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VIABILIDADE PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE AQUECIMENTO TERMO

SOLAR DE ÁGUA PARA UM HOTEL

FEASIBILITY OF THE IMPLEMENTATION A THERMO SOLAR WATER


HEATING SYSTEM FOR A HOTEL

Resumo: O esgotamento das matrizes energéticas tradicionais, e a instabilidade hegemônica


mundial dependente desta, tem desencadeado uma corrida em prol da diversificação
energética com ênfase à alternativa renovável. O Brasil, que possui uma privilegiada
irradiação solar e um setor hoteleiro sensível às flutuações econômicas, pode se beneficiar da
eficiência energética resultante da substituição de vetores convencionais, por alternativas
renováveis. Neste contexto, buscou-se em um estudo de caso, analisar a viabilidade
econômica na implantação de um sistema de aquecimento solar de água em um hotel, por
meio de ferramentas da matemática financeira, considerando um custo de oportunidade
atrelado a taxa básica de juros (SELIC), e comparando-o aos sistemas convencionais, neste
caso, GLP, Energia Elétrica, e queima de Biomassa em três condições de teor de umidade.
Uma vez analisados, foi confirmada a viabilidade na substituição, ao comparar as diferença da
entre a taxa mínima de atratividade e a taxa interna de retorno do sistema SAS, e através da
utilização do payback. Por fim, também percebe-se que tal viabilidade está atrelada a um
cenário econômico expansionista, quando os custos de oportunidades são baixos, ou quando
não há taxa mínima de atratividade que aumente o custo de oportunidade.
Palavras-chave: Viabilidade econômica, Aquecimento Solar, Hotel.
Abstract: The depletion of traditional energy matrices, and the global hegemonic instability
dependent on it, has triggered a race in favor of energy diversification with emphasis on the
renewable alternative. Brazil, which has privileged solar radiation and a hotel sector sensitive
to economic fluctuations, can benefit from the energy efficiency resulting from the
replacement of conventional vectors by renewable alternatives. In this context, it was sought
in a case study to analyze the economic feasibility of implementing a solar water heating
system in a hotel, using financial mathematics tools, considering an opportunity cost linked to
the basic interest rate ( SELIC), and comparing it to conventional systems, in this case, LPG,
Electric Energy, and biomass burning in three conditions of moisture content. Once analyzed,
the feasibility of replacement was confirmed, by comparing the differences between the
minimum attractiveness rate and the internal rate of return of the SAS system, and
through the use of payback. Finally, it is also clear that such feasibility is linked to an
expansionary economic scenario, when opportunity costs are low, or when there is no
minimum attractiveness rate that increases the opportunity cost.
Keywords: Economic feasibility, Solar Heating, Hotel.
1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a crescente demanda mundial por energia elétrica em consonância
com o esgotamento das matrizes tradicionais resultou no requerimento de meios alternativos e
renováveis para a exploração dos recursos naturais (LAMBERTS, et al., 2010). Neste
contexto, a busca por segurança energética, dada a sua contribuição no desenvolvimento das
civilizações, tem desafiado inclusive a ascensão econômica de potencias como a China, e a
estabilidade hegemônica dos Estados Unidos.
Estes Países, que detêm a posição de maiores produtores, consumidores, e por
consequência poluidores de energia mundial, vem assumindo também um protagonismo como
maiores investidores em energia alternativa e renovável, diversificando suas matrizes
energéticas e sinalizando uma mudança no cenário mundial, apesar de ainda deterem uma
matriz dependente da queima de carvão e gases de xisto, respectivamente. (STEEVES, B.
2014).
Estudos mais recentes como o de B. Lin & C. Liu (2016) tem elevado a importância
do tema por sua implicação ambiental e econômica, ao reforçar a existência de uma relação
causal do crescimento macroeconômico precedido por um crescimento do consumo de
energia, identificado tanto na China como em outros Países.
Além disso, Zhang, C. et al., (2017) apontam que essa relação causal apresentou-se
mais expressiva em economias regionais que detinham avanços em políticas, tecnologias e
práticas de consumo eficiente, acompanhada de implementação estratégica de vetores
energéticos alternativos, desagregando e redirecionando a energia excedente para os demais
setores importantes da economia, uma prática que se impõe como necessária a países que
objetivam relevância econômica, social e ambiental, no cenário atual.
O Brasil tem um elevado potencial no âmbito energético renovável, dado a sua extensa
geografia, que corresponde a 47% da América do Sul, (TIBA, 2000). Possuindo uma
participação hidrelétrica responsável por 65% da geração elétrica nacional até 2018 (Figura
01) e um crescimento notável de 319,2% na capacidade produção energética de fonte solar
entre 2017 e 2018, segundo o balanço energético nacional (EPE, 2019).

Figura 1: Participação das fontes na geração


Fonte: EPE, 2019.

Setores de turismo e serviços, como o ramo de hotelaria, que apresentam


historicamente uma alta sensibilidade a instabilidade no cenário político-econômico externo e
interno (GORINI e MENDES, 2005), podem beneficiar-se econômica e ambientalmente, ao
adotar sistemas de aquecimento de água utilizando energia termossolar, em consonância com
os requisitos do sistema de gestão ambiental, conforme Bernardelli Junior, J. M. et al (2014).
A forma de captação da irradiação termossolar, mais conhecida, é por meio de
coletores solares planos. (CEPEL, 2014/CRESESB, 2014). Essa prática é conhecida a mais de
100 anos e já em 1880 existiam aquecedores muito similares aos atuais (RÍSPOLI, 2001).
Contudo, Ríspoli (2008) evidencia que há uma má propaganda do sistema que tem sua
origem na terceirização do dimensionamento junto ao representante comercial, encarecendo
ou subdimensionando o sistema, como resultado da falta de difusão ou desconhecimento de
boas práticas que garantem o máximo da eficiência proposta pelo fabricante.
A REN21 (Rede de Políticas de Energias Renováveis para o Século XXI) Iniciada em
2004, uma rede global, com o secretariado baseado no PNUMA (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente), fornece anualmente o “Relatório de Situação Global das
Energias Renováveis” (GSR). Segundo o GSR, desde 2005 á 2015, (10 anos) houve uma forte
tendência de crescimento da capacidade mundial de coletores para aquecimento solar de água,
apresentada na Figura 2.

Figura 2: Capacidade mundial de coletores termossolares


Fonte: Ren21, 2016.

Mas cabe ressaltar, que apesar da proeminência do sistema, o seu dimensionamento


adequado não deve ser estreitamente fundamentado apenas no investimento financeiro e na
temperatura de operação, é preciso também considerar a radiação solar disponível, índices de
transparência atmosférica e outras variáveis que caracterizam o clima da região, é o que
comenta Santos e Ríspoli (2015) sugerindo tabelas e fluxogramas que auxiliam a seleção do
coletor fundamentada em banco de dados, bibliografia e diferentes aplicações no território
Brasileiro.

Figura 3: Critério de seleção do coletor termossolar


Fonte: Santos e Ríspoli, 2015.
Neste sentido, uma vez garantida a eficiência total do sistema, busca-se incentivar o
desenvolvimento de análise de viabilidade econômica para implantação de sistemas de
aquecimento solar (SAS), como alternativa à substituição de vetores energéticos
popularmente conhecidos, encontrando atratividade financeira ante uma aplicação bancária a
juros de mercado. Sendo assim, para estudo de caso, o ramo de hotelaria, contexto do objeto
de estudo, é uma atividade que tem o interesse em oferecer, dentre os seus serviços, um
adequado conforto térmico ao banho, associado a um sistema de aquecimento de água
economicamente lucrativo e sustentável.
Localizado a uma distância de 60 km da cidade de campinas, numa zona rural da
cidade de Engenheiro Coelho, o Hotel possui 83 apartamentos, totalizando 166 leitos,
abastecido por um reservatório com um volume de 5.000 L/dia de água para banho, aquecida
previamente por uma caldeira movida a queima da biomassa de eucalipto. Objetiva-se, por
meio de um estudo de caso, dimensionar o sistema alternativo e compará-lo com demais
sistemas convencionais por meio da matemática financeira. Acredita-se que tais
características de serviço, sejam encontradas nas demais regiões do Brasil, caracterizando este
estudo como um exemplo de aplicação e difusão da tecnologia de sistema termossolar em
substituição aos vetores mais populares, fundamentada em análise de viabilidade econômica.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para realização deste estudo de caso, o fluxograma disposto na Figura 04 descreve


toda a rotina adotada para o proposto dimensionamento e a análise de viabilidade. Este projeto
esta dividi em 5 etapas:

Figura 4: Fluxograma do processo


Fonte: Autor, 2021.

2.1 LEVANTAMENTO DE DADOS

2.1.1 AMBIENTAL
Em um primeiro momento fez-se um levantamento da localização, coordenadas, e
orientação em relação ao norte geográfico, e visita em campo.
2.1.2 EDIFICAÇÃO
Foram levantadas as características de uso e consumo do instrumento de banho, marca
Docol, vazão de 9 L/min, e tempo médio de banho aproximado em 10 minutos, com
temperatura adequada ao banho de 35°C.
Na edificação, o número de apartamentos contabilizados foram 83 ao todo, com dois
hospedes em cada e uma taxa de ocupação de 85%.
SISTEMA ATUAL – VETOR ENERGÉTICO

A Caldeira movida a queima de biomassa de eucalipto é responsável por atender a


demanda de água quente de outras edificações, em conjunto com o Hotel selecionado,
dificultando a identificação precisa do consumo mensal, proporcional a demanda de energia
requerida pelo Hotel. Uma alternativa a essa limitação, foi a estimativa indireta da energia
produzida pela Caldeira, em função do Poder Calorífico Inferior da Biomassa, neste caso o
eucalipto, em três condições de umidade e massa (0% U; 20%U; e 40% U), Segundo Müzel,
et al., (2014), e ; com eficiência nominal da Caldeira FAET, atestada pelo fabricante, de 75%
e custo unitário por unidade de consumo obtido para as três condições de umidade, conforme
Carneiro et al., (2014).
Para comparação, foi determinado consumo mensal por unidade de consumo, de três
vetores: Caldeira, GLP e Energia. Com o intuito de comparar os dados, mas a análise de
viabilidade se restringiu apenas comparando o SAAS e a Caldeira, vetor da edificação.
2.1.3 SISTEMA DE AQUECIMENTO DE SOLAR

Com o auxílio de fluxogramas e tabelas elaboradas por Santos e Ríspoli (2015),


apresentada na Figura 4. Foi selecionado o coletor que melhor se adequa as características do
hotel, considerando a temperatura de operação de 49 °C, Irradiação média anual incidente no
plano do coletor em 5,181 kWh/m².Dia.

2.2 DIMENSIONAMENTO SAAS

2.2.1 PLANILHA ELETRÔNICA

Com o auxílio de uma planilha eletrônica e as normas mencionadas especificas, foram


sistematizadas as rotinas para uma melhor manipulação dos dados.
2.2.2 RADIASOL V1

Para determinar a estimativa média anual da irradiação solar local, foi empregado o uso
do banco de dados do Radiasol V1 (UFRGS, 2007) o qual apresenta uma interface intuitiva e
fornecimento do índice de transparência atmosférica e a irradiação solar média anual incidida
na face do coletor solar inclinado, justificado por ser mais preciso e claro se comparado a
ferramenta normativa.
2.2.3 NBR 15569/2008

O dimensionamento da área coletora foi baseado no procedimento sugerido pela NBR


15569/2008 – Dimensionamento e implantação de aquecedores em circuitos Diretos,
utilizando uma simplificação elaborada por Ríspoli (2008), justificada por dimensionar a área
com o auxílio da Irradiação já descomposta no plano, e ter desempenhado.
( Eútil +E perdas )FCinstalação 4,901
A coletora = ¿
PMDEE.Ialignl ¿ G ¿ ¿ (1)
A coletora : É a área do coletor solar (m²), necessária para atender a demanda diária de
calor.

Ialignl¿G¿¿ : Irradiação global média anual (KWh/m². dia);


Eútil : Energia útil, para atender a demanda de calor diária (KWh/dia).
E perdas : Perdas térmicas (KWh/dia);
FC instalação : Fator de correção que majora a energia necessária, por conta da
dispersão solar;
1
FC Instalação=
1−[0 , 00012( β−φ−10 °)2 +0 ,000035 γ 2 ] (2)
Sendo:
β : sendo inclinação dos coletores solares em graus com relação ao plano horizontal
terrestre.
φ : Latitude local em graus;
γ : Desvio azimutal dos coletores solares com relação ao norte geográfico.
PMDEE=4 ,901( Fr τα −0 , 0249 FrUL)
Da qual:
Fr τα= é um coeficiente adimensional que expressa o ganho do coletor solar
FrUL= Coeficiente Adimensional que expressa as perdas do coletor solar;

RÍSPOLI, et al (2008), sugerindo que a irradiação solar atuasse sobre o plano


inclinado, por manipulação algébrica, propôs uma simplificação prática, que implica
desconsiderar o fator de correção da instalação.

Volume . ΔT .1 ,15
860
A Coletora=
η. Hr (3)

A coletora : É a área do coletor solar (m²), necessária para atender a demanda diária de
calor.
Volume . : Volume armazenado (L/dia);
ΔT : Temperatura requerida para o reservatório, diferença de temperatura entre a
requerida e a produzida pelo sistema.
1,15 : Fator de incremento para previsão de possíveis perdas o sistema de reserva.
860 : Fator de conversão de Kcal para KW.
η ; Rendimento certificado do coletor;
Hr : Irradiação no plano do coletor inclinado – obtida no banco de dados em
Radiasol V1.
2.2.4 MÉTODO RACIONAL

Para dimensionamento do volume adequado de água quente, a NBR 7198/2008 orienta


que deve ser dimensionado em função das características climáticas e operacionais da
edificação, ficando por tanto a critério do projetista. Por isso, neste estudo de caso optou-se
por utilizar um método simplificado e prático (RÍSPOLI; MARIOTONI, 2007), identificado
como racional, neste estudo.

K=(Q ¿ ¿ b . T db . N b . N hab )/(T n−T aq)¿ (4)

K = Constante para simplificação dos cálculos;


Qb=Vazão do instrumento de banho;
Nb= Número de banhos (quantidade de banhos);
Nhab= Número de habitantes;
Tn= Temperatura natural (ambiente);
Taq= Temperatura água quente disponível no reservatório;
Tdb= Tempo de banho (por habitante).

V af =K .(T b −T aq ) (5)

V aq=K .(T n−T b ) (6)


Sendo:
Vaf = Volume de água fria;
Vaq = Volume de água quente;
Tn= Temperatura natural (ambiente);
Tb= Temperatura de banho;
Taq= Temperatura de água quente disponível no reservatório.

Na Tabela 1 são apresentados os dados e volumes estimados com o auxílio da


metodologia.
Tabela 1: Volume dimensionado - Método Racional

Qb = Vazão do instrumento de banho (L/min) 9


Tdb = Tempo de banho (por habitante) (min) 10
Nb = Número de banhos/dia 1
Nhab = Número de habitantes 166
Tn = Temperatura ambiente (°C ) 20
Taq = temperatura água quente disponível no reservatório 49
K = Constante para simplificação -515,172
fator de utilização (85%) 0,85
Tb = Temperatura de banho (misturado pelo usuário) (°C ) 35
7212,41
Vaf = Volume de água fria a uma temperatura natural (Litros) 3
Vaq = Volume de água previamente aquecida no reservatório (Litros) 6.568,45
∆T =(Taq-Tn) Diferença de temperatura exigida ao sistema aquecimento
29
(°C )
Fonte: Autor, 2021.
2.3 ORÇAMENTO

2.3.1 PESQUISA DE MERCADO

O sistema foi orçado por meio de uma pesquisa de mercado por intermédio de
fornecedor.
Em razão da área de cobertura disponível ser inferior a necessária para instalação e
disposição ideal dos coletores, foi considerado o sistema ativo (auxiliado por um kit de
circulação de água – sistema forçado) e afogado (abaixo da lâmina d’água), com inclinação
(β) do coletor a 33° em relação ao plano horizontal. Com coletores orientados ao norte sem
desvio azimutal, a irradiação solar média anual que chega sobre a superfície inclinada dos
coletores (HR) foi de 5,181 kWh/m².dia. Associado ao rendimento certificado do coletor pelo
INMETRO (n) de 59,2%, Classe C, e um ∆T de 29 ºC para um volume de 7.000 Litros/dia, a
área e o número de equivalente de coletores solares estimado, respectivamente, foi 88,5 m² e
48 coletores de 1,85m²/cada.

2.4 DETERMINAÇÃO DOS ÍNDICES ECONÔMICOS

A análise de viabilidade econômica auxilia na tomada de decisão e avaliação dos


custos de oportunidade de um projeto. Dentre os índices mais empregados nas literaturas,
encontram-se abaixo os três principais, descrito abaixo.
2.4.1 VPL – VALOR PRESENTE LÍQUIDO

Samanez (2009), define o VPL como um método que tem a finalidade de calcular, em
termos de valor presente, os fluxos gerados pelo projeto ao longo de sua vida útil,
maximizando o valor da empresa.
VPL definido pela seguinte expressão:

F Ct
VPL=−I + ∑ ❑ (7)
❑ ( 1+ K )t

Sendo:
F C t=¿ Fluxo de caixa no t-ésimo período (R$);
I = Investimento inicial (R$);
K= É o custo do capital (%);
t= Períodos.

Sobre o objetivo do VPL, Samanez (2009), considera que este tem por finalidade ser
comparado entre os projetos com o intuito de determinar projetos que valham mais do que os
seus custos, de tal forma que os um VPL maior do que zero não só representa uma
viabilidade, como também apresenta um lucro esperado, em R$, após o desconto da taxa
mínima de atratividade (TMA) “k”.
2.4.2 TIR – TAXA INTERNA DE RETORNO

Por definição a TIR é a taxa interna de retorno do investimento, ou sejam caso você
deseja comparar taxas de retornos de alternativas com o retorno gerado do investimento em
questão, é possível fazer em termos percentuais, facilitando a análise. A TIR é uma taxa tal,
que corresponde ao VPL de valor nulo, ou seja, quando a diferença entre o custo e o retorno
for igual a zero, conforme Samanez, (2009).

F Ct
VPL=−I + ∑ ❑ t (8)
❑ ( 1+i¿ )

Critério de decisão: se a taxa de retorno “i” (TIR) for maior que taxa de desconto “k”
(TMA) o projeto é economicamente viável.

2.4.3 TMA – TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE

A taxa mínima de atratividade é uma taxa de referência que deve ser igualada ou
ultrapassada em comparação a taxa de rentabilidade de outro projeto. Geralmente é baseada
em juros de aplicação bancária conservadora, como uma referência afim de direcionar a
escolha de algum projeto, (KASSAI, 1999).
Neste projeto foi adorada a taxa de juros básica do Banco Central (SELIC - Sistema
Especial de Liquidação e de Custódia), referente ao mês de outubro de 2020 e 2021, por ser a
taxa de juros niveladora de operações financeiras, ferramenta da política monetária nacional
para aumentar a oferta de crédito (Política monetária expansionista) através do seu corte, ou
restringir a oferta de crédito (Política Monetária Restritiva).
2.4.4 PAYBACK DESCONTADO

Samanez (2009) define Payback como o tempo que um determinado projeto levará,
para que comece a retornar lucro.
Sendo que, “I” representa o investimento inicial, “ F C t ” representa o fluxo de caixa no
período “t”, e “K” representa o custo do capital, TMA. O método consiste em determinar o
valor de “T” na seguinte equação:

F Ct
I =∑ ❑ (9)
❑ (1+ K )t

Além das equações definidas, RÍSPOLI, (2008) propôs a seguinte simplificação da


equação para determinar tanto a TIR, como também o PAYBACK.

V 0 i ( 1+i )n
E= (10)
( 1+i )n−1

Sendo:
E= Economia resultante do desuso de um vetor energético em moeda corrente (US$);
V 0= Valor do investimento no sistema de aquecimento solar (US$);
n=Número de períodos para o caso da determinação da taxa interna de retorno (TIR) e
igual ao Payback para o caso da determinação do retorno do investimento;
i=Taxa de juro periódico de mercado na situação de cálculo de Payback ou TIR para o
caso do estudo da rentabilidade total dos sistemas de aquecimento solar (%).

3 ANÁLISE DE RESULTADOS
Para dimensionamento do sistema, e comparação com os demais vetores, a rotina
adotada, foi determinar a energia requerida para o incremento de temperatura de operação no
reservatório, mensal, e o valor desagregado por unidade de consumo.

Tabela 2: Demanda térmica mensal

6.568,4
Volume de água diário no reservatório (L) 5
Diferença de temperatura exigida para suprir a demanda térmica (°C) 29
Fator de incremento para estimar calor perdido (15%) 1,15
Demanda diária de energia (kcal/dia) 219.058
Demanda mensal estimada de energia (Gcal/mês) 6,572
Fonte: Autor, 2021.

Para determinar o valor desagregado por unidade de consumo da caldeira, através do


método indireto, foram adotadas três situações de umidade, que corresponderão diferentes
densidade e poder calorifico, a fim de obter uma compreensão maior das implicações devida a
variabilidade biológica e ambiental do vetor energético.

Tabela 3: Valor desagregado por unidade de consumo - Caldeira


Valor desagregado por unidade de consumo - Caldeira
PCI 20%
PCI 0% U PCI 40% U
  U
Poder Calorifico Inferior (kcal/kg) 4.438,300 3.430,70 2.423,00
Densidade do Eucalipto (kg/m³) 283,10 353,90 471,90
Valor agregado por m³ de Eucalipto (US$/m³) 12,76 12,76 12,76
Rendimento da Caldeira (75%) 0,75 0,75 0,75
Custo por energia (US$/Gcal) 10,13 10,51 11,07
Demanda mensal (Gcal/mês) 6,572 6,572 6,572
US$
US$ 88,97 US$ 97,77
Consumo mensal (R$/mês) 92,07
Fonte: Autor, 2021.

Em seguida é dimensionada a área coletora do sistema, em função das condições de


operação. Considerando a irradiação incidente no local, através do banco de dados
RADIASOL, já deduzida no plano inclinado do coletor solar. Uma vez que também foi
considerado um volume de 7 mil litros para o reservatório, e um incremento de temperatura
de 29 °C a agua para condição adequada ao banho.

Tabela 4: Área dimensionada para o coletor


SAAS
 
7.000,0
Volume de água diário no reservatório (L) 0
∆T Diferença de temperatura exigida para suprir a demanda °C 29,00
Fator de incremento para estimar calor perdido (15%) 1,15
860 - Constante de conversão de kcal para kWh 860,00
n - Rendimento certificado dos coletores solares INMETRO 0,59
HR - Irradiação Solar em KWh/m² dia] 5,181
Área Coletora dimensionada (m²) 88,50
Fonte: Autor, 2021.

Os resultados, Tabela 3, indicaram um maior consumo mensal, para as condições de


maiores umidade, em conformidade com Carneiro et al., (2014).

Tabela 5: Valor desagregado por unidade de consumo, por vetores


RESUMO
Caldeira (US$/mês) US$ 88,97 ¹ US$ 92,07 ² US$ 97,77 ³
GLP (US$/mês) US$ 252,10
Energia Elétrica (US$/mês) 544,80
SAAS Orçamento (US$) 10.193,62
Obs.: ¹ = PCI 0% U    
² = PCI 20% U    
  ³ = PCI 40% U    
Fonte: Autor, 2021.

Os valores desagregados por unidade de consumo, ao mês, de cada vetor adotado para
comparação, indicaram que a Biomassa, para três teores de umidade diferente, apresentou
uma razão de 2,5 a 2,8 vezes menor (portanto mais econômica) que o GLP, e de 5,5 a 6 vezes
menor que a Energia Elétrica, mostrando melhor desempenho da Biomassa, em relação aos
vetores anteriores. Sendo assim optou-se por fazer a análise de viabilidade econômica
comparando o SAAS com o vetor movido a queima de Biomassa.

Tabela 6: Resultados da análise de viabilidade (SAS x Caldeira)


SAS X Biomassa PCI 0% U PCI 20% U PCI 40% U
Caldeira - Valor desagregado do vetor (US$/mês) 88,97 92,07 97,77
TMA - Taxa básica de juros - SELIC, 10/2021 6,25% a.a. 6,25% a.a. 6,25% a.a.
VPL (US$) 1.807,43 2.226,12 2.994,18
TIR (% a.a.) 8,38% 8,85% 9,70%
14a, 11m, 12a, 11m,
14a, 2m, 3d
PAYBACK (Período) 22d 0d
Conclusão: Devido a TMA, adotada, a referida
     
análise
de viabilidade justifica a substituição.      
Obs.: Nesta equação despreza-se qualquer valor a = anos m = mês d = dias
residual ao final da vida útil. Vida útil do SAAS =
179 meses 170 meses 155 meses
20 anos
Fonte: Autor, 2021.

Finalmente, observaram-se vantagem do SAS, em comparação a Biomassa, quando


analisado a diferença entre a taxa interna de retorno e a taxa mínima de atratividade, e o
período de retorno, que antecede a período de vida útil, do sistema SAS, de 20 anos.

Tabela 7: Resultados e análise – Para Selic em 2020 no mesmo período.


SAS X Biomassa PCI 0% U PCI 20% U PCI 40% U
Caldeira - Valor desagregado do vetor (US$/mês) 88,97 92,07 97,77
TMA - Taxa básica de juros - SELIC, 10/2020 2,0% a.a. 2,0% a.a. 2,0% a.a.
VPL (US$) 7.263,83 7.872,88 8.990,15
TIR (% a.a.) 8,38% 8,85% 9,70%
10a, 3m,
10a, 8m, 12d 9a, 7m, 20d
PAYBACK (Período) 18d
Conclusão: Devido a TMA, adotada, a referida
     
análise
de viabilidade justifica a substituição.      
Obs.: Nesta equação despreza-se qualquer valor a = anos m = mês d = dias
residual ao final da vida útil. Vida útil do SAAS =
128 meses 123 meses 115 meses
20 anos
Fonte: Autor, 2021.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estudo desenvolvido possibilitou perceber que no cenário político-econômico atual,


com ênfase a políticas monetárias expansionistas, com implicação direta na redução das taxas
de juros bancárias e facilitação de crédito a inciativa privada, possibilitou ao vetor termo solar
uma vantagem de 6% acima da taxa mínima de atratividade (SELIC out/2020), e de 2,13%
acima da taxa mínima de atratividade (SELIC out/2021) em comparação ao vetor movido a
queima de biomassa com umidade de 0% (situação mais vantajosa para o vetor movido a
Biomassa), e um Payback de 128 meses e 179 meses respectivamente. Nesse contexto,
indicando viabilidade na substituição.
Contudo, cabe a seguinte observação quanto algumas imprecisões da metodologia. Na
determinação da eficiência da caldeira, foi adotada a eficiência nominal, enquanto na prática
devido a fatores de utilização e condições de controle da lenha, podem não corresponder com
a realidade, favorecendo o SAS.
Além disso, por haver sido determinado o valor desagregado da lenha por método
indireto, se faz necessário para a reprodução do estudo uma abordagem, e uma metodologia
que consiga aferir e obter o consumo de lenha real gerado para o aquecimento da água para
banho do HOTEL.
Quanto a TMA, foi adotada a taxa básica de juros SELIC referente a outubro de 2020
e outubro de 2021, mas ainda assim algumas empresas ao tomar a decisão podem possuir
outra TMA que seja bem superior à adotada neste projeto, elevando o custo de oportunidade.
5 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRAS DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7198: Projeto e Execução


de Instalações Prediais de Água Quente - Procedimento. Rio de Janeiro, 1982.

_____.NBR 7198: Projeto e Execução de Instalações Prediais de Água Quente -


Procedimento. Rio de Janeiro, 1992.

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