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PentagramA

Revista bimestral d o Lectorium Rosicrucianum 2006 número 2

Geocêntrico, Heliocêntrico,
Cristocêntrico

TERÁ A TERRA SE TORNADO NOVAMENTE PLANA?

A NOVA LINGUAGEM DA ESCOLA ESPIRITUAL

CAMPO DE TRABALHO EM AÇÃO…

HOMEM E MULHER FORMAM UMA UNIDADE

O MITO DA CRIAÇÃO SEGUNDO O CORPUS HERMETICUM

O RESULTADO ALQUÍMICO
PENTAGRAMA

Geocêntrico – Heliocêntrico SUMÁRIO

– Cristocêntrico
2 T ERÁ A TERRA SE
TO RNADO NOVAMENTE
PLANA?
A viagem em direção à vida imutável da
3 A NOVA LINGUAGEM DA
alma-espírito vivente encontra sua coroação E SCO LA E SPIRITUAL

ao receber o “prêmio da corrida”: 9 G EO CÊNTRICO –


H ELIO CÊNTRICO –
a ligação com o espírito divino. C RISTO CÊNTRICO

17 C AMPO DE TRABALHO
EM AÇÃO...

30 H O MEM E MULHER
FO RMAM UMA UNIDADE

35 O MITO DA CRIAÇÃO
SEGUNDO O C O RPUS
H ERMETICUM

40 O RESULTADO
ALQUÍMICO

ANO 28 Nº 2
ABRIL 2006
Terá a terra se tornado novamente plana?

A águia simboliza
a rapidez, a força “O mundo é plano”. Ao iniciar sua viagem, em 1492, Cristóvão Colombo foi
e a pura percepção advertido a não navegar até a borda do oceano. Sabemos, agora, que a terra é
do espírito. redonda e que um horizonte sucede ao outro. Especiarias, seda, ouro e prata che-
Esta é uma das garam à Europa, provindos de terras maravilhosas e desconhecidas. Atualmente,
duas esculturas em
o mundo se revela “mais plano do que nunca” segundo o jornalista americano
bronze que
Thomas Friedman; em outras palavras, já não existem horizontes. No passado,
aparecem em ambos
os lados do Templo
as mulheres de Amsterdã aguardavam com curiosidade qual seria a última moda
de Renova. em Paris. Em 2005, em seus momentos de lazer, o diretor de uma multinacional
Foto Pentagrama de Nova Iorque veste um blue jeans como um trabalhador de Katmandu.

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A nova linguagem da
Escola Espiritual

No decorrer de duas recentes alocuções, a Direção Espiritual do Lectorium


Rosicrucianum fez uma exposição sobre a nova atividade empreendida pela
Escola Espiritual da Rosacruz Áurea desde 2001.
O tema da primeira alocução foi o comportamento a ser observado pelo
aluno e a nova maneira de trabalhar em nossa época, comportamento e
trabalho baseados na expressão de experiências realmente vividas e não
mais na transmissão de uma sabedoria puramente livresca.
A segunda alocução concede um novo lugar à Escola Espiritual no decorrer
da obra libertadora. A Escola Espiritual não é apenas formada por um grupo
isolado de obreiros, porém faz parte de uma cadeia de ação mundial. Seu
objetivo é fazer os seres humanos compreender seu duplo aspecto como
seres naturais e como portadores de uma centelha do espírito imortal.
Sentimo-nos felizes em poder publicar essas duas alocuções.

A globalização, a Internet, a televi- que, nos bastidores, certas nações,


são, os celulares e os satélites fizeram contando com um bilhão de habitan-
desaparecer fronteiras e horizontes. A tes, emergem estruturalmente como
terra tornou-se tão plana quanto uma novas potências. Elas aguardam o
panqueca, mas pende agora perigosa- momento propício para aniquilar a
mente para o leste: fábricas e empre- superioridade do Ocidente pretensa-
gos migraram para a Ásia porque a mente livre, mas enfraquecido até à
mão de obra e a tecnologia lá são mais medula. As democracias se tornaram
baratas que no Ocidente. A economia extremamente vulneráveis. Tornou-se
rapidamente crescente da China e da difícil combater e reprimir o terroris-
Índia está em vias de absorver a eco- mo. A humanidade em desespero
nomia ocidental. A falta de petróleo, busca por uma porta de saída. Parece
de matérias primas e de poder militar que, apesar da abertura de novos hori-
faz nascer inquietudes. Nem a Améri- zontes, ela gira no interior dos limites
ca nem a Europa conseguem impor de uma terra novamente plana.
sua supremacia mundial, enquanto Hoje, ergue-se no ser humano o

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desejo de se libertar desta terra limita- novas teorias fizeram desmoronar o
da e de explorar o espaço. Surgiu a velho edifício: a teoria da relatividade,
idéia absurda de colonizar outros pla- a física quântica, a psicologia de C. G.
netas. Faltava apenas acreditar nisso e Jung, as descobertas da biodinâmica, a
agora já se financia esse empreendi- cosmologia e a psicossomática, o ho-
mento, enquanto milhões de pessoas lismo (teoria segundo a qual o conjun-
morrem de fome, sem qualquer so- to tem uma realidade independente de
corro. Trata-se de uma compreensão suas partes), a não-dependência, no
imprópria dos impulsos aquarianos, espaço e no tempo, das ligações das
que nos incitam a nos libertarmos dos partículas elementares, bem como da
limites terrestres. A humanidade deu consciência no plano da comunicação.
um passo gigantesco quando a ima- A matemática moderna parte da hi-
gem que fazia da terra passou de geo- pótese de um “hiperespaço” de 10 a 11
cêntrica para heliocêntrica, ou por dimensões em razão dos enigmas pro-
outras palavras: quando ela reconhe- postos pela teoria do “big bang”. A
ceu que era a terra que girava em tor- possibilidade de uma multidão de uni-
no do sol e não o inverso. versos no seio de um “metaverso” não
Terá essa importante mudança de está excluída; à semelhança de bilhões
conceito aproximado a humanidade de bolhas de sabão surgiram esses uni-
de Deus? Isso deveria um dia aconte- versos, mas apenas um, o nosso, pode
cer. Mas esse grande passo adiante existir e desenvolver-se. O menor des-
trouxe um resultado aflitivo sob a for- vio numa direção em uma das relações
ma do modelo mecanicista rígido apre- incrivelmente precisas de mais de trin-
sentado por Descartes e Newton, que ta constantes cósmicas do nosso Uni-
estabeleceu uma cisão ainda mais pro- verso causaria a implosão de sistemas
funda entre espírito e matéria, a maté- estelares recém-nascidos. O mesmo
ria morta. Esse “nadir” dessa cisão ex- desvio na outra direção e eles explodi-
plica as famosas palavras de Laplace: riam. Mas como semelhante ordem
“Deus? Não tenho nenhuma necessi- poderia ter surgido por acaso como
dade dessa hipótese”. Os longos anos conseqüência de colisões atômicas?
de sufocante determinismo mecanicis- Essa é uma pergunta que os cientistas
ta deram nascimento a um grande pes- começam a se fazer. Embora ainda se
simismo no Ocidente, e esse afasta- aceite os princípios da doutrina da
mento da natureza e da idéia de um evolução segundo Darwin, o acaso co-
plano divino acarretou sérias conse- meça a suscitar dúvidas assim como a
qüências. Deus e tudo o que existe fo- idéia de que uma simples criança po-
ram representados sob a forma de um deria, “casualmente”, montar um re-
relógio posto em movimento com lógio Rolex.
uma precisão inexorável. O dogmatis- De todo modo, o Universo não pá-
mo científico estabelecido por Descar- ra de nos surpreender, entre outras
tes e Newton resultou na idéia de que coisas, também por causa de seus “bu-
não podemos ver na natureza o menor racos negros”. Embora em princípio
sentido, o menor significado. eles não emitam nenhuma luz (por is-
A mão glacial desta concepção pu- so são chamados de “negros”), Stephen
ramente mecanicista oprimiu por lon- Hawking e Roger Penrose estabelece- Por trás de cada
go tempo o coração do ser humano ram que, segundo cálculos bastante horizonte aparece
até o dia em que, no século passado, prováveis, átomos poderiam escapar um novo horizonte.

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desses buracos negros, e, nesse caso, o está a ponto de ser abolida. Em muitos
buraco negro poderia “evaporar-se”. casos, a relação entre consciência e
Não faz muito tempo, um astrônomo matéria está sendo cuidadosamente
descobriu igualmente que certos pesquisada. Mas é preciso ainda espe-
pequenos buracos negros emitiam rar para sabermos se estamos nos
intensa energia sob a forma de duas aproximando verdadeiramente do es-
correntes relativamente fracas de par- pírito divino. E ninguém pode prever
tículas carregadas de eletricidade pro- o tempo que ainda falta para chegar-
jetadas em direções opostas. Uma des- mos a isso. Muitos estão a caminho, a
sas correntes, originária de um buraco humanidade está a caminho, bem co-
negro da constelação de Cygnos X-1, mo a ciência. As religiões estão sendo,
teria formado uma bolha de gás de um aos poucos, suplantadas pela “espiri-
diâmetro de dez anos-luz (!), que ain- tualidade”. O deus que reinava majes-
da não parou de se expandir. tosamente em um trono longe dos ho-
A imensidade de tudo isso nos leva mens está ultrapassado; agora, está na
a pensar na Doutrina secreta com seus moda a idéia de um deus na forma de
“kalpas, manvantaras e mahapralayas”, uma energia infinita, suscetível de
conceitos orientais que ultrapassam de estar presente no próprio homem.
longe os quadros da física ocidental. Trata-se de uma mudança considerá-
As hipóteses da física quântica se apro- vel de ponto de vista, nada mais. Deus
ximam aos poucos dos conceitos da ainda deve renascer no homem. Ora,
mística oriental. Uma delas postula a as dores de um tal nascimento anun-
unidade de todo o Universo, hipótese ciado já há séculos são bastante peno-
baseada no “campo-Akasha”, ou sas, pois é preciso que os conceitos
“campo-A”: um campo de informação mentais dos seres humanos mudem
cósmica acessível. Portanto, algo está por completo. Ademais, é impossível
em movimento. Assim começamos a lutar contra a influência dos planetas
compreender que não há matéria dos mistérios e a tempestade de fogo
morta nem espaço vazio. A idéia de desencadeada pela era de Aquário.
vazio deu lugar à idéia de plenitude E nós que, em meio à desordem que
que tudo envolve e penetra, ou seja, a nova era anuncia, nos encontramos
uma plenitude de informações relati- hoje reunidos no Templo de Renova
vas à gênese universal. por ocasião da conferência anual,
É possível concluir, de tudo isso, compreendemos que a nova era apre-
que a humanidade está se aproximan- senta exigências particulares. Trata-se
do do espírito? Sim, em certo sentido. de saber se na próxima fase do traba-
A grande cisão entre espírito e matéria lho poderemos satisfazer a essas exi-

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gências. Muitos alunos estão bastante do desespero, mas agi, ao contrário,
conscientes da chegada da nova era. com a coragem da esperança, da fé e
Jan van Rijckenborgh e Catharose de do amor! Um discipulado formal
Petri disseram sobre isso: “Aproxima- orientado segundo regras e mandamen-
se o tempo em que podereis realizar, tos não ajuda em nada, mesmo que se-
em sentido libertador, o que ainda vos jamos perfeitos nele. São válidos so-
parece impossível”. mente os votos que vós e eu um dia
Essa é a razão pela qual precisamos fizemos: tornar-nos santos!
traçar novas diretrizes, diferentes da- Talvez conheçais a lenda do aluno
quelas de quarenta, trinta ou até mes- que disse ao mestre haver feito tudo o
mo cinco anos atrás. A mudança, a que era possível e acrescentou: “Que
aceleração dos tempos, faz-se sentir mais devo fazer?” E o sábio respondeu:
cada vez mais! “Mas, por que teu ser carece de fogo?”
Em outras palavras: esse aluno havia
O aluno cem por cento feito tudo, mas do que realmente se
tratava, a renovação mesma da nature-
Muito se tem falado dos “filhos da za de seu fogo, isso ele não havia feito.
nova era”, contudo, dentro de vinte Ele não possuía o fogo serpentino pu-
anos eles terão chegado à idade adulta. rificado e inflamado na Gnosis. Não
Eles aspiram a uma abordagem dife- se trata aqui de um temperamento íg-
rente das sempiternas argumentações neo nem de uma natureza exaltada, ou
filosóficas. Esses novos adultos são de qualquer traço de caráter exterior.
muito diretos. Sua aura se abre para O importante é que a própria cons-
tudo o que é de seu interesse e eles se ciência, a cabeça do fogo serpentino,
revelam muito sutis para apreender de se inflame na Gnosis. Na atual fase
imediato a essência das coisas. Filoso- evolutiva, o fogo da Gnosis não é sim-
fia para eles é algo maravilhoso, porém plesmente algo “sentido” pelo eu; ele
somente como filosofia de vida, que é, fundamentalmente, um fogo purifi-
possa ser empregada na própria vida. cador, uma dor pungente nascida do
Quem fala de libertação deve ter co- encontro entre a natureza e o Espírito,
meçado a realizá-la em si mesmo, do a dor da despedida, do desmorona-
contrário seu interesse enfraquece e mento de todas as ilusões, uma dor tão
eles se afastam rapidamente. profunda que o ser nela mergulha num
Por conseguinte, é exigência abso- silêncio e impassibilidade totais. Toda
luta que o obreiro seja um aluno cem pretensão desaparece, permanecendo
por cento e que trabalhe com os alu- somente a luz tranqüila da Gnosis.
nos, os interessados ou os jovens. Se Muito se fala e escreve sobre “a
este não for o caso, estes últimos, na Gnosis” atualmente. Mas, qual desses
qualidade de participantes da nova era, oradores ou escritores consentiu em
perceberão isso de imediato e vossas deixar-se queimar pelo fogo gnóstico
palavras não transmitirão a eles men- até que nada mais restasse de seu
sagem alguma. Vosso discipulado nun- “eu”? Muito poucos. Contudo, esse
ca pode conduzir aos resultados dese- braseiro purificador é o fogo da graça
jados e pode até mesmo nada signifi- perdida, com o qual deveis aproximar-
car para outros se não vos dedicardes vos dos buscadores, o fogo sobre o
a ele cem por cento. Não façais tudo qual J. van Rijckenborgh diz: “Origi-
“em nome de Deus”, com a coragem nalmente a Gnosis era a síntese da

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sabedoria primordial, a soma de todo Nosso trabalho tem especificamen-
o conhecimento que apontava direta- te por fonte uma estrutura iniciática
mente à vida divina original. [...] Os vivente, um corpo vivo no qual deve-
hierofantes da Gnosis eram – e ainda mos distinguir vários aspectos e ór-
são – enviados do reino imutável. Eles gãos. A unidade fundamental na qual
traziam para a humanidade perdida a e pela qual trabalhamos é o núcleo. Os
sabedoria divina e indicavam a senda núcleos devem receber toda a atenção
única para aqueles que, na qualidade da direção nacional, do presidium e da
de filhos decaídos, desejavam retornar direção espiritual internacional. É ne-
à pátria original. Essa Gnosis [...] ja- cessário aspirar à integração do traba-
mais foi transmitida através de livros”. lho dos alunos, do trabalho de mem-
E o autor continua: “Dizemos com to- bros, da mocidade e do trabalho pú-
da certeza que ninguém, no mundo blico; dito de outro modo, deve surgir
dialético, jamais revelou a Gnosis em uma comunicação aberta e um inter-
sua plenitude. Mas, então, qual o obje- câmbio entre esses diversos aspectos
tivo da Gnosis? Ela é, antes de tudo, do trabalho.
força, radiação, luz. A Gnosis é a ra- Como é possível empreender um
diação do reino imutável, radiação es- trabalho comunitário a partir disso?
sa ligada de modo único e direto com Como podemos realizar a unidade de
nosso microcosmo”. Todos que traba- esforços e do espírito? Como podemos
lham em silêncio e que refletem espiri- estabelecer verdadeiramente a unida-
tualmente sobre seu discipulado de- de? Cada um de nós representa um
vem conservar esta idéia clara e pura aspecto da jóia com quarenta e nove
diante dos olhos. facetas, e cada um de nós reage essen-
cialmente a um dos quarenta e nove
Como podemos realmente raios provenientes dos setes templos,
estar em unidade? dos sete círculos áureos que representam
a plenitude da Fraternidade da Vida. Na
“Rosacruz” é um nome do qual se condição de seres humanos da nova era,
faz todo tipo de uso, legítimo e ilegíti- devemos polir nossa jóia, o átomo ori-
mo. Grupos que praticam a magia se- ginal, até que ela brilhe novamente em
xual denominam-se rosacruzes, como todo seu esplendor. Desse modo, liga-
Dionísio veleja também o fazem idealistas, utopistas, mo-nos à Fraternidade Universal e
sobre o mar. livres-pensadores, alquimistas, ocultis- nos tornamos unos com ela.
Sete golfinhos o tas, cabalistas, os praticantes do tarô e Então, de posse dessa plenitude e
acompanham, de todo o tipo de magia, da branca à dessa realeza, ataviados com essa jóia
sete racemos
negra. Na condição de alunos rosacru- deslumbrante, iremos ao encontro dos
dão-lhe a força
do êxtase en-
zes, encontramo-nos em companhia seres humanos para oferecer-lhes esse
quanto a divinda- bastante heteróclita; o nome rosacruz auxílio e sustentáculo magnético e dar-
de permanece é como uma bandeira que cobre todo lhes a possibilidade de beber da taça do
em equilíbrio tipo de carga. Devemos dizer claramen- Novo Testamento mediante a imitação
imperturbável e te aos buscadores o que somos e a qual de Cristo! Permaneçamos, pois, unidos
paz celeste.
Rosacruz pertencemos e, sobretudo, na obra a ser realizada nestes novos
Copo de beber
do mestre
fazendo notar a distância que nos separa tempos.
Exekias, 540-535 dos outros grupos, pois existem dife-
a.C., agora em renças essenciais que não devem ser dis- Conferência anual dos alunos, Renova,
Munique. simuladas. 28 de agosto de 2005.

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Geocêntrico – Heliocêntrico – Cristocêntrico

Recentemente fomos surpreendidos por esta afirmativa, que fala à imaginação:


“A terra é plana!”, bem como pela seguinte constatação:
“A humanidade, tal como a conhecemos, existe há apenas dois minutos”.
Este pequeno intervalo de tempo representa a relação entre os duzentos mil anos
desde o aparecimento do homo sapiens no cenário terrestre e os respeitáveis
quatro bilhões, quatrocentos e cinqüenta milhões de anos decorridos depois
do surgimento de nossa mãe, a terra, segundo os dados da ciência.

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I maginemos o planeta terra no siste-
ma solar, o lugar que ele ocupa nesse
sistema e sua capacidade de sustentar
um ciclo sem fim de seres viventes
que, não obstante possuírem muitas
características em comum, são dife-
rentes entre si. Para o filósofo grego
Heráclito (ca. 540-480 a.C.) isso foi
motivo para ele declarar: “Panta
rhei” – tudo muda, tudo flui. Com
isso ele queria dizer que, apesar dos
aspectos contrários e das transfor-
mações contínuas do Universo, este
compunha uma unidade. “Digo, não
segundo o que ouvi, mas segundo o
Logos, com o qual é sinal de sabedo-
ria harmonizar-se e que afirma: Tudo
é um.”
Tudo é um. Menos conhecida é esta
citação do filósofo: “Não é possível
atravessar duas vezes o mesmo rio...:
ele se separa e em seguida se junta...;
ele se aproxima e se afasta”1. Jamais
encontrareis duas vezes a mesma
pessoa, o que significa que a lei da
mudança aplica-se também ao ho-
mem enquanto pequeno mundo, en-
quanto microcosmo.

A antiga tríade da criação

Na sala de exposição da Bibliothe-


O general James George Roche, 1824-1904 (James ca Philosophica Hermética de Ams-
Forlong), fez carreira no exército anglo-indiano. terdã há um mapa com alguns metros
Como engenheiro civil, foi responsável pela construção de comprimento e que traz por títu-
de estradas no interior da Índia. Ele viajou para o lo: “Os rios da vida” ou “As corren-
sul da Europa e o Oriente Médio. Bastante interessado tes da vida”. Ele oferece uma visão da
em línguas estrangeiras, arqueologia e religiões história humana após o dilúvio, apro-
orientais, seus estudos lingüísticos levaram-no a se ximadamente há doze mil anos, que,
interessar pela origem das crenças religiosas de pelo relógio do mundo, contado a
10.000 anos antes de Cristo, descobrindo, assim, partir do big bang2, na realidade não
que numerosos mitos cristãos provinham de antigas representa senão um breve instante.
religiões. Após reformar-se, em 1877, ele publicou Esse mapa e o curso da história que
algumas obras importantes: Rivers of Life, em ele apresenta são de autoria do emi-
1883 e Faith of Man, a cyclopaedia of religions, nente historiador James Forlong3.
em 1906. Nesse mapa podemos ver, sob a for-
ma de ramificações do imenso rio da
vida, as grandes correntes religiosas e A tríade: medida, número e peso
os objetos de sua veneração: os deu-
ses, os fundadores de religiões com A vida se manifesta segundo as leis
suas doutrinas e os temas importan- da medida, do número e do peso: a
tes de seus escritos sagrados. Eles são forma visível, a coesão interior, e o
como uma bússola espiritual para os resultado, a criatura. É a essência cria-
que, como os discípulos do gnóstico dora ao mesmo tempo visível, interior
Teódoto (150 d.C.), se faziam per- e espiritual, que emana do rio da vida,
guntas fundamentais: “O que fomos, de uma profundeza insondável que
no que nos tornamos, onde já estive- tudo engloba e que conhecemos como
mos, que lugar é este a que chegamos, Deus, o criador ou Pai-Mãe. Um cam-
para onde vamos, de que devemos ser po de tensão tríplice determina a qua-
libertados, o que é o nascimento e o lidade da existência do ser humano,
que é o renascimento...?4” Com isso, sua identidade e seu poder de ver com
Teódoto se aproxima da tríplice e o olho do coração e, finalmente, sua
misteriosa coesão da vida: ligação com o espírito. Enquanto pe-
queno mundo, enquanto microcos-
1. o criador: Deus; mo, ele pode penetrar o mistério da
2. a criação: o mundo infinito, criação. A união da personalidade, da
o macrocosmo; alma e do espírito está no centro do
3. a criatura: o homem enquanto mistério da entidade humana.
pequeno mundo, o microcosmo. Tudo flui, nenhum momento volta
atrás. A vida encaminha-se para sua
Esta é a antiga tríade criadora: revelação e realização, do ponto de
Deus, cosmo e homem. O mapa de vista da matéria, da alma e do espírito.
Forlong mostra a rica simbologia reli- Isso corresponde aos três mundos da
giosa de nossos ancestrais. Vemos, so- percepção:
bretudo, a adoração ao sol, roda cen- 1. a percepção geocêntrica da nossa vi-
tral da vida e fonte original da energia da e da terra;
vital. A adoração do fogo na qualida- 2. a percepção heliocêntrica do siste-
de de força criadora, causa dinâmica ma zodiacal que nos envolve e os
da circulação oculta da seiva, do san- corpos celestes que nele se movem;
gue em todas as correntes de vida. 3. a percepção cristocêntrica que trans-
Vemos a veneração à árvore da vida, cende a percepção sensorial limita-
força de expressão visível do cresci- da, o ingresso no mundo da alma
mento e da frutificação; a veneração à vivente. É aí que surge o “conheci-
reprodução, simbolizada pelo falo e mento do coração” que permite re-
pelo útero; em seguida, temos a vene- ceber “o prêmio da corrida”: a liga-
ração à serpente, símbolo da sabedo- ção com o espírito. Trata-se do do-
ria e do vigor, o “conhecimento de mínio do único Criador; o domínio
Deus” que é a Gnosis, sobre a qual do primeiro e do último, do Alfa e
Hermes Trismegisto diz: “Aquele que do Ômega.
Rios de vida ou
conhece a si mesmo conhece o Uni-
Crenças dos homens
verso”. A veneração à serpente é ao Se examinarmos os ensinamentos em todos os países,
mesmo tempo o conhecimento do deixados por todos os que fizeram a de J.G.R. Forlong,
bem e do mal, a distinção entre a luz e descoberta do espírito no decorrer 2,45 x 0,85 metros,
as trevas. dos séculos, chegaremos a um mundo 1883.

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de percepção onde passado, presente que a mudança é a força propulsora
e futuro nos ligam à unidade, à seme- do nascimento e da vida, penetrare-
lhança dos raios de uma roda que mos o mistério da imortalidade; per-
convergem para o centro. Então des- ceberemos as dimensões – a medida, o
cobriremos que é a roda da vida divi- número e o peso – do mundo interior.
na que põe em movimento as engre- Uma chave tripla abre o caminho do
nagens do espaço e do tempo; desco- que é inconstante e mortal para o que
briremos que o pequeno age em con- é imutável: a vida da alma-espírito.
cordância perfeita com o grande; que Três mundos, três campos vibrató-
o que é espiritual emana de Deus; que rios, três velocidades atuam simultanea-
o que é interior procede da imortali- mente no interior da mesma criação:
dade; e que a vida mesma origina-se • exteriormente: de modo cambiante
de transformações sem fim. Penetra- e mortal;
mos o sentido profundo dos símbolos • interiormente: segundo a vida da
externos, experimentamos a exatidão alma imutável;
das palavras dos rosacruzes: o homem • espiritualmente: de modo imortal.
é um minutus mundus, um pequeno
mundo, um microcosmo. Compreensão das leis
Aprendemos, assim, a considerar espirituais
todos os seres humanos que habitam
o globo terrestre como membros de Doze mil anos são passados, e
uma só família, quer pertençam à raça devemos ainda desvelar os testemu-
branca, negra, amarela ou vermelha. nhos escritos relativos aos fundamen-
E, como “o homem é uma grande tos da vida. O objetivo é ensinar a
maravilha”, a criação da qual ele pro- todos os seres humanos o verdadeiro
cede é uma maravilha ainda maior, significado da existência humana. Em
enquanto seu Criador é a maravilha cada divisão do tempo, elaborada por
suprema. A admiração é, portanto, a Forlong, aparecem aproximadamente
força arrebatadora que se encontra vinte e quatro ápices que refletem um
por trás do caminho de nossa busca. avanço social e espiritual. Trata-se da
Ele nos mostra a evidência da existên- projeção do tríplice mistério: micro-
cia do Criador, o Grande Arquiteto cosmo – cosmo – macrocosmo. A
do Universo, oculto na criação de humanidade e seu mundo estão inte-
modo tríplice. A maravilha é que, em grados no plano inescrutável dos
realidade, existem três manifestações Senhores do Destino que se encon-
em movimento, que se interpenetram: tram a serviço do Criador da vida.
o mundo visível, o mundo interior e o Existe uma Fraternidade mundial
mundo espiritual, ou como diz von atuando em sete planos a fim de
Eckartshausen: o exterior, o interior e orientar o destino da humanidade em
o interior mais profundo. Em cada ser direção das leis espirituais. Essas leis
humano encontra-se gravada uma comportam sete aspectos que esca-
réplica do plano de criação. Um pam às forças contrárias do mundo:
exame atento desse plano permite-nos positivo e negativo, luz e trevas... O
reconhecer os testemunhos evidentes dever de cada ser humano é renovar
da Fraternidade mundial sétupla. sua personalidade, sua alma e seu
Heráclito afirma que a mudança é a espírito. Na qualidade de criaturas
única constante da vida. Se aceitarmos efêmeras, ainda não ultrapassamos a

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fase da aquisição da consciência: a mente se manifesta setuplamente em
libertação do ciclo mineral-vegetal- nossa comunidade, uma comunidade
animal. Portanto, estamos ainda liga- mundial de almas-espíritos.
dos ao processo da vida e da morte J. van Rijckenborgh teve a visão de
num campo de existência continua- semelhante missão na forma da Una
mente cambiante. A missão da Frater- Sancta, a unidade de todos os verda-
nidade mundial sétupla é servir aju- deiros iniciados, e que ele expôs em
dando os seres humanos a penetrar no seu livro A Gnosis em sua atual mani-
mistério do devir consciente de sua festação5, onde diz:
alma. Trata-se aqui da segunda fase. “Na antiga lenda de Buda é dito
Pode-se, portanto, dizer que a missão que ele deu à humanidade sua doutri-
de todos os guias espirituais deve ser na de sabedoria e o impulso para
conduzir as almas de milhões de bus- novo despertar espiritual. Tendo ter-
cadores ao caminho da perfeição. A minado sua obra e já deixado a mora-
esse respeito, é possível extrair dos da da noite, viu que, se por um lado
escritos sagrados a doutrina secreta da tinha milhões de seguidores, infeliz-
humanidade. Há dois mil anos, as mente, por outro, desenrolava-se luta
fontes da gnosis egípcia, indiana, terrível e mortal entre o bramanismo
persa, chinesa e judaica confluíram e o budismo, justamente em conse-
num crisol que denominamos gnosis qüência do seu aparecimento. Os brâ-
hermética cristã. Pensamos aqui nos manes, que desde tempos remotos
textos herméticos do antigo Egito, no custodiavam os Vedas e os Upanis-
Bhagavad Gita, nos Vedas, no Zend- hads, portanto também de sabedoria
Avesta, no Tao Te King, no Tripitaka divina, estavam irados e combatiam
(o cânon do ensinamento de Buda) e com todos os meios o budismo cres-
na Torá (o Pentateuco, os cinco pri- cente.
meiros livros da Bíblia). No decorrer Os discípulos de Buda e os seus su-
desses dois mil anos, pudemos acom- cessores tampouco recuavam, e assim
panhar a manifestação da Gnosis em o coração do Sublime foi tomado de
quatro fases; a influência da Idade grande dor. Ele, que queria servir à
Média cristã e da Renascença, são humanidade e, com imensurável
ainda bastante perceptíveis. amor, salvar a todos, viu a guerra que
se travava em seu nome. Por isso,
A unidade das religiões resolveu voltar para as sombras da
libertadoras natureza da morte doze séculos após
sua partida como Buda. Voltou como
Atualmente, por ocasião da passa- Shankara, o Sublime. Shankara é, real-
gem do segundo para o terceiro milê- mente, um mestre cujo nome se
nio, colocamo-vos diante da Fraterni- encontra registrado na história. Não
dade mundial sétupla ao confirmar- se trata aqui de lenda, mas de realida-
mos as palavras mágicas dos rosacru- de: Shankara ensinou a síntese de toda
zes clássicos do século 17: “Ingresso a sabedoria divina. Ele mostrou que
nos sete círculos e meu pensamento os Vedas, os Upanishads e a doutrina
adentra o círculo superior, enquanto de Buda são idênticos e aspiram ao
conservo os pés no circulo inferior”. mesmo objetivo. Mostrou a universa-
Esta é uma realização possível, agora lidade de toda a doutrina da sabedo-
que a Fraternidade mundial nova- ria. Tendo cumprido essa missão,

13
Shankara, que foi Buda, desapareceu dirigente do mundo, lhes dá é: ‘Meu
de modo misterioso. Reino não é deste mundo. Vai, vende
Relembramos essa história em rela- tudo o que tens e segue-me!’ Para o
ção à Una Sancta, à Una Mystica, que que a Pistis chama a atenção? Para a
novamente se manifesta no corpo Sophia! Quem ou o que é a Sophia? É
magnético da Escola Espiritual, pois a a outra emanação divina, que acompa-
Escola Espiritual da Rosacruz Áurea nha a Pistis, a verdadeira, a inviolável
não segue uma linha exclusivista e sabedoria que, sem fazer nenhuma
sectária. Não. Esta Escola, este corpo concessão, dimana do pleroma divino.
magnético, é uma verdadeira Escola A Sophia toma forma no que deno-
de Shankara, na qual se revela a sínte- minamos Gnosis, e precisamente nas
se de toda a sabedoria universal. escolas espirituais gnósticas de todos
Assim como Shankara com seus os tempos. Nessas escolas da Gnosis
seguidores e sublimes seguiram-se a encontramos, também por essa razão,
Buda, assim também a Gnosis seguiu- sempre a mesma Sophia, a mesma
se à manifestação de Jesus a fim de sabedoria: o mesmo caminho, a mes-
reunir todas as doutrinas de sabedoria ma verdade e a mesma vida. É indife-
de toda a história universal e manifes- rente se os pesquisadores vêm desta
tá-las segundo maravilhosa unidade. ou daquela comunidade, ou se a cor de
O taoísmo, o bramanismo, o budis- sua pele é trigueira, vermelha ou bran-
mo e o cristianismo estão, em essên- ca, ou se vêm do meio budista, muçul-
cia, enquanto doutrinas e caminhos mano ou cristão, todos eles foram ins-
de libertação, unificados na Gnosis. truídos e purificados pela única So-
Por isso, a Rosacruz ergue-se acima phia, na única Sophia se extinguiram
do secular conflito metafísico e serve para o renascimento.
ao Shankara de todos os tempos.” Quem deseja uma prova para si
Em seu aspecto exterior, na quali- mesmo, quem deseja segurar firme-
dade de obra mundial de Cristiano mente o fio de Ariadne, que preste
Rosacruz, a Escola Espiritual repre- atenção e verifique: a Gnosis tem sido
senta o átrio. Em seu aspecto interior, em todos os tempos invariavelmente a
sua missão para com os seus membros mesma; ela mostra invariavelmente o
é a de ser a voz vivente que ressoa na mesmo caminho e fala invariavelmen-
morada do espírito a fim de prepará- te a mesma linguagem. [...] Por conse-
los para o trabalho no Sanctum, o guinte, é preciso saber que todas as
Santo. Em seu aspecto espiritual, ela fraternidades gnósticas precedentes
instrui com a finalidade de passar do denominaram-se igrejas, quiseram ser
Santo ao Santo dos Santos: no mais e precisaram ser igrejas. Estas, porém,
profundo, onde reina o espírito, o como já dissemos, consagraram-se
Senhor que está no centro de tudo. completamente à Sophia, para que
Do mesmo modo, J. van Rijcken- todo o peregrino extenuado pudesse
borgh escreve, no último capítulo de constituir-se em verdadeiro Pistis
A Gnosis em sua atual manifestação: Sophia.
“Por isso, levantam-se neste mundo Eis por que não é sem uma profun-
milhões de torres de igrejas que, como da razão que a Escola Espiritual da
braços do desespero, se estendem em Rosacruz Áurea doravante aparecerá
busca de uma possibilidade de salva- diante do público cada vez mais como
ção. A única resposta que Cristo, o Lectorium Rosicrucianum Ekklesia

14
Pistis Sophia. Em 1º de setembro de
1954, a Escola recebeu a herança da
Fraternidade precedente, e a essa
herança e ao testamento pertence tam-
bém o encargo de levar avante a obra
como Ekklesia Pistis Sophia, encargo
que assumimos plenamente. É eviden-
te que, antes de tomarmos posse dessa
herança, já de há muito estávamos ati-
vos com o fim de atrair e vivificar os
valores essenciais dessa herança para
nos tornarmos dignos dela. [...] Um
corpo hierárquico, no sentido gnósti-
co original da palavra, era, porém, algo
completamente diferente. Significava,
no aparato da vida organizado até em
suas mínimas particularidades, um
corpo vivo, com o auxílio do qual as
emanações da Sophia podiam envol-
ver todos os que eram acolhidos nesse
corpo. Com o auxílio deste corpo a
Sophia, que dimana do pleroma da
vida universal, podia vir a ser recebida
e assimilada por todos os que ali
haviam sido acolhidos. O corpo vivo,
portanto, não era somente um lugar
de reunião comum, onde o conjunto
magnético da comunidade experimen-
tava um toque. Isso bastaria, talvez,
para a igreja da Pistis; mas nesse corpo
da Sophia, a Igreja dos cátaros, e nos
demais lugares de ensino consagrados
da Fraternidade precedente, podia-se,
conforme leis gnósticas e científicas e
mediante magia gnóstica aplicada,
fazer com que descesse o toque da
Sophia. Essa descida podia conduzir a
(1862-1918), Leopoldmuseum,Viena.
Detalhe de uma pintura de 1900, G. Klimt

um processo, o processo podia con-


duzir ao caminho da Rosacruz, o ca-
minho da Rosacruz ao trigonum
igneum e este ao fogo renovador no
lugar do crânio [o calvário]. Desse
modo, podia ocorrer uma ressurreição
no novo campo de vida. [...] O corpo
hierárquico está terminado e nele os
alunos encontraram e ocuparam seus
lugares. Portanto, eles são elos desse
corpo vivo, elos da Ekklesia Pistis força. A mão que nos reúne é a mão
Sophia. Este organismo foi vivificado do divino mestre construtor. Nessa
pela graça da Gnosis. A vida foi pre- força, devemos avançar. Nossa cami-
senteada do “alto” à hierarquia gnósti- nhada em direção da vida imutável da
ca moderna. Tudo está preparado. A alma-espírito vivente encontra sua
oficina foi provida até em suas minú- coroação ao receber o “prêmio da cor-
cias com todo o instrumental; ali está a rida”: a ligação com o espírito divino.
antiqüíssima cozinha alquímica com
todas as retortas e o fogo arde no Alocução dominical de 6 de novembro de
forno. Tudo, tudo está preparado para 2005, no Templo principal, em Haarlem.
que, em nós, da Pistis seja forjada a
Sophia. Agora queremos e poremos
toda nossa existência a serviço da vida,
NOTAS:
e assim, na corrente da graça da maré
da Sophia, resultante do pleroma, de 1 Mansfeld, J., Heraclitus. Fragment. Amster-
baixo para cima e inteligentemente, com dã: Athenaeum, 1979.
o emprego de nossas novas qualidades 2 Segundo os cientistas, o Big Bang marca o
nascimento do Universo, há aproximada-
de alma, também, de nossa parte, vivi-
mente 13-14 bilhões de anos.
ficaremos a Ekklesia Pistis Sophia. 3 Forlong, J. G. R., Rivers of life, of sources
Todos nós ocupamos nossos luga- and streams of the faith of man in all lands,
res segundo diretrizes hierárquicas. showing the evolution of faith from the
Não vamos nos acomodar e, assim, rudest symbolisms to the latest spiritual deve-
lopment. Londres: Bernard Quaritch, 1883
não nos satisfaremos simplesmente, de 4 Excerpta ex Theodoto 78.2.
mãos postas, dizendo em êxtase místi- 5 Rijckenborgh, J. van, A Gnosis em sua atual
co: “Agradecemo-vos, ó Senhor!” manifestação, parte 3, A Una Sancta, São
Mas na vida que nos será concedida do Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1999.
Shankara é o mestre indiano autor da Vedanta.
alto, seremos dinâmicos, conseqüen- J. van Rijckenborgh se refere à Doutrina
tes e, sem qualquer hesitação, vivere- Secreta, 3ª. Parte, de H. P. Blavatsky, “O
mos como verdadeiros imaculados, mistério de Buda”, onde aparece o nome de
puros, como irmãos da Comunidade Shankara. Dela citamos: “Gautama havia
jurado segredo inviolável sobre as doutrinas
dos rosacruzes.
esotéricas que lhe tinham sido transmitidas.
Assim, de novo, divulgaremos a So- Mas, em sua imensa piedade diante da igno-
phia e sua benção pelo mundo, como rância e dos sofrimentos da humanidade
reino gnóstico, como manifestação ini- deles decorrentes, ele negligenciou em dissi-
cial do grande trabalho universal da Fra- mular certos dogmas, transgredindo assim as
leis do carma, o que deu motivo a que fos-
ternidade Mundial Gnóstica Sétupla. sem mal interpretadas as suas palavras [...]
O Lectorium Rosicrucianum Ek- Seu novo ensinamento teve conseqüências
klesia Pistis Sophia viverá realmente, fatais e jamais foi compreendido de maneira
se com ele vivermos.” correta [...] Eis por que o ‘grande mestre’
preferiu renascer cinqüenta e poucos anos
Uma nova fase se inicia. Verdadeiro
depois de sua morte [...] por motivos cármi-
sal da terra, fermento do pão da vida, cos e por seu amor à humanidade”.
força de uma nova aliança, uma comu- Os historiadores reconhecem, por volta de
nidade multicultural de numerosas 788-820, a existência de um Shankara ori-
almas viventes, batizadas no vinho do ginário de Kevala, um dos maiores brâma-
nes filósofos do hinduísmo e que ainda
espírito, pode, hoje, continuar e exe- muito jovem, entregou-se às peregrinações
cutar o plano divino previsto para o de um monge. Ele é tido como o autor da
Edshult, Suécia. mundo e a humanidade. A união faz a Vedanta e fundador de escolas hinduístas.

16
Campo de trabalho em ação...

17
Campo de trabalho em ação...

A turnê começou pela Holanda,


seguida pelos núcleos da Bélgica.
Depois visitamos o sul da Alemanha:
Nuremberg, Munique, Ulm e, dois
anos mais tarde, seguimos para Calw
e Stuttgart. Em seguida, Lenzburg,
Basiléia, Berna e Zurique, na Suíça.
Depois foi realizada uma palestra e
uma exposição em Neustein, na Áus-
tria, seguida por uma visita ao núcleo
de Edshults Säteri na Suécia, e ao
núcleo The Granary, em Little Du-
nham, na Grã-Bretanha. Na Polônia
visitamos Breslau, Varsóvia e Katowi-
ce, e novamente fomos à Alemanha,
aos núcleos de Hamburgo e Olden-
burgo. Por fim, em 2005, o comitê da
redação da Pentagrama, em compa-
nhia de uma delegação da Rozekruis
Pers, viajou para o Brasil, onde visita-
ram os núcleos de Itapetininga, Cam-
pinas, São Paulo e Fortaleza. Em um
período de aproximadamente cinco
anos foram visitados 38 núcleos dis-
tribuídos por nove países.
A palestra foi dividida em duas par-
tes: o desenvolvimento histórico da
Escola Espiritual, ilustrado por uma
exposição, e uma apresentação da
O comitê da redação da revista Pen- atual produção da Rozekruis Pers. A
tagrama foi convidado a visitar dife- exposição reuniu o acervo de publica-
rentes países a fim de traçar a história ções antigas da Escola Espiritual: as
desse periódico após a criação da Es- publicações diárias, semanais e men-
cola Espiritual em 1924. Foram orga- sais, tais como Het Rozekruis, Het
nizadas palestras em um grande nú- Licht van het Rozekruis, Nieuw-Eso-
mero de núcleos do Lectorium Rosi- terisch Weekblad, entre outras. Bro-
crucianum. churas, relatórios das reuniões extra-
ordinárias, como lançamentos da pri-
Brasil. meira pedra e consagrações de Tem-

18
Campo de trabalho em ação...
plos, planos e esboços de Renova
(naquela época ainda Elkerlyc) e de
Noverosa (De Haere) bem como as
primeiras edições dos livros da Esco-
la, que se tornaram raridades. A expo-
sição apresentou, entre outras coisas,
amplo material sobre a produção da
revista Pentagrama: esboços, planos
de trabalho, esquemas de produção,
material de redação e de ilustração e Aurora, a luz da manhã desponta!
edições da revista em quinze idiomas
até o ano de 2004, que marcou seus No final do mês de maio de 2005,
vinte e cinco anos de existência. Em os alunos poloneses, bem como os
todos os núcleos essas apresentações convidados vindos da Holanda, da
suscitaram enorme interesse e deram Alemanha, da Suíça, da França, da
aos participantes a oportunidade de Hungria e da Rússia reuniram-se no
fazer uma série de perguntas. núcleo Aurora, em Wielun, Polônia,
Poucos alunos, porém, fazem uma para uma celebração de há muito
idéia da importância real da revista aguardada: a consagração de três tem-
Pentagrama e do papel que ela repre- plos no transcorrer de uma Conferên-
senta em aproximadamente vinte paí- cia que causou grande impressão. A
ses onde aparece, com uma tiragem Polônia é um país quase tão grande
total de dez mil exemplares. As edi- quanto a Alemanha; 95% dos alunos
ções holandesa, alemã, inglesa e fran- estavam presentes, dando assim teste-
cesa são impressas pela Rozekruis munho de seu envolvimento com esse
Pers, em Haarlem. Os demais países complexo templário situado em um
têm sua própria edição. dos maiores edifícios do Centro de Wielun, Polônia.

19
Conferências, totalmente renovado. todo o microcosmo. Tal como o sol
Essa reforma foi realizada dentro do nascente, assim ergue-se também o
orçamento e prazo determinados. novo homem”.
Eis que, quatro anos depois de nosso Esse final de semana ensolarado
núcleo ter começado suas atividades nos encheu de uma paz benéfica e de
em nosso Centro de Conferências harmonia. Todos os participantes
Aurora, todos nós podemos hoje veri- apuseram sua assinatura numa placa
ficar que fizemos bom uso de nosso de vidro onde estavam gravadas as
tempo. Hoje, todos juntos, damos seguintes palavras:
prova de que estamos prontos a nos
engajar no caminho encetado. Com Antes que o sol nasça,
essas palavras a Direção Nacional do o céu já se ilumina.
campo de trabalho polonês deu início A Luz está presente!
à Conferência, salientando a forma Aurora, deusa do alvorecer;
como os alunos poloneses aceitaram e Aurora, luz da manhã;
conduziram conscientemente sua Aurora, promessa da nova luz.
tarefa.
Em seguida, a Direção Espiritual Apesar do adiamento de certos tra-
Internacional transmitiu sua mensa- balhos, tudo transcorreu perfeita-
gem com as seguintes palavras: “Por mente. Isso prova, mais uma vez, que
detrás do véu da ilusão do Universo uma boa organização em que cada um
visível, com suas miríades de sistemas sabe o que é preciso fazer dentro do
À esquerda, o planetários, irradia o sol espiritual, respeito mútuo é a garantia de uma
jardim interior Vulcano. Seus raios são transmutados eficácia infalível. Disso, os alunos
com o demarcador pela Fraternidade Universal e trans- estrangeiros e todos os alunos polo-
de fronteira. No mitidos à humanidade pelas escolas neses são testemunhas.
centro: vista da
iniciáticas gnósticas. Assim, a huma- No outono de 1986, o Lectorium
Bakenessergracht
nidade recebe a força que lhe permite Rosicrucianum havia sido registrado
com o Centro
J.van Rijckenborgh, trabalhar no jardim de Deus e fazer na Polônia como uma comunidade
Haarlem; Portas desabrochar, na luz do sol nascente, a religiosa. O grupo de alunos era ainda
abertas em Renova. rosa, que preenche com seu perfume bastante pequeno. Hoje, ele conta

20
Campo de trabalho em ação...
com mais de 300 pessoas entre os No mês de setembro, o piano voltou
núcleos de Katowice, Koszalin, Var- ao seu lugar no pódio do Templo. Os
sóvia e Breslau. No último fim de conhecedores podem agora ouvir
semana de maio de 2005 foi inaugura- sons muito mais belos.
da, para o campo de trabalho polonês, Não quisemos, neste período in-
uma nova fase de trabalho. vernal, deixar de mostrar algumas
imagens de nossa Sede renovada...
Haarlem, Holanda
A Escola da Rosacruz Áurea
No início do verão de 2005, o piano na mídia
de cauda do Grande Templo tomou o Dia de Portas abertas
caminho dos antigos escritórios do
número 11 da Bakenessergracht. Num sábado ensolarado de setem-
Com o auxílio de guindastes, ele pas- bro de 2005 aconteceu o dia de “Por-
sou por uma janela a fim de ser leva- tas abertas” sob o signo do “patrimô-
do até o local onde seria restaurado. nio religioso”.
Na ocasião, o Centro de Conferên-
cias Renova e o Grande Templo de
Haarlem abriram suas portas ao
público, acontecimento esse que cha-
mou bastante a atenção da imprensa.
O semanário local De Vierklank
publicou um artigo sobre Renova.
Após uma apresentação de página
inteira, a jornalista S. van der Laan
expressou suas impressões numa
reportagem intitulada: “Um dia entre
história e religião”.
“[...] Após o almoço o tempo esta-
va nublado, e eu me perguntei se
deveria voltar para casa ou prosseguir.

21
Porém, já por duas vezes, no mesmo portas abertas”, realizado no sábado,
dia, a idéia de ir até os rosacruzes 10 de setembro, onde ele apresenta
havia se imposto a mim como uma uma entrevista com dois colaborado-
força mágica de atração. Toda suada, res da Direção, com o seguinte título:
chego diante do Templo de Renova, “Aqueles que nos procuram nos
em Bilthoven. Infelizmente, tarde encontram”:
demais. Na entrada, três senhores me “Os rosacruzes vêem a cruz por
dizem que a última reunião está pres- um ângulo totalmente diferente da
tes a terminar. Ao mesmo tempo, me maioria dos cristãos. Não devemos
parece que uma simples visita seria nos esquecer que essa Escola, que se
um tipo de sacrilégio. Mas eis que a diz ‘cristocêntrica’, foi reconhecida
magia funciona: quando resolvo pelo Estado holandês como Igreja
contentar-me com uma simples visita oficial [...] ‘O dogmatismo religioso
ao núcleo e à biblioteca, de repente a enfatizou o sofrimento: em tempos
porta do templo se abre e me vejo, passados, em cada sala de aula, as
com meu acompanhante, sentada na crianças deviam olhar para um Cristo
primeira fila. O imenso salão circular pregado na cruz, embora a mensagem
possui grandes janelas e está inunda- do cristianismo explique ao ser
do de luz. No centro do salão há uma humano a possibilidade de tornar-se
fonte com uma rosa simbólica, de novamente filho de Deus e de se
onde jorra água, ressoando no silêncio libertar da ignorância, que é o grande
seu doce murmúrio... O caminho de sofrimento deste mundo. Nós vemos
retorno através do belo parque de justamente as possibilidades de um
Renova traz uma paz salutar no fim florescer dessa centelha divina em
desse dia de visita do patrimônio cada ser humano’. No sábado, os
religioso”. amantes da arquitetura, ou os simples
Por sua vez, o jornalista J. Oomkens, curiosos, puderam, após o meio-dia,
autor de um artigo intitulado “Os rosa- fazer uma visita ao conjunto de pré-
cruzes em Haarlem”, escreve para o dios da Bakenessergracht e da Zaks-
Portas abertas em Haarlems Dagblad (Diário de Haar- traat, bem como ouvir as curtas
Renova. lem) um artigo acerca desse “Dia de introduções à doutrina dos rosacru-

22
Campo de trabalho em ação...
zes de Haarlem. Eles se consagraram foco do campo de trabalho suíço que,
com amor e perseverança ao apro- nos anos seguintes, cumpriu uma
fundamento daquilo a que denomi- importante função. Foi ali que se rea-
nam Gnosis e aos antiqüíssimos lizaram todas as Conferências de
conhecimentos esotéricos. Tudo isso Renovação até 1978. Depois de qua-
desconcertou os alemães entre 1940 e renta anos de atividades, o núcleo
1945, durante a ocupação, de modo havia se tornado muito pequeno.
que as reuniões no Templo foram Também fazia falta uma sala de silên-
proibidas. Contudo, um pequeno cio e uma outra para o trabalho públi-
grupo de alunos permaneceu fiel. co. Foi então que, na primavera de
Algumas pessoas que precisavam 2004, partiu-se em busca de um novo
permanecer escondidas encontraram local. Ora, descobriu-se então, “por
abrigo nesse lugar”. acaso”, que os escritórios na parte su-
Nesse sábado, mais de quinhentos perior estavam vagos. Os alunos agar-
interessados se dirigiram ao Centro J. raram com ambas as mãos a oportuni-
van Rijckenborgh, em Haarlem, e dade de ampliar o atual núcleo, muito
mais de duzentas pessoas visitaram o bem situado em Zurique.
Centro de Renova. A impressão de Os trabalhos de organização come-
muitos colaboradores foi a de que çaram no verão de 2004 com a partici-
não se tratava apenas de arquitetura e pação de muitos alunos. Paredes foram
de história, diante da emoção de cer- lixadas, portas retiradas e substituídas
tos visitantes dos Templos. por novas. As paredes divisórias entre
o antigo consistório e a sala de silêncio
Zurique, Suíça foram demolidas e substituídas por
uma sustentação provisória. A coloca-
Após anos de trabalho intenso rea- ção de uma viga de aço de quinhentos
lizado pelos irmãos e irmãs mais anti- quilos representou um episódio palpi-
gos, o núcleo localizado no número tante, e não nos tranqüilizamos até vê-
60 da Kreuzstrasse foi inaugurado em la sustentando o teto. Em seguida pro-
1960 pelos grão-mestres. cedeu-se à instalação da escada que dá
Assim, veio à existência o primeiro acesso ao andar superior. Como é pos- Zurique, Suíça.

23
sível não pensarmos sobre essas ativi- conferências da Mocidade. Durante
dades e compará-las com o desenvolvi- mais de meio século essas reuniões
mento do aluno? foram realizadas separadamente. As
Em outubro de 2005, os alunos de conferências do Lectorium são vol-
Zurique tiveram a alegria de ver os tra- tadas para personalidades adultas
balhos chegarem ao fim com o acaba- que se decidiram conscientemente a
mento da entrada principal do núcleo. seguir a senda da renovação, e as da
Após cinqüenta anos de atividade, Mocidade são voltadas para os
a força-luz da Escola da Rosacruz jovens que já possuem um certo
amplificou-se. Isso transparece no “conhecimento vivente”. Essas con-
plano material quando vemos hoje o ferências têm uma expressão e uma
amplo e moderno núcleo de Zurique. atmosfera próprias, de acordo com a
O Templo é agora utilizado somente abertura natural da criança ao cha-
para os serviços. A sala de silêncio mado da rosa, a nova alma latente no
oferece aos alunos a possibilidade de coração.
se prepararem e de se concentrarem. Desde 2004 são organizadas, de
tempos em tempos, conferências
Turim, Itália para adultos e jovens em conjunto. A
razão disso foi o tamanho do grupo
O novo núcleo de Turim, inaugura- escandinavo e as longas distâncias a
do em 5 de fevereiro de 2005, está num serem percorridas. Essas conferên-
local calmo (mais ou menos a 20 cias mostram-se renovadoras pelo
minutos do centro da cidade), nas fato de jovens e adultos aprenderem
colinas que cercam a cidade. A oficina a se conhecer mutuamente; não ape-
templária tem lugar para cerca de 120 nas de maneira formal, mas também
pessoas. O inteiro conjunto é bonito e graças aos serviços especialmente
espaçoso. redigidos em conjunto e aos momen-
tos compartilhados ao redor da
Edshult, Suécia fogueira no acampamento, onde
assam pãezinhos, surgindo daí um
Edshult, Suécia. Conferências do Lectorium e sentimento de profunda unidade.

24
Campo de trabalho em ação...
Dusseldorf, Alemanha alunos e interessados. Próximo a
Dortmund vivem aproximadamente
Um novo núcleo foi inaugurado trinta e cinco alunos e uns quinze
em 17 de abril de 2005. O número de membros. O núcleo tem por finalida-
alunos passou de 60 para 140, por de servir as regiões de Ruhr e de
conseguinte, o antigo núcleo utilizado Sauerland (Lündenscheid) ao sul, e
para serviços durante dezesseis anos Hamm e Soest ao leste.
tornara-se muito pequeno. Em um
ano, numa área de 500m2 foi organi- Viena, Áustria
zado um conjunto de espaços amplos
e atraentes. Essa transformação reali- Também na capital austríaca o
zou-se graças ao ardor laborioso dos número de alunos aumentou tanto
jovens e dos adultos, e graças à ajuda que foi necessário procurar um novo
constante de outros núcleos. As con- prédio. Este foi encontrado no centro
dições financeiras favoráveis permiti- da cidade, na rua Phorus. “Phorus” é
ram, igualmente, a utilização de pro- um personagem lendário, um barquei-
fissionais. A inauguração do núcleo ro com força hercúlea que atravessava
serviu de ocasião para organizar um os viajantes de uma margem à outra de
dia de “Portas abertas”, que recebeu a um grande rio. Um dia, ele ouviu uma
visita de sessenta interessados. criança chamá-lo e pedir-lhe com uma
voz suave que o ajudasse a atravessar
Dortmund até a outra margem. Phorus, orgulho-
so pelo fato de poder auxiliar uma
Desde maio de 2004, o lugar consa- criança, colocou-a sobre seus ombros
grado de serviço em Dortmund foi com toda sua força. Mas, à medida em
utilizado para cursos e reuniões inter- que fendia as águas, a criança ficava
nas. Após setembro de 2004, ele pas- cada vez mais pesada, de modo que os
sou também a ser utilizado para os dois começaram a ser arrastados pela
serviços de quartas-feiras. correnteza, e por pouco não se afoga- Dusseldorf,
Em 24 de agosto de 2005 aconteceu ram. Terminada sua tarefa, Phorus Dortmund,
o primeiro serviço para cinqüenta perguntou à criança a razão de peso Alemanha.

25
tão súbito. A criança respondeu: ‘Eu 1538 ela encerra no interior de seus
sou o Cristo e carrego sobre os muros uma universidade.
ombros o peso do mundo’. Depois
disso, o barqueiro passou a chamar-se América do Sul
Cristo-Phorus (Cristóvão), aquele
que carrega o Cristo”. Montevidéu (Uruguai) e Buenos
Aires (Argentina). Dois núcleos fo-
Graz ram inaugurados nesses países em
junho de 2005: na quinta-feira, 23 de
Na manhã da consagração do junho, em Montevidéu e no sábado,
núcleo de Viena, um grande núcleo 25 de junho, em Buenos Aires.
foi, por sua vez, consagrado em Graz.
Os locais existentes tinham se torna- Brasil
do insuficientes e deviam ser retoma-
dos por um laboratório farmacêutico. Conferência do grupo de Jovens
O proprietário do local, deplorando Alunos em Fortaleza e em Renova.
tal eventualidade, propôs construir Vindos do norte, do sul e do centro de
um andar suplementar. O recurso de nosso imenso país, os jovens alunos
um módulo de habitação abreviou a brasileiros percorreram longas distân-
duração dos trabalhos. Os alunos de cias a fim de se reunirem em sua Con-
Graz dispõem agora de um conjunto ferência de verão. Essa conferência
de espaços amplos e ensolarados, que coincidiu com a conferência européia
correspondem perfeitamente às exi- dos Jovens Alunos em Renova; por
gências da Escola Espiritual. conseguinte, não foi possível, desta
vez, a presença de uma delegação
Debrecen, Hungria européia em Fortaleza. Essa ausência,
contudo, foi de certo modo compen-
Um Templo foi ali inaugurado. sada por uma conexão de vídeo proje-
Conferência do
Debrecen é uma das maiores e mais tada sobre uma grande tela nos refei-
Grupo de Jovens antigas cidades da Hungria, situada a tórios de Fortaleza e de Renova. A
Alunos, Renova. 200 km a leste de Budapeste. Desde tecnologia contribuiu para a harmo-

26
Campo de trabalho em ação...
nia tanto externa como interna, bem zagem que favoreçam o crescimento
como para a alegria de sabermos que, da alma, através do desenvolvimento
apesar dos milhares de quilômetros do respeito mútuo e de harmoniosa
que nos separam, estávamos unidos colaboração do coração, da cabeça e
num mesmo espírito e num mesmo das mãos. Esta é a nossa visão. Exami-
trabalho. nemos esses dados mais de perto: o
Um novo boletim bimestral apre- crescimento da alma. O que é isso? A
senta as novidades do campo de tra- aspiração da alma não é estranha a
balho brasileiro: Nova Luz, cuja pri- esta questão. A alma, com seu núcleo
meira edição data de março-abril de divino e imortal, que reside no cora-
2005. A mais recente edição tinha por ção, se dirige ao homem. É preciso
tema as numerosas atividades do que ele ouça essa voz e se volte para
“Grupo de Jovens Alunos”. Nova seu coração, para a fonte de onde ela
Luz é um boletim redigido em lingua- provém. As crianças nascem com uma
gem moderna e agradável, e sempre alma que possui um núcleo divino,
começa com uma introdução da Dire- um princípio eterno. A voz da alma
ção Nacional. Além disso, as diferen- emana desse núcleo que denomina-
tes atividades através do país são sem- mos botão de rosa. Pouco importa se
pre ilustradas com fotos coloridas. cremos nisso ou não: a criança é capaz
de perceber essa voz. A criança vê,
A Escola Jan van Rijckenborgh ouve, sente as coisas de modo diferen-
em Hilversum te de um adulto, ela é tocada pela ver-
dade. Ela conhece a profunda aspira-
No dia 7 de outubro de 2005, foi ção que algumas vezes ainda experi-
festejada a inauguração de uma nova mentamos com a leitura de contos ou
ala da Escola Jan van Rijckenborgh. por ocasião de um trabalho em con-
O discurso inaugural apresentou o junto. Sem dúvida, vós também a sen-
conceito inicial das Escolas Jan van tis naquilo que definis como amor. O
Rijckenborgh: “A Escola Jan van amor: quem desejaria privar seu filho, Escola J. van
Rijckenborgh tem como meta criar ou uma criança, do amor? Todos nós Rijckenborgh,
condições de instrução e de aprendi- desejamos ser uma fonte dele para Hilversum.

27
entram em contato com os conceitos
que fundamentam o trabalho da Esco-
la Espiritual da Rosacruz Áurea.
Voltando um pouco no tempo, em
14 de novembro de 2004, foi realiza-
do em Zurique um simpósio dedica-
do a Paracelso. Nessa ocasião, foram
apresentados os quatro pilares da sua
medicina. Foram abordados assuntos
como a autonomia do indivíduo, a
Cartaz para
natureza ou essência profunda do ser
anúncio do humano e as situações difíceis em que
Simpósio, vive a alma.
Zurique, Suíça. A seguir, citamos um extrato do
convite: “[...] Sua missão não foi tão-
nossos filhos. O amor provém do somente possibilitar um renascimento
coração. Ele é o campo dourado da interior, um renascimento da alma,
nossa bandeira. O amor é a base de mas também mostrar-nos o caminho
nosso ensinamento. Fazemos o possí- e guiar-nos”. Suas concepções provi-
vel para nos aproximar do objetivo de nham, em linha direta, da filosofia
nossa vida quando, em nossas ativida- hermética, como o testemunham as
des, respondemos ao mandamento do linhas seguintes: “É preciso com-
amor”. preender que não existe nada no céu
Em seguida, a alocução mencionou nem na terra que não esteja presente
as reformas realizadas totalmente no homem. As energias celestes nele
neste espírito: “Estamos cônscios de se exprimem. O que é o céu senão o
que aqui sucedeu algo muito particu- homem? Devemos possuir interior-
lar, alguma coisa na qual estaremos mente aquilo que queremos ter”.
cotidianamente envolvidos, alguma No dia 7 de maio de 2005 realizou-
coisa que se firmou com a unidade de se em Renova, Holanda, o dia consa-
grupo, com a orientação comum, a grado ao tema: “Mani, o dom da
harmonia e a ausência de luta, algo Luz”. Um artigo da revista Pentagra-
que nos faz experimentar o amor dia- ma número 4 de 2005 foi consagrado
riamente”. a esse tema.
Fazemos votos para que essa ala Em 23 de outubro realizou-se um
acrescentada ao prédio contribua para outro simpósio em Zurique, Suíça,
a realização da vocação da Escola Jan intitulado: “Mani, tesouro da Luz”.
van Rijckenborgh. O místico alemão Karl von Eckarts-
hausen, escritor e pensador, foi a figu-
Segundo uma Simpósios ra central do simpósio organizado em
lenda budista do Renova em 14 de novembro de 2005.
reino de Kutscha, Em diferentes lugares do grande Todos esses dias foram objeto de
as andorinhas
campo de trabalho gnóstico, o Lecto- interesse considerável. As diferentes
falavam e eram
chamadas de
rium Rosicrucianum organiza encon- alocuções foram reunidas e editadas
“pássaros sagrados tros, ou simpósios, no decorrer dos pela Rozekruis Pers, dando assim um
da religião quais um tema é apresentado e debati- impulso extra à radiação desses
ocidental”. do. Nesses momentos, os interessados encontros.

28
Homem e mulher Pouco tempo atrás, o Centro Internacional
do Lectorium Rosicrucianum em Haarlem,
formam uma Holanda, passou por uma reforma total.
Após a compra de algumas casas vizinhas,
unidade o que há tempos era previsto, eleva-se
agora um conjunto que condiz perfeita-
mente com o que a moderna Escola
Espiritual da Rosacruz Áurea almeja e
propaga. Em vista disso, o Templo principal
J. van Rijckenborgh encontra-se agora
num lugar digno dele.
Nessa ocasião iniciou-se uma nova atividade:
Dias de Conferência, de alcance nacional.
Certos temas tirados da obra de J. van
Rijckenborgh foram abordados nessas
conferências para os interessados.
Os três artigos seguintes são as alocuções
proferidas no Dia de Conferência de
6 de fevereiro de 2005 no Centro J. van
Rijckenborgh, intitulada “Homem e mulher
formam uma unidade”. Dessa conferência
participaram 250 pessoas.
Nos últimos cinqüenta anos jamais se
falou tanto, na história da humanidade,
acerca das relações entre homem e
mulher. Muitas reformas culturais, políticas
e até mesmo científicas são o resultado
disso. Contudo, a idéia de igualdade entre
homem e mulher ainda não vai além de
um pequeno passo para a questão
fundamental: o verdadeiro destino dos
seres humanos seria a união do homem
e da mulher e a unificação de ambos com
Deus? Sobre isso J. van Rijckenborgh
escreveu:“Nos dois sexos se exprime a
elevada vocação do ser humano e neles
reside o espírito divino. É necessário que
os dois trabalhem em conjunto, com os
mesmos direitos. Seu trabalho no mundo
somente pode se desenvolver convenien-
temente se os dois, homem e mulher, se
conscientizarem de sua dependência
mútua a fim de poder constituir para
a humanidade uma nova e verdadeira
casa da humanidade”.

29
No Templo da Rosacruz acontece, é sempre mulher, o homem, sempre
muitas vezes, de termos pensamentos homem: ambos são seres humanos.
inopinados sobre o ser humano e a Muito se tem escrito e falado acerca
natureza humana; sobre o objetivo da separação dos sexos, do herma-
da existência que nem todos conside- froditismo: o homem andrógino que
ram da mesma maneira, ou sobre a integra em si os dois sexos e que
igualdade entre homens e mulheres. também é autocriador. Lançando
Serão eles, de fato, iguais? Podemos um pouco de luz sobre essas ques-
considerar que suas diferenças são tões e voltando à origem, emitire-
forças complementares que se susten- mos conceitos novos, sem dúvida
tam mutuamente e que nos podem surpreendentes ou inquietantes para
fazer alcançar a verdadeira felicida- vós. Contudo, por vossa vez, deveis
de humana. mostrar-vos bastante receptivos a
fim de serdes beneficiados com a
compreensão desses assuntos.
O homem e a mulher constituem,
cada um de per si, uma metade do Mas, por que pensamos em
gênero humano que povoa a terra. tudo isso?
Essa situação não é das mais felizes e
com freqüência se revela muito dis- Sugerimos não considerardes uni-
tante do ideal. Contudo, essas duas camente com vosso mental, com
metades opostas se procuram mu- vosso intelecto, nossos conceitos
tuamente. No melhor dos casos, isso relativos ao homem e à mulher, pois
acontece com amor e harmonia. Po- as idéias interessantes da sabedoria
rém, freqüentemente vemo-las se o- universal sobre esse assunto estão
por com violência, irritação e desar- associadas às de pureza e perfeição.
monia. Essas duas metades não po- Por outras palavras, queremos con-
dem existir uma sem a outra, mas ao vidar-vos para esse puro domínio
mesmo tempo elas dificilmente con- onde reinavam, e sempre reinam, a
seguem viver juntas. unidade bem como o amor absoluto
Não afirmamos aqui nada de no- e a radiante verdade.
vo. Não é nada benéfico que a mu- Não penseis que esse puro domí-
lher se comporte como o homem nio vos seja desconhecido. Não, vós
nem que o homem se comporte co- o conheceis, provindes dele, tendes
mo a mulher. Por outro lado, a sub- uma vaga lembrança dele, ele está
missão da mulher ao homem não inscrito em vós, ele está ligado a vós
engendra a paz. As sociedades ma- desde a origem. Aliás, sem essa uni-
triarcais não são mais vantajosas que dade, o homem e a criação se desin-
as patriarcais e vice-versa. A mulher tegrariam. Chamamos vossa atenção

30
para a origem da criação. Nos pri- • mas, não obstante, o que de fato
meiros séculos do cristianismo, nos falta,
refletia-se intensamente sobre isso, e • o inexprimível, se revela:
os gnósticos emitiram muitas idéias • a atração para o eterno feminino”.
sobre o assunto, idéias às quais
somos ainda sensíveis no mais pro- Poderíamos também falar de
fundo de nós mesmos. Para eles, a “atração para o eterno masculino”.
vida começa por “um silêncio e uma O ser do homem e da mulher possui
profundeza, uma calma e um movi- três atributos sublimes: luz, vida e
mento”. Dessa profundeza surge a amor. A luz vem de Deus. A luz é a
palavra da criação que, certamente, vida, segundo o prólogo do Evange-
não desconheceis: “Haja luz. E lho de João. O amor é Deus mesmo
houve luz”. E logo a seguir: “Criou, manifestado no ser humano. “Nin-
pois, Deus o homem à sua imagem; à guém jamais viu a Deus”, declara a
imagem de Deus o criou; homem e sabedoria universal. Porém, há um
mulher os criou”. Esta é a autêntica segredo ainda maior... Deus mesmo
imagem da criação, altamente subli- era visível em seu reflexo divino: o
me, inacessível. homem antes de sua queda (razão
Nada é dito além disto: Deus pela qual falamos de imagem). Deus
criou o ser humano, homem e é amor, a autêntica força espiritual
mulher. Esta primeira imagem pre- vital que é uma e que se reflete no
cede a queda do homem; os gnósti- recôndito do coração dos seres
cos chamavam-no de “mônada” em humanos, o ser masculino cósmico e
relação com o “pleroma”, a plenitu- o ser feminino cósmico. Tal é a ima-
de do começo original, o começo do gem gravada em vós e em mim, uma
cosmo, o homem como díade cósmi- imagem puramente espiritual, que
ca, o ser humano, homem-mulher. data de antes da queda humana, a
imagem da perfeição divina, criado-
A imagem gravada em vós ra, gloriosa, inacessível, não corrom-
e em mim pida, perfeita, da qual todos aguar-
dam a realização.
Esquecei a imagem que tendes de “A única verdade é o ser”, diz
vós mesmos. Voltai, em pensamento, Ficino, “dito de outro modo, a luz
aos tempos de vossa infância, antes do Único, que é Deus. Assim o ser
de serdes um rapaz ou uma moça. humano, nas profundezas de si
Éreis tão-somente uma criança que mesmo, é incitado a venerar essa
brincava e se entediava com outras força divina mais que a tudo neste
crianças: trata-se aqui da igualdade mundo. Ele se esforça para chegar a
sobre a qual desejamos falar hoje; da essa luz após ter abandonado sua
unidade, da pureza, da ligação direta antiga natureza. Isso é evidente
com um domínio de uma grande quando o amante, não satisfeito com
força espiritual. a visão e o contato do ser amado,
No final de Fausto*, sua obra pri- clama incessantemente: ‘Que coisa é
ma, Goethe resume seu conceito de esta que me transformou por inteiro
mundo da seguinte maneira: em fogo, em flama? Não compreen-
• “Tudo muda e tudo permanece do o que quero.’ A alma parece aqui
igual, inflamada por um fogo divino que se

31
32
reflete na forma humana como que Sabeis o que a história e as reli-
num espelho; e essa luz atrai a alma giões relatam a respeito das práticas
para o alto por meio de uma influên- dogmáticas daqueles que se intitu-
cia secreta irresistível, até o momen- lam rabinos, imãs, pastores, sacer-
to em que ela mesma se torna Deus”. dotes... Não precisamos ir mais
Seria esse o sentimento de solidão longe, pois tal coisa é inadmissível
fundamental que tão bem conhece- para quem adquiriu a liberdade de
mos e do qual tentamos fugir entre- pensar; ele já não participa desse
gando-nos a todo tipo de atividades jogo. A verdadeira liberdade exige a
exteriores a fim de resolver a ques- liberdade dos demais, sejam eles de
tão? Acaso as decepções não são le- que raça ou natureza for. A humani-
giões? Por que? Será porque a alma dade tem apenas um desígnio: a
tem consciência de sua insuficiência rejeição de suas cadeias e a autêntica
e abandono? Mas por que ela teria liberdade do espírito. Somente a
esse sentimento? Uma possível res- ausência de luta pode engendrar o
posta para estas perguntas pode ser amor. Ora, o amor nos faz atingir
encontrada no segundo capítulo do dimensões divinas e compreender
Gênese, versículos 6-7: “Um vapor, que Deus é amor. Deus é igualmen-
porém, subia da terra, e regava toda te liberdade perfeita, ele se reflete na
a face da terra. E formou o Senhor sublime realização do homem livre,
Deus o homem do pó da terra, e lhe o homem que toma suas próprias
soprou nas narinas o fôlego de vida; decisões em total liberdade e conhe-
e o homem passou a ser alma vivente”. cimento de causa.
O cosmo tornou-se o seu campo
de trabalho: “Mas um vapor subia da A Sophia
terra...”
Um segundo mito da criação, tão As comunidades cristãs primitivas
maravilhoso quanto o anterior, rela- conheciam evidentemente essas pas-
ta que Adão [o nome que é dado no sagens da Bíblia, pois elas datam de
capítulo 2 à humanidade, homem e milênios, porém viam nelas uma rea-
mulher] adormece. “E disse o senhor lidade muito mais profunda. Exis-
Deus: Não é bom que o homem tem numerosos relatos gnósticos da
esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora criação. No Livro secreto de João, é
idônea para ele [...] Então o senhor o demiurgo (isto é, um segundo cria-
Deus fez cair um sono pesado sobre dor) e não o verdadeiro Deus que
Adão, e este adormeceu; e tomou obscurece e adormece o espírito de
uma das suas costelas, e cerrou a Adão. E são os arcontes (as forças
carne em seu lugar [...] E da costela espirituais do segundo criador) que
que o Senhor Deus tomou do adormecem Adão, isto é, fazem-no
homem, formou uma mulher [...] E cair na ignorância. Adão, a humani-
disse Adão: “Esta é agora osso dos dade inteira, esquece então sua ori-
meus ossos, e carne de minha carne; gem divina. Mas, nesse sono, a liber-
ela será chamada mulher [...] Portan- tação continua próxima. A sabedoria
Parte de um
to deixará o homem o seu pai e a sua gnóstica ensina que a Sophia desper- caminho de
mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e ta a consciência humana. Ela lhe montanha secu-
serão ambos uma carne” (Gênesis envia seu mensageiro, que ergue o lar do antigo
2:21-24). véu que recobre sua razão e a tira de Turquestão.

33
sua embriagues provocada pelas tre- era a palavra correta para exprimir o
vas da ignorância: que era intencionado.
“E a mulher espiritual veio a ele e O ser humano deve, por fim, ver,
lhe disse: Adão, levanta-te! E logo experimentar seu “reflexo”. Ele deve
ele respondeu: Tu és aquela que me compreender que tanto o homem
deu a vida, tu serás chamada mãe dos como a mulher são necessários para
viventes – Eva – pois é ela a minha ingressar de novo na ordem cósmica
mãe, a que cura, a que faz nascer.” da única vida solar espiritual. O es-
Vemos aqui a grande diferença do pírito deve nascer em cada coração
Gênesis onde nenhuma menção é humano e preencher o microcosmo
feita acerca do despertar de Adão. inteiro. Este é o aspecto feminino.
Essa mulher dos gnósticos é a Eva Mas esse mundo do vir a ser univer-
espiritual, também vida-Eva, deno- sal não é compreendido se a cabeça
minada “Epinóia da Luz” no Livro não reconhece a nova força vital.
secreto de João. Ela é a “instrutora Esse é o aspecto masculino: inflamar
da vida”, no mesmo plano que o um fogo luminoso nesse nascimento
Adão de luz, a entidade humana glorioso do campo do espírito. Essas
homem-mulher. Ela o ensina a assi- duas correntes atuam juntas pela
milar o conhecimento para que ele eternidade.
possa lembrar-se do Pleroma, pois
sem a plenitude do princípio pri- * Fausto II, 5º ato.
mordial, a Gnosis, ambos estariam
mortos, sem vida real. Todos os que
se deixam ensinar pela Sophia desco-
brem que para Deus não há diferen-
ça alguma entre homem e mulher.
Deus mesmo é Pai-Mãe.
“Todos temos necessidade da
Sophia”, escreve J. van Rijcken-
borgh, que explica a má tradução
que há tempos vem causando a
incompreensão do mito da criação.
Segundo ele, dever-se-ia traduzir:
“Não é bom que o homem esteja só;
far-lhe-ei uma ajudadora que esteja
diante dele”. Adão, a humanidade,
reconhece o Universo em seu novo
meio, porém ele busca a ajudadora
para apreender a imensidade da cria-
ção segundo a ordem divina. É pre-
ciso que ele aprenda a conhecer sua
“ajudadora”. No texto original esta-
va “reflexo”. Mas os tradutores da
Bíblia, não sabendo o que fazer com
a palavra “reflexo” substituíram-na
pela palavra “ajudadora”, sem se
aperceberem que a palavra “reflexo”

34
O mito da criação segundo o
Corpus Hermeticum

Se fizermos um balanço do domínio formou-se em alma e em Nous; a vida


humano sobre o mundo, este não nos passou a ser alma, a luz passou a ser
parecerá dos melhores: superpopula- Nous. [...] Então Deus pronunciou o
ção, fome, desaparecimento de nume- dito sagrado: “Crescei e aumentai,
rosas espécies do reino animal e vege- multiplicai-vos abundantemente, to-
tal, bem como poluição da atmosfera. dos vós que fostes criados. E que
Os seres humanos não vivem em har- aqueles que possuem o Nous reco-
monia entre si nem com a criação. nheçam-se como seres imortais e sai-
Certamente não podem ser vistos bam que a causa da morte é o amor ao
como tendo sido feitos à imagem de corpo e a tudo o que é terreno.”
Deus, não compreendem o verdadei-
ro significado do ser humano como Amor ou projeção?
homem-mulher, nem o desenvolvi-
mento do verdadeiro ser humano. Este texto de Hermes nos mostra
que a separação dos sexos tem por
finalidade fazer-nos conhecer “todos
E sta é a razão pela qual queremos os seres”, a criação inteira, e com-
nos aprofundar neste assunto que, se preender que, aprisionados à vida e ao
ignorado, provoca grandes sofrimen- amor terrenos, conhecemos a morte
tos. Nos primeiros séculos de nossa em vez da imortalidade.
era, Hermes, tal como os textos bíbli- Quem quer que intua algo do amor
cos, afirma que o desconhecimento de absoluto, a origem de toda a vida,
Deus é o maior mal dos homens. O busca sua plenitude nesta a terra; con-
primeiro tratado do Corpus Hermeti- tudo, ele projeta aqui um ideal que
cum fala sobre a história da criação. parceiro algum poderá satisfazer.
Citamos dele um extrato que corres- Nenhum homem ou nenhuma
ponde ao relato bíblico do Gênesis, mulher desta natureza pode propor-
mas que dá uma explicação mais pro- cionar o amor verdadeiro. A força da
funda da missão dos seres humanos: atração física e sutil entre homem e
“O Espírito, o Pai de todos os se- mulher, com base em sua polarização
res, que é vida e luz, produziu um inversa, pode, certamente, resultar
homem semelhante a Ele, Pai, e por numa relação harmoniosa. Contudo,
quem se inflamou de amor, como nosso anseio original por harmonia,
sendo o seu próprio filho. Pois o por unidade e por amor permanece
homem, como imagem de seu Pai, era sempre. Esse anseio tem sua origem
belíssimo; Deus amou assim, em ver- na solidão que resulta de nossa sepa-
dade, a Sua própria imagem e entre- ração do mundo espiritual, do mundo
gou-lhe todas as Suas obras. [...] E o de nossa origem. Mas, o que é o amor
homem, feito de vida e de luz, trans- verdadeiro? – perguntareis. Hermes

35
diz que ele é o Pai de todas as coisas, os dois aspectos da onda de vida
o Espírito, que é vida e luz e que humana. A meta do ser humano,
“criou o homem à sua imagem”. A tanto do homem quanto da mulher, é
origem e o destino do ser humano tornar-se um ser humano verdadeiro.
permanecem ocultas no mais profun- Isso apenas ocorrerá se aprendermos
do dele mesmo sob a forma de matriz a corresponder à vocação do homem
espiritual. e da mulher e, sobretudo, se estabele-
cermos a justa colaboração entre eles.
A díade cósmica Como isso é possível? Vamos ex-
plicá-lo com o auxílio do seguinte
A igualdade do homem e da esquema. O ensinamento universal de
mulher, tanto no sentido espiritual todos os tempos nos indica que o ser
como moral, não é colocada em dúvi- humano, além do aspecto que é seu
da pelos alunos da Rosacruz Áurea. corpo físico, possui ainda outros
Para eles, isso é algo evidente. As dife- aspectos que qualificaremos de cor-
renças entre ambos provêm dos pos sutis. Esses diferentes aspectos
arquétipos, das matrizes espirituais são necessários para poder-se atuar
que são a base da manifestação e que em certos domínios. Sem o corpo físi-
se diferenciam no homem e na mu- co, por exemplo, a manifestação no
Dois cavaleiros
montados,
lher. Vemos, portanto, uma criação mundo material não seria possível, e
afresco da gruta divina, o homem, e uma criação divi- sem os corpos sutis seria impossível a
14 em Kutscha. na, a mulher, que, juntos, constituem manifestação nas tênues esferas dos

36
domínios etérico, astral e mental. Ca- corpo de desejos é análoga à do corpo
da um desses aspectos apresenta dois material, e a da faculdade de pensa-
pólos: um positivo e outro negativo, mento é igual à polarização do corpo
através dos quais é realizado um certo vital. Um exame objetivo e claro do
trabalho. Os qualificativos, positivo e homem e da mulher o confirmará. O
negativo, não representam, neste con- homem é, em tudo, o reflexo inverso
texto, nenhum julgamento: positivo da mulher e vice-versa.
quer dizer criador, dinâmico, radian- Disso resulta que se o homem e a
te, e negativo significa receptor, reali- mulher desejam aprender da maneira
zador, produtor. correta a conhecer e controlar as esfe-
Portanto, o homem dispõe: ras material, etérica, astral e mental
• de um corpo material polarizado em sua totalidade, eles terão de apren-
positivamente, der a colaborar em perfeita unidade,
• de um corpo etérico, ou corpo como uma díade cósmica. Portanto, o
vital, polarizado negativamente, homem que apenas conhece as forças
• de um corpo de desejos, ou corpo positivas do mundo material deve
astral, polarizado positivamente, aprender a governar as forças negati-
• de uma faculdade mental polariza- vas, e isso ele somente pode fazer em
da negativamente. colaboração com a mulher. Para a
mulher, é o contrário. Nas esferas
Já a mulher dispõe inversamente: sutis, dá-se o mesmo. O corpo etérico
• de um corpo material polarizado negativo do homem necessita do
negativamente, corpo etérico positivo da mulher para
• de um corpo etérico polarizado poder sondar as forças da esfera etéri-
positivamente, ca. A polaridade inversa equivalente é,
• de um corpo astral polarizado pois, a base de uma colaboração har-
negativamente, moniosa livre e espontânea. Ela é
• de uma faculdade mental polariza- também a base de um desenvolvimen-
da positivamente. to poderoso, de uma manifestação
grandiosa. Assim é possível dizer que
Por esse esquema podereis reco- o homem será primeiro tocado pelo
nhecer que no corpo material do influxo divino no cérebro enquanto
homem primeiro se expressa o pólo que a mulher o será no coração. Por
positivo, que se torna ativo em pri- conseguinte, o homem e a mulher
meiro lugar, enquanto em segundo devem compreender que maravilhoso
lugar atua o pólo negativo. Em seu presente divino receberam através
corpo vital ocorre justamente o con- dessa díade cósmica.
trário, e no corpo de desejos as pola- Com base nessa compreensão, se os
ridades são semelhantes às do corpo diferentes poderes de ambos os sexos
material. A faculdade mental, por sua forem capazes de cooperar mais ou
vez, tem as mesmas polaridades do menos harmoniosamente no plano
corpo vital. No que concerne ao natural, daí resultará uma felicidade
corpo da mulher ocorre justamente o que será como uma preparação e um
oposto. Na mulher o pólo positivo do encorajamento na senda de libertação.
corpo material é secundário, e o pólo Quem, porém, quiser alcançar isso
negativo, primário. No corpo vital com seu ego ver-se-á cada vez mais
ocorre o oposto. A polarização do em conflito consigo mesmo e com o

37
mundo exterior, ao passo que quem humana? Que em determinado mo-
compreende o plano divino para o mento a separação dos sexos será eli-
mundo e a humanidade se encontrará, minada? Com certeza não. É Hermes
desde agora – não após a morte, mas que responde a essa pergunta no
nesta vida – no caminho da realização transcorrer de seu diálogo com Asclé-
espiritual. pio: “Eis porque, Asclépio, o ser
humano é uma grande maravilha, um
O reino de Deus ser digno de respeito e consideração.
Ele participa da natureza de Deus,
No caminho de ligação da alma- como se ele mesmo fosse um deus.
espírito com o campo de vida origi- Ele é de descendência espiritual por-
nal, o verdadeiro amor é recebido e que sabe que é de origem divina. Ele
liberado. O amor natural e o amor despreza em si a parte da natureza
mais elevado se completarão sem, demasiado humana e confia naquela
contudo, se misturarem. Até que a parte divina nele [...] Ele glorifica e
força da nova alma que gera o amor agradece a Deus e venera sua imagem,
oniabarcante sustentador e perma- o cosmo, tendo plena consciência de
nente tenha neutralizado o impulso que é portador da imagem de Deus,
para a auto-afirmação e arqui-instinto embora de maneira indireta. Pois,
de poder, prestígio e posse. Deus possui duas imagens: o cosmo e
Isso explica o fato de Jesus ter dito o homem. Segue-se daí que o ser
de forma simbólica: humano, como unidade é, por um
“Quando fizerdes do dois um e lado, alma e espírito, possuindo uma
quando fizerdes o mais interior como inteligência e uma intuição constituí-
o mais exterior, o mais exterior como das por elementos superiores; por isso
o mais interior, o acima como o em- ele é divino e se eleva ao céu. Por
baixo, e quando fizerdes do masculi- outro lado, como mortal, formado de
no e do feminino uma só coisa de for- terra, água, fogo e ar, ele é de nature-
ma que o homem não seja mais ho- za material e tem os dois pés sobre a
mem nem a mulher seja mais mulher, terra, a fim de realizar todas as tarefas
e quando formardes outros olhos em confiadas a seu cuidado”.
lugar de um olho, outra mão em lugar Se transcendermos a realidade
O beijo. Brancusi de uma mão, outro pé em lugar de um material de nossa vida, tornar-nos-
rompe aqui pé e outra imagem em lugar de uma emos verdadeiros seres humanos e,
radicalmente com imagem, então, entrareis (no Reino).”* no verdadeiro sentido da palavra,
as representações seres criadores. Conforme as palavras
românticas do
Homem e mulher são um de Hermes: “Que aquele que nesta
homem e da
mulher. Ele exprime
vida possui o Espírito compreenda
a unidade, o Que quer Jesus dizer com: quando que é imortal”.
equilíbrio entre os fizerdes com que o masculino e o fe- De acordo com o que foi dito
opostos e o amor minino formem apenas um, de modo acima, vemos que para realizar um tal
da vida, “pois pela que o homem já não seja homem e caminho não temos necessidade de
aproximação do
que a mulher já não seja mulher? Isso um parceiro. Podemos realizá-lo em
verdadeiro signifi-
significa de fato que todos são metade grupo, e isso é o que a Escola da
cado das coisas
chega-se, a despei- de um ser, significa que o Criador nos Rosacruz Áurea também afirma. Em
to de si mesmo, criou homem e mulher apenas por primeiro lugar, ela forma uma morada
à simplicidade”. causa da manutenção da onda de vida espiritual dotada de uma força ativa

38
onde o aluno vive e atua para o cres- supranatureza e a natureza dialética.
cimento do Outro nele: o homem Acima de tudo isso está a meta única
celeste, imortal. A vocação do corpo final, a transformação e transfigura-
físico é a de se constituir num edifício ção do ser humano e do microcosmo.
espiritual que não seja deste mundo.
Os fundamentos desse edifício estão
na terra santa, de onde provém a
supranatureza. Por isso a casa espiri-
tual forma um elo importante no
tempo entre as duas naturezas, a * O evangelho de Tomé, logion 22.

39
O resultado Alquímico

Quem conhece sua força masculina e, Quando ouvis dizer que o homem é
entretanto, conserva sua mansidão uma entidade autocriadora e que sua
feminina é o vale do reino. missão é de auto-realização, com-
preendereis que é necessário aprender
Como ele é o vale do reino, a virtude a considerar a forma humana aparente
constante não o abandonará, e ele de uma maneira nova, de uma manei-
retornará ao estado natural e descom- ra completamente diferente daquela
plicado de uma criança. que o mundo está acostumado a ver. A
personalidade humana manifesta-se
Quem conhece sua luz e, entretanto, no mundo como homem e como mu-
permanece na sombra é um exemplo lher; o fato de a natureza fundamental
para o reino. do homem e a da mulher serem total-
mente diferentes tem acarretado muita
Se ele é um exemplo para o reino, confusão e tristeza no curso da mar-
então a virtude constante nele não cha do mundo em direção ao seu
falhará e ele retornará ao infinito. nadir. Tem sido também a causa de
uma forte ligação com a natureza.
Quem conhece sua glória e permanece
na desonra é o vale do reino. O verdadeiro significado das
forças gêmeas
Se ele é o vale do reino, nele a virtude
constante alcançará a perfeição e ele Desde o princípio o homem com-
retornará ao estado original. preendia a necessidade de uma perfei-
ta cooperação entre os dois sexos. Mas
(Tao Te King, cap. 28) esta cooperação – sua essência, sua na-
tureza e finalidade – tem sido, até os
dias de hoje, compreendida e aplicada
Nenhum artista Quando a Bíblia afirma que o de maneiras diferentes. Uma colabo-
jamais exprimiu
homem foi feito à imagem e seme- ração verdadeiramente íntima, harmo-
com tanta sutileza
a esfera particular
lhança de Deus, não deveis cometer o niosa e de elevado nível jamais existiu,
entre o homem erro de pensar que se trata da persona- de fato, porque sua verdadeira nature-
e a mulher como lidade nascida da natureza. O verda- za não foi compreendida. No ensina-
o fez Rembrandt, deiro homem nascido de Deus é o mento libertador gnóstico, a coopera-
o mestre do microcosmo, a mônada. A personali- ção entre homem e mulher em um pé
claro-escuro.
dade é o instrumento desse homem, de perfeita igualdade foi sempre vista
Retrato de um
casal: A noiva judia,
com cuja ajuda é possível uma aproxi- como algo evidente. Na magia gnósti-
1666, óleo sobre mação com a essência da mônada, é ca isso é uma exigência inelutável, pois,
tela, Rijksmuseum, possível conhecer e atingir seu objeti- no fundo, nada de bom, nada de liber-
Amsterdã. vo e sua missão. tador pode ser feito se essa cooperação

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não for perfeita.[...] A marcha ímpia importância. No sentido comum, elas
da humanidade tem como causa a estão em mútua relação positivo-
ignorância do verdadeiro significado negativo, mas com polarização dife-
dessas duas forças gêmeas da natureza rente entre as mônadas humanas.
humana. Duas forças, duas correntes Consideradas de certo modo, todas as
que emanam da mônada, do micro- mônadas podem ser divididas em dois
cosmo. Essas duas correntes são per- grandes grupos. Em um grupo, a pri-
feitamente iguais quanto ao seu valor e meira corrente da mônada está polari-

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zada positivamente, no outro, é a se- grande poder, de uma série de pode-
gunda corrente que está polarizada de res, através dos quais o grande plano
maneira positiva. Os dois grupos são, divino deve realizar-se.
portanto, perfeitamente semelhantes e O conceito “mansidão” designa a
não obstante se distinguem claramen- natureza intrínseca da mônada, por
te um do outro. Para designar essa se- exemplo, no sentido das palavras de
melhança na separação, servimo-nos da Jesus: “Aprendei de mim que sou man-
expressão “semelhante, porém inverti- so de coração”. A mansidão provém
da”, pois, trata-se de uma polarização do amor divino. “Bem-aventurados são
“equivalente, porém, inversa” [...] As os mansos, porque eles herdarão a
duas correntes monádicas se manifes- terra”, afirma o Sermão do Monte.
tam na matéria sob a forma masculina A mônada abriga o ser divino du-
e a forma feminina. Como força posi- plo: a onipotência divina e o amor
tiva, como pólo positivo, é a força mas- divino, a força masculina e a mansidão
culina que predomina em uma corren- feminina. A onipotência, graças à po-
te, e a mansidão feminina na outra. larização inversamente proporcional,
Desde o início do nadir, o homem é representada exclusivamente pelo
compreendeu que era necessário haver tipo original do homem. O amor,
uma perfeita cooperação entre as duas pelas mesmas razões, é representado
linhagens humanas. Todavia, essa coo- pelo protótipo da mulher. Isso, evi-
peração – sua essência, sua natureza, dentemente, não exclui a presença do
seu objetivo – foi até hoje compreen- pólo oposto da mônada em cada uma
dida e aplicada de maneira muito dife- das personalidades desses dois tipos.
rente. No nadir, uma colaboração real- Fazendo a abstração da forma e do
mente estreita, harmoniosa e de alto caráter da manifestação atual dos dois
nível jamais existiu, de fato, entre as sexos na natureza da morte, bem
duas linhagens, porque a verdadeira como de todas as dificuldades e pro-
natureza dessa cooperação não foi blemas que daí resultam na vida dos
compreendida [...] Na magia, a coope- seres humanos, vereis claramente que,
ração entre o homem e a mulher em pé no interior da esfera vital de cada enti-
de perfeita igualdade sempre foi reco- dade, a auto-realização é evidentemen-
nhecida como natural. E na magia te possível. Com efeito, o poder divi-
gnóstica, trata-se de uma exigência no e o amor divino, as duas correntes
inelutável, pois, realmente, nada de monádicas, estão presentes em cada
bom, nada de libertador pode aconte- forma humana. Todavia, é evidente que
cer se essa cooperação não funcionar essa auto-realização, embora idêntica
perfeitamente. em seus resultados, apresentará dife-
rentes desenvolvimentos nos dois
Força e mansidão sexos [...]. Não faz o menor sentido
tentar descrever o homem ideal ou a
Para evitar mal-entendidos, é preci- mulher ideal. Eles não existem no
so primeiro buscar uma explicação pa- nadir do mundo tridimensional!
ra o sentido taoísta das expressões “for-
ça masculina” e “mansidão feminina”. O nascimento do divino
Com o conceito “força” a filosofia
gnóstica designa o estado monádico Trata-se, apenas, de vos fazer com-
de poder. A mônada dispõe de um preender, na maneira taoísta, como

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Baixo-relevo grego
(ca. 490 a.C.). Hades
arrebata Perséfone
em seu carro puxado
por cavalos alados.

cada mônada pode adquirir uma per- sempre as duas correntes monádicas
sonalidade que seja um instrumento fundirem-se numa só. A partir dessa
ideal e de que maneira. E como, graças unidade, a trindade, a linhagem, a filia-
a esses instrumentos perfeitos, o reino ção divina, torna-se uma grande reali-
terrestre e o céu-terra podem realmen- dade. Portanto, se conseguis incitar
te responder ao grande objetivo divi- essas duas correntes da mônada a se
no. [...] Entretanto, o essencial é que, manifestarem na personalidade, a tor-
em todos os domínios da matéria e do narem-se ativas, a filiação divina surge
espírito, a cooperação monádica ocor- verdadeiramente em vós.
ra naturalmente. [...] Com o terreno O “vale do reino” é uma antiga
assim preparado, abordemos o capítu- expressão chinesa para designar um
lo 28 do Tao Te King: Quem conhece verdadeiro laboratório alquímico. Da
sua força masculina e, entretanto, con- mesma forma que encontramos terra
serva sua mansidão feminina é o vale fértil e habitações humanas nos vales,
do reino. Também podemos inverter um verdadeiro aluno entrará no “va-
esse texto: quem conhece sua mansi- le”, na morada e na oficina da grande
dão feminina e, entretanto, utiliza sua Fraternidade se, da maneira correta,
força masculina, é o vale do reino. ele propiciar em si mesmo o encontro
Existe uma condição de poder da das duas correntes monádicas, a fim
mônada e uma irradiação de amor de de que elas possam manifestar-se e
Deus; ambos emanam da mônada. E colaborar de modo harmonioso: a for-
conheceis as palavras da primeira ça do poder aliada à grande, à maior
Epístola aos Coríntios, 13 que dizem mansidão. É primeiro sobre esse fun-
que “mesmo que eu possuísse todas as damento que se tornarão possíveis a
coisas e não tivesse amor, nada seria”. cooperação e a unidade entre aqueles
O amor, como corrente monádica, é, cujas personalidades diferem pela
portanto, superior, pois sem essa forma devido à polarização inversa-
essência intrínseca da mônada a condi- mente proporcional.
ção de poder não se desenvolveria. A
força de Deus manifesta-se na corren- Rijckenborgh, J. van, A Gnosis chinesa,
te de amor de Deus. Portanto, vemos capítulo 28, O vale do reino. (Em preparação)

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Real igualdade
O homem e a mulher constituem, cada um de per si, uma metade do gênero humano
que povoa a terra. Essa situação não é das mais felizes e com freqüência se revela muito
distante do ideal. Contudo, essas duas metades opostas se procuram mutuamente.
No melhor dos casos, isso acontece com amor e harmonia. Porém, freqüentemente
vemo-las se opor com violência, irritação e desarmonia. Essas duas metades não podem existir
uma sem a outra, mas ao mesmo tempo elas dificilmente conseguem viver juntas.
A filosofia da Rosacruz tem alguns pensamentos específicos sobre o ser humano.
Uma dessas idéias é, por exemplo, a perfeita igualdade de valores entre o homem e a mulher.
O ser humano, segundo os mais antigos livros de sabedoria, foi criado “homem e mulher”,
como uma criação. De conformidade com isso, as diferenças que existem podem ser
transformadas numa série de complementações e forças fortificadoras recíprocas
que trazem para mais perto a verdadeira felicidade humana.

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