Você está na página 1de 6

INQUÉRITO 4.

872 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


AUTOR(A/S)(ES) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AUT. POL. : POLÍCIA FEDERAL
INVEST.(A/S) : DANIEL LÚCIO DA SILVEIRA
ADV.(A/S) : JEAN CLEBER GARCIA FARIAS

DECISÃO

Trata-se de inquérito instaurado para apuração do crime de


desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito (art.
359, do Código Penal), relativo às violações do monitoramento eletrônico
imposto ao Deputado Federal DANIEL SILVEIRA nos autos da Pet
9.456/DF, de minha relatoria.
Após a realização das diligências que entendeu pertinentes, a
autoridade policial apresentou relatório conclusivo de polícia judiciária
(eDoc. 43, fls. 1-3).
Verificada a necessidade de serem trazidos aos autos elementos que
permitissem a análise das condutas investigadas, de modo a possibilitar a
atuação do Ministério Público e da SUPREMA CORTE, foi determinada a
devolução dos autos à autoridade policial para que fosse apontada, de
forma minuciosa, a correlação entre todas as informações colhidas (oitiva
do parlamentar, informações da SEAP/RJ e ENEL Brasil S.A e laudos
técnicos) e todas as violações ao monitoramento apontadas pela
Procuradoria-Geral da República a partir dos relatórios de
monitoramento eletrônico (eDoc. fls. 18-29).
A Polícia Federal apresentou novo relatório (eDoc. 43, fls. 36-48),
concluindo que “não foram justificadas, com lastro em elementos objetivos, 20
(vinte) ocorrências por ‘fim de bateria’ e 2 (duas) ocorrências por violação de
‘área de inclusão’. Consequentemente, há justificativas para 10 violações, quais
sejam, 3 (três) em razão do ‘fim da bateria’, 4 (quatro) por ‘rompimento da cinta’
e 3 (três) por violação da ‘área de inclusão’”.
Intimada para se manifestar, a Procuradoria-Geral da República
manifestou-se pela continuidade da investigação, com a realização das

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 5143-5534-9241-E5B0 e senha A791-EA2E-9ADA-D17D
INQ 4872 / DF

diligências apontadas em sua manifestação, dentre outras reputadas úteis


à elucidação dos fatos e ao encerramento da apuração, nos termos dos
arts. 230-C, § 1º e 231, § 1º do Regimento Interno do SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL (eDoc. 46).
A Polícia Federal apresenta relatório complementar com o resultado
das diligências determinadas (eDoc. 65), informando, em síntese, que

(a) efetuou diligências no sentido de identificar a


localização (endereço) do sítio da genitora do investigado,
mencionado em seu depoimento, relatando que são necessários
10 a 15 minutos a pé ou pouco mais de 3 minutos de carro para se
percorrer os 823 metros entre as residências do Deputado e de sua
genitora;
(b) A oitiva da mãe do Deputado Federal investigado não
foi realizada, tendo sido invocada a exceção prevista no art. 206
do Código de Processo Penal;
(c) A operadora Claro foi oficiada, tendo respondido que
não era possível identificar univocamente o usuário sem que
lhes fossem apresentados os dados da porta lógica de origem,
dado esse que não foi informado pela Câmara dos Deputados,
responsável pela aplicação de internet em apuração;
(d) Na resposta da Câmara dos Deputados, foi consignado
que nesse caso, não há registro dos endereços IP e portas lógicas
utilizadas em rede externa para os acessos ao Sistema Eletrônico de
Votação. O Sistema Eletrônico de Votação é hospedado em rede interna
segmentada e que por ser um sistema interno do plenário, não
dispomos de informações sobre os endereços IP e Portas Lógicas
utilizadas pelo Deputado na rede externa para os acessos (fl. 296).

Foi determinada a abertura de vista dos autos à Procuradoria-Geral


da República, para manifestação quanto ao relatório complementar
elaborado pela Polícia Federal
É o relatório. DECIDO.
Conforme ressaltado pelo Parquet, vislumbra-se a necessidade de
realização de novas diligências, com objetivo de obter elementos de prova

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 5143-5534-9241-E5B0 e senha A791-EA2E-9ADA-D17D
INQ 4872 / DF

mais robustos, notadamente no que diz respeito às 22 (vinte e duas)


violações que permanecem sem justificativa, conforme ressaltado pela
autoridade policial. Quanto ao ponto, assim se manifestou a
Procuradoria-Geral da República:

Nessa linha, a partir da análise do arcabouço informativo


dos autos, o Parquet vislumbra a necessidade de novas
diligências complementares para o devido esclarecimento dos
fatos em toda a sua dimensão, com a consequente formação
completa da “opinio delicti”.
Assim, afigura-se necessário novamente oficiar à
Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP/RJ)
para fins de que: a) informe se ocorreu a alegada troca de
carregador de bateria da tornozeleira eletrônica de DANIEL
SILVEIRA e, em caso afirmativo, em que data e quais as razões
para tanto; b) se há histórico de registro formal de reclamação
de DANIEL SILVEIRA acerca de problemas com a bateria da
tornozeleira eletrônica; c) se o referido aparelho já apresentou
histórico de problemas de bateria, ainda que com outros
usuários, detalhando eventuais ocorrências; d) qual o tempo
médio de duração da bateria da tornozeleira e qual o tempo
médio necessário para realizar a sua recarga total; e) esclareça
qual o raio de distância, em termos de afastamento residencial,
para que seja emitido o alerta de violação de área de inclusão e
se há alguma margem de erro admitida pela central em razão
do sistema de GPS.
Ademais, ainda nessa temática de fim de bateria, o
Ministro Relator, às fls.246/247, ressalvou que “não há qualquer
conclusão da autoridade policial, especialmente no sentido de apurar
se o comparecimento remoto às Sessões da Câmara dos Deputados
ocorreu efetivamente nos dias em que registradas violações de "fim de
bateria".
A respeito, compulsando os autos, não se verificou a
mencionada análise pela Polícia Federal, de modo que incumbe
seja realizado relatório específico e minucioso, com base nas
informações de registros remotos de presença e votação pelo

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 5143-5534-9241-E5B0 e senha A791-EA2E-9ADA-D17D
INQ 4872 / DF

referido parlamentar (fls.288/302), para fins de apurar se o


comparecimento remoto às Sessões da Câmara dos Deputados
ocorreu efetivamente nos dias em que registradas violações de
"fim de bateria". Para complementar, no mencionado relatório,
o órgão policial deve detalhar todas as vinte possíveis violações,
consignando as datas e tempo de duração do aparelho sem
bateria, cruzando tais dados com as datas e tempo de duração
das sessões legislativas de que o Deputado Federal participou,
inclusive com análise dos horários específicos de registro de
presença e votos.
Por derradeiro, em relação às duas violações de área de
inclusão, admitida pelo investigado sob a justificativa de ser
necessária para prestar auxílio à condição de saúde da mãe que
reside a 823 metros de sua residência, é oportuno abrir vista à
defesa para, caso queira, apresente documentação relacionada
ao estado de saúde da mãe do investigado e da necessidade das
duas visitas, considerando que a Polícia Federal não realizou a
oitiva da genitora para melhor esclarecimento dos fatos, sob o
fundamento da exceção prevista no art. 206 do Código de
Processo Penal”.

Diante de todo o exposto, verificando a necessidade de reunião de


outros elementos necessários à conclusão das investigações, através das
diligências necessárias à elucidação dos fatos, DEFIRO o requerimento da
Procuradoria-Geral da República, e DETERMINO:

(a) seja oficiada à Secretaria de Estado de Administração


Penitenciária (SEAP/RJ) para fins de que: I) informe se ocorreu a
alegada troca de carregador de bateria da tornozeleira
eletrônica de DANIEL SILVEIRA e, em caso afirmativo, em que
data e quais as razões para tanto; II) se há histórico de registro
formal de reclamação de DANIEL SILVEIRA acerca de
problemas com a bateria da tornozeleira eletrônica; III) se o
referido aparelho já apresentou histórico de problemas de
bateria, ainda que com outros usuários, detalhando eventuais
ocorrências; IV) qual o tempo médio de duração da bateria da

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 5143-5534-9241-E5B0 e senha A791-EA2E-9ADA-D17D
INQ 4872 / DF

tornozeleira e qual o tempo médio necessário para realizar a


sua recarga total; V) esclareça qual o raio de distância
necessário em termos de afastamento residencial para que seja
emitido o alerta de violação de área de inclusão e se há alguma
margem de erro admitida pela central em razão do sistema de
GPS;
(b) seja determinada a realização de relatório específico e
minucioso pela Polícia Federal, com base nas informações de
registros remotos de presença e votação pelo referido
parlamentar (fls.288/302), para fins de apurar se o
comparecimento remoto às Sessões da Câmara dos Deputados
ocorreu efetivamente nos dias em que registradas violações de
"fim de bateria". No mencionado relatório, o órgão policial deve
detalhar todas as vinte possíveis violações de fim de bateria,
consignando as datas e tempo de duração do aparelho sem
bateria, cruzando tais dados com as datas e tempo de duração
das sessões legislativas de que o Deputado Federal participou,
inclusive com análise do tempo de permanência logado no
sistema e horários específicos de registro de presença e votos;
(c) seja aberta vista dos autos à defesa do investigado para,
caso queira, apresente documentação relacionada ao estado de
saúde da mãe do investigado e da suposta necessidade das
duas visitas realizadas ao tempo em que vigente a medida
cautelar de prisão domiciliar de DANIEL SILVEIRA.

Considerando a necessidade de prosseguimento das investigações,


com a realização das diligências acima determinadas, nos termos
previstos no art. 230-C, § 1º, do RISTF, prorrogo por mais 30 (trinta) dias o
presente inquérito
Comunique-se à autoridade policial.
Ciência à Procuradoria-Geral da República.
Publique-se.
Brasília, 17 de agosto de 2022.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 5143-5534-9241-E5B0 e senha A791-EA2E-9ADA-D17D
INQ 4872 / DF

Relator
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 5143-5534-9241-E5B0 e senha A791-EA2E-9ADA-D17D

Você também pode gostar