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Aula de 13/10/2021 e 14/10/2021 – 6481 – Sistemas de Energia de Fontes Renováveis

Universidade Federal do São Paulo – UNIFESP


DEQ – Diadema / SP

Prof. Dr. Eng. Maximilian Serguei Mesquita

• Conservação de Energia:

A energia total consumida durante qualquer atividade pode ser considerada por dois
fatores: a eficiência energética da atividade – quanto de energia útil é possível se obter em função
da energia de entrada – e a extensão ou abrangência desta atividade, a qual, pode ser expressa por
meio do comprimento/quantidade daquela atividade, por exemplo: quantos quilômetros foram
percorridos? ou por quanto tempo as lâmpadas estiveram ligadas? A energia consumida em um mês
por um determinado carro depende do seu consumo (em quilômetros por litro, por exemplo) e do
número de quilômetros percorridos naquele mês.
Os esforços de conservação de energia normalmente concentram-se em um ou outro desses
fatores. Duas abordagens relacionadas a tais esforços são:
• O “ajuste técnico”, que consiste na utilização mais eficaz do combustível para
desempenhar a mesma tarefa, como, por exemplo, dirigir um carro com um motor mais
eficiente, reduzindo a energia requerida por essa atividade.

Fig. 1 – A evolução dos principais modelos de aviões durante os 100 anos de história
da aviação mundial. [Fonte: Bejan, A.; Charles, J. D.; Lorente, S.; The evolution of airplanes,
Journal of Applied Physics 116, 044901 (2014)

“Muito mais simples ao olhar para a Fig. 1. Os dados representam os tamanhos dos novos modelos
de aviões e os anos em que foram colocar em serviço. Cada novo modelo era presumivelmente
mais econômico (eficiente) do que seus antecessores do mesmo tamanho, porque caso contrário,
não teria sido bem-sucedido em ser adotado. (…) Pense em um veículo que consome combustível e
se move na superfície terrestre, no mapa-múndi, e pergunte o quão grande deve ser um dos
sistemas (órgãos) deste veículo? Por exemplo, um duto com um fluido fluindo através dele – duto
do sistema de condicionamento de ar; ou ainda, a superfície do trocador de calor do controle
ambiental do sistema. Como o tamanho deste” órgão” é finito, o veículo é penalizado (em termos
de combustível) pelo componente de duas maneiras: Primeiro, o “órgão” está cheio de correntes
que fluem superando as resistências, obstáculos e todos os tipos de “fricção” (força de atrito). No
escopo da termodinâmica, este fenômeno universal é chamado de irreversibilidade, ou destruição
de energia útil (exergia), ou ainda de geração de entropia. Esta penalidade de combustível é
menor quando o tamanho do “órgão” é maior, porque quanto maior significa dutos mais largos e
maiores superfícies de transferência de calor. Nesse limite, quanto maior, é melhor, porque o
“órgão” apresenta menos resistência ao fluxo de fluido, calor, massa e tensões. Em segundo lugar,
o veículo deve queimar combustível para transportar “órgão”. A penalidade de combustível para
carregar o “órgão” é proporcional ao peso do “órgão”. Esta segunda penalidade comanda que
quanto menor melhor, e está em conflito com a primeira. Deste conflito emerge a descoberta de que
o “órgão” deve ter um tamanho característico que é finito, não muito grande, não muito pequeno,
mas certo para aquele veículo particular. O tamanho do “órgão” recomendado por esta troca é tal
que grandes “órgãos” (tubos, trocadores de calor, bombas, compressores, turbinas) pertencem a
grandes veículos e pequenos órgãos pertencer a veículos pequenos.”

• A “mudança no estilo de vida”, que significa usar conscientemente uma menor quantidade
de combustível, por meio de comportamentos como desligar o ar-condicionado ou dirigir
por percursos menores, reduzindo, assim, a frequência da atividade.

O sucesso máximo possível dos ajustes técnicos para conservação de energia é limitado
pelas leis da física (por exemplo, primeira e segunda Lei da T.D).
Entretanto, ainda existe muito campo para melhoramentos nessa abordagem, especialmente
em relação ao uso eficiente de energia para realizar determinadas tarefas.

Por exemplo, uma lâmpada fluorescente de 20 watts produz a mesma quantidade de luz que
uma incandescente de 75 watts, e dura dez vezes mais. O custo inicial da lâmpada fluorescente é
maior, mas a economia nos custos de eletricidade durante o uso médio de um ano vai pagar o
investimento. Se substituirmos as lâmpadas incandescentes por fluorescentes ou lâmpadas a LED,
será necessário um número menor de usinas elétricas. O investimento na construção de uma planta
industrial para a produção de lâmpadas eficientes no uso de energia será muito menor que para a
construção de uma usina de geração de eletricidade.

Na conservação de energia, as questões são muito mais que apenas tecnológicas, porque o
consumo de energia também depende da “frequência da atividade”.

Observação: Muitas pessoas afirmam que os preços da energia deveriam refletir mais o que
vai custar para substituir os decrescentes suprimentos de combustíveis não renováveis, como o
petróleo e o gás natural, do que apenas o preço para obtê-los. As sociedades não vão mudar para
tecnologias de energia renovável e equipamentos mais eficientes se os combustíveis fósseis
forem quase gratuitos.
Fig. 2 - Consumo per Capita de Energia nos EUA durante os últimos
130 anos. [Fonte: Hinricks, R. A., Kleinbach, M., Energia e Meio Ambiente, tradução da 5a. Edição
Americana, Cengage Learning, 2015, pp. 29].

• Uma das principais forças por trás da redução per capita no uso de energia nos Estados
Unidos durante o início da década de 1980 foram os altos preços do petróleo.
• Entre 1900 e 1980, aumentou de 80 milhões para 320 milhões de Btu por ano.
• O uso per capita norte-americano de eletricidade foi seis vezes maior em 2000 do que em
1950. Nos últimos cinco anos, ele caiu cerca de 5%.
• O aumento da ênfase na conservação de energia é firmado com alguns argumentos
convincentes:
◦ As tecnologias de conservação são alternativas mais efetivas em relação aos custos
do que o desenvolvimento de tecnologias de abastecimento adicionais. Isso quer
dizer que, na maioria dos casos, será mais barato economizar 1 barril de petróleo do que
desenvolver 1 barril de um novo substituto para ele. “O investimento em conservação de
energia gera um retorno melhor do que o investimento em suprimentos de energia”,
afirmou a International Energy Agency em 1987.
◦ A conservação vai ampliar a duração dos limitados recursos energéticos da Terra, não
apenas para os Estados Unidos como também para os demais países. Hoje, mais da
metade dos países em desenvolvimento depende de petróleo importado para suprir 75%
ou mais de suas demandas comerciais de energia. A conservação dará mais tempo
para o possível desenvolvimento de recursos inesgotáveis, como a energia solar e a
energia eólica.
◦ As tecnologias de conservação podem ser colocadas em utilização muito mais
rapidamente do que podemos aumentar os suprimentos alternativos. São
necessários de dois a quatro anos para se abrir uma nova mina de carvão, dois a três anos
para se construir uma usina de geração de energia por turbina a gás, cinco a sete anos
para a construção de uma usina de geração de energia por combustão de carvão, e nove a
onze anos para se construir uma usina nuclear. Muitas práticas de conservação podem
ser iniciadas imediatamente porque a tecnologia adequada já está disponível e é simples,
para, por exemplo, melhor isolar termicamente as construções. O dinheiro exigido para
tais medidas de economia de energia é menor que para a aplicação de tecnologias
de abastecimento intensivas do ponto de vista de investimento de capital.
◦ A conservação de recursos combustíveis fósseis é particularmente crucial para o futuro,
já que a sua utilização como matéria-prima das indústrias químicas (como as
farmacêuticas e as de plásticos) é muito mais importante do que seu uso na geração de
energia.
◦ A conservação de recursos combustíveis fósseis é particularmente crucial para o futuro,
já que a sua utilização como matéria-prima das indústrias químicas (como as
farmacêuticas e as de plásticos) é muito mais importante do que seu uso na geração de
energia.

Fig. 3 – Indicadores de Consumo e Gastos com Energia nos EUA.

• A crença de que o crescimento econômico sempre significaria o aumento da quantidade de


energia usada era fortemente defendida alguns anos atrás. Como há necessidade de energia
para gerar um determinado produto, pode-se esperar uma relação constante entre o
PIB e o consumo de energia.
• Essa relação foi constante até o início da década de 1980, quando os altos preços do petróleo
encorajaram programas de conservação de energia e aumento da eficiência, causando uma
significativa diminuição do uso per capita de energia, em especial nos Estados Unidos.
• De 1980 até a recessão econômica de 2008, o consumo de energia aumentou apenas uma
média de 1% ao ano, enquanto o PIB (em valores constantes do dólar) cresceu entre 3 e 5%
anualmente.
• Um relatório do Office of Technology Assessment dos Estados Unidos determinou que dois
terços desse melhoramento no uso de energia foram resultados da conservação e do aumento
da eficiência no uso, e o outro terço originou-se da mudança para uma economia mais
voltada aos serviços.
• O uso de energia tem aumentado rapidamente desde 1986, mas a tendência de conservação
se mantém, como pode ser visto pela contínua diminuição da relação entre consumo (Btu) e
PIB. Essa relação é usualmente chamada intensidade energética.
• Recentemente, no mundo industrializado, o crescimento da demanda energética tem sido
menor que o crescimento econômico; como resultado, a intensidade energética tem
decrescido. No mundo em desenvolvimento, o aumento da demanda e o crescimento
econômico têm sido mais correlacionados e a intensidade energética permanece
relativamente constante.

• Cenários Futuros:
◦ A situação global política e da energia, hoje, é drasticamente diferente da que existia no
início da década de 1970. Os baixos preços do petróleo durante a década de 1990
provocaram aumento no consumo e desestimularam a conservação de energia e o
desenvolvimento de recursos energéticos alternativos. Entretanto, o ambiente econômico
tem mudado, e isso pode tornar mais fácil lidar com futuras interrupções no
abastecimento e com a escassez.
▪ Os Estados Unidos, atualmente, dependem menos do petróleo para sua mistura
combustível e mais do carvão, do gás natural, da energia nuclear e das tecnologias
renováveis do que a uma década atrás.
▪ A produção petrolífera, atualmente, está mais dispersa entre países que não fazem
parte da Opep do que em 1973, quando 56% do abastecimento mundial vinha desses
países.
▪ Graças, em parte, aos elevados preços do petróleo da década de 1970, aprendemos
tanto a conservar energia nos setores residenciais e industriais quanto a construir
equipamentos mais eficientes no uso da energia. A eficiência no consumo de
combustível dos novos carros (excluindo SUV e caminhões leves), hoje, é 62%
maior que no meio da década de 1970 (aumentando de 17,5 para 28,5 milhas por
galão). Os novos refrigeradores são 300% mais eficientes na utilização de energia do
que eram em 1973.
▪ A energia renovável, quase desconhecida em 1973 (com exceção da energia
hidrelétrica), tem estado em constante crescimento, tanto nos países desenvolvidos
quanto naqueles em desenvolvimento.

De acordo com Hall & Klitgaard em “Energy and the Wealth of Nations – An Introduction
to Biophysical Economics, Second Edition, Springer Verlag, 2018, pp. 468 – 472; Os autores
afirmam que:
• “Cada vez que a economia dos EUA emergiu de uma recessão nos últimos 40 anos, houve
um aumento no uso de petróleo, enquanto mantinha-se um baixo preço do petróleo.
Infelizmente, o petróleo é um recurso finito. Quais são as implicações para o futuro
crescimento econômico se após uma recessão: (1) Se os suprimentos de petróleo sejam
incapazes de aumentar com a demanda ou; (2) aumento do suprimento de petróleo, mas a
um preço maior?”
• “Para empreender esta investigação, devemos examinar primeiro o atual e a provável
situação futura do fornecimento de petróleo; então a partir disso, podemos fazer
inferências sobre como a futura oferta e o preço do petróleo significam para o
crescimento econômico.”
• Uma vez que o consumo de petróleo causa mudança no crescimento econômico, entender
como o pico do petróleo e a energia líquida impactam a oferta e o preço do petróleo é
importante para compreender a capacidade de crescimento de nossa economia no futuro.
Para esse fim, reveremos a teoria e o status atual de como o pico de petróleo e a energia
líquida dizem respeito ao fornecimento de petróleo, e, em seguida, discutiremos como
ambos podem influenciar preço do petróleo.
• O otimismo sobre a futura disponibilidade de óleo, geralmente começa, com a observação
de que há uma grande quantidade de petróleo restante na Terra, provavelmente de três a
dez vezes o que extraímos, e, geralmente, associada a suposição de que a tecnologia futura
impulsionada por sinais de mercado obterá muito deste óleo supostamente existente. Há
pelo menos dois problemas com essa visão. O primeiro é o do “pico do petróleo”. Está
claro que chegamos, ou iremos em breve, atingir um limite físico em nossa capacidade de
bombear mais óleo do subsolo. Por muito tempo, a produção de petróleo cresceu entre três
a quatro por cento ao ano. Desde 2004 tem havido pouco ou nenhum crescimento da
produção global de petróleo.
• O retorno sobre o investimento em energia (EROI – Energy Return on Investment) é a
razão entre a quantidade de energia utilizável obtida de um recurso e a quantidade de energia
gasta para produzir essa quantidade líquida de energia. Por exemplo, é preciso energia para
localizar, extrair, entregar e refinar o petróleo bruto antes que ele possa ser usado como
energia.
• Segundo problema é que o óleo deixado no subsolo exigirá uma quantidade crescente de
energia para extrair, em algum ponto, tanto quanto, a energia equivalente no óleo ainda a
ser explorado. Há uma tendência clara de que o EROI da produção de petróleo está
diminuindo em cada região para a qual os dados estão disponíveis. Isso mostra que o
esgotamento é mais importante do que os avanços técnicos. Gagnon et al. [16] relatam
que o EROI para extração global de petróleo diminuiu de cerca de 36: 1 na década de 1990
para 18: 1 em 2008. Esta tendência de queda é decorrente de, pelo menos, dois fatores:
◦ Primeiro, cada vez mais as ofertas disponíveis de petróleo devem vir de fontes, que a
princípio, são inerentemente mais intensiva de energia para produzir, simplesmente
porque as empresas desenvolveram primeiramente os recursos de menor custos antes
dos mais caros. Por exemplo, em 1990, apenas dois por cento das descobertas foram
localizadas em águas ultraprofundas locais, mas em 2005 esse número era de 60 por
cento (ver Fig. 4).
◦ Em segundo lugar, técnicas avançadas de recuperação de óleo, como a injeção de vapor
ou de gases (CH4, Nitrogênio e futuramente CO2?) estão sendo implementados cada vez
mais. Para exemplo, a injeção de nitrogênio foi iniciada no outrora campo supergigante
de Cantarell no México em 2000, o que impulsionou a produção por 4 anos, mas desde
2004, a produção do campo diminuiu precipitadamente. Embora as técnicas de
recuperação avançadas de óleo tenham aumentado a produção no curto prazo, eles
também aumentam significativamente o inputs de energia necessário para a produção,
comprometendo grande parte do ganho de energia líquida para a sociedade. Assim,
parece que o óleo adicional é improvável que esteja disponível, e se assim for, terá um
baixo EROI e, portanto, alto preço.

Fig. 4 – Águas profundas (deepwater) – descobertas de petróleo como uma porcentagem das
descobertas totais de 1990 a 2005 (Fonte: Jackson 2009) ; [Fonte: Hall, C.A.S; Klitgaard, K.;
Energy and the Wealth of Nations – An Introduction to Biophysical Economics, Second Edition,
Springer Verlag, 2018, pp. 470].

• Prever o preço do petróleo, no entanto, é uma tarefa difícil, pois o preço do petróleo
depende, em tese, da demanda, bem como a oferta de petróleo.
• Após o "crash" econômico de 2008 (Subprimers – bolha especulativa do refinanciamento
imobiliário no EUA), a maioria das economias da OCDE ao redor do mundo têm
contraindo ou, pelo menos, não tem crescido, ou quando tem, em pequenas taxas. Assim, a
taxa fixa de produção de petróleo desde 2004 não causou um grande aumento sustentado
no preço do petróleo. Uma coisa que podemos fazer com um certo grau de precisão é
examinar o custo de produção de várias fontes de petróleo para calcular o preço em quais
tipos diferentes de fontes de petróleo são os mais econômicos (Fig. 5).
• Podemos então estimar quanto petróleo estaria disponível para um determinado preço. Se o
preço do petróleo está abaixo do custo de produção, então a maioria dos produtores desse
óleo cessará suas operações. Se examinamos o custo de produção nas áreas em que
atualmente estamos descobrindo petróleo, está aras recém-descobertas certamente serão as
áreas fornecedoras dos futuros suprimentos de petróleo, então pode-se calcular um preço
mínimo teórico abaixo do qual um aumento na oferta de petróleo é improvável
(economicamente inviável).
Fig. 5 – Custos de produção de petróleo de vários fontes em função do EROI dessas fontes. As
linhas pontilhadas representam o preço real do petróleo em média sobre os períodos de recessões
quanto expansões durante entre 1970 a 2008. [Fonte: Hall, C.A.S; Klitgaard, K.; Energy and the
Wealth of Nations – An Introduction to Biophysical Economics, Second Edition, Springer Verlag,
2018, pp. 471].

• Cerca de 60% das descobertas de petróleo em 2005 estavam em locais de águas profundas
(Fig. 4).
• De acordo com as estimativas do Cambridge Energy Research Associates, o custo de
desenvolvimento desse óleo está entre $ 60 e $ 85 por barril, dependendo da localidade
específica de águas profundas. Portanto, o preço deste óleo deve exceder facilmente o
patamar de US $ 60 a US $ 90, até mesmo, para os poços mais produtivos em águas
profundas. Esses dados indicam que o futuro do petróleo caro é necessário se quisermos
expandir nosso uso total de petróleo, ou seja, crescer economicamente. Mas esses preços vão
desencorajar em muito este crescimento (Fig. 5). Na verdade, pode ser difícil no futuro até
mesmo produzir o restante recursos de petróleo a preços que a economia pode pagar.

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