cunha Sottomayor que, a gada. Então soube quanto era bom
frente de uma boa esquadra de policia e amante de um mon ardia, pjderoso, de-
alguma tropa, compellisse, por geito ou vasso e parvoeirão.
força, as freiras desgarradas a entrarem
nos numerosos coches da casa real, e depois Camillo Castello Branco.
as levasse ao convento.
, O Camões do Rocio já não logrou ser
admittido a parlamentar com as bravas

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