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LABIRINTOS

Sir Graham amava labirintos. Mais que isso, eles eram sua vida. Ali, nas terras
que herdara de seu pai, onde antes havia sido o reino da Mércia, Sir Graham tinha
construído inúmeros labirintos. Começara ainda quando criança, com gravetos e
folhas, em estruturas sem firmamento que eram facilmente derrubadas pelo vento.
Quando, já mais velho, finalmente herdou sua fortuna, mandou construir labirintos
que ele mesmo projetara. Se tornavam cada vez mais complexos e grandiosos. Por vezes,
ele mesmo participava das construções, colocando tijolo e massa.
Depois de tantos anos, as colinas que cercavam sua residência já se encontravam
completamente preenchidas por seus labirintos. Deste modo, começou a transformar
seu próprio palácio em um, acrescentando corredores e quartos, que por vezes davam
em mais corredores e quartos, ou a lugar algum. Criou salas de espelhos que
confundiam a visão e corredores que se afunilavam, forçando aquele que atravessasse a
se agachar. Transformou sua casa em uma confusão abstrata de formas e ângulos. Mas
então, após décadas dedicadas a tão singular ofício, Sir Graham se viu em um beco sem
saída.
Os labirintos físicos já não o agradavam mais, lhe parecendo supérfluos e
inocentes. Gostaria de elevar suas criações. E, assim, começou a escrever. Textos
intrincados e torvelinhos, de palavras arcaicas e ambíguas. Tecia semântica e dobrava
simbolismos. Chegou a criar suas próprias línguas, com regras e fonéticas próprias, para
enriquecer ainda mais seus escritos. Mas, mesmo assim, ainda não estava satisfeito.
Havia completado cinco tomos, os quais estava feliz com, mas sentia que lhe faltava
ambição. Com isso em mente, começou a projetar seu mais belo e hermético labirinto,
sua Magnum-Opus.
E, naquela noite fria, Sir graham estava trancado em seu quarto, debruçado
sobre a escrivaninha. Placas metálicas e escritos em línguas estranhas jaziam espalhados
pela mesa. Limpou uma gota de suor e inspirou fundo. Estava quase pronto.

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