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Tribunal de Contas da União

Secretaria-Geral de Controle Externo

OFÍCIO 43453/2021-TCU/Seproc
Brasília-DF, 5/8/2021.

Ao Senhor
Marcelo Augusto Xavier da Silva
Presidente da Fundação Nacional do Índio
Fundação Nacional do Índio
SCS, Quadra 9, Torre B, 11º andar - Edf. Parque Cidade Corporate - Asa Sul
70.308-200 - Brasília - DF

Processo TC 025.753/2021-5 Tipo do processo: Representação


Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti
Unidade responsável: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Energia Elétrica

Assunto: Oitiva.
Anexos: peças 1, 4 e 5 do processo TC 025.753/2021-5.

Senhor Presidente,

1. Em atendimento à decisão contida no processo acima indicado (peça 1, 4 e 5), fica Vossa
Senhoria notificado(a) da decisão expedida pelo Tribunal de Contas da União, cujo teor encontra-se
na documentação anexa, que integra esta comunicação.
2. Em observância ao princípio da ampla defesa, a decisão fixou o prazo de 15 (quinze) dias,
a contar do recebimento desta comunicação, para manifestação quanto às ocorrências descritas na
documentação anexa, principalmente quanto: (i) a apuração das circunstâncias que gravitam em
torno do aparente conflito de interesses, inclusive responsabilidades pela designação do
Coordenador, (ii) identificar a atuação do Sr. Deuzivaldo Saw Munduruku no desenvolvimento das
atividades necessárias às avaliações do licenciamento socioambiental do projeto de São Luiz do
Tapajós, dado ter sido titular à época da Coordenação Regional do Tapajós e (iii) avaliar a
regularidade dos atos praticados pelo responsável que vierem a ser identificados. Alerto para a
importância de leitura do inteiro teor da decisão para o devido conhecimento das irregularidades que
lhe dizem respeito.
3. A matéria está sendo objeto de exame no âmbito do Tribunal de Contas da União e
poderá resultar decisão no sentido de desconstituir o ato ou o procedimento considerado irregular. A
ausência de manifestação no prazo estabelecido não impedirá o prosseguimento do processo e a
apreciação da matéria pelo TCU.
4. Por oportuno, solicito especial atenção às informações complementares que acompanham
este ofício, bem assim para a necessidade de utilizar – para resposta a comunicações e envio de
documentos – os serviços da plataforma Conecta-TCU ou do protocolo eletrônico, disponíveis no Portal
TCU (www.tcu.gov.br), endereço em que também é possível acessar os autos do processo.
5. Esclarecimentos adicionais quanto ao processo indicado ou à presente comunicação
podem ser obtidos, no horário das 13h às 17h, junto à Secretaria de Gestão de Processos (Seproc),
em Brasília, telefone (61) 3527-5234 e e-mail cacidadao@tcu.gov.br.

Para verificar as assinaturas, acesse www.tcu.gov.br/autenticidade, informando o código 68683510.


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Atenciosamente,

Assinado eletronicamente
VIVIANE CRISTINE CAMPOS BALTAR DUARTE SOMOGYI
Chefe de Servico

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INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

1) A oitiva realizada pelo Tribunal possui fundamento legal nos artigos 250, inciso V, e 276, § 3º, do
Regimento Interno do TCU.
2) O acesso ao processo indicado nesta comunicação dar-se-á exclusivamente por meio do sistema
Conecta-TCU, acessível por meio do Portal TCU (www.tcu.gov.br). Informações detalhadas sobre os
requisitos para acesso ao sistema (cadastramento e credenciamento) e sobre o uso do sistema estão
disponíveis por meio do ícone “Conecta-TCU” do Portal TCU. A visualização de processos e
documentos sigilosos depende de autorização do relator, após solicitação formal da parte.
3) A juntada aos autos do instrumento de mandato, quando a parte for representada por procurador,
é pressuposto essencial para a atuação do mandatário no processo, nos termos do artigo 13, § 2º, da
Resolução - TCU 36/1995.
4) Constitui dever das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma
participem do processo indicar, no primeiro momento de falar nos autos, o endereço eletrônico e o
endereço residencial ou profissional onde receberão as notificações, bem assim atualizar essas
informações sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva, conforme previsto
no art. 77, inciso V, do Código de Processo Civil, aplicável nos termos do art. 298 do Regimento
Interno do TCU.
5) A apresentação de resposta ou defesa ao TCU deve observar as seguintes orientações:
a) ser dirigida ao Relator do processo;
b) indicar, com destaque, o número do processo e deste ofício;
c) utilizar dos serviços de protocolo eletrônico ou da plataforma digital Conecta-TCU
disponíveis no Portal TCU. Documento que, em razão do formato, tamanho ou outra
característica, não possa ser encaminhado por meio desses canais, deve ser apresentado por
cópia ou segunda via, ou mídia digital;
d) a resposta ou defesa pode ser apresentada diretamente pelo destinatário do ofício ou por
intermédio de procurador regularmente constituído nos autos, conforme disciplina o art.
145 do Regimento Interno do TCU;
e) caso haja procurador constituído nos autos, as comunicações processuais subsequentes
serão dirigidas a esse representante, conforme disposto no art. 179, § 7º, do Regimento
Interno do TCU. Se houver mais de um procurador, pode ser indicado o nome daquele a
quem deverão ser encaminhadas as comunicações.
6) A informação classificada na origem com restrição de acesso deve ser acompanhada dos seguintes
elementos, consoante a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011),
caso contrário será considerada de acesso público pelo Tribunal:
a) indicação objetiva da hipótese de restrição de acesso: informação imprescindível à
segurança da sociedade ou do Estado; informação com sigilo atribuído por legislação
específica; informação pessoal relativa à intimidade, vida privada, honra e imagem;
b) na hipótese de informação imprescindível à segurança da sociedade ou do Estado, indicar:
b.1) o grau de sigilo da classificação (reservado, secreto ou ultrassecreto);

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b.2) o fundamento legal da classificação;


b.3) o prazo de restrição de acesso ou o evento que defina o termo final;
b.4) o assunto sobre o qual versa a informação.
c) na hipótese de informação com sigilo atribuído por legislação específica, indicar o
fundamento legal da classificação;
d) na hipótese de informação pessoal relativa à intimidade, vida privada, honra e imagem,
indicar o prazo de restrição de acesso e a pessoa a que se refere;
e) indicação do nome do responsável pela classificação.
7) O Tribunal poderá declarar a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco
anos, de licitação na Administração Pública Federal, conforme disposto no art. 46 da Lei nº
8.443/1992, caso o destinatário do presente ofício seja o licitante.
8) Nos termos do art. 183, parágrafo único, do Regimento Interno, a prorrogação de prazo, quando
cabível, contar-se-á a partir do término do prazo inicialmente concedido. O Tribunal não está
obrigado a notificar quanto ao deferimento do pedido. Cabe ao responsável acessar o processo, no
Portal TCU, ou entrar em contato, pelos meios indicados para tomar conhecimento da decisão.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 027.601/2018-8

ACÓRDÃO Nº 632/2021 – TCU – Plenário

1. Processo TC 027.601/2018-8.
2. Grupo II – Classe V - Assunto: Relatório de Auditoria.
3. Interessados/Responsáveis: não há.
4. Órgãos/Entidades: Fundação Nacional do Índio; e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Energia Elétrica (SeinfraElétrica).
8. Representação legal: não há.

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Auditoria de Conformidade realizada no
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e na Fundação
Nacional do Índio (Funai), tendo por objetivo avaliar os procedimentos adotados pela Funai e pelo
Ibama relativos ao licenciamento ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) São Luiz do
Tapajós,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de
Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. recomendar ao Ministério da Justiça e Segurança Pública e à Fundação Nacional do
Índio (Funai), com fundamento no art. 250, inciso III, do RI/TCU que, conjuntamente, promovam uma
reavaliação dos atos normativos relacionados à participação da Funai no licenciamento de
empreendimentos hidrelétricos, inclusive da participação da Diretoria de Proteção Territorial (DPT),
bem como dos procedimentos de delimitação e demarcação de TIs subjacentes ao licenciamento dos
referidos empreendimentos, confrontando tais expedientes com (i) as atuais disposições
constitucionais, (ii) a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e (iii) a legislação aplicável;
9.2. determinar à SeinfraElétrica que autue processo apartado, a fim de aprofundar o exame
quanto à atuação do Sr. Deuzivaldo Saw Munduruku no processo de licenciamento socioambiental do
AHE São Luiz do Tapajós na autarquia, tendo atuado como titular da Coordenação Regional do
Tapajós (escritório competente para tratar de assuntos da Fundação na localidade) em aparente
situação de conflito de interesses, autorizando-se oitivas e diligências que se fizerem necessárias;
9.3. reencaminhar o diagnóstico da atual situação do licenciamento de empreendimentos
hidrelétricos, notadamente quanto à necessidade de reformulação do atual modelo decisório-
licenciatório em matéria de expansão da geração de energia elétrica, bem como da recomendação
constante do item 9.8 do Acórdão 1.631/2018-Plenário, no sentido de se criar instância decisória
formal, supra e interinstitucional, que, subsidiada por avaliações sobre cada uma das dimensões da
decisão (técnica, econômica, ambiental e social) e sobre as alternativas possíveis, elaboradas pelos
órgãos e instituições competentes, decida, com base no menor impacto econômico, social e ambiental;
9.4. encaminhar os elementos apontados no item 9.3 supra à Presidência de Senado
Federal, à Presidência da Câmara dos Deputados e aos Ministérios da Justiça e Segurança Pública, do
Meio Ambiente, de Minas e Energia, da Infraestrutura;
9.5. encaminhar cópia deste Acórdão às seguintes organizações públicas, a fim de que
tomem conhecimento das constatações obtidas com o presente trabalho:
9.5.1. Casa Civil da Presidência da República;
9.5.2. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos;
9.5.3. Fundação Nacional do Índio;
9.5.4. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis;
9.5.5. Comissão de Minas e Energia, da Câmara dos Deputados; e

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9.5.6. Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Câmara dos


Deputados.

10. Ata n° 9/2021 – Plenário.


11. Data da Sessão: 24/3/2021 – Telepresencial.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0632-09/21-P.
13. Especificação do quórum:
13.1. Ministros presentes: Ana Arraes (Presidente), Walton Alencar Rodrigues, Augusto Nardes,
Raimundo Carreiro, Bruno Dantas, Vital do Rêgo e Jorge Oliveira.
13.2. Ministro-Substituto convocado: Marcos Bemquerer Costa.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator), André Luís de Carvalho
e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)


ANA ARRAES AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI
Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral

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VOTO

Em exame Auditoria de Conformidade realizada no Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e na Fundação Nacional do Índio (Funai),
tendo por objetivo avaliar os procedimentos adotados pela Funai e pelo Ibama relativos ao
licenciamento ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) São Luiz do Tapajós, realizada em
atendimento ao item 9.5 do Acórdão 2.723/2017-Plenário, em que atuei como revisor (peça 1).

2. Relembro que o feito seminal cuidou de Auditoria Operacional, realizada pela Secretaria
de Fiscalização de Infraestrutura Elétrica (SeinfraElétrica) no processo de estruturação de grandes
empreendimentos hidrelétricos, no qual identificaram-se indícios de desconformidades e ineficiências
no processo de licenciamento ambiental prévio relativamente ao AHE-São Luiz de Tapajós (AHE-
SLT), sintetizada pelo Relator daquele feito como “a feição morosa, burocrática, ineficiente e
desarticulada da Administração Pública Federal”.
II
3. Antes de examinar os achados do presente trabalho, considero oportuno contextualizar,
ainda que de modo abreviado, o referido empreendimento à luz do planejamento energético brasileiro.
4. Estima-se que o país irá necessitar expandir sua capacidade de geração de energia
elétrica no âmbito do Sistema Interligado Nacional (SIN) em cerca de 20% (ou seja, cerca de 32.000
MW) em dez anos (2020 a 2030), já considerando os efeitos da pandemia decorrente da Covid-19 e
tomando por base os dados do Plano Decenal de Expansão de Energia 2030 (PDE 2030, p. 386, tabela
A II-1).
5. Para se ter ideia, a maior usina hidrelétrica nacional – UHE Belo Monte – tem potência
instalada de 11.233,1 MW, com uma garantia física de 4.571 MW médios (peça 79, p. 39, item 291).
Ainda a título de comparação, ressalto que o AHE-SLT em questão prevê a construção de uma usina
de grande porte, com capacidade instalada de 8.040 MW e garantia física estimada de 3.706 MW
médios (peça 71, p. 6).
6. Tais dados já demonstram a relevância do AHE-SLT para o planejamento elétrico
nacional, tendo motivado o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a considerá-lo projeto
estratégico, de interesse público, estruturante e prioritário para efeito de licitação e implantação (peça
18 - Resolução CNPE 3/2011).
7. Outra comparação afigura-se oportuna.
8. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), comparativamente a outras
fontes geradoras de energia elétrica, a não implantação do projeto hidrelétrico implicaria custo
adicional anual da oferta (investimento + operação) de R$ 774,4 milhões anuais, o que perfaz R$ 23
bilhões ao longo da concessão de uma hidrelétrica que é de 30 anos.
9. Tal cálculo decorre da comparação da substituição de tal projeto por usina termelétrica a
gás natural em ciclo combinado, tecnologia que apresenta características técnicas compatíveis com as
UHEs, sobretudo sua “despachabilidade”.
10. No que diz respeito à avaliação ambiental, a substituição da oferta de energia no SIN
representada pela UHE São Luiz do Tapajós e pelo tronco de interligação Tapajós-Sudeste por uma
usina termelétrica a gás natural em ciclo combinado resulta em aumento de emissões anuais de gases
causadores de efeito estufa de 6,5 milhões de toneladas de CO2, o que significa um crescimento de
21% nas emissões totais em relação à configuração de referência tomada pela EPE (TC 019.228/2014-
7, peça 340, p. 11-12).

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11. Face à evidenciação de tal comparação pela EPE, o Plenário desta Corte expediu as
“ciências” a seguir transcritas (Acórdão 1631/2018-Plenário, de minha relatoria):
“9.10. dar ciência às Comissões de Serviços de Infraestrutura (CI) , de Assuntos
Econômicos (CAE) e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA)
do Senado Federal, às Comissões de Minas e Energia (CME) e de Defesa do Consumidor (CDC)
da Câmara dos Deputados, à 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público
Federal (Consumidor e Ordem Econômica), ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
da República e à Advocacia-Geral da União, em especial, das medidas constantes nos itens 9.8,
9.9.1, 9.9.2, 9.7.3 e 9.7.4. deste acórdão, bem como que:
9.10.1. segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia - PDE 2017-2026, elaborado
pela Empresa Brasileira de Pesquisa Energética - EPE, será necessário aumentar em cerca de 45% a
capacidade de geração de energia elétrica no país no curto período de dez anos, no qual, fora a
adoção de geração a partir de fontes alternativas, se optou, em regra, por substituição da
implantação de usinas hidrelétricas por termelétricas, sem que se tenha a clareza e transparência
necessária quanto aos custos e benefícios associados a essa opção, por exemplo, em termos de
segurança energética, modicidade tarifária e emissão de gases de efeito estufa;
9.10.2. segundo cálculos da EPE, a substituição da oferta de energia, no Sistema
Interligado Nacional (SIN), representada pela UHE São Luiz do Tapajós e respectivo tronco de
interligação Tapajós-Sudeste por usina termelétrica em ciclo combinado a gás natural resultará
em repasses tarifários adicionais para o consumidor de energia da ordem de R$ 774,4 milhões
anuais, o que perfaz R$ 23 bilhões ao longo da concessão (30 anos), além de ocasionar emissões
anuais adicionais de gases causadores de efeito estufa da ordem de 6,5 milhões de toneladas de
CO2”. (g.n.)

III
12. Ainda antes de adentrar aos achados do presente trabalho, faz-se mister descrever, em
apertada síntese, (i) o processo de licenciamento ambiental federal; (ii) a atuação da Funai no
licenciamento; e (iii) a relação entre o licenciamento e o processo de demarcação de terras indígenas.
13. Quanto ao primeiro aspecto, a partir das informações obtidas a partir da auditoria
operacional apreciada pelo Acórdão 1.789/2019-Plenário (TC 024.048/2018-6, peça 42), de relatoria
do e. Ministro Weder de Oliveira, a equipe de auditoria elaborou a seguinte síntese (peça 79):
“32. O art. 10 da Lei 6.938/1981 define que ‘a construção, instalação, ampliação e
funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental
dependerão de prévio licenciamento ambiental’.
33. Existem três licenças ambientais distintas, todas necessárias, via de regra, à construção
e operação de um novo empreendimento, as quais foram adequadamente definidas e apresentadas
no relatório da SecexAgroAmbiental, conforme o trecho destacado a seguir (TC 024.048/2018-6,
peça 27, p.8):
A Resolução Conama 237/1997 estabelece três tipos de licenças ambientais:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do
empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade
ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas
fases de sua implementação;

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II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de


acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as
medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento,
após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de
controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.
(...)
35. O rito processual do Licenciamento Ambiental Federal (LAF), conforme o citado
relatório (TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 9-10), tem início com o preenchimento de uma ficha pelo
interessado junto ao Ibama, como se observa a seguir:
Para iniciar um processo de licenciamento ambiental no Ibama, o interessado deve
preencher a Ficha de Caracterização de Atividade (FCA), que é um formulário eletrônico padrão,
disponível no portal de serviços do Instituto, informando, entre outros dados: os principais
elementos que caracterizam a atividade ou empreendimento; a área de localização; e eventual
intervenção em terras indígenas ou quilombolas, em bens culturais acautelados, em unidades de
conservação ou em áreas de risco ou endêmicas para malária.
A depender da área possivelmente afetada pelo projeto, a obtenção da licença prévia estará
condicionada a emissão de parecer prévio de outros órgãos e entidades federais, como a Fundação
Nacional do Índio (Funai), a Fundação Cultural Palmares (FCP), o Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan), e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio). A atuação desses órgãos e entidades intervenientes (OEIs) no licenciamento ambiental
federal é regulamentada pela Portaria Interministerial 60/2015 e, no caso do ICMBio, pela Instrução
Normativa ICMBio 7/2014 e pela Portaria MMA 55/2014.
(...)
a fase de LP pode ser dividida em três etapas. A etapa de requisição inicia-se com a
apresentação da FCA. Em seguida, o Ibama solicita manifestação dos OEIs e elabora o termo de
referência (TR), que estabelece o conteúdo necessário dos estudos ambientais a serem
apresentados. Os OEIs, por sua vez, elaboram os termos de referência específicos (TREs), que
estabelecem o conteúdo necessário para análise dos impactos afetos a cada órgão ou entidade. A
etapa de análise inicia-se com a apresentação dos estudos ambientais e é concluída com a emissão
de pareceres técnicos conclusivos do Ibama e OEIs. Na etapa de decisão ocorre a emissão da LP ou
o arquivamento do processo.
37. No presente trabalho, o exame enfocou os procedimentos que tratam da concessão
da licença prévia (LP), a qual atesta a viabilidade ambiental do empreendimento, aprova sua
localização e concepção e define as medidas mitigadoras e compensatórias dos impactos negativos
do projeto. Isso porque verificou-se que o processo de licenciamento do AHE São Luiz do Tapajós
passou apenas pela fase de concessão da LP, sendo arquivado antes mesmo de sua emissão,
não sendo oportuno, portanto, no caso concreto, abordar as demais etapas”.

14. Para além do plano normativo, destaco achados da auditoria operacional sobre
licenciamento ambiental, relatada pelo e. Ministro Weder de Oliveira (Acórdão 1.789/2019-Plenário),
concluindo, em suma, pela tempestividade da atuação do Ibama, na maioria dos casos avaliados1, e,
por outro lado, intempestividade na atuação dos OEIs, sobretudo por parte da Funai.

1 Na mencionada fiscalização, foram avaliados licenciamentos prévios de linhas de transmissão e rodovias.


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15. Naquela mesma fiscalização, o TCU constatou ainda “baixo nível de adoção de
procedimentos para aprimorar a definição de escopo dos TR” e “baixo nível de adoção de guias
técnicos de referência e análise do EIA/RIMA”, bem como a “necessidade de aprimoramento da
articulação e comunicação entre Ibama e órgãos e entidades interveniente”.
16. Tais constatações, como se verá adiante, corroboram uma parcela das circunstâncias
apontadas na presente fiscalização.
17. Consoante relatado a seguir, no presente caso, ganha relevo também a atuação da Funai,
enquanto órgão/entidade interveniente (OEI), dado que o empreendimento afetaria supostamente
“terras indígenas”, situadas próximas ao município de Itaituba/PA, na região do “médio Tapajós”.
18. Assim, trago adiante breve apanhado sobre a regulamentação da atuação da Funai nos
processos de licenciamento ambiental e, na sequência, de demarcação de terras indígenas
tradicionalmente ocupadas.
19. A atuação da Funai, no processo de licenciamento ambiental, atualmente2 é regida pela
IN Funai 2/2015 (peça 24), bem como pela já mencionada Resolução Conama 237/1997 (peça 22) e
pela Portaria Interministerial 60/2015 (peça 23).
20. Uma vez detectada a presença de componente indígena no licenciamento ambiental, o
Ibama solicita formalmente a manifestação do órgão indigenista (IN 2/2015, art. 3º, caput), que será
conduzida pela Coordenação Geral de Licenciamento (CGLIC), a qual compõe a Diretoria de
Promoção ao Desenvolvimento Sustentável - DPDS (IN 2/2015, art. 4º; peça 24, p. 2), uma das três
diretorias da Funai.
21. Na qualidade de OEI, a Funai elabora Termo de Referência Específico (TRE) voltado ao
componente indígena, devendo ser consultada a Diretoria de Proteção Territorial, para que se
manifeste acerca dos limites de terras indígenas possivelmente afetadas (IN Funai 2/2015, art. 6º).
22. O modelo para elaboração do TRE para o componente indígena atualmente encontra-se
previsto no anexo II-B da Portaria Interministerial 60/2015 (peça 23, p. 9-15).
23. Com o estabelecimento do TRE, o empreendedor deverá elaborar um plano de trabalho, o
qual deverá conter “cronograma detalhado e roteiro das atividades propostas (em campo e gabinete),
orientadas pelos objetivos do estudo e pela dinâmica própria das comunidades indígenas” (Portaria
60/2015, anexo II-B, item 2). Uma vez elaborado, a CGLIC irá analisá-lo, nos termos do art. 17 da IN
Funai 2/2015 (peça 24).
24. Quanto aos trabalhos em campo, faz-se mister ressaltar que o ingresso das equipes
técnicas do empreendedor em terras indígenas somente pode se dar após autorização da DPDS
(IN Funai 2/2015, art. 16), a qual deverá considerar: I - a manifestação dos povos indígenas afetados;
II - inexistência de pendência injustificada na entrega de produtos à Funai; e III - ausência de histórico
de conflitos com as comunidades indígenas envolvidas (IN Funai 2/2015, art. 18, caput).
25. Uma vez elaborados e concluídos os estudos de componente indígena (ECI), realizados
segundo o plano de trabalho aprovado, e realizada a “oitiva das comunidades indígenas”, na qual os
estudos lhe são apresentados, a IN 2/2015 prevê a emissão de parecer técnico final pela Funai (IN
Funai 2/2015, arts. 9º e 10).
26. A partir deste Parecer, o titular da DPDS apresenta sua manifestação conclusiva podendo
(i) “recomendar o prosseguimento do processo de licenciamento, sob a óptica do componente
indígena”; ou (ii) “apontar a existência de eventuais óbices ao prosseguimento do processo de

2 À época do início do processo de licenciamento ambiental do AHE-SLT era o processo regido pela Portaria
Interministerial 419/2011 e pela Instrução Normativa Funai 1/2012 (peça 25, p. 3).
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licenciamento” – IN Funai 2/2015, arts. 11 –, para posterior encaminhamento de tal expediente ao


Ibama.
27. Além disso, para que se tenha a exata noção da manifestação da Funai no processo de
licenciamento, faz-se mister descrever, em linhas gerais, os quatro principais status do processo de
demarcação de terras indígenas, nos termos previstos na legislação, especialmente no Decreto
1.775/1996.
28. Primeiramente, cumpre salientar que o processo a seguir descrito toma por base a
demarcação de terras indígenas (TI) na modalidade “tradicionalmente ocupadas”, em detrimento das
demais de TI, como as reservas indígenas - Lei 6.001/1973, art. 17.
29. Para que seja formalmente reconhecido o direito dos indígenas à determinada terra, é
instaurado processo administrativo no âmbito da Funai, o qual é coordenado pela Diretoria de Proteção
Territorial (DPT) – unidade organizacional diversa, portanto, daquela que coordena o processo de
licenciamento (qual seja, a DPDS - Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável).
30. O primeiro passo para a ocorrência da referida demarcação consiste na designação de
grupo técnico especializado, podendo ser composto por não servidores, embora exista uma preferência
pela composição por servidores do próprio quadro funcional. Tal grupo é coordenado por antropólogo,
que deverá elaborar o relatório circunstanciado de identificação e delimitação (RCID) da pretensa terra
indígena (Decreto 1.775/1996, art. 2º, caput e §1º). Durante esta etapa, a “terra indígena” encontra-se
“em estudo”, segundo destacado no sítio eletrônico da Funai3.
31. Uma vez elaborado o RCID, após aprovado pela Presidência da Funai e divulgado seu
resumo na imprensa oficial (Decreto 1.775/1996, art. 2º, §7º), considera-se que a pretensa terra
indígena encontra-se “delimitada”.
32. Na sequência, o processo é remetido ao Ministro da Justiça e Segurança Pública4. Caso
aprovados os referidos estudos, o Ministro da Justiça e Segurança Pública editará portaria, declarando
os limites da terra indígena e determinando sua demarcação (Decreto 1.775/1996, art. 2º, §§ 9º e 10).
Neste momento, a “terra indígena” passa a ostentar o status de “declarada”.
33. Por fim, o processo administrativo de demarcação depende ainda de decreto expedido pela
Presidência da República, a partir de onde a terra indígena passa a ser considerada “homologada”
(Decreto 1.775/1996, art. 5º). A partir daí, é possível promover a regularização do seu registro perante
o cartório de imóveis (Decreto 1.775/1996, art. 6º), passando a ostentar a situação de “regularizada”.
34. Transcrevo, para fins de contextualização, a discriminação da quantidade e da área total
das terras indígenas “tradicionalmente ocupadas” no Brasil, as quais representam cerca de 13,7%5 do
território nacional (além das regiões ainda “em estudo”):

Fase do processo Quantidade Superfície (ha)

Delimitada 43 2.277.012,4500
Declarada 74 7.495.631,3759
Homologada 9 334.546,3127
Regularizada 441 106.948.034,6108
Total 567 117.079.252,7494

3 http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas <acesso em 9/3/2021>


4 Tomando por base os termos do Decreto 1.775/1996, art. 2º, §§ 9º e 10.
5 Desconsiderando-se sobreposições e considerando-se o território nacional com cerca de 851,6 milhões de hectares.

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Fase do processo Quantidade Superfície (ha)

Em estudo 119 0,0000


Portaria De
6 1.080.740,0000
Interdição

IV
35. Brevemente contextualizado o AHE-SLT no contexto energético brasileiro e descritos, em
linhas gerais, os processos de licenciamento ambiental e de demarcação de terras tradicionalmente
ocupadas, passo a historiar o desenvolvimento do referido empreendimento.
36. Tomando por base o relato constante da peça 156 do TC 029.192/2016-1 e da peça 79 dos
presentes autos, lembro que o potencial hidrelétrico do rio Tapajós é objeto de estudo pela Eletronorte
há mais de trinta anos, tendo se iniciado por meio da Portaria-MME 1.358/1986, nos trechos
localizados nos estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia (TC 029.192/2016-1, peça 31).
37. O processo de licenciamento ambiental do AHE-SLT, propriamente dito, foi iniciado em
2009 (peça 19), sendo conduzido pelo Ibama, autarquia federal competente para executar ações das
políticas nacionais de meio ambiente relativas ao licenciamento ambiental, conforme dispõe o art. 2º
da Lei 7.735/1989.
38. Ressalto que, segundo se observa da Ficha de Caracterização da Atividade (FCA)
apresentada pela Eletronorte (peça 19, p. 5-17), inicialmente nem mesmo se indicou a “presença de
terras indígenas nas áreas afetadas” (peça 19, p. 11; peça 37, p. 10).
39. No entanto, a Funai iniciou o acompanhamento do licenciamento ambiental em 2009, a
partir de instauração do Inquérito Civil Público 1.23002.000087/2009-91 pelo Ministério Público
Federal e de questionamentos encaminhados pela Eletronorte, consoante indica a unidade técnica (peça
79, p. 23, item 140).
40. No ano de 2012, contudo, teve início efetivamente o processo de licenciamento junto à
Funai, com o encaminhamento, pelo Ibama, da Ficha de Caracterização da Atividade - FCA (peça 37,
p. 1). À época, vigorava a Portaria Interministerial 419/2011 (atual Portaria Interministerial 60/2015),
a qual regulamentava a atuação dos órgãos e entidades da Administração Pública Federal envolvidos
nos processos de licenciamento ambiental.
41. Na ocasião, o órgão indigenista estabeleceu que as seguintes terras indígenas deveriam
ser abrangidas pelos estudos a serem elaborados pelo empreendedor (peça 37, p. 32, item 3):
Terra Superfície Fase do
Etnia Município(s) Modalidade
indígena (TI) (HA) procedimento
Parintins/PA, Maués/AM,
Andirá- Tradicionalmente
Sateré-Mawé Barreirinha/AM, 788.528,38 Regularizada
Marau ocupada
Aveiro/PA, Itaituba/PA
Em processo de
Praia do
Mundurukú Itaituba/PA 31,8449 aquisição da terra Reserva indígena
Mangue
(encaminhada RI)
Em processo de
Praia do Índio Mundurukú Itaituba/PA 31,5019 aquisição da terra Reserva indígena
(encaminhada RI)

42. Além disso, em função de especificidades locais relativas a áreas não demarcadas
tampouco delimitadas, a Funai recomendou a inclusão de outras três comunidades indígenas, todas
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na modalidade “tradicionalmente ocupadas”, supostamente ocupadas pelo povo Mundurukú (peça 37,
p. 32, item 4):
Superfície Fase do
Terra indígena (TI) Etnia Município(s)
(HA) procedimento
Sawré Bap In
Mundurukú Itaituba/PA e Trairão/PA 0 Em Estudo
(Km 43)
Sawré Jaybu
Mundurukú Itaituba/PA e Trairão/PA 0 Em Estudo
(São Luiz do Tapajós)
À época, “em estudo”;
Sawré Muybu
Mundurukú Itaituba/PA e Trairão/PA 0 Após 2016,
(Pimental)
“delimitada”

43. O termo de referência para a realização do EIA-Rima foi publicado pelo Ibama em 2012
(TC 029.192/2016-1, peça 61, p. 257-292), sendo que os estudos foram iniciados em abril daquele ano.
44. Em agosto do mesmo ano, foi criado o Consórcio Tapajós, com vistas a organizar as
atividades a serem desempenhadas nos estudos de viabilidade (TC 029.192/2016-1, peça 64, p. 106).
45. Já em setembro, houve a interdição de quatro áreas de levantamento do EIA do AHE-SLT,
nas proximidades do Rio Jamanxim, por indígenas Mundurukú que reivindicavam a demarcação
daquela área (TC 029.192/2016-1, peça 63, p. 6).
46. Em novembro de 2012, foi proferida decisão liminar no âmbito de Ação Civil Pública
ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF) na Subseção Judiciária de Itaituba-PA, Processo
0003883-98.2012.4.01.3902, por intermédio da qual a Justiça Federal determinou (TC 029.192/2016-
1, peça 65): i) a realização da AAI - Avaliação Ambiental Integrada; ii) a realização de oitiva de todas
as comunidades indígenas interessadas, tais como Andirá-Marau, Praia do Mangue, Praia do Índio,
Pimental, KM 43 e São Luiz do Tapajós, antes de encerrada a fase de viabilidade do empreendimento,
de acordo com formato indicado pelo Ministério Público Federal; e iii) que não fosse concedida
licença prévia ao empreendimento até que tais medidas fossem cumpridas.
47. Tal decisão foi ainda reformada em abril de 2013, por intermédio do Agravo de
Instrumento 0019093-27.2013.4.01.0000/PA interposto pelo MPF, para que fosse suspenso qualquer
ato relativo ao empreendimento até o julgamento da ação principal (TC 029.192/2016-1, peça 66).
Seis dias depois, o STJ deferiu pedido de suspensão interposto pela União contra a sentença proferida
pelo TRF-1ª Região anteriormente relatada. Nas palavras do Exmo. Ministro Felix Fischer (TC
029.192/2016-1, peça 67):
“(...) ao contrário do que decidido pelo Relator do Agravo de Instrumento n° 0019093-
27.2013.4.01.0000, não vislumbro como meros estudos preliminares, atinentes tão-somente à
viabilidade do empreendimento, possam afetar, diretamente, as comunidades envolvidas.
O que não se mostra possível, no meu entender, é dar início à execução do
empreendimento sem que as comunidades envolvidas se manifestem e componham o processo
participativo com suas considerações a respeito de empreendimento que poderá afetá-las
diretamente.
Em outras palavras, não poderá o Poder Público finalizar o processo de licenciamento
ambiental sem cumprir os requisitos previstos na Convenção n° 169 da OIT, em especial a
realização de consultas prévias às comunidades indígenas e tribais eventualmente afetadas pelo
empreendimento.
Além disso, não há uma regulamentação específica que exija que a consulta deverá se
dar antes mesmo do início dos estudos de viabilidade do empreendimento, decorrendo daí a
possibilidade de, obedecido o princípio de preservação dos direitos fundamentais dessas
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comunidades, a consulta se dar concomitante à avaliação e estudos, pois, nesse caso, ao meu sentir,
não haverá ‘medida administrativa’ tendente a afetar diretamente as comunidades envolvidas”.
(g.n.)

48. Dessa forma, os atos necessários à obtenção do licenciamento ambiental prosseguiram,


mantendo-se a obrigação de o Governo Federal “promover a participação de todas as comunidades
indígenas ou tribais que podem ser afetadas com a implantação do empreendimento” antes da efetiva
emissão da licença prévia.
49. Contudo, em que pese a decisão no âmbito judicial, em junho de 2013, os trabalhos de
campo foram paralisados em virtude do sequestro de pesquisadores da equipe de estudos de meio
biótico que trabalhavam nos estudos de viabilidade do aproveitamento Jatobá, supostamente por
indígenas da etnia Mundurukú, sendo retomadas apenas em agosto de 2013, com o apoio da Polícia
Federal, Agência Brasileira de Inteligência - Abin, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e
Exército. A conclusão desses levantamentos só ocorreu em novembro de 2013 (TC 029.192/2016-1,
peça 63, p. 7).
50. Em janeiro de 2014, após tratativas entre o empreendedor e a Funai, a quarta versão do
Plano de Trabalho para a elaboração do Estudo do Componente Indígena (ECI) foi considerada
tecnicamente satisfatória, com a ressalva de que deveria “ser oportunamente submetida aos indígenas”
(TC 029.192/2016-1, peça 68, p. 365).
51. Com base no referido plano de trabalho, foram realizados os Estudos do Componente
Indígena (ECI), os quais apontaram interferência do projeto AHE-SLT na área da Aldeia Boa Fé
(abrangida pela pretensa TI Sawré Muybu), situada às margens do rio Tapajós. Segundo o ECI do
consórcio Tapajós, tal aldeia, em 2001, era composta por três casas, duas ocupadas por famílias
Apiaká e uma com família Mundurukú, no total de quinze habitantes (TC 029.192/2016-1, peça
79, p. 53-54)6.
52. Antes, porém, de avançar, faz-se necessário abrir um parêntese.
53. Sobre a referida aldeia repousa o cerne da conclusão da Funai pela inviabilidade do
empreendimento, na medida em que o órgão indigenista conclui que a região é considerada “terra
tradicionalmente ocupada”, contrariamente ao entendimento do empreendedor.
54. Conforme parecer da Procuradoria Federal Especializada junto à Funai, a delimitação da
área da pretensa terra Sawré Muybu apontou que o empreendimento importaria na supressão de
aproximadamente 7% da pretensa terra indígena, segundo destaca a unidade técnica (peça 79, p.
25, item 159), mediante o alagamento de parcela daquela TI, o que exigiria o remanejamento da
população ali inserida, motivo pelo qual seria “o empreendimento inconstitucional” (peça 39, p.
9; peça 34).
55. Fechado o parêntese, destaco que, em agosto de 2014, a Funai argumentou que os estudos
apresentavam inconsistências, bem como haviam sido utilizados apenas dados secundários, sendo
necessários trabalhos de campo (peça 32, p. 1-3). Todavia, a Funai alegou que a entrada em terras
indígenas não dependia apenas da autorização da Fundação, mas também da anuência do povo
Mundurukú.
56. A fim de conseguir autorização para a realização dos trabalhos de campo, a Eletrobrás
teria encaminhado diversas solicitações à Funai entre 2014 e 2015. No entanto, de acordo com a
estatal, tais solicitações não teriam sido respondidas (peça 79, p. 24, item 151).

6Tal informação é proveniente do “relatório de viagem ao rio Tapajós”, elaborado por Rita Heloísa de Almeida, em
atendimento à designação da Funai.
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57. Destaco que o MME chegou a agendar o leilão de compra de energia proveniente de São
Luiz do Tapajós para dezembro de 2014 (Portaria MME 485/2014), decisão posteriormente revogada
sob o argumento de haver necessidades de adequações nos estudos associados ao componente
indígena.
58. Em fevereiro de 2016, a Funai apensou ao processo de licenciamento ambiental os
pareceres que atestavam a “inviabilidade constitucional do empreendimento” (peça 33).
59. Em junho de 2016, a Presidência da Funai encaminhou ofício ao Ibama informando que há
óbices legais e constitucionais no processo de licenciamento ambiental em questão, vez que inexistia
lei regulamentadora ou autorização do Congresso Nacional para exploração hidrelétrica da área
em referência, bem como a vedação constitucional à remoção permanente de grupos indígenas de
suas terras. Este expediente também informou que houve a publicação do relatório circunstanciado de
identificação e delimitação (RCID) da Terra Indígena Sawré Muybu, reconhecendo a ocupação
tradicional da etnia Mundurukú na região (peça 34).
60. Quanto ao RCID, destaco que a Eletrobrás protocolou contestação, argumentando que
a habitação em caráter permanente da pretensa Terra Indígena Sawré Muybu decorreu de índios
vindos de Pimental apenas no ano de 2004, ou seja, em momento posterior à promulgação da
Constituição, marco temporal que segundo a empresa deveria ser considerado para se verificar a
tradicionalidade das ocupações indígenas (peça 35, p. 69-113). Inobstante, a DPT manifestou-se a
respeito apenas dois anos depois, em 5/4/2019 (peça 62), sendo que até o final dos trabalhos de
auditoria não havia qualquer pronunciamento da presidência da entidade a respeito (peça 79, p.
36).
61. Ao fim e ao cabo, o processo de licenciamento da UHE São Luiz do Tapajós foi
arquivado pelo Ibama em agosto de 2016. A Eletrobrás teria protocolado recurso de
reconsideração contra a decisão de arquivamento do processo, mas o recurso foi indeferido pelo
Ibama (peça 36).
62. Aproveito para destacar a atuação do MPF no referido processo de licenciamento, em
diversas etapas, além daquela mencionada no item 46 supra, chegando a recomendar ao Ibama, por
meio da Procuradoria da República no Município de Santarém, que realizasse o cancelamento
“definitivamente, no prazo máximo de 10 (dez) dias úteis, [d]o processo de licenciamento ambiental da
Usina Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, acatando os pareceres técnicos e jurídicos da Funai” (TC
029.192/2016-1, peça 77, p. 80, item 26).
IV
63. A partir de acurado exame dos autos dos processos administrativos que deram suporte aos
eventos supramencionados, a unidade técnica aponta as seguintes conclusões, quanto à atuação do
Ibama:
a) a atuação do Ibama foi tempestiva, na medida em que levou 37 dias para conclusão do
termo de referência (contra os sessenta dias previstos no art. 11 da IN 184/2008), demandou os OEIs
em seis dias (sendo de dez dias o prazo regulamentar) e a etapa de análise do EIA, mesmo não tendo
sido realizada por completo, ficou 163 dias sob responsabilidade do Ibama (excluindo-se as
interrupções), o que estaria dentro do prazo de 180 dias - art. 20 da IN 184/2008 (peça 79, p. 16-20);
b) a despeito de não terem sido adotadas as “boas práticas” indicadas na
IN Ibama 184/2008 para a elaboração do Termo de referência, as atividades do Ibama para o AHE-
SLT foram compatíveis com as normas constitucionais, legais e regulamentares (peça 79, p. 20-21).

64. Já no que se refere à atuação da Funai, as conclusões instrutórias apontam para


sentido diverso, a saber:
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a) ausência de evidências de ter adotado as medidas necessárias para garantir a


realização da consulta prévia aos povos indígenas em relação ao AHE São Luiz do Tapajós (peça
79, p. 26-28);
b) a atuação da Funai não foi tempestiva, impactando diretamente o processo de
licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós (peça 79, p. 37-39);
c) inexiste regulamentação quanto à atuação da DPT no processo de licenciamento
ambiental, inclusive quanto ao prazo para sua manifestação (peça 79, p. 36-37);
d) inexiste padronização quanto à atuação de diferentes setores da Funai nos processos
de licenciamento socioambiental (peça 79, p. 36-37).

65. A tais falhas acresce-se constatação da auditoria apreciada pelo Acórdão 2.723/2017-TCU-
Plenário, quanto à necessidade da “integração de todos os órgãos públicos que, de alguma forma,
possam vir a se tornar atores no processo” do licenciamento socioambiental de empreendimentos
hidrelétricos, deliberação monitorada no bojo do Acórdão 2.835/2020-Plenário, Relator Ministro
Raimundo Carreiro.
66. Ante tal diagnóstico, a unidade técnica propôs determinar à Funai: (i) a elaboração de
plano de trabalho voltado à conclusão definitiva dos processos de identificação e delimitação das
supostas terras indígenas Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in; e (ii) a elaboração de ato
normativo regulamentando a participação da Diretoria de Proteção Territorial (DPT) nos processos de
licenciamento socioambiental desempenhados na autarquia, notadamente no que se refere a prazos de
atuação.
67. Com as devidas vênias, deixo de acatar tal proposta.
68. A despeito de acolher a análise empreendida, incorporando-a às minhas razões de decidir,
a meu sentir o estado de coisas evidenciado pugna por reavaliação mais ampla dos atos normativos que
regem a participação da Funai no processo de licenciamento de empreendimentos hidrelétricos e,
naquilo que lhe for conexo, dos atos normativos relacionados à delimitação e demarcação de TIs.
69. A par da análise instrutória, é forçoso reconhecer que, na prática, observou-se uma
oposição sistemática à realização do empreendimento, a qual foi fundamentada na necessidade de
ingresso em pretensa terra indígena, a qual depende de autorização da Funai, considerando a
manifestação dos povos indígenas afetados, consoante destacado no item 24 deste Voto (IN 2/2018,
art. 18 – peça 24, p. 7) – bem como na necessidade de deslocamento dos indígenas atualmente
residentes na região.
70. Tal oposição ao empreendimento, considerado estratégico, de interesse público,
estruturante e prioritário para efeito de licitação e implantação (peça 18 - Resolução CNPE 3/2011),
decorreu única e exclusivamente da avaliação quanto ao impacto do empreendimento sobre o
componente indígena, em território ainda não reconhecido cabalmente como tal,
desconsiderando todas as demais dimensões que deveriam permear a decisão que envolve a
expansão da geração de energia elétrica (técnica, econômica, ambiental etc), consoante indicado no
Voto Revisor que apresentei no TC 029.192/2016-1, por ocasião da prolação do Acórdão 2.723/2017-
Plenário, in verbis:
“17. Como se vê, a opção pela não realização de uma hidrelétrica, digamos com
fundamento em seus efeitos socioambientais negativos locais, pode redundar em impactos
econômicos e financeiros bastante negativos em nível nacional e impactos ambientais em nível
global. Entendo que a adequada avaliação de custos e benefícios, e especialmente de trade-offs
entre as diversas opções, não pode ser realizada de forma simplista, com fundamento em apenas um
aspecto.
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18. Resumindo, pode-se afirmar que:


(......................................)
c) tomando a segurança energética nacional como critério, entendo que devamos aceitar
que apenas algumas tecnologias se prestam, no momento, a gerar energia na base (critério da
despachabilidade, i.e. elevada disponibilidade), quais sejam: hidrelétricas, termelétricas
convencionais (carvão, óleo, gás) e termelétricas nucleares;
d) respeitado esse critério relativo à segurança energética, deveremos então avaliar quais
entre essas tecnologias disponíveis se mostram a cada momento, em cada situação, a mais adequada
aos interesses do país, para o que deverão ser avaliadas, no mínimo, quatro variáveis: técnica,
ambiental, social, e econômico-financeira.
19. Importante salientar neste ponto que as normas constitucionais e infraconstitucionais
não estabelecem que qualquer dessas variáveis seja a priori absoluta ou prevalente sobre as demais.
20. Ocorre que, conforme descrito na instrução da unidade técnica, os órgãos e
instituições encarregados de realizar as análises individuais dessas variáveis acabam detendo
o poder, na prática, de excluir ou vetar a utilização de uma determinada tecnologia ou a
implantação de um projeto, não importando quão favoráveis possam ser as avaliações
realizadas por outros órgãos em relação às outras variáveis e não importando quão
desfavoráveis possam ser as opções a serem adotadas, a seguir ao veto ou exclusão, em relação
às outras variáveis.
21. Ora, se a tomada de decisão aponta para a necessidade de que sejam sopesadas
no mínimo as quatro variáveis referidas (técnica, ambiental, social e econômico-financeira), a
tomada de decisão sobre a utilização de determinada tecnologia ou sobre a viabilidade de
determinado projeto não pode ser tomada, por óbvio, por quem se encontra encarregado da
avaliação de apenas uma dessas variáveis, uma vez que nenhuma delas é a priori absoluta e/ou
prevalente sobre as demais. Mas não é isso que vem ocorrendo”. (g.n.)

71. No presente caso, consoante análise-comparativa realizada pela EPE, permito-me frisar, a
substituição da UHE-SLT por usina termelétrica a gás natural em ciclo combinado implicaria custo
adicional anual da oferta (investimento + operação) de R$ 774,4 milhões anuais, o que perfaz R$ 23
bilhões ao longo da concessão de uma hidrelétrica (30 anos), bem como aumento de emissões
anuais de gases causadores de efeito estufa de 6,5 milhões de toneladas de CO2, o que significa um
crescimento de 21% nas emissões totais em relação à configuração de referência (TC 019.228/2014-7,
peça 340, p. 11-12).
72. Nesse sentido, repiso que considero absolutamente alarmante a atual perspectiva de
enfrentamento da necessidade de geração de energia nova a custos aceitáveis pela sociedade, de sorte
que o presente trabalho reforça a necessidade da reformulação do atual modelo decisório-
licenciatório em matéria de expansão da geração de energia elétrica, o que guarda relação com a
deliberação expedida no bojo do Acórdão 1.631/2018-Plenário, de minha relatoria, que tratou de
monitoramento do tema segurança energética:
“9.8. recomendar à Presidência da República a criação de instância decisória formal,
supra e interinstitucional, presidida por representante direto do Presidente da República, que,
subsidiada pelas avaliações (pareceres, propostas, avaliações etc.) sobre as variáveis individuais
(técnica, econômica, ambiental e social) e sobre as alternativas possíveis, elaboradas pelos órgãos
e instituições competentes, decida, com base no menor impacto econômico, social e ambiental,
considerando compromissos de segurança energética, modicidade tarifária, cumprimento de acordos
internacionais e da legislação regente e em nome do Estado e do povo brasileiro, com a
transparência devida, qual tecnologia e/ou qual projeto de geração de energia elétrica será
adotado e, em contrapartida, quais ônus serão assumidos, por quem serão assumidos e de que
forma serão compensados”. (g.n.)
11

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V
73. Em outro giro, mas sem pretender deliberar a respeito de matéria que refoge à competência
desta Corte, faz-se oportuno salientar a insegurança jurídica relacionada aos processos de
demarcação de terras indígenas, os quais se relacionam intimamente com o licenciamento ambiental
envolvendo componente indígena.
74. Friso que, segundo dados constantes do sítio eletrônico da Funai7, haveria ainda no
território brasileiro 119 “terras tradicionalmente ocupadas por índios” em fase de estudo no Brasil, sem
se precisar a respectiva superfície alcançada.
75. Outro dado auxilia na compreensão da importância da presente questão.
76. O Documento de Apoio ao Plano Nacional de Energia (PNE 2050), disponível no sítio
eletrônico da EPE (“05.01 Hidreletricidade.pdf”), registra que o potencial hidrelétrico inventariado
e não explorado brasileiro é de 52 GW, sendo que o aproveitamento de cerca de 30 GW (57%)
apresenta algum tipo de sobreposição com terras indígenas (p. 5), além de parcialmente afetar
territórios quilombolas ou unidades de conservação ambiental.
77. Sem descurar da necessária proteção dos povos indígenas, os brasileiros não podem
prescindir nem podem ser privados dos imensos benefícios advindos do uso futuro desse enorme
potencial hidrelétrico ainda não explorado. Se isso vier a acontecer, será, na minha opinião, um
dos maiores males causados à população brasileira, incluindo evidentemente os indígenas, pois
somos um só povo.
78. Não me parece imaginável que o Executivo Federal e o Congresso Nacional não sejam
capazes de encontrar um ponto de equilíbrio, uma solução, para essa relevante questão.
79. Assim, além da ausência de regulamentação do §3º do art. 231 da CF – a despeito da
tramitação na Câmara dos Deputados do recente PL 191/2020 – ou da Convenção OIT 169 – já
discutida nesta Corte em outras assentadas, como no Acórdão 2.723/2017-Plenário –, a análise do caso
em epígrafe aponta ainda a existência de outras fontes de insegurança jurídica:
“a) Interpretação dada ao disposto no §1º do art. 231 da CF8, pela Procuradoria da Funai,
quanto aos requisitos efetivamente necessários para se comprovar o direito dos indígenas à posse da
terra em razão da “tradicionalidade da ocupação”; e
b) Exigência da realização de estudo do componente indígena também para áreas não
demarcadas ou nem mesmo delimitadas”.

80. No que se refere ao item (a) supra, cumpre destacar a decisão do Supremo no bojo da
Petição 3.388-4/RR (caso Raposa Serra do Sol), de 2009, em que se entendeu que a tradicionalidade da
ocupação indígena deveria ser verificada tomando por base a data da promulgação da atual
Constituição Federal (5/10/1988).
81. A par deste posicionamento, a análise levada a cabo pela Funai, no presente caso
concreto, se desprendeu daquela decisão da Suprema Corte, considerando-se que tal entendimento

7http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas <acesso em 23/8/2019>


8 CF, art. 231, § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as
utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-
estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
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não ostentaria caráter vinculante9. Portanto, há indícios de que inconstitucional foi a análise e a decisão
da Funai e não a viabilidade do empreendimento, como ao final decidiu.
82. Destaco, por oportuno, que naquela oportunidade o STF chegou a estabelecer dezenove
condições (“salvaguardas institucionais”) para a demarcação de terras indígenas, entre as quais10:
“(II) o usufruto dos índios não abrange o aproveitamento de recursos hídricos e potenciais
energéticos, que dependerá sempre de autorização do Congresso Nacional; (...)
(V) o usufruto dos índios não se sobrepõe ao interesse da política de defesa nacional; a
instalação de bases, unidades e postos militares e demais intervenções militares, a expansão
estratégica da malha viária, a exploração de alternativas energéticas de cunho estratégico e o
resguardo das riquezas de cunho estratégico, a critério dos órgãos competentes (Ministério da
Defesa e Conselho de Defesa Nacional), serão implementados independentemente de consulta às
comunidades indígenas envolvidas ou à FUNAI; (...)
(XVII) é vedada a ampliação da terra indígena já demarcada”. (g.n.)

83. A partir das salvaguardas II e V, acima, observa-se a ressalva à “exploração de alternativas


energéticas de cunho estratégico (...) serão implementados independentemente de consulta às
comunidades indígenas envolvidas ou à FUNAI”.
84. Ao menos em duas oportunidades, o Poder Executivo Federal buscou estabelecer a
cogência das salvaguardas estabelecidas pelo STF no bojo da Petição 3.388-4/RR, considerando-se a
Portaria AGU 303/2012 e a Portaria MJ 68/2017.
85. Outra tentativa de redução da insegurança jurídica que gravita em torno da questão diz
respeito à publicação do Parecer Normativo 001/2017/AGU, aprovado pelo Presidente da República,
nos termos do art. 40 da Lei Complementar 73/1993, consoante publicação no DOU de 20/7/201711, o
qual teve efeitos suspensos por meio de decisão proferida pelo e. Ministro Edson Fachin (RE
1017365).
86. No tocante ao item (b) do parágrafo 74 supra, a Procuradoria Especializada junto à Funai
assim se manifestou (peça 77, p. 4), por ocasião da apresentação dos estudos em 2014:
“19. As terras indígenas são consideradas pela Constituição de 1988 e pela legislação
ordinária como preexistentes à própria ordem constitucional, sendo reconhecidos vários efeitos
jurídicos decorrentes dessa situação pretérita.
20. Diante disso, verifica-se que a proibição constitucional de remoção dos indígenas de
suas terras compreende os territórios ainda não demarcados pelo Poder Público, que é o caso
em apreço.
21. Em que pese não tenha sido ainda publicado o RCID, a demora do Estado Brasileiro
em proceder à demarcação das terras tradicionais não descaracteriza ou desconstitui o direito de
ocupação dos povos indígenas”. (Grifos no original.)

87. Bem se vê a insegurança jurídica que tal entendimento gera, na medida em que é
desconhecida, por parte da Administração Pública, a efetiva localização, dimensão ou os próprios

9 Entendimento escorado em Acórdão proferido em sede de Embargos de Declaração na Petição


3.388/RR. http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=5214423 <acesso em 23/8/2019>
10 http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=630133 <acesso em 23/8/2019>
11 https://www.planalto.gov.br/CCiViL_03/AGU/PRC-GMF-05-2017.htm <acesso em 23/8/2019>

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dados cartográficos de todas estas pretensas terras indígenas, ao mesmo tempo em que a
Administração recomendada sua inclusão nos estudos.
88. No presente caso, ganha relevo o fato de a suposta TI Sawré Muybu – delimitada no ano de
2016 – ter sido alegadamente o principal óbice ao licenciamento do empreendimento – cuja licença
ambiental prévia foi pleiteada em 2009 –, sendo que os autos suscitam dúvidas quanto à sua efetiva
qualificação como terra indígena, não tendo sido demarcada até o presente momento.
89. Por outro lado, vale destacar que, ao longo do processo de licenciamento, nada mais se
mencionou a respeito da TI Andirá-Marau, a qual consistia na única TI tradicionalmente ocupada já
demarcada à época da manifestação inicial da Funai.
90. De toda forma, a despeito da interpretação conferida pela Funai, no presente caso concreto,
não se pode afastar a existência de decisão judicial, decorrente de intervenção do MPF, no sentido de
assegurar a “participação de todas as comunidades, sejam elas indígenas ou tribais, (...), que podem ser
afetadas com a implantação do empreendimento”, considerando inclusive o que dispõe o art. 25 da Lei
6.001/1973 (Estatuto do Índio), prevendo que o "reconhecimento do direito dos índios e grupos tribais
à posse permanente das terras por eles habitadas (...) independerá de sua demarcação”.
91. Para além das controvérsias jurídicas supramencionadas, há outro aspecto de sobremodo
relevo a ser destacado: a posição absolutamente estratégica que a Funai assume no processo de
licenciamento de empreendimentos hidrelétricos especialmente na região norte do país, como o do
AHE-SLT.
92. A partir das decisões daquela entidade nos processos de demarcação das terras
tradicionalmente ocupadas, opera-se o afastamento de um título de propriedade por meio de ato
administrativo fundamentado na análise empreendida pela Fundação.
93. Poder-se-ia argumentar que a demarcação territorial, propriamente dita, exigiria ainda a
manifestação da Presidência da República, bem como do Ministro da Justiça e Segurança Pública (nos
termos do §9º do art. 2º do Decreto 1.775/1996), extrapolando a esfera de atribuições da entidade
indigenista. Inobstante, como destacado acima, para fins de licenciamento ambiental do AHE-SLT,
não se exigiu que a área estivesse efetivamente demarcada, porquanto a existência de áreas
meramente “em estudo” foi suficiente para se “recomendar” a realização de Estudo de
Componente Indígena (ECI), inclusive com “coleta de dados primários”, a qual foi
posteriormente delimitada por meio de ato exclusivo da Funai.
94. Tal raciocínio nos permite concluir pelo enorme peso que as decisões da Funai têm
assumido para o país, inclusive para projetos considerados estratégicos para a segurança energética
nacional. Este quadro corrobora, a meu ver, a necessidade da reformulação do atual modelo
decisório-licenciatório em matéria de expansão da geração de energia elétrica, a fim de que todas as
dimensões decorrentes da decisão licenciatória sejam avaliadas, cotejadas, comparadas com
soluções alternativas, ao menos em termos técnicos, econômico-financeiros e socioambientais
(globais e locais), reforçando a importância da deliberação proferida no Acórdão 1.631/2018-
Plenário, em especial seu item 9.8.
95. Em síntese, a atual sistemática leva o país a possuir uma matriz energética subótima,
potencialmente gerando energia elétrica mais cara e mais poluente do que poderia alcançar a partir
de decisões mais estratégicas para a nação.
96. A comparação traçada pela EPE é, como se viu, bastante esclarecedora quanto aos
sobrecustos que tais decisões geram à sociedade brasileira e ao meio ambiente, notadamente em
relação às emissões de GEE. Considerando a perspectiva de ampliação em 20% da capacidade de
geração nos próximos dez anos (PDE 2030), pode-se concluir que os efeitos deletérios da ausência do
adequado endereçamento de tais decisões irão penalizar ainda mais o país.

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97. Sob o atual modelo, a partir da visão limitada que possui cada agente que atua no
processo de licenciamento ambiental (inerente ao modelo) e inexistindo instância decisória “supra e
interinstitucional” com a prerrogativa de tomar decisões que considerem o conjunto das variáveis, a
cada nova expansão, o país está correndo o risco de onerar ainda mais a geração de energia elétrica e
torná-la adicionalmente poluente.
98. Em outras palavras, considerando que, atualmente, cada uma das avaliações sobre
dimensões individuais da decisão pela expansão de energia elétrica (técnica, econômica, ambiental e
social) não é cotejada com as demais, a fim de se buscar o adequado “trade off”, cada vez mais o país
distancia-se de sua “matriz energética ótima”, em prejuízo do povo brasileiro, de sua economia e do
meio ambiente.
99. Vislumbro, assim, que as conclusões do presente trabalho reforçam a necessidade de
reformulação do atual modelo decisório-licenciatório em matéria de expansão da geração de
energia elétrica, constatação endereçada por meio do item 9.8 do Acórdão 1.631/2018-Plenário, de
sorte que proponho reencaminhar a questão à Presidência da República, bem como dar ciência à
Presidência da Câmara dos Deputados, à Presidências do Senado Federal e aos Ministérios da Justiça e
Segurança Pública, do Meio Ambiente, de Minas e Energia, da Infraestrutura.
100. Além disso, a insegurança jurídica aqui relatada clama, como adiantado no item 68 deste
Voto, por uma ampla reavaliação dos atos normativos relacionados à participação da Funai no
licenciamento de empreendimentos hidrelétricos, inclusive da participação da Diretoria de Proteção
Territorial (DPT), bem como dos procedimentos de delimitação e demarcação de TIs subjacentes ao
licenciamento dos referidos empreendimentos, confrontando tais expedientes com (i) as atuais
disposições constitucionais, (ii) a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a respeito da matéria e
(iii) a legislação aplicável.
VI
101. Em outro giro, faz-se mister destacar situação de possível conflito de interesse detectada
pela equipe de auditoria, atinente à atuação do Sr. Deuzivaldo Saw Munduruku no processo de
licenciamento de AHE-SLT.
102. A partir de seu sobrenome, infere-se que ele é da etnia Munduruku. Inobstante, os autos
dão conta de que o responsável exerceu a atribuição de Coordenador Regional do Tapajós,
representação da Funai para os assuntos da região (peça 57), tendo sido servidor comissionado da
Funai, em cargos em comissão DAS 1 e 3, entre os anos de 2010 e 201512.
103. Além disso, tal agente também teria sido o dirigente da Associação Indígena Pahyhy’P,
ao menos nos anos de 2006 e 2008, a qual apresentara, posteriormente, reivindicações atinentes à
demarcação das supostas terras indígenas Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’ In (peça 44,
p. 242).
104. A propósito, destaco que tal entidade chegou a receber recursos federais no ano de 2006,
durante a gestão do Sr. Deuzivaldo Saw Munduruku (peça 58, p. 131), no âmbito de transferência
voluntária realizada pelo FNDE, para a qual não houve comprovação da aplicação dos recursos
públicos, tendo sido o responsável e a entidade condenados perante esta Corte (Acórdãos 3.711/2013,
Relator Ministro José Jorge; e 4.182/2016, Relator Ministro Vital do Rêgo, ambos da 2ª Câmara).
105. Retornando ao tema tratado nos presentes autos, é forçoso reconhecer que a situação de
aparente conflito de interesses observada mostra-se absolutamente inadmissível, diante do peso da
decisão da Funai para admitir ou não o processo de licenciamento do empreendimento em epígrafe, na
prática tendo poder de vetar, como vetou, o licenciamento por ato exclusivo.

12 http://transparencia.gov.br/busca/pessoa-fisica/5711593-deuzivaldo-saw-munduruku <acesso em 12/11/2020>


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106. Face a tais considerações acolho a proposta instrutória no sentido de promover a oitiva da
Funai, determinando-se que tal exame se dê no âmbito de processo apartado, o qual deverá objetivar (i)
a apuração das circunstâncias que gravitam em torno do aparente conflito de interesses, inclusive
responsabilidades pela designação do Coordenador, (ii) identificar a atuação do Sr. Deuzivaldo Saw
Munduruku no desenvolvimento das atividades necessárias às avaliações do licenciamento
socioambiental do projeto de São Luiz do Tapajós, dado ter sido titular à época da Coordenação
Regional do Tapajós e (iii) avaliar a regularidade dos atos praticados pelo responsável que vierem a ser
identificados. No referido apartado, fica a unidade técnica desde já autorizada a promover as inspeções
e diligências à Funai que se fizerem necessárias com o intuito de se desnudar todas as circunstâncias e
responsabilidades pelas designações em questão.
Ante o exposto, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à
deliberação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 24 de março de
2021.

AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI


Relator

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GRUPO II – CLASSE V – PLENÁRIO


TC 027.601/2018-8
Natureza: Relatório de Auditoria
Órgão/Entidade/Unidade: Fundação Nacional do Índio; Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Representação legal: não há

SUMÁRIO: AUDITORIA. LICENCIAMENTO SOCIOAMBIENTAL. AHE


SÃO LUIZ DE TAPAJÓS. ATUAÇÃO DA FUNAI E DO IBAMA. NÃO
CONCLUSÃO DOS PROCESSOS DE DELIMITAÇÃO E DEMARCAÇÃO
PARA TODAS AS PRETENSAS TERRAS INDÍGENAS SUPOSTAMENTE
AFETADAS. CONFLITO DE INTERESSES. INSEGURANÇA JURÍDICA.
OITIVA DA FUNAI. DETERMINAÇÃO.

RELATÓRIO

Adoto, como relatório, excerto da instrução vazada à peça 79 dos autos pela equipe de
auditoria, anuída pelos dirigentes da SeinfraElétrica (peças 80-81):
“I. Apresentação
1. O presente trabalho decorre do item 9.5 do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, de relatoria
do Exmo. Min. José Múcio, o qual determinou a esta Secretaria a realização de auditoria de
conformidade na Fundação Nacional do Índio (Funai) e no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Renováveis (Ibama), em parceria com a Secretaria de Controle Externo do TCU no Mato
Grosso (Secex-MT) e com a Secretaria de Controle Externo de Agricultura e Meio Ambiente
(SecexAgroAmbiental), voltada a verificar a atuação dos referidos órgãos nos processos de
licenciamento socioambiental do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) São Luiz do Tapajós.
2. Na etapa inicial dos trabalhos, iniciou-se a fiscalização na Funai, com equipe de auditoria
composta por servidores da SeinfraElétrica e da Secex-MT (peça 2), posto que, à época, a
SecexAgroAmbiental (unidade que detém a responsabilidade pela clientela do Ibama) conduzia
trabalho mais amplo sobre o licenciamento ambiental federal no âmbito do Ibama. Posteriormente,
foi acrescida à equipe a participação da SecexAgroAmbiental (peça 9) passando-se o foco para o
Ibama.
3. Dessa forma, esta auditoria de conformidade tem como objetivo avaliar a atuação da Funai
e do Ibama no processo de licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós, estando o
presente relatório estruturado de acordo com o que estabelecem os Padrões de Auditoria de
Conformidade (PAC) e as Orientações de Auditoria de Conformidade (OAC) do Tribunal de Contas
da União.
II. Introdução
II.1. Deliberação que originou o trabalho
4. Em cumprimento ao item 9.5 do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, relator Ministro José
Múcio, realizou-se a auditoria no período compreendido entre 13/8/2018 a 28/9/2018 e 25/2/2019 a
29/3/2019, a fim de avaliar os procedimentos adotados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis e Fundação Nacional do Índio relativos ao licenciamento
ambiental do AHE São Luiz do Tapajós.

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5. As razões que motivaram esta auditoria foram as deficiências detectadas no processo de


licenciamento ambiental relativo ao AHE São Luiz do Tapajós (avaliado como estudo de caso na
auditoria desempenhada no âmbito do TC 029.192/2016-1, apreciada pelo Acórdão supracitado),
especialmente quanto à elaboração dos estudos relativos ao componente indígena daquele processo.
6. Naquela oportunidade, verificou-se que o empreendimento poderia ocasionar impacto
socioambiental em terras tradicionalmente ocupadas por comunidades indígenas, competindo à
Funai, na qualidade de órgão interveniente, se manifestar sobre a viabilidade do empreendimento.
No entanto, em decorrência de descompassos entre os órgãos integrantes da estrutura de governo, os
empreendedores não obtiveram permissão para ingressar as possíveis terras indígenas (ainda em
análise) e realizar os levantamentos de dados primários que eram demandados para a conclusão dos
estudos de viabilidade, conduzindo ao arquivamento deste processo de licenciamento em 2016 por
não terem sido entregues os estudos exigidos dentro do prazo estabelecido nos normativos
aplicáveis.
7. Assim, esta fiscalização buscou não somente identificar as eventuais falhas do processo de
licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós, mas também apontar algumas possíveis
soluções normativas e procedimentais para os problemas identificados.
II.2. Objetivo e questões de auditoria
8. A presente auditoria teve por objetivo avaliar os procedimentos adotados pela Fundação
Nacional do Índio (Funai) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) relativos ao licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós.
9. A partir do objetivo do trabalho, e em consonância com o item 9.5 do Acordão 2.723/2017-
TCU-Plenário, relator Min. José Múcio Monteiro, formularam-se as questões adiante indicadas:
1) Há procedimento padrão na Funai para tratamento de pedidos de licenciamento
ambiental?
2) O processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós na Funai
encontra-se devidamente documentado?
3) A atuação da Funai no processo do AHE São Luiz do Tapajós respeitou os
mandamentos legais e constitucionais atribuídos à fundação?
4) As decisões tomadas pela Funai no processo de licenciamento do AHE São Luiz do
Tapajós levaram em consideração as necessidades de segurança energética do país, bem como
possíveis impactos decorrentes?
5) Há procedimento padrão no Ibama para tratamento de pedidos de licenciamento
ambiental?
6) O processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós no Ibama
encontra-se devidamente documentado, tendo o Ibama respeitado as normas constitucionais, legais
e regulamentares que incidem sobre a matéria?
7) As decisões tomadas pelo Ibama no processo de licenciamento do AHE São Luiz do
Tapajós levaram em consideração as necessidades de segurança energética do país, bem como
possíveis impactos decorrentes?
10. A Matriz de Planejamento desta auditoria encontra-se consolidada na peça 16.
II.3. Metodologia utilizada
11. O escopo do presente trabalho consistiu primordialmente em avaliar os processos de
licenciamento ambiental relativos ao AHE São Luiz do Tapajós instaurados e conduzidos pelo

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Fundação
Nacional do Índio (Funai), de maneira a verificar a atuação de ambos.
12. Os seguintes métodos e técnicas de auditoria foram utilizados no decorrer da presente
fiscalização: análise documental, processual e de normativos; e entrevista com servidores da Funai e
Ibama. Também foram encaminhados ofícios de requisição ao instituto e à fundação autárquica
como forma de obter informações adicionais às que constam nos processos administrativos.
13. Por fim, cabe destacar que os trabalhos foram realizados em conformidade com as Normas
de Auditoria do Tribunal de Contas da União (Portaria-TCU 280, de 8 de dezembro de 2010,
alterada pela Portaria-TCU 168 de 30 de junho de 2011) e com observância aos Padrões de
Auditoria de Conformidade estabelecidos pelo TCU (Portaria-Segecex 26 de19 de outubro de
2009).
II.4. Limitações inerentes à auditoria
14. A equipe de auditoria não se deparou com limitações significativas ao longo dos trabalhos.
II.5. Volume de recursos fiscalizados
15. Em se tratando de auditoria de conformidade voltada a avaliar procedimentos
administrativos associados ao licenciamento ambiental do empreendimento em questão, não há
como se calcular um volume tangível de recursos fiscalizados sem grande incerteza, motivo pelo
qual deixa-se de apresentar um valor objetivo.
II.6. Benefícios estimados da fiscalização
16. Entre os benefícios estimados desta fiscalização pode-se mencionar uma atuação focada
nos procedimentos da Funai e do Ibama que têm correlação com o caso concreto, realizando uma
avaliação direta desses com o fito de aperfeiçoar os mecanismos existentes e a participação da
fundação e do instituto nos processos de licenciamento socioambiental.
III. Visão geral do objeto
17. Objeto de análises há mais de trinta anos, o rio Tapajós teve seus estudos de inventário
aprovados mediante o Despacho Aneel 1.887/2009, que concluiu por um aproveitamento
hidrelétrico na bacia da ordem de 14.245 MW, sendo o AHE São Luiz do Tapajós o maior deles,
inicialmente identificado com um potencial de 6.133 MW (peça 17).
18. Posteriormente, o Governo Federal considerou o AHE São Luiz do Tapajós, um dos
potenciais barráveis identificados no curso do rio, um projeto estratégico, de interesse público,
estruturante e prioritário para efeito de licitação e implantação, conforme disposto na Resolução
CNPE 3/2011 (peça 18).
19. O processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós foi iniciado em 2009
sob o número 02001.003643/2009-77 (peça 19), sendo conduzido pelo Ibama, autarquia federal
competente para executar ações das políticas nacionais de meio ambiente relativas ao licenciamento
ambiental, conforme dispõe o art. 2º da Lei 7.735/1989.
20. Conforme explicado pelo art. 2º da Lei Complementar 140/2011, o licenciamento
ambiental é o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, de qualquer
forma, de causar degradação ambiental.
21. Por sua vez, a licença ambiental para empreendimentos e atividades considerados efetiva
ou potencialmente causadoras de significativa degradação depende de prévio estudo de impacto
ambiental (EIA) e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (Rima), conforme dispõe
o art. 3º da Resolução 237/1997 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
3

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22. Ao tempo da autuação do processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do


Tapajós, vigorava a Portaria Interministerial 419/2011, a qual regulamentava a atuação dos órgãos e
entidades da Administração Pública Federal envolvidos nos processos de licenciamento ambiental.
23. Segundo o art. 2º, inciso X, da referida portaria, as terras indígenas seriam as áreas
ocupadas por povos indígenas, cujo relatório circunstanciado de identificação e delimitação tenha
sido aprovado por portaria da Funai, publicada no Diário Oficial da União, ou áreas que tenham
sido objeto de portaria de interdição expedida pela Funai em razão da localização de índios
isolados.
24. Verificada a possibilidade de o AHE São Luiz do Tapajós impactar terras possivelmente de
ocupação tradicional por comunidades indígenas, a Funai foi instada a se manifestar sobre os
eventuais impactos socioambientais identificados nos estudos ambientais, bem como apreciar a
adequação das medidas de controle e de mitigação decorrentes desses impactos.
25. A despeito do longo período destinado aos estudos do aproveitamento, o processo de
licenciamento acabou sendo arquivado pelo Ibama em 2016 devido à não apresentação de
informações complementares dos estudos ambientais que haviam sido solicitadas pelo próprio
órgão indigenista, as quais não puderam ser obtidas em virtude do impedimento de acesso às
potenciais áreas indígenas (peça 20, p. 113).
26. Auditoria realizada por esta unidade técnica do TCU a fim de verificar o processo de
estruturação de grandes empreendimentos hidrelétricos apontou pouca integração para o
alinhamento estratégico das políticas setoriais elétrica e socioambiental, tendo destaque o estudo de
caso apresentado, do AHE São Luiz do Tapajós.
27. Neste sentido, o Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, relatado pelo Min. José Múcio
Monteiro, determinou a realização de auditoria específica para este caso concreto, a fim de se
verificar, dentre outros aspectos, o planejamento elaborado pela Funai e Ibama, bem como os
procedimentos adotados pelas referidas entidades no que tange ao licenciamento socioambiental do
empreendimento.
28. Dessa forma, mostra-se oportuno, preliminarmente, apresentar informações gerais acerca
do licenciamento socioambiental federal, destacando-se a participação do Ibama e da Funai.
III.1. O licenciamento ambiental federal – LAF
29. Inicialmente, como forma de fornecer embasamento teórico mínimo, e com vistas à
identificação de um procedimento padrão para os processos de licenciamento ambiental federal,
mostra-se oportuno apresentar breve resumo de como este está organizado atualmente.
30. Considerando essa temática foi amplamente abordada em trabalho recente desta Corte de
Contas no âmbito do TC 024.048/2018-6, apreciado pelo Acórdão 1.789/2019-TCU-Plenário, de
relatoria do Min. Weder de Oliveira, em auditoria operacional desempenhada pela Secretaria de
Controle Externo da Agricultura e do Meio Ambiente (SecexAgroAmbiental), serão mencionadas,
neste trabalho, as exposições consideradas pertinentes e oportunas à contextualização da matéria,
sempre de maneira referenciada.
III.1.1. Estrutura normativa aplicada ao processo de Licenciamento Ambiental Federal - LAF
31. De acordo com o que define o Ibama, em conceito apresentado no relatório da mencionada
auditoria (TC 024.048/2018-6, peça 27, p.8), o licenciamento ambiental ‘tem, por princípio, a
conciliação do desenvolvimento econômico com o uso dos recursos naturais, de modo a assegurar a
sustentabilidade dos ecossistemas em suas variabilidades físicas, bióticas, socioculturais e
econômicas’.

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32. O art. 10 da Lei 6.938/1981 define que ‘a construção, instalação, ampliação e


funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental
dependerão de prévio licenciamento ambiental’.
33. Existem três licenças ambientais distintas, todas necessárias, via de regra, à construção e
operação de um novo empreendimento, as quais foram adequadamente definidas e apresentadas no
relatório da SecexAgroAmbiental, conforme o trecho destacado a seguir (TC 024.048/2018-6, peça
27, p.8):
A Resolução Conama 237/1997 estabelece três tipos de licenças ambientais:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade
aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos
básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as
especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle
ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do
efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e
condicionantes determinados para a operação.
34. A coordenação responsável por realizar a análise de empreendimentos hidrelétricos
intitula-se COHID – Coordenação de Licitação de Hidrelétricas, Hidrovias e Estruturas Fluviais – e
está subordinada a CGTEF – Coordenação Geral de Licitação de Empreendimentos Fluviais e
Pontuais Terrestres, coordenação essa que compõe uma das três Coordenações Gerais da Diretoria
de Licenciamento Ambiental (Dilic), departamento responsável por todas as ações relacionadas ao
licenciamento ambiental no Ibama.
35. O rito processual do Licenciamento Ambiental Federal (LAF), conforme o citado relatório
(TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 9-10), tem início com o preenchimento de uma ficha pelo
interessado junto ao Ibama, como se observa a seguir:
Para iniciar um processo de licenciamento ambiental no Ibama, o interessado deve preencher a Ficha de
Caracterização de Atividade (FCA), que é um formulário eletrônico padrão, disponível no portal de serviços
do Instituto, informando, entre outros dados: os principais elementos que caracterizam a atividade ou
empreendimento; a área de localização; e eventual intervenção em terras indígenas ou quilombolas, em bens
culturais acautelados, em unidades de conservação ou em áreas de risco ou endêmicas para malária.
A depender da área possivelmente afetada pelo projeto, a obtenção da licença prévia estará condicionada a
emissão de parecer prévio de outros órgãos e entidades federais, como a Fundação Nacional do Índio
(Funai), a Fundação Cultural Palmares (FCP), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan), e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A atuação desses órgãos e
entidades intervenientes (OEIs) no licenciamento ambiental federal é regulamentada pela Portaria
Interministerial 60/2015 e, no caso do ICMBio, pela Instrução Normativa ICMBio 7/2014 e pela Portaria
MMA 55/2014.
36. O mapa de processos à peça 21 descreve os passos necessários à obtenção da licença
prévia (LP), com as interações entre empreendedor, Ibama e órgãos e entidades intervenientes
(TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 10). Ainda, oportuno destacar trecho do relatório da auditoria da
SecexAgroAmbiental, que traz explanação detalhada acerca de como é composta a fase de obtenção
da licença prévia (LP) (TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 10):
Para fins didáticos, e de modo simplificado, a fase de LP pode ser dividida em três etapas. A etapa de
requisição inicia-se com a apresentação da FCA. Em seguida, o Ibama solicita manifestação dos OEIs e
elabora o termo de referência (TR), que estabelece o conteúdo necessário dos estudos ambientais a serem
apresentados. Os OEIs, por sua vez, elaboram os termos de referência específicos (TREs), que estabelecem o
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conteúdo necessário para análise dos impactos afetos a cada órgão ou entidade. A etapa de análise inicia-se
com a apresentação dos estudos ambientais e é concluída com a emissão de pareceres técnicos conclusivos
do Ibama e OEIs. Na etapa de decisão ocorre a emissão da LP ou o arquivamento do processo.
37. No presente trabalho, o exame enfocou os procedimentos que tratam da concessão da
licença prévia (LP), a qual atesta a viabilidade ambiental do empreendimento, aprova sua
localização e concepção e define as medidas mitigadoras e compensatórias dos impactos negativos
do projeto. Isso porque verificou-se que o processo de licenciamento do AHE São Luiz do Tapajós
passou apenas pela fase de concessão da LP, sendo arquivado antes mesmo de sua emissão, não
sendo oportuno, portanto, no caso concreto, abordar as demais etapas.
III.1.2. Atuação do Ibama na elaboração de termos de referência, na análise de estudos de impacto
ambiental e na articulação com órgãos e entidades intervenientes no LAF.
38. A fim de atender ao item 9.5.3. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário que determina que
seja feita a comparação dos procedimentos do caso concreto com o procedimento padrão e com
outros procedimentos reais similares realizados pelas entidades, mostra-se oportuno trazer alguns
dados e informações levantados pela SecexAgroAmbiental em sua auditoria sobre o Licenciamento
Ambiental Federal (LAF) no que tange à atuação do Ibama na elaboração dos termos de referência e
sua participação junto aos órgãos intervenientes.
39. Cabe esclarecer que a referida auditoria utilizou a seguinte amostra em sua análise
(TC 024.048/2018-6, peça 27, p.7):
A amostra para análise restringiu-se a processos recentes para possibilitar a avaliação da atuação do Ibama e
de órgãos e entidades intervenientes no LAF à luz da legislação atualmente em vigor. Dentro dos setores
elétrico e de transportes, selecionaram-se as tipologias licenciadas pela Coordenação-Geral de
Licenciamento de Empreendimentos Lineares Terrestres (CGLIN) em razão da representatividade em termos
de quantitativo de processos. Linhas de transmissão e rodovias – incluindo pontes rodoviárias – respondem,
respectivamente, por 85% dos processos do setor elétrico e 80% do setor de transportes
40. Registra-se que a auditoria da SecexAgroAmbiental não utilizou em sua amostra a
tipologia Usinas Hidrelétricas (UHE), pois a análise restringiu-se aos processos de licenciamento
ambiental abertos no Ibama a partir de 2015 ou que tiveram sua licença prévia emitida após 2015.
Utilizando esse critério não foi encontrada nenhuma UHE que teve sua licença prévia emitida após
esse ano.
41. Contudo, na presente auditoria, de forma a garantir um comparativo de mesma tipologia
com o caso do AHE São Luiz do Tapajós, foi selecionado o processo da Usina Hidrelétrica de São
Manoel (processo Ibama 02001.0044202007-65), empreendimento mais recente de geração
hidráulica com mais de 500 MW de potência instalada a ser concedido. Essa comparação será vista
em tópico específico deste relatório mais adiante (capítulo III.2).
42. Dessa forma, tem-se, a seguir, a atuação do Ibama na elaboração de termos de referência,
na análise de estudos de impacto ambiental e na articulação com órgãos e entidades intervenientes
no LAF de acordo com as informações obtidas no âmbito do TC 024.048/2018-6 pela
SecexAgroAmbiental.
III.1.2.1. Atuação do Ibama na elaboração de termos de referência (TR) e na análise de estudos de
impacto ambiental EIA/RIMA
43. No Relatório da SecexAgroAmbiental (TC 024.048/2018-6, peça 27) foram verificados,
entre outros pontos, a tempestividade, estruturação e padronização dos procedimentos de definição
do TR e análise do EIA/RIMA.
44. A verificação quanto à tempestividade de atuação do Ibama seguiu os prazos estipulados
nos normativos descritos na Tabela 1.

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Tabela 1 – Prazos das principais etapas da fase de LP (fonte: TC 024.048/2018-6, peça 27, p.11).
45. Da verificação de tempestividade chegou-se à conclusão que (TC 024.048/2018-6, peça 27,
p.15):
De todo modo, o levantamento aqui realizado demonstrou que, apesar de atrasos na elaboração do TR, a
atuação do Ibama vem sendo tempestiva na maior parte dos casos no licenciamento prévio para sistemas de
transmissão de energia. No caso de rodovias, é importante fazer a ressalva que o número de processos
examinados foi pequeno, pois apenas cinco processos atendiam cumulativamente a todos os requisitos
estipulados para seleção da amostra, e, destes, apenas quatro concluíram todas as etapas até a concessão da
LP. Ainda assim, é razoável inferir que, em geral, há atrasos nessa tipologia.
Nesse sentido, existe espaço para a busca de maior agilidade na atuação do Ibama. Uma das formas que têm
o potencial para proporcionar maior eficiência – além de efetividade – nas etapas de elaboração do TR e
análise de EIA é a utilização de guias técnicos de avaliação de impacto ambiental.
46. Quanto à estruturação e padronização dos procedimentos de definição do TR e análise de
EIA/RIMA, o relatório identificou baixo nível de adoção de procedimentos para aprimorar a
definição de escopo dos TRs e baixo nível de adoção guias técnicos de referência na análise do
EIA/RIMA.
47. A seguir reproduzimos trecho da análise (TC 024.048/2018-6, peça 27, p.32):
Com relação à elaboração de termos de referência e à análise de EIAs, verificou-se a necessidade de melhor
estruturação e padronização dos procedimentos de avaliação de impacto ambiental (AIA), por meio da
utilização de instrumentos como guias e documentos técnicos de referência. Não se trata de constatação
nova, uma vez que o Tribunal já se pronunciou sobre o tema, quando determinou ao Ibama a elaboração de
padrões e normas específicos para os procedimentos adotados no LAF passíveis de padronização (item 9.1.1
do Acórdão 2.212/2009-TCU-Plenário). Para atender à determinação, a autarquia vem desenvolvendo guias
de AIA por tipologia e respectivas matrizes de impacto. No entanto, os avanços na elaboração desses guias e
matrizes têm sido lentos. O Instituto espera disponibilizar o primeiro guia de AIA e respectiva matriz – da
tipologia ‘linhas de transmissão’ – para consulta pública em dezembro de 2018, cinco anos após a
contratação da empresa de consultoria que deu início ao projeto (Seção 3.2).
48. Portanto, aquela unidade concluiu que, com relação à elaboração de TRs e à análise de
EIAs, o Ibama necessita aprimorar os procedimentos de avaliação de impacto ambiental (AIA), por
meio da utilização de instrumentos como guias e documentos técnicos de referência.
III.1.2.2. Atuação do Ibama na articulação com órgãos e entidades intervenientes no LAF
49. No Relatório de Auditoria Operacional no Licenciamento Ambiental Federal da
SecexAgroAmbiental (TC 024.048/2018-6, peça 27) foi identificada necessidade de aprimoramento
da articulação e comunicação entre Ibama e órgãos e entidades intervenientes.
50. O baixo nível de articulação e cooperação dos órgãos e entidades intervenientes (OEIs) é
um entrave no processo de licenciamento. O atraso nas manifestações dos OEIs é ilustrado na
Figura 1 a seguir (TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 22).

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Figura 1 – Prazo legal vs. Prazos médios de manifestação dos órgãos e entidades intervenientes no LAF, em
dias (fonte: TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 22).
51. Pode-se verificar que a Funai, implicada na presente auditoria, apresentou os maiores
atrasos, levando, em média, 348 dias para se manifestar quanto ao TR e ao EIA/RIMA, enquanto o
prazo legal estipula um prazo máximo de 130 dias para ambos.
52. Não foram tratadas, naquela auditoria operacional, as causas dos atrasos nas manifestações
dos órgãos e entidades intervenientes. Porém, identificou-se possível motivo para os baixos níveis
de articulação e comunicação entre Ibama e OEIs, conforme trecho do referido relatório
(TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 23):
100. A principal causa identificada para os baixos níveis de articulação e comunicação constatados é a
inexistência de instância formal de articulação entre Ibama e OEIs no licenciamento ambiental. Os técnicos
das instituições não se reúnem para discutir pendências ou questões técnicas relativas aos processos em
andamento, exceto por iniciativas ocasionais de órgãos como a Casa Civil da Presidência da República ou o
Ministério de Minas e Energia (MME), como será visto adiante. Outra causa verificada é a baixa capacidade
do Ibama de assumir o papel de coordenação do LAF. Isso se deve, em grande parte, à ausência de hierarquia
entre as instituições. Além disso, o normativo que rege a atuação dos OEIs é uma portaria interministerial,
portanto, um normativo de natureza infralegal. Dessa forma, o Instituto deixa de exercer o protagonismo
esperado da autoridade licenciadora.
53. Essa necessidade de melhor articulação e comunicação entre Ibama e órgãos e entidades
intervenientes no LAF será tratada mais adiante para o caso específico do AHE São Luiz do
Tapajós, no capítulo III.4, em que será destacada a importância de que os técnicos das diversas
instituições envolvidas no LAF, inclusive de ministérios setoriais, possam se reunir com maior
frequência, compartilhar informações e buscar alternativas para superar entraves.
III.2. O licenciamento socioambiental na Funai
54. A participação da Funai no processo de licenciamento ambiental se dá mediante a atuação
como órgão interveniente, quando é instada pelo agente licenciador (no âmbito nacional, o Ibama) a
se manifestar acerca de matéria de sua competência (componente indígena), a qual, potencialmente,
é afetada pelo projeto sob análise.

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55. Atualmente, o licenciamento socioambiental (sentido amplo) é regido pela Resolução


Conama 237/1997 (peça 22) e pela Portaria Interministerial 60/2015 (peça 23), normativos
responsáveis por apresentar os regramentos gerais. A mencionada portaria traz, em seu anexo II-B,
termo de referência específico para o componente indígena, o qual pode ser utilizado pela Funai nos
processos de licenciamento socioambiental desempenhados no âmbito da autarquia, fornecendo as
diretrizes a serem seguidas pelos empreendedores na elaboração do Estudo de Componente
Indígena (ECI), produto a ser analisado pela Funai.
56. Internamente, o licenciamento ambiental na Funai é regido pela Instrução Normativa (IN)
Funai 2/2015 (peça 24). O referido documento estabelece os procedimentos internos a serem
seguidos pela autarquia quando instada, pelo órgão licenciador, a se manifestar, o que ocorre
quando as atividades ou empreendimentos estão localizados em terras indígenas (definidas pelo art.
2º, inciso XII da Portaria Interministerial 60/2015) ou quando podem causar impacto
socioambiental nessas áreas, observados os limites definidos no Anexo I também da Portaria
60/2015.
57. Considerada a estrutura atual da Funai, a responsabilidade por conduzir tais processos de
licenciamento encontra-se na Coordenação Geral de Licenciamento (CGLIC), a qual compõe a
Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável (DPDS) (peça 24, p. 2).
58. O processo de licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós, contudo, teve
início em 2009, ano em que outros regramentos comandavam os procedimentos relacionados, tanto
no âmbito interno da Funai, como externamente à autarquia, razão pela qual serão expostos, a
seguir, os procedimentos vigentes à época.
59. Oportuno destacar, também, que as ações de licenciamento relacionadas ao AHE São Luiz
do Tapajós nunca superaram a etapa de obtenção da licença prévia (que atesta a viabilidade
socioambiental de determinado projeto). Desta forma, todas as análises aqui desempenhadas se
limitarão a este marco (obtenção da licença prévia), sem que sejam abordadas as ações que seriam
necessárias a partir daí.
III.2.1. Estrutura normativa aplicada ao processo de licenciamento socioambiental do AHE São
Luiz do Tapajós na Funai
60. Conforme relatado anteriormente, o processo de licenciamento ambiental do AHE São
Luiz do Tapajós teve início na Funai no ano de 2009, previamente à edição dos normativos
apontados e que regem a matéria atualmente.
61. Em resposta ao Ofício de Requisição 001-348/2018-TCU/SeinfraElétrica (peça 3), a Funai
comunicou que os normativos aplicáveis a empreendimentos hidrelétricos que vigoravam à época
das análises do AHE São Luiz do Tapajós são os seguintes: Portaria Interministerial 419/2011,
Instrução Normativa Funai 1/2012 e IN Funai 4/2012 (peça 25, p. 3).
62. É possível observar, portanto, que os normativos informados não abarcam o processo do
AHE São Luiz do Tapajós desde a sua gênese (em 2009), concluindo-se, portanto, que à época de
início do mencionado processo, não havia, na Funai, regramento definido que estabelecesse as
regras gerais que cuidassem do assunto.
63. De fato, ao se pesquisar a legislação então vigente acerca do tema, nota-se que ainda não
havia sido regulamentado o art. 14 da Lei 11.516/2007, que estabelece que regulamento específico
definirá os prazos de manifestação dos órgãos públicos incumbidos da elaboração de parecer
relativo à emissão de licença ambiental.
64. Assim, quando do início do processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do
Tapajós na Funai, as regras vigentes eram aquelas estabelecidas pela Lei da Política Nacional de

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Meio Ambiente (Lei 6.938/1981 e modificações posteriores) e pela Resolução Conama 237/1997
(ainda vigente), não havendo normas específicas para o tratamento do referido processo.
65. Em que pese tal ocorrência, quando da edição da IN Funai 1/2012, é possível observar que
a fundação buscou positivar aquilo que vinha sendo desenvolvido nos processos de licenciamento
ambiental à época desempenhados.
66. Toma-se como exemplo o início do processo de licenciamento socioambiental do AHE São
Luiz do Tapajós na Funai. Ele se deu, em 2009, mediante provocação do Ministério Público Federal
– MPF (peça 26), o qual, no interesse de procedimento administrativo desempenhado pelo parquet
com o intuito de acompanhar as possíveis obras da UHE São Luiz do Tapajós, solicitou que a
presidência da Funai se manifestasse acerca do tema, dada a existência de áreas indígenas na região.
67. Nessa esteira, a IN Funai 1/2012, em seu art. 4º, § 2º, alínea e), definia que o Ministério
Público Federal, dentre outros, era uma das entidades legitimadas para assinar petições e
solicitações de acompanhamento de empreendimentos efetivamente (ou potencialmente) causadores
de impactos a terras e povos indígenas.
68. Outrossim, considerando a ausência de normativo próprio da Funai desde o início do
processo de licenciamento de São Luiz do Tapajós, o fato de a IN Funai 1/2012 ter sido editada à
luz dos procedimentos já desempenhados pela autarquia, e também a resposta da Funai ao Ofício de
Requisição 001-348/2018, serão adotadas, para fins de comparação com a regra atual, as INs 1 e
4/2012 como sendo as normas responsáveis por estabelecer o procedimento geral a ser seguido nos
processos de licenciamento socioambiental na Funai. Destaca-se, outra vez, que somente serão
analisados os procedimentos até a fase de obtenção da licença prévia, em atenção ao caso concreto.
69. Ainda, serão também destacadas as alterações pertinentes ocorridas na Portaria
Interministerial 419/2011 (peça 27) em comparação à atual Portaria Interministerial 60/2015 (peça
23).
70. Inicialmente, cumpre registrar que os prazos e procedimentos previstos na Portaria 60/2015
só são aplicáveis aos processos de licenciamento ambiental cujos termos de referência tenham sido
emitidos pelo Ibama a partir de 28 de outubro de 2011, conforme disposto no art. 16 daquela
portaria. Ainda que o processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós tenha se
iniciado em 2009, a emissão do termo de referência pelo Ibama só ocorreu em fevereiro de 2012
(peça 28, p. 51-86).
71. Diferença substancial entre esses normativos é a definição de terra indígena. Neste sentido,
a Portaria Interministerial 419/2011 dispunha que só eram consideradas terras indígenas as áreas
ocupadas por povos indígenas cujos relatórios circunstanciados de identificação e delimitação
(RCID) tivessem sidos aprovados mediante portaria da Funai com publicação no DOU e áreas
objeto de portaria de interdição expedida pela Funai em razão de índios isolados.
72. Ocorre que, posteriormente, a Portaria Interministerial 60/2015 conceituou terra indígena
como sendo: a) áreas ocupadas por povos indígenas, cujo relatório circunstanciado de identificação
e delimitação tenha sido aprovado por ato da Funai, publicado no Diário Oficial da União; b) áreas
que tenham sido objeto de portaria de interdição expedida pela Funai em razão da localização de
índios isolados, publicada no Diário Oficial da União; e c) demais modalidades previstas no art. 17
da Lei 6.001/1973 (Estatuto do Índio), quais sejam, as terras ocupadas tradicionalmente, as terras
reservadas e terras de domínio das comunidades indígenas.
73. Verifica-se, portanto, uma ampliação, na Portaria Interministerial 60/2015, nos conceitos
referentes às terras indígenas, com vistas a adequá-la à definição de terra indígena da Lei
6.001/1973.
III.2.2 Instrução Normativa Funai 1/2012
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74. Neste trabalho considerou-se a versão compilada da IN Funai 1/2012, após as


modificações provocadas pela IN Funai 4/2012. O normativo em questão buscou definir quais os
empreendimentos ou atividades potencial ou efetivamente causadores de impactos em terras e/ou
povos indígenas e quais princípios norteariam a atuação da Funai nos processos de licenciamento
socioambiental (IN Funai 1/2012, arts. 2º e 3º; peça 29, p. 4).
75. A antiga Coordenação Geral de Gestão Ambiental foi definida como responsável por
coordenar essas atividades, apresentando-se a lista dos legitimados a iniciar tal processo na
fundação, seja por meio de petição, seja através de solicitação de acompanhamento (IN Funai
1/2012, art. 4º; peça 29, p. 4).
76. Importante destacar a variada gama que, enquanto vigeu a IN Funai 1/2012, podia dar
início ao processo de licenciamento na fundação: i) comunidades indígenas; ii) organizações
indígenas; iii) organizações legais cujo objetivo social tivesse pertinência com a temática de
proteção dos povos indígenas ou do meio ambiente; iv) órgãos licenciadores; v) Ministério Público
Federal; e vi) demais interessados. Desses, salienta-se também previsão no sentido de que a Funai
agisse em ‘colaboração e parceria’ com os órgãos licenciadores, devendo ser responsável pelo
componente indígena em todas as etapas do processo (IN Funai 1/2012, arts. 4º e 5º; peça 29, p. 4-
5).
77. Após análise preliminar da área responsável, entendendo-se que há, potencial ou
efetivamente, dano à terra e/ou comunidade indígena, a Funai deveria comunicar às respectivas
comunidades a instauração de procedimento interno voltado ao acompanhamento do processo de
licenciamento, tendo a atuação da autarquia caráter interveniente (IN Funai 1/2012, arts. 6º e 7º;
peça 29, p. 5).
78. Por mais que o normativo tenha definido que o processo administrativo interno da
fundação deveria ser ‘aberto exclusivamente pela sede’, havia a possiblidade de que a
responsabilidade pelo acompanhamento do licenciamento fosse transferida para as unidades
regionais da Funai, nos limites do ato de delegação e sob a coordenação de um técnico responsável
pelo processo (IN Funai 1/2012, art. 8º; peça 29, p. 5).
79. Em consonância com o disposto pela Portaria Interministerial 419/2011, havia, na referida
IN, a previsão de elaboração de Termo de Referência Específico (TRE) voltado ao componente
indígena, devendo, quando considerado necessário, ser consultada a Diretoria de Proteção
Territorial, para que se manifestasse tanto acerca dos limites de terras indígenas possivelmente
afetadas, como sobre a existência de terras reivindicadas cuja qualificação quanto à tradicionalidade
da ocupação tenha ocorrido (IN Funai 1/2012, art. 9º; peça 29, p. 5).
80. Nessa esteira, o normativo define os requisitos mínimos de um TRE quanto ao componente
indígena, estabelecendo também qual o conteúdo mínimo necessário que deve ser apresentado pelo
empreendedor em seu Plano de Trabalho, um dos produtos esperados para essa primeira etapa de
análise da viabilidade socioambiental (IN Funai 1/2012, arts. 10-12; peça 29, p. 6).
81. Faz-se mister ressaltar que o ingresso das equipes técnicas do empreendedor em terras
indígenas somente pode se dar após manifestação da área técnica da Funai e acompanhadas por um
servidor da autarquia, devendo haver, também por parte da fundação, um acompanhamento dos
estudos desenvolvidos junto às comunidades indígenas potencialmente afetadas (IN Funai 1/2012,
arts. 12 e 13; peça 29, p. 6-7).
82. Uma vez elaborados e concluídos os estudos de componente indígena (ECI), o normativo
previa a entrega à Funai, para que fosse verificado o atendimento ao Termo de Referência
Específico e, em caso de aceite, procedida a análise de mérito (IN Funai 1/2012, arts. 14-16; peça
29, p. 7).

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83. Feito isso, estava prevista ‘consulta prévia, livre e informada’ às comunidades indígenas
afetadas para que fossem apresentados os estudos. Ouvidas as comunidades afetadas, a Funai então
se manifestaria de forma conclusiva quanto ao ECI, aprovando-o, solicitando complementações
para casos insatisfatórios, ou mesmo reprovando, havendo a possibilidade de reformulação do
produto (IN Funai 1/2012, arts. 17 e 18; peça 29, p. 7).
84. Os prazos para elaboração do Termo de Referência Específico, assim como para a
manifestação da Funai acerca do componente indígena foram indicados nos arts. 5º e 6º da Portaria
Interministerial 419/2011, sendo de quinze dias, prorrogáveis por mais dez. Quanto aos custos, a
própria IN Funai 1/2012, em seu art. 32, estabelecia que o empreendedor era responsável por
custear todas as atividades relacionadas ao estudo de componente indígena do processo (IN Funai
1/2012, art. 32; peça 29, p. 10).
III.2.3 Instrução Normativa Funai 2/2015
85. Atualmente, como já adiantado, a IN Funai 2/2015 (peça 24) é o normativo responsável
por estabelecer os procedimentos gerais internos que devem ser seguidos nos processos de
licenciamento ambiental na autarquia.
86. Em que pese o fato de o licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós ter se
iniciado em 2009, e posteriormente arquivado em 2016, sem que haja qualquer processo em curso
atualmente, o conhecimento da norma atual é de suma importância, uma vez que, em caso de
reabertura do processo de licenciamento sob análise, ele será regido pelas normas atuais.
87. Assim, tanto o conhecimento da instrução normativa em tela, quanto da Portaria
Interministerial 60/2015 (que traz os prazos para manifestação dos órgãos intervenientes, tanto no
que se refere ao Termo de Referência Específico, quanto à manifestação de mérito) apresentam alta
relevância.
88. A peça 30 traz um fluxograma do licenciamento socioambiental atualmente na Funai. A
partir desse esquema é possível observar, de uma só vez, o caminho total a ser percorrido e, entre
outras coisas, as mudanças que o novel procedimento tem em comparação ao anterior.
89. De plano, verifica-se uma mudança na forma como tem início o processo na fundação.
Anteriormente, inúmeros agentes eram habilitados a solicitar o acompanhamento da autarquia.
Agora, somente o órgão licenciador é legitimado para tanto (IN Funai 2/2015, art. 3º; peça 24, p. 1),
o que garante que exista um processo correspondente de licenciamento socioambiental aberto em
um órgão licenciador de fato.
90. Isso se mostra interessante do ponto de vista da racionalidade administrativa, pois, de
acordo com as regras anteriores, era possível que um processo tivesse início na Funai sem que o
licenciamento socioambiental sequer houvesse sido começado de fato, conduzindo a hipóteses em
que a fundação autárquica realizasse atividades que não poderiam ser aproveitadas.
91. Ademais, vê-se também que a instrução normativa atual busca concentrar as relações da
Funai no órgão licenciador, prevendo, inclusive, a hipótese de buscar tal agente em casos em que a
fundação não foi provocada a se manifestar, contudo vislumbrou potenciais impactos em terras e/ou
comunidades indígenas (IN Funai 2/2015, arts. 4º e 5º; peça 24, p. 2).
92. Outro ponto que merece destaque faz referência à responsabilidade pela condução do
processo na Funai e pelas avaliações dos produtos entregues pelo empreendedor. Anteriormente,
havia a possibilidade dessa competência ser delegada às unidades regionais ou locais da Funai.
Atualmente, apenas a Coordenação-Geral de Licenciamento Ambiental (CGLIC), parte integrante
da Diretoria de Promoção do Desenvolvimento Sustentável (DPDS), tem permissão para dar
seguimento aos processos, buscando uniformizar a atuação da fundação (IN Funai 2/2015, arts. 4º e
16; peça 25, p. 2 e 6).
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93. Há também maior detalhamento acerca do Plano de Trabalho e dos procedimentos


relacionados, os quais estão diretamente relacionados à obtenção de autorização, pelo
empreendedor, de entrada em terra indígena, que, via de regra, é imprescindível à realização dos
estudos de componente indígena (IN Funai 2/2015, arts. 16-22; peça 25, p. 6-8).
94. Uma vez apresentado esse panorama acerca do licenciamento socioambiental federal,
parte-se para a análise dos procedimentos adotados pela Funai e Ibama nessa temática, tendo sido
verificada primordialmente, conforme determina o item 9.5 do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário,
a atuação das duas entidades no processo de licenciamento do AHE São Luiz do Tapajós.
IV. Análises e achados de auditoria
95. O presente relatório, buscando propiciar um melhor entendimento, apresenta, antes de cada
achado propriamente dito, uma contextualização dos assuntos envolvidos, de maneira a fornecer
todas as informações necessárias à apresentação dos achados.
IV.1. O licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós no Ibama e Funai
IV.1.1. O licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós no Ibama
96. A fim de verificar se o processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós
no Ibama respeitou os normativos vigentes e melhores práticas na análise para emissão da licença
prévia, foram examinadas: (a) a tempestividade da análise na concessão da licença prévia; (b) a
tempestividade no envio de informações aos órgãos intervenientes pelo Ibama; e (c) a estruturação e
padronização dos procedimentos de definição de escopo do Termo de Referência (TR) e da
Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) para AHE São Luiz do Tapajós. Passa-se a relatar esses três
pontos examinados.
IV.1.1.1. Tempestividade da análise na concessão da licença prévia para AHE São Luiz do Tapajós
97. Retomando definições e conceitos trazidos pelo Relatório de Auditoria Operacional no
Licenciamento Ambiental Federal, da SecexAgroAmbiental, são três as etapas principais de atuação
do Ibama durante a fase de emissão da licença prévia (TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 10):
30. No processo de concessão da licença prévia, a atuação direta do Ibama se materializa em três etapas
principais: emissão do termo de referência; verificação do conteúdo do estudo de impacto ambiental (EIA); e
análise do EIA, que inclui a elaboração do parecer técnico conclusivo. Cada uma dessas etapas tem prazos
definidos para sua conclusão.
98. A presente análise consistiu em avaliar a tempestividade da atuação do Ibama para cada
uma dessas etapas, de elaboração de TR e checklist (alcunha para a verificação do conteúdo do
EIA), ficando prejudicada a avaliação de prazo para etapa de análise do EIA, uma vez que o
processo foi arquivado antes da análise propriamente dita.
99. Os prazos de referência foram definidos com base em normativos do Ibama. Como o
processo foi instaurado em 26/5/2009, foram adotados os prazos estipulados na Instrução
Normativa 184, de 17/7/2008, que estabelece, no âmbito da autarquia, os procedimentos gerais para
o licenciamento ambiental federal. Os prazos adotados estão identificados na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2 – Prazos das principais etapas da fase de LP (fonte: TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 11).
100. Antes de adentrar a análise propriamente dita no processo do AHE São Luiz do Tapajós,
cabe contextualizar o que é cada etapa e seu prazo, conforme trecho do Relatório de Auditoria
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Operacional no Licenciamento Ambiental Federal- Secex AgroAmbiental (TC 024.048/2018-6,


peça 27, p. 11):
33. O termo de referência (TR) é o documento elaborado pelo Ibama estabelecendo o conteúdo necessário
dos estudos a serem apresentados para subsidiar a análise para a concessão da licença prévia.
34. A etapa denominada checklist – ou verificação do conteúdo do EIA – tem o propósito de conferir se os
estudos socioambientais definidos no TR integram o EIA. De acordo com os normativos citados, o Ibama
tem trinta dias para apresentar manifestação técnica quanto à aceitação do EIA para análise ou sua
devolução, com a devida publicidade.
35. Por fim, a análise do EIA fundamenta o posicionamento técnico quanto à emissão da licença prévia para
o empreendimento em exame. A contagem do prazo inicia-se a partir do aceite do EIA, e o prazo é suspenso
durante a elaboração dos estudos ambientais complementares (IN 184/2008 art. 20 c/c art. 37; Portaria
421/2011 art. 25 e 30).
101. A Figura 2 contrasta os prazos legais previstos para as principais etapas da atuação do
Ibama na fase de LP com os tempos mensurados no processo do AHE São Luiz do Tapajós e da
UHE São Manoel (empreendimento hidrelétrico atualmente em operação selecionado como
parâmetro de comparação).

Figura 2 - Prazo legal vs. Prazo mensurado no processo do AHE São Luiz do Tapajós e UHE São Manoel
para as etapas principais para concessão da LP em processos de Usinas Hidrelétricas, em dias (fonte:
elaboração própria).
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102. Observou-se que a elaboração do TR, processo de Tapajós, levou 37 dias para sua
conclusão, contra os sessenta dias previstos. Já a etapa do checklist registrou o tempo de 35 dias
para seu término, em oposição ao prazo legal de trinta dias, registrado um pequeno atraso nesta
etapa.
103. Para a etapa de análise do EIA, verificou-se que, mesmo não tendo sido realizada por
completo a referida análise, consta tempo líquido de 163 dias de posse do Ibama, excluindo as
interrupções, tempo ainda dentro do prazo permitido para análise segundo art. 20 da IN 184/2008,
que estipula 180 dias.
104. Comparando esses prazos com os registrados no licenciamento da UHE São Manoel
(processo Ibama 02001.0044202007-65), verifica-se que os prazos constatados no AHE São Luiz
do Tapajós têm uma diferença significativa de tempestividade, conforme ilustrado na Figura 2.
105. O processo da UHE São Manoel apresentou tempos de análise superiores aos previstos em
todas as etapas. A elaboração do TR levou 288 dias para sua conclusão, contra os sessenta dias
previstos. Já a etapa do checklist registrou o tempo de 385 dias para seu término, em oposição ao
prazo legal de trinta dias.
106. Para a etapa de análise do EIA, como a UHE São Manoel emitiu a LP, foi possível
quantificá-la, registrando tempo líquido de 789 dias de posse do Ibama, excluindo as interrupções,
quase cinco vezes o prazo legal proposto no art. 20 da IN 184/2008, que estipula 180 dias.
107. De todo modo, o levantamento aqui realizado demonstrou que, para AHE São Luiz do
Tapajós, apesar do pequeno atraso na etapa de checklist (cinco dias), a atuação do Ibama foi
tempestiva na etapa de elaboração de TR e encontrava-se dentro do prazo na análise do EIA/RIMA
até antes do arquivamento do processo.
108. Comparando com os tempos praticados para UHE São Manoel, o Ibama teve desempenho
mais eficiente para AHE São Luiz do Tapajós no que tange à tempestividade das etapas estudadas,
tendo respeitado os normativos vigentes para este caso.
IV.1.1.2. Tempestividade no envio de informações aos órgãos intervenientes pelo Ibama
109. Os procedimentos adotados neste tópico da análise seguiram a legislação vigente à época,
no caso a Portaria Interministerial 419/2011 e a IN Ibama 184/2008.
110. A Portaria Interministerial 419/2011 disciplina a atuação da Fundação Nacional do Índio
(Funai), da Fundação Cultural Palmares (FCP), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) e do Ministério da Saúde (MS) nos processos de licenciamento ambiental de
competência do Ibama. As principais etapas nas quais essas instituições intervêm no LAF são: a
elaboração de termos de referência específicos; a análise de estudos ambientais; e a avaliação do
cumprimento de condicionantes. Guardam relação com o escopo deste trabalho as duas primeiras.
111. A partir do requerimento de licenciamento ambiental feito pelo empreendedor, o Ibama
tem prazo de dez dias consecutivos para encaminhar solicitação aos órgãos e entidades
intervenientes para definição do conteúdo do termo de referência específico – TRE (Portaria
Interministerial 419/2011, art. 5º, inc. I).
112. Na segunda etapa, após o recebimento dos estudos de impacto ambiental, o Ibama solicita
posicionamento dos órgãos e entidades envolvidos. No caso de EIA/RIMA, o Ibama tem o prazo de
sessenta dias para solicitar manifestação conclusiva (IN 184/2008 art. 21).
113. A Figura 3 contrasta os prazos legais previstos para encaminhamento de solicitação aos
órgãos e entidades intervenientes com os tempos mensurados no processo da AHE São Luiz do
Tapajós.

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Figura 3 - Prazo legal vs. Prazo mensurado no processo da AHE São Luiz do Tapajós para encaminhamento
de solicitação aos órgãos e entidades intervenientes, em dias (fonte: elaboração própria)
114. Observou-se que o Ibama levou seis dias para concluir a solicitação para definição do
conteúdo do TRE junto aos órgãos intervenientes, contra os dez dias previstos. Já a solicitação de
posicionamento quanto ao EIA/RIMA registrou o tempo de dezenove dias para envio dos ofícios,
em oposição ao prazo legal de sessenta dias, registrado cumprimento dos prazos legais.
115. Portanto, verificou-se o cumprimento dos prazos legais pelo Ibama quanto à solicitação aos
órgãos e entidades intervenientes para definição do conteúdo do TRE e posicionamento quanto ao
EIA/RIMA.
IV.1.1.3. Estruturação e padronização dos procedimentos de definição de escopo do TR e AIA para
AHE São Luiz do Tapajós
116. Após verificada a tempestividade da análise na concessão da licença prévia para AHE São
Luiz do Tapajós, segue-se com a verificação quanto à estruturação e padronização dos
procedimentos de definição do TR e AIA.
IV.1.1.3.1. Procedimentos de definição de escopo dos TRs
117. A análise consistiu em avaliar os procedimentos adotados na definição de escopo do
Termo de Referência para AHE São Luiz do Tapajós.
118. Antes de adentrar a análise propriamente dita, cabe definir quais os procedimentos são
cabíveis na definição de escopo do Termo de Referência.
119. Conforme trecho do Relatório da SecexAgroAmbiental (TC 024.048/2018-6, peça 27,
p. 16), ‘as normas e a literatura acadêmica indicam um conjunto de procedimentos potencialmente
capazes de aprimorar a definição dos termos de referência (TR)’.

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120. A literatura acadêmica indica que há uma série de boas práticas recomendadas para
auxiliar na definição do escopo de estudos de impacto ambiental.
121. Segundo a literatura acadêmica (BORIONI, 2013; BORIONI et al, 2017), algumas dessas
boas práticas são: apresentação de informações preliminares, reunião de apresentação do projeto,
vistoria de campo, fóruns técnicos, reunião técnica com o proponente e/ou consultoria ambiental,
oficinas temáticas ou outros eventos similares, reuniões públicas, consulta a órgãos federais sobre a
minuta de TR, participação da comunidade científica, compartilhamento de informações com os
demais órgãos e documentação das justificativas quanto à definição do escopo.
122. Segundo Relatório SecexAgroAmbiental (TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 17):
(...) parte desses procedimentos já está definida em normativos do Ibama. O art. 7º da IN 184/2008 prevê que
o empreendedor apresente informações preliminares sobre o projeto por ocasião da instauração do processo
de licenciamento ambiental. Já o art. 10 dispõe que a autarquia providenciará agendamento para a
apresentação do projeto pelo empreendedor, convidando os órgãos intervenientes quando necessário. Nesse
momento, será também discutida a necessidade de realização de vistoria ao local pretendido para o
empreendimento.
123. Na presente análise, buscou-se levantar o uso de normas legais e boas práticas na definição
do conteúdo dos termos de referência pelo Ibama, à semelhança do que foi feito no Relatório
SecexAgroAmbiental (TC 024.048/2018-6, peça 27). Foi pesquisado o nível de adoção de dez
procedimentos tidos como capazes de aprimorar a definição do escopo dos termos de referência,
identificados na Tabela 3 abaixo.
124. No intuito de comparar esses procedimentos com o que se poderia chamar de
procedimento padrão e com outros procedimentos reais similares realizados pelo Ibama, foi
verificado também quais os procedimentos adotados na definição de escopo da UHE São Manoel
(processo Ibama 02001.0044202007-65).

Tabela 3 – Adoção de procedimentos para elaboração do termo de referência nos processos de licenciamento
ambiental da UHE São Manuel e AHE São Luiz do Tapajós.
125. Da tabela conclui-se que o Ibama seguiu, para os processos da AHE São Luiz do Tapajós e
UHE São Manoel, o que preconizam as normas legais para elaboração do termo de referência nos
processos, seguindo o fluxo estabelecido pela IN 184/2008 e Portaria Interministerial 419/2011, que
são: apresentação de informações preliminares, reunião de apresentação do projeto, consulta a
órgãos federais sobre a minuta do TR e compartilhamento de informações com órgãos
intervenientes.

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126. Já com relação às ‘boas práticas’ estabelecidas no normativo, revelou-se menor empenho
na definição do escopo, não tendo sido adotado nenhum desses procedimentos para ambos
processos.
127. Cabe observar, quanto à não utilização desses procedimentos, que não há normativo legal
preconizando o uso destas boas práticas para auxiliar na definição do escopo de estudos de impacto
ambiental, não possuindo, portanto, caráter vinculante.
128. Constatou-se que, mesmo não tendo sido adotadas as boas práticas indicadas na
IN Ibama 184/2008 para a elaboração do TR da AHE São Luiz do Tapajós, houve compatibilidade
dos procedimentos com as normas constitucionais, legais e regulamentares, uma vez que atendeu
aos requisitos necessários. Quanto aos outros procedimentos reais similares, verificados na
definição de escopo do TR da UHE São Manoel (processo Ibama 02001.0044202007-65), também
foi comprovada compatibilidade dos procedimentos.
IV.1.1.3.2. Procedimentos de avaliação de impacto ambiental (AIA) e EIA/RIMA
129. Quanto à verificação da compatibilidade dos procedimentos de avaliação de impacto
ambiental – AIA – da AHE São Luiz do Tapajós com as normas constitucionais, legais e
regulamentares que incidem sobre o tema, a presente análise ficou prejudicada, uma vez que não
existem procedimentos definidos e normatizados que estabeleçam exigências mínimas.
130. Conforme exposto no Relatório SecexAgroAmbiental (TC 024.048/2018-6, peça 27), até a
data de 1º/12/2018, persiste a deficiência no uso de manuais e documentos técnicos na análise dos
processos de licenciamento ambiental pelo Ibama, de acordo com o que é destacado a seguir
(TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 16):
52. O uso de guias e documentos técnicos para estruturar e padronizar os procedimentos de avaliação de
impacto ambiental é uma forma eficaz para imprimir maior eficiência e efetividade ao processo de
licenciamento ambiental. Contudo, o nível de desenvolvimento e adoção desses guias e documentos pelo
Ibama ainda é bastante limitado, o que prejudica a atuação da autarquia nos procedimentos para concessão da
licença prévia’.
131. Ainda segundo o relatório (TC 024.048/2018-6, peça 27, p. 20):
78. De acordo com entrevistas com as titulares da Coordenação de Licenciamento Ambiental de Dutos e
Sistemas de Transmissão de Energia (Codut) e da Coordenação de Licenciamento Ambiental de Transportes
(Cotra), não há atualmente manuais ou guias técnicos para estruturar a análise do EIA/RIMA. O que existe é
um uso pequeno e assistemático de materiais de referência, como notas técnicas e normas da ABNT,
corroborando as informações levantadas no questionário eletrônico.
132. Portanto, não existem, atualmente, procedimentos pré-definidos formalizados para
estruturar a análise do EIA/RIMA, com vistas a orientar o analista na instrução do processo de
licenciamento, nem o empreendedor na elaboração de projetos.
133. Porém, em entrevista realizada em 18/3/2019 (peça 31, p. 2) foi informado que a
Coordenação de Licenciamento Ambiental de Hidrelétricas, Hidrovias e Estruturas Fluviais (Cohid)
já adota um Termo de Referência padrão para Usinas Hidrelétricas, porém, este documento
atualizado ainda não se encontra finalizado para acesso ao público. Segundo as palavras do
entrevistado ‘desde 2018 o Ibama revisou o TR padrão, tendo atualmente um TR mais elaborado,
com base nas experiências que o Ibama teve no passado’.
134. Verificando os autos do processo da AHE São Luiz do Tapajós quanto à etapa de análise
do EIA/RIMA apresentado pelo empreendedor, constatou-se que foram feitos três pedidos de
complementação antes do arquivamento do processo. Os documentos a seguir tratam das referidas
complementações solicitadas pelo Ibama:
 Ofício 02001.009587/2014-41 Dilic/Ibama de 28/8/2014 (Vol. 7 p.177);
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 Parecer 02001.003562/2014-34 COHID/Ibama de 8/9/2014 (Vol. 7 p.262);


 Despacho 02001.003712/2015-91 COHID/Ibama de 20/2/2015 (Vol. 8 p.105);
135. Até antes do arquivamento, o empreendedor não havia enviado a resposta às
complementações pendentes, tendo sido essa, inclusive, a principal motivação apresentada pelo
Instituto para o referido arquivamento do processo de licenciamento socioambiental do AHE São
Luiz do Tapajós (peça 20, p. 113).
136. Como explicitado no início do item, os pedidos de complementação tratam de análise
subjetiva do analista e, uma vez que não existe um guia para que possa ser confrontado, não é
possível afirmar nem que houve aderência aos padrões normativos ou que houve subjetividade na
análise por parte do Ibama, razão pela qual entende-se oportuna uma proposta de encaminhamento
no tema, voltada ao estabelecimento de normativos oficiais que criem regras mínimas.
137. Nesse sentido, o Acórdão 1.789/2019-TCU-Plenário, de relatoria do Min. Weder de
Oliveira, determinou ao Ibama que apresente plano de ação com medidas voltadas a elaborar e
disseminar o uso dos guias de avaliação de impacto ambiental (AIA) e respectivas matrizes de
referência, estabelecidas para cada tipo de empreendimento (inclusive usinas hidrelétricas).
138. Com isso, pretende-se dotar as avaliações realizadas pelo órgão licenciador federal de
níveis mínimos de previsibilidade e transparência, uma vez que serão estabelecidas regras básicas
quanto aos conteúdos que devem ser analisados tanto nas AIAs, como nos EIA/RIMAs.
139. Assim, dada a recente determinação efetuada por este Tribunal, que já efetuou os
oportunos e pertinentes encaminhamentos sobre medidas a serem adotadas em prol do
aprimoramento das avaliações e análises em processos de licenciamento socioambiental
desempenhadas pelo Ibama, entendem-se desnecessárias novas propostas no mesmo sentido neste
processo.
IV.1.2. O licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós na Funai
140. Especificamente em relação ao processo do AHE São Luiz do Tapajós, verifica-se que a
Funai iniciou o acompanhamento do licenciamento ambiental em 2009, a partir de instauração do
Inquérito Civil Público 1.23002.000087/2009-91 pelo Ministério Público Federal e de
questionamentos encaminhados pela Eletronorte.
141. No ano de 2012, contudo, teve início efetivamente o processo de licenciamento junto ao
órgão indigenista, tendo o Ibama encaminhado à Funai a Ficha de Caracterização da Atividade
(FCA), documento apresentado pelo empreendedor interessado em que são descritos os principais
elementos que caracterizam as atividades e sua área de localização, e são fornecidas informações
acerca da justificativa da implantação do projeto, bem como os principais aspectos ambientais
envolvidos.
142. Registra-se que paralelamente ao processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz
do Tapajós a Funai iniciou uma série de estudos de demarcação de terras indígenas, dentre elas a de
Sawré Muybu, conforme disposto na Portaria 1.390/2012 daquela Fundação.
143. Verificada a possibilidade de o AHE São Luiz do Tapajós ser realizado em terras
tradicionalmente ocupadas por comunidades indígenas, a Funai foi instada a se manifestar sobre os
eventuais impactos socioambientais identificados nos estudos ambientais, bem como apreciar a
adequação das medidas de controle e de mitigação decorrentes desses impactos.
144. A Funai informou ao Ibama que as Terras Indígenas Andirá-Marau, KM 43, Pimental e
São Luiz do Tapajós se inseriam nos limites estabelecidos pela Portaria 419/2011; no entanto, a
Fundação registrou que as Terras Indígenas KM 43, Pimental e São Luiz do Tapajós ainda não

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possuíam relatório circunstanciado de identificação e delimitação aprovado pela Funai, conforme


exigido no art. 2º, X, da Portaria 419/2011.
145. Identificada a existência de terras indígenas na área do empreendimento, a Funai indicou o
uso do Termo de Referência padrão anexo à Portaria Interministerial 419/2011 para a elaboração do
Estudo do Componente Indígena (ECI). Ademais, considerando que as TI KM 43, Pimental e São
Luiz do Tapajós estariam em processo de estudo de identificação e delimitação, a Funai
recomendou que o Estudo de Componente Indígena contemplasse aquelas comunidades.
146. O termo de referência para a realização do EIA-Rima foi publicado pelo Ibama em 2012,
sendo que os estudos foram iniciados em abril daquele ano. Em agosto do mesmo ano, foi criado o
Consórcio Tapajós, formado por nove empresas (Copel, Cemig, Neoenergia Investimentos S.A,
Endesa do Brasil S.A, GDF Suez Energy Latin America Participações LTDA, Eletrobras,
Eletronorte, CCCC e EDF), a fim de organizar as atividades a serem desempenhadas nos estudos de
viabilidade.
147. Em resposta a pedido ajuizado pelo MPF da Seção Judiciária de Itaituba, a Justiça Federal
determinou, em novembro de 2012, dentre outras medidas, que fossem realizadas as oitivas de todas
as comunidades indígenas afetadas pelo empreendimento, bem como não fosse concedida a licença
prévia até que as medidas pleiteadas pelo MPF fossem atendidas.
148. Posteriormente, esta decisão foi reformada mediante pedido do MPF, que requereu a
suspensão de qualquer ato relativo ao empreendimento até o julgamento da questão principal. No
entanto, o STJ deferiu pedido da União no sentido de que os atos necessários à obtenção do
licenciamento ambiental continuassem, desde que atendida a obrigação de oitiva das comunidades
indígenas interessadas.
149. Em janeiro de 2014 o plano de trabalho para a elaboração do Estudo de Componente
Indígena foi considerado satisfatório, sendo necessário que ele fosse submetido aos indígenas. Por
sua vez, em maio daquele ano, a versão inicial dos estudos de viabilidade técnico-econômica
(EVTE) do AHE São Luiz do Tapajós foi protocolada na Aneel, sendo os estudos de impacto
ambiental protocolados no Ibama naquele mesmo mês. Registra-se que desses estudos restou
caracterizada uma ampliação da capacidade instalada da usina para 8.040 MW.
150. Os estudos apontaram interferência do projeto AHE São Luiz do Tapajós na área da Aldeia
Boa Fé, situada às margens do rio Tapajós. Aquela aldeia apresentava população variável
decorrente do hábito cultural de grande mobilidade espacial da etnia Munduruku ao longo da bacia
hidrográfica.
151. A Funai argumentou em agosto de 2014 que os estudos apresentavam inconsistências, bem
como haviam sido utilizados apenas dados secundários, sendo necessários trabalhos de campo. No
entanto, a Funai alegou que a entrada em terras indígenas não dependia apenas da autorização da
Fundação, mas também da anuência do povo Munduruku.
152. Publicada em setembro, a Portaria MME 485/2014 agendou o leilão de compra de energia
proveniente de São Luiz do Tapajós para dezembro de 2014. No entanto, a portaria foi revogada
pelo MME, que argumentou haver necessidades de adequações nos estudos associados ao
componente indígena.
153. Mediante a Informação 249/COEP/CGLIC/DPDS/Funai-MJ, de 25/9/2014 (peça 32), a
Funai alegou que o empreendimento incidiria sobre terra indígena em regulação fundiária, sendo
necessária a remoção da aldeia, medida que seria inconstitucional e de impactos irreversíveis, ainda
que houvesse previsão de medidas mitigadoras. Neste sentido, a Funai recomendou a suspensão do
processo de licenciamento ambiental, vez que o empreendimento seria inviável do ponto de vista
constitucional.

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154. A Procuradoria Federal Especializada junto à Funai emitiu nota em 29/9/2014 reforçando a
existência de óbices legais e constitucionais no processo de licenciamento da UHE São Luiz do
Tapajós, vez que haveria a necessidade de remoção de aldeia, o que seria inconstitucional até
mesmo para as terras não oficialmente demarcadas, tal como a TI Sawré Muybu, vez que ‘o ato
administrativo que atesta o fato indígena, por meio da demarcação das terras indígenas é meramente
declaratório’. Registra-se que a Terra Indígena Sawré Muybu era anteriormente denominada
Pimental.
155. Apesar de pareceres de suas áreas técnicas apontarem a inviabilidade do empreendimento
sobre a perspectiva do componente indígena, a Funai registrou apenas a existência de falhas formais
no ECI, conforme Of. 867/2014/Pres/Funai-MJ, de 26/11/2014. Nesse sentido, o expediente
assinado pelo então presidente interino da Fundação apontou a ausência de assinaturas no ECI, bem
como ao fato de não terem sido realizados trabalhos de campo nas áreas indígenas.
156. A fim de conseguir autorização para a realização dos trabalhos de campo, a Eletrobras
encaminhou diversas solicitações à Funai entre 2014 e 2015. No entanto, de acordo com a estatal,
tais solicitações não teriam sido respondidas.
157. Em fevereiro de 2016, a Funai apensou ao processo de licenciamento ambiental os
pareceres que atestavam a inviabilidade constitucional do empreendimento, conforme disposto no
Of. 158/2016/DPDS/Funai-MJ (peça 33).
158. Em junho de 2016, a Presidência da Funai encaminhou ofício ao Ibama informando que há
óbices legais e constitucionais no processo de licenciamento ambiental em questão, vez que
inexistia lei regulamentadora e de autorização do Congresso Nacional para exploração hidrelétrica
da área em referência, bem como a vedação constitucional à remoção permanente de grupos
indígenas de suas terras, conforme exposto no Of. 382/2016/Pres/Funai-MJ. Este expediente
também informou que houve a publicação do relatório circunstanciado de identificação e
delimitação da Terra Indígena Sawré Muybu, reconhecendo a ocupação tradicional da etnia
Munduruku na região (peça 34).
159. Conforme parecer da Procuradoria Federal Especializada junto ao Funai, o RCID ratificado
pela Funai apontou que o empreendimento importaria na supressão de aproximadamente 7% da
terra indígena, o que exigiria o remanejamento da população ali inserida.
160. A Eletrobras protocolou contestação em relação ao RCID, argumentando que a habitação
em caráter permanente pelos índios vindos de Pimental se deu a partir de 2004, portanto dezesseis
anos após a promulgação da Constituição, marco temporal utilizado para verificar a tradicionalidade
das ocupações indígenas (peça 35, p. 69-113).
161. O processo de licenciamento da UHE São Luiz do Tapajós foi arquivado pelo Ibama em
agosto de 2016. A Eletrobras protocolou recurso de reconsideração contra a decisão de
arquivamento do processo, mas o recurso foi negado pelo Ibama (peça 35, p. 1-3).
IV.1.2.1. Da conceituação do termo ‘terras indígenas’
162. Ao apontar as terras indígenas inseridas na área do empreendimento do AHE São Luiz do
Tapajós, a Funai indicou áreas que não possuíam relatórios circunstanciados de identificação e
delimitação (RCIDs) aprovados ou que tivessem sido objeto de portaria de interdição em razão da
localização de índios isolados.
163. Ao ser requisitada sobre os procedimentos adotados pela Fundação no âmbito do AHE São
Luiz do Tapajós, a Funai informou que sua atuação naquele processo pautou-se na Portaria
Interministerial 419/2011, que então regulamentava o procedimento de licenciamento ambiental em
âmbito federal, bem como na Instrução Normativa Funai 1/2012 (modificada pela IN Funai

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4/2012), a qual estabelecia normas sobre a participação da Fundação no processo de licenciamento


ambiental (peça 25)
164. A Funai também informou que o acompanhamento do licenciamento ambiental do caso
iniciou-se em 2009, a partir de instauração do Inquérito Civil Público 1.23.002.000087/2009-91
pelo Ministério Público Federal e de questionamentos encaminhados pela Eletronorte (peça 25, p.
2). O acesso ao processo eletrônico da Funai relacionado ao licenciamento ambiental do AHE São
Luiz do Tapajós, qual seja, o processo 08620.000765/2009-09, foi disponibilizado para a equipe de
auditoria.
165. Dos autos, verifica-se que apesar do processo existir desde 2009, apenas no ano de 2012 o
Ibama encaminhou a Ficha de Caracterização da Atividade (FCA) à Funai, conforme Ofício
Circular 4/2012/CGENE/DILIC/IBAMA, de 17/1/2012 (peça 37, p. 1). Considerando a necessidade
de definição de terras indígenas potencialmente afetadas pelo empreendimento, a Funai solicitou
dilação do prazo, a fim de reunir maiores informações junto a seus setores internos (peça 37, p. 24).
166. Em resposta ao envio da FCA, a Funai informou ao Ibama, nos termos do Of.
136/2012/DPDS-Funai-MJ, de 17/2/2012 (peça 37, p. 31), que as Terras Indígenas Andirá-Marau,
KM 43, Pimental e São Luiz do Tapajós se inseriam nos limites estabelecidos pela Portaria
419/2011; no entanto, as Terras Indígenas KM 43, Pimental e São Luiz do Tapajós ainda não
possuíam relatório circunstanciado de identificação e delimitação aprovado pela Funai, conforme
exigido no art. 2º, X da Portaria 419/2011.
167. Considerando que as terras indígenas KM 43, Pimental e São Luiz do Tapajós estariam em
processo de estudo de identificação e delimitação, a Funai recomendou naquele ofício que o Estudo
de Componente Indígena contemplasse aquelas comunidades (peça 37, p. 32).
168. Há nos autos do processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós e-mail
com a informação de que a consulta não seria respondida nos quinze dias; ademais, como as terras
não estariam delimitadas, a remetente alega que eles devem ‘antecipar para justificar, se for o caso,
a existência de componente indígena no processo’ (peça 37, p. 18).
169. Registra-se que naquele momento a atuação dos órgãos e entidades da Administração
Pública Federal envolvidos nos processos de licenciamento ambiental era regulamentada pela
Portaria Interministerial 419/2011. O art. 3º da portaria dispunha que o Ibama deveria solicitar,
dentre outros dados, informações do empreendedor sobre possíveis interferências em terra indígena.
170. Além disso, caberia à Funai apresentar ao Ibama manifestação conclusiva sobre o estudo
ambiental exigido para o licenciamento, contendo avaliação dos impactos provocados pela atividade
o empreendimento em terras indígenas, bem como apreciação da adequação das propostas de
medidas de controle e de mitigação decorrentes desses impactos, conforme o art. 6º, inciso I
daquela portaria
171. Por sua vez, a Portaria Interministerial 419/2011 dispunha, conforme previsto no art. 2º,
inciso X, que só eram consideradas como sendo terras indígenas as áreas ocupadas por povos
indígenas cujos RCID tivessem sidos aprovados mediante portaria da Funai com publicação no
DOU, bem como as áreas objeto de portaria de interdição expedida pela Funai em razão de índios
isolados.
172. Ocorre que, conforme disposto na Portaria Interministerial 419/2011, não caberia análise
do componente indígena nas terras indígenas KM 43, Pimental e São Luiz do Tapajós, vez que por
não possuírem RCID aprovados até então, aquelas terras não eram consideradas indígenas segundo
aquele normativo.
173. Nada obstante, é importante mencionar que a conceituação de ‘terras indígenas’ da Portaria
Interministerial 419/2011 divergia da definição legal presente no art. 17 da Lei 6.001/1973.
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Registra-se que, posteriormente, essa Portaria foi revogada pela Portaria Interministerial 60/2015, a
qual apresentava uma definição mais ampla do conceito de terra indígena, alinhado à definição
legal.
174. Assim, se por um lado é possível arguir que houve descumprimento da Portaria
Interministerial 419/2011 por parte da Funai no âmbito do licenciamento ambiental do AHE São
Luiz do Tapajós, por outro, seria possível argumentar que a fundação agiu com prudência ao indicar
terras que, apesar de ainda não possuírem RCID publicado, estariam acolhidas pela definição legal
de terras indígenas presente na Lei 6.001/1973. Independentemente dessa discussão, fato é que a
inclusão dessas áreas condicionou a realização dos estudos à demarcação daquelas terras. Ressalte-
se que a TI de Sawré Muybu só teve seu RCID publicado em 2016.
175. Considerando que a divergência entre as definições já foi superada pela publicação da
Portaria Interministerial 60/2015, entende-se que não cabe proposta acerca dessa questão.
IV.1.2.2 Não adoção, pela Funai, das medidas necessárias para garantir a consulta prévia aos
povos indígenas em relação ao AHE São Luiz do Tapajós
176. Apesar da exigência presente na Convenção 169 da OIT, a Funai não consultou
previamente os povos indígenas interessados sobre o empreendimento de AHE São Luiz do
Tapajós.
177. O art. 6º, inciso I, da Convenção 169 da OIT estabelece que os governos deverão consultar
os povos indígenas interessados sempre que houver medidas legislativas ou administrativas
suscetíveis de afetá-los diretamente. Considerando seu papel enquanto órgão indigenista oficial
brasileiro, caberia à Funai a adoção de medidas a fim de efetivar a referida consulta prévia junto aos
povos indígenas, inclusive no âmbito do empreendimento do AHE São Luiz do Tapajós.
178. Questionada sobre quais seriam os procedimentos adotados pela Fundação a fim de
consultar os povos indígenas potencialmente afetados por medidas administrativas e legislativas, a
Funai encaminhou a Informação Técnica 14/2019/ASSTEC-Funai, de 11/3/2019 (peça 38), segundo
a qual, o dever de consulta é obrigação do Estado (tanto do Poder Executivo, quanto do Poder
Legislativo), devendo perguntar aos povos indígenas sua opinião quanto às decisões capazes de
afetá-los (peça 38, p. 2).
179. A Funai também informou que havia publicação sua de 2013 que orientava sobre alguns
pontos relacionados à consulta prevista na Convenção 169 da OIT; considerando a relevância do
tema para este relatório, convém reproduzir os ditames da referida publicação (peça 38, p. 2):
Todos os povos indígenas e tribais atingidos, e não apenas alguns, devem ser consultados. O Estado
deve estimular e fortalecer processos de organização própria dos povos indígenas e tribais para que
participem dos processos de consulta. O Estado deve garantir os recursos necessários para a execução de
todo o processo de consulta.
A consulta não deve ser vista como um único evento ou reunião, mas como um processo, com várias
fases, e que respeite o princípio da razoabilidade para todas as partes. No caso dos povos indígenas, as
consultas devem, sempre que possível, ser realizadas na língua falada pelo povo envolvido e divulgadas de
forma adequada. Os processos de consulta devem ser livres de qualquer tipo de pressão política, econômica
ou moral. Essas condições devem ser pactuadas.
Os povos indígenas devem ter a oportunidade de apresentar suas próprias análises acerca dos
impactos das medidas sob consulta e o Governo, sempre que necessário, deve providenciar estudos de
impactos sociais, culturais e ambientais das medidas sobre os povos e as terras indígenas. As consultas
devem ser realizadas de boa-fé, com apresentação de informação verídica, completa e oportuna. A boa-fé
deve também se manifestar na vontade de o Estado chegar a um acordo, sucedido de outros consensos junto
aos povos indígenas.

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O resultado da consulta deve ser considerado no processo de tomada de decisão final. A Consulta Livre,
Prévia e Informada é específica para cada decisão administrativa ou legislativa que afete direitos coletivos e
não se confunde com os espaços de participação cidadã e de controle social dos quais participam
representantes dos povos indígenas (destaques inseridos).
180. Assim, destaca-se que a própria Funai reconhece que a consulta deve ser realizada em
várias fases, sendo dada a oportunidade para que os indígenas apresentem suas próprias análises
sobre os impactos das medidas, de forma que a decisão final não pode desconsiderar o resultado da
consulta.
181. Encontrava-se vigente à época do licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós
a IN Funai 1/2012, a qual estabelecia as normas para a participação da Funai no processo de
licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades potencial e efetivamente causadoras de
impactos ambientais e socioculturais que afetem terras e povos indígenas. Esta era a redação do art.
18 daquela IN:
Art. 18 Ouvidas as comunidades indígenas, a FUNAI manifestar-se-á, conclusivamente, sobre a
concessão da licença prévia, por meio de ofício dirigido ao órgão licenciador competente instruído com o
parecer técnico da análise prevista no artigo 15 da presente instrução normativa. (Destaques inseridos)
182. Especificamente no caso do licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós,
verifica-se que a Funai promoveu reuniões com os povos indígenas a fim de prestar esclarecimentos
sobre o empreendimento, mas registrou que esses encontros não possuíam ‘caráter consultivo’ (peça
39, p. 6).
183. Em abril 2013, a Funai conjuntamente com representantes da Secretaria-Geral da
Presidência da República e do MME realizaram reunião com os Munduruku afim de discutir o
formato e metodologia da consulta relativa à Convenção OIT 169; no entanto, não houve registro
sobre tal reunião, conforme consignado no Informação Técnica
215/2015/COEP/CGLIC/DPDS/FUNAI-MJ, de 14/9/2015 (peça 39, p. 7).
184. A Funai argumentou que o processo de consulta não poderia ser pautado com a data do
leilão já estabelecida, vez que o agendamento prévio do leilão atrapalhou o diálogo do governo com
os indígenas, e que viabilidade ambiental dependia da consulta às comunidades indígenas, conforme
registrado na Nota Técnica 236/2014/CGPC/DPDS/FUNAI-MJ, de 2/11/2014 (peça 39, p. 11).
185. O processo da Funai relativo ao AHE São Luiz do Tapajós faz menção ao processo nº
08620.072615/2015-56, o qual versava sobre a juntada de informações referentes ao direito de
consulta previsto na Convenção 169 da OIT, havendo ainda menção a reunião de apresentação de
plano de consulta aos povos indígenas; no entanto, a reunião havia sido desmarcada pela
comunidade indígena (peça 39, p. 12).
186. A Informação Técnica 215/2015/COEP/CGLIC/DPDS/FUNAI-MJ relata que o protocolo
de consulta Munduruku foi aprovado em assembleia e encaminhado ao governo federal
‘possivelmente em dezembro de 2014’, mas que não houve resposta (peça 39, p. 12).
187. Houve ainda a realização de audiência pública em 2016 a fim de expor aos indígenas o
empreendimento e seus possíveis impactos. No entanto, esta audiência pública foi convocada pelo
Ministério Público Federal (peça 39, p. 56-64), e apesar da Funai ter sido convidada, não há registro
da participação da Fundação.
188. Desta forma, a despeito de ser o órgão indigenista oficial brasileiro, não há evidências de
que a Funai tenha atuado de maneira efetiva a fim de garantir a realização da consulta prévia aos
povos indígenas interessados acerca do empreendimento de AHE São Luiz do Tapajós.
189. Nada obstante, considerando as controvérsias sobre a regulamentação da OIT 169,
amplamente abordadas no TC 029.192/2016-1, apreciado pelo Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário,
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relator Min. José Múcio, bem como as medidas determinadas por esta Corte de Contas acerca dessa
regulamentação, item 9.1.2.3 do referido acórdão, deixa-se de apresentar proposta quanto a esta
questão, posto que o assunto já fora endereçado pelo Tribunal e se encontra em monitoramento no
âmbito do TC 035.078/2017-0.
IV.2. O exercício das competências constitucionais e legais da Funai no âmbito do processo
de licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós
190. Conforme apresentado no subtópico III.2 deste relatório, os normativos internos da Funai
preveem, dentre outros pontos, a necessidade de participação da Diretoria de Proteção Territorial
(DPT) nos processos de licenciamento socioambiental.
191. Essa participação se deve à necessidade da Funai ter conhecimento sobre a existência do
real tamanho de terras indígenas (já demarcadas) possivelmente afetadas por empreendimentos e/ou
atividades que se pretende desenvolver em determinada localidade, bem como para verificar a
existência de processos de terras indígenas em demarcação potencialmente afetadas.
192. O subtópico IV.1, por sua vez, apresentou, de maneira pormenorizada, como se
desenvolveu o processo de licenciamento do AHE São Luiz do Tapajós, apontando os principais
gargalos que conduziram à situação atual. Dentre eles, merece destaque o imbróglio que envolveu a
identificação e demarcação de possíveis terras indígenas na área de impacto do projeto estudado
para a usina.
193. Dessa forma, ante os efeitos de tal matéria no caso concreto, e considerando também as
disposições constantes do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, de relatoria do Min. José Múcio
(ressaltando-se os subitens 9.5.8 e 9.5.9), mostra-se oportuno avaliar a atuação da Funai também no
que se refere aos processos de identificação e demarcação das possíveis terras indígenas que seriam
afetadas pela usina de São Luiz do Tapajós.
IV.2.1. Dos normativos que regem a atuação da Funai na identificação e demarcação de terras
indígenas
194. Como já exposto anteriormente, a Diretoria de Proteção Territorial (DPT) detém a
responsabilidade por organizar as ações relacionadas à identificação e demarcação de terras
indígenas, cabendo, mais especificamente, à Coordenação-Geral de Identificação e Delimitação
(CGID; parte integrante da estrutura da DPT) realizar e desenvolver as atividades necessárias para
tanto (peça 40).
195. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 231, reconhece aos índios os ‘direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las’,
definindo, no § 1º do referido dispositivo, o conceito de terras tradicionalmente ocupadas pelos
índios.
196. Tal procedimento administrativo de reconhecimento e demarcação de terras indígenas, por
sua vez, é regulamentado pelo Decreto 1.775/1996, o qual apresenta, em suma, todas as etapas
necessárias a serem percorridas para que seja oficialmente reconhecida uma área como terra
indígena, sendo o relatório circunstanciado de identificação e delimitação (RCID) – responsável por
caracterizar a terra indígena a ser demarcada – o principal produto deste procedimento.
197. No âmbito do Ministério da Justiça, a Portaria MJ 14/1996 (peça 41) estabelece as regras
sobre a elaboração do RCID, que deve, com o intuito de propiciar um regular processo de
demarcação, apresentar as situações previstas no art. 231, § 1º, da CF/88, ‘que consubstanciam, em
conjunto e sem exclusão, o conceito de ‘terras tradicionalmente ocupadas pelos índios’.
198. Dessa forma, a mencionada portaria traz, em rol não exaustivo, dados gerais e específicos
que devem ser apresentados em um RCID, indicando, inclusive, a forma como devem estar

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organizados. Com isso, definiu-se, na prática, um conteúdo mínimo que os relatórios


circunstanciados devem conter, restando à Funai, nos termos do art. 4º da Portaria MJ 14/1996,
fixar a sistemática a ser adotada pelo grupo técnico responsável pelos trabalhos de demarcação e
regularização das terras (previsto no art. 2º, § 1º, do Decreto 1.775/1996) (peça 41, p. 3).
199. Ainda, em complemento à citada portaria e frente ao precedente do Supremo Tribunal
Federal (STF) firmado no caso Raposa Serra do Sol, a pasta da Justiça editou a Portaria MJ
2.498/2011 (peça 42), que estabeleceu os procedimentos voltados à interação da Funai com os
‘entes federados cujos territórios se localizam nas áreas em estudo para identificação e delimitação
de terras indígenas’, fornecendo a eles a possibilidade de indicar representante para compor o
respectivo grupo técnico especializado e também de apresentar contestação da área sob demarcação
indicada em RCID.
200. A Funai, por sua vez, elaborou os manuais de Normas Técnicas para a Demarcação de
Terras Indígenas, de Fiscalização Técnica para a Demarcação de Terras Indígenas, e de
Procedimentos Técnicos Cartográficos para Delimitação de Terras Indígenas, cujas versões mais
recentes foram aprovadas mediante a Portaria Funai 682/2008-PRES (peça 43).
201. De acordo com o disposto nos próprios manuais, os seus objetivos principais são,
respectivamente, estabelecer: (i) o processo de demarcação e fixar diretrizes para o
georreferenciamento de terras indígenas no Brasil (peça 43, p. 4); (ii) os procedimentos necessários
para orientar a fiscalização técnica da Funai no acompanhamento e aprovação dos trabalhos de
demarcação de TIs (peça 43, p. 31); e (iii) as orientações básicas para estudos e levantamentos
cartográficos na identificação e delimitação de TIs (peça 43, p. 38).
202. Recentemente, por intermédio da Medida Provisória (MP) 886/2019, o Governo Federal
buscou transferir a competência para a demarcação de terras indígenas ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa). Contudo, o Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo
Tribunal Federal (STF), deferiu pedido de cautelar nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade
(ADIs) 6.172, 6.173 e 6.174, suspendendo a eficácia desta transferência, em virtude de ser vedada a
reedição de norma rejeitada pelo Congresso Nacional (CN) na mesma sessão legislativa, o que
violaria a Constituição Federal e o princípio da separação dos Poderes (a Lei 13.844/2019, que
recepcionou a MP 870/2019, suprimiu dispositivo que intentara realizar essa transferência).
203. O entendimento emitido em despacho monocrático pelo Ministro Luís Roberto Barroso foi
referendado pelo pleno da Corte Suprema, a qual reafirmou a inconstitucionalidade da MP
886/2019, ao reeditar, na mesma sessão legislativa, norma já rejeitada pelo CN (Notícia STF
1º/8/2019).
204. No mesmo assunto, o Ofício de Requisição 3-348/2018-TCU/SeinfraElétrica (peça 11)
havia questionado a Funai acerca dos impactos de tal transferência nos processos de demarcação de
terras indígenas em curso ou recentemente concluídos. Em sua resposta, a autarquia destacou que
não foram expressamente revogados as estruturas regimentais e os estatutos dos órgãos e das
entidades da Administração Pública afetadas, mantendo-se, portanto, as suas atribuições ali
definidas (peça 38, p. 1; SEI_FUNAI – 1156416).
205. Dessa maneira, ante o arcabouço normativo ora exposto, mostra-se oportuno avaliar os
processos de identificação e demarcação das possíveis terras indígenas potencialmente afetadas pela
usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós (TIs Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in), no
formato do projeto técnico apresentado e estudado, verificando-se, no caso concreto, se a Funai agiu
de acordo com suas normas constitucionais, legais e regulamentares.
IV.2.2. Os processos de demarcação das TIs Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in

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206. Importante destacar, em princípio, que são três as possíveis terras indígenas
potencialmente afetadas pelo AHE São Luiz do Tapajós, todas ocupadas pela etnia Munduruku e
ainda não demarcadas, quais sejam: (i) Sawré Muybu; (ii) Sawré Juybu; e (iii) Sawré Bap’in
(anteriormente denominada Sawré Apompu; peça 44, p. 241).
207. Dos três territórios, deve-se dar destaque à TI em demarcação Sawré Muybu, a qual
apresenta o processo de demarcação em estágio mais avançado dentre as três (RCID elaborado e
publicado) e, de acordo com as informações constantes do respectivo processo, possuiria aldeia
indígena que possivelmente sofreria interferência direta (alagamento) em decorrência da instalação
da UHE São Luiz do Tapajós, caso implantada de acordo com o projeto apresentado (peça 32, p. 3).
208. O processo de demarcação da TI Sawré Muybu teve início em julho/2004, quando, em
época que ainda era identificada como TI Pimental, escritório regional da Funai encaminhou ofício
à CGID solicitando informações relacionadas às atividades de identificação e demarcação da
referida TI, face aos questionamentos realizados por comunidades locais (peça 45, p. 2).
209. Em que pese a previsão de formação de grupo técnico para realização dos estudos em
novembro/2004 (peça 45, p. 4) e reiterados pedidos de associação representante dos índios
Munduruku interessados na demarcação (peça 45, p. 16, 26 e 30), somente em novembro/2007 a
presidência da Funai publicou a Portaria 1.099/PRES, constituindo o grupo técnico (GT) com o
intuito de realizar os ‘estudos necessários à demarcação e delimitação das Terras Indígenas São
Luis do Tapajós e Pimental’ (peça 45, p. 36).
210. Essa portaria, além de definir os membros do GT, estabeleceu os prazos de trinta dias para
entrega do relatório cartográfico e 180 dias (ambos contados a partir do retorno de campo dos
técnicos) para a entrega do RCID das referidas terras indígenas (peça 45, p. 36).
211. Em agosto/2008 – mesmo sem ter obtido retorno ou qualquer produto da antropóloga
coordenadora do GT definido, havendo, inclusive, cobrado formalmente a referida profissional
(peça 45, p. 40) – a presidência da Funai publicou a Portaria 909/PRES visando à realização de
estudos complementares aos já demandados, tendo incluído um novo membro na equipe do GT e
concedido novo prazo para entrega dos relatórios (peça 45, p. 42).
212. Um mês após, nova portaria da presidência da Funai (Portaria 1.050/PRES) alterou a
composição do GT, incluindo mais um membro e concedendo novo prazo para entrega dos produtos
(peça 45, p. 46).
213. Apesar das alterações na composição do GT e nos prazos para entrega dos relatórios, não
houve nenhum avanço no processo de demarcação da referida terra indígena até setembro/2011,
oportunidade na qual – por meio do Memorando 572/CGID (peça 45, p. 68), elaborado em resposta
à manifestação do cacique de Sawré Muybu (peça 45, p. 64-66) – a CGID informou à unidade
regional da Funai a nova previsão para realização das atividades (ano de 2012) e as providências,
inclusive judiciais, que estavam sendo tomadas contra antropóloga coordenadora do GT formado
originalmente em novembro/2007, em razão da não entrega do RCID sob sua responsabilidade (sem
a apresentação, inclusive, de justificativas e/ou motivação).
214. Em abril/2012, após novas manifestações do povo Munduruku e interações com o
Ministério Público, foi realizada reunião entre servidores da Funai e representantes das aldeias
Munduruku interessadas na demarcação da TI Sawré Muybu com o intuito de sanar as dúvidas
relacionadas à sua demarcação (peça 45, p. 104-106).
215. Importa ressaltar que, nesse encontro, antes de qualquer nova manifestação da presidência
da Funai, foi definida a composição de novo grupo técnico que daria continuidade à demarcação da
TI Sawré Muybu e que também se prestaria à realização dos estudos necessários à delimitação das

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TIs Sawré Juybu e Sawré Bap’in, iniciando as suas atividades no segundo semestre de 2012 (peça
45, p. 106).
216. Assim, em outubro/2012, foi publicada a Portaria 1.390/PRES, a qual constituiu novo
grupo técnico para realização dos estudos necessários à demarcação da TI Sawré Muybu, incluindo,
também nessa oportunidade, as TIs Sawré Juybu e Sawré Bap’in no escopo das atividades (peça 46,
p. 16). Vale destacar que a composição da equipe diferiu daquela acordada com os povos indígenas
na reunião de abril/2012, mantendo, entretanto, a coordenadora indicada pelos Munduruku (peça
45, p. 106 e peça 46, p. 16).
217. Em que pese a previsão constante do art. 2º, caput, do Decreto 1.775/1996 de que a
portaria emitida pela presidência da Funai deve conter prazo para realização do estudo
antropológico de identificação, a referida portaria trouxe somente o prazo referente ao desempenho
das atividades de campo e uma justificativa de que a missão em comento era de impossível
interrupção, uma vez que a respectiva suspensão seria danosa ao cumprimento da missão
institucional da fundação autárquica (peça 46, p. 16).
218. Por sua vez, a Portaria 1.484/PRES, de novembro/2012, ampliou o prazo para execução
das atividades de campo, sem também trazer dispositivo relacionado ao período que o novo GT
dispunha para entrega dos relatórios (peça 46, p. 20).
219. Importante destacar que, antes da entrega do relatório circunstanciado pelo novo grupo
técnico formado, em agosto/2012, ocorreu assembleia Munduruku do Médio Tapajós, tendo
participado do evento, além das lideranças indígenas, representantes municipais, representantes dos
empreendedores responsáveis pela elaboração do projeto da UHE São Luiz do Tapajós e servidores
da Funai e do ICMBio (peça 46, p. 54-60).
220. Dentre as reivindicações realizadas durante a assembleia, importante destacar a urgência
solicitada no que tange à regularização fundiária da área, tendo sido requerida a ‘entrega urgente do
relatório circunstanciado e sua aprovação junto à presidência, para dar continuidade ao
procedimento administrativo’ (peça 46, p. 58).
221. Ainda assim, em abril/2013, foi emitida a Portaria 368/PRES, que definiu novo grupo
técnico para a realização da ‘segunda etapa dos estudos complementares’ relativos às TIs Sawré
Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in (peça 47, p. 18). A equipe montada, além de incluir os
membros presentes na formação original do grupo técnico composto anteriormente e manter a
mesma antropóloga na coordenação do GT, concedeu prazo para realização de nova missão, sem
estabelecer novamente, todavia, prazo para entrega dos relatórios.
222. Dessa maneira, após novas modificações na composição do grupo técnico – voltadas à
inclusão de servidores representantes dos municípios afetados (Itaituba e Trairão, ambos no Pará) e
do estado afetado (Pará) (peça 47, p. 30 e 36), em observância aos termos da Portaria MJ
2.498/2011 – e interações com outros órgãos que cuidam do ordenamento territorial e da
preservação do meio ambiente (peça 47, p. 66 e 68), foi concluído, em setembro/2013, o relatório
circunstanciado de identificação e delimitação (RCID) da TI Sawré Muybu (peça 47, p. 80-130,
peças 48, 49, 50 e peça 51, p. 1-32).
223. Merece destaque, dentre os anexos ao RCID, a carta de anuência dos representantes da
aldeia Sawré Muybu aos limites cartográficos da possível terra indígena definidos pelo relatório
circunstanciado, posicionando-se de acordo com o que foi desenvolvido em campo pelo GT (peça
51, p. 38-43).
224. Salienta-se, também, carta da assembleia extraordinária do povo Munduruku à Presidente
da República, em janeiro/2013. Neste expediente, os representantes do povo Munduruku, dentre
outros pontos, realizam 33 reivindicações à Presidência da República relativas aos mais variados

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temas, como: questões indígenas envolvendo intercorrências derivadas de operação da Polícia


Federal na região; encerramento dos estudos de projetos hidrelétricos na bacia do Tapajós;
construção de pistas de pouso na região; e reformas em prédio da Funai na localidade (peça 51, p.
104-109).
225. Ainda em setembro/2013, foi elaborado o Parecer 23/CGID/2013, em que foi analisado o
RCID da TI em demarcação Sawré Muybu (peça 52, p. 30-42). Ressalta-se que, em que pese o fato
de a servidora da Funai responsável pela análise não ter composto o GT durante a elaboração do
referido relatório, ela havia sido indicada pelos índios Munduruku para compor a equipe quando da
realização de reunião com os indígenas em abril/2012 (peça 45, p. 106), tendo participado, ainda
que informalmente, do processo.
226. Mesmo com a conclusão e análise do RCID em setembro/2013, não havendo publicação do
mencionado relatório no mês subsequente, lideranças Munduruku buscaram a representação
regional da Funai em Itaituba/PA, em outubro/2013, apresentando carta solicitando tal publicação
(peça 52, p. 60-70).
227. Nessa toada, em novembro/2013, a Coordenadora-Geral de Identificação e Delimitação
encaminhou à Diretoria de Proteção Territorial (DPT) memorando com manifestação favorável à
publicação do RCID (peça 53, p. 3-5). O titular da DPT, por sua vez, manifestou-se de acordo com
o prosseguimento do processo e a publicação do RCID em maio/2014 (peça 53, p. 9).
228. Registra-se que, conforme narrado pelo Memorando 039/GAB/CRT/2014, de lavra da
Coordenação Regional do Tapajós, a representação assumiu a responsabilidade de realizar os
contatos com as lideranças indígenas a fim de apresentar a proposta do Plano de Trabalho
relacionado ao ECI do AHE São Luiz do Tapajós (peça 56).
229. Segundo aquele expediente, havia preocupação por parte de alguns indígenas com o fato de
apenas a Associação Pahyhy’p ter sido convidada para uma reunião com a Secretaria Geral da
Presidência da República sobre decisão judicial que determinava a consulta aos povos indígenas
sobre possíveis aproveitamentos hídricos na região (peça 56, p. 3). Conforme o memorando, as
lideranças indígenas reiteradamente afirmaram que as discussões relevantes para o Povo
Munduruku não devem ser realizadas com pequenos grupos, mas sim abrangendo um número
significativo de lideranças (peça 56, p. 3).
230. Sobre o tema, cabe abrir um parêntese para se destacar a participação do Sr. Deuzivaldo
Saw Munduruku no processo, já tendo sido Coordenador Regional do Tapajós, representação da
Funai na região (peça 57). Pelo seu nome, infere-se que ele é da etnia Munduruku.
231. Ao pesquisar seu nome no Sistema CPF (CPF: 858.765.932-49), verifica-se registro de
dois processos de tomada de contas especial, bem como dois processos de cobrança executiva.
232. A primeira TCE (TC 013.107/2013-5) tinha como assunto o Convênio 812040/2006 (Siafi
581054), cujo objeto era o Apoio ao Desenvolvimento da Educação Nacional: Formação
Continuada de Professores Indígenas - Exercício de 2006. Sobre este processo, o Acórdão
3.711/2013-2ª C, de relatoria do Min. José Jorge, dispôs pelo arquivamento do processo, a título de
racionalização administrativa e economia processual, sem cancelamento do débito no valor original
de R$ 52.074,00, cujo pagamento seria de obrigação da Associação Indígena Pahyhy’P, considerada
devedora. Registra-se que o Sr. Deuzivaldo era o Presidente da referida associação à época (peça
58).
233. Já a segunda TCE (TC 034.708/2014-6) resultou no julgamento da prestação de contas do
Sr. Deuzivaldo Saw Munduruku (CPF: 858.765.932- 49) como irregular, na qualidade de Presidente
da Associação Indígena Pahyhy’p, com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea ‘a’ da
Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, inciso I,

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210 e 214, inciso III do Regimento Interno, condenando-o, solidariamente com a Associação
Indígena Pahyhy’p (CNPJ: 03.024.340/0001-40), ao pagamento da quantia de R$ 52.074,00 (valor
original) aos cofres da União, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE).
234. Ante o exposto, dada a aparente situação de conflito de interesses verificada no caso
concreto, entende-se oportuno realizar oitiva da Funai, nos termos do art. 250, inciso V, do RI/TCU,
para que, considerando os princípios da moralidade e impessoalidade, se manifeste acerca da
atuação do Sr. Deuzivaldo Saw Munduruku no processo de licenciamento socioambiental do AHE
São Luiz do Tapajós na autarquia, tendo atuado como titular da Coordenação Regional do Tapajós
(escritório competente para tratar de assuntos da fundação na localidade).
235. Feito esse relato, volta-se a discorrer sobre o histórico das atividades relacionadas à
demarcação da TI Sawré Muybu. Em julho e agosto/2015, mesmo sem a publicação formal do
RCID, as secretarias executivas do Ministério de Meio Ambiente (MMA) e do Ministério de Minas
e Energia (MME), tendo se antecipado e obtido acesso ao conteúdo do relatório – o qual podia ser
acessado através de páginas na Internet (peça 59, p. 1) –, apresentaram manifestações contestando a
tradicionalidade da ocupação Munduruku na área da TI Sawré Muybu (peça 59, p. 50-122; Processo
completo Licenciamento SLT), o que acarretaria na não-demarcação do referido território.
236. Ao analisar tais manifestações em novembro/2015, a CGID (área técnica responsável na
Funai) reafirmou sua posição favorável ao RCID elaborado e concluído em setembro/2013,
confrontando a fundamentação dos manifestantes baseada no marco temporal, destacando que cabia
(peça 53, p. 75-91):
questionar a aplicabilidade da utilização do marco temporal como único critério efetivamente apresentado
nas citadas Notas para auferir a ocupação tradicional do grupo, em detrimento dos quatro pré-requisitos
constitucionais, devidamente tratados no relatório circunstanciado, os quais permitem caracterizar o vínculo
indissolúvel que os Munduruku estabeleceram e sustentam, apesar de todas as adversidades, com a terra
identificada.
237. Outrossim, entendeu-se que o processo administrativo deveria prosseguir o seu rito,
estando o discutido RCID apto à publicação (peça 53, p. 89-90).
238. Considerando as contestações apresentadas por MMA e MME, e a nova manifestação
favorável por parte da CGID, índios Munduruku enviaram carta à presidência da Funai demandando
a publicação do RCID até 30/1/2016. Caso não fossem atendidos, iriam ‘morar na Funai’ até o
reconhecimento da terra que alegam ser de sua propriedade (peça 53, p. 63-68).
239. Em abril/2016, a antropóloga que coordenou a elaboração do RCID da TI Sawré Muybu
finalizou o resumo do relatório (peça cuja publicação é obrigatória na imprensa oficial),
atualizando-o com informações disponibilizadas pela manifestação da CGID em novembro/2015 e
pelos censos realizados nas aldeias nos anos de 2014 e 2015 (peça 53, p. 105).
240. Também em abril/2016, despacho da DPT destaca as contestações apresentadas pelos
ministérios, negando-as, contudo, em concordância com o que havia sido exposto pela CGID em
novembro/2015, e propondo o prosseguimento do processo (peça 54, p. 11-13).
241. Na mesma data, despacho da presidência da Funai anuiu às conclusões do resumo do
RCID, reconhecendo os estudos de identificação da TI Sawré Muybu e viabilizando a sua
publicação, a qual se deu no Diário Oficial da União (DOU) no dia seguinte, 19/4/2016 (peça 54, p.
15-23). Já a publicação no Diário Oficial do estado onde se encontra a terra indígena (Pará),
também exigida pelo Decreto 1.775/1996, se deu somente em 31/5/2016 (peça 54, p. 83-89).
242. Ao fim do mês de abril/2016, após a publicação do resumo do RCID no DOU, documento
técnico da CGID, referendado por despacho da DPT, reconheceu a existência de novas aldeias

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dentro da área proposta à TI Sawré Muybu, tendo juntado tais informações ao processo (peça 54, p.
37-39).
243. Uma vez findo o processo de elaboração e publicização do RCID, e considerando, em
conformidade com o art. 2º, § 8º do Decerto 1.775/1996, a oportunidade de apresentação de
recursos administrativos ao RCID publicado (encerrada em 29/8/2016; peça 55, p. 25) e solicitação
do Ministério Público Federal (peça 55, p. 19), a CGID elaborou, em outubro/2016, o Memorando
364/CGID/2016, que apresenta uma lista de oito contestações ao relatório circunstanciado
produzido (incluídas as do MMA e do MME), restando serem analisadas ‘técnica e juridicamente
pelos setores competentes’ (peça 55, p. 17-18).
244. Em 26/4/2018, há registro de reunião realizada entre representantes Munduruku e
servidores da CGID/Funai, os quais se comprometeram a concluir as referidas análises no segundo
semestre de 2018 e a manter os índios atualizados acerca das movimentações do processo (peça 60,
p. 2).
245. Em atenção a esse compromisso firmado com os indígenas, a CGID manifestou-se, em
dezembro/2018, pela improcedência das oito contestações administrativas ao RCID apresentadas,
propondo, dessa forma, o encaminhamento do processo de demarcação ao Ministério da Justiça,
para que se decida quanto à ‘expedição da portaria declaratória de limites de terra indígena’ (peça
61). A DPT acatou o posicionamento da coordenação geral (peça 62), encaminhando à presidência
do órgão para seu pronunciamento, a qual, até agosto/2019, ainda não havia se manifestado.
246. No que tange aos processos administrativos de identificação e demarcação das outras duas
possíveis TIs, Sawré Juybu e Sawré Bap’in, importa destacar que, apesar de existirem dois
processos distintos tratando de cada solicitação de reconhecimento de terra indígena, o conteúdo de
ambos é bastante semelhante, com ambos processos se encontrando, atualmente, em fase
preliminar, razão pela qual serão aqui expostos de maneira conjunta e simplificada.
247. Em que pese o fato de os dois processos voltados à identificação e demarcação dessas
terras indígenas terem sido autuados apenas em outubro/2015 (peças 44 e 63, p. 1), as tratativas
voltadas ao reconhecimento desses territórios tiveram início no fim de 2004/início de 2005 (peças
44 e 63, p. 3).
248. Ambos procedimentos sempre caminharam de maneira muito próxima ao processo da TI
Sawré Muybu, sendo os mesmos grupos técnicos (tanto em sua composição inicial, que não
apresentou qualquer produto, como em sua composição mais recente, que elaborou o RCID da TI
Sawré Muybu) responsáveis pelos estudos necessários à identificação e delimitação dessas terras
(peça 44, p. 38 e 101).
249. Ao longo de boa parte dos processos, os encaminhamentos são os mesmos já relatados e
presentes no processo da TI Sawré Muybu, sendo também apresentadas manifestações dos
representantes dos indígenas (peça 44, p. 80, 118 e 138) e atendidas requisições do Ministério
Público (peça 44, p. 91, 99 e 210).
250. Apenas em setembro/2014, cerca de um ano após a conclusão do RCID da TI Sawré
Muybu, foi publicada portaria da presidência da Funai (Portaria 1.096/PRES) voltada à criação de
grupo técnico específico para a realização dos estudos das possíveis TIs Sawré Juybu e Sawré
Bap’in (antiga Sawré Apompu). Esse GT criado tinha como coordenadora a mesma antropóloga
responsável por conduzir os estudos relativos à TI Sawré Muybu (peça 44, p. 219).
251. Assim como em ocasiões anteriores, a referida portaria não determinava o prazo para
conclusão e entrega dos relatórios, apresentando somente a duração da missão em campo (peça 44,
p. 219). Nesse sentido, a primeira manifestação da Funai acerca do prazo para conclusão dos
estudos surgiu em resposta à solicitação de informações realizada pelo Ministério Público Federal

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(MPF), tendo sido informado, em abril/2015, que, após a realização de estudos complementares de
natureza fundiária (os quais seriam prioritários e previstos para o 2º semestre de 2015), seria
apresentado o RCID das TIs Sawré Juybu e Bap’in (peça 44, p. 227).
252. Sem qualquer prosseguimento nos processos, nova solicitação de informações foi realizada
pelo MPF (peça 44, p. 229) em abril/2016, oportunidade na qual a Funai, ao respondê-la, afirmou
que o levantamento fundiário para as TIs Sawré Juybu e Sawré Bap’in ainda estava pendente (peça
44, p. 233-234).
253. Considerando que, ainda assim, não houve avanços nos referidos processos, o MPF
apresentou nova solicitação de informações em julho/2016 (peça 44, p. 235), requerendo, dentre
outras informações, o cronograma para finalização dos trabalhos.
254. Em sua nova resposta, em agosto/2016, a Funai afirmou que dois dos servidores que
compunham o grupo técnico eram contratados temporários cujos contratos foram encerrados
(informação não confirmada, uma vez que os quatro servidores permaneciam, em 2019, lotados na
Funai, conforme peças 64 e 65), restando à fundação verificar com ambos o interesse de
continuarem no projeto como colaboradores (peça 44, p. 241).
255. Já no que se refere ao cronograma previsto, apesar de se tratar de matéria prioritária na
autarquia, destacou-se que não havia previsão para a realização do levantamento fundiário – etapa
necessária à conclusão dos estudos – e que a Funai estava enfrentando dificuldades para cumprir
adequadamente seu planejamento anual em decorrência de restrições orçamentárias e de pessoal
(peça 44, p. 242).
256. Em março/2019, foi emitido despacho da CGID retomando as atividades de elaboração dos
dois RCIDs, com a previsão de realização da nova etapa de campo dos GTs das TIs Sawré Juybu e
Sawré Bap’in ainda no primeiro semestre de 2019 (peça 64). A Portaria Funai 613, de 15/5/2019
(peça 65), constituiu novo grupo técnico, voltado a realizar os ‘estudos de natureza fundiária e
cartorial’ nas referidas TIs.
257. Deve-se ressaltar, ainda, fato relatado pelo Ofício 1/2019/GT 613/PRES/Funai, de
12/6/2019, encaminhado ao Departamento de Polícia Federal (peça 66), em que se solicita
acompanhamento de agentes da PF em virtude de ameaças recebidas pelo GT, inclusive do prefeito
do município de Itaituba, durante a realização do levantamento fundiário.
258. Em ofício encaminhado pela DPT em resposta a novo questionamento do MPF, em
29/7/2019 (peça 67), foi informado que foram realizados os levantamentos de natureza fundiária e
cartorial necessários, com as informações obtidas estando em processamento e a conclusão do
relatório fundiário prevista para agosto/2019. Ainda não há nos autos comprovação da finalização
dessa etapa, sem que os processos tenham avançado rumo à conclusão dos RCIDs.
259. Uma vez apresentado o arcabouço normativo aplicável à demarcação de terras indígenas
pela Funai e os históricos dos processos de identificação e delimitação das possíveis TIs que
poderiam ser afetadas pela UHE São Luiz do Tapajós, caso implantada, pode-se verificar a
ocorrência de algumas inconsistências, à luz dos normativos aplicáveis, nesses processos
administrativos, as quais serão expostas a seguir.
IV.2.3. Ausência de padronização da atuação de diferentes setores da Funai nos processos de
licenciamento socioambiental
260. A ausência de padronização na atuação da Diretoria de Proteção Territorial (DPT) nos
processos de licenciamento socioambiental desenvolvidos na Funai faz com que o normativo
interno que regulamenta a matéria (IN Funai 1/2012, anteriormente, e IN Funai 2/2015 atualmente)
perca efetividade, uma vez que cada processo fica suscetível à atuação da DPT no caso concreto,
sem que haja previsibilidade principalmente com relação aos prazos.
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261. Da análise dos normativos aplicáveis ao caso do licenciamento socioambiental do AHE


São Luiz do Tapajós na Funai, pode-se observar que tanto o art. 9º, § 1º, da IN Funai 1/2012, como
o art. 6º da IN Funai 2/2015 antecipam a necessidade de se consultar a DPT nesses processos. O
fluxograma apresentado pela CGLIC (peça 30), inclusive, mostra esse como sendo o primeiro passo
após o recebimento da solicitação oriunda do órgão licenciador.
262. Tal consulta à Diretoria de Proteção Territorial (DPT) tem o condão de obter manifestação
acerca dos dados cartográficos apresentados, notadamente se a localização do empreendimento
incide sobre terras indígenas, inclusive em áreas com revisão de limites ou com reivindicações
devidamente qualificadas quanto à tradicionalidade da ocupação
263. Essas consultas à DPT, contudo, na contramão do que se observa para o restante do
procedimento geral identificado, não estão regulamentadas, sem que haja uma previsibilidade
mínima dos prazos necessários ao atendimento das solicitações realizadas pela área de
licenciamento da Funai (CGLIC).
264. Ao se compulsar os autos do licenciamento do AHE São Luiz do Tapajós, verificou-se que
a então Coordenadora da Coordenação Geral de Gestão Ambiental – CGGAM – solicitou a
realização de plotagem e análise cartográfica do empreendimento à Coordenação Geral de
Geoprocessamento, bem como a remessa da documentação à Coordenação Geral de Identificação e
Delimitação (CGID), a fim de realizar levantamentos sobre as reivindicações fundiárias e/ou de
revisão de limites na área de influência do empreendimento, conforme registrado pelo Memorando
77/Colic/CGGAM/DPDS/2012, de 25/1/2012 (peça 68, p. 1). Aquele memorando, contudo, foi
posteriormente cancelado, uma vez que já havia plotagem para o empreendimento, conforme
Memorando 84/COLIC/CGGA/2012 (peça 68, p. 7).
265. Nesse sentido, a CGID foi instada a se manifestar sobre o andamento dos processos de
estudo de identificação e delimitação das Terras Indígenas então denominadas KM 43, Pimental e
São Luiz do Tapajós, conforme Memorando 436/COLIC/CGGAM/DPDS, de 10/5/2012 (peça 68,
p. 15). No entanto, não foi encontrada, nos autos, resposta para tal memorando.
266. Para o caso específico dessas terras indígenas (relacionadas ao AHE São Luiz do Tapajós),
conforme será observado no tópico seguinte, a atuação da DPT teve grande impacto negativo sobre
o processo de licenciamento socioambiental, contribuindo amplamente para as indefinições
verificadas.
267. Diante disso, nos processos de licenciamento socioambiental, a atuação da Funai como um
todo fica comprometida, uma vez que não é possível prever quanto tempo a solicitação da CGLIC
levará para ser atendida, fazendo com que a manifestação derradeira da Funai acerca dos impactos
potencialmente causados pelo empreendimento também não tenha previsibilidade, mesmo ante a
existência de prazos bem definidos na Portaria Interministerial 60/2015 para que os órgãos
intervenientes apresentem as suas manifestações ao órgão licenciador. Oportuno ressaltar, também,
o fato de que a própria IN Funai 2/2015 indica expressamente a necessidade de serem respeitados
tais prazos (IN Funai 2/2015, art. 24; peça 24, p. 9).
268. Assim, além de provocar o descumprimento de regramento interno (IN Funai 2/2015, art.
24), a ausência de regulamentação da atuação da DPT deixa a Funai extremamente suscetível à
falha/impropriedade relacionada ao descumprimento do normativo infralegal que regulamenta a
matéria no âmbito dos órgãos licenciadores e das demais entidades intervenientes (Portaria
Interministerial 60/2015).
269. Diante de todo o exposto, entende-se oportuno determinar, com fundamento no art. 250,
inciso II, do RI/TCU, à Fundação Nacional do Índio (Funai) que, no prazo de noventa dias, elabore
normativo interno regulamentando a participação da Diretoria de Proteção Territorial (DPT) nos
processos de licenciamento socioambiental desempenhados na autarquia, notadamente no que se
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refere a prazos de atuação, dado o caráter vinculante da atuação dessa área e o elevado potencial de
impacto no processo como um todo, definindo, entre outros aspectos, os prazos disponíveis para
manifestação da referida diretoria, buscando-se, assim, mitigar o descumprimento sistemático dos
prazos estabelecidos na Portaria Interministerial 60/2015, bem como do art. 24 da Instrução
Normativa Funai 2/2015.
IV.2.4. A Funai não exerceu tempestivamente competências previstas no arcabouço normativo,
impactando diretamente o processo de licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós
270. A atuação intempestiva da Funai nos processos de demarcação das terras indígenas Sawré
Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in conduziu ao descumprimento dos prazos do art. 2º, caput e §§
8º e 9º, do Decreto 1.775/1996, apresentando impactos negativos não somente no processo de
licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós, mas também no devido cumprimento
do planejamento anual da fundação autárquica.
271. Conforme pode-se observar do histórico apresentado com base nos processos
administrativos de identificação e delimitação das TIs Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in,
não houve, até o presente momento, manifestação em definitivo por parte da Funai reconhecendo
legalmente tais áreas como terras indígenas de fato.
272. Em recente consulta ao processo administrativo de demarcação da TI Sawré Muybu
(agosto/2019), verificou-se que as contestações apresentadas aos respectivo RCID foram analisadas
e consideradas improcedentes, tendo a Diretoria de Proteção Territorial (DPT) se manifestado
favoravelmente à delimitação desta TI nos termos definidos no relatório circunstanciado (peça 62).
Não havia, entretanto, à época da consulta, manifestação formal e conclusiva da presidência da
Funai acerca do tema, sendo necessário (para homologação e reconhecimento definitivo da área
como terra indígena), ainda, seu pronunciamento e, em caso de concordância, envio ao Ministério
da Justiça para publicação.
273. No que se refere aos demais processos (consultados também em agosto/2019), a TI Sawré
Juybu estaria com relatório em elaboração, tendo as atividades do grupo técnico responsável sido
retomadas em abril/2019 (peça 64), enquanto o relatório circunstanciado da TI Sawré Bap’in teria
sido entregue em 2017, estando em análise internamente no órgão (peça 69).
274. Importa destacar, contudo, que até agosto/2019 não havia, no processo administrativo
relativo à delimitação da TI Sawré Bap’in, qualquer comprovação da conclusão do respectivo
RCID, com documentos que, inclusive, comprovam o contrário (peças 64 e 65).
275. Em se considerando as informações encaminhadas pela fundação no Memorando 198/2018
(peça 69) e compulsadas nos autos dos respectivos processos administrativos, observa-se que os três
processos de demarcação de terra indígena analisados neste relatório estão em tratativas na Funai há
mais de uma década sem que haja manifestação definitiva da fundação acerca do reconhecimento
ou não das áreas pleiteadas pelos indígenas.
276. Tal fato, além de contrariar os princípios constitucionais da razoabilidade, eficiência e
efetividade, reveste de significativa insegurança jurídica todos os demais procedimentos
administrativos que se queira desempenhar (ou que estejam sendo desempenhados) nas áreas sob
avaliação, como os estudos de viabilidade socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós.
277. A indefinição acerca do reconhecimento das áreas pleiteadas como terras indígenas, aliada
à ausência de regulamentação do § 3º do art. 231 (assunto amplamente tratado no âmbito do TC
029.192/2016-1), traz grandes obstáculos ao desenvolvimento das atividades necessárias à
manifestação definitiva acerca da viabilidade de implantação do referido empreendimento,
conduzindo a uma situação em que não há decisão alguma acerca do projeto, seja favorável ou
desfavorável.

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278. Ademais, dá margem a diferentes interpretações sobre a posse das terras, conforme será
exposto a seguir. A Funai, em resposta a questionamento realizado por meio do Ofício de
Requisição 002-348/2018-TCU/SeinfraElétrica (peça 8), afirma que o direito dos indígenas sobre a
terra é imemorial (com base no parágrafo único do art. 26 da Lei 6.001/1973), sendo a sua
demarcação um mero ato de reconhecimento por parte do Poder Público (peça 70). Ademais, alega
que não caberia à fundação a qualificação dos povos que reivindicam tais terras como indígenas,
sendo o fornecimento da identidade indígena também ato meramente declaratório (peça 70).
279. Normativos que tratam do tema, contudo, apontam para interpretação distinta. Por
exemplo, a Portaria MJ 19/1996 estabelece que o conceito de ‘terras tradicionalmente ocupadas
pelos índios’, dado pela Carta Magna, consubstancia, ‘em conjunto e sem exclusão’, as quatro
situações previstas no art. 231, § 1º, da CF/88 – quais sejam, habitação em caráter permanente;
utilizadas para suas atividades produtivas; imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários ao seu bem-estar; e necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos,
costumes e tradições –, devendo o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação
(RCID) de terras indígenas precisá-las com ‘clareza e nitidez’.
280. Do disposto na referida portaria, vê-se, portanto, que o RCID se prestaria a confirmar, ou
não, a presença, em determinados territórios e povos estudados, de todas as quatro situações
constitucionalmente exigidas para que se considere que a terra em questão é tradicionalmente
habitada por índios. Assim, sem o ato declaratório emanado pelo Ministério da Justiça, formalmente
não haveria como os indígenas se declararem titulares das terras reclamadas.
281. Pode-se verificar, portanto, que a legislação brasileira atual tem no ato de demarcação de
terra indígena o instrumento capaz de encerrar qualquer controvérsia sobre a titularidade de
determinada terra, permitindo, a partir daí, que sejam tomadas as providências necessárias para se
avaliar a viabilidade da realização de quaisquer atividades ou empreendimentos na área em disputa.
282. Desse modo, o desrespeito ao que dispõe o Decreto 1.775/1996, verificado nos três
processos de identificação e delimitação de terras indígenas analisados neste relatório, trouxe
prejuízos significativos para o caso do licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós.
283. Em que pese a ocorrência de situações extraordinárias, como a verificada quando da não
entrega do RCID pela equipe do primeiro grupo técnico formado para realizar os estudos das TIs
Sawré Muybu, Juybu e Bap’in, a atuação da Funai em desatenção ao que prevê o Decreto
1.775/1996 contribuiu, e ainda contribui, para a elevada morosidade verificada nos três processos
administrativos.
284. As portarias da presidência da fundação, ao não observarem o que estabelece o caput do
art. 2º do Decreto 1.775/1996 e não definirem, de maneira objetiva e expressa, o prazo para
elaboração dos respectivos estudos antropológicos de identificação contribuíram de forma relevante
para a utilização de prazos dilatados pelas equipes técnicas e para que não haja previsibilidade
alguma quanto aos processos de demarcação, em desatenção a princípios aplicáveis à
Administração Pública, como os da razoabilidade, da eficiência e da efetividade.
285. Sendo assim, a própria tomada de medidas judiciais e extrajudiciais contra a antropóloga
coordenadora do primeiro grupo de trabalho da TI Sawré Muybu, em razão da não entrega do
relatório, se viu prejudicada, uma vez que, como não havia prazo claro para a conclusão do produto,
foram realizadas inúmeras tentativas de se retomarem os trabalhos sob a sua coordenação.
286. Da mesma forma, a ausência deste comando nas portarias da presidência permitiu que –
considerando como válida a informação repassada pela Funai em resposta ao Ofício de Requisição
001-348/2018-TCU/SeinfraElétrica (peça 69), mesmo sem qualquer indício do equivalente no
respectivo processo administrativo – a conclusão do RCID relativo à TI Sawré Bap’in levasse cerca

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de três anos, ao mesmo tempo em que possibilitou que os estudos necessários à elaboração do
RCID da TI Sawré Juybu estejam sendo realizados há mais de quatro anos.
287. Soma-se a isso o desrespeito, também por parte da Funai (e nessa oportunidade no caso da
TI Sawré Muybu), ao que dispõe o § 9º do art. 2º do Decreto 1.775/1996, que fornece prazo de
sessenta dias para que a fundação analise as contestações ao RCID publicado oficialmente – as
quais, nos termos do § 8º do mesmo artigo, devem ser apresentadas em até noventa dias por
quaisquer interessados – e encaminhe o processo administrativo ao Ministério da Justiça (MJ).
288. Conforme apresentado, o prazo do contraditório referente ao RCID da TI Sawré Muybu
(único a ter sido publicado) encerrou-se em 29/8/2016 (peça 55, p. 25) e, dessa maneira, o prazo
para que a Funai analisasse as contestações e encaminhasse o processo ao MJ se encerrou em
28/10/2016. Entretanto, passados quase três anos do termo final, a fundação ainda não encaminhou
os autos à pasta da Justiça, tendo a DPT se manifestado quanto à improcedência das contestações
apenas em 5/4/2019 (peça 62), sem que haja qualquer pronunciamento da presidência do órgão.
289. Ante todo o exposto, considerando o relevante impacto que a morosidade dos processos de
demarcação das terras indígenas Sawré Muybu, Sawré Juybu e Saré Bap’in tiveram no processo de
licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós e também o extenso decurso de tempo
que tais processos encontram-se abertos, entende-se oportuno determinar à Fundação Nacional do
Índio que apresente, em trinta dias, plano de ação voltado à conclusão definitiva dos processos de
identificação e delimitação das TIs Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in, com destaque para
a elaboração de cronograma prevendo a realização de todas atividades necessárias e indicando
expressamente a data prevista de encaminhamento dos processos administrativos ao Ministério da
Justiça.
290. Ademais, frente ao reiterado descumprimento às disposições do Decreto 1.775/1998,
mostra-se adequado dar ciência à Funai da necessidade de se obedecer às disposições do referido
decreto, principalmente ao que preveem o caput e o § 9º do seu art. 2º.
IV.3. A atuação do Ibama e da Funai no caso do AHE São Luiz do Tapajós frente às
necessidades de segurança energética do Brasil
291. O projeto do aproveitamento hidrelétrico (AHE) São Luiz do Tapajós prevê a construção
de uma usina de grande porte, com capacidade instalada de 8.040 MW e garantia física estimada de
3.706 MW médios (peça 71, p. 6). A título de comparação, a usina hidrelétrica (UHE) Belo Monte
– maior UHE nacional – tem uma potência instalada de 11.233,1 MW, com uma garantia física de
4.571 MW médios (Hotsite Aneel Belo Monte, visitado em 16/11/2018).
292. Esses dados, por si só, já permitem que se tenha uma adequada dimensão da importância
do projeto da UHE São Luiz do Tapajós para o setor elétrico brasileiro (SEB). O Plano Decenal de
Expansão de Energia (PDE) 2024, elaborado em parceria pelo Ministério de Minas e Energia
(MME) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), reforça esse entendimento (peça 75).
293. Ao fazer a previsão de crescimento da oferta de energia elétrica em um horizonte de dez
anos, o PDE 2024 (publicado em 2015) apontava para a necessidade de um aumento de 73.569 MW
na capacidade instalada em todo o país, consideradas todas as fontes (peça 75, p. 82). Se analisada
somente a expansão da oferta de energia gerada por fonte hidrelétrica, vê-se que a previsão feita era
de um acréscimo de 28.349 MW na potência instalada dessa fonte (peça 75, p. 85).
294. A partir daí é possível ter uma noção real da importância do AHE São Luiz do Tapajós
para o país. Consideradas as projeções do PDE 2024, a UHE São Luiz do Tapajós representaria
cerca de 11% de toda a capacidade instalada no sistema e 28% da potência hidrelétrica instalada até
2024.

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295. Contudo, ao se avançarem os estudos acerca das terras indígenas mencionadas neste
relatório – em especial a TI Sawré Muybu, que já possui delimitação territorial em seu relatório
circunstanciado –, verificou-se que o reservatório constante do projeto do AHE São Luiz do
Tapajós apresentava interferência com a mencionada TI. Assim, considerados todos os imbróglios
apresentados nos subtópicos IV.1 (licenciamento socioambiental SLT) e IV.2 (demarcação das TIs),
o Ibama determinou o arquivamento do processo de licenciamento socioambiental dessa usina (peça
71, p. 6).
296. Com isso, frente à grande incerteza que cerca a implantação da UHE São Luiz do Tapajós,
essa solução deixou de ser viável no horizonte decenal, não constando mais como alternativa para
expansão da oferta de energia elétrica na versão do PDE 2026 (peça 71, p. 6).
297. Em seu lugar, o documento ‘Análise do Impacto da não inclusão da UHE São Luiz do
Tapajós no SIN’, elaborado pela EPE em outubro/2016, após avaliar as alternativas à implantação
da usina, apresentou um cenário em que seria necessária a instalação de uma usina termelétrica com
5.500 MW de potência disponível, a ciclo combinado, e totalmente flexível (peça 71, p. 8).
298. Essa opção representaria um aumento do custo anual da oferta de R$ 774,4 milhões e uma
elevação de 6,5 milhões de toneladas de CO2 nas emissões anuais de gases causadores do efeito
estufa, o que equivale a um acréscimo de cerca de 21% nas emissões se comparada ao cenário com
a UHE São Luiz do Tapajós (peça 71, p. 17).
299. Assim, considerados os impactos decorrentes da não implantação da UHE São Luiz do
Tapajós, tanto para o setor elétrico brasileiro, como para o meio ambiente e para o país como um
todo, dado o custo maior a ser arcado com soluções alternativas, e ainda em atenção ao que dispõe o
subitem 9.5.10 do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, mostra-se oportuno avaliar se as atuações da
Funai (que influenciou diretamente nos resultados observados no processo de licenciamento
socioambiental) e do Ibama tiveram um caráter mais estratégico, observando também as
necessidades de segurança energética do Brasil.
IV.3.1. Ausência de um cenário de integração com os atores responsáveis pelo planejamento do
setor elétrico, fazendo com que as partes ignorem as necessidades e os pleitos alheios
300. Não se observou, tanto no processo de licenciamento socioambiental, como nos processos
de demarcação das terras indígenas potencialmente afetadas pelo AHE São Luiz do Tapajós – ou
em qualquer outra instância –, interações entre a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e as entidades
responsáveis pelo planejamento do setor elétrico no País, dificultando a compreensão da
importância global do empreendimento hidrelétrico e criando um ambiente pouco favorável à
resolução dos conflitos verificados.
301. A ausência de integração entre os agentes do setor elétrico e os órgãos de licenciamento
socioambiental, bem como os intervenientes (dentre os quais a Funai), já foi assunto amplamente
abordado em fiscalização desenvolvida por essa Corte de Contas no âmbito do TC 029.192/2016-1,
apreciada pelo Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, relator Min. José Múcio.
302. Naquela oportunidade, foi verificado que etapas de projeto, em especial de hidrelétricas,
embora realizem avaliações sob o prisma socioambiental, não contam com a participação formal e
efetiva dos órgãos licenciadores e dos intervenientes, o que faz com que tais avaliações reflitam, via
de regra, somente a visão dos agentes do setor elétrico acerca da matéria, sem aproximar-se dos
possíveis interessados (TC 029.192/2016-1, peça 156, p. 20).
303. Interessante destacar, também, a maneira como o setor elétrico costuma lidar com as
variáveis socioambientais, apesar da realização de peças técnicas nesse tema, conforme ressalta o
trecho a seguir (TC 029.192/2016-1, peça 156, p. 20):

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(…) embora o setor elétrico desenvolva avaliações sob o prisma socioambiental, não se permite rever o seu
planejamento, sem abri-lo à discussão e sem integrá-lo a outras agendas defendidas pela sociedade. Embora a
dimensão socioambiental seja tema de bastante relevância, sendo considerada no desenvolvimento de alguns
planos, sobretudo no que se refere a projetos de aproveitamento hidrelétrico, é fato que essa preocupação
ocorre na medida em que as demandas de meio ambiente surgem e tornam-se obstáculos a serem superados
para que as políticas energéticas e econômicas se concretizem.
304. No caso concreto ora verificado, não foi diferente. A Resolução CNPE 3/2011, aprovada
em 3/5/2011 pelo presidente do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) – instância
decisória máxima do setor elétrico brasileiro, presidida pelo Ministro de Minas e Energia –, indicou
os aproveitamentos hidrelétricos São Luiz do Tapajós, Jatobá, Jardim do Ouro e Chacorão (todos
localizados na bacia do rio Tapajós) como ‘projetos de geração de energia elétrica estratégicos, de
interesse público, estruturantes e com prioridade de licitação e implantação’ (peça 18, p. 1-2).
305. Ademais, a mencionada resolução determinou que fossem ‘adotadas todas as providências,
no âmbito do Poder Executivo Federal, a fim de concluir os estudos necessários para a licitação e
implantação dos mencionados Aproveitamentos Hidrelétricos’ (peça 18, p. 2).
306. Como forma de ratificar o estabelecido – e seguindo a praxe do Conselho –, em sua 23ª
reunião, ocorrida no dia 5/12/2011, foi definido como pauta do encontro, dentre outros assuntos, a
apresentação da Resolução 3/2011, oportunidade na qual poderia ser debatido o tema (peça 72, p.
3).
307. Contudo, conforme consta da lista de presença da 23ª Reunião Ordinária do CNPE (peça
72), os participantes do encontro eram, em sua grande maioria, membros de órgãos ligados ao setor
elétrico, tendo também participado a titular da pasta do Meio Ambiente (sem, contudo, constar na
lista de presença mandatário do Ibama) e um representante do Ministério da Integração Nacional, o
que conduziu somente à realização de um balanço das resoluções do CNPE em 2011, sem quaisquer
discussões de mérito, de acordo com o que consta da memória da reunião (peça 73, p. 4). Cabe
salientar que a Funai e o Ministério da Justiça sequer fazem parte do CNPE.
308. Tal resolução, portanto, foi aprovada sem que houvesse uma discussão entre diferentes
atores, impedindo que eventuais objeções (como a questão indígena) fossem apresentadas. Além
disso, como pôde-se observar no subtópico IV.1 (Licenciamento socioambiental de SLT) do
presente relatório, tampouco este instrumento teve impacto no desenrolar do processo de
licenciamento socioambiental de São Luiz do Tapajós.
309. Apesar da ausência de participação da Funai (ou do Ministério da Justiça) em decisões
institucionais relacionadas ao AHE São Luiz do Tapajós, é importante destacar que o atual nível de
maturidade do setor socioambiental, em específico o do setor indígena, também contribui
sobremaneira para a situação verificada, conforme pode-se depreender do trecho a seguir (TC
029.192/2016-1, peça 156, p. 22):
(…) a Funai afirma existir atualmente: i) 477 registros de reivindicações fundiárias indígenas (dos quais 56%
referem-se à região Norte) ainda em estágio preliminar ou com informações insuficientes para dar ensejo à
constituição do grupo técnico multidisciplinar responsável por realizar os estudos necessários à demarcação
da área com base na legislação vigente (peça 42); ii) 91 terras indígenas com estudos multidisciplinares de
identificação e delimitação atualmente em curso, incidentes majoritariamente em áreas fora da Amazônia
Legal (peça 43); e iii) 38 terras indígenas consideradas delimitadas, isto é, com estudos aprovados pela
Presidência da Funai, publicados no Diário Oficial da União e do Estado, encontrando-se em fase de
contraditório administrativo ou em análise pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, para decisão
acerca da expedição de Portaria Declaratória da posse tradicional indígena (peça 44) .
Tais fatos sugerem que, se por um lado a proporção de bacias a serem inventariadas em relação a todo o
potencial hidrelétrico nacional é reduzido, ainda há uma grande lacuna na definição e efetiva proteção dos
recursos ambientais a serem preservados em território brasileiro, o que traz imprevisibilidade e insegurança
jurídica para o setor elétrico e para a implementação de suas políticas.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 027.601/2018-8

310. Ainda, de acordo com o que destaca o próprio relatório de auditoria do TC 029.192/2016-
1, as próprias pesquisas voltadas à exploração do potencial hidroenergético da bacia do rio Tapajós
iniciaram-se no final da década de 80, enquanto grande parte da legislação socioambiental foi
elaborada posteriormente, interferindo de maneira relevante na forma de exploração dos
aproveitamentos (TC 029.192/2016-1, peça 156, p. 21).
311. No caso específico do setor indigenista, faz-se mister salientar a ausência de
regulamentação, ainda hoje, dos meios consultivos aos povos indígenas e às comunidades
tradicionais, previstos no art. 231, § 3º, da Constituição Federal de 1988 e no Decreto 5.051/2004,
instrumento que recepcionou no ordenamento jurídico brasileiro a Convenção OIT 169.
312. Esse assunto também foi tratado na referida auditoria do TC 029.192/2016-1, sendo
oportuno salientar o que se segue (TC 029.192/2016-1, peça 156, p. 26):
Se por um lado a aludida convenção busca garantir a participação isonômica das populações tradicionais em
políticas governamentais que interfiram em seu modo de vida, por outro, não é razoável que os interesses dos
povos tradicionais prevaleçam, a qualquer custo, sobre os da coletividade.
313. É possível enxergar, dessa maneira, o impacto que a ausência de regulamentação desses
dispositivos tem sobre os processos em curso, assim como foi verificado na análise desempenhada
no subtópico IV.1 deste relatório.
314. Já no caso do Ibama, considerado o caso concreto, mostra-se oportuno destacar a
existência da chamada ‘sala de situação’ para empreendimentos incluídos no Plano de Aceleração
do Crescimento (PAC), como o AHE São Luiz do Tapajós. A sala de situação se constitui em um
ambiente em que eram reunidos diferentes atores participantes do processo de licenciamento
socioambiental (tanto licenciador, como intervenientes e órgãos públicos interessados no projeto) e
eram definidas as ações que cada ente precisava executar de modo a viabilizar o licenciamento do
projeto em discussão (peça 31, p. 3).
315. Nota Informativa da Diretoria de Licenciamento Ambiental do Ibama do dia 13/8/2014
(peça 76, p. 381-387), ao apresentar os trabalhos realizados no âmbito do licenciamento ambiental
do AHE São Luiz do Tapajós, traz relatos de reunião ocorrida em sala de situação do PAC em que
foi debatido o referido projeto, tendo sido apresentados e estabelecidos prazos para a entrega do
EIA/RIMA e para a realização das ações de responsabilidade do Ibama, sempre com o intuito de
viabilizar o licenciamento, e não discutir o planejamento ou eventuais alternativas ao
empreendimento debatido.
316. Importante destacar, também, constatação alcançada pela SecexAgroAmbiental (unidade
técnica do TCU que detém a clientela do Ibama) no âmbito do TC 024.048/2018-6, apreciado pelo
Acórdão 1.789/2019-TCU-Plenário, relatado pelo Min. Weder de Oliveira. Na linha do que fora
apontado no TC 029.192/2016-1, a referida secretaria de controle externo, além de apontar para a
sabida articulação limitada entre os órgãos participantes do licenciamento socioambiental, indicou
as boas práticas constatadas durante a execução dos trabalhos de auditoria, entendendo que
‘iniciativas de acompanhamento de projetos de interesse do governo federal’ alcançaram bons
resultados (peça 27, p. 23 do TC 024.048/2018-6).
317. A SecexAgroAmbiental, contudo, destacou que tais ações ‘não são institucionalizadas, não
ocorrem com a frequência desejada e tratam de um número limitado de projetos, notadamente
aqueles de interesse do governo federal, como os da carteira do Programa de Parcerias de
Investimentos (PPI)’, tendo sido constatada a necessidade de se institucionalizar sistemática em que
o Ibama detenha o protagonismo, devido ao seu papel de licenciador (responsável pela emissão das
licenças) na esfera federal (peça 27, p. 24 do TC 024.048/2018-6).
318. Das análises desempenhadas no TC 029.192/2016-1, resultou o Acórdão 2.723/2017-TCU-
Plenário, de relatoria do Min. José Múcio Monteiro, cujas determinações, em específico do item
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 027.601/2018-8

9.1, visam ao endereçamento e à resolução dos desafios apontados, como é possível observar em
seguida:
(…)
9.1. determinar à Casa Civil da Presidência da República, como órgão coordenador da atuação
interinstitucional do governo, que:
(…)
9.1.2. em articulação com os Ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente:
9.1.2.1. no prazo de cento e vinte dias, elabore Plano de Ação para tornar efetiva a integração entre os
diferentes atores envolvidos no planejamento e coordenação dos principais empreendimentos hidrelétricos
estudados no país, através da institucionalização de ferramenta voltada à realização de uma avaliação
sistêmica, a exemplo da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), de forma a permitir que, na etapa decisória
acerca da inclusão de determinado empreendimento no planejamento de médio/longo prazo do setor, sejam
adotadas decisões estratégicas que englobem o planejamento da matriz energética, o uso da água nas bacias
hidrográficas, a ocupação e uso do solo, os bens tangíveis e intangíveis a serem preservados ante o possível
impacto causado pela construção de grandes usinas hidrelétricas, bem como eventuais projetos de
infraestrutura alternativos;
9.1.2.2. no prazo de trezentos e sessenta dias, encaminhe informações sobre o andamento da avaliação
estratégica a ser realizada, com fundamento nas ações tomadas para a efetiva integração e coordenação dos
diversos atores envolvidos, no que se refere aos AHEs Jatobá, São Luiz do Tapajós, São Simão Alto, Salto
Augusto Baixo e Marabá;
9.1.2.3. no prazo de cento e vinte dias, adote ações efetivas com fins de levar ao Congresso Nacional
proposta de regulamentação dos meios consultivos previstos no art. 231, § 3º, da Constituição Federal de
1988;
319. Já no âmbito do TC 024.048/2018-6, o Acórdão 1.789/2019-TCU-Plenário, relator Min.
Weder de Oliveira, também buscou endereçar o problema, resultando nas seguintes recomendações:
(…)
9.2. recomendar ao Ibama, no prazo de 90 (noventa) dias, com fundamento no art. 250, III, do Regimento
Interno do Tribunal, que:
9.2.1. publique orientação sobre sistemática de articulação e comunicação com órgãos e entidades
intervenientes no licenciamento ambiental federal (LAF), visando favorecer a troca de informações e a
tempestiva cooperação entre as instituições e atores interessados, prevendo, por exemplo, reuniões de
periodicidade pré-definida para acompanhamento de projetos de sua competência, para as quais podem ser
convidados empreendedores, ministérios setoriais e outros órgãos públicos (peça 34, item 3.3);
(…)
9.4. recomendar à Casa Civil da Presidência da República, informando o Tribunal a respeito da viabilidade
de cumprimento no prazo de 90 (noventa) dias, com fundamento no art. 250, III, do Regimento Interno do
Tribunal, que oriente os ministérios setoriais para que, ao iniciarem estudos de projetos que envolvam o
licenciamento ambiental prévio, estabeleçam sistemática de articulação junto ao MMA/Ibama, para
participarem de reuniões, a fim de que o referido instituto obtenha conhecimento prévio dos projetos e possa
participar da discussão envolvendo a sua viabilidade ambiental, de forma a facilitar e agilizar a concessão de
sua licença ambiental;
320. Oportuno destacar, também, decisão do Plenário desta Corte de Contas exarada por meio
do Acórdão 1.631/2018-TCU-Plenário, de relatoria do Min. Augusto Sherman Cavalcanti, que traz,
em seu item 9.8, abordagem concreta com vistas à institucionalização de uma instância decisória
que promova a integração entre os diversos atores, conforme exposto a seguir:
9.8. recomendar à Presidência da República a criação de instância decisória formal, supra e interinstitucional,
presidida por representante direto do Presidente da República, que, subsidiada pelas avaliações (pareceres,

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propostas, avaliações etc) sobre as variáveis individuais (técnica, econômica, ambiental e social) e sobre as
alternativas possíveis, elaboradas pelos órgãos e instituições competentes, decida, com base no menor
impacto econômico, social e ambiental, considerando compromissos de segurança energética, modicidade
tarifária, cumprimento de acordos internacionais e da legislação regente e em nome do Estado e do povo
brasileiro, com a transparência devida, qual tecnologia e/ou qual projeto de geração de energia elétrica será
adotado e, em contrapartida, quais ônus serão assumidos, por quem serão assumidos e de que forma serão
compensados;
321. Portanto, considerando que as deliberações exaradas nos Acórdãos 2.723/2017-TCU-
Plenário, 1.789/2019-TCU-Plenário e 1.631/2018-TCU-Plenário já deram os oportunos e
pertinentes encaminhamentos sobre medidas a serem adotadas em prol do aprimoramento da
integração entre os agentes do setor elétrico brasileiro e os órgãos que atuam como representantes
das mais variadas vertentes do setor socioambiental (como Ibama e Funai), entendem-se
desnecessárias novas propostas no mesmo sentido neste processo.
IV.4. Atendimento ao item 9.5 do Acórdão 2.723/2017
322. Considerando a determinação contida no item 9.5 do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, e
os apontamentos decorrentes que nortearam a realização da presente auditoria, entende-se oportuno
responder de forma direta o que determinou a decisão desta Corte de Contas, como fim de
evidenciar o seu atendimento.
323. Dessa maneira, serão apresentados um a um os referidos subitens, seguidos dos respectivos
comentários, sintetizados a partir das análises desempenhadas nos demais capítulos deste relatório.
Item 9.5.1. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Planejamento elaborado pela Funai e Ibama
324. Em suma, verificou-se que ambos os órgãos se utilizaram dos normativos e regras padrões
nos seus planejamentos para atuação nos processos relativos ao licenciamento ambiental do AHE
São Luiz do Tapajós.
325. A Funai, em sua resposta ao Ofício de Requisição 001-348/2018-TCU/SeinfraElétrica
(peça 25), ao ser questionada acerca do planejamento adotado, afirmou que o processo foi iniciado
em decorrência de demanda do Ministério Público, com posterior solicitação de manifestação
acerca do Termo de Referência Específico pelo Ibama, como forma de guiar a realização dos
estudos relativos ao componente indígena do empreendimento.
326. Assim sendo, pôde-se verificar nos autos do processo junto ao órgão que se seguiu a
Portaria Ministerial 419/2011, vigente à época, bem como as Instruções Normativas da Fundação
que tratavam do tema (IN 1/2012 e 4/2012), sendo que hidrelétricas (assim como estradas, linhas de
transmissão, dutos e passivos ambientais) estão incluídas nas tipologias de empreendimentos que
são priorizadas (peça 25).
327. O Ibama, por sua vez, em reposta ao Ofício de Requisição 001A-348/2018-
TCU/SeinfraElétrica (peça 74, p. 2), declarou ter seguido o estabelecido na Resolução Conama
237/1997, na Portaria Interministerial 419/2011 e na Portaria MMA 55/2014, tendo aplicado o rito
determinado nesses normativos, o que pôde ser confirmado no exame do processo de licenciamento.
328. O assunto foi tratado no tópico IV.1 deste relatório.
Item 9.5.2. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Procedimentos adotados pelas referidas
unidades
329. Os procedimentos adotados pelos referidos órgãos, em síntese, buscaram seguir o
estabelecido nos normativos vigentes à época, conforme declarado. Contudo, foram, ainda assim,
encontradas falhas na condução dos processos existentes, as quais influenciaram negativamente o
desenvolvimento das atividades necessárias à conclusão destes. Como consequência, processos
administrativos que podem impactar diretamente nas decisões acerca da viabilidade socioambiental
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do AHE São Luiz do Tapajós encontram-se abertos há mais de dez anos, sem resolução até a
presente data. O assunto foi tratado nos tópicos IV.1 e IV.2 deste relatório.
Item 9.5.3. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Comparação desses procedimentos com o que se
poderia chamar de procedimento padrão e com outros procedimentos reais similares realizados
pelas entidades
330. Destaca-se que não foi constatada, nos processos de licenciamento socioambiental do AHE
São Luiz do Tapajós, a adoção de procedimentos estranhos àquilo que pode ser caracterizado como
procedimento padrão (devidamente definido, para os dois órgãos, no tópico III).
331. Tal constatação, contudo, não possui o condão de validar as ações verificadas, que,
conforme exposto, são, ainda assim, eivadas de ineficiências com alto grau de relevância,
impactando negativamente, e de forma direta, o desenvolvimento dos processos administrativos
relacionados.
332. Ainda, importante ressaltar que os citados problemas foram também observados em
processo semelhante (licenciamento socioambiental da UHE São Manoel), sendo indicativo de que
as inconsistências verificadas possuam um caráter estrutural, atrelado à atuação dos órgãos.
333. O assunto foi tratado nos tópicos IV.1 e IV.2 deste relatório.
Item 9.5.4. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Entidades e pessoas responsáveis pela execução
dos procedimentos (técnicos da Funai e Ibama, empresas contratadas pela Funai e Ibama, ONG’s
contratadas/conveniadas/intervenientes, etc.)
334. A Funai, ao explanar os responsáveis por atuar nos seus processos de licenciamento
ambiental, destaca a obrigatoriedade de todas as suas ações finalísticas serem realizadas por
servidores de carreira, tendo a Lei 11.907/2009 instituído os cargos de Indigenista Especializado,
Agente em Indigenismo e Auxiliar em Indigenismo, os quais detém a competência por atuar no
licenciamento socioambiental (peça 25, p. 2-3).
335. Faz parte, entretanto, das ações relacionadas ao licenciamento socioambiental na Funai, a
atividade de identificação e demarcação de terras indígenas, uma vez que a sobreposição de
empreendimentos traz impactos significativos à população indígena localizada nas áreas de
impacto. Da análise do Processo Funai 08620.000765/2009-09, bem como do Processo Funai
08620.056543/2013-19, observou-se que a formação dos grupos técnicos responsáveis pela
elaboração dos relatórios circunstanciados de identificação e delimitação de terras indígenas não
inclui somente servidores da Fundação, havendo a possibilidade de agentes externos ao órgão
comporem os referidos (como se observou na composição do primeiro grupo técnico montado
durante as atividades de reconhecimento da TI Sawré Muybu, em que a antropóloga-chefe não fazia
parte do quadro de servidores da Funai).
336. A previsão para a participação de agentes externos consta do Decreto 1.775/1996, que, em
seu art. 2º, caput e § 1º, estabelece que os trabalhos serão desenvolvidos por ‘antropólogo de
qualificação reconhecida’, responsável por coordenar grupo técnico especializado designado pelo
órgão federal de assistência ao índio, ‘composto preferencialmente por servidores do próprio quadro
funcional’.
337. Assim, parte das atividades que têm correlação com o licenciamento socioambiental na
Fundação podem contar com a participação de atores que não fazem parte do quadro funcional da
autarquia.
338. No âmbito do Ibama, o Instituto declarou que a execução das atividades relacionadas ao
licenciamento ambiental é realizada toda por equipe multidisciplinar própria, composta por
servidores lotados na Diretoria de Licenciamento Ambiental, tendo entregue lista dos seus

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servidores que participaram efetivamente das análises realizadas no processo do AHE São Luiz do
Tapajós (peça 74, p. 2).
339. O assunto foi tratado no tópico IV.2 deste relatório.
Item 9.5.5. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Regularidade do eventual exercício de
competências legais da Funai e do Ibama por terceiros contratados/conveniados
340. Conforme apontado na resposta ao subitem anterior, há previsão normativa (Decreto
1.775/1996) para a participação de terceiros em grupos técnicos constituídos pela Funai com o
intuito de elaborar os relatórios circunstanciados de identificação e demarcação de terras indígenas.
341. Por sua vez, as demais atividades relacionadas ao licenciamento socioambiental do AHE
São Luiz do Tapajós, tanto na Funai, quanto no Ibama, foram realizadas por servidores dos quadros
dos órgãos, conforme respostas dos órgãos aos ofícios de requisição encaminhados e consultas aos
respectivos processos.
342. O assunto foi tratado no tópico IV.2 deste relatório.
Item 9.5.6. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Resultados e conclusões dos referidos
procedimentos
343. Os principais resultados e conclusões dos procedimentos adotados foram detalhados nos
capítulos anteriores deste relatório, conduzindo aos quatro achados apontados.
344. No que tange à atuação da Funai, esses achados versam principalmente acerca da
participação da área responsável pela identificação e delimitação de terras indígenas nos processos
de licenciamento socioambiental.
345. Não há, na Fundação, normativo interno que estabeleça como deve se dar a consulta à
Diretoria de Proteção Territorial (DPT)/Coordenação Geral de Identificação e Delimitação (CGID)
no decorrer de um processo de licenciamento socioambiental, sem que haja a definição acerca de
regras básicas, como prazo e conteúdo mínimo necessário, fazendo com que esse se torne o maior
gargalo desses processos de licenciamento no órgão.
346. Foi o que se observou no processo de licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do
Tapajós. Os principais entraves ao seu desenvolvimento dentro da Fundação estavam relacionados
aos processos de demarcação das terras indígenas (TI) Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in,
uma vez que, para se precisar os possíveis impactos causados pelo projeto sob análise, havia a
necessidade de se definir as informações básicas relativas a essas TIs, o que se dá por meio da
elaboração do relatório circunstanciado de identificação e delimitação (RCID).
347. Em que pese a elaboração do RCID da TI Sawré Muybu, este não chegou a ser
formalmente concluído, restando manifestação da Presidência do órgão quanto às informações ali
constantes. Já os RCIDs das TIs Sawré Juybu e Sawré Bap’in, por sua vez, não foram
concluídos/publicados, podendo-se afirmar que ainda não foram apresentados à população.
348. Importa destacar que tais indefinições acerca da demarcação dessas terras indígenas, as
quais já duram cerca de uma década, acabam por influenciar diretamente em quaisquer processos
relacionados à exploração de qualquer tipo de atividade nessas áreas (ou em suas proximidades),
como o AHE São Luiz do Tapajós.
349. Quanto à atuação do Ibama como órgão licenciador, importa salientar que, naquilo que era
de responsabilidade exclusiva do Instituto, os principais normativos avaliados no escopo da
presente auditoria foram observados, tendo os prazos estabelecidos sido cumpridos em boa parte
das ocorrências no processo de licenciamento do AHE São Luiz do Tapajós.

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350. As duas oportunidades em que o processo no Ibama foi arquivado foram motivadas por
discussões ocorridas com órgãos intervenientes – em 2011, em virtude da sobreposição do
empreendimento em áreas de proteção ambiental, tendo o ICMBio indicado o arquivamento; em
2016, em decorrência de incompletudes nos estudos de impacto ambiental, provocados pela
impossibilidade de coleta de dados primários em terras ocupadas por povos indígenas, matéria de
competência da Funai.
351. O assunto foi tratado nos tópicos IV.1 e IV.2 deste relatório.
Item 9.5.7. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Levantamento da situação atual dos estudos
relacionados à proteção ambiental e às áreas indígenas na área de influência do AHE São Luiz do
Tapajós
352. As áreas de proteção ambiental que se encontravam na área de influência do projeto
apresentado para o AHE São Luiz do Tapajós foram desafetadas por intermédio da Medida
Provisória 558/2012, sendo que, desde então, não há mais sobreposição.
353. Por sua vez, as TIs Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in ainda não se encontram
demarcadas, encontrando-se cada uma em um diferente estágio em seus respectivos processos.
354. A TI Sawré Muybu teve seu RCID elaborado e publicado, estando pendente o
posicionamento da Presidência da Funai e possível encaminhamento ao Ministério da Justiça.
355. A TI Sawré Juybu está com seu RCID em elaboração, não tendo sido concluído desde a
última consulta ao processo.
356. A TI Sawré Bap’in, de acordo com informações repassadas em resposta a ofício de
requisição encaminhado, teve seu RCID elaborado, mas ainda não publicado, estando ainda por ser
aberto o prazo para apresentação dos recursos.
357. O processo de licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós segue
arquivado no Ibama.
358. O assunto foi tratado no tópico IV.2 deste relatório.
Item 9.5.8. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Avaliação dos fundamentos utilizados pela
Funai para indicar a existência de terra indígena e declarar a inviabilidade do projeto São Luiz do
Tapajós em razão da TI Sawré Muybu
359. O relato da atuação da Funai no processo de demarcação da TI Sawré Muybu está descrito
de maneira detalhada no capítulo IV.2 deste relatório, oportunidade em que são apresentados o
histórico e as principais motivações para o início dos estudos.
360. Em síntese, a existência da aldeia indígena então denominada Boa-Fé na área de influência
do empreendimento motivou a atuação do Ministério Público Federal (MPF) junto à Funai, tendo
sido demandado que a Fundação se manifestasse acerca da situação e realizasse os estudos
necessários ao deslinde da matéria, uma vez que estavam em curso discussões acerca da exploração
do potencial energético da bacia do rio Tapajós.
361. Ainda, importa destacar que a Funai tem entendimento de que a Convenção OIT 169
estabelece que ‘nenhum Estado tem o direito de negar a identidade a um povo indígena ou tribal
que como tal ele próprio se reconheça e que o reconhecimento da condição étnica perpassa o
processo de auto identificação’ (peça 70).
362. Assim, a qualificação de uma comunidade indígena realizada previamente à elaboração do
RCID tem por objetivo realizar ‘uma avaliação preliminar para verificar se as demandas fundiárias
se enquadram no rol de competências desta Diretoria, não configurando, nesta etapa, nenhum tipo
de qualificação étnica’ (peça 70).

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363. Quanto à manifestação no sentido da inviabilidade do projeto São Luiz do Tapajós, essa
tem embasamento em Informação da área técnica responsável pela análise do Estudo de
Componente Indígena (Informação 249/COEP/CGLIC/DPDS/FUNAI, peça 32) e em parecer da
Procuradoria Federal Especializada (PFE) junto à Funai, que ressalta que ‘a proibição constitucional
de remoção dos indígenas de suas terras compreende também os territórios ainda não demarcados
pelo Poder Público, que é o caso em apreço’. A PFE traz também a Convenção OIT 169, afirmando
que seu art. 16 estabelece que ‘os povos interessados não devem ser transladados das terras que
ocupam’ (peça 77).
364. Importa destacar que essa manifestação contrária à implantação da UHE São Luiz do
Tapajós se deu, inclusive, antes mesmo da elaboração, por parte do interessado, dos estudos
completos de viabilidade técnica, econômica e ambiental (EVTEA) – os quais não puderam ser
elaborados em virtude da ausência de autorização para ingresso nas áreas das TIs em
estudo/demarcação –, uma vez que o processo de licenciamento junto ao Ibama foi arquivado em
etapa anterior à sua entrega.
365. O assunto foi tratado no tópico IV.2 deste relatório.
Item 9.5.9. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Compatibilidade desses procedimentos e
resultados com as normas constitucionais, legais e regulamentares que incidem sobre a matéria
366. No momento, a questão indígena suscita as maiores discussões relacionadas à viabilidade
socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós. Acerca da matéria, observou-se que a Funai buscou
embasamento principalmente na Constituição Federal de 1988 e na Convenção OIT 169, de forma a
resguardar os direitos dos povos indígenas. O mérito da questão, contudo, é imiscuído de alto grau
de interpretação.
367. Dessa forma, dada a natureza da discussão, entende-se não ser este o foro adequado para se
debater a correição e adequabilidade das interpretações adotadas pelo órgão indigenista, sendo o
Judiciário a esfera competente para tanto.
368. Todavia, não foi avaliada somente essa vertente, tendo se constatado que a atuação da
Fundação nos processos de demarcação de terras indígenas, além de não possuir norma interna que
organize as ações correlacionadas, desrespeitou o que estabelece o Decreto 1.775/1996 nos casos
concretos das TIs Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in, tendo contribuído sobremaneira para
as ineficiências observadas e apontadas na seção IV.1.1.
369. A atuação do Ibama, por sua vez, deu-se sempre pautada no seu papel de órgão licenciador
responsável pela avaliação dos estudos de impacto ambiental, atuando como centralizador das ações
necessárias, tendo como base normativa as resoluções do Conama, as portarias interministeriais e as
portarias do Ministério de Meio Ambiente aplicáveis.
370. À exceção de descumprimentos de prazo de baixo impacto no caso do AHE São Luiz do
Tapajós, pode-se afirmar, com base no avaliado na presente auditoria, que os procedimentos
adotados foram compatíveis com os normativos devidos. Ressalta-se, entretanto, que esse processo
apresenta baixa maturidade, tendo atravessado somente a primeira etapa prevista para emissão das
licenças pelo Instituto (emissão do Termo de Referência), conforme pode-se observar da Figura 4, a
seguir.

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Figura 4 – Etapas previstas pelo Ibama para emissão das licenças necessárias à implantação da UHE São
Luiz do Tapajós (fonte: Sislic/Ibama)
371. O assunto foi tratado nos tópicos IV.1 e IV.2 deste relatório.
Item 9.5.10. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Compatibilidade desses procedimentos e
resultados com as necessidades de segurança energética do país
372. A ausência de integração dos diversos agentes participantes do licenciamento
socioambiental com os planejadores e tomadores de decisão no setor elétrico brasileiro faz com que
os procedimentos e resultados verificados não possuam correlação com as necessidades de
segurança energética do país, dando margem à adoção de solução alternativa que, potencialmente,
apresente maior prejuízo econômico (elevação da tarifa) e ambiental (aumento da emissão de gases
efeito-estufa), conforme documento elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (peça 71). O
assunto foi tratado no tópico IV.3 deste relatório.
Item 9.5.11. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: Análise das falhas eventualmente identificadas,
aí incluídas aquelas já apontadas no trabalho de auditoria sob apreciação
373. A análise das falhas identificadas foi realizada de forma minudente na seção IV deste
relatório, estando ali verificadas a ausência de normativo estabelecendo as regras de participação da
DPT/CGID nos processos de licenciamento socioambiental no Ibama; a ineficiência da Funai na
demarcação das terras indígenas potencialmente afetadas; e a ausência de integração entre os
diversos atores do licenciamento com os agentes de planejamento e responsáveis pela tomada de
decisão no setor elétrico.
Item 9.5.12. do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário: formulação de propostas de possíveis soluções
procedimentais e normativas para os problemas e dificuldades identificados
374. Dentre as propostas de possíveis soluções apresentadas estão a formulação de normativo
interno que regulamente a participação da DPT/CGID nos processos de licenciamento
socioambiental; e a elaboração de planejamento e cronograma vinculante para a conclusão dos
processos de demarcação das terras indígenas relacionadas ao processo de licenciamento
socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós.

V. Conclusão
375. O presente trabalho decorre do item 9.5 do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, de relatoria
do Exmo. Min. José Múcio Monteiro, o qual determinou a esta Secretaria a realização de auditoria
de conformidade na Fundação Nacional do Índio (Funai) e no Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), em parceria com a Secretaria de Controle Externo do
TCU no Mato Grosso (Secex-MT) e com a Secretaria de Controle Externo de Agricultura e Meio

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Ambiente (SecexAgroAmbiental), voltada a verificar a atuação dos referidos órgãos nos processos
de licenciamento socioambiental do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) São Luiz do Tapajós.
376. A Matriz de Planejamento (peça 16) trouxe, portanto, uma construção voltada ao
atendimento de todos os pontos dispostos no dispositivo retro mencionado. Assim, o presente
relatório buscou responder às seguintes questões:
1) Há procedimento padrão na Funai para tratamento de pedidos de licenciamento
ambiental?
2) O processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós na Funai
encontra-se devidamente documentado?
3) A atuação da Funai no processo do AHE São Luiz do Tapajós respeitou os
mandamentos legais e constitucionais atribuídos à fundação?
4) As decisões tomadas pela Funai no processo de licenciamento do AHE São Luiz do
Tapajós levaram em consideração as necessidades de segurança energética do país, bem como
possíveis impactos decorrentes?
5) Há procedimento padrão no Ibama para tratamento de pedidos de licenciamento
ambiental?
6) O processo de licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós no Ibama
encontra-se devidamente documentado, tendo o Ibama respeitado as normas constitucionais, legais
e regulamentares que incidem sobre a matéria?
7) As decisões tomadas pelo Ibama no processo de licenciamento do AHE São Luiz do
Tapajós levaram em consideração as necessidades de segurança energética do país, bem como
possíveis impactos decorrentes?
377. No que tange às questões 1 e 5, pôde-se verificar, conforme exposto nos tópicos IV.1 e
IV.2 deste relatório, que tanto Ibama, quanto Funai possuem procedimento padrão instituído para
tratamento dos processos de licenciamento socioambiental que chegam às autarquias.
378. Ainda assim, verificou-se, no Ibama, que não há procedimentos definidos e normatizados
que estabeleçam exigências mínimas para a avaliação ambiental de projetos de usinas hidrelétricas,
o que conduz a um baixo nível de transparência e previsibilidade quanto às avaliações realizadas
pelos analistas do Instituto, dotando-as de um caráter personalíssimo, em face da ampla
discricionariedade técnica conferida aos servidores responsáveis pelas análises, o que pode, em
último caso, conduzir a arbitrariedades.
379. Nesse sentido, o Acórdão 1.789/2019-TCU-Plenário, de relatoria do Min. Weder de
Oliveira, determinou ao Ibama que apresente plano de ação com medidas voltadas a elaborar e
disseminar o uso dos guias de avaliação de impacto ambiental (AIA) e respectivas matrizes de
referência, estabelecidas para cada tipo de empreendimento (inclusive usinas hidrelétricas).
380. Assim, considerando-se que já foram efetuados os oportunos e pertinentes
encaminhamentos sobre as medidas a serem adotadas em prol do aprimoramento das avaliações e
análises em processos de licenciamento socioambiental desempenhadas pelo Ibama, entendem-se
desnecessárias novas propostas no mesmo sentido neste processo.
381. Ainda nas análises referentes a essas questões, verificou-se, na Funai, que parte do
procedimento padrão em vigor no órgão não está normatizado (participação da Diretoria de
Proteção Territorial – DPT nos processos de licenciamentos socioambiental), representando uma
falha grave com alto potencial de influência na atuação da fundação nesse tipo de processo,
principalmente no que tange ao cumprimento dos prazos previstos no arcabouço normativo.

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382. Da mesma forma que verificado junto ao Ibama, a ausência de normativo com o
estabelecimento de regras básicas voltadas à atuação da DPT nos processos de licenciamento,
materializada por meio das ações desempenhadas pelos servidores ali lotados, acaba conferindo, de
maneira irrestrita, elevado grau de discricionariedade aos técnicos atuantes, podendo também
conduzir a arbitrariedades.
383. Assim, ante a situação encontrada, faz-se mister determinar à Funai que, no prazo de
noventa dias, elabore normativo interno regulamentando a participação da Diretoria de Proteção
Territorial (DPT) nos processos de licenciamento socioambiental desempenhados na autarquia,
notadamente no que se refere a prazos de atuação, buscando-se, assim, entre outros pontos, mitigar
o descumprimento sistemático dos prazos estabelecidos na Portaria Interministerial 60/2015, bem
como do art. 24 da Instrução Normativa Funai 2/2015.
384. Quanto às questões 2, 3 e 6, verificou-se, nos tópicos IV.1 e IV.2 deste relatório, que tanto
Ibama quanto Funai possuem os processos de licenciamento ambiental nos respectivos órgãos
devidamente documentados.
385. No caso do Ibama, foi verificado, com base nas análises feitas, que foram respeitados, no
caso concreto do licenciamento ambiental do AHE São Luiz do Tapajós, os regramentos legais e
infralegais que se aplicam à matéria, tendo sido observados inclusive, até o arquivamento do
processo, os prazos devidos.
386. Já com relação ao que era de responsabilidade da Funai, foi constatado que, além da falha
existente no estabelecimento das regras relativas ao procedimento padrão estabelecido pela
fundação (mencionada no parágrafo 381), há um sistemático desrespeito ao que estabelece o
Decreto 1.775/1998, que define as diretrizes para elaboração dos relatórios circunstanciados de
identificação e delimitação de terras indígenas, principalmente no que se refere ao cumprimento dos
prazos.
387. Assim, no âmbito dos estudos relacionados ao AHE São Luiz do Tapajós, essa situação
conduziu a um entrave no desenvolvimento e conclusão dos estudos voltados à identificação e
delimitação de três possíveis terras indígenas potencialmente afetadas pela usina (TIs Sawré
Muybu, Sawré Juybu, Sawré Bap’in), tendo papel determinante na evolução das análises quanto à
viabilidade socioambiental do empreendimento.
388. Outrossim, mostra-se oportuno determinar à Funai que, no prazo de trinta dias, elabore
plano de ação voltado à conclusão definitiva dos processos de identificação e delimitação das TIs
Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in, com destaque para a elaboração de cronograma
prevendo a realização de todas atividades necessárias e indicando expressamente a data prevista de
encaminhamento dos processos administrativos ao Ministério da Justiça.
389. Ademais, entende-se que se deve dar ciência à fundação da necessidade de se atender às
disposições do Decreto 1.775/1998, em especial ao que consta no seu art. 2º, caput e § 9º.
390. Ainda nessas questões, apontou-se para o fato de que a Funai não haveria atentado para as
medidas necessárias que visam garantir a consulta prévia aos povos indígenas no que se refere ao
AHE São Luiz do Tapajós. Nesse ponto, contudo, considerando as controvérsias sobre a
regulamentação da OIT 169, amplamente abordadas no TC 029.192/2016-1, apreciado pelo
Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, relator Min. José Múcio Monteiro, bem como as medidas
determinadas por esta Corte de Contas acerca dessa regulamentação, item 9.1.2.3 do referido
acórdão, deixa-se de apresentar proposta quanto a esta questão, posto que o assunto já fora
endereçado pelo Tribunal e se encontra em monitoramento no âmbito do TC 035.078/2017-0.
391. Importa destacar, ainda, que foi verificada situação de aparente conflito de interesses
durante o desenvolvimento das atividades necessárias às avaliações do licenciamento

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socioambiental do projeto de São Luiz do Tapajós, uma vez que é possível inferir que o titular à
época da Coordenação Regional do Tapajós (escritório local da Funai), Sr. Deuzivaldo Saw
Munduruku, pertence à etnia Munduruku, que seria potencialmente afetada pelo empreendimento.
392. Dessa maneira, entende-se oportuno realizar oitiva da Funai para que, à luz dos princípios
da moralidade e impessoalidade, se manifeste acerca da atuação do Sr. Deuzivaldo Saw Munduruku
no processo de licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós na autarquia em
aparente situação de conflito de interesses.
393. Com relação às perguntas 4 e 7, verificou-se, no tópico IV.3, que houve, com base nas
análises feitas para este caso concreto, um descolamento entre a atuação do planejamento do setor
elétrico e a atuação dos órgãos socioambientais ora avaliados (Ibama e Funai), sem que fossem
devidamente discutidas as alternativas que se fazem necessárias em virtude do não aproveitamento
do potencial hidrelétrico de São Luiz do Tapajós.
394. Para essa constatação, contudo, considerando que as deliberações exaradas nos Acórdãos
2.723/2017-TCU-Plenário, 1.789/2019-TCU-Plenário e 1.631/2018-TCU-Plenário (relatoria do
Min. Augusto Sherman Cavalcanti) já deram os oportunos e pertinentes encaminhamentos sobre
medidas a serem adotadas em prol do aprimoramento da integração entre os agentes do setor
elétrico brasileiro e os órgãos que atuam como representantes das mais variadas vertentes do setor
socioambiental (como Ibama e Funai), entendem-se desnecessárias novas propostas no mesmo
sentido neste processo.
395. Em derradeiro, como forma de evidenciar, de forma objetiva, o atendimento a todos os
subitens constantes do referido item 9.5 do Acórdão 2.723/2017-TCU-Plenário, o tópico IV.4 traz,
em uma abordagem direta, breve resumo das análises, estudos e constatações realizados durante a
auditoria.

VI. Proposta de encaminhamento


396. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, para posterior envio
ao Exmo. Sr. Augusto Sherman Cavalcanti, propondo:
396.1. determinar à Fundação Nacional do Índio (Funai), com fundamento no art. 250, II, do
RI/TCU que:
396.1.1. no prazo de trinta dias, elabore plano de ação voltado à conclusão definitiva dos processos
de identificação e delimitação das terras indígenas (TIs) Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré
Bap’in, com destaque para a elaboração de cronograma prevendo a realização de todas atividades
necessárias e indicando expressamente a data prevista de encaminhamento dos processos
administrativos ao Ministério da Justiça; e
396.1.2. no prazo de noventa dias, elabore normativo interno regulamentando a participação da
Diretoria de Proteção Territorial (DPT) nos processos de licenciamento socioambiental
desempenhados na autarquia, notadamente no que se refere a prazos de atuação, dado o caráter
vinculante da atuação dessa área e o elevado potencial de impacto no processo como um todo,
definindo, entre outros aspectos, os prazos disponíveis para manifestação da referida diretoria,
buscando-se, assim, mitigar o descumprimento sistemático dos prazos estabelecidos na Portaria
Interministerial 60/2015, bem como do art. 24 da Instrução Normativa Funai 2/2015.
396.2. realizar oitiva da Funai, com fundamento no art. 250, V, do RI/TCU, para que, à luz dos
princípios da moralidade e impessoalidade, se manifeste acerca da atuação do Sr. Deuzivaldo Saw
Munduruku no processo de licenciamento socioambiental do AHE São Luiz do Tapajós na
autarquia, tendo atuado como titular da Coordenação Regional do Tapajós (escritório competente
para tratar de assuntos da fundação na localidade) em aparente situação de conflito de interesses;
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 027.601/2018-8

396.3. dar ciência à Fundação Nacional do Índio (Funai), com fundamento no art. 7º da
Resolução-TCU 265/2014 e com vistas à adoção de providências internas que previnam a
ocorrência de novos descumprimentos da norma, da necessidade de se atender às disposições do
Decreto 1.775/1998, em especial ao que consta no seu art. 2º, caput e § 9º; e
396.4. encaminhar cópia da decisão que vier a ser prolatada às seguintes entidades, para que tomem
conhecimento das constatações realizadas no presente trabalho, atentando-se, em especial, aos
processos de demarcação das terras indígenas Sawré Muybu, Sawré Juybu e Sawré Bap’in:
396.4.1. Casa Civil da Presidência da República;
396.4.2. Ministério da Justiça e Segurança Pública;
396.4.3. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
396.4.4. Ministério de Minas e Energia;
396.4.5. Ministério do Meio Ambiente;
396.4.6. Fundação Nacional do Índio;
396.4.7. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis;
396.4.8. Comissão de Minas e Energia, da Câmara dos Deputados; e
396.4.9. Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Câmara dos Deputados.”.

É o relatório.

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PLATAFORMA DE SERVIÇOS DIGITAIS CONECTA-TCU

TERMO DE CIÊNCIA DE COMUNICAÇÃO


(Documento gerado automaticamente pela Plataforma Conecta-TCU)

Comunicação: Ofício 043.453/2021-SEPROC


Assunto: OITIVA
Processo: 025.753/2021-5

Órgão/entidade: Fundação Nacional do Índio

Destinatário: FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO

Informo ter tomado ciência, nesta data, da comunicação acima


indicada dirigida à/ao FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO pelo Tribunal de
Contas da União, por meio da plataforma Conecta-TCU.

Data da ciência: 06/08/2021


(Assinado eletronicamente)
DOUGLAS VIEIRA FERREIRA
Usuário habilitado a receber e a acessar comunicações pela plataforma
Conecta-TCU.

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