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Mulheres Empreendedoras: Uma Discussão sobre suas Competências


Autoria: Vânia Maria Jorge Nassif, Tales Andreassi, Maria José Tonelli, Maria Tereza Leme Fleury

Resumo
Estudos na área do empreendedorismo têm crescido em complexidade quando procura
desvendar questões que o relaciona com o contexto social, político e do trabalho. Temas que
relacionam aos aspectos individuais o que é ser empreendedor, seu papel de líder, a distinção
entre o papel do empreendedor e de gestor bem como questões de gênero têm sido
pesquisadas nestas últimas décadas. Paralelamente, a participação da mulher no mercado de
trabalho no Brasil tem aumentado significativamente e os dados de Appelbaum et al., (2003),
mostram que as mulheres compõem 46,5% da força de trabalho mundial. No Brasil, as
mulheres constituem 51% da população (IBGE, 2009) e esse mesmo relatório aponta que a
participação das mulheres no mercado de trabalho já atinge 47,2% no conjunto do país.
Assim, essa pesquisa tem por objetivo analisar as competências empreendedoras que
caracterizam mulheres da região sudeste do Brasil, com algumas limitações financeiras para
empreenderem face aos desafios do cotidiano de seus negócios, como resultante de suas
trajetórias construídas ao logo de suas interações sociais. Procurou-se compreender também, o
significado dos desafios, obstáculos e em quais competências se apóiam frente às situações
inesperadas, sem a preocupação de enumeração e/ou medição dos eventos estudados e nem a
generalização dos resultados. Neste sentido a pesquisa é classificada como exploratória. O
estudo adota, portanto, uma posição epistemológica interpretativa, procurando explicar o
fenômeno em estudo, segundo o ponto de vista dos sujeitos pesquisados, não lhes impondo
pontos de vista externos e formulados aprioristicamente. Fizeram parte da pesquisa sete
mulheres participantes de um programa de empreendedorismo na cidade de São Paulo,
inserido em projeto de âmbito internacional, realizado em vários países e financiado por um
banco americano. Os dados foram coletados por meio de entrevistas em profundidade,
seguido por um roteiro flexível. Para a análise de dados recorreu-se à análise de conteúdo
proposta por Bardin (1977) e à análise de biografias e narrativas proposta por Gibbs (2009).
As respostas foram caracterizadas em três blocos: Categoria 1 - Fatores decisivos para iniciar
os negócios; Categoria 2 – Desafio e obstáculos na carreira empreendedora e, Categoria 3 -
Competências desenvolvidas e em desenvolvimento ao longo da trajetória. Os resultados
revelam que as empreendedoras têm percepção de suas potencialidades, limitações, desejos e
anseios dentro de um escopo de competências cognitivas e afetivas. Reconhecem a
importância de desenvolverem a percepção de oportunidade, percepção de negócio e
aplicarem as competências de liderança. As habilidades interpessoais, o comprometimento e a
percepção social são conjuntos de competências empreendedoras para contribuem para a
condução de seus negócios. Fica evidente que embora fragmentados na teoria, os aspectos
cognitivos e afetivos são indissociáveis na prática.

 
 

Introdução
Estudos sobre o empreendedorismo e sobre o empreendedor conquistaram uma pauta de
inquestionável relevância, uma vez que esse ator tem exercido um papel fundamental na
visão, na condução e atuação junto aos negócios em diferentes setores da economia global
(Steyaert, 2007). Observa-se que nos contextos organizacional, social, político e econômico a
capacidade de adaptar-se rapidamente às novas condições, dar respostas ágeis, transcender o
ambiente empresarial e antecipar resultados têm sido um dos maiores desafios que os
empreendedores precisam enfrentar. Tais aspectos macro-ambientais influenciam o
empreendimento desde o momento de sua criação, perpassando por toda sua existência
(Brüderl, Preisendörfer, & Ziegler 1992). Nesse sentido, o estudo do empreendedorismo tem
crescido em complexidade quando procura desvendar questões que o relaciona com o
contexto social, político e do trabalho além de temas ligados aos aspectos individuais do que é
ser empreendedor. Questões ligadas às atividades executadas por empreendedores, seu papel
diferenciado de líder, a distinção entre o papel do empreendedor em relação ao papel do
gestor bem como questões de gênero têm sido pesquisadas nestas últimas décadas (Gartner,
1985; Filion, 1999; Steyaert, 2007; Mitchelmore & Rowley 2010; Minniti, 2009). Apesar dos
recentes avanços, pesquisas na área de empreendedorismo têm revelado um campo de estudo
repleto de controvérsia acadêmica (Bygrave & Hofer, 1993), marcado por uma ausência quase
completa de consenso (Amit, Glosten & Muller, 1993) e caracterizado por um elevado grau
de fragmentação (Ucbasaran, Westhead, & Wright, 2001). Observa-se ainda uma discussão
sobre a própria definição de empreendedorismo (Ucbasaran, Westhead, & Wright, 2001),
sobre a abrangência do campo pesquisado, dado o caráter interdisciplinar (Low & MacMillan,
1988; Landstrom, 1999), sobre as dificuldades do avanço conceitual como conceito-chave
para elucidar o caráter enigmático e complexo (Steyaert, 2007) e sobre quais áreas do
conhecimento humano o estudo do empreendedorismo deve abranger (Amit, Glosten, &
Muller, 1993). Ao lado deste cenário de controvérsia e embate intelectual, uma visão
consensual parece emergir: a de que falta, ao estudo do empreendedorismo, um arcabouço
teórico sólido, ou seja, falta base teórica para os estudos de empreendedorismo (Bygrave,
1989; Bygrave & Hofer, 1991; Amit, Glosten, & Muller, 1993; Grebel, Pyka, & Hanusch,
2003). Danjour (2002) diz que o conceito multidimensional, que apresenta o empreendedor
interagindo com o ambiente e atuando de forma dialógica, permite uma visão distinta do
formato reducionista que o coloca apenas como prática de abertura de empresa ou de
intervenção no seu exercício funcional. Assim, o surgimento de diversas linhas de
pensamento parece ter sido um resultado natural e esperado do processo de desenvolvimento
das pesquisas em empreendedorismo. A pesquisa disponível sobre empreendedorismo tem a
particularidade de reunir idéias de estudiosos das ciências sociais e humanas, apresenta-se
atualmente como uma área de estudo em evolução, e mostra temas emergentes que vêem
despertando interesse de pesquisadores, como por exemplo, empreendedorismo e gênero.
Neste campo, parte das pesquisas internacionais envereda para estudos sobre o
desenvolvimento econômico, fatores críticos e atuação de empreendedoras (Faraha, 2009,
Bertaux & Crable, 2007; Botha et al., 2006), programas de treinamento, domínio do
empreendimento e capital de risco (Joshi, 2009; Botha et al., 2006), ascensão das mulheres
empreendedoras no mundo do trabalho, tipologia, características e tipos de negócios de
mulheres empreendedoras, empreendedorismo feminino por necessidade (Iakovidou et al.,
2009; Hossain et al., 2009; Beauchesne, 1999). As pesquisas brasileiras, mais escassas ainda,
mostram estudos sobre identidades de mulheres empreendedoras (Machado, 2009);
características, considerações e entendimento de mulheres empreendedoras (Silveira et al.,
2008); mulheres empreendedoras no campo da pedagogia (Novaes et al., 2008); motivação

 
 

(Moraes, 2008); perfil de mulheres empreendedoras na condução de seu próprio negócio


(Gomes, 2004); empreendedorismo feminino no setor tecnológico (Jonathan, 2001), história
e trajetória de mulheres empreendedoras (Dolabela, 1999); fator tempo, organização e
dedicação da mulher empreendedora (Gimenez et al., 1998).
Este artigo, que faz parte de um projeto mais abrangente sobre a questão do
empreendedorismo feminino, tem por objetivo analisar as competências empreendedoras que
caracterizam mulheres, com algumas limitações financeiras, na região sudeste do Brasil. Os
resultados desta pesquisa contribuem para o campo teórico do empreendedorismo, com a
inclusão dos aspectos afetivos, que não estão presentes no arcabouço conceitual de Man e Lau
(2000). Além disso, apresentam questões específicas de mulheres empreendedoras brasileiras
face aos desafios do cotidiano de seus negócios, que resultam de suas trajetórias construídas
ao longo de suas interações sociais. Na seção a seguir apresenta-se o quadro teórico, com
ênfase em questões do empreendedorismo feminino e suas competências, e, em seguida,
seções com o detalhamento do projeto de pesquisa e procedimentos metodológicos, resultados
da pesquisa e considerações finais.
REFERENCIAL TEÓRICO
A participação da mulher no mercado de trabalho no Brasil tem aumentado significativamente
ao passar de 55,1% para 56,4%, entre 2007 e 2008, segundo estudo da Fundação Sistema
Educacional de Análise de Dados do Estado de São Paulo (SEADE) e do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico Brasileiro (DIEESE). Dados de
Appelbaum et al., (2003), mostram que as mulheres compõem 46,5% da força de trabalho
mundial. A Síntese de Indicadores Social (SIS) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2009) informam que, em dez anos, essa participação cresceu de 42,0% para
47,2% no Brasil. Ainda, de acordo com a pesquisa da Fundação Seade e do Dieese (2009),
esse aumento ocorreu em todos os grupos de idade, escolaridade, raça e posição no domicílio,
mas atingiu, particularmente, mulheres de 50 a 59 anos que possuem pelo menos o ensino
fundamental completo, os cônjuges e as filhas. No Brasil, as mulheres constituem 51% da
população (IBGE, 2009). Esse mesmo relatório aponta que a participação das mulheres no
mercado de trabalho já atinge 47,2% no conjunto do país. Por outro lado, dados do Instituto
Ethos (2007), mostram que as mulheres representam apenas 10,6% no nível executivo, 31%
no gerencial, 27% no de chefia e 32,6% nos cargos funcionais. A pesquisa revela ainda que o
fato de as mulheres apresentarem uma escolaridade maior que a dos homens parece não estar
contribuindo de forma significativa na sua ascensão em postos mais elevados das empresas.
Nos Estados Unidos, a situação parece não ser tão diferente, pois as mulheres representam
11,7% do corpo de diretores das 500 empresas citadas pela Fortune (Appelbaum et al., 2003).
A pesquisa do GEM - Global Entrepreneurship Monitor (2008) revela que as mulheres
brasileiras ocuparam, em 2007, o 7º lugar no ranking mundial como mais empreendedoras,
com uma taxa de 12,71 (aproximadamente 8 milhões de mulheres). Em São Paulo, o
empreendedorismo feminino do Brasil é o décimo mais atuante no mundo, com taxa de 9,61%
das entrevistadas, o que representa cerca de 5,5 milhões de mulheres empreendedoras em
estágio inicial (com negócios em fase de implantação ou de até 42 meses de existência). Está
à frente do Brasil: o Peru (26,06%), Tailândia (25,95%), Colômbia (18,77%), Venezuela
(16,81%, República Dominicana (14,50%) China (13,43%). Os últimos lugares foram
ocupados por Letônia (1,41%), Rússia (1,64%), Áustria (1,84%), Bélgica (1,98%) e França
(2,21%). Assim, a atenção voltada para o papel da mulher, sobretudo de mulheres
empreendedoras em função das conquistas de espaços no mercado de trabalho tem chamado
atenção, não apenas pelas condições de trabalho a que se submetem, pela já conhecida dupla
jornada de trabalho, que inclui inúmeras responsabilidades assumidas no âmbito familiar,

 
 

mas, sobretudo, pelo desempenho e resultados alcançados. Em países em desenvolvimento,


essa questão das mulheres empreendedoras inclui ainda outras dimensões. Um estudo
realizado na Etiópia por Bekele e Jacobs (2008) sobre mulheres empreendedoras de Micro e
Pequenas Empresas revela que, embora a agência que coordena as MPE naquele país e
economistas que discutem a promoção de mulheres no mercado de trabalho divulgue a
importância do papel delas para o crescimento da economia nacional, visando minimizar a
pobreza entre elas, afirma que o grau de reconhecimento e apoio governamental provido ao
setor é inadequado. A pesquisa de Bertaux e Crable (2007) mostra que estudantes da
Universidade Xavier (Cincinnati – Ohio, 2007) vivenciaram uma experiência numa região da
Índia cujo objetivo era o de compreender como ocorre o desenvolvimento socioeconômico
naquele país e, especialmente em algumas regiões de zona rural, com a ênfase no trabalho de
mulheres empreendedoras. Este estudo procurou por evidências ao avaliar o impacto e a
eficácia da aprendizagem dessas mulheres. Embora com dificuldades e restrições que no dia-
a-dia, como, por exemplo, limitações de escolaridade, escassez de recursos, preconceitos em
relação a gênero e barreiras culturais dentre outras, a pesquisa mostrou dados encorajadores
acerca do desenvolvimento econômico, que, em algumas regiões do país, decorre das
atividades empreendedoras das mulheres. O estudo mostra também que as mulheres
conciliam, de maneira modelar, a atividade domestica, além de contribuírem financeiramente
para o sustento da família. O trabalho de Botha, et.al (2006) na África do Sul, aponta que
uma das dificuldades encontradas entre as mulheres que querem empreender é a educação
precária e ausência de treinamentos. Os autores dessa pesquisa desenvolveram um programa
intitulado Women Entrepreneurship Programme (WEP) junto a 180 mulheres, sendo 116
respondentes e 64 participantes de um grupo controle, cujo objetivo foi o de avaliar se a
capacidade de transferência de habilidades e competências se efetivava com a intervenção de
treinamentos. Os resultados evidenciaram que as mulheres participantes do programa
desenvolveram habilidades e conquistaram novos conhecimentos que as ajudaram a dirigir
seus negócios de maneira mais efetiva, aumentando a confiança em si e no próprio trabalho,
melhorando o número de colaboradores e elevando a produtividade e lucro da empresa.
Hossain, et.al (2009) procuraram identificar, por meio de pesquisa qualitativa e quantitativa
fatores que influenciam mulheres a empreender em países em desenvolvimento, no caso em
questão, Bangladesh. Os resultados revelaram que, mesmo enfrentando muitos problemas
relacionados a preconceitos, educação, ausência de informações, dentre outros, o desejo de
tornarem-se independentes financeiramente, contribui de maneira significativa na decisão de
empreender. Além desse, outros fatores, como aquisição de novos conhecimentos,
desenvolvimento de habilidades e competências e a possibilidade de oferecer melhores
oportunidades para as crianças da comunidade, foram significativos na pesquisa. Pesquisa
realizada na Indonésia com o objetivo de analisar os principais constrangimentos, barreiras e
motivações de mulheres empreendedoras, revelou quatro categorias de limitações: baixo nível
de educação e a falta de oportunidade de formação; tarefas domésticas pesadas; tradições,
costumes, restrições culturais e religiosas e a falta de acesso à educação formal; e a quarta, de
acordo com os autores, a principal, o fator de sobrevivência, no sentido financeiro
(Tambunan, 2009). Estudos sobre a realidade de mulheres empreendedoras brasileiras
também evidencia barreiras enfrentadas frente ao seu papel profissional. Dificuldades de auto-
conceito e aceitação (Machado, 2009); falta de suporte afetivo e social (Carreira, Ajamil, &
Moreira, 2001); dificuldade para atuar no mercado internacional (Orser & Riding, 2000);
dificuldade de financiamento e ausência de modelos de referência de empreendedoras
(Wilkens, 1989; Filion, 1999a; Filion, 2000) e conhecimento precário e dedicação para ter
sucesso (Silveira, et al., 2008). Esses resultados mostram um fio condutor de desafios,

 
 

dificuldades, preconceitos, ausência de educação e de recursos. Mas, também revelam que


empreendedoras que tiveram oportunidade de desenvolver habilidades e competências, por
meio ou não de treinamentos, conquistaram seus objetivos, não obstante suas barreiras e
limitações. É possível observar ainda que, o segmento das MPE’s, considerado um dos pilares
da economia, desempenha um papel importante no crescimento e maturação de uma
comunidade, gerando oportunidades para o aproveitamento de uma parcela da força de
trabalho - mulheres empreendedoras, e estimulo para o desenvolvimento empresarial (Leone,
1999). Para melhor caracterizar a atuação empreendedora das mulheres é necessário estudar
as peculiaridades de cada região, pois o que pode ser considerado uma barreira em
determinada localidade em outra pode não ser. As dificuldades estão presentes, mas também
há diferentes maneiras de contorná-las, sobretudo para aquelas que enveredam pelo caminho
do empreendedorismo. Assim, fica a questão: quais competências contribuem para o
desenvolvimento do empreendedorismo feminino? Esse assunto será discutido a seguir.
Competências e Competências Empreendedoras
O estudo das competências remete à compreensão de um tema que tem sido discutido,
tanto no cenário acadêmico quanto no empresarial. Tem muitas faces e aplicativos e os
modelos e as práticas relacionadas com a competência são tipicamente movidos pelas mesmas
aspirações, cuja finalidade é a de alcançar um desempenho superior e ter rentabilidade
financeira ou sucesso no negócio (Spencer & Spencer, 1993). Um dos principais desafios na
literatura sobre competência é a falta de consenso entre estudiosos e o fato de exister muitas
definições de competência (Van Overveld & Van Goudoever, 1997; Brownell, et.al, 2006;
Hoffmann, 1999; Hayton & McEvoy, 2006). Além disso, os termos habilidades, expertise,
talento e conhecimento são inter-relacionados e às vezes usados na literatura como sinônimo
de competência (Smith & Morse, 2005). Sob esse aspecto, Hayton e McEvoy (2006) sugerem
que há confusão quanto ao uso indiscriminado desses termos ao lado de competências.
Argumenta que competências são construções interacionais e que contemplam três partes:
diferenças individuais, definições destas competências que são socialmente construídas e
comportamentos que são situacionalmente determinados por critérios de desempenho. Assim,
as competências são distintas porque elas não dependem apenas de atributos dos indivíduos,
mas também da situação e da definição social. Hunt (1998) sugere que o conceito de
competência decorre de uma variedade de fatores, incluindo a motivação do indivíduo, traços
de personalidade, auto-conceito, conhecimento ou habilidade e talvez não seja, portanto,
surpreendente que os limites e relações entre esses termos estejam mal definidos. A
ambiguidade é alimentada pelo uso do conceito de competência por um conjunto de partes
interessadas com diferentes objetivos (Burgoyne, 1993). Para Asendorpf (2004),
competências são traços de personalidade que permitem ao indivíduo atingir determinada
realização ou desempenho. Kets de Vries, (1996) pontua que competência pode ser concebida
como característica que engloba diferentes traços de personalidade, habilidades e
conhecimento, influenciados pela experiência, capacitação, educação, história familiar e
aspectos demográficos peculiares à pessoa. Já Le Boterf (1994), diz que competência não é
um estado, mas sim um processo. Esse autor considera que competente é aquele que consegue
mobilizar e colocar em prática, com eficácia, as diferentes funções de um sistema abrangendo
recursos tão diversos quanto operações de raciocínio, conhecimentos, ativações da memória,
avaliações, capacidades relacionais ou esquemas comportamentais. Argumenta ainda que,
competência é um saber agir responsável e que é reconhecido pelos outros, implicando em
saber como mobilizar, integrar e transferir conhecimentos, recursos e habilidades num
contexto profissional determinado. Fleury e Fleury (2001) corroboram o conceito e mostram
que esse sentido se amplia quando apreendido no contexto de transformações do mundo do

 
 

trabalho, quer seja nas empresas ou na sociedade. Adicionalmente, ampliam o conceito sob a
perspectiva de que estes aspectos agregam valor econômico à organização e valor social ao
indivíduo (Fleury & Fleury, 2001, p. 21). Zarifian (2001) relaciona competência à capacidade
da pessoa de assumir iniciativas, ir além das atividades prescritas, compreender e dominar
novas situações de trabalho, ser responsável e ser reconhecido por isso. O autor estabelece
que a competência é o tomar iniciativa e o assumir responsabilidade do indivíduo diante de
situações profissionais com as quais se depara (Zarifian, 2001, p. 68). Na compreensão de
Ruas (2000), a questão da competência, coloca-se num espaço de interação entre as pessoas e
seus saberes de um lado e de outro as demandas da organização. Assim, conforme
Feuerschütte e Godoi (2007) o desenvolvimento da competência pressupõe autonomia,
iniciativa e responsabilidade do indivíduo, consolidando o sentido de que se trata de um
processo dinâmico associado à ação voluntária de alguém sobre uma situação profissional
complexa, como reconhecem os estudiosos acima citados. No que tange aos empreendedores,
Hisrich e Peters, (2004), discutem formas de assimilação de informações, análise,
interpretação, aplicação de novos conhecimentos para viabilizar soluções e concretizar
resultados pessoais e profissionais. Uma pesquisa realizada por Logen (1997) com
empreendedores da França, Canadá, Japão e USA, procurou entender como os
empreendedores percebiam as habilidades necessárias para se buscar o sucesso. Os dados
revelaram a necessidade de desenvolver habilidades para identificar novas oportunidades,
aprender a avaliar as mesmas e pensar criticamente a situação. Outro fator de destaque na
pesquisa foi a necessidade de desenvolver a comunicação interpessoal e a capacidade de
escuta para resolver problemas e adquirir informação. A pesquisa conduzida por Lerner e
Almor (2002), com uso de escala likert, aplicada numa amostra de 220 mulheres empresárias
israelenses demonstrou que as competências gerenciais (finanças, gestão de recursos
humanos, operações e gestão estratégica) são distintas do que ele considera competências
empreendedoras (inovação e marketing). Mitchelmore e Rowley (2010) por meio de uma
revisão teórica organizaram um quadro com cinco categorias de análise das competências
empreendedoras, sendo elas: competências empreendedoras (foco na inovação); negócios e
competências gerenciais (foco no desenvolvimento de recursos, aspectos operacionais e
estratégicos); competências e relações humanas (foco na cultura, liderança e pessoas) e,
competências conceituais e de relacionamento (foco na comunicação, relacionamento com
stakeholders e tomada de decisão). Outras competências-chave estão associadas ao papel do
empreendedor. O reconhecimento e exploração de oportunidades são conceitos que
diferenciam o empreendedor do administrador (Shane & Venkataraman, 2000; Timmons &
Spinelli, 2004), uma vez que empreendedores são capazes de selecionar oportunidades de alta
qualidade para desenvolver seus negócios, posse de unidade, disposição e vontade de
trabalhar por muitas horas (Hofer & Sandberg, 1987) e a capacidade de esforço intenso
(MacMillan et al., 1985). Baum (1994) desenvolveu com dados de sua pesquisa uma lista de
nove competências empreendedoras, com base no trabalho de Chandler e Jansen (1992);
Herron e Robinson (1993). São elas: conhecimento, habilidade cognitiva, auto-gestão,
administração, recursos humanos, habilidade para tomar decisão, liderança, reconhecimento
de oportunidades e desenvolvimento de oportunidades. Incluiu também as relações humanas e
práticas de gestão. Ampliando esse escopo, o estudo de Friedman, et.al (1998) constata que
um crescente número de empreendedores atua sob o pressuposto do equilíbrio entre o trabalho
e a vida pessoal. Eles declaram que tais instâncias são complementares, e não concorrentes,
em termos de prioridades. Esta postura é reconhecida pelos autores como filosofia ganha -
ganha, repercutindo-se tanto na organização como na vida pessoal dos empreendedores. Para
Stolke (1980, p. 113) não são as diferenças fisiológicas que explicam as hierarquias sociais,

 
 

mas o uso social que é feito delas e o significado que lhes é atribuído, ao estudar a mulher no
mundo do trabalho e suas competências. Afirma ainda que a igualdade entre homem e mulher
não será garantida pela eliminação de suas diferenças. O que é necessário é a eliminação dos
privilégios de classe e das formas de dominação hereditários, para os quais a manutenção da
subordinação das mulheres é tão fundamental quanto à exploração do trabalho. Uma questão
que desafia as mulheres em busca de sucesso diz respeito à busca de equilíbrio entre os
aspectos pessoais, familiares e profissionais. Tal equilíbrio implica perceber que trabalho e
família se beneficiam quando se ajudam mutuamente; envolve, ainda, vivenciar ambas as
demandas de forma positiva, como um duplo desafio e não como um fardo vinculado à dupla
jornada que limita e constrange as mulheres (Jonathan, 2001). Outra vertente de pesquisas
recai sob a ótica dos aspectos afetivos e cognitivos como influenciadores do desenvolvimento
das competências. Gondim e Siqueira (2004) afirmam que durante muito tempo, os estudos
organizacionais se apoiaram em um modelo de organização racional, dando pouca ênfase aos
fenômenos afetivos, por considerá-los disfuncionais para o desempenho do trabalhador.
Fineman (2001a) assegura que os pesquisadores da área organizacional demoraram a
incorporar os afetos em suas investigações. Assim, estados afetivos eram vistos como
inapropriados para a vida organizacional, fontes de desequilíbrio, ilógicos e recebiam pouca
atenção como uma área de pesquisa (Gondim & Siqueira, 2004; James, 1989). Embora os
estados afetivos sejam sentidos no nível intrapessoal é no processo de socialização, cujo
principal objetivo é o de inserir a pessoa em uma determinada cultura, que se aprende em que
contextos alguns estados afetivos devem ser expressos ou inibidos (Gondim, 2006). Deste
modo, recentemente, as emoções passam a fazer parte da agenda dos pesquisadores
organizacionais (Fineman, 2005), ao se considerar que os estados afetivos não são a antítese
da racionalidade, mas sim inseparáveis do cotidiano das organizações e modelando interações
sociais. Não obstante o termo competência refletir diferentes posicionamentos
epistemológicos, vale ressaltar que o seu significado está cada vez mais presente na vida das
pessoas e nas atividades profissionais. É por meio de seus diferentes significados que se
procurou alinhar a compreensão das competências empreendedoras. Nesta pesquisa, os
conceitos de Man e Lau (2005) são utilizados para competências empreendedoras. Eles
afirmam que as competências do empreendedor atuam como uma ponte entre as
características em nível individual e o desempenho em nível de empresa. Para esses autores, a
definição de competência é a capacidade total do empreendedor de desempenhar seu papel
profissional com sucesso. Eles propõem uma taxonomia com dez áreas de competências
empreendedoras: a) oportunidade: consideradas um ponto central do processo empreendedor,
envolvendo o aspecto de identificar a oportunidade e de desenvolvê-la; b) organizador-
administrativa: aquelas necessárias para liderar, controlar, monitorar, organizar e desenvolver
os recursos internos e externos, formando as capacidades da firma; c) estratégicas: destinadas
à construção da visão, definição de metas e formulação de estratégias para a empresa toda; d)
sociais: voltadas ao sucesso nos contatos e parcerias, envolvendo competências de
comunicação e de construir e manter relacionamentos de confiança com stakeholders; e)
comprometimento: que propiciam a continuidade de esforços em função dos negócios e metas
estabelecidas, envolvendo, também, a proatividade; f) conceituais: capacidades de
pensamento analítico, aprendizado, tomada de decisão; g) Inovação: voltadas para a solução
de problema e capacidade inovativas e de replicar o portfólio; h) relacionamento: relacionada
a criação de uma rede de relacionamento; i) aprendizagem: refere-se a capacidade dos
empreendedores em aprender a aprender,capacitando-os para experiências cada vez mais
complexas através da aquisição de novos conhecimentos e, j) equilíbrio trabalho/vida
pessoal: parte do pressuposto que existe uma complementaridade entre a vida pessoal e o

 
 

trabalho. O trabalho de Man e Lau (2005), entretanto, discute competências empreendedoras


sem incluir distinções entre gêneros. Esta questão, entretanto, especialmente em países em
desenvolvimento necessita maiores desenvolvimentos, pois não há, na literatura pesquisada,
resultados conclusivos sobre este tema. Nesse sentido, esse estudo procurou entender quais
foram os fatores decisivos para iniciar os negócios, obstáculo e desafios encontrados por
mulheres empreendedoras, na região sudeste do Brasil, e, sobretudo, em quais competências
as empreendedoras apóiam para a condução de suas atividades.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa, de abordagem qualitativa, busca entender um fenômeno específico
em profundidade. Pesquisas qualitativas abrangem várias formas de procedimentos para
compreender e explicar o fenômeno social com o menor afastamento possível do ambiente
natural (Godoy, 1995). O objetivo da pesquisa é o de analisar as competências
empreendedoras que caracterizam mulheres, com algumas limitações financeiras, para
empreenderem face aos desafios do cotidiano de seus negócios, como resultante de suas
trajetórias construídas ao logo de suas interações sociais. Procurou-se compreender também, o
significado dos desafios, obstáculos e em quais competências se apóiam frente às situações
inesperadas, sem a preocupação de enumeração e/ou medição dos eventos estudados e nem a
generalização dos resultados. Neste sentido a pesquisa é classificada como exploratória. O
estudo adota, portanto, uma posição epistemológica interpretativa, procurando explicar o
fenômeno em estudo, segundo o ponto de vista dos sujeitos pesquisados, não lhes impondo
pontos de vista externos e formulados aprioristicamente. Ao pesquisador que adota este tipo
de enfoque, de acordo com Bogdan e Taylor (2000), cabe captar o significado que as pessoas
dão às coisas e ao seu entorno, ou seja, busca-se compreender os fenômenos que estão sendo
estudados a partir da perspectiva dos participantes. As entrevistas com as mulheres
empreendedoras, envolvidas com a construção da própria realidade, permitiram o resgate de
experiências individuais. A apreensão de suas trajetórias ocorreu por meio de entrevistas em
profundidade, gravadas com a prévia autorização das participantes, apoiada num roteiro
flexível permitindo às entrevistadas relatar livremente suas idéias e experiências. Esse roteiro
esteve alinhado aos objetivos do estudo, à natureza do objeto e às definições metodológicas e
epistemológicas da pesquisa (Sierra, 1998). Em pesquisas qualitativas, em geral, adota-se um
enfoque indutivo. Significa que os pesquisadores lançam mão de suposições que são geradas
pelo próprio processo de pesquisa. E, ainda que haja um quadro referencial de apoio na
discussão das competências empreendedoras, (neste caso, o trabalho de Man e Lau, 2005).
Para a análise de dados recorreu-se às técnicas denominadas análise de conteúdo proposta por
Bardin (1977) e à análise de biografias e narrativas proposta por Gibbs (2009). A análise de
conteúdo consiste de uma técnica aplicável a discursos diversos e a todos os tipos de
comunicação. Ela parte do pressuposto que, por trás do discurso aparente, simbólico e
polissêmico, esconde-se um sentido a ser desvendado. Pode ser orientada, segundo uma
perspectiva objetivista, recorrendo a um enfoque quantitativo, ou seguir uma tradição
qualitativa por meio da qual o pesquisador busca compreender as características, estruturas
e/ou modelos que permeiam as mensagens que são levadas em consideração. Nesse caso o
esforço do analista é duplo. Entender o sentido da comunicação, como se fosse o receptor
normal e, principalmente, desviar o olhar buscando outro significado, uma mensagem
possível de se enxergar através ou ao lado da primeira. Bardin (op.cit.) atribui a essa atividade
o nome de inferência. A opção nesse estudo foi seguir a vertente qualitativa dada à natureza, o
objetivo e especificidade dos dados coletados. Optou-se por uma análise temática cujo foco
está na descoberta de núcleos de sentido que compõe a comunicação (Bardin, op.cit.). Assim,
procurou-se compreender esses núcleos e as ligações entre si. Os resultados apoiaram-se ainda

 
 

na análise de biografia e narrativas por ser uma das formas fundamentais com que as pessoas
organizam sua compreensão do mundo. Por meio de suas histórias as pessoas dão sentido a
suas experiências e compartilham essas experiências com outras. Para tanto, a análise
cuidadosa de tópicos, conteúdo, estilo, contexto e o ato de compor narrativas, permitiu
compreender o sentido dos eventos fundamentais de suas vidas, as competências
empreendedoras necessárias para o desenvolvimento de seus negócios, bem como o contexto
e a cultura que permeiam a vida das mulheres empreendedoras (Gibbs, 2009). O plano
amostral em uma pesquisa qualitativa não obedece a critérios rígidos. A escolha da unidade de
análise recai basicamente onde está localizada a informação e o fenômeno a ser pesquisado.
Nesta pesquisa a unidade de análise são as competências empreendedoras e as discussões
foram alicerçadas no aporte teórico já apresentado, bem como a análise de conteúdo como o
recurso analítico validado em pesquisa de natureza qualitativa, focada na compreensão e
interpretação das experiências das mulheres empreendedoras. Foram entrevistadas sete
mulheres participantes de um programa de empreendedorismo na cidade de São Paulo –
Brasil. O programa sobre empreendedorismo foi especialmente desenhado para elas, com o
objetivo de ampliar e fortalecer competências que as auxiliassem no desenvolvimento de seus
negócios. Tal programa insere-se em projeto de âmbito internacional, realizado
simultaneamente em vários países e financiado por um banco americano. Devido ao cunho
social do programa, as mulheres participantes tinham que atender a alguns requisitos, como
por exemplo, não ter renda suficiente para pagar um curso semelhante e não terem estudado
em escolas de Negócios de primeira linha. Não obstante a limitação financeira, as
respondentes tinham concluído algum curso superior em escolas de menor reconhecimento,
além de estarem desenvolvendo algum tipo de negócio, numa diversidade de segmentos em
que predominava o setor de serviços. A escolha das sete mulheres se deu por representarem,
cada uma, uma história particular: de origem humilde, conseguiram superar as dificuldades e
haviam estruturado um negócio com boas perspectivas de crescimento e caracterizados por
certa dose de inovação. A Tabela 1 apresenta o perfil das sete participantes da pesquisa.
Empreen- Idade Estado civil Tempo de empresa antes Ramo de atuação
dedoras de empreender
E1 46 Casada 18 anos Análise estatística para web
E2 44 Casada 28 anos Empresa publicitária na web
E3 43 Solteira 20 anos Criação e produção de brindes e encadernação
E4 38 Casada 14 anos Consultora de gestão de pessoas
E5 46 Solteira 14 anos Produtora cultural
E6 41 Casada 25 anos Empresa de capacitação de pessoas para
trabalhar com estética animal.
E7 36 Solteira 16 anos Agência de tecnologias da informação
Tabela 1 - Perfil das Respondentes da Pesquisa
Fonte: dados da pesquisa

A Tabela 1 evidencia que a faixa etária das mulheres participantes está entre 36 e 46 anos,
sendo que o tempo dedicado ao trabalho em empresas antes de empreender varia de 14 a 28
anos. Esses dados validam o cansaço do mundo corporativo mencionado pelas respondentes
da pesquisa. Isso sinaliza a maturidade para tomada de decisão de empreender e a experiência
empresarial adquirida antes de assumirem a carreira empreendedora. Esses dados corroboram
os sentimentos revelados no que tange a falta de espaço para crescerem no ambiente
corporativo e, sobretudo, o desejo de buscar independência e autonomia profissional. Ao
ingressarem no programa, as respondentes preencheram um questionário visando traçar o
perfil, levantar dados demográficos e biográficos cujo intuito foi o de melhor conhecê-las e
averiguar se preenchiam os requisitos exigidos pelo programa. Alguns desses dados serão

 
 

apresentados no decorrer da análise dos resultados visando ampliar a visão e as experiências


das sete mulheres empreendedoras.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Após a transcrição literal das entrevistas, realizadas em profundidade, com roteiro semi-
estruturado, as respostas foram caracterizadas em três blocos: categoria 1 - Fatores decisivos
para iniciar os negócios; categoria 2 – Desafio e obstáculos na carreira empreendedora e,
categoria 3 - Competências desenvolvidas e em desenvolvimento ao longo da trajetória.
Visando preservar a identidade das empreendedoras entrevistadas, doravante elas serão
intituladas de E1 a E7. A categoria 1 contempla os fatores decisivos para iniciar os negócios.
Os dados revelam que, de forma unânime, dois fatores foram destacados entre as participantes
da pesquisa: o fato de sentirem-se saturadas da rotina do mundo corporativo e o fato de
desejarem autonomia e conquistar independência financeira, conforme ilustrado abaixo:
E eu fui adquirindo expertise não só técnico, mas profissional geral... como lidar com pessoas,
regulamentos de empresas, eu fui aprendendo tudo isso. Por outro lado, o que acontece nesse mercado
corporativo é uma pressão tremenda. E eu sou indócil e insubordinável.... além disso, se é para trabalhar
12 horas por dia... vou trabalhar para mim [E1]

O ambiente era muito pesado, competição muito acirrada, e ai eu resolvi sair, porque eu já não tinha
mais aquela disposição de brigar pelas coisas como eu tinha antes ..., ai eu comecei a ser mais seletiva, e
ai isso acabou me incomodando, eu já não tinha mais paciência para lidar com a política corporativa, já
não tinha mais paciência para reuniões idiotas que antes eu até ia numa boa, mas ai depois você acaba
mudando, você muda os valores [E2]

Eu estava cansada de fazer as mesmas coisas, não estava feliz no meu trabalho... eu tinha viajado,
conhecido algumas coisas diferentes, aprendido tanto que quando voltei para minha empresa, não
consegui ficar... foi difícil agüentar aquela rotina.. daí pensei, por que não trabalhar por conta própria?
Criei coragem e fui [E3].

Depois de um tempo dedicando ao mundo corporativo, eu percebi que o meu perfil já não cabia mais
dentro de uma empresa porque eu trazia mudanças, eu queria fazer mudanças e na empresa tinha muita
resistência e como eu busco muitas informações, eu me relaciono muito bem, tenho um network muito
grande... eu decidi que eu não trabalharia mais em empresa... disse para mim mesma... chega, eu não
posso mais estar dentro de uma empresa e por nenhum dinheiro eu voltaria trabalhar numa empresa
[E4]

Eu trabalhei em empresas multinacionais, trabalhei na área de marketing, desenvolvi alguns projetos


dentro de empresas multinacionais. E ai um dia eu me cansei, cansei de ser burocrata...não queria mais
ser burocrata e resolvi que eu queria estudar e trabalhar para mim mesma [E5]

Desde o inicio da minha carreira eu sempre achei que eu tinha que ter o meu negócio, era uma coisa de
empreender mesmo. Eu trabalhei muitos anos em empresas de grande porte multinacionais e eu me
cansei da rotina... mas no meu primeiro desemprego eu falei .. vou abri meu próprio negócio... [E6].

A transição do trabalho corporativo para um mercado conta própria é muito difícil, tem muita gente que
gostaria de fazer essa mudança, e não faz por esse medo, porque está acostumada a ter um salário na
sua conta ...e o consultor está sujeito a tudo..hoje tem muito, amanhã não tem nada, depois tem pouco,
depois tem médio. Mas, mesmo assim, no mundo corporativo a pressão hierárquica de funções e
resultados, é um stress insuportável, e quando você cria seu próprio negócio tem outro tipo de stress,
mas você é o dono... tem muito mais prazer [E7].

Os trechos acima apresentadas evidenciam o afloramento do espírito empreendedor, o desejo


e a busca pela independência e autonomia financeira, diferentemente do que o mundo
corporativo oferece, de acordo com as participantes empreendedoras. Shane e Venkataraman
(2000) sugerem que o reconhecimento e exploração de oportunidades contribuem para
diferenciar o empreendedor do administrador. Bird (1988) apóia esse posicionamento
10 

 
 

pontuando sobre a necessidade de observar as características pessoais dos empreendedores,


tais como, perseverança, persistência, como sendo uma característica fundamental para o
desenvolvimento de um novo empreendimento e que essas características, por vezes,
encontram resistência no mundo corporativo. Além desses fatores apontados, outros foram
explicitados como sendo também relevantes no processo de tomada de decisão para iniciar um
negócio. São eles, levar adiante um sonho que sempre acreditou e ter perfil para tal, ter claro
um objetivo que quer conquistar, trabalhar com o que gosta de fazer, encontrar espaço para
liberar sua ideias na empresa, além de criar oportunidade de emprego para outras pessoas.
Uma das questões levantadas no questionário procurou identificar as razões para assumir uma
atividade profissional independente e os aspectos mais recorrentes foram: necessidade de
realização pessoal, perspectivas de desafios, possibilidade de fazer o trabalho à sua própria
maneira, agarrar uma boa oportunidade, autonomia profissional, crença em um determinado
produto/serviço, perspectiva de crescimento limitada no emprego anterior, dentre outros.
Esses dados corroboram com o depoimento das respondentes quando mencionam que iniciam
seus negócios considerando necessidade de realização pessoal, busca de desafios,
possibilidade de fazer o trabalho à sua própria maneira e, sobretudo, terem autonomia
profissional. A categoria 2 agrupou respostas acerca dos desafios e obstáculos encontrados na
carreira empreendedora. As sete empreendedoras entrevistadas pontuaram que o maior
desafio que tiveram que lidar no início do empreendimento foi a coragem para iniciar seus
negócios sem dinheiro para investir, sem financiamento, contando com as próprias
capacidades e expertises. Outro fator relevante foi o aprendizado para tomarem decisões
sozinhas e sair do paradigma de receber salário mensal. Por outro lado, apontam para os
obstáculos o fato de terem que assumir excesso de impostos, burocracias e a falta de apoio
governamental, conforme as ilustrações a seguir.
Você só tem financiamento se o seu negócio está rodando, dando lucro e dinheiro. Mas, para quem tem
a idéia é muito difícil. Eu não tenho essa ilusão de ter que depender de financiamento, tem que ter um
plano B para colocar o negócio em ação e saber enfrentar as formalidades. [E1]

Nós não podemos contar com financiamento, então nós financiamos a nossa empresa ... com dinheiro
próprio. Quando descapitaliza, fica muito difícil... as linhas de financiamento no Brasil para pequenos
empreendedores são muito ruins...porque são extremamente burocráticas e não se consegue entender a
burocracia do governo... temos que pagar uma quantidade enorme de impostos...sua rotina muda... E2]

É preciso aprender a tomar decisões num contexto masculino... esse é um grande desafio, aprender a
trabalhar num contexto masculino... só com homens. Outro ponto que chama atenção sãos as altas taxas
e impostos que temos que pagar para impulsionar o negócio sem dinheiro. [E3]

O maior desafio é sair do lugar comum e para isso tem que ter dinheiro... muito difícil contar com apoio
governamental e com fontes de financiamentos. Se seu negócio não atrai investidor, você precisa contar
com você mesmo. Você tem que aprender a trabalhar no risco... com recursos próprios [E4].

O grande desafio da minha área é a política da área cultural... ela inexiste. Há lei de incentivo federal,
estadual e até municipal... essa não funciona há anos. A lei estadual permite abatimento nos impostos...
só que alegam... acabou o dinheiro e, às vezes, você está no meio do projeto. E por sua vez, a lei federal
está em processo de mudança e não se sabe o que vem por aí. Então, tem imposto e tributos para
pagar...o tempo todo ficamos brigando por recursos... temos dificuldades de financiamentos e o maior
desafio frente a esse cenário é tomar decisões em que investir.[E5].

A dificuldade está centrada na falta de alguém para compartilhar com você para tomar decisões... em
que investir, quando investir, onde investir por exemplo. Tomar decisões sozinha é um problema, pois
por trás das decisões tem dinheiro, falta de apoio e taxas muito altas de impostos para pagar. [E6].

11 

 
 

O empreendedor brasileiro paga muito imposto... o Brasil é um país que apóia muito pouco o
empreendedor... as linhas de financiamento são restritas com juros ameaçadores... então, tomar decisão
do que fazer tem que ter muita coragem. [E7]
Uma lista de possíveis problemas relativos à criação de empresas foi extraída do questionário
por elas respondida no momento de suas incorporações no projeto. São eles: falta de apoio de
associações de classe e/ou organizações profissionais, conciliação entre vida privada e vida
profissional, medo de assumir risco, dificuldades de acesso a financiamentos e a carga
tributária elevada. Os dados evidenciam aspectos relacionados à falta de conhecimentos
específicos que propiciem segurança para o empreendedor no momento de criação de sua
empresa, além da falta de apoio geral, de associações de classe ou ainda governamental.
Apresenta ainda as dificuldades de acesso a financiamento, além das altas taxas tributárias,
como problemas a serem enfrentados. Vale ressaltar ainda que, ao que tudo indica, de acordo
com as pesquisas desenvolvidas em outros países emergentes e em desenvolvimento, essa
realidade não é muito diferente. K'Aol (2008) desenvolveu uma pesquisa no Quênia com 300
mulheres empreendedoras e os dados apontaram para a dificuldade que essas empreendedoras
sinalizaram para conseguir financiamento encontrando, inclusive, um ambiente hostil para
angariarem recursos para desenvolver seu negócio. Outro estudo realizado por Tambunan
(2009) na Indonésia objetivou identificar as principais barreiras e motivações de mulheres
empreendedoras frente aos seus negócios. Os resultados apontaram para quatro fatores
limitadores para empreender, tais como, baixo nível de formação aliado à falta de
oportunidade de capacitação, dificultando a conquista de recursos para desenvolver seus
negócios. O segundo fator está relacionado à conjugação de esforços entre tarefas domésticas
e profissionais; o terceiro fator à dificuldade de expansão nos negócios advindos de crenças e
tradições religiosas e o quarto, não menos importante, referente à inexistência de fontes de
financiamento para mulheres empreendedoras naquele país. A categoria 3 agrupou as
competências desenvolvidas e em desenvolvimento ao longo da trajetória empreendedora.
Essa categoria procurou responder o objetivo central da presente pesquisa. Após a análise em
profundidade das respostas das empreendedoras, foi possível distinguir competências
cognitivas e afetivas, que apóiam efetivamente as empreendedoras no desenvolvimento de
seus negócios, organizadas na Figura 1. As empreendedoras julgam que precisam desenvolver
a comunicação formal, aprender a negociar, e ter comportamento pró-ativo, aperfeiçoar as
idéias e relacionamentos, bem como aprimorar ainda a capacidade de fazer parceria.
Consideram importante estarem preparadas para lidar com situações inesperadas frente aos
negócios e para isso, o aprimoramento da criatividade e a confiança de estar no caminho certo
pode ser um passo para o sucesso. Outros fatores de relevância, mais voltados para a ação
empreendedora concentram-se na aprendizagem para saber cobrar das pessoas, fazer
previsões, ganhar dinheiro e para isso, em várias situações, aprenderem a dizer não. Quanto
aos fatores críticos que, de certa forma, podem afetar o desempenho do negócio das
empreendedoras, apontaram para aspectos relacionados ao saber passar confiança, habilidade
para se comunicarem e estabelecerem relacionamentos interpessoais, aprenderem identifica
oportunidades e estabelecerem bons networks. Alegaram ainda que outros fatores tais como
lealdade ao cliente, disponibilidade financeira e acesso a tecnologia também são fatores
críticos que podem afetar o desempenho de seus negócios. Esses dados revelam que os fatores
mais importantes para o negócio, apontados por este conjunto de mulheres empreendedoras,
referem-se a fatores intrínsecos, ou seja, fatores controlados pelo empreendedor, tais como:
passar confiança ao cliente, práticas éticas, conhecer o produto/serviço, habilidades de
comunicação e habilidades interpessoais. No entanto, ao serem solicitadas a escolher os cinco
fatores que mais afetam seu negócio, alguns fatores extrínsecos mencionados foram,
12 

 
 

qualidade do produto/serviço, conhecimento do produto e/ou serviço, influência do clima


econômico para o desenvolvimento das atividades empreendedoras, disponibilidade financeira
e a necessidade de aprimorarem a capacidade de identificação de oportunidades para se
manterem em suas atividades. Essas competências foram organizadas na Figura 1 e agrupadas
por área de competências.

Figura 1 – Competências Identificadas


Fonte: dados da pesquisa

De maneira geral, os dados da presente pesquisa são confluentes em vários aspectos quando
comparado com as competências de Man e Lau (2005). Por exemplo, todas pontuam a
importância do reconhecimento de oportunidades para criação e desenvolvimento do negócio,
assim como o senso de urgência no quesito de inovação, formulação de estratégias e
comprometimento com o negócio. As empreendedoras valorizam, sobremaneira, o
desenvolvimento do pensamento analítico, foco na inovação e a predisposição para aprender
visando a tomada de decisão, o que para Man e Lau (2005) está relacionado com as
competências conceituais, de inovação e de aprendizagem. Outros dados recorrentes nas
entrevistas estão voltados para a importância de estabelecerem parcerias, desenvolver
relacionamentos de confiança e assim, criarem uma rede social que possa trazer resultados
para seus negócios. Man e Lau (2005) apontam esses aspectos quando discute as
competências de relacionamento e sociais. E por fim, de maneira quase que unânime,
mencionam a importância de tentarem promoverem o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal,
pontuado que esse é ainda um desafio para empreendedoras que estão à frente de seus
negócios. Os resultados da presente pesquisa revelaram ainda, conforme Figure 3, que as
empreendedoras têm, claramente, a percepção de suas potencialidades, limitações, desejos e
anseios dentro de um escopo de competências cognitivas e afetivas. Nesse sentido, parece que
as mulheres empreendedoras da presente pesquisa reconhecem a importância de
desenvolverem a percepção de oportunidade, alinhando o conhecimento técnico com as
habilidades pessoais. Fundamental a visão de curto, médio e longo prazo para saber tirar
proveito das coisas e não perderem oportunidades que decorrem de seus negócios, calculando
os riscos inerentes às operações. Atribuem relevância à percepção de negócio, ao domínio da
área de atuação, às experiências adquiridas ao longo das atividades. Demonstraram prudência
13 

 
 

ao recuarem em situações desconfortáveis, mas o espírito empreendedor quando buscam


soluções rápidas e corajosas para sobreporem as adversidades do mercado. E por fim, não
menos importante, a necessidade de aplicarem as competências de liderança, tais como saber
comunicar com pessoas, independente do tipo e nível hierárquico, montar e conduzir equipe,
além de movimentar pessoas em função de seus talentos. Quanto aos aspectos afetivos, ficou
claro que as habilidades interpessoais, tais como superar o medo, desenvolver controle
emocional, lidar com desafios, ser criativa e persistente são essenciais para a sobrevivência do
negócio. Outro aspecto enfatizado passa pelo comprometimento com o negócio, caracterizado
pela crença no negócio, conquista e independência, além de fazer o que gosta contribui para
serem pessoas bem resolvidas na vida. Não obstante esses aspectos serem fundamentais, a
percepção social mostra-se também fator decisivo para o desenvolvimento do negócio, no
sentido de serem cuidadosas com as pessoas e com o ambiente que as cercam, procurando
com suas ações, deixarem um legado para a sociedade.
CONCLUSÃO
Os resultados alcançados neste trabalho são significativos em três aspectos. Em
primeiro lugar, os dados da categoria 1, confirmam resultados já encontrados em outras
pesquisas, como, por exemplo, Bird (1988) e Shane e Venkataraman (2000), sobre o
reconhecimento e exploração de oportunidades que diferenciam o empreendedor do
administrador. De certa forma, ainda que pesquisas sobre empreendedorismo tenham
dificuldade em encontrar consistências, esse resultado aponta para o fato de que em diferentes
contextos se manifesta o mesmo perfil empreendedor. Em segundo lugar, os dados obtidos a
partir da categoria 2 mostram que há similaridades nas dificuldades enfrentadas pelas
empreendedoras brasileiras em relação a outros países em desenvolvimento. Este resultado
mostra que, independentemente do lugar, as mulheres vivenciam situações similares para a
criação de seus próprios negócios, não obstante o contexto e as experiências tenham
diferenças significativas. A pesquisa de Bertaux e Crable (2007), por exemplo, corrobora
esses resultados a partir das evidências em relação às dificuldades e restrições presentes dia-a-
dia, tais como escassez de recursos, preconceitos em relação a gênero e barreiras culturais
dentre outras. Por outro lado, de forma similar com os resultados da presente pesquisa,
Bertaux e Crable (2007) obtiveram dados encorajadores acerca do desenvolvimento
econômico, que, em algumas regiões do país, decorre das atividades empreendedoras das
mulheres. Da mesma forma, outra pesquisa descreve que mesmo enfrentando problemas
relacionados a preconceitos, educação, ausência de informações, dentre outros, o desejo de
tornarem-se independentes financeiramente, contribui de maneira significativa na decisão de
empreender (Hossain,et al.,2009). Essa categoria evidencia ainda que os desafios e obstáculos
vivenciados por empreendedoras brasileiras são vencidos quando se apóiam em competências
afetivas e cognitivas que sofrem influencia dos fatores culturais, sócio-políticos e econômicos.
Em terceiro lugar, os resultados desta pesquisa ampliam o conceito de Man e Lau (2000), ao
incluir, como competência empreendedora fundamental, aspectos afetivos, conforme modelo
apresentado na Figura 1. Fica evidente que embora fragmentados na teoria, os aspectos
cognitivos e afetivos são indissociáveis na prática. Vertentes que compartilham desta opinião
(Goleman, 1995; Gondim, 2006, Fineman, 2005) consideram que as esferas cognitivas e
emocionais se complementam e interpenetram, de forma que a negação de qualquer uma delas
conduzirá a uma visão parcelar e incompleta da pessoa no contexto de trabalho. A cognição
dos indivíduos, neste sentido, é influenciada por seus afetos e estes, por sua vez, comportam
elementos cognitivos. Fineman (2001) ressalta, no entanto, que há trabalhos tratando dos
sentimentos que despertam paixão, da angústia, da alegria e do enfado, dentre outros, além de
reforçar a idéia de que falar sobre emoções no contexto de negócios faz parte do cotidiano,
14 

 
 

como pode ser observado no relato das respondentes da presente pesquisa. Admite-se hoje
que os afetos influenciam os julgamentos feitos pelas pessoas, o que elas conseguem
recuperar da memória, as atribuições pelos sucessos e fracassos, a criatividade, o raciocínio
indutivo e o dedutivo (Damásio, 1996; Goleman, 1995), tornando inevitável o
reconhecimento de que processos afetivos e cognitivos fazem parte da rotina de trabalho.
Entretanto, seria necessário aprofundar este aspecto com mulheres empreendedoras no Brasil
e também em outros países, pois essa categoria que envolve aspectos afetivos é parte essencial
da cultura brasileira. Além disso, seria interessante também aprofundar a discussão de Man e
Lau (2005) sobre questões de gênero. Os achados dessa pesquisa revelam outro ponto de
grande relevância que é o fato das empreendedoras reconheceram que a oportunidade que
obtiveram de participar de um programa de capacitação, contribuiu, sobremaneira, para o
desenvolvimento de suas competências e, como conseqüência, na condução de seus negócios.
Esses dados corroboram a pesquisa de Botha, et. al (2006) quanto ao programa intitulado
Women Entrepreneurship Programme (WEP), cujos resultados evidenciaram que as mulheres
participantes do programa desenvolveram habilidades e conquistaram novos conhecimentos
que as ajudaram a dirigir seus negócios de maneira mais efetiva, aumentando a confiança em
si e no próprio trabalho, melhorando o número de colaboradores e elevando a produtividade e
lucro da empresa. Ao que tudo indica essas evidências encontradas, tanto nas pesquisas
brasileiras quanto em outros países que capacitam pessoas para o mercado de trabalho,
sugerem que essas ações sociais podem trazer resultados expressivos para os ambientes de
negócios. É fato que as competências têm sido alvo de inclusão ou exclusão de profissionais
em ambientes de grande competitividade e também como o requisito mais avaliado pelos
stakeholders do negócio. Finalizando, é necessário ressaltar os limites desta pesquisa: ainda
que apoiada em dados quantitativos que reforçam os resultados obtidos por meio da pesquisa
qualitativa, o número de entrevistadas precisaria ser ampliado. Com isso, espera-se por
resultados que possam expandir as categorias de competências e assim, ampliar o
conhecimento na área e competências empreendedoras, ainda incipientes na literatura
científica.

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