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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

UNIDADE ACADÊMICA DO CABO DE SANTO AGOSTINHO

Campus das Engenharias

Turbina a gás de queima externa (EFGT)

CABO DE SANTO AGOSTINHO/ PERNAMBUCO


JUNHO, 2023
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIDADE ACADÊMICA DO CABO DE SANTO AGOSTINHO

Campus das Engenharias

Turbina a gás de queima externa (EFGT)

Relatório apresentado à Unidade Acadêmica


do Cabo de Santo Agostinho (UACSA), da
Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE), em cumprimento às exigências da
disciplina Máquinas térmicas 2, ministrada
pelo Dr. Felipe Orlando Centeno.

Graduandos: Esterfhanyé Rayani da Silva,


Rafaella Eduarda Gama Cruz.

CABO DE SANTO AGOSTINHO/ PERNAMBUCO


JUNHO, 2023
RESUMO

As máquinas térmicas desempenham um papel crucial como dispositivos conversores


de energia térmica em trabalho mecânico, viabilizando a geração de eletricidade. As
máquinas térmicas são usadas para diversas ocasiões fazendo uso das mais variadas
tecnologias. Este trabalho, portanto, tem como objetivo o estudo de turbinas a gás de
queima externa, tecnologia que se encontra em desenvolvimento, esta turbina é
utilizada em cogeração, pois pode fornecer potência elétrica e térmica. O trabalho foi
feito através de uma revisão de Al-Attab e Zainal (2014) e outras referências, foi feito
uma introdução sobre as turbinas a gás de queima externa. Foram mostradas as
fontes de energia térmica utilizando turbina a gás acionada externamente (EFGT).
Além disso, vemos os diferentes projetos de trocadores de calor de alta temperatura
e os materiais que podem ser utilizados, vemos problemas causados por corrosão e
incrustações no mesmo. Por fim, vemos métodos para melhoria da eficiência do ciclo.

Palavras-chave: Turbina. Queima externa. Gás. Máquina térmica. Cogeração.


ABSTRACT

Thermal machines play a crucial role as devices that convert thermal energy into
mechanical work, enabling the generation of electricity. Thermal machines are used
for various occasions making use of the most varied technologies. This work, therefore,
has as its objective the study of external burning gas turbines, a technology that is
under development, this turbine is used in cogeneration, because it can supply
electrical and thermal power. The work was done through a review of Al-attab and
Zainal (2014) and other references, an introduction was made about external
combustion gas turbines. The sources of thermal energy using externally driven gas
turbines (EFGT) were shown. Furthermore we see the different designs of high
temperature heat exchangers and the materials that can be used, we see problems
caused by corrosion and fouling in the heat exchanger. Finally we look at methods for
improving the efficiency of the cycle.

Keywords: Turbine. External Burn. Gas. Thermal engine. Cogeneration.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 6
2 TECNOLOGIAS DA TURBINA A GÁS DE QUEIMA EXTERNA (EFGT) ............ 8
3 FONTES DE ENERGIA TÉRMICA UTILIZADAS PARA O CICLO EFGT ........... 9
3.1. COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS PARA EFGT ...................................................... 9
3.2. COMBUSTÍVEIS NUCLEARES PARA EFGT .............................................. 11
3.3. BIOMASSA COMO COMBUSTÍVEL PARA EFGT....................................... 12
3.4. ENERGIA SOLAR CONCENTRADA (CSP) PARA EFGT ........................... 14
4 TURBINA A GÁS ............................................................................................... 15
4.1 TURBO COMPRESSOR BASEADO EM EFGT ........................................... 16
4.2 MICROTURBINA A GÁS BASEADO EM EFGT........................................... 17
4.3 TURBINAS A GÁS DE MÉDIA E GRANDE ESCALA BASEADO EM EFGT
19
5 SISTEMA DE LUBRIFICAÇÃO DA TURBINA A GÁS ...................................... 19
6 TROCADORES DE CALOR DE ALTA TEMPERATURA (TCAT) ..................... 20
6.1 DIFERENTES DESIGNS DO TROCADOR DE CALOR DE ALTA
TEMPERATURA .................................................................................................... 21
6.2 CORROSÃO E INCRUSTAÇÃO NO TCAT (HTHE) .................................... 23
7 A MELHORIA DA EFICIÊNCIA DO CICLO EFGT ............................................. 26
7.1 RESFRIAMENTO INTERMEDIÁRIO, REGENERAÇÃO E CICLO
COMBINADO ......................................................................................................... 26
7.2 CICLO DE TURBINA A GÁS ÚMIDO OU EVAPORATIVO .......................... 27
7.3 CICLO HÍBRIDO DE CÉLULA DE COMBUSTÍVEL - TURBINA A GÁS ...... 29
8 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 31
6

1 INTRODUÇÃO

Durante a revolução industrial os motores térmicos acionados de forma externa


eram bastante utilizados, sendo os combustíveis sólidos sujos existentes na época,
os combustíveis desses motores, tendo em vista a deficiência na produção de
combustíveis refinados, um dos principais combustíveis era o carvão. Com o
surgimento de combustíveis limpos, o uso dos motores de queima externa se
extinguiu, sendo usado apenas dentro das usinas a vapor.
Com o passar dos anos a busca por novas energias limpas tem se intensificado,
e novas possibilidades para a produção desse tipo de energia vem sendo estudada.
Com isso é trazido novamente ao campo de produção de energia os sistemas que são
acionados de maneira externa, tendo uma grande parte da atenção voltada para a
turbina a gás de queima externa (EFGT).
A turbina a gás de queima externa, também conhecida como EFGT, uma sigla
para o seu nome em inglês Externally Fired Gas Turbine. Esta nova tecnologia chama
a atenção por possuir uma ampla gama de produção de energia e, também, por
permitir o uso de combustíveis limpos e energia renovável, como por exemplo a
biomassa. Este tipo de turbinas está em desenvolvimento no âmbito da produção de
energia em pequena e média escala. Neste tipo de tecnologia, o combustível é
queimado à pressão atmosférica de maneira externa, este tipo de estrutura faz com
que os gases quentes produzidos na combustão não entrem diretamente em contato
com as pás da turbina.
Esta tecnologia vem se destacando no ramo de pesquisa de energia renováveis
e calor pelo fato de ter capacidade de uso de grandes quantidades de combustíveis
quando comparada às turbinas a gás de queima direta. Tendo em vista que a
tecnologia ainda está nos estágios iniciais do seu desenvolvimento ela é utilizada em
pequenas escalas.
Como é possível a queima de grandes quantidades de combustíveis, há a
possibilidade de troca da câmara de combustão da turbina por um trocador de calor
de alta temperatura, também chamado de HTHE, High Temperature Heat Exchanger.
O trocador por sua vez será responsável por transferir a energia térmica que está
presente nos gases de combustão para o fluido de trabalho que se encontra no
condensador.
7

Como todo ciclo de trabalho o ciclo EFGT apresenta algumas vantagens e


desvantagens, entre as desvantagens do ciclo podemos citar a baixa eficiência que o
mesmo apresenta diante do ciclo convencional, essa baixa eficiência se dá pelo fato
da temperatura de entrada da turbina que opera com o ciclo EFGT ser bem menor do
que a temperatura de entrada da turbina de um ciclo convencional. Uma das possíveis
medidas que podem ser tomadas para o aumento da eficiência do ciclo EFGT é o
aumento da temperatura no trocador de calor, porém como é uma tecnologia em
desenvolvimento novas medidas para esta situação podem ser descobertas.
Dentre as vantagens do ciclo EFGT podemos citar a capacidade que o mesmo
possui de trabalhar com tanto em ciclo aberto com ar como fluido de trabalho, como
em ciclo fechado com ar ou outro fluido que possui melhores propriedades
termodinâmicas, outra vantagem é que quando utilizada em ciclo fechado, as turbinas
a gás de queima externa possuem a possibilidade de operar em níveis de pressão
mais altos, porém mantendo baixa relação de pressão como ocorre no ciclo aberto.
Esse fato por sua vez, pode reduzir o tamanho dos componentes do sistema tendo
em vista que o volume específico do gás será menor em alta pressão, o que vai levar
ao sistema uma maior relação potência/volume e, também, um menor custo.
Podemos citar ainda uma última vantagem do ciclo que é a sua capacidade de
lidar com uma ampla gama de combustíveis, sendo possível ainda a utilização de
combustíveis sólidos, sem o uso de sistemas de limpeza ou compressão de
combustível e equipamentos de injeção.
Dentro desse contexto, o presente tem por objetivo, obter um conhecimento
mais amplo acerca das turbinas a gás de queima externa. Visando isso será feita uma
análise sobre o funcionamento desse tipo de turbina a gás, também os tipos de
combustíveis comumente utilizados para este processo, será feito uma breve
explicação acerca das máquinas térmicas que podem ser baseadas no EFGT,
faremos uma rápida explanação sobre os trocadores de calor de alta temperatura. Por
fim, mostraremos os métodos existentes para melhoria da eficiência do ciclo EFGT.
8

2 TECNOLOGIAS DA TURBINA A GÁS DE QUEIMA EXTERNA (EFGT)

As turbinas a gás de queima externa podem ser explicadas


termodinamicamente pelo ciclo Brayton, porém, é preciso ressaltar que esse último,
apresenta uma potência específica maior em relação ao ciclo EFGT, por possuir uma
maior temperatura de entrada.
A figura 1 apresenta um desenho esquemático do EFGT, como também, o
diagrama T x s do ciclo.

Figura 1: Ciclos simples de turbinas a gás acionadas externamente. (KAUTZ; HANSEN, 2007)

Como é possível observar na figura, o sistema é composto por um compressor,


uma turbina a gás, um trocador de calor e um queimador/combustível. O ciclo opera
da seguinte forma: no compressor ocorre a compressão, após ser comprimido o fluido
segue para a turbina onde é separado dos gases de combustão, a potência térmica
desses gases é transferida para o fluido de trabalho por meio do trocador de calor de
alta temperatura, HTHE, após isso o ar é expandido igualmente na turbina. Esse ar
expandido ao sair da turbina pode ser usado para a queima do combustível na
fornalha, e os gases resultantes da combustão são usados para aquecer o ar que sai
do compressor dentro do trocador de calor.
No ciclo EFGT a troca de calor depende diretamente da diferença entre as
temperaturas dos gases de combustão e do ar que sai do compressor, onde essa
9

última, depende da razão de pressão. Dessa forma, uma maior razão de pressão leva
a um aumento na temperatura de saída do compressor que, por consequência, gera
uma troca de calor menos eficiente, tendo em vista que, a temperatura dos gases de
combustão é limitada pelo material que está sendo usado no equipamento.
Observando o diagrama T-s, podemos ver que a diferença de temperatura na
troca de calor entre os pontos 5 e 3, denominada de Δ𝑇𝐻, e entre os pontos 6 e 2,
denominada de Δ𝑇𝐿, é um dos principais parâmetros para a otimização do projeto.
Geralmente, uma diferença pequena de temperatura irá melhorar a utilização de calor
e eficiência, porém, essa melhoria traz consigo a necessidade de um aumento no
tamanho do trocador de calor.
Como já citado anteriormente, o ciclo EFGT possui a capacidade de trabalhar
tanto em ciclo aberto com o ar como fluido de trabalho, como em ciclo fechado com
ar ou outro fluido que possui melhores propriedades termodinâmicas. Para a última
situação, deve ser acrescentado ao ciclo um resfriador de gás adicional, tendo como
objetivo, reduzir a temperatura do gás antes do mesmo entrar novamente no
compressor. Tendo essa nova configuração, o sistema passa a ser ideal para a
geração combinada de calor e energia, conhecida como CHP.
Alguns fluidos que geralmente são utilizados no ciclo fechado EFGT são: hélio,
nitrogênio e o dióxido de carbono.

3 FONTES DE ENERGIA TÉRMICA UTILIZADAS PARA O CICLO EFGT

As turbinas a gás de queima externa têm a vantagem de utilizar vários tipos de


combustíveis, se feita a comparação com os combustíveis usados pelas turbinas de
queima direta. Além disso, por ser muito flexível, é possível usar uma ampla fonte de
energia térmica, por exemplo, o calor residual de fornos, sistemas de energia solar
concentrada e até mesmo os reatores nucleares.

3.1. COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS PARA EFGT

Com o desenvolvimento da tecnologia EFGT em andamento, algumas


descobertas foram feitas, entre elas está a descoberta de que o contato das cinzas
com as pás das turbinas é inevitável e, apesar das melhorias feitas, as usinas de
10

queima direta apresentam uma baixa confiabilidade e baixa vida útil em comparação
com as usinas de queima externa de ciclo fechado.
No final da década de 1930 se deu início ao uso do ciclo fechado EFGT. Houve
nesse período, a instalação da usina Escher Wyss em Zurique, a usina tinha uma
capacidade de 2,3 MWe. A turbina operava tendo o ar como fluido de trabalho, e a
temperatura na entrada da turbina era de 660°C. Os combustíveis utilizados eram o
carvão pulverizado, o óleo entre outros. Essa usina tinha um ciclo fechado EFGT de
cogeração de energia elétrica e calor, EFGT-CHP, ela fornecia energia elétrica e
térmica para as pequenas indústrias e edifícios de Ravensburg, na Alemanha. A usina
tinha uma alta confiabilidade, sendo a mesma superior a 110.000 horas de operação.
Na década de 1960, mais avanços na área do ciclo fechado EFGT foram
desenvolvidos. Entre esses avanços, uma turbina a gás de queima externa de ciclo
fechado que trabalha a hélio foi desenvolvida nos Estados Unidos, tendo como intuito,
conduzir uma instalação criogênica para liquefação de gás, sem qualquer geração de
energia de saída. Além disso, foram desenvolvidas três usinas de energia de ciclo
fechado EFGT – CHP na Alemanha, trabalhando com ar como fluido de trabalho e
operando principalmente a partir de carvão pulverizado. As usinas forneceram 6,6
MWe e 16 MWth (Coburg), 13,7 MWe e 28 MWth (Oberhausen), 6,4 MWe e 7,6 MWth
(Haus Aden) de energia elétrica e térmica, respectivamente.
No ano 1967, um ciclo EFGT-CHP maior foi desenvolvido para fornecer 12,25
MWe e 29 MWth para a usina siderúrgica em Gelsenkirchen, a planta por sua vez
possuía alimentação por gás de alto forno com óleo combustível adicional,
dependendo da disponibilidade do gás combustível.
Em 1995, um protótipo de EFGT de ciclo fechado foi desenvolvido na Grã-
Bretanha. Esse funcionava com gás natural como combustível, e como fluido de
trabalho, usava nitrogênio com 2% de oxigênio. A planta incluía um HTHE avançado
que elevava a temperatura do gás até 1000 ºC. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos
decorria o programa de combustão 2000 sob o departamento de energia que se deu
início no ano de 1992. O programa tinha o objetivo de utilizar carvão pulverizado para
geração de energia limpa. Dentro dessa ideia, dois sistemas foram propostos, uma
usina a vapor com caldeira de baixa emissão e um ciclo combinado de queima
externa.
11

A tecnologia EFGT está em desvantagem em relação a DFGT (queima direta),


quanto a utilização de combustíveis fósseis líquidos e gasosos limpos, essa
desvantagem se dá tanto economicamente quanto tecnicamente.
Portanto, não se espera que o EFGT venha apresentar concorrência às usinas
de energia DFGT atuais de grande escala que são alimentadas por combustíveis
fósseis. Porém, o grande interesse que o mundo moderno vem despertando por
energia renovável, abre caminhos para que a aplicação dessa tecnologia contribua
para o futuro do mercado de geração de energia, especialmente nas usinas de média
e pequena escalas, devido a flexibilidade de troca de combustível que essa tecnologia
traz, podendo usar tanto combustíveis fósseis como renováveis.

3.2. COMBUSTÍVEIS NUCLEARES PARA EFGT

Primeiramente, é necessário saber que devido à contaminação dos materiais


de fissão, a aplicação de energia nuclear com turbinas a gás é limitada ao ciclo EFGT.
O primeiro e único EFGT nuclear móvel já criado foi desenvolvido no final da década
de 1950, e tinha como objetivo atender os requisitos de energia do exército dos
Estados Unidos. O sistema construído era composto por um reator ML-1 montado em
um reboque de 350 kWe, o sistema utilizava nitrogênio como fluido de entrada e tinha
uma temperatura de entrada na turbina de 650 °C. O projeto foi interrompido no ano
de 1965.
Vários outros projetos foram desenvolvidos ao longo das décadas. Entre os
mais atuais está o projeto ANTARES, esse projeto se baseia em um ciclo combinado
de combustão externa, EFCC, com EFGT como o ciclo topping (o combustível é usado
para produzir potência em primeiro lugar e energia térmica depois) e a turbina a vapor
como o ciclo bottoming (gera primeiro a energia térmica e em seguida utiliza o calor
para gerar energia elétrica.
Tendo como base o conceito de reator de temperatura muito alta, VHTR, e
reator de turbina a gás modular de hélio, GT-MHR, o projeto possuía uma potência
térmica de 600 MWh para a geração de energia elétrica, como também, para a
produção de hidrogênio. No circuito primário era utilizado o hélio a 1000 °C como
refrigerante, já no circuito secundário era utilizado uma mistura de hélio com nitrogênio
a uma temperatura de 950 °C.
12

Se espera que a geração de energia EFGT se torne um grande concorrente da


geração de energia baseada em vapor nas futuras usinas nucleares que possuem
reatores de alta temperatura. Essa concorrência pode se dar pelo fato de que seus
componentes críticos como o trocador de calor de alta temperatura, compressor e
circulação a gás, já foram implementados com sucesso em usinas com reatores de
alta temperatura.

3.3. BIOMASSA COMO COMBUSTÍVEL PARA EFGT

A maior parte do trabalho de pesquisa sobre EFGT, é voltada para os


combustíveis de biomassa ao invés de outras fontes de energia, tendo em vista que,
o EFGT é bem ajustado para o uso de biomassa. No ciclo EFGT a combustão da
biomassa pode ser acontecer de duas formas:

 A biomassa sólida é queimada diretamente no combustor - com isso, será


preciso utilizar um ciclone para remover os particulados que podem causar uma
redução da eficiência no trocador de calor;
 O emprego de gás de síntese que é gerado a partir da gaseificação da
biomassa - dessa forma, o gás será queimado em um combustor comum.

A biomassa apresenta algumas vantagens se comparada a outros tipos de


combustíveis, entre elas estão:

 É uma fonte renovável de energia ao contrário dos combustíveis;


 A emissão de gás CO2 da combustão de biomassa não irá acarretar um efeito
adverso no meio ambiente;
 Não há emissão líquida de CO2, pois o mesmo é consumido pelas plantas que
estão crescendo;
 Disponibilidade em abundância das várias fontes de combustível de biomassa,
disponíveis na forma de agricultura, silvicultura, animais e resíduos urbanos
biodegradáveis.
13

O uso de biomassa como combustível no sistema EFGT-CPH autônomos, é


bastante econômica nas instalações onde se tem biomassa em abundância, de
imediato, sendo a mesma como produto ou subproduto. Isso se dá porque, diferente
do combustível fóssil, a biomassa está disponível de forma rápida e em grande
quantidade nos locais onde esses sistemas são aplicados, e não precisa de um
transporte muito caro.
Na Alemanha, um EFGT-CHP de 2 MWe alimentado por resíduos florestais, foi
usado para fornecer energia elétrica e térmica necessária para as indústrias locais.
Como se trata de uma produção em pequena escala, se faz adequado o uso de
resíduos de biomassa florestal, já no caso de produções em grandes escalas, foi
estudado que é mais viável o uso de resíduos de madeiras de serrarias, utilizando a
energia térmica do próprio EFGT para secar as madeiras.
Uma aplicação que chama bastante atenção são os lagares de azeite, onde os
resíduos de biomassa são usados para a geração de energia térmica e energia elétrica
a partir de um EFGT-CHP de pequena escala, junto a um gaseificador do tipo
downdraft. Esse sistema gera 70 kWe de energia elétrica e 150 kWth de energia
térmica.
Os combustíveis de biomassa que possuem baixo teor de umidade, podem ser
queimados sem uma pré-secagem, porém, o que acontece no dia a dia é que os
resíduos de biomassa chegam úmida. Quando se tem uma pequena quantidade de
resíduo é comum espalhar os resíduos para secar ao sol, porém, em grandes
quantidades isso não se torna eficiente, neste caso, se faz o uso da energia térmica
gerada no EFGT para a pré-secagem desses resíduos.
É esperado para o futuro da geração distribuída, que os sistemas de EFGT-
CHP movidos a biomassa sejam grandes concorrentes com os sistemas de motores
gaseificadores-IC. Apesar deste último, quando operado na mesma faixa de potência
que o sistema EFGT-CHP, apresentar uma viabilidade e confiabilidade mais
econômicas, se tem um grande interesse nos sistemas EFGT e, com isso, uma gama
de estudos vem sendo realizados promovendo ao sistema, mudanças constantes para
se adequar aos padrões de comercialização do mundo atual.
14

3.4. ENERGIA SOLAR CONCENTRADA (CSP) PARA EFGT

Nas últimas décadas a energia solar concentrada vem sendo cuidadosamente


estudada, pois, a mesma é capaz de fornecer uma energia térmica, limpa, ecológica
e renovável, superando outras fontes térmicas renováveis na faixa de temperatura
maiores que 1000 °C. Analisando no campo de vista técnico-econômico, a geração
de energia baseada em Rankine é uma das tecnologias mais atingíveis e com os
menores números de incertezas. Tendo em mente todos esses benefícios, a aplicação
da tecnologia CSP para a geração de vapor é a melhor escolha, com isso já é bastante
comercializada em vários países, já possuindo uma planta instalada na Espanha, a
PS-10.
O EFGT desempenha o mesmo papel que o motor Stirling em um sistema solar
termoelétrico. O calor solar do coletor é concentrado em um trocador de calor de ar
quente e, sozinho ou em conjunto com um combustível de reserva, serve como
entrada de energia para o processo da turbina a gás, como mostrado na Figura 2.

Figura 2: Diagrama de processo simplificado do EFGT com entrada de energia solar (KAUTZ;
HANSEN, 2007).

Para unidades de porte maiores torres solares são mais adequadas, porém
para unidades de porte menores, coletores parabólicos são aptos. Os biocombustíveis
podem ser usados para compensar as deficiências solares e a variação diurna, sendo
assim, o sistema dependerá totalmente de recursos energéticos renováveis.
Uma análise diferente pode ser feita ao utilizar de forma completa a energia
solar no EFGT sem adicionar combustíveis fósseis. Em 1992, foram realizados os
primeiros estudos acerca do ciclo combinado EFGT movido a energia solar. O estudo
15

foi realizado por Fraidenraich et al. Peng et al. E foi estudado que o aumento da
eficiência da usina solar pode ser dada a partir do uso do ciclo combinado com o ciclo
EFGT como ciclo topping e o ciclo Kalina de vapor de amônia como ciclo de bottoming.
Já Kribus analisou que podemos exercer a eficiência do ciclo combinado utilizando o
ciclo triplo com magneto-hidro-dinãmico, MHD, como ciclo superior, o EFGT como
ciclo intermediário e o vapor como ciclo inferior.

4 TURBINA A GÁS

No sistema EFGT, a turbina a gás ou turbomáquina como também é conhecida,


é o principal componente. Turbomáquinas podem ser definidas como máquinas de
fluxo, que podem fornecer ou receber energia do fluido de trabalho. Em outras
palavras, a energia mecânica é transferida ao fluido ou retirada do fluido. As
turbomáquinas são máquinas de fluxo rotativas, onde o fluido de trabalho é
compressível. Máquinas de fluxo possuem uma principal característica para sua
identificação, sendo ela a presença de um rotor composto por palhetas móveis que
são percorridas por um fluido contínuo.
O princípio termodinâmico das turbinas a gás recebe o nome de ciclo Brayton.
As turbinas a gás podem ser classificadas de duas maneiras:

 Turbinas industriais (heavy duty): são projetadas para geração de


eletricidade, são mais robustas, resistentes e usam combustíveis mais
pesados.
 Turbinas aero derivativas: são uma versão estacionária das turbinas
aeronáuticas, alcançam maiores ciclos de vida devido ao que foi solicitado nas
aplicações industriais, obtendo assim um desenvolvimento tecnológico
superior.

Sendo a turbina o componente primário do sistema EFGT, a mesma pode ser


projetada de único ou múltiplos eixos, com gerador de baixa ou alta velocidade.
Podemos classificá-las quanto ao seu tamanho de três maneiras:

 Pequena escala (microescala): as turbinas micro são com componentes de


fluxo radial com potência de saída inferior a 1MWe;
16

 Média escala: geralmente são de tipo fluxo axial aero derivativas ou uma
combinação de arranjo de fluxo radial e axial com potência de saída de menor
que 100MWe;
 Grande escala: também chamada de turbinas industriais, possuem
componentes de fluxo axial com potência de saída superior a 100MWe. A
seguir, serão vistas as principais turbinas de gás usadas com a utilização do
sistema queima externa.

4.1 TURBO COMPRESSOR BASEADO EM EFGT

O turbocompressor possui os principais componentes de uma turbomáquina, a


turbina e o compressor. O turbocompressor vem sendo escolhido devido a ampla faixa
de tamanhos e preços se comparado a outras turbomáquinas.
Porém, como com qualquer equipamento, existem os pontos positivos e os
pontos negativos. Como ponto negativo, o turbocompressor faz uso de óleo no seu
sistema de lubrificação, enquanto outras turbomáquinas utilizam o ar como fluido ou
rolamentos magnéticos. Além disso, os turbocompressores se tornam inutilizáveis
devido às baixas eficiências do compressor e da turbina.
Alguns modelos de sistema EFGT foram analisados, o primeiro modelo se
fundamenta na utilização de dois turbocompressores veiculares, como microturbina a
gás para um sistema de pequena escala de cogeração EFGT. Outro modelo analisado
foi de turbomáquinas marítimas para micro cogeração – EFGT de 250kWe para
produção de energia em um ambiente rural, onde foi verificado que o sistema é
superior aos sistemas de potência a vapor tanto em questões econômicas quanto em
técnicas.
Tarique et al. estudou e comparou três configurações de sistema EFGT
baseadas em turbocompressores, sendo elas:

 Ciclo aberto do turbocompressor de um estágio - parte do ar, após a


turbina, foi devolvido ao combustor e a outra parte foi liberada como potência
térmica de saída, atingiu uma eficiência de produção de energia elétrica de
aproximadamente 18,3%;
 Turbocompressor de dois estágios com intercooler - atingiu uma eficiência
de produção de energia elétrica de aproximadamente 20,1%;
17

 Ciclo fechado do turbocompressor de dois estágios com intercooler e


soprador de ar externo para fornecer ar para o combustor com pré-
aquecedor de ar - atingiu uma eficiência de produção de energia elétrica de
aproximadamente 18,1%;

As três configurações alcançaram uma temperatura de entrada de turbina de


aproximadamente 750ºC.
Usando o Programa Aspem Plus, foi feito um estudo de simulação em EFGT-
CHP baseado em turbocompressor. Dois turbocompressores foram operados
separadamente com Microturbinas a gás de baixa e alta pressão, com resfriamento
intermediário e reaquecimento entre os estágios do compressor e da turbina,
conforme ilustrado na figura 3. Quando os dois turbocompressores estavam operando
sincronizados, foi utilizado uma turbina auxiliar com gerador elétrico, após a turbina
de segundo estágio para geração de energia elétrica. Os resultados da simulação
mostraram que com isso o sistema pode alcançar uma eficiência elétrica por volta de
21% com uma temperatura de entrada na turbina de 750 °C.

Figura 3: Cogeração EFGT de dois eixos baseado em turbocompressor com resfriamento e


reaquecimento (AL-ATTAB; ZAINAL, 2014).

4.2 MICROTURBINA A GÁS BASEADO EM EFGT

Como as microturbinas a gás não conseguem obter potências muito altas,


geralmente são menores que 1MWe, e são utilizadas em pequenas instalações. Como
nos sistemas de queima externa há a produção tanto de potência elétrica quanto de
18

energia térmica, as microturbinas a gás podem ser usadas em hospitais, pequenas


indústrias, alguns hotéis, entre outros locais que demandam uma pequena escala.
Comumente são mais usadas as microturbinas a gás de eixo simples com
geradores de alta velocidade. A seguir, serão apresentados alguns projetos de
microturbinas a gás baseados em EFGT:

1. BM/367/92-BE - Potência elétrica de 500kWe e eficiência elétrica de 20%, é


fundamentado em trocador de calor de alta temperatura, TCAT, com 800°C de
temperatura de entrada da turbina, com turbina de ar húmido;
2. Talbott - É movido a biomassa com potência elétrica de 50 kWe, de eixo
simples com eficiência elétrica de 17%;
3. Projeto de Ansaldo Ricerche - Potência elétrica de 80 kWe de modelo Elliott
TA-80R com trocador de calor de alta temperatura e o recuperador original
desse modelo, que era operado parcialmente de forma externa com auxílio do
combustor original do modelo, com menor temperatura de entrada na turbina
de 700°C;
4. NRCS/Capstone C-30 - Tem uma potência elétrica de 30kWe usando sistema
de cogeração EFGT a partir de biomassa para eletrificação em ambientes
rurais;
5. Exheat Project - Projeto de cogeração com EFGT com uma turbina a gás de
6 kWe de potência elétrica e eficiência de 24%, onde é abastecido por biogás.
A Figura 4 mostra esse sistema.

Figura 4: Projeto Exheat - Cogeração com EFGT (AL-ATTAB; ZAINAL, 2014).


19

4.3 TURBINAS A GÁS DE MÉDIA E GRANDE ESCALA BASEADO EM EFGT

Existem também turbinas a gás com sistema de queima externa que possuem
médios e grandes tamanhos. Neste caso, a potência elétrica da turbina é superior a
1MWe. Existiam na Alemanha 5 usinas que usavam turbinas a gás de queima externa
com potência entre 2 e 17 MWe.
Há ainda alguns motores de aviação de turbinas a gás que foram modificados,
com potência elétricas de 1,8 MWe, 5MWe e 10 Mwe. Esses motores são abastecidos
por biomassa, e são EFGT. Um dos modelos desse tipo de turbina que podemos citar
é a turbina a gás KG 2-3, a turbina possui uma potência elétrica de 2MWe, é de
cogeração e é alimentada por biomassa.

5 SISTEMA DE LUBRIFICAÇÃO DA TURBINA A GÁS

Por causa da confiabilidade e simplicidade que possui, o principal óleo usado


para a lubrificação das turbinas a gás é o óleo pressurizado. Outro método anterior de
suporte do eixo de turbina a gás foram os chamados de mancais a gás, este método
predomina na lubrificação de microturbinas a gás, onde o fluido é utilizado como
refrigerante e lubrificante.
Rolamentos magneto-hidrodinâmicos, MHD, com material lubrificante
condutivo, foram estudados detalhadamente no começo da década de 1960. Porém,
rolamentos magnéticos sem lubrificante condutivo necessário são mais práticos e
mais adequados para o ciclo fechado EFGT-HTR. Em todos os projetos e estudos que
foram feitos acerca dos reatores de alta temperatura modernos baseados em EFGT
de ciclo fechado, o método que predominou de suporte do eixo de turbina a gás foi
baseado em mancais magnéticos.
Isso porque, é oferecido baixo atrito e suporte de vibração para o eixo da turbina
a gás, mesmo quando há velocidades de rotação muito elevadas. E o mais importante
sobre esse método, é que não apresenta riscos de contaminação entre materiais
radioativos e sistema de lubrificação.
20

6 TROCADORES DE CALOR DE ALTA TEMPERATURA (TCAT)

O EFGT tem como uma de suas vantagens a capacidade de operar em ciclo


fechado em níveis de pressão mais elevados. Contudo, o desempenho dessa
tecnologia só pode ser comparado aos DFGT (Dual Fuel Gas Turbine) modernos, se
a temperatura de entrada da turbina puder ser elevada até 1200 -1300 °C com taxas
de pressão semelhantes. É possível fazer uma comparação entre os dois sistemas
mediante outras características, sendo mostrado a seguir.

Sistema EFGT:

 Combustão Atmosférica;
 Pode operar com a maioria dos combustíveis fósseis líquidos e gasosos;
 Pode utilizar combustíveis sólidos sem a necessidade de sistema de limpeza;
 Mais fácil de trocar entre os diferentes tipos de combustíveis;
 Não são necessários equipamentos de injeção e compressão de combustível;
 Menor temperatura de entrada na turbina;

Sistema DFGT

 Combustão pressurizada;
 Pode operar com a maioria dos combustíveis fósseis líquidos e gasosos;
 Necessita de limpeza adicional e sistema de pré-tratamento para operar com
combustíveis sólidos;
 Não pode mudar entre diferentes tipos de combustíveis sem modificações no
sistema;
 Necessita de equipamentos de injeção e compressão de combustível;
 Maior temperatura de entrada na turbina.

Com isso, o verdadeiro problema para o desenvolvimento do EFGT é o projeto


de um trocador de calor de alta temperatura, que possa suportar uma entrada de
temperatura de turbina mais alta quando comparada ao DFGT, com os requisitos para
sua fabricação menos complexos e com menos custos.
21

Os trocadores de calor de alta temperatura, são um componente característico


de uma turbina a gás de queima externa. Quando ocorre dessa turbina possuir uma
baixa eficiência, esse equipamento pode ser um dos principais culpados. Existe uma
relação entre a eficiência da turbina e o trocador de calor de alta temperatura, pois
quanto maior é a temperatura que o trocador consegue suportar no ciclo, maior será
a eficiência da turbina.
O que define qual tipo de trocador de calor será usado em um projeto, são as
cinzas, materiais particulados e alcatrão que vão circular pelo mesmo. Por exemplo,
para um projeto onde haverá uma grande circulação de alcatrão, o trocador de calor
mais indicado é o de casco e tubo, pois suas passagens são mais largas e possuem
limpezas mais simples, e o fluido corre em uma superfície mais lisa de uma forma
mais rápida. A figura 5 mostra um trocador de calor de casco e tubo.

Figura 5: Trocador de calor de casco e tubo (LEME, 2016).

6.1 DIFERENTES DESIGNS DO TROCADOR DE CALOR DE ALTA


TEMPERATURA

Nas primeiras usinas de ciclo EFGT a alimentação era por carvão e, possuíam,
aquecedores de ar idênticos com duas câmaras. Nesse tipo de usina, na primeira
câmara eram encontrados feixes de tubos de radiação, alinhados nas paredes da
câmara com a chama direcionada verticalmente do topo para baixo da câmara. A
segunda câmara, por sua vez, também era vertical e o fluxo de gás quente ficava em
contato direto com os passes dos feixes de tubos de forma cruzada. A figura 6
apresenta um dos projetos das usinas que eram usadas antigamente na Alemanha.
22

Figura 6: Planta de potência EFGT alimentada por carvão antigamente na Alemanha (AL-ATTAB;
ZAINAL, 2014).

Sunden revisou projetos de calor de altas temperaturas e as mais modernas


tecnologias. Com isso, se tem disponível os trocadores de calor de alta temperatura
de placa metálica de um EFGT, com pacotes de microturbinas a gás atuando como
recuperadores de alta eficiência e compacidade. Entretanto, como as passagens
desse tipo de trocador de calor são bastante estreitas, as partículas dos fornos podem
entupi-las. Outro problema encontrado, é devido a espessura das placas serem muito
finas.
Existe o modelo de placas de cerâmica que podem ser utilizadas para superar
a limitação da temperatura. Dando continuidade, com o recuperador do tipo placa de
25 microturbinas a gás, existe a possibilidade do mesmo ser colocado após o trocador
de calor de alta temperatura, possuindo temperaturas mais baixas e contaminação de
cinzas como um pré-aquecedor de ar.
Um trocador de calor de alta temperatura foi desenvolvido nos Estados Unidos
por meio do programa de Combustão 2000 do departamento de energia, e recebeu o
nome de MA754. Ele utilizou um trocador de calor de casco e tubo, em um forno de
carvão que operava com temperaturas na faixa de 950 a 1100 ºC. O aquecimento do
ar feito em dois estágios, acontecia usando transferência de calor por convecção nos
feixes de tubos na saída da fornalha e, em seguida, acontecia a transferência de calor
por radiação. A Figura 7 mostra como era o projeto da fornalha do MA754.
23

Figura 7: Fornalha alimentada por carvão para EFGT do MA754 (AL-ATTAB; ZAINAL, 2014).

Três configurações diferentes para trocadores de calor foram estudadas para


cogeração de turbina a gás de queima externa, sendo elas:

 Trocador de calor metálico com temperatura de saída de 650°C - em


consequência, um queimador de gás natural foi usado para aumentar a
temperatura de entrada da turbina para 1130°C;
 Trocador de calor cerâmico sem queimador de gás natural;
 Utilização de leito fluidizado com os tubos do trocador de calor imersos
no leito - o queimador de gás natural auxiliar também foi utilizado.

A partir desses estudos, foi concluído por Al-attab e Zainal (2014), que por
causa dos custos do trocador de calor de alta temperatura cerâmico, o mesmo tem
um maior período de retorno monetário, bem como, possui um maior nível de riscos
técnicos. O último modelo se mostrou mais econômico para os casos considerados e
simulações com o período de payback, retorno financeiro, para as situações que
demandam as mais baixas faixas de calor nos processos.

6.2 CORROSÃO E INCRUSTAÇÃO NO TCAT (HTHE)

Com o surgimento de corrosão em equipamentos, surgem também os custos


para manutenção, pois o surgimento da corrosão influencia diretamente no
24

funcionamento da máquina, diminuindo a sua eficiência. Para casos em que surgem


incrustações com níveis muito altos, a máquina pode chegar a quebrar.
Os materiais cerâmicos apesar de possuírem uma excelente resistência à
corrosão quando em temperaturas maiores que 1300 °C, apresentam pontos
negativos, sendo alguns deles:

 Alto custo;
 A dificuldade de prover propriedades uniformes do material para comprimentos
estendidos, usando métodos de produção convencionais, diminuindo assim a
confiabilidade do trocador de calor de alta temperatura;
 A dificuldade de prover juntas de vazamento, especialmente a pressões
elevadas;
 A carência de informações em propriedades mecânicas, para comprimentos
estendidos e formas complicadas que não são padronizadas;
 A carência de dados experimentais de longa data sobre o comportamento do
material, para pressões elevadas e temperaturas com gases corrosivos, cinzas
e partículas que se encontram à deriva.

O trocador de calor metálico, por sua vez, possui alguns pontos que podem ser
levados em consideração, entre eles:

 O TCAT metálico promove resistência a tensão para elevadas temperaturas,


com propriedades uniformes até mesmo para comprimentos estendidos;
 Não sofre de problemas de vazamento para pressões elevadas;
 Pode prover melhores propriedades de transferência de calor, com fabricação
mais conveniente e procedimentos de montagem melhores, até mesmo para
geometrias complicadas.

Porém como ponto negativo, o TCAT metálico apresenta uma limitação de


temperatura, bem como, as altas taxas de corrosão que resultam em um tempo de
vida útil menor. Para solucionar o limite de temperatura desse tipo de trocador de
calor, existe uma tecnologia que se baseia em revestir o metal, isso também diminui
25

as taxas de corrosão e, consequentemente, aumenta a duração de vida de uma forma


significativa.
Existem algumas técnicas para melhorar o revestimento, entre elas as mais
modernas são: pulverização de plasma encoberto, pulverização de plasma
atmosférico e pulverização de oxi-combustível de alta velocidade. Como barreira a
isso, temos a separação da camada de revestimento. Há ainda uma tecnologia que
está em pesquisa, conhecida como sendo a tecnologia mais avançada de
revestimento por fusão, a mesma fornece propriedades de revestimento mais estáveis
dos materiais.
O trocador de calor de alta temperatura com combustão em leito fluidizado
apresenta algumas características para serem levadas em consideração:

Vantagem:

 A autolimpeza levando em conta as incrustações, desde que o material do leito


esfregue, friccione todo o material depositado no tubo continuamente durante
a operação;

Desvantagens:

 Outros trocadores de calor de alta temperatura de gás, necessitam evitar


geometrias que sejam complicadas e passagens estreitas, a fim de evitar que
ocorram entupimentos;
 Procedimentos de manutenção têm que ser feitos de forma regular, para
remover material depositado que acumulou, principalmente sais de metais
alcalinos e carbono, de superfícies externas.

Diante de tudo que foi abordado, é possível observar que o trocador de casco
e tubo é mais indicado que o de placa, devido aos problemas de entupimento e
incrustações que podem ocorrer, mesmo o trocador de placa apresentando uma
melhor troca de calor. O trocador de calor do tipo placa, pode melhor ser usado em
casos de trocador de calor de alta temperatura de segundo estágio com gases de
combustão menos contaminados de cinzas.
26

7 A MELHORIA DA EFICIÊNCIA DO CICLO EFGT

Para a maioria dos ciclos simples do motor térmico, o aprimoramento pode ser
feito através do aumento da eficiência do ciclo, da potência do ciclo ou de ambos.
Uma das primeiras e mais eficientes formas de realizar o aumento da eficiência do
ciclo, é mediante o uso da saída térmica do ciclo, porém, essa forma é limitada pela
demanda local de energia térmica. Todos os ciclos EFGT de ciclo fechado citados são
plantas de cogeração, CHP, além disso a maioria da geração distribuída de EFGT são
unidades de CHP. Sendo assim, existem algumas formas de melhorar a eficiência do
ciclo EFGT, essas formas serão apresentadas a seguir.

7.1 RESFRIAMENTO INTERMEDIÁRIO, REGENERAÇÃO E CICLO


COMBINADO

Um dos aprimoramentos comumente usados para o ciclo EFGT é a adição de


um ciclo de fundo de vapor no que é conhecido como ciclo combinado de queima
externa, EFCC. A figura 8 mostra como funciona esse ciclo.

Figura 8: Ciclo combinado simples disparado externamente. (AL-ATTAB; ZAINAL, 2014).

O programa de combustão 2000 nos EUA, tem como objetivo desenvolver uma
usina de 300 MWe EFCC com uma eficiência de ciclo na faixa de 47 a 50%.
Um estudo feito, investigou um EFCC de 1 MW que era alimentado por
biomassa. O gás do produtor da gaseificação da biomassa era utilizado como
combustível e o ar quente do EFGT era utilizado no forno, enquanto os gases de
combustão quentes, após o trocador de calor de alta temperatura, eram introduzidos
em um gerador de vapor de recuperação de calor. Esse estudo mostrou que os dois
27

principais fatores que afetavam a eficiência do ciclo eram a temperatura de entrada


da turbina e a temperatura final fria para o trocador de calor de alta temperatura.
Também foi possível verificar que a razão da pressão afetava apenas o tamanho dos
componentes da planta, e não afetava a eficiência do ciclo.
Foram estudadas diferentes configurações de turbina a gás: ciclo simples, inter
resfriados e regenerativos da seguinte forma:

1. A gaseificação integrada de biomassa com ciclo de turbina a gás diretamente


disparado, BIGGT;
2. O EFGT com cerâmica HTHE;
3. O EFGT com processo de compressão intercooler de dois estágios;
4. O ciclo integrado de gaseificação/turbina a gás intercooled/recuperado,
BIGICR, com processo de compressão intercooler de dois estágios.

A temperatura de entrada da turbina para os ciclos EFGT foi de 1076 °C,


enquanto para os ciclos DFGT foi cerca de 1176 °C. Os resultados obtidos mostraram
que a eficiência térmica aumentou nos processos de intercooling e recuperação,
porém, foi necessário um maior fornecimento de água e maior custo para o processo
de intercooling. O ciclo ICEFGT foi o que obteve maior eficiência térmica. No caso do
ciclo simples, o EFGT apresentou o melhor desempenho.

7.2 CICLO DE TURBINA A GÁS ÚMIDO OU EVAPORATIVO

A turbina de ar umidificado, HAT, é como é conhecida a turbina que possui


adição de água ou vapor ao fluido de trabalho. Esse processo é bastante estudado e
apresentou vários benefícios que variam de acordo com a sua aplicação. Para a
injeção de água, três principais configurações foram implementadas:

1. A água é pulverizada antes do compressor e, também, entre os estágios


do compressor - essa técnica foi desenvolvida para melhorar o desempenho
do compressor, reduzindo a temperatura do ar. O compressor de turbina a gás
foi usado para comprimir o vapor de água, resultando em maior consumo de
energia de compressão.
28

2. A água é injetada após o compressor - no caso da turbina a gás recuperada,


a injeção de água aumenta o fluxo de massa através do recuperador,
aumentando assim, a taxa de recuperação de calor da exaustão da turbina.
3. A água é injetada na câmara de combustão - essa técnica é utilizada para
controlar a temperatura de entrada na turbina e as emissões de NOx, uma vez
que, a água consome mais energia térmica do combustível para evaporação
em comparação com a injeção de vapor.

Na segunda e terceira técnicas, a injeção de água aumenta o fluxo de massa


por meio da turbina, o que resulta em mais potência da turbina com menor consumo
de energia na compressão externa da água.
Mais estudos foram realizados ao longo do tempo, onde um desses estudos
comparou o uso da torre de umidificação de leito empacotado e do umidificador
tubular, o uso do umidificador tubular acarretou ao ciclo um melhor desenvolvimento.
A Hitachi Ltd conduziu estudos de viabilidade baseados em instalações de teste
no Japão, em um projeto avançado de turbina de ar úmido em um sistema de 3 MW,
continuando em um sistema de 40 MW. Houve ainda um estudo de três configurações
diferentes de fundo com o ciclo de cobertura DFGT, sendo elas:

1. EFGT simples;
2. EFGT com injeção de vapor;
3. EFGT evaporativo (este obteve maior eficiência com menor irreversibilidade).

A eficiência do ciclo pode aumentar em até 45% com o uso de intercoolers,


pós-resfriadores, e um sistema de recuperação de calor para recuperação de turbina
e evaporação de água em HAT-EFGT. Esse sistema pode ser visto na figura 9.
29

Figura 9: Sistema HAT-EFGT com intercoolers, pós-resfriadores e unidade de recuperação de calor


(AL-ATTAB; ZAINAL, 2014).

7.3 CICLO HÍBRIDO DE CÉLULA DE COMBUSTÍVEL - TURBINA A GÁS

Nos sistemas híbridos de célula de combustível e turbina a gás, podem ser


usadas como ciclos de cobertura para fornecer a energia térmica necessária para a
turbina a gás, apenas células de combustível de alta temperatura. Como exemplo, a
célula de combustível de carbonato fundido (MCFC) e a célula de combustível de
óxido sólido (SOFC).
Os sistemas híbridos comerciais ainda não estão disponíveis, estudos estão
em desenvolvimento. A universidade de Gênova realizou um estudo onde um sistema
híbrido simulado foi desenvolvido com um Turbec T100 MGT. Foram simuladas as
composições de saída do gás do SOFC e testadas com o MGT com o objetivo de
estudar o desempenho e controle do sistema híbrido.
Foi estudado por Traverso et al. o aspecto de projeto e controle para fluxo radial
MGT-EFGT com SOFC atmosférico e pressurizado. No projeto que usava o SOFC
atmosférico, o trocador de calor de alta temperatura cerâmico foi usado para o EFGT.
Já no projeto de SOFC pressurizado, a célula de combustível substituiu a câmara de
combustão da turbina a gás no modo de operação DFGT. O segundo projeto se
mostrou superior do ponto de vista técnico e econômico.
Um estudo onde o MCFC foi usado como o ciclo de topo e o HAT como o ciclo
de fundo com uma temperatura de entrada da turbina alcançando até 985 °C e
eficiência de ciclo de cerca de 63%. Um estudo mostrou que o sistema híbrido MCFC-
30

Stirling é mais adequado para escalas abaixo de 100 kWe, com eficiência atingindo
até 60%, enquanto o MCFC-EFGT alcança uma maior eficiência, chegando até 65%
e uma maior potência de saída.
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8 REFERÊNCIAS

AL-ATTAB, K.A.; ZAINAL, Z.A.. Externally fired gas turbine technology: A review.
Applied Energy. Penang, p. 474-487. 2014

KAUTZ, Martin; HANSEN, Ulf. The externally fired gas turbine (EFGT-cycle) and
simulation of the key components. 2002. 10f. Institute for Energy – and
Environmental Tecnhology, University of Rostock, Rostock, Germany. 2002.

LEME, Márcio Montagnana Vicente. Estudo Técnico, Econômico e Ambiental da


Utilização de Alternativas Tecnológicas para a Geração de Eletricidade na
Cadeia Produtiva do Carvão Vegetal no Brasil. 2016. 256 f. Tese (Doutorado) -
Curso de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, 2016.
Disponível em:
https://repositorio.unifei.edu.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1068/tese_leme_2
016.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 08 Jun. 2023.

OLIVEIRA, Guilherme Mandelo. Potencial de Geração de Eletricidade


Proveniente dos Gases Efluentes da Produção de Carvão Vegetal em Minas
Gerais. 2021.106 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Mecânica,
Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, 2021. Disponível em:
https://repositorio.unifei.edu.br/jspui/bitstream/123456789/3147/1/Tese_2022001.pdf.
Acesso em: 10 Jun. 2023

PINTO, Paula de Mello Ribeiro. Desenvolvimento de Metodologia de


Manipulação Mapas de Características dos Compressores Axiais: 3. conceitos
fundamentais. 2010. 15 f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia Mecânica, Puc-
Rio, Rio de Janeiro, 2010.

RÚA, O. D. J; VENTURINI, O. J.; ESCOBAR, P. J. C.. Diagnóstico termodinâmico de


um ciclo com turbina de queima externa (EFGT) usando o método termoeconômico
em conjunto com redes neurais artificiais (RNA). In: THE XI LATIN-AMERICAN
CONGRESS ELECTRICITY GENERATION AND TRANSMISSION, 11., 2015, São
José dos Campos. Diagnóstico termodinâmico de um ciclo com turbina de
queima externa (EFGT) usando o método termoeconômico em conjunto com
redes neurais artificiais (RNA). S.I.: Clagtee, 2015

SORDI, Alexandre. Células a Combustível a Gás de Biomassa: Modelagem de


Sistemas e Comparação com Turbinas a Gás. 2007. 182 f. Tese (Doutorado) -
Curso de Engenharia Mecânica, Comissão de Pós-Graduação em Engenharia
Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

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