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1 - Introdução
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Cogeração: fundamentos e aplicações
analisar o desempenho do sistema. São definidos alguns critérios de eficiência, entre eles a
eficiência energética, a eficiência ponderada por preços e a eficiência térmica artificial.
As principais vantagens da cogeração, como a redução de perdas e seu menor impacto
ambiental, terão significado prático somente a partir de uma análise de seus aspectos econômicos,
como abordado no sétimo capítulo. Assim são avaliados os investimentos em equipamentos de
cogeração e apresentados estudos de viabilidade, cuja finalidade é confrontar as alternativas de
geração de calor e potência através dos métodos de geração convencional e com cogeração,
permitindo avaliar os custos anuais associados. Finalizando este tópico, é feita uma explanação
sobre o custo da energia cogerada traduzido pelos métodos de alocação de custos para a
determinação dos custos de cada produto. Um exemplo de caso é mostrado a fim de exemplificar
alguns dos critérios de repartição. Absolutamente determinante sobre a efetiva viabilidade dos
sistemas de cogeração, o capítulo seguinte apresenta a legislação brasileira sobre termeletricidade,
com algumas particularidades de interesse para os sistemas de cogeração, bem como alguns
esforços que vêm sendo realizados para aumentar a atratividade destes sistemas junto ao parque
gerador brasileiro.
O nono e último capítulo trata dos potenciais de cogeração. Interessa ao planejador
energético conhecer, com o nível possível de detalhe, a capacidade que se pode instalar em
sistemas de cogeração e a energia possível de ser cogerada, considerando uma região ou setor
industrial, ou mesmo uma empresa. Sendo assim, em cada estudo de pré-viabilidade de sistemas de
cogeração os potenciais termodinâmico, técnico, econômico e de mercado deve ser avaliados.
Este material é resultado da cooperação de diversos professores e estudantes que se
dedicaram a entender, modelar, simular e propor metodologias para sistemas de cogeração,
fundamentalmente considerando a realidade brasileira. Entre outros, devem ser considerados os
efetivos autores deste trabalho: André Ramon Martins Filho, Fabiano da Rosa Carvalho, Flávio
Neves Teixeira, José Antônio Perrella Balestieri, José Luz Silveira, Mônica Rodrigues de Souza e
Rolando Nonato de Souza.
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2 - Fundamentos
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3 - Evolução da Cogeração
A cogeração não é uma tecnologia nova e já tem sido utilizada em muitas unidades industriais
como um meio econômico de fornecer, parcial ou totalmente, suas necessidades térmicas e elétricas.
Contudo, foi apenas nos últimos anos que a cogeração ganhou expressivo impulso. Assim,
aplicações nos setores químicos, em refinarias de petróleo, em siderúrgicas, em indústrias de papel
e celulose, no setor sucroalcooleiro, em indústrias de alimentos, além de hospitais, centros
comerciais, complexos de escritórios, entre outros, têm demonstrado a potencialidade da cogeração
para fornecer, simultaneamente, formas diferentes de energia úteis. A seguir é feita uma breve
caracterização do cenário mundial e brasileiro destes sistemas.
Embora James Watt já sugerisse o uso do calor residual das máquinas a vapor, os primeiros
sistemas comerciais de cogeração foram instalados ao final do século XIX, quando o fornecimento de
energia elétrica proveniente de grandes centrais ainda era raro. Nesta época era comum que
consumidores de energia elétrica de médio e grande porte instalassem suas próprias centrais de
geração de energia. Esta situação estendeu-se até a década de 40, sendo que, nos Estados Unidos,
a cogeração chegou a ser responsável por cerca de 50% da energia elétrica total gerada, enquanto
que na Europa este valor estava ao redor de 30%, em boa parte em sistemas de aquecimento
distrital. (Hu, 1985)
Em meados do século passado, com a expansão dos sistemas elétricos nacionais, que
combinavam escalas crescentes e interconexão de sistemas isolados e forneciam energia elétrica
com confiabilidade e qualidade a baixo custo, a cogeração foi perdendo gradativamente a
importância. Assim, a cogeração foi perdendo espaço, atingindo na Europa ao redor de 15% e nos
EUA menos de 5% da oferta, ao final dos anos sessenta.
Entretanto, com o incremento dos preços dos combustíveis e a valorização da eficiência
energética partir da década de 80, a cogeração passou a ser encarada novamente como uma
importante alternativa energética. Contribuíram para isso a maior disponibilidade de gás natural nos
países industrializados, o desenvolvimento tecnológico de turbinas a gás e motores com capacidade
e desempenho compatíveis às necessidades de consumidores industriais e comerciais, a marcante
perda de interesse com a energia nuclear, sobretudo devido aos crescentes custos de construção e
às pressões do movimento ambientalista, após uma série de acidentes com gravidade. Também a
partir deste período, e sobretudo durante os anos noventa, foram intensificadas as pressões por
processos de conversão energética sustentáveis e com menores emissões de CO2, para atenuar os
impactos de caráter global como o efeito estufa, a destruição da camada de ozônio, a chuva ácida e
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Destes atos, o PURPA foi aquele que mais incentivou o desenvolvimento de sistemas de
cogeração. Os elementos centrais do PURPA são a qualificação prévia e a remuneração pelo custo
evitado. A qualificação, feita em nível federal pelo FERC - Federal Energy Regulatory Comission,
assegura que somente os autoprodutores eficientes, como são os cogeradores, poderão receber as
vantagens e os estímulos colocados pelo PURPA, como a obrigação por parte das concessionárias
de prover as condições para interligamento e fornecer uma capacidade de reserva e remunerar
adequadamente os excedentes. Para qualificar-se e transformar-se em um QF - Qualified Facility, os
aspectos centrais são:
• Pelo menos 50% do capital deve ser de um gerador independente, ou seja, um IPP -
Independent Power Producer;
• A produção de calor útil não pode ser inferior a 5% da produção total de energia da
planta;
A eficiência PURPA, definida abaixo, deve ser superior a 42,5% quando se emprega gás
natural ou óleo combustível em ciclos "topping" (quando a geração de energia elétrica antecede o
fornecimento de calor útil) e superior a 45% para os ciclos "bottoming" (quando a geração elétrica
situa-se após a demanda térmica). A eficiência PURPA é dada por:
Qu
W+
η PURPA = 2 (1)
Qc
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O sistema elétrico brasileiro, a partir da década de 50, passou por um processo de acentuada
expansão, devido principalmente ao intenso crescimento da demanda industrial e baseando-se
majoritariamente no aproveitamento dos recursos hídricos. Desta maneira, a geração termelétrica e
particularmente a cogeração no Brasil despertou menor interesse neste período, com a exceção de
alguns setores industriais que tradicionalmente utilizaram a cogeração, destacando-se as indústrias
de papel e celulose, sucroalcooeleira, siderúrgica e petroquímica, especialmente por contarem com
resíduos de processo passíveis de utilização como combustíveis e demandas de calor e energia
elétrica.
Embora a cogeração já fosse utilizada no País, a venda de excedentes de energia elétrica era
desfavorecida pelas baixas tarifas oferecidas nos contratos, além da ausência de regras que
ordenassem a relação entre o autoprodutor e a concessionária. Atualmente, a cogeração apresenta
expectativas de expansão, devidas principalmente às alterações do cenário institucional brasileiro,
como por exemplo, a Resolução ANEEL N° 21 de 21 de janeiro de 2000, que estabelece os
requisitos necessários à qualificação de centrais cogeradoras de energia, e a Portaria MME N° 212
de 25 de julho de 2000 que integram as centrais cogeradoras qualificadas pela ANEEL no Plano
Prioritário de Termeletricidade (vide Capítulo 1). Também digno de menção é a maior disponibilidade
de gás natural na matriz energética brasileira, em diversas regiões e particularmente no Sudeste,
com a implantação do gasoduto Brasil-Bolívia, bem como a existência de incentivos no uso deste
combustível para cogeração, tal como dispõe a legislação do Estado de São Paulo. Aspectos legais
e normativos são, como já observado em outros países, determinantes para a evolução da
cogeração no país e neste sentido, o quadro brasileiro vem sendo aperfeiçoado. Uma boa referência
para informações a este respeito são as publicações do INEE - Instituto Nacional de Eficiência
Energética, bem como as notas divulgadas em seu site (www.inee.org.br).
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Tabela 2- Continuação.
Potência Potência
Usina Proprietário Usina Proprietário
(kW) (kW)
Santa Elisa II Companhia Energética 4.000 Mococa Usina Ipiranga de Açúcar 3.000
Santa Elisa e Álcool Ltda.
Iracema Companhia Industrial e 14.000 Ipiranga Usina Ipiranga de Açúcar 2.400
Agrícola Ometto e Álcool Ltda.
CST Companhia Siderúrgica de 132.000 Usina Ipiranga Usina Ipiranga de Açúcar 2.400
Tubarão - CST e Álcool Ltda.
CTE I Companhia Siderúrgica 30.000 Maracaí Usina Maracaí S.A. - 11.000
Nacional - CSN Açúcar e Álcool
Crylor Crylor Ind. e Com. de Fibras 9.640 Nardini Usina Nardini Ltda. 6.400
Têxteis Ltda.
Dedini Dedini Açúcar e Álcool Ltda. 4.000 Nova América Usina Nova América S.A. 12.400
São Luiz Dedini S.A. Agro Industria 6.000 Santa Adélia Usina Santa Adélia S.A. 8.000
Água Limpa Destilaria Água Limpa S.A. 2.400 Usina Santa Fé Usina Santa Fé S.A. 4.800
Destilaria Destilaria Alcídia S.A. 4.000 Santa Lídia Usina Santa Lídia 5.300
Alcídia S.A.
Destilaria Destilaria Andrade S.A. 7.200 Santo Antônio Usina Santo Antônio S.A. 6.800
Andrade
Flórida Destilaria Flórida Paulista 3.800 Usina Santo Usina Santo Antônio S.A. 1.160
Paulista Floralco Ltda. Antônio - Açúcar e Álcool
Galo Bravo Destilaria Galo Bravo S.A. - 9.000 São José Usina São José S.A. 2.400
Açúcar e Álcool
Kaiser Energy Works do Brasil S.A. 5.552 Viralcool Viralcool - Açúcar e 5.000
Álcool Ltda.
Equipav Equipav S.A. - Açúcar e 14.000 Catanduva Virgolino de Oliveira 9.000
Álcool Catanduva S.A.
Usina Fundação de Assistência 7.204 Itapita V. de O. Catanduva S.A. 5.800
Junqueira Social Sinhá Junqueira Açúcar e Álcool
Globo Infoglobo Comunicações 5.160 Ibirá Vitercana Agro Mercantil 6.400
Ltda. S.A.
Celulose Irani Irani Celulose 4.880 Itaipava Petróleo Brasileiro S.A. - 63.300
Petrobras
Pedra Irmãos Biagi S.A. - Açúcar e 15.000 Reduc Petróleo Brasileiro S.A. - 30.000
Álcool Petrobras
Buriti Irmãos Biagi S.A. - Açúcar e 3.200 Refinaria Petróleo Brasileiro S.A. - 24.500
Álcool Henrique Lage Petrobras
Jari Jari Celulose 55.000 RPBC Petróleo Brasileiro S.A. - 6.500
Petrobras
Lwarcel Lwarcel Celulose e Papel 4.000 Alto do Petróleo Brasileiro S.A. - 18.000
Ltda. Rodrigues Petrobras
Porto Mineração Rio do Norte 43.200 Refap Petróleo Brasileiro S.A. - 32.000
Trombetas Petrobras
Ometto Pavan Ometto Pavan S.A. - Açúcar 11.400 Regap Petróleo Brasileiro S.A. - 63.000
e Álcool Petrobras
Refinaria Petróleo Brasileiro S.A. - 59.900 Reduc
Paulínea Petrobras Total 1.785.556
Santo André Petroquímica União 8.500
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4 - Aspectos Tecnológicos
Combustível
Combustível
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Os sistemas de cogeração do tipo ‘bottoming’ são de emprego mais restrito, em geral porque
o calor rejeitado em processos industriais já está em níveis de temperatura relativamente baixos para
produção de potência. Os ciclos térmicos geralmente fazem sentido quando se dispõe de calor sob
elevadas temperaturas. Nos fornos cerâmicos, indústrias cimenteiras ou plantas metalúrgicas podem
ser rejeitados gases em altas temperaturas, entretanto, nestas situações devem ser consideradas
também as alternativas convencionais de racionalização energética, como preaquecimento de
correntes de processo, na forma adotada em processos melhorados da indústria cerâmica (fornos
Hoffman) e cimenteira (ciclones recuperativos de clinquer). Caso efetivamente o calor residual não
seja necessário para o processo industrial ou seja de difícil utilização, ele poderá ser empregado
então, para gerar energia elétrica, especialmente em ciclos a vapor (Nogueira, 1996).
Outra forma oportuna de se classificar os sistemas de cogeração é considerando sua
evolução. De fato, esta tecnologia expandiu-se recentemente de modo diferenciado das condições
de seu primeiro ciclo de expansão, podendo-se identificar assim duas fases distintas, a tradicional e
a moderna, conforme se indica na Tabela 3.
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A produção combinada de energia elétrica e de calor útil pode ser realizada empregando
motores de combustão interna, turbinas a vapor ou a gás, pois em todos eles existe,
necessariamente, a rejeição de calor não convertido em potência de eixo, que pode então ser
utilizado para atender uma demanda térmica em nível de temperatura compatível com as
disponibilidades. Considerando as condições dos consumidores industriais, os ciclos com turbinas, a
vapor ou a gás, tendem a ajustar-se melhor aos requerimentos típicos de energia elétrica e calor de
processo para cogeração e, portanto são os mais adotados. No caso dos consumidores do setor
terciário, como shopping, hospitais, hotéis e supermercados, também apresentam interesse os
motores de combustão interna de ciclo Diesel ou Otto.
A seguir são apresentados os principais aspectos construtivos e operacionais dos
acionadores primários e dos sistemas de recuperação de calor, considerando as turbinas a gás e de
vapor, os ciclos combinados e os motores de combustão interna. Existem outras possibilidades
tecnológicas, como as células de combustíveis de ácido fosfórico, os ciclos Stirling, os ciclos
fechados com turbinas a gás e os ciclos com turbinas a vapor empregando fluídos orgânicos. Porém
são ainda propostas em desenvolvimento tecnológico ou viabilização econômica com perspectivas
de médio prazo.
Os elementos fundamentais que constituem uma turbina a gás são: o compressor, a câmara
de combustão e a turbina propriamente dita. Em seu funcionamento, o ar é aspirado da atmosfera e
comprimido, passando para a câmara de combustão, onde se mistura com o combustível. Nesta
câmara ocorre a reação de combustão, produzindo gases quentes, que escoam através da turbina,
onde se expandem, movendo rodas com palhetas e produzindo potência mecânica para acionar o
eixo do compressor e da carga, freqüentemente um gerador elétrico. Vale lembrar que como os
produtos de combustão atravessam a turbina, os combustíveis utilizados devem ser de qualidade,
como é o caso do gás natural e dos derivados claros de petróleo.
Na Figura 5 são apresentadas duas instalações com turbinas a gás: uma operando sem
recuperação de calor de exaustão e a outra operando com recuperação, em um sistema de
cogeração. Um balanço térmico típico é apresentado na Figura 6. Note-se que para uma mesma
quantidade de combustível fornecida, o primeiro sistema consegue uma eficiência elétrica de 20 % o
que resulta num total de perdas de 80 %. Ao se utilizar o calor de escape da turbina, a eficiência
elétrica se mantêm a mesma enquanto que as perdas se reduzem a 20 % devido à recuperação de
calor de exaustão, totalizando uma eficiência energética global de 80 %. Dessa forma fica claro como
os sistemas de cogeração apresentam uma eficiência na utilização do combustível mais elevada.
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Figura 5 - Esquema de uma turbina a gás operando sem cogeração e uma outra em um sistema de
cogeração (Schmitz and Koch, 1996)
Os gases de escape da turbina podem ser aproveitados diretamente para processos térmicos
ou de modo indireto na produção de vapor ou água quente, utilizando uma caldeira de recuperação,
ou utilizando os gases como comburente nos queimadores de caldeiras convencionais. A
temperatura destes gases situa-se geralmente entre 420 e 650 °C, com um conteúdo de oxigênio
entre 14 e 17% em volume. Algumas das possíveis aplicações em uso direto dos gases de escape
de uma turbina a gás são: secadores com atomização (argilas, leite, produtos químicos), secadores
em estufas (placas de madeira, placas de gesso, produtos agrícolas e alimentícios) e em fornos
metalúrgicos de alívio de tensões e reaquecimento.
Figura 6 - Balanço térmico típico de uma turbina a gás operando sem cogeração e uma outra em um
sistema de cogeração (Schmitz and Koch, 1996)
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Neste caso, o acionamento da turbina se produz pela expansão do vapor de alta pressão
procedente de uma caldeira convencional. Esta expansão se realiza nos bocais fixos e nas palhetas
móveis, montadas nos rotores, em um ou mais estágios, onde a energia contida no vapor se
transforma primeiro em energia cinética e em seguida em energia mecânica, impulsionando as
palhetas. Embora a energia mecânica gerada receba as mesmas aplicações que no caso da turbina
a gás, o vapor de baixa ou de média pressão rejeitado pelas turbinas poderá ser aproveitado em um
processo industrial quando o mesmo necessitar de vapor ou energia térmica a um nível relativamente
baixo de temperatura, geralmente inferior à 200°C.
Na Figura 7 são apresentadas duas instalações com turbinas a vapor: uma operando como
uma central de geração elétrica e a outra operando em um sistema de cogeração. O balanço térmico
correspondente é apresentado na Figura 8. Neste caso, para uma mesma quantidade de combustível
fornecida, o primeiro sistema consegue uma eficiência elétrica de 28 %, o que resulta num total de
perdas de 72 %. Por outro lado, ao se utilizar o vapor de escape da turbina, a eficiência elétrica pode
se reduzir um pouco, assumida neste caso em 20 %, mas as perdas totais se reduzem a 18 %
devido à utilização do vapor de escape em um processo industrial, totalizando uma eficiência
energética global de 82 %.
A turbina de vapor como elemento motor é mais simples que a turbina de gás, embora
quando se consideram os restantes elementos necessários para realizar o ciclo (caldeira, trocadores
de calor, bombas, condensador, desaeradores, etc.) a instalação é sem dúvida mais pesada e
complexa. Por outro lado, é uma tecnologia mais conhecida e bem dominada, com muitos fabricantes
de equipamentos, particularmente na faixa de potência dos sistemas de cogeração. Ainda que os
fabricantes procurem reduzir seus custos através da padronização das unidades, existe uma ampla
variedade tipos e modelos de turbinas a vapor, cada qual mais adequado a uma aplicação
específica, com diversas opções quanto a número de estágios, sistema de controle e tecnologia de
materiais e de fabricação.
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Figura 7 - Esquema de uma turbina a vapor operando sem cogeração e uma outra em um sistema
de cogeração (Schmitz and Koch, 1996)
Figura 8 - Balanço térmico típico de uma turbina a vapor operando sem cogeração e uma outra em
um sistema de cogeração (modificado de Schmitz and Koch, 1996)
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largamente empregado como vetor energético para aquecimento em processos industriais, nesse
caso já disponível no escape das turbinas.
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que resulta num total de perdas de 64 %. Por outro lado, ao se utilizar o calor de escape do motor, a
eficiência elétrica se mantêm praticamente a mesma, enquanto que as perdas se reduzem a 24 %,
devido à utilização deste calor, cujo aproveitamento estaria por volta de 40 %, totalizando uma
eficiência energética global de 76 %.
Figura 10 - Balanço térmico típico de um motor de combustão interna operando sem cogeração e um
outro em um sistema de cogeração (Schmitz and Koch, 1996)
As perdas mais significativas nos motores de combustão interna são as perdas de calor nos
gases de escape, as perdas no óleo lubrificante, água ou ar de arrefecimento e as perdas de calor
através da superfície do motor. Comparativamente aos motores Otto, os motores Diesel apresentam
maiores perdas de calor pelas paredes do motor e menores perdas nos gases de escape. O
rendimento global de um motor Otto está compreendido entre 27 % e 30 % enquanto que o
rendimento global de um motor Diesel está entre 30 % e 45 %.
Em função das condições impostas pelo usuário de calor, os sistemas de recuperação
térmica para motores de combustão interna podem assumir distintas configurações. Até
temperaturas inferiores à de ebulição da água de arrefecimento, os sistemas são simples e podem
incluir trocadores de calor para a carga e de rejeição de calor, para as situações de carga reduzida,
quando é necessário manter o motor operando e não existe demanda térmica. Para temperaturas
mais elevadas, inclusive para geração de vapor de baixa pressão, em temperaturas de cerca de 120
°C, os sistemas devem ser pressurizados e exigem sistemas mais complexos de segurança e de
controle.
Outro procedimento possível para recuperação da energia térmica em motores se baseia na
refrigeração do motor mediante a vaporização parcial da água de refrigeração, que através de um
separador de vapor permite obter vapor saturado com título relativamente elevado. Como nos casos
anteriores, para este tipo de acionador primário é preciso ter em conta a segurança de operação do
motor, incorporando controles adequados, imprescindíveis para assegurar que o calor não utilizado é
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Cogeração: fundamentos e aplicações
• preço do calor;
• impactos ambientais;
• incentivos fiscais;
A não ser por razões estratégicas, como por exemplo em locais onde o suprimento de energia
elétrica não é confiável, a opção pela cogeração via de regra é definida por condicionantes
estritamente econômicas e, somente quando evidenciam reduções substanciais nos custos de
energia, são adotadas. Um aspecto importante a ser considerado no cálculo do custo da energia
elétrica é o impacto que pode haver sobre os mesmos da importação ou exportação para a rede local
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A Figura 11 mostra os principais fatores que devem ser considerados em um método que
auxilie o projeto e a configuração das centrais de cogeração. Observe-se que a capacidade dos
equipamentos e as demandas máximas de utilidades (eletricidade, vapor, gases quentes) devem ser
determinadas junto com a estratégia operacional da central de cogeração para uma dada estrutura
da unidade de processo, tarifas de utilidades, demandas energéticas e condições ambientais.Outros
fatores técnicos que devem ser adequadamente considerados na seleção da tecnologia de
cogeração são os requerimentos de temperatura, volume qualidade da energia térmica a ser
fornecida, a confiabilidade do sistema, a possibilidade de interconexão elétrica com a concessionária,
os requerimentos de pessoal para operação e manutenção e a tradição operacional.
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- Utilidades:
- demanda máxima
- demanda média
Uma visão geral com relação às possibilidades de abastecimento das demandas de uma
central de cogeração pode ser observada na Figura 12. Assumindo um consumidor de energia
elétrica, calor útil e frio, pode-se considerar diversas configurações possíveis. Dessa forma, a
demanda de energia elétrica pode ser suprida pela compra da concessionária (ECOMPRA),
complementada ou totalmente substituída pela geração elétrica nas máquinas térmicas (isto é, para o
exemplo dado, turbinas a gás e/ou motores Diesel), podendo também ser considerada a
possibilidade de venda de algum eventual excedente gerado (EVENDA). Para a demanda de energia
térmica, pode-se considerar a de geração de calor através de caldeiras convencionais de processo
e/ou em caldeiras de recuperação utilizando a energia térmica disponível nos gases quentes de
exaustão das turbinas ou motores. Nesta caldeira de recuperação pode ser incluída uma queima
suplementar a fim de aumentar a geração de vapor.
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EECOMPRA EEDEMANDA
EEVENDA
Chiller de
compressão
ACIONADOR ~ FRIODEMANDA
Chiller de
Cald. Recup. absorção
Combustível
CALORDEMANDA
Cald. Aux.
No que diz respeito à produção de frio, pode-se optar pelo emprego de máquinas de
refrigeração de compressão (‘chillers’) e/ou ‘chillers’ de absorção, sendo nesse segundo caso,
adotada como fonte energética o calor. Naturalmente que se trata da configuração mais genérica
possível e que poderá ser simplificada no caso de sistemas destinados ao atendimento de cargas
específicas. O essencial é que a configuração, que deverá compor o sistema de cogeração,
considere o atendimento das demandas térmicas e elétricas do processo sob condições favoráveis
de custo, eficiência e confiabilidade (Teixeira, 1997).
Quando se propõe a instalação de um sistema de cogeração, uma primeira dúvida é qual
configuração adotar, definida pela tecnologia e especificação dos equipamentos. Como critério inicial
nesta decisão, tem-se a demanda de energia elétrica e o nível de temperatura de processo.
Potências inferiores a 1.000 kW e requerimentos de calor a temperaturas próximas de 100 °C
tipicamente sugerem a aplicação de motores de combustão interna. As demais situações configuram
a possibilidade de empregar-se ciclos com turbinas, sejam máquinas a gás ou a vapor, dependendo
essencialmente do combustível a ser empregado. Não obstante, devido ao recente desenvolvimento
dos sistemas de cogeração, tanto por parte dos fabricantes de turbinas a gás como de motores
alternativos de combustão interna, a viabilidade das turbinas tem se ampliado na direção das
máquinas de menor porte, enquanto os motores têm se mostrado oportunos em muitas aplicações de
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maior capacidade. Desta forma, para unidades entre 500 kW e 5 MW de potência instalada cabe
uma análise mais cuidadosa para definir a melhor configuração (Nogueira, 1996).
Quando se decide optar entre uma turbina a gás e uma turbina de vapor deve-se ter em
mente os seguintes comentários (Nogueira, 1996):
4) Por ser construtivamente mais simples que a turbina a gás, as turbinas a vapor têm um
custo inferior por kW instalado, embora recentemente as turbinas a gás venham
apresentando significativa redução de custos. Os custos de manutenção das turbinas a
vapor são aproximadamente a metade que os da turbina de gás. Sua vida útil é mais
longa, podendo atingir a 40 anos, ao passo que turbinas a gás apresentam vida útil de
cerca de 20 anos.
5) Tanto com a turbina a gás como com a turbina a vapor, é interessante aproveitar em
certas ocasiões uma caldeira existente, no primeiro caso utilizando os gases de escape
como comburente na caldeira existente e no segundo caso, elevando a pressão de
operação do vapor. Não sendo possível o aproveitamento da caldeira ou das caldeiras
existentes, o custo por kW instalado será maior no caso de uma turbina de
contrapressão, porque a caldeira de alta pressão tem um custo consideravelmente
superior ao da caldeira de recuperação de gases de escape.
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Setor Industrial α
Açúcar e Álcool 0,11 a 0,09
Papel e Celulose 0,18 a 0,23
Têxtil 0,40 a 0,44
Petroquímica 0,21 a 0,25
Alimentos e Bebidas 0,05 a 0,10
Nos casos onde ocorrem demandas de energia térmica para frio industrial ou
condicionamento ambiental, pode ser interessante considerar ambas alternativas para seu
atendimento: sistemas de compressão (que consomem energia elétrica) e sistemas de absorção
(que consomem calor e pouca energia elétrica). No caso de se empregarem sistemas de absorção
substituindo sistemas de compressão, a demanda de energia elétrica deverá ser diminuída do
consumo no compressor frigorífico, Ef e na demanda térmica deverá se adicionar o consumo de calor
no sistema de absorção, Qfa . Neste contexto e para uma avaliação expedita, podem ser adotadas as
seguintes relações, a partir da carga frigorífica a ser atendida, Qf , e dos coeficientes de performance
do ciclo de compressão e de absorção, respectivamente COPc e COPa , por sua vez estimados com
base nas temperaturas ambiente e fria, Tamb e Tf. Naturalmente que os valores de α e β se alteram
correspondentemente, podendo ser aplicados com seus novos valores nos estudos de potencial de
sistemas de cogeração (Nogueira e Alkmin, 1996).
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Coeficientes de performance:
0,6
COPc = (4)
Tamb
−1
Tf
Tamb
1−
Tq
COPa = 0,5 ⋅ (5)
Tamb −1
Tf
Qf
Ef = (6)
COPc
Qf
Q fa = (7)
COPa
Sendo uma função somente do sistema de cogeração, e medindo sua produção de energia
elétrica por unidade de calor útil produzido, o parâmetro β depende da tecnologia e do rendimento do
equipamento empregado para produção combinada de calor e potência, sem outra dependência do
processo consumidor senão as condições de temperatura do calor rejeitado. Apresentam-se na
Tabela 5 e nas Figuras 13, 14 e 15 a seguir valores de referência para os principais tipos de
acionadores primários utilizados em cogeração: turbinas a vapor de contrapressão, turbinas a gás
com caldeiras de recuperação e motores Diesel, sempre em função da temperatura requerida no
processo demandante de calor.
Na medida em que se pode especificar melhor o sistema de cogeração a ser empregado,
também pode ser melhor definido o valor de β. As equações típicas destes equipamentos, adotadas
para sua modelagem e simulação, inclusive condições operacionais fora do ponto de projeto, que
fornecem parâmetros de desempenho (eficiência, consumo específico) podem ser adaptadas para
determinar os valores de β.
28
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
β Condições do vapor na
temperatura 1 2 3 4
entrada da turbina
100 4 0,35 0,31 0,26 0,22
150 3 0,26 0,22 0,18 0,14 Curva P (bar) T (C)
200 2 0,17 0,13 0,095 0,06 1 105 540
250 1 0,08 0,04 0,01 2 82 480
3 60 430
0,4
β 4 42 380
0,35
0,3
0,25
0,2
Figura 13 - Valores de β para turbinas a vapor de contrapressão.
2,5
β Relação de pressão: 14
2
1,5 10
1 6
0,5
0
100 125 150 175 200 250
29
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
β 5
Temperatura de saída
4 dos gases do motor:
3 285 OC
2
540 OC
1
0
100 150 200 250
Vale observar que β não deve ser confundido com a eficiência, pois está associado ao calor
recuperável para utilização e não ao total de calor rejeitado necessariamente por um ciclo térmico de
potência. Adotando, conforme mostrado na Figura 16, um coeficiente de perdas térmicas (calor
rejeitado não utilizado) igual a Z, por unidade de calor de combustível fornecido, pode mostrar que β
é dado pela expressão a seguir, válida para ciclos “topping” de rendimento conhecido ηciclo.
η
β= (8)
1− Z − η
Conhecida a energia cogerada anual, pode-se estimar a capacidade, adotando para cada
caso o fator de capacidade, FC, correspondente.
30
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
. E exced
E exced = (10)
8760 ⋅ FC
Qcombustível=1
EP
Ciclo
QU
Processo
Mais representativo das situações reais, a análise da operação dos sistemas de cogeração,
em dependência do tempo, pode empregar valores instantâneos ou curvas de duração (monótonas
de carga) das demandas e disponibilidades de energia térmica e elétrica. São procedimentos mais
complexos, porém permitem um melhor conhecimento dos fluxos de energia entre o sistema de
autoprodução, o consumidor e, eventualmente, a concessionária elétrica. Como as demandas são
variáveis no tempo, em maior ou menor grau de acordo com as características do consumidor, pode
ser que mesmo instalando-se uma capacidade de autoprodução superior à carga média seja
necessário, em alguns momentos, fazer uma complementação com energia da concessionária. Para
desenvolver uma análise da operação detalhada, os requerimentos de dados naturalmente são
superiores, justificando-se somente nos casos em que a viabilidade econômica for promissora, o que
pode ser preliminarmente efetuado pelo método anterior.
31
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
térmica. Embora esta capacidade esteja acima da demanda média, como pode ser observado, em
diversos momentos a demanda supera a disponibilidade de potência, devendo ser obtida junto à
concessionária a energia faltante. Em outros momentos, a potencia disponível é excedente e pode
ser entregue à concessionária. Estas situações estão representadas para o período estudado na
Figura 18, quando ao longo de um dia, a empresa comprou 53,7 MWh e entregou 37,3 MWh. Em
termos líquidos, foram necessários 16,4 MWh para complementar sua demanda. Uma forma
interessante de apresentar estes dados é ordenando os resultados da figura anterior, como mostrado
na Figura 19, onde a área da curva sobre o eixo do tempo representa a energia excedente e sob a
curva a energia faltante. Este tipo de curva é bastante útil na análise da operação dos sistemas de
cogeração, sendo conhecida também como curva de duração ou monótona, por que os valores são
colocados de forma decrescente e o tempo em valores percentuais.
30
MW
25
20
15
10 Demanda
5 Geração
0
0 5 10 15 20 horas 25
10
MW
5
0
0 5 10 15 20 horas 25
-5
-10
32
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
10
MW 8
6
4
2 tempo %
0
-2 0 20 40 60 80 100
-4
-6
-8
-10
Entretanto, ainda que seja mais direta e evidente a análise com base nos valores
instantâneos, eles são raramente disponíveis. Por outro lado, as curvas de duração ou monótonas de
carga são mais fáceis de estimar-se ou mesmo avaliar-se em campo, e permitem determinar,
empregando-se o Método da Convolução, a curva de duração dos excedentes. Por este método,
baseando-se na curva de duração da demanda térmica, chega-se à curva de duração de energia
elétrica produzida, que combinada com a curva de duração da demanda elétrica, por meio da
operação matemática denominada convolução, pode-se obter a curva de duração dos excedentes.
Determinada a curva de duração dos excedentes, é possível conhecer a energia a comprar e a
vender para a concessionária, bem como conhecer a máxima potência em cada caso. É possível
ainda determinar se a energia a ser vendida é firme, ou em qual percentagem do tempo está
disponível.
Este método pode ser implementado computacionalmente e está esquematizado na Figura
20. Observe-se que sua aplicação, seja em ciclos de vapor ou de gás, se restringe às situações de
paridade térmica, ou seja, quando a energia elétrica é um subproduto do fornecimento de calor útil,
mesmo nas situações em que existe complementação térmica, como a combustão suplementar nas
caldeiras de recuperação. Neste caso a curva de carga de demanda térmica a ser atendida pelo
sistema de cogeração é geralmente a base da curva total, já que o fornecimento de calor
suplementar deve ocorrer na ponta.
33
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
MW MW
% %
Tempo
Demanda térmica Tempo
Geração elétrica
MW
(+)
Convolução
MW (-)
%
Tempo
Curva de duração
dos excedentes
%
Tempo
Demanda elétrica
34
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
16,0
12,0
MW
8,0
4,0
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
% tempo
20,0
16,0
12,0
MW
8,0
4,0
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
% tempo
Como neste exemplo se considera a utilização de turbinas a gás, adota-se para β, da Tabela
5, o valor 0,75. Assim, com os valores de α e β, é possível obter os seguintes parâmetros:
35
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
Observe-se que estes valores, obtidos através do Método α e β, representam índices médios
e apenas uma análise das condições no tempo, por exemplo através das curvas de duração de carga
é que fornecerá uma visão mais detalhada do comportamento deste sistema. Neste sentido, para
efetuar a operação da convolução é preciso inicialmente obter a curva de duração da geração de
energia elétrica, pelo produto do valor especificado para β e a curva de duração da demanda de
calor, já que o sistema opera em paridade térmica, resultando a curva mostrada na Figura 23.
Evidentemente que poderiam ser adotadas outras tecnologias de geração e outras hipóteses para a
concepção e operação do sistema de cogeração, a cada um deles correspondendo uma curva de
oferta de energia elétrica.
16,0
12,0
MW
8,0
4,0
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
% tem po
36
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
8,0
6,0
4,0
MW
2,0
0,0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
-2,0
-4,0
% tem po
37
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
A partir da curva acima, podem ser obtidos importantes parâmetros para a operação da planta
de cogeração:
• Potência excedente máxima. 7,50 MW (em 1,1% do tempo);
38
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
• Quadrante 2: A planta deve ser operada no seu ponto de projeto. [QU*, W*]. Neste caso,
calor em excesso [QU* - (QU)Dem] está disponível para a venda, e por outro lado, como a
demanda elétrica é maior do que a gerada, eletricidade deve ser comprada [(W)Dem - W*].
Uma alternativa é operar a central fora de projeto, no ponto [QU, W] da linha de operação,
igualando a geração e a demanda de calor [QU = (QU)Dem], ou seja em paridade térmica.
Dessa forma, nenhum calor excedente é gerado, porém mais eletricidade [(W)Dem - W] tem
de ser comprada. Os casos limites deste quadrante são D21 e D22, para os quais [(QU)Dem
= QU*; (W)Dem > W *] e [(QU)Dem < QU*; (W)Dem = W*], respectivamente.
Na região 4A tanto a demanda elétrica como a térmica são menores do que os valores
fornecidos pela central em seu ponto de projeto. Então no ponto de projeto [QU*, W*] significa que
calor e eletricidade excedentes poderiam ser vendidos. Uma opção seria compatibilizar a demanda
elétrica pela operação fora do ponto de projeto [QU, W com W = (W)Dem] proporcionando calor
excedente para a venda. Alternativamente, poderia se igualar as curvas de demanda e geração de
39
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
calor pela operação também fora de projeto [QU, W com QU = (QU)Dem]. Neste caso, o déficit de
eletricidade [(W)Dem - W] teria de ser comprado. Portanto, nesta região 4A têm-se três opções de
operação: operação no ponto de projeto [QU*, W*] gerando-se excedentes de calor e eletricidade que
devem ser vendidos; operação fora do ponto de projeto [QU, W] com excedentes de calor ou déficit
de eletricidade.
Na região 4B, novamente as demandas de calor e eletricidade são menores do que o
fornecimento pela central operando no ponto de projeto [QU*, W*], significando que os excedentes
devem ser vendidos. Uma alternativa seria ‘casar’ a demanda térmica [QU, W com QU = (QU)Dem] e
vender a eletricidade excedente. Ou, como uma segunda opção, ‘casar’ a demanda elétrica [QU, W
com W = (W)Dem] sendo então necessário uma complementação de calor que deve ser comprado ou
gerado em uma caldeira convencional. Sendo assim, também na região 4B três opções são
permitidas: para a operação no ponto de projeto [QU*, W *] tanto calor como eletricidade seriam
gerados em excesso que devem ser vendidos. Para a operação fora do ponto de projeto [QU, W] ou
eletricidade deve ser vendida [QU = (QU)Dem] ou calor deve ser complementado [W = (W)Dem].
Demanda
de calor
útil (QU)DEM
3 D1 1
D1 2
D3 2
D3
*
D2 1
QU
D3 1 QU*, W* D1 1
4B
D4B
QU,W
QU,W
D2 2 D2
D4A 4A 2
Linha de operação da central
W* Demanda
de potência
elétrica
(W)DEM
40
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
A opção pela operação de qualquer uma das condições expostas anteriormente, deve ser
feita considerando a possibilidade de interconexão com a rede (para os casos de compra ou venda
de energia elétrica) e a possibilidade de comprar ou vender calor de ou para algum produtor vizinho.
A decisão deve ser feita pela opção que apresentar uma melhor viabilidade econômica, considerando
as tarifas de compra e venda local de eletricidade, bem como o preço de compra e venda de calor.
Em grande parte dos casos de sistemas reais de cogeração, o dimensinamento das capacidades
busca a operação em paridade térmica, como já apresentado anteriormente, ou seja nos quadrantes
3, 4A e 4B.
41
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
W + QU
ηEN = (14)
QCOMB
YE ⋅ W + YC ⋅ Q U
ηEN ,PP = (15)
YC ⋅ Q COMB
42
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
Neste critério se supõe que o combustível que a planta de cogeração utiliza para gerar
energia elétrica é dado pela diferença entre sua demanda total e a parcela que seria utilizada para
gerar calor em um sistema convencional, por exemplo, com caldeiras, como mostra a expressão a
seguir.
W
ηA = (16)
QU
Q COMB −
εb
43
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
Tipo de Central ηG
W=η QU ηEN ηEN,PP * ηA**
Central com TV de condensação com
0,38 0,10 0,48 0,41 0,43
extração
Central com TV de contrapressão 0,25 0,60 0,85 0,45 0,75
Central com TG e caldeira de recuperação 0,30 0,55 0,85 0,47 0,77
Central de ciclo combinado com cogeração 0,40 0,42 0,82 0,54 0,75
* - O calor útil foi considerado como custando 1/3 do valor da eletricidade
** - O rendimento do sistema convencional de fornecimento de calor foi considerado εb = 0,90
44
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
7- Aspectos Econômicos
Determinar qual é a efetiva redução da demanda de energia primária , seja como combustível
ou energia elétrica, quando se deseja instalar uma central de cogeração, é uma das primeiras etapas
a ser realizada nos estudos de pré-viabilidade. Uma das maneiras de se determinar este benefício
45
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
pode ser conforme a metodologia descrita a seguir, sugerida por Banyeras, (1996). A economia de
energia é calculada tomando como referência uma determinada instalação convencional e
comparando-a com uma de cogeração equivalente. É importante deixar claro que o método aborda
os casos de cogeração sem excedentes de energia, mas pode ser facilmente generalizado. Os
dados utilizados durante os cálculos são a demanda de calor útil, Q, e a demanda de eletricidade, E,
independentemente de como se garantem estas demandas.
Na Figura 26 se apresenta um diagrama ilustrativo do fluxo de energia em um sistema
convencional; a eletricidade demandada é consumida da rede elétrica e o calor produzido em uma
caldeira convencional.
EPe E
Rede elétrica
ηE Sistema que
demanda energia
EPq Q (consumidores)
Caldeira
ηq
E Q
EPsemcog = EPe + EPq = + (17)
ηe ηq
Sendo:
EPsemcog: consumo de energia primária em um sistema convencional;
EPe: consumo de energia primária devido à demanda de energia elétrica;
EPq: consumo de energia primária devido à demanda de energia térmica;
E: demanda de energia elétrica;
Q: demanda de energia térmica;
ηe: eficiência global da rede considerando desde a geração, até a transmissão e a
distribuição;
ηq: eficiência do sistema de produção de calor (geralmente uma caldeira).
46
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
E a E cog Q a
EPcomcog = EPe' + EPcog + EPq' = + + (18)
ηe ηcog η'q
Sendo:
EPcomcog: consumo de energia primária no sistema de cogeração;
EP’e: consumo de energia primária equivalente, devido ao aporte de eletricidade da
rede;
EPcog: consumo de energia primária no sistema de cogeração;
EP’q: consumo de energia primária pelo sistema de cogeração, devido à geração de
calor complementar;
Ea: eletricidade complementar aportada da rede, por sua vez determinada pela
expressão:
Ea = E - Ecog (19)
Qa = Q - Qcog (20)
E cog
ηelecog = (21)
EPcog
47
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
EP’e
Rede elétrica Ea
ηE
(
Econ EP = EPsemcog − EPcomcog = EPe + EPq − EPe' + EPcog + EPq' ) (22)
1 R cog 1
Econ EP = E ⋅ τ e ⋅ + − (23)
ηe ηq ηcog
sendo:
τe: taxa de cobertura elétrica, definida como a relação entre a energia elétrica
cogerada e demandada:
E cog
τe = (24)
E
48
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
Q cog 1
R cog = = .(25)
E cog β
Para que haja uma economia de energia primária com a implantação de uma central de
cogeração, sem geração de excedente, a seguinte desigualdade deve ser satisfeita:
Para que esta metodologia seja confiável, o cálculo deve ser feito em base de valores médios
anuais ou para períodos de tempo significativos. Na seqüência, é realizada uma aplicação numérica
deste método, supondo uma pequena instalação comercial, que apresenta as seguintes cargas:
A economia de energia será determinada pela Equação 23. A partir dos dados fornecidos
pode-se calcular a potência elétrica média:
E 250
= = 0,0625 [MW] = 62,5 [kW]
t 4.000
Como se trata de um baixo valor da potência, pode-se optar por um sistema de cogeração
empregando um motor de combustão interna. Será adotado um modelo apresentando os seguintes
dados de operação, cuja potência relativamente reduzida frente à demanda assegura operação
contínua em carga nominal:
A partir destes valores, utilizando a Equação 21, pode-se calcular o rendimento elétrico do
sistema de cogeração, lembrando que 1 kWh vale 860 kcal:
49
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
30 ⋅ 860
ηelecog = = 30 [%]
9 ⋅ 9.560
58
R cog = = 1,94 ou seja β= 0,52
30
1 1,94 1
Econ EP = 250 ⋅ 0,70 ⋅ + − = 346 [MWh] ≅ 29,7 [tep]
0,33 0,85 0,30
sendo considerado que 1 MWh = 0,086 tep. Os resultados deste exemplo são resumidos na tabela a
seguir:
SISTEMA CONVENCIONAL
Energia útil (MWh/ano) Energia primária (tep/ano)
Calor 1.500 (1.500/0,85)⋅0,086 = 152
Eletricidade 250 (250/0,33)⋅0,086 = 65
Total 217
SISTEMA DE COGERAÇÃO
Energia útil (MWh/ano) Energia primária (tep/ano)
Calor cogerado 232
Calor complementar 1.268 (1.268/0,85)⋅0,086 = 128
Eletricidade cogerada 120 (120/0,30)⋅0,086 = 34
Eletricidade 130 (130/0,33)⋅0,086 = 34
complementar
Total 196
ECONOMIA DE ENERGIA PRIMÁRIA (tep/ano) 21
50
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Cogeração: fundamentos e aplicações
a
C
P = Po (27)
Co
51
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
Turbinas a gás
(incluindo 0,5 - 1,0 1,1 MW 910 0,54
gerador) 10 - 40 39 MW 58.000 1,03
flamotubular 0,2 - 10 1 ton/h 20 0,64
aquotubular 14 - 32 20 ton/h 470 0,57
Caldeiras
32 - 82 60 ton/h 1.600 0,59
de recuperação 1,5 - 20 3 ton/h 160 0,75
resfriado a água 0,5 - 100 10 MW 3.000 0,55
Condensadores
resfriado a ar 5 - 10 10 MW 3.000 0,80
Superaquecedores 20 - 140 110 Mcal/h 120 0,75
Desaeradores 5 - 4.000 100 ton/h 67 0,78
Desmineralizadores 0,02 - 8 0,1 m3/s 3.200 1,00
Compressores de 0 - 70 bar
2 - 4.000 1.000 kW 450 0,90
GN
3
Torres de 4 - 60 10 m /min 70 1,00
3
resfriamento 60 - 700 100 m /min 560 0,64
0,1 - 2,0 1,6 MW 340 0,66
Geradores elétricos
2,0 - 250 18 MW 1.253 0,95
52
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
Assim, são apresentadas a seguir expressões para os custos anuais em cada caso. Como já
mencionado, será a diferença entre estes custos que deverá amortizar os investimentos nos
sistemas de cogeração. Para o caso de fornecimento convencional, estes custos anuais em unidades
monetárias , são dados por:
Yconv ⋅ Q u
Cconv = Yec ⋅ Wcm + Yed ⋅ D + (28)
εb
sendo Yec corresponde ao preço de compra da energia elétrica, Wcm ao consumo médio de
energia elétrica, Yed à tarifa de demanda contratada de energia elétrica, D ao valor da demanda
contratada, Yconv ao preço do combustível do sistema convencional, em base energética, Qu a
demanda média de energia térmica útil e εb ao rendimento do sistema convencional de fornecimento
de calor.
Para um sistema de cogeração, os custos com energia podem ser estimados por:
Ycog ⋅ Wcog
Ccog = Yec ⋅ Wdef + Yed ⋅ D − Yev ⋅ Wexc + + Yconv ⋅ Q comp + O & M ⋅ I (29)
ηcog
sendo Wdef a energia elétrica média a ser comprada da concessionária, Yev o preço de venda
do excedente de energia elétrica, Wexc a energia elétrica excedente média a ser vendida , Ycog o
preço do combustível do sistema de cogeração, Wcog a energia elétrica cogerada média, ηcog o
rendimento elétrico de cogeração, Qcomp a energia térmica complementar, O&M o custo com
operação e manutenção (como % do investimento no equipamento) e I o investimento no
equipamento.
Observe-se que uma mesma instalação pode operar nas diferentes situações apresentadas
ao longo do tempo. Observe-se ainda que, mesmo sob paridade térmica, poderá ocorrer que a oferta
de calor pelo sistema de cogeração seja inferior à demanda térmica, impondo gasto adicional de
combustível para complementação. Para as situações em que a tarifação de energia elétrica
considera o período do ano e do dia, ou seja, a fatura é em base horo-sazonal, há que se analisar
cada período separadamente.
Conhecidos os custos operacionais para ambos os casos, sem e com cogeração, a
viabilidade da implantação do sistema de cogeração pode ser analisada, calculando-se o Tempo de
Retorno do Investimento, o Valor Presente Líquido ou da Taxa Interna de Retorno. Denominando-se
o investimento total na planta de cogeração como CI (equipamentos mais implantação) e para uma
taxa de desconto i, o tempo de retorno dos investimentos (Equação 30), descontado, é dado pela
53
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
expressão a seguir, onde ∆COCOG representa a diferença dos custos operacionais anuais sem e com
cogeração, respectivamente as Equações 28 e 29:
i
− ln 1 +
100
TR = (30)
i CI
ln 1 − *
100 ∆CO COG
A viabilidade deverá ser ainda melhor definida mediante uma análise financeira, considerando
o fluxo de caixa e as eventuais condições de financiamento Uma importante variável que influi na
viabilidade dos sistemas de cogeração é o fator de carga das demandas, que quando elevado
favorece a economicidade, como se pode observar nas expressões anteriores, já que o custo de
investimento é uma função da capacidade instalada. Porém os custos totais são amortizados em
dependência da energia produzida. Para tomar uma decisão melhor fundamentada, é sempre
interessante que os estudos de viabilidade sejam seguidos de análises de sensibilidade dos
indicadores, frente a variações do fator de capacidade, assim como dos preços de combustível, das
tarifas elétricas e do investimento.
54
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
cogeração industrial (quando via de regra o calor é o produto principal). Existem casos, no entanto,
em que tanto o calor como a potência podem ser considerados igualmente importantes.
Para a definição de métodos e critérios de alocação de custos, vários aspectos devem ser
considerados e analisados, de acordo com as características intrínsecas de cada caso:
• importância relativa dos produtos, definidas em função das finalidades da instalação e dos
objetivos do investimento (iniciais ou adicionais) envolvidos;
• clareza dos métodos de modo a evitar dúvidas ou desconfiança quanto à validade dos
resultados obtidos;
55
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
Na verdade, pode-se concluir que não é tão importante procurar estabelecer uma
determinada metodologia como a melhor para todos os casos, quanto compreender as diversas
metodologias e os mecanismos por meio dos quais as mesmas afetam os custos da eletricidade e do
calor. Esse conhecimento pode proporcionar informações valiosas para que o decisor possa
considerar os efeitos da metodologia adotada sobre os custos finais obtidos para os produtos e
comparar as alternativas com maior objetividade. Um interessante exemplo de alocação dos custos
para uma planta de cogeração é apresentado por Lozano, 1997.
Outro trabalho também digno de menção é o de Carvalho, 1996, o qual permite determinar
custos adicionais associados às ineficiências dos equipamentos de plantas térmicas de potência e
sua importância relativa frente aos custos de manutenção praticados em unidades de conversão
energética.
56
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
8 - Aspectos institucionais
57
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
1. Permite a produção de energia elétrica com maior eficiência energética, menor impacto
relativo ao meio ambiente, menor uso de recursos energéticos, com freqüência a custos
competitivos;
5. A elevação da oferta de gás natural à região sul/sudeste, durante os próximos anos, abre
uma ampla perspectiva para a cogeração, com reflexos positivos no desenvolvimento de
companhias distribuidoras de gás e na formação de um mercado dedicado ao uso
eficiente daquele combustível;
Além disso, a atividade de cogeração está alinhada com outros objetivos nacionais,
orientados para a redução de custos e combate aos desperdícios, para a elevação dos níveis de
competitividade da indústria brasileira, para o estímulo à participação de um número crescente de
novos empreendedores e investidores e para o incentivo à geração de maiores oportunidades de
negócios e de empregos.
Esse conjunto de fatores mostra a clara vantagem de se incentivar e promover,
imediatamente, o processo de cogeração no âmbito nacional. Para tanto, é fundamental a iniciativa
58
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
das indústrias e dos empreendedores que, identificada a possibilidade de uma instalação, tenham a
perspectiva de um mercado que viabilize seu projeto. Na falta, ainda, de um mercado francamente
competitivo e livre, com clara sinalização de preços, torna-se necessário o estabelecimento de
condições transitórias, a partir das quais as concessionárias venham a absorver os excedentes de
energia possíveis de serem gerados pelos cogeradores, em especial por aqueles de pequeno e
médio portes.
energéticos;
59
Disseminação de Informações em Eficiência Energética
Cogeração: fundamentos e aplicações
g) Identificar as soluções mais adequadas para o suprimento de energia elétrica nas diversas
regiões do País;
Pode ser observada a compatibilidade da atividade de cogeração com a quase totalidade das
diretrizes explicitadas, fruto da adequação de suas características, vantagens e benefícios aos
objetivos da política energética nacional.
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Cogeração: fundamentos e aplicações
• Definição de valores normativos que limitam o repasse dos preços livremente negociados
na aquisição de energia elétrica, por parte das concessionárias e permissionárias, para as
tarifas de fornecimento.
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Cogeração: fundamentos e aplicações
• Preços negociados livremente, com repasse autorizado até o limite estabelecido pelos
respectivos valores normativos;
Diretriz nº 5: Financiamento
Atuar junto aos estados produtores de açúcar e álcool para definir medidas fiscais que
permitam viabilizar a oferta de energia elétrica excedente pelo setor sucroalcooleiro.
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Cogeração: fundamentos e aplicações
9- Potencial de Cogeração
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Potencial
Potencial termodinâmico
(MW)
.
.
.
Potencial técnico
.
Potencial econômico
Potencial de Mercado
Custo unitário
($/MW)
Figura 28 - Tipos de Potencial de Cogeração
Uma metodologia direta para estimar o Potencial Termodinâmico pode ser baseada nos
parâmetros α e β, apresentados anteriormente neste capítulo. Assim, a energia cogerada total em
um determinado setor i pode ser dada por:
E i total = Qi ⋅ βi (31)
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Cogeração: fundamentos e aplicações
Para determinar este potencial, estudos econômicos devem ser realizados sobre a base de
dados dos estudos de potencial técnico, determinando quais casos apresentam viabilidade ou
interesse. Como os parâmetros econômicos são dinâmicos, uma análise de sensibilidade frente a
suas variações poderá indicar como varia este potencial segundo o cenário considerado, sendo usual
apresentarem-se avaliações para um cenário favorável (baixos custos de insumos, condições
favoráveis de empréstimos, tarifas atraentes para venda de excedentes, etc) e outra para um cenário
pessimista (condições opostas).
Para a maior parte das empresas, a taxa de retorno é uma boa medida de viabilidade e pode
ser empregada para determinar a fração do potencial técnico que pode ser desenvolvido. De um
modo geral, considerando a América Latina e Europa, as expectativas de rentabilidade para os
sistemas de cogeração são eventualmente elevadas, restringindo-se a maioria dos projetos de
interesse a aqueles casos com prazo de retorno dos investimentos ao redor de 2,5 anos, ou seja,
exigindo taxas internas de retorno muito altas e reduzindo o potencial econômico. No entanto, a
existência de mecanismos adequados de financiamento pode ampliar de modo importante este
potencial.
A posição dos decisores é mais difícil de avaliar e requer necessariamente uma pesquisa com
prováveis cogeradores para conhecer suas expectativas e planos em relação a sistemas de
cogeração. Ainda quando as perspectivas econômicas são favoráveis, podem existir diversos fatores
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Cogeração: fundamentos e aplicações
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Cogeração: fundamentos e aplicações
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Cogeração: fundamentos e aplicações
Nos últimos anos e em todo o mundo, evolução institucional da indústria de energia elétrica
tem levado a mudanças profundas na indústria em si mesma e em seu mercado. No âmbito da
desregulamentação, o alvo principal consiste em apoiar um mercado competitivo, inovador e voltado
para os consumidores, onde os negócios apenas têm êxito, se focados no interesse destes
consumidores. Este contexto leva a preços menores de energia elétrica, aumento na eficiência
energética e no desempenho ambiental e prestação de serviços que atendam a outras necessidades
da comunidade em geral. Para as companhias de energia, a reestruturação está levando a um
processo de decisão mais transparente, mais receptivo a novas formas de conduzir os negócios.
Associando-se a estas transformações, em parte como causa, em parte como efeito, os
avanços tecnológicos têm posicionado favoravelmente a geração distribuída frente aos grandes
sistemas centralizados. Novos desenvolvimentos em tecnologias de geração termelétrica em
pequena escala, considerando desde motores alternativos até células de combustível, têm
proporcionado credibilidade para as centrais de geração distribuída como uma alternativa de
suprimento de energia elétrica, efetuando-se a geração no ponto de consumo final ou próximo deste.
Estes sistemas podem ser um modelo complementar ou alternativo ao das grandes centrais de
potência e neste sentido é interessante notar que assim a geração distribuída retoma uma
importância que já teve, pois apenas depois de décadas do surgimento da indústria de energia
elétrica, em fins do século XIX, que as concessionárias de serviço público conseguiram superar em
capacidade instalada as plantas de autoprodução operadas pelos consumidores em suas próprias
instalações.
Como no caso da cogeração, onde nos Estados Unidos se desencadeou o processo de
renascimento da tecnologia há duas décadas, também neste país a geração distribuída tem
despertado maior interesse. Segundo Curtiss et al., 1999 a confluência de eventos na indústria de
geração e transmissão elétrica tem produzido de fato um novo paradigma para o futuro da geração e
distribuição dos EUA. Segundo estes autores, a desregulamentação do mercado, a relutância das
companhias geradoras em alocarem capital para grandes centrais termelétricas e para as linhas de
transmissão, as persistentes limitações ambientais e, como mencionado, a evolução de novas e
eficientes tecnologias de geração fazem com que isto aconteça. Por exemplo, Curtiss menciona
estudos da Distributed Power Coalition of América (DPCA), mostrando que a geração distribuída tem
um potencial de atrair cerca de 20 % na expansão da capacidade instalada dos EUA, ou seja, 35 GW
num intervalo de duas décadas. Já para o Electric Power Research Institute (EPRI) o mercado
estimado pode contabilizar de 2,5 a 5,0 GW/ano antes de 2010. Ackermann, 1999, cita que este
valor, sugerido pela EPRI, representará 25 % de toda nova capacidade de geração nos EUA até
2010. A Natural Gas Foundation concluiu que este cenário pode chegar a 30 %, também segundo
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Cogeração: fundamentos e aplicações
Ackermann. Um estudo apresentado por Ban, 1999, sustenta que as mudanças regulatórias nos
próximos cinco anos irão impulsionar a indústria para um mercado de fornecimento de energia
elétrica completamente desregulamentado, com novos participantes e produtos. O estudo estima que
36 GW de nova capacidade deverão ser instalados nos próximos 15 anos em geração distribuída,
nos EUA. Avaliações como estas tem estimulado a aplicação de significativos recursos financeiros
para que novas tecnologias de geração melhorem ainda mais sua competitividade
Porém, ainda segundo os estudos mencionados, para que a geração distribuída alcance uma
ampla e fundamentada aceitação no mercado, se dependerá em grande parte de como as questões
políticas serão encaminhadas e resolvidas no campo regulatório e legislativo do setor. Deste ponto
de vista, três tendências independentes estão formando a base para o crescimento da geração
distribuída: a reestruturação do setor energético, a necessidade do aumento de capacidade do
sistema e os avanços tecnológicos dos acionadores primários.
A geração distribuída pode ser definida como a geração de potência elétrica através de
pequenas unidades, tipicamente com menos de 25 MW, estrategicamente localizadas perto dos
consumidores e centros de carga, que fornecem benefícios para os consumidores e suporte para a
operação econômica da rede de distribuição de eletricidade existente (GRI, 03/1999). De forma ainda
mais inovadora e restrita, define-se a geração distribuída como a geração integrada ou independente
de eletricidade através de fontes pequenas e modulares (de 45 a 200 kW) para pequenos
consumidores em geral. Sob qualquer definição, a geração distribuída inclui a geração apenas de
eletricidade, por exemplo para lugares remotos, onde o custo das linhas de distribuição não se
mostram viáveis, e a cogeração através de geradores de pequena escala e usuários de baixa
demanda.
A geração distribuída é fundamentalmente distinta dos modelos tradicionais para a geração
ou transmissão de potência. Pode-se entregar energia elétrica diretamente à rede de distribuição de
potência ou para um consumidor final, não empregando o sistema de transmissão. Os acionadores a
serem empregados podem ser os motores de combustão interna e as pequenas turbinas a gás já
disponíveis no mercado, ou as tecnologias emergentes, como as microturbinas a gás, células de
combustível, motores Stirling, além das turbinas eólicas e das células fotovoltaicas, que fogem do
escopo deste trabalho. A Tabela 10 fornece alguns dados para comparação das diferentes
tecnologias empregadas para geração distribuída, referindo-se às condições americanas.
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Cogeração: fundamentos e aplicações
20 - 10.000
Potência (kW) 50 - 5.000 + 1.000 + 30 - 300 50 - 1.000 + 0,5 - 1000
+
30 - 40 %
Eficiência (PCS) 36 - 43 % 28 - 42 % 21 - 40 % 25 - 30 % 35 - 54 %
(PCI)
Custo ‘turnkey’
350 – 500 600 - 1.000 650 - 900 600 - 1.100 1.900 - 3.500 2000 - 5000
(US$/kW)
Custo adicional
do recuperador
n.a. 75 - 150 100 - 200 75 - 350 incluído n.a.
de calor
(US$/kW)
Custo de O&M 0,005 - 0,007 - 0,003 -
0,005 - 0,010 0,005 - 0,010 0,005 - 0,010
(US$/MWh) 0,010 0,015 0,008
Os dados para os motores Stirling foram tomados de Jakobsen, et al., 1998. O custo ‘turnkey’,
da planta pronta para operar, foi baseado nos custos atuais de desenvolvimento. Segundo os
fabricantes, estes valores devem reduzir drasticamente à medida que os motores forem produzidos
em série. Por exemplo, o motor Stirling VIGO da Konus custou 4.960 US$/kW, na avaliação citada
pelo autor. O fabricante afirma que com a venda de 1.000 a 200.000 unidades por ano poderia estar
entre 62 - 240 US$/kW. Na Tabela 10, o sinal ‘+’ significa ‘ou maiores’.
Para entender as perspectivas da geração distribuída, é preciso considerar a natureza do
serviço demandado, a localização na rede e os benefícios aos usuários, às companhias de
transmissão e distribuição e aos fornecedores de serviços elétricos. Os serviços que a geração
distribuída pode efetuar são:
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Cogeração: fundamentos e aplicações
Em síntese, a geração distribuída, conceito dentro do qual podem ser incluídos os sistemas
de cogeração, apresenta vantagens técnicas e econômicas que asseguram sua sustentada
expansão nos próximos anos. Até o momento, esta tecnologia tem estado mais emergente nos
países onde a evolução institucional do setor elétrico está mais avançada, mas no Brasil certamente
seu tempo também está próximo.
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Cogeração: fundamentos e aplicações
11 – Referências Bibliográficas
- BAN, S.D., “What’s new and what’s next in gas technology for commercial markets”,
Conference of the Southern Gas Association, Gas Research Institute (GRI) (www.gri.org),
outubro de 1999;
- CURTISS, P., KREIDER, J., COHEN, D., “A methodology for technical and financial
assessment of distributed generation in the US”, Proceedings ASME Solar Energy
Division, Maui, 1999;
- JAKOBSEN, N.H, HOUMOLLER, S., PEDERSEN, L. T., “Technologies for small scale
wood-fuelled combined Heat and Power”, dk-TEKNIK, Energy&Environment, Denmark,
1998;
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Cogeração: fundamentos e aplicações
- USCHPA, United States Combined Heat and Power Association, “Combined Heat and
Power in the USA”, Cogeneration and On-site Power Production, no.1, vol.1,
January/2000, James&James Publishers, London.
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Cogeração: fundamentos e aplicações
- Nogueira, L.A.H.; Silveira, J.L., “Study of Energy Costs and Availabilities in Cogeneration
Systems associated to Cellulose Plants”, European Conference on Biomass for
Energy, Industry and Environment, EEC, May, Athens, 1991
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Cogeração: fundamentos e aplicações
Anexo 1 - Características de alguns modelos de turbinas à gás com potencial para aplicação em
sistemas de cogeração, nas condições ISO (base rating) (valores orientativos)
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1 KW = 735 CV
1 kcal = 4,186 kJ
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Entropia (kJ/kg K)
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