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INOVAÇÃO EM TROCADORES DE CALOR: HEAT PIPE

Carlos Alberto Corteletti Jr 1


Carolina Comper Abreu2

Resumo
Fontes não renováveis de energia são um fator preocupante numa produção em se
tratando de sua disponibilidade e custos a longo prazo. Visto isso, sistemas tipo “Heat
Pipe” estão sendo visados na recuperação de calor dos gases de exaustão nos
processos de produção de gusa. Este sistema aumenta a eficiência energética global
do sistema, fazendo cair o consumo de combustível. No presente trabalho, será
apresentada tal tecnologia aplicada à indústria siderúrgica, tais como suas vantagens
e inovação em comparação a trocadores de calor tradicionais.

Palavras-chave: Heat pipe. Recuperação de calor. Trocadores de Calor. Eficiência


energética. Alto forno.

Abstract
Non-renewable sources of energy are a worrying factor in production when it comes to
availability and long-term costs. In view of this, “Heat Pipe” type systems are being
used at recovering heat from the exhaust gases in pig iron production processes. This
system increases the overall energy efficiency of the system, reducing fuel
consumption. In the present paper, it will be presented such technology applied to the
steelmaking industry, such as its advantages and innovation in comparison to
traditional heat exchangers.

Keywords: Heat pipe. Heat recovery. Heat exchangers. Energy efficiency. Blast
Furnace.

1 Graduando em Engenharia de Metalúrgica pelo IFES. E-mail: jrcorteletti07@gmail.com


2 Graduanda em Engenharia de Metalúrgica pelo IFES. E-mail: carolinacomper@gmail.com
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Introdução

Trocadores de calor são peças que permitem fluidos de diferentes


temperaturas possam reagir entre si, direta ou indiretamente, para que haja troca de
calor entre eles. Devido aos modos diferentes e desempenho que esse processo
ocorre é possível observar o uso de trocadores de calor em vários setores, como
industriais e domésticos. Podem ser usados para recuperar calor em processos,
condicionamento e aquecimento de ar.

Esses equipamentos podem ser classificados pela configuração do


escoamento e do tipo de construção (INCROPERA, 2007, p. 425), como tubos
concêntricos (paralelos ou em contra-corrente), escoamento paralelo (com e sem
aletas e misturado e não misturados), casco e tubo e compactos. A escolha do tipo de
trocador de calor pode influenciar no desempenho do equipamento.
Este trabalho tem como objetivo o estudo de caso a implementação de sistem a
do tipo “Heat Pipe” (tubos de calor) para pré-aquecimento do ar e de gás através da
recuperação de calor dos gases de exaustão dos regeneradores do alto forno,
permitindo uma maior eficiência energética. Para isso busca-se reduzir a necessidade
de queima de combustível para pré-aquecimento do ar de combustão. A tecnologia
sugerida busca suprir essas necessidades e, ainda, obter vantagens, quando
comparados a métodos tradicionais.

2 Revisão da Literatura

É importante iniciarmos esta etapa trazendo conceitos do que é a revisão de literatura,


pois se trata da parte mais extensa deste trabalho acadêmico. Segundo Gil (2019,
p.10) elaborar uma revisão de literatura implica em realizar um: “[...] debate entre
autores pesquisados e deles com o autor do artigo, com o objetivo de identificar o
estado da arte. Esta discussão baseia-se na bibliografia disponível e atualizada,
especialmente por meio do uso de periódicos científicos [...]”.

Podemos entender a revisão de literatura como aquele momento que o pesquisador


tem a tarefa de buscar conteúdos científicos através de autores especializados na
temática a qual é pretendida a sua pesquisa, para construir uma interpretação dos
assuntos convenientes a sua obra. Podendo ser explicado também como uma
investigação do tema e problema da pesquisa, através da elaboração do levantamento
bibliográfico e fichamento de autores. (BUONO, 2014).
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2.1 Trocador de calor de tubos Concêntricos

Os trocadores de calor de tubos concêntricos apresentam características que


permitem um fluido percorrer caminho no tubo interno e trocar calor com o fluido que
percorre o tubo externo, sem contato entre os fluidos. Dessa forma, existem dois tipos
de trocadores concêntricos, paralelos (a) e contra-corrente (b). Representados na
figura a seguir. Neste os fluidos escoam em sentidos opostos, entrando por
extremidades opostas e saindo por extremidades opostos, naquele os fluidos entram
em saem pela mesma extremidade e percorrem o mesmo sentido.

Figura 1: Trocadores de calor de tubo concêntrico.

Fonte: INCROPERA, (2007, p. 425)

2.2 Trocador de calor com escoamentos cruzados

Diferentemente dos trocadores apresentados anteriormente, esse tipo de


trocador apresenta fluxo com escoamento cruzado. Podem ser misturados ou não
misturados, o que diferencia, principalmente, os tipos é o uso de aletas. A
configuração confere perfis de variação de temperatura diferentes. No tipo “não
misturados” as aletas impedem a movimentação do fluido refrigerante, por exemplo,
no sentido da tubulação como mostrado na figura 2(a) o perfil de temperatura pode
variar em X e Y. Já no tipo misturado (b) não há presença de aletas, garantindo que a
temperatura varie, principalmente na direção da tubulação.
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Figura 2: Trocadores de calor com escoamento cruzado.

Fonte: INCROPERA, (2007, p, 425)

2.3 Trocador de calor casca e tubo

Esse tipo de trocador apresenta uma casca externa com tubos de fluido
passando por dentro dessa casca. Para que o resfriamento ou aquecimento ocorra
um segundo fluido é passado por dentro da casca (entrando em contato com os
tubos).

Figura 3: Trocador de calor casca e tubo.

Fonte: INCROPERA, (2007, p. 426)


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2.4 Trocador de calor Heat Pipe

Nesse tipo de trocador de calor um fluido é recirculado dentro de um circuito


interno. Esse fluido age de forma passiva, recebe calor de um fluido quente e por meio
de evaporação e condensação faz os ciclos e as trocas de calor. Na parte fria do
trocador de calor, um fluido quente é passado pelo sistema aquecendo e evaporando
o líquido circulante que escoa, como vapor, pelas tubulações interna. Na parte fria, o
fluido que se quer esquentar passa pela tubulação trocando calor com o vapor do
fluido circulante e aquecendo-se. O fluido de trabalho então, após perder calor,
condensa e retorna a parte fria do sistema. Recomeçando o ciclo de trocas térmicas.
Na imagem a seguir é possível observar com mais clareza o funcionamento do
trocador de calor do tipo Heat pipe:

Figura 4: Trocador de calor do tipo Heat Pipe.

Fonte: Barros; Patto e Gandra, (2015)

3 Discussões

O trocador de calor do tipo Heat pipe foi escolhido, para aquecimento do ar de


combustão e do gás de alto forno através da recuperação de calor dos gases de
exaustão dos regeneradores, nesse estudo para tentar diminuir o consumo de gás
combustível no processo de produção de gusa devido algumas características e
vantagens.

Os equipamentos desse tipo possuem design compacto, sistema modular de


fácil instalação e manutenção como pode ser visto nas figuras 5, 6 e 7, alta
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confiabilidade, baixa perda de carga, os feixes tubulares apresentam tubos


independentes, mostrado na figura 8, possuem alto grau de vedação e baixíssim o
risco de contaminação entre os fluidos. Ademais, seus sistemas de feixe tubular
podem ser instalados tanto na vertical quanto na horizontal o que garante maior
adaptação para quase todas os projetos de instalação.
Figura 5 Figura 6

Fonte: Barros; Patto e Gandra (2015) Fonte: Barros; Patto e Gandra (2015)

Figura 7 Figura 8

Fonte: Barros; Patto e Gandra (2015) Fonte: Barros; Patto e Gandra (2015)

Esse tipo de sistema aceita vários tipos de fluido de trabalho, o que o faz
atender as necessidades operacionais de vários projetos. Muitas vezes é usada água
purificada, que pode trabalhar na faixa de 400 ºC no lado frio e 280 ºC no lado frio,
valores limites.
Antes da instalação dos trocadores de calor, a planta tinha a seguinte
disposição:
• 1 Alto Forno;
• 4 Regeneradores (Cowpers);
• Gás combustível queimado nos regeneradores: gás misto (GOC + GAF);
• Vazão dos gases de exaustão dos regeneradores: 360.000 Nm³/h;
• Temperatura dos gases de exaustão dos regeneradores: 315 ºC;
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• Taxa de enriquecimento de GOC no GAF para atendimento da demanda


térmica: 13.000 Nm³/h;
• Vazão do ar de combustão: 160.000 Nm³/h.
Com o intuito de cumprir o objetivo proposto, foram feitas as instalações de dois
recuperadores de calor do tipo Heat Pipe.
Figura 9: Esquema representativo dos trocadores já instalados.

Fonte: Barros; Patto e Gandra, (2015)

4 Resultados

Tabela 1: Dados da instalação com implementação dos recuperadores de calor.

Pré-aquecedores

Gás Ar Unidades

Vazão dos gases de exaustão 270.000 176.900 Nm3 /h

Temperatura dos gases de exaustão na


315 315 ºC
entrada do Heat Pipe

Temperatura dos gases de exaustão na


128 128 ºC
saída do Heat Pipe

Vazão do gás combustível 286.550 197.150 Nm3 /h

Temperatura do gás combustível na


35 30 ºC
entrada do Heat Pipe

Temperatura do gás combustível na saída


220 220 ºC
do Heat Pipe
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Performance aproximada 21,2 13,7 MW


Fonte: Barros; Patto e Gandra, (2015)

4.1 Estudo da viabilidade econômica

Segundo os autores, do artigo que esse trabalho tem base, para fazer o estudo
de viabilidade econômica foi levado em conta que a instalação terá vida útil de dez
anos, o custo de capital será de 12% aa, o investimento feito será de R$ 60 milhões e
o custo de gás combustível foi considerado sendo R$ 20,00 /MMBTU. Calculando a
receita, se tem:
−6
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 = 13.000 (𝑁𝑚3/ℎ) 𝑥 4.350 (𝐾𝑐𝑎𝑙/𝑁𝑚3) 𝑥 3,968𝑥10 (𝐵𝑇𝑈) 𝑥 20,00 (𝑅$
/𝑀𝑀𝐵𝑇𝑈)
Seguindo essa receita, o gasto será de:
R% 4.488 /hora
R$ 3.231.22 /mês
R$ 36.835.928 /ano (considerando uma disponibilidade de gás de 95%).
Para determinar o tempo de retorno do investimento feito foi calculado o Valor
Presente Líquido (é um princípio que permite calcular o valor de todas as
parcelas/fluxo de caixa do investimento para data atual) e da Taxa Interna de Retorno
(é um princípio que demonstra o valor recebido de retorno de um investimento inicial).
Valor Presente Líquido:
𝐹𝐶𝑡
𝑉𝑃𝐿 = −𝐼 + ∑𝑛𝑡=1 , Onde:
(1+𝐾) 𝑡

I = investimento;
FC = Fluxo de Caixa;
k = custo de capital;
t = vida útil;
n= vida útil.
Após as contas feitas, temos que o valor presente líquido é de R$ 148.000.000.
Taxa Interna de Retorno:
𝐹𝐶𝑡
𝐼 = ∑𝑛𝑡=1 , Onde:
(1+𝑇𝐼𝑅) 𝑡

n = vida útil;
FC = fluxo de caixa;
TIR = Taxa Interna de Retorno;
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t = vida útil;
I = investimento.
Após os cálculos, temos que o valor da Taxa Interna de Retorno é de 61%.
Com esses dados em mãos foi possível fazer o cálculo do payback (tempo necessário
para que o investimento seja recuperado). Segundo os autores do artigo base, o
tempo de payback é de aproximadamente 1,9 anos.
Foi constatado, pelos autores, que com o pré-aquecimento do ar e dos gases
de combustão a 220 ºC houve um incremento energético no sistema de 34,9 MW. Foi
feito um novo balanço de massa e térmico, e com base nos resultados obtidos foi
possível comprovar que não houve mais necessidade da adição de gás para
enriquecimento de combustível queimado nos regeneradores, utilizando apenas do
gás gerado no alto forno para aquecer os regeneradores. Assim foi possível diminuir
o consumo específico de combustível no processo de produção de gusa e com isso
gerou-se uma disponibilidade de COG (gás de coqueria) para uso dentro da planta,
seja para consumo na produção de aço ou até mesmo na geração de energia elétrica
para uso posterior na planta.
Foi concluído, então, pelos autores, que o sistema de trocador de calor do tipo
Heat Pipe apresenta alta flexibilidade operacional, assim como alta segurança e
confiabilidade. Ainda, concluíram que após algumas análises técnicas é possível
dimensionar e instalar sistemas de recuperadores de calor eficientes com intuito de
conseguir redução de consumo de gás combustível necessário para produzir ferro
gusa e, ainda, obter um ganho energético significativo.

5 Conclusão

Durante o esse trabalho foi possível abordar brevemente alguns tipos de


trocadores de calor e seus esquemas básicos e ter uma breve percepção de como é
o funcionamento deles. No estudo do caso proposto, com avaliação do artigo de
Barros; Patto e Gandra (2015) intitulado “Aumento da eficiência energética com o pré-
aquecimento do ar e do gás através da recuperação do calor dos gases de exaustão
dos regeneradores do alto forno”, foi exposto um modelo de trocadores de calor
diferente dos comuns chamado de Heat Pipe. Foi possível comprovar a importância
do conhecimento sobre os trocadores de calor, pois cada equipamento é melhor
aplicado a uma situação específica. Esse trabalho também serviu ao propósito de
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expor os autores do trabalho, a um universo ainda não explorado. Dessa forma


contribuindo para desenvolvimento dentro da disciplina.

Referência

BARROS, Joaquim L. Monteiro; PATTO, Reinaldo Pereira; GANDRA, Paulo Victor da


Silva. AUMENTO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA COM O PRÉ-AQUECIMENTO DO
AR E DO GÁS ATRAVÉS DA RECUPERAÇÃO DO CALOR DOS GASES DE
EXAUSTÃO DOS REGENERADORES DO ALTO-FORNO. ABM. Rio de Janeiro, RJ,
Brasil. 2015.
BUONO, D. R. Como fazer uma revisão de literatura. Portal educação, Set. 2014.
Disponível em: http://www.abntouvancouver.com.br/2014/09/como-fazer-uma-
revisao-de-literatura.html. Acesso em: 29 Agos. 2020.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 7ªed. Atlas. São
Paulo, SP. 2019.
INCROPERA, F. G, Dewitt, D. P., BERGMAN, T. L. e LAVINE, A. S. FUNDAMENTOS
DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR E MASSA. 6ª ed. Rio de Janeiro, RJ, LTC, 2008.
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PODE ESTAR PERDENDO MUITO DINHEIRO NA SUA LOJA VIRTUAL!. SAGE
BLOG, Brasil. 2018. Disponível em: https://blog.sage.com.br/o-que-e-payback -
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