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ORAL DE EMPREENDEDORAS
ITABAIANENSES
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Campus Professor Alberto Carvalho (Itabaiana) / Universidade Federal de Sergipe
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Universidade Federal de Sergipe
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Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo São Paulo/SP
04 a 06 de julho
e Gestão de Pequenas Empresas
de 2018
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Resumo:
O objetivo desta pesquisa é compreender o empreendorismo feminino a partir da história das
empreendedoras itabaianenses. Essa pesquisa se justifica pelo crescente estudo sobre o
empreendedorismo feminino, porém são poucas as pesquisas que tratam da temática por meio
da história oral. É uma pesquisa de abordagem qualitativa, com o uso do método da história
oral. Utilizou-se para coleta de dados, a técnica da entrevista semi-estruturada aplicada a três
empresárias da cidade de Itabaiana/Se e para elaboração do roteiro de entrevista, foram
definidos, baseando-se em Freitas e Teixeira (2014) três categorias analíticas e doze elementos
de análise. Perante os dados coletados, foi utilizada a análise de conteúdo onde foram
interpretados os fatos a partir das experiências e visões das empreendedoras entrevistadas.
Sendo assim, foi possível conhecer o perfil social, as histórias de empreendedorismo feminino
e as histórias de gestão feminina das empreendedoras entrevistadas.
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1 Introdução
As mulheres estão se inserindo cada vez mais no mundo dos negócios, o que representa um
avanço no crescimento de novos empreendimentos. Dados do Global Entrepreneurship
Monitor (GEM) e do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE) demonstram
que a criação de novos empreendimentos não é mais feita somente por homens. O equilíbrio
entre os gêneros tem intensificado o aumento das atividades empreendedoras no Brasil e no
mundo.
Amorim e Batista (2012) observam que o empreendedor detém a capacidade de reinventar os
meios para atender às crescentes necessidades da sociedade, além de permitir grandes
transformações sociais, econômicas e ambientais. Acompanhando esse raciocínio, estes autores
alegam que empreender é uma tarefa tanto para homens quanto para mulheres,
independentemente de profissão ou classe social. Para a sociedade, a importância das mulheres
como empreendedoras é percebida pelo fato de contribuir na economia com a geração de
empregos, na importância social de seu comportamento em administrar a dupla jornada
(trabalho e família) e no aumento da autonomia feminina.
As mulheres conseguiram percorrer postos de trabalho e alcançar o topo da carreira, em função
de suas características, perfil e estilo de liderança, mesmo assim, mantiveram-se responsáveis
com sua vida pessoal (LINDO, 2004). A participação das mulheres no mercado de trabalho tem
aumentado de forma linear nos últimos vinte anos. Esta inserção passa a ter como objetivos
além do complemento financeiro familiar, a ampliação dos seus domínios para o exercício
vocacional, a formação da identidade profissional e de realização pessoal (LINDO, 2004).
O empreendedorismo feminino é crescente e tende a fazer com que a mulher se adapte às
exigências e ao ambiente propiciado pelas organizações e crie sua identidade de gestão. Salvo
os avanços ocorridos nas últimas décadas em relação às mulheres que ocupam cargos de
liderança nas organizações, ainda existem barreiras à presença feminina nos negócios, dentre
elas o preconceito e a discriminação (GOMES, 1997 apud ZAMPOROGNA; TREVISAN;
ZANATTA, 2016).
De acordo com o relatório executivo do GEM (2016), o Brasil apresenta uma das taxas mais
equilibradas de empreendedores entre mulheres e homens encarregados por novos negócios.
No Brasil, a Taxa Específica de Empreendedorismo Inicial (TEA) é de 19,2 % para os homens
e de 19,9% para as mulheres, demonstrando um equilíbrio entre os gêneros. A participação das
mulheres no empreendedorismo brasileiro, conforme Jonathan (2011), indica o amplo potencial
econômico e a relevante contribuição do empreendedorismo feminino para o desenvolvimento
do país por proporcionar ainda a inovação na cultura organizacional brasileira.
Diante do cenário apresentado, a presente pesquisa buscou estudar o empreendedorismo
feminino para compreender as motivações e dificuldades enfrentadas pelas mulheres no
gerenciamento do seu empreendimento. Desta forma, almejou-se com este estudo refletir sobre
a seguinte problemática: Como ocorre o empreendedorismo feminino a partir da história
oral das empreendedoras itabaianenses?
Para ajudar a responder a problemática, este artigo teve como objetivo compreender o
empreendedorismo feminino a partir da história oral das empreendedoras itabaianenses e para
atender esse objetivo foi necessário: (a) identificar o perfil social da empreendedoras
itabaianenses entrevistadas; (b) descrever as motivações que levaram as empreendedoras
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2 Referencial Teórico
2.1 Empreendedorismo Feminino: conceitos e motivações
Os conceitos existentes sobre empreendedorismo não fazem diferenciação entres os gêneros,
em razão de que as características empreendedoras podem ser encontradas tanto em homens
como em mulheres (GOMES; SANTANTA; ARAÚJO, 2009). A princípio, vinculava o
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3 Metodologia
Esta pesquisa busca entender o empreendedorismo feminino na cidade de Itabaiana-SE,
mediante suas peculiaridades e características. Em função disso, foi adotada a abordagem
qualitativa e a estratégia da história oral, empregando a técnica da entrevista e a observação
direta, mediante a análise de conteúdo, com o objetivo de retratar a realidade fundamentada nas
experiências e visões das empreendedoras entrevistadas.
Na história oral, a pesquisa e a documentação estão integradas de forma peculiar e
extraordinária, com base em um projeto que pode render entrevistas que se transformarão em
documentos, os quais poderão ser incorporados como fontes para novas pesquisas (ALBERTI,
2004). A pesquisa com fontes orais é apoiada em pontos de vista individuais, os quais são
expressos nas entrevistas e são legitimadas como fontes de valor informativo ou simbólico
(FERREIRA; AMADO, 1998). Em razão disso, este artigo possibilitou, a partir do uso da
história oral, compreender o empreendedorismo feminino mediante os depoimentos das
entrevistadas.
Ao utilizar a metodologia da história oral, foi gerada uma documentação diversificada e
alternativa à história, realizada exclusivamente com fontes escritas. A realização de
depoimentos de pessoas proporcionou captar o que elas vivenciaram e experimentaram. Deste
modo, essa metodologia desperta novas perspectivas para o entendimento do passado recente,
além de possibilitar o conhecimento de distintas versões sobre determinada questão (FREITAS,
2006).
A história oral pode ser dividida em três gêneros distintos: história de vida, história oral temática
e tradição oral (MEIHY, 1994; FREITAS, 2006). Esse estudo adotou a história oral temática,
na qual a entrevista teve caráter temático sobre um específico assunto, neste caso, o
empreendedorismo feminino. A história oral temática está vinculada à abordagem e ao
testemunho sobre um assunto específico. É um recorte da experiência como um todo e aborda
questões externas, factuais, objetivas e temáticas (MEIHY, 1994).
Com a finalidade de entender o empreendedorismo feminino, foram entrevistadas três
empreendedoras da cidade de Itabaiana-SE, uma do ramo de calçados e confecções, outra do
ramo de móveis e a outra do ramo de autopeças. As entrevistadas foram selecionadas por meio
dos critérios de acessibilidade e representatividade, na história oral a escolha dos participantes
deve estar voltada com base na representatividade e no significado da experiência dos sujeitos
(ALBERTI, 2004).
A história oral é um método de pesquisa que conta com a técnica da entrevista, na qual utiliza-
se um gravador e outros procedimentos arquitetados entre si, no registro de narrativas da
experiência humana tendo como finalidade criar fontes históricas. Essa documentação deve ser
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armazenada, conservada e ressalta que sua abordagem inicial deve provir do estabelecimento
preciso dos objetivos da pesquisa (FREITAS, 2006).
As entrevistas de história oral são documentos biográficos e servem como fontes para
compreender o passado, por meio das memórias e autobiografias e permitem compreender
como as pessoas interpretam os acontecimentos vivenciados, as situações e modos de vida de
um grupo ou da sociedade em geral (AXT; FONSECA; SORDI, 2007). Por isso, foi por meio
das entrevistas que foi possível captar e interpretar os fatos vividos por cada empreendedora.
As entrevistas semi-estruturadas estabelecem perguntas fechadas e abertas, onde o entrevistado
pode dissertar sobre o tema proposto (BONI; QUARESMA, 2005). Desta forma, foram
elaboradas entrevistas semiestruturadas para atender o objetivo desta pesquisa. Para elaboração
do roteiro das entrevistas, foram definidos, e atendendo a revisão literária, três categorias
analíticas e doze elementos de análise, conforme o quadro 1.
Mediante os dados coletados, foi utilizado nesta pesquisa o método de análise de conteúdo.
Esse método de análise busca entender os significados que vão mais adiante das mensagens
concretas, por isso a escolha deste tipo de análise para esta pesquisa (BARDIN, 2011). É uma
ferramenta de pesquisa a qual viabiliza compreender e explicar condutas, opiniões, ações
sociais e individuais, apanhadas em um contexto de dados, sejam eles textuais ou simbólicos
(COLBARI, 2014). Com o auxílio da análise de conteúdo foi possível interpretar os fatos a
partir das experiências e visões das empreendedoras entrevistadas.
Estabelecer as categorias de análise é importante para se compreender o discurso, já que fazem
a mediação entre a teoria e os dados e servem como base para fixação das inferências. Elas
permitem a organização das informações e podem ser escolhidas antes ou após a produção dos
dados (COLBARI, 2014). Por isso, optou-se neste artigo definir previamente as três categorias
e os elementos de análise, para servir como suporte na elaboração do roteiro das entrevistas.
A seguir, são apresentados os relatos das três histórias que revelam como as empreendedoras
conduzem sua vida pessoal e profissional, quais foram as motivações para empreender, as
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dificuldades encontradas e o estilo de gestão utilizado na condução dos seus negócios. Todos
esses elementos foram levantados durante a entrevista e considerados importantes para entender
o empreendedorismo feminino.
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e sempre levando adiante o projeto. Não enfrentei nenhuma barreira por ser mulher,
porque meu esposo sempre estava junto. Ele era caminhoneiro e deixou de ser, éramos
os dois, lado a lado fazendo tudo, viajava junto, fazia compras juntos.
Como E1 sempre viu a loja como uma extensão de sua casa, os filhos sempre estavam presentes
no comércio e hoje todos possuem ensino superior e estão envolvidos em atividades comerciais.
Por isso, não teve problemas em conciliar a família com o trabalho. Descreveu a
empreendedora:
Sempre foi assim: para a família, a extensão da casa era loja! Os filhos estudavam,
mas qualquer “horáriozinho” de folga vinham para loja e esse convívio foi sempre
dessa maneira. Foram se adaptando, conhecendo e todos estão envolvidos na atividade
comercial.
O resultado positivo é o que dá satisfação a E1 ao comandar uma empresa. Ela entende que
precisa estar na frente, obter conhecimentos e sempre ter vontade de fazer mais. Como explicou:
Sempre entendi que preciso estar na frente, adquirindo conhecimentos e ideias.
Vontade de fazer nunca me faltou, eu sempre faço e quero fazer mais, faço e quero
fazer mais. Saber que a gente tem um resultado positivo, que o que a gente imaginou
há 29 anos é o resultado que a gente tem hoje, é satisfatório.
Diante disso, foi possível entender que a inserção da E1 no mercado de trabalho teve além do
propósito financeiro, o desejo de ter seu próprio negócio, buscando, a formação da identidade
profissional e da realização pessoal (LINDO, 2004). Algumas empreendedoras enfrentam a
dificuldade na captação de recursos (ALPERSTEDT; FERREIRA; SERAFIM, 2014), como foi
o caso da empreendedora E1 em que a escassez de capital foi inicialmente o seu maior desafio.
Pelo fato de seus filhos estarem sempre presentes no comércio, a E1 não enfrentou o conflito
trabalho-família.
Para a E2, a ideia de ser empreendedora surgiu aos 16 anos de idade e o que a levou a
empreender foi a necessidade da família e a oportunidade por toda a família ser do ramo de
caminhão, conforme relata:
Meu pai era caminhoneiro e ele vivia na Rio-Bahia e como teve um período, um mês
que ele perdeu três caminhões que viraram, então eu e meu irmão fomos estudar à
noite e trabalhar pelo dia com meu tio. A questão do empreendedorismo eu acho que
foi a situação da família que fez e também só tinha uma oficina naquela época em
1977. A ideia surgiu do meu tio e meu irmão abraçou. Ele era na área comercial e eu
na financeira. E aí começamos, isso eu tinha 16 anos e já entrei nesse ramo que foi
uma coisa assim por necessidade e a oportunidade já que só tinha uma oficina em
Itabaiana e toda minha família era do ramo de caminhão. [...]. É uma área masculina,
mas eu me envolvia muito.
E2 explicou que tem três irmãos e duas irmãs, mas somente ela e os irmãos homens são
empreendedores. Cada um depois seguiu sozinho e hoje eles têm comércios em outros estados,
mas tudo no ramo de caminhão. Segundo E2 ela é a sócia-gestora da empresa familiar em
Itabaiana e sempre esteve responsável pela área financeira:
Cada um seguiu carreira solo e eu fiquei aqui como gestora da família. Mas a gente
sempre troca ideia, porque estão todos no mesmo segmento e quando precisa de
alguma informação, e as dificuldades também, a gente vai conversando. Eu sou sócia-
gestora, sempre estive a frente da área financeira. Todas as decisões tanto no
financeiro como administrativas, demissões, admissões ou algum problema que
envolva pessoas, junto com a equipe, combinamos e tomamos decisões. Mas passa
por mim, eu sou a responsável pelas decisões, sou a gestora da empresa.
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Os filhos da E2 também atuam no mesmo segmento de caminhões. O filho mais novo comanda
a parte de acessórios para caminhão e o mais velho é representante de implementos, vende
carretas e caçambas. Relata que é muito grata aos caminhoneiros, mas revela que enfrentou
diversas barreiras por ser mulher em um ramo masculino:
Então a família toda depende do caminhoneiro e a gente é muito grata a essa classe
que é uma classe meio sofrida, que não é tão reconhecida, mas é quem envolve o país.
[...] Agora é um ramo machista. Eu já fui, às vezes, muito humilhada por clientes,
aqueles homens meio rudes, que xingam. [...] Eu digo isso porque eu vejo às vezes
dentro da minha própria casa: meu pai é machista! Eu já sofri muito pela maneira
como pensa, porque às vezes ele queria o filho homem aqui. [...]. Então eu tive alguns
atritos e não foi fácil, às vezes ainda não é fácil. Pela idade, pelo machismo, pela
ignorância. Nosso ramo lida com um tipo de pessoa que vive às vezes cheio de
arrebite, chega muito nervoso.
Diante das barreiras enfrentadas, a E2 explicou que não desistiu do ramo pelo motivo de ter três
filhos para criar. Com relação à parte financeira, revela que no início do empreendimento não
enfrentou dificuldades:
O que me impulsionou foram três filhos para criar e eu já estava no comércio. Eu
poderia ter recuado, eu poderia optar pelo banco ou o comércio? Poderia, mas naquele
momento eu não tinha muita opção. E assim as coisas vão surgindo. Eu digo assim
que eu não busquei, eu não tive aquele objetivo de chegar a ser a gestora geral não.
As coisas vão acontecendo! [...] Então para mim tudo isso foi muito tranquilo, eu
gosto de tudo organizado, eu acho que eu sou um pouco perfeccionista, mas isso faz
parte de organização. É necessário, se não consegue organizar você dificulta todo o
trabalho da equipe.
Verifica-se na fala da empreendedora E2, que foram enfrentadas muitas barreiras por ser mulher
em um ramo masculino, tanto por clientes como por funcionários. E2 expõe que lidar com
pessoas foi uma grande dificuldade enfrentada:
O mecânico às vezes eles não querem respeitar muito a mulher e às vezes eu precisava
ter reunião de um por um para conversar e eles não respeitam muito. Então muitas
vezes eu precisei chamar meu irmão, chamar meu pai para a presença masculina estar
aqui, para que eles ouvissem. A maneira rude de ser, de querer brigar. Eu não sei
gritar, eu sei falar respeitando e quero ser respeitada. [...] Eu sou gestora, sócia gestora,
mas eu digo que a empresa é da família, mas eu talvez também não tenha tido tanto
apoio de quem eu deveria ter tido. Talvez as pessoas que eram para me apoiar eram
tão machistas quanto eles, então dificultou. [...]
E2 afirmou que para conciliar o trabalho com a família, teve o suporte de duas secretárias, sendo
que uma a ajudou durante 12 anos e a outra colabora há 25 anos. Porém relata que sempre foi
mais presente na empresa do que na família, mas a todo o momento acompanhou e acompanha
os filhos, seja por intermédio do telefone ou no período da noite. Mesmo não estando presente
fisicamente, mas mantém contato o tempo todo.
Assim como a E1, o resultado positivo é também para a E2 o que lhe dá mais satisfação ao
comandar uma empresa:
O resultado positivo, que seja bom para todo mundo! Automaticamente vai ser bom
para mim! Se for bom para eles vai ser bom para mim! Você ver a empresa crescendo,
o que você puder agregar para melhorar tanto em relação à clientela e como a equipe
vai satisfazer a todos.
Em virtude dos fatos relatados, foi possível detectar que a necessidade da família e a
oportunidade de mercado (STROBINO; TEIXEIRA, 2014) foram os motivos que
influenciaram a E2 a empreender. A maior barreira enfrentada pela E2 foi o machismo. Para
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A gente vai se aprimorando de acordo com a evolução das coisas! [...] Então a gente
vai se adequando às necessidades. Com a informática também tudo mudou, hoje é
tudo sistema e quando comecei era manual, os pedidos eram manuais. Então a gente
tem que evoluir de acordo com tecnologia e tudo que vem apresentando aí no
mercado.
Para E2, cuidar bem da empresa significa conhecer todos os setores, da produção ao
administrativo, ter um espelho de como está sua empresa, ter o cuidado e organização. A
empreendedora acredita ainda que o estilo de gestão masculino é diferente do feminino, como
explicou:
Acho que os dois têm seus méritos. Às vezes o homem tem uma maneira mais rigorosa
de ser. A mulher às vezes vai mais pelo coração, é mais flexível, conversa mais com
equipe, eu tenho esse perfil. E às vezes o homem manda o RH conversar, então eu
acho que a mulher acaba tendo mais essa sintonia de relacionamento com a equipe,
mas todos dois têm os seus méritos e eu acho que depende de como eu enxergo a
empresa.
Dessa forma, foi possível perceber que a E2 busca solucionar os problemas na empresa em
parceria com a sua equipe, apresentando uma das características gerenciais femininas abordadas
por Machado (1999) na fundamentação teórica, onde diz que as mulheres possuem um estilo
de liderança interativa e cooperativa, pois estimulam e valorizam a participação dos
funcionários.
A E3 procura solucionar com calma os problemas que acontecem na empresa, ao analisar o
problema e ver a melhor forma para solução. A entrevistada considera também muito
importante a relação interna no empreendimento e acredita que mudou seu estilo de
gerenciamento desde que fundou a empresa, pois sempre procura melhorar, como citou:
Então em primeiro lugar eu tenho que ter uma relação aqui dentro, tanto a relação
comigo e com eles, como entre eles. Uma relação de amizade, uma relação íntegra,
uma relação de apoio, de colaboração. Então existe essa relação boa aqui graças a
Deus! Eu creio que hoje eu seja mais aberta, mais receptiva também. Porque eu não
posso achar que sou eu só que percebo as coisas. Eu tenho que escutar também o que
todos estão falando. Por isso, hoje eu sou mais receptiva.
O estilo feminino de administrar também diverge do masculino para a E3, como expressa:
Eu acho que a mulher cuida mais, olha com os olhos como se fosse uma mãe. Eu
acredito nisso! Porque só a mulher que é mãe, que tem esse sentimento materno acolhe
mais. Eu acredito sim, fielmente nisso!
Sendo assim, foi possível compreender que a E3 procura ter uma relação de amizade, de apoio
e de colaboração com seus funcionários, demonstrando algumas das habilidades gerenciais
femininas (LODEN, 1988), que são as habilidades de perceber e ouvir, a administração de
sentimentos e a intimidade.
5. Conclusão
A independência, a busca de realização, as oportunidades de mercado e a necessidade de
sobrevivência são alguns dos fatores que levam a mulher a empreender (STROBINO;
TEIXEIRA, 2014). Observou-se no relato, que para a E1 a vontade de ter um negócio próprio
foi o fator que a levou a empreender. Já para a E2, foi a necessidade da família naquele
momento, junto com a oportunidade por todos os familiares pertencerem ao ramo de caminhões.
Enquanto E3 foi motivada pela necessidade de ser independente e ter seu próprio dinheiro.
Em relação às dificuldades enfrentadas no início do empreendimento, apurou-se que os
obstáculos encarados por E1 e E3 foram similares. Já que para E1 a maior dificuldade
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inicialmente foi a escassez de capital, e para E3 foi a carência de clientes, onde tinham poucas
vendas e pouco lucro. Enquanto que para E2 a parte financeira sempre foi conduzida com
tranquilidade e a maior resistência enfrentada foi o machismo. A princípio, as três
empreendedoras tiveram apoio de suas famílias, porém foi possível perceber durante a fala, que
a E2 enfrentou alguns atritos no decorrer dos anos, por seu pai ser machista. E1 não enfrentou
nenhuma barreira por ser mulher, pois seu esposo sempre estava ao seu lado apoiando. Assim
como a E3, que revelou que não sofreu nenhum preconceito e nenhum empecilho por ser
mulher. Diferentemente da E2, que por ser mulher em um ramo totalmente masculino, enfrentou
diversas barreiras tanto com funcionários como com clientes e foi permitido observar na história
da E2, a dificuldade em lidar com as pessoas, com o machismo, com a ignorância e com a
família por ser uma empresa familiar.
A necessidade de desempenhar múltiplos papéis é uma entre as várias dificuldades apresentadas
pelas empreendedoras, dado que se empenham em cumprir suas responsabilidades maternas,
dos negócios e atividades domésticas (BARBOSA et al., 2011). Quanto a esta multiplicidade
de papéis, verificou-se que E1 e E3 não tiveram problemas em conciliar a família com o
trabalho, pois E1 via a loja como sendo uma extensão da sua casa e seus filhos sempre estavam
presentes no comércio. Da mesma forma, a E3 teve a vantagem de cuidar de seus filhos
enquanto trabalhava, já que morava no mesmo prédio da sua loja. Já para E2, foi revelado que
ela sempre foi mais presente na empresa do que na família, porém sempre buscou manter o
contato diariamente e para conciliar o trabalho com a família, teve ajuda de duas secretárias.
Verificou-se que enquanto para a E3 oferecer emprego e satisfazer o cliente é o que mais a
agrada, o resultado positivo é o que dá mais satisfação para E1 e E2 ao comandar uma empresa.
Ao traçar os perfis de gestão feminina, foi permitido observar que E1 busca solucionar os
problemas por meio da análise, avaliação e conversa. Para a E2, a solução de conflitos é
trabalhada junto à equipe, com auxílio de advogado, contador e órgãos competentes. Assim
como a E3, procura analisar o problema e obter a melhor forma para solução.
Notou-se nos depoimentos que para todas as três empreendedoras entrevistadas o quesito
“relação interna com os funcionários” é um aspecto muito importante a ser considerado na
gestão do empreendimento. Ambas entrevistadas reconheceram que mudaram os seus estilos
de gerenciamento ao longo dos anos. E1 relatou que as tendências do mercado acontecem de
forma rápida e que é preciso acompanhar as constantes mudanças. E2 revelou que se aprimorou
mediante a evolução do mercado e que é necessário se adequar as necessidades e mudanças do
mercado e dos clientes. E3 se considerou hoje mais aberta e receptiva.
Existem divergências no perfil, nas características e no próprio estilo gerencial de homens e
mulheres (OLIVEIRA; SOUZA NETO, 2011). De acordo com as histórias, as três
empreendedoras entrevistadas afirmam que o estilo de liderança feminina, diverge do
masculino. Para E1, a mulher é mais detalhista, mais flexível, além do sentimento materno.
Para E2, os dois estilos de gestão têm seus méritos, mas considera a mulher também mais
flexível, que tem mais sintonia de relacionamento com a equipe. E3 acredita que a mulher cuida
mais, acolhe mais, incluindo também o sentimento materno.
A presente pesquisa busca juntar-se aos estudos sobre os temas de empreendedorismo feminino
e de gestão feminina, além de servir como fonte para trabalhos futuros sobre as temáticas. Os
depoimentos das empreendedoras deixam evidências que cada história foi diferente, em ramos
distintos, porém apresentam algumas semelhanças nas motivações e dificuldades enfrentadas.
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