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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO JOSÉ

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

ALICE GOMES BRANDÃO GUIMARÃES


LETÍCIA ALVES SOUZA DE PAIVA
THAYS ARAÚJO NUNES DO VALE
YURI DOS SANTOS DE OLIVEIRA

PERFIS E DIFICULDADES DE MULHERES


EMPREENDEDORAS: UM ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA
DE INCLUSÃO SOCIAL PRODUTIVA DO BANCO DA
PROVIDÊNCIA

Rio de Janeiro
2022
PERFIS E DIFICULDADES DE MULHERES EMPREENDEDORAS: UM
ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA DE INCLUSÃO SOCIAL PRODUTIVA
DO BANCO DA PROVIDÊNCIA
PROFILES AND DIFFICULTIES OF ENTREPREUNERS WOMEN: A CASE
STUDY ABOUT PRODUCTIVE SOCIAL INCLUSION PROGRAM OF BANCO
DA PROVIDÊNCIA

Alice Gomes Brandão Guimarães


Letícia Alves Souza de Paiva
Thays Araújo Nunes do Vale
Yuri dos Santos de Oliveira
Graduandos no Curso de Administração do Centro Universitário São José

Orientador
Professor Koffi Djima Amouzou

RESUMO

Nos últimos anos a crescente participação das mulheres no mercado de


trabalho vem se tornando cada vez mais notório, uma vez que é comum ter
mulheres em posições de destaque profissional, seja em organizações de
grande relevância ou na liderança de seus próprios negócios, que é o caso das
empreendedoras. Desta forma, o objetivo deste trabalho é identificar os perfis,
características e obstáculos que as mulheres encontram no exercício de suas
atividades de empreendedorismo. Para maior entendimento desta realidade,
fizemos um estudo de caso com as mulheres participantes do Programa de
Inclusão Social Produtiva ofertado pelo Banco da Providência, na cidade do Rio
de Janeiro. Desta forma, elas responderam um questionário com vinte
perguntas na plataforma Google Forms para coletar e analisar dados sobre
questões a serem levantados neste trabalho. No tocante dos resultados, foram
identificados as diferentes características dos perfis empreendedores
(Psicológico, Sociológico, Econômico e Administrativo), suas áreas de atuação,
escolaridade, onde moram e o quanto o programa ajudou em seus negócios.
Palavras-chave: Mulheres, Empreendedorismo e Perfis.
ABSTRACT

In recent years the crescent woman participation in the labour market has
becoming notorious, once it´s comum have woman in big professional positions,
whether in organizations of great relevance or in the leadership of their own
business, which is the case of the entrepeneurs. In this way, the objective of
this study is identify the profiles, characteristics and obstacles that women
encounter in the exercise of their entrepreneurship activities. To better
understand this reality, we conducted a case study with woman participating in
the Productive Social Inclusion Program offered for Banco da Providência, in
the city of Rio de Janeiro. They answered a questionnaire with twenty questions
on the Google Forms platform to collect and analyze data on issues to be raised
in this paper. Regarding the results, the different characteristics of the
entrepreneurial profiles (Psychological, Sociological, Economic and
Administrative) were identified, as well as their areas of activity, schooling,
where they live and how much the program has helped in their business.
Keywords: Women, Entrepeuners and Profiles.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 4

CARACTERÍSTICAS DE LIDERANÇAS EMPREENDEDORAS........................ 6

Características do ponto de vista psicológica:.................................................... 7

Características do ponto de vista social: ............................................................ 8

Características do ponto de vista administrativo: ............................................... 8

Características do ponto de vista econômico: .................................................... 9

CENÁRIO DO EMPREENDEDORISMO FEMININO NO BRASIL ................... 10

Ações sociais do Banco da Providência ........................................................... 11

Políticas de manutenção das mulheres empreendedoras no programa .......... 13

Tratamento e análise dos dados coletados ...................................................... 14

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 19

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 20
INTRODUÇÃO

Durante muitos anos, o termo empreendedorismo vem sendo discutido no


Brasil com viés machistas, tendo em vista que os homens, em sua maioria, se
envolviam com os negócios, enquanto as mulheres criavam os filhos e
cuidavam da casa. Entretanto, ao longo dos anos, esse cenário mudou com a
conquista do empoderamento feminino. Uma pesquisa do Sebrae realizada em
2019 mostra claramente que 25% das empresas abertas no Brasil foram
criadas por mulheres, e durante a pandemia, esse número cresceu ainda mais.
Esses dados estatísticos indicam que o público feminino vem crescendo e
adquirindo cada vez mais espaço no mundo dos negócios.
No entanto, a crescente atuação feminina se tornou tão evidente que adquiriu
um status de prioridade nas pautas de políticas públicas de promoção de
emprego para as mulheres, principalmente as de baixa renda no Brasil. Estas
políticas públicas são desenvolvidas por meio de programas de capacitação
profissional e de apoio para aumentar sua capacidade produtiva e sua
competitividade no mercado. A maioria destes programas, visam a geração de
renda para melhoria da qualidade de vida nas comunidades carentes no Brasil.
Existem atualmente várias instituições sem fins lucrativos que desenvolvem
esses programas, como é o caso do Banco da Providência, que oferece o
Programa de Inclusão Social Produtiva em várias comunidades, na cidade do
Rio de Janeiro.
Partindo desses pontos de vista expostos acima, o problema desencadeador
desse trabalho de estudo é como superar os obstáculos do público feminino
nas suas atuações de empreendedorismo no mercado? Da mesma forma a
relevância deste trabalho se destaca nos programas de capacitação para
geração de renda do público feminino nas comunidades carentes do Rio de
Janeiro. Para tanto, o objetivo do trabalho é de identificar os perfis,
características das mulheres empreendedoras e dificuldades que elas
enfrentam em suas jornadas de empreendedorismo. Esses perfis
característicos das mulheres empreendedoras são fatores importantes a serem
considerados nos programas de capacitação e principalmente no Programa de
Inclusão Social Produtiva do Banco da Providência. Nesse sentido, foi
necessário destacar os objetivos específicos a seguir: a) analisar na literatura

3
sobre o tema dos diferentes perfis de empreendedores b) evidenciar o cenário
do empreendedorismo feminino no Brasil e c) coletar dados que apresentam a
realidade em que vivem as mulheres participantes do programa ofertado pelo
Banco da Providência, como um estudo de caso.
A metodologia utilizada na realização desse trabalho foi: a) pesquisas
bibliográficas por meio de leituras de publicações referenciadas em artigos e
revistas eletrônicas para compreender a contextualização do tema, b)
pesquisas empíricas para levantamento e tratamento de dados objetivando a
comparação e a comprovação dos perfis característicos das mulheres e as
dificuldades enfrentadas nas suas jornadas de negócios, por meio de um
questionário estruturado na plataforma Google Forms ao qual 56 pessoas
responderam no período de primeiro ao sétimo dia de julho de 2022.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O empreendedorismo vai muito além de somente o desenvolvimento de


negócios para geração de renda. O campo de estudo dessa atividade é
extenso, não existe teoria absoluta que englobe o fenômeno empreendedor em
sua totalidade, podendo se manifestar em vários campos do conhecimento,
como psicologia, artes, física, sociologia, economia, etc. (BAGGIO et al., 2014).
Há uma profusão de perspectivas do fenômeno empreendedorismo que
ultrapassam o fator econômico, é de grande importância o fator social nas
particularidades culturais que influem na personalidade, comportamento e
atitudes dos indivíduos, que podem se distinguir de sociedade para sociedade.
Sendo assim, a cultura também influencia direta ou indiretamente no processo
empreendedor de uma sociedade (PINHO; THOMPSON, 2015).
A criação de um empreendimento não engloba somente aspectos conscientes
e muitas vezes, os executivos principais não seguem o processo prescrito e
racional de análise do ambiente sugerido pelas teorias administrativas. Mesmo
dispondo de planos concretos, os empreendedores têm suas ações
influenciadas por suas características psicológicas pessoais com raízes
individuais profundas (DE VRIES, 1996) por isso é imprescindível que se
entenda a natureza dos indivíduos que compõem e principalmente que dirigem
uma organização; qual a imagem de negócio que estabelecem ao empreender,

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uma vez que atributos organizacionais refletem as personalidades dos
administradores mais influentes em qualquer empresa.
No caso do empreendedorismo liderado por mulheres, há outros fatores a
serem considerados. Segundo DIAS (1997), a partir do século XX realmente
ocorreu a mudança de visão do papel feminino na sociedade, com o advento
do movimento feminista e a maior participação sociopolítica da mulher, ela
começou sua luta para garantir direitos iguais entre os sexos e a divisão de
papéis. CASTELLS (2002) diz que, antes o trabalho da mulher se restringia ao
lar, nos últimos anos ela passou, em muitos casos, a ser a principal provedora
de seu lar e essas manifestações feministas fizeram com que ela deixasse de
ser esposa e mãe por tempo integral e tivesse a oportunidade de refazer sua
identidade como profissional, mãe e esposa.
CORRÊA (2004), diz que a presença expressiva de mulheres em cargos e
funções cada vez mais diversificados mostra que elas vêm delimitando seu
espaço no âmbito público de produção. Além disso, elas estão liderando os
índices de escolaridade em relação aos homens e, ainda que de forma menos
expressiva, estão ocupando, com tendência crescente, cargos de chefia e
posições gerenciais e políticas, além de áreas profissionais de prestígio, como
a medicina, a advocacia e a arquitetura.
Conquanto, atualmente o reconhecimento da mulher na sociedade é muito
mais visível do que anteriormente, ainda que haja muitos obstáculos e
paradigmas a serem superados, a figura feminina vem sendo destaque em
empreendedorismo e liderança de grandes negócios. Assim, a aceitação da
mulher na sociedade não se dá somente no mercado de trabalho, mas em toda
esfera do empreendedorismo (CARREIRA et al., 2015).
Fatores como a influência da família e de motivos pessoais, são destacados
como impactantes na escolha da mulher em procurar meios de trabalho mais
flexíveis, principalmente autônomos, assim, as mulheres tendem a priorizar
mais suas famílias, diferentemente dos homens que direcionam sua prioridade
para sua carreira (LINDO et al.,2007).Também, a perspectiva de autonomia,
emancipação e flexibilização do trabalho são destacados como fatores
determinantes na busca da mulher pelo seu próprio negócio, a fim de equilibrar
as responsabilidades pessoais com a gestão do negócio (ALPERSTEDT et al.,
2014).

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Em grande parte dos casos, por falta de empregos formais, a mulher busca
no empreendedorismo uma alternativa de trabalho e renda, participando na
complementação da renda familiar. Seja pela necessidade de contribuir para o
aumento da renda ou sustento da família, ou pelo desejo de realização
profissional, as mulheres estão cada vez mais presentes no mercado de
trabalho. Conforme HISRISCH E PETERS (2004) ressaltam que as
empreendedoras são estimuladas pelo fato de almejarem a satisfação tanto
pessoal quanto profissional, com isso pode-se observar que o gênero feminino
desenvolve o seu projeto motivadas por uma paixão por empreender, movidas
a fim de alcançar um resultado pertinente.
Seja por motivos financeiros ou mudanças nos padrões culturais ou até por
realização pessoal, é fato que as mulheres têm entrado de forma consistente
no mercado de trabalho. O que fica evidenciado em estudos de vários autores
é que o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho não
correspondeu a uma diminuição da discriminação. Para ABRAMO (2001) a
maior participação das mulheres no mercado de trabalho não foi acompanhada
por uma diminuição das desigualdades profissionais entre homens e mulheres.
Estas ocupam alguns setores e profissões, uma segmentação que torna mais
forte as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho.
MARQUES (2016) também aponta que as mulheres ainda enfrentam alguns
desafios como o de superar os preconceitos que a sociedade ainda impõe
sobre o trabalho feminino, falta de apoio até mesmo do marido e da família, ter
flexibilidade em conciliar o ambiente familiar e empresarial e encontrar o
empreendimento que realmente irá satisfazê-la.

CARACTERÍSTICAS DE LIDERANÇAS EMPREENDEDORAS

De acordo com leituras realizadas em bibliografias de autores renomados que


discutem o tema, os mesmos em suas pesquisas destacam as características
de empreendedores em cinco categorias: psicológicas, administrativas,
econômicas, sociológicas e filosóficas. No entanto, em nosso trabalho a
classificação será feita sobre quatro pontos de vista de análise: psicológica,
administrativa, econômica, sociológica.

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Características do ponto de vista psicológica:

Com base nos estudos de Dutra (2002), sobre os fatores que definem as
características psicológicas, identificamos quatro fatores pertinentes ao ponto
de vista psicológico; tendo em vista que esses são ligados ao indivíduo, as
suas características intrínsecas, à sua consciência ou inconsciência. Desta
forma os quatro identificados são:

a. Iniciativa e Indepêndencia
b. Persistência
c. Autoconfiança
d. Otimismo
e. Necessidade de Realização

Esses fatores que definem as características psicológicas do qualquer


indivíduo empreendedor são de suma importância para a iniciar qualquer tipo
de empreendimento. Podendo ser nesse caso resumidos na figura 1 a seguir:

Figura 1: Características do Perfil Psicológico do Empreendedor - Fonte: Baseado em Dutra, 2002

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Características do ponto de vista social:

Partindo do mesmo ponto de vista de Dutra (2002), sobre os fatores que


definem as características sociais nosso estudo classificou estes fatores em
quatro elementos condizentes a análise sociológica por estarem ligados ao
indivíduo empreendedor e sua conexão com a sociedade. Os quatro elementos
são:

a. Criatividade
b. Persuasão
c. Coletividade
d. Capacidade de superar barreiras sociais e culturais

Os mesmos, também são fatores que definem as características sociais de


qualquer indivíduo empreendedor para a iniciar qualquer tipo de
empreendimento. Podendo ser nesse caso resumidos na figura 2 a seguir:

Figura 2: Características do Perfil Psicológico do Empreendedor -Fonte: Baseado em Dutra, 2002

Características do ponto de vista administrativo:

Seguindo na mesma análise de Dutra (2002), nosso estudo chegou à


conclusão de que no ponto de visto administrativo o indivíduo precisa criar
conexões dentro da sociedade para que seus objetivos possam ser alcançados
dentro do meio profissional. Exemplos disso são os elementos listados a
seguir:

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a. Comprometimento
b. Formação
c. Trabalho em equipe
d. Capacidade de negociação
e. Capacidade de avaliar os riscos
f. Capacidade para boa escolha da localização
g. Capacidade de análise de mercado

Figura 3: Características do Perfil Administrativo do Empreendedor - Fonte: Baseado em Dutra, 2002

Características do ponto de vista econômico:

Seguindo dentro da última característica onde Dutra (2002) listou, e nosso


estudo analisou, temos o ponto de vista econômico, onde as virtudes são
referentes aos fatores de capacidade, que estão ligados aos componentes que
são necessários para mediar seus objetivos. São esses os fatores:

a. Visão ao longo prazo


b. Padrão de excelência
c. Capacidade de atrair investidores
d. Capacidade de superar a instabilidade econômica
e. Capacidade de superar barreiras de regulamentação do mercado
f. Capacidade de Inovação tecnológica

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Figura 4: Características do Perfil Econômico do Empreendedor - Fonte: Baseado em Dutra, 2002

CENÁRIO DO EMPREENDEDORISMO FEMININO NO BRASIL

Após análises identificadas no empreendedorismo em geral, nosso estudo irá


agora trazer as dificuldades que as mulheres enfrentam no exercício de suas
atividades econômicas empreendedoras.
Segundo dados divulgados pelo IBGE em 2019, o número de mulheres no
Brasil é superior ao de homens. A população brasileira é composta por 48,2%
de homens contra 51,8% de mulheres.

Figura 5: IBGE, 2019.

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Mesmo que as mulheres ultrapassem em número os homens, são elas as que
enfrentam mais problemas na liderança dos negócios. A grande maioria está
em busca de liberdade e se deparam constantemente com dúvidas e
questionamentos sobre sua liderança e gestão de seus negócios. No entanto
nosso estudo, se destaca em analisar com maior atenção e detalhes
científicos, os fatores comportamentais psíquicos e de natureza cultural e
intrínsecos que influenciam o desempenho de seus negócios.
Segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), um relatório de
pesquisa sobre empreendedorismo no mundo, realizado em parceria com o
Sebrae no ano de 2020, 55,5% das novas empresas criadas nesse período
foram abertas por mulheres o que mostra que além de dominar os homens em
número, elas empreendem mais também segundo a pesquisa. O que constitui
um índice animador para o cenário empreendedor feminino, porém por outro
lado, as dificuldades que elas enfrentam no seu cotidiano não podem ser
esquecidos o que passa a ser o principal objeto deste estudo.
Como já destacados anteriormente sobre os perfis empreendedores, é
importante entender como essas mulheres lidam com as barreiras sociais,
econômicas, administrativas e psicológicas presentes em nossa sociedade.
Diante das diversidades de dificuldades que apresenta o mercado, a
persistência delas em superar os desafios do cotidiano, nos levam a pensar em
quais competências e habilidades elas devem desenvolver para negociar e
atrair investidores para os seus negócios, visto que elas lidam com a
insegurança, a falta de credibilidade e de incentivos por parte dos familiares e
instituições devido ao fator de gênero.
Diante das diversas instituições de apoio e incentivos às mulheres
empreendedoras no Rio de Janeiro, nosso estudo baseia-se na experiência do
Banco da Providência como estudo de caso que aponta as dificuldades das
mulheres nas comunidades do município do Rio de Janeiro, assistidas por esta
organização sem fins lucrativos.

Ações sociais do Banco da Providência

O Banco da Providência é uma organização social sem fins lucrativos que há


64 anos trabalha para contribuir na redução da desigualdade social e colaborar
para a defesa dos direitos dos jovens, adultos e famílias, desenvolvendo

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projetos de inclusão social para quem vive em situação de extrema pobreza na
cidade do Rio de Janeiro, através da capacitação para o trabalho e geração de
renda.
No ano de 2018 o Banco contava com 443 pessoas matriculadas em seus
projetos sociais, número esse que no ano de 2021 praticamente duplicou
devido a pandemia do Covid-19, e chegou a 907 participantes, das categorias
de púbico adulto. Importante salientar que até o ano de 2021, o Banco da
Providência atendia homens e mulheres, porém atualmente, somente a
população feminina faz parte dessas ações de assistência social.
Nos últimos quatro anos o Banco da Providência formou 2.491 pessoas em
cursos profissionalizantes e de Empreendedorismo. Sendo esse suporte desde
a matrícula até a formação, dividido em três modalidades de programas de
capacitação e aprendizagem sequenciais:
a. A primeira modalidade conhecida como Agência de Família desenvolve
nos participantes as capacidades de comunicação, de compreensão de
direitos humanos e sociais, de integração em políticas públicas, de
autoconfiança profissional e protagonismo para aproveitar as
oportunidades do mercado.
b. A segunda modalidade conhecida como Agência de Capacitação é a
segunda fase na qual se desenvolvem nos participantes, habilidades
específicas da profissão por meio de cursos nas áreas da beleza,
culinária, corte e costura, além de habilidades de convivência em
equipes e em sociedade para o exercício da cidadania, assim como,
habilidades de gestão.
c. A terceira modalidade conhecida como Agência de Empreendedorismo,
oferece programas de capacitação e aprendizagem aos participantes
sobre o empreendedorismo destacando os temas de gestão e liderança
de empreendimentos, ao desenvolvimento do plano de negócios. Nesta
última modalidade os participantes são capacitados a identificar recursos
necessários, criar uma rede de apoio, vivenciar a experiência de colocar
o negócio em prática. Além disso, os participantes recebem
acompanhamento e orientação por parte do Sebrae, por meio de uma
parceria com o Banco da Providência.

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Figura 6: As três modalidades de programas de capacitação e aprendizagem do Banco da Providência

Os três programas são ofertados a todos os participantes na sequência


cronológica, no entanto, existem situações em que alguns participantes não
optam pela última fase por ainda não terem estabelecido um negócio.
Entretanto, nosso estudo considera a relevância da participação das mulheres
nas últimas etapas para analisar as dificuldades permanecentes depois de
participarem do programa. Cabe salientar que a duração das três modalidades
é de aproximadamente 8 meses, e os participantes recebem a assistência e
acompanhamento somente durante esse período em que têm vínculo com os
projetos.

Políticas de manutenção das mulheres empreendedoras no programa

Importante ressaltar que o Banco da Providência, por ser uma instituição sem
fins lucrativos, para se manter e desenvolver suas políticas de ações sociais,
além das receitas da Feira da Providência que reúne, as culturas de diversos
países do mundo nos pavilhões do Rio Centro na Zona Oeste do Rio de
Janeiro durante o mês de novembro em todos os anos; recebe o apoio
financeiro de empresas parceiras, doadores individuais e convênios públicos
com os governos estadual e municipal do Rio de Janeiro.
As políticas sociais de incentivos às mulheres empreendedoras são
desenvolvidas por meio de diversas ações educativas. Quanto ao programa
Microempreendedor Individual (MEI), essas mulheres são incentivadas a
empreender mediante do kit semente/kit ferramental que elas são selecionadas
para receber depois de todas as aulas e apresentação do Pitch. A formalização
é construída quando elas se sentem seguras para assumir o pagamento do
MEI, que se trata de uma dívida ativa.
Desde quando foi fundado, há 64 anos, o Banco da Providência trabalha em
prol da redução da desigualdade social, mas a metodologia das três fases foi

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criada há 20 anos. Atualmente, o Banco da Providência atende 480 mulheres
de cinco comunidades, sendo: Cidade de Deus, Maré, Realengo, Penha e Vila
Kennedy.

Tratamento e análise dos dados coletados

A pesquisa levantou vários dados importantes explicando a relação entre os


perfis identificados na literatura sobre o tema e na prática, no entanto,
consideramos alguns relevantes para a discutir o tema e evidenciar em nosso
trabalho.
Das 56 respostas recebidas de forma efetiva, 96,4% declararam ter participado
do programa de inclusão social produtiva do Banco da Providência, e destes,
85,7% permaneceram de 5 à 8 meses no programa para receber as
capacitações. Do total 89,3% são mulheres das quais 33,9% concluíram o
ensino médio completo contra 23,2% de ensino médio incompleto e 21,4% de
ensino fundamental completo, enquanto 10,7% não concluíram o ensino
fundamental, sendo um número preocupante para a nossa sociedade.
Quanto a faixa etária identificada, os dados mostram que o público que
respondeu ao questionário é na sua maioria jovens de idade entre 18 à 40
anos, sendo 16,1% de idade contida entre 20 à 25 anos e 16,1% de 25 à 30
anos.
A pesquisa identificou que 30,4% dos que responderam residem na
comunidade Vila Kennedy, 21,4% na Cidade de Deus, 16,1% na Maré, 19,6%
no bairro da Penha, e 12,5% em Realengo. Quanto ao estado civil, observamos
uma paridade de 42,9% casadas contra 42,9% de solteiras, o que mostra ainda
que os problemas são maiores quando são casadas, pois elas se
responsabilizam pelos filhos, marido, casa e ainda precisam tomar conta dos
negócios.
Os dados mostram que 28,6% das participantes residem em famílias de 3
pessoas contra 28,6% compostas por 4 pessoas, o que agrava ainda mais os
problemas de dependência financeira. Quanto ao seu estado de
empregabilidade identificamos que 64,3% se declararam autônomas contra
17,9% donas de casa, enquanto 7,1% declararam estar em emprego formal
com carteira assinada.

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Dos 91,1% que possuem empreendimento próprio, 32,1% atuam na culinária,
26,8% em saúde e beleza, 12,5% em corte e costura e 10,7% em refrigeração
e elétrica. 21,4% faturam em média entre R$60,00 à R$80,00 por semana,
contra 17,9% que faturam entre R$80,00 à R$100,00. 33,9% declaram ter
entrado no programa de inclusão social produtiva, por motivo de renda extra ou
complementação de renda, 23,2% por necessidade de empreender, 19,6%
buscam novas oportunidades de colocação no mercado, 17,9% capacitação
profissional.
Sobre os perfis psicológicos característicos das mulheres empreendedoras,
55,4% se declaram persistentes, 48,2% têm iniciativa e buscam independência,
41,1% são otimistas, 35,7% são autoconfiantes e 32,1% buscam a
autorrealização. Sobre o perfil sociológico, 50% apresentam criatividade, 19,6%
são persuasivas, 16,1% têm facilidade em superar barreiras sociais e culturais
e 14,3% são coletivas. Sobre o perfil administrativo, 58,9% são comprometidos,
16,1% sabem trabalhar em equipe, 14,3% possuem capacidade de
negociação. Por último, sobre o perfil econômico, 42,9% se preocupam em
manter o padrão de excelência, 28,6% visão ao longo prazo, 14,3% em superar
a instabilidade econômica e 8,9% capacidade em atrair investidores.
Pelas dificuldades 57,1% declararam dificuldade de acesso à crédito para
ampliar seu empreendimento, 55,4% apresentam dificuldade de conciliar a
jornada de trabalho e cuidar da casa, 41,1% sentem-se inseguras, 33,9%
preocupam-se com a desigualdade social e 26,8% sentem falta de incentivo
por parte da família. Destes números 96,4% de pessoas declaram que
programa de inclusão social produtiva tem contribuído positivamente para o
crescimento de seus negócios. E mais de 94,6%, numa escala de 0 à 5,
declaram o programa excelente e atendeu as suas expectativas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O empreendedorismo feminino vem ganhando força no Brasil, as mulheres


buscam não apenas melhoria no aspecto financeiro, mas também uma maior
participação na sociedade. No Banco da Providência isso não é diferente,
diversas mulheres buscaram o programa de inclusão social produtiva para
expandir seus negócios e tiveram uma grande mudança em suas vidas.

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Este estudo compreendeu cinquenta e seis mulheres empreendedoras e as
suas dificuldades em seus cotidianos. Os resultados da pesquisa constataram
que as empreendedoras, apresentam as características do perfil
empreendedor; psicológicas, administrativas, econômicas e sociológicas.
Também aponta que elas, em sua maioria possuem nível médio de
escolaridade, e mesmo através das dificuldades, estão dispostas a buscar
conhecimento específico sobre o empreendedorismo para inovar e na prática
fazer um melhor gerenciamento de suas atividades.
Observamos que o público participante do questionário é na sua maioria jovens
de idade entre 18 à 40 anos, possuem seus empreendimentos nas seguintes
áreas: culinária, saúde e beleza, corte e costura e, refrigeração e elétrica;
campos esses que o Banco da Providência atua fortemente na capacitação e
ajuda na formalização de seus negócios.
São moradoras de comunidades e bairros humildes, em sua maioria,
autônomas e buscam autonomia para poder gerar renda e assim, trazer
proventos para sustentar suas famílias.
A pesquisa de campo, nos possibilitou entender a realidade das mulheres
participantes do programa, suas dificuldades e as características dos seus
diferentes perfis. Com o cenário crescente do empreendedorismo, concluímos
que para empreender não é preciso apenas ter uma boa ideia, é necessário
além disso, vislumbrar de qualidades psicológicas, sociológicas, econômicas e
administrativas para entrar em um mercado exigente e competitivo.

REFERÊNCIAS

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PINHO, JOSÉ CARLOS; THOMPSON, DOUGLAS. Condições estruturais


empreendedoras na criação de novos negócios: a visão de especialistas.
RAE - Revista de Administração de Empresas, vol. 56, núm. 2, marzo-abril,
2016, pp. 166-181. Acesso em: 07jun. 2022

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