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POR TERRA E TERRITÓRIO
Joelson Ferreira, Erahsto Felício
Teia dos Povos, 2021

Arte e Capa: Iago Aragão


Consultoria Editorial: Alan Sampaio
Design Editorial: Victoria Oswaldino
José Henrique Fortes Mello
Revisão: Rosângela Tugny e Mariana Cruz Almeida Lima

F439p Ferreira, Joelson


Por terra e território : caminhos da revolução dos
povos no Brasil / Joelson Ferreira, Erahsto Felício; prefá-
cio de TünyCwe Wazahi Tremembé (Rosa Tremembé). –
Arataca (BA): Teia dos Povos, 2021.

178 p.
ISBN 978-65-594-1088-0

1. Terra. 2. Movimentos sociais. 3. Meio ambiente. 4. Re-


volução. 5. Esquerdas. I. Felício, Erahsto. II. Tremembé,
TünyCwe Wazahi (Rosa Tremembé). III. Título.

CDD 333

Catalogação elaborada por Márcio F. O. Vasques – CRB-8/10292

TEIA DOS POVOS


Assentamento Terra Vista, Arataca - Bahia
CEP 45695-000

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Para vó Joana Oliveira Xavier e vó Isabel
Ferreira Souza, em memória.
Para Layla e Madalena.

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Atitude reta do eu para atos corretos do ego

Favor e desfavor geram angústia.


Honras geram dissabores para o ego.
Por que é que favor e desfavor geram dissabores?
Porque quem espera favor paira na incerteza,
Sem saber se o receberá.
Quem recebe favor também paira na incerteza:
Não sabe se o conservará.
Por isto causam dissabor
Tanto o favor como o desfavor.
Por que é que as honras geram dissabor?
Todo dissabor nasce do fato
De alguém ser um ego.
Se eu pudesse libertar-me do ego,
Não haveria mais dissabores.
Por isto:
Quem se mantém liberto de favores e desfavores
Liberta-se da idolatria do ego.
Só pode possuir o Reino
Quem está disposto a servir desinteressado,
A esse se pode confiar o Reino.

Lao-Tsé

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SUMÁRIO

Prefácio 15
Apresentação 21
A Teia dos Povos 29
Sentido de Terra e Território 41
Autonomia, caminhadas e passos 49
Caminhar para a Soberania Hídrica 55
Caminhar para a Soberania Alimentar 61
Caminhar para o Trabalho e a Renda 69
Caminhar para a Soberania Pedagógica 79
Caminhar para a Soberania Energética 91
Caminhar para a Autodefesa 97
A política de cuidado com os nossos 111
A rede e a frente das mulheres 123
Construindo a Aliança Preta, Indígena e Popular 129
Ancestralidade e espiritualidade 147
A luta contra o imperialismo 161
Por fim, romper com a ilusão 173

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PREFÁCIO

Nas caminhadas que fazemos na vida, quem não deseja


que nossos rastros deixem marcas profundas, que por mais
fortes que sejam as tempestades, os ventos, ou o levantar da
areia, sejam pegadas permanentes e não se apaguem? Pois
é assim que queremos carimbar a nossa presença no chão
sagrado, rememorando a nossa ancestralidade, reelaborando
e aprimorando o nosso caminhar.
A jornada é longa e laboriosa, e, para o avanço dos passos,
as estratégias precisam ser planejadas em coletividade,
numa construção que flui e resiste como água se desviando
das pedras, em grande luta em meio aos conflitos sociais,
buscando rumo seguro.
Mesmo em confronto com tantas adversidades, o
individualismo tenta sobrepor-se, expresso por meio da

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ideia de desenvolvimento econômico, com a expansão do
agronegócio, por exemplo, que fortalece o capitalismo e
conflita com os direitos dos povos e Comunidades Tradicionais.
O reconhecimento efetivo dos direitos assegurados pela
Constituição brasileira é banalizado pelas bancadas compostas
por partidos políticos que defendem os interesses dos grandes
empreendimentos rurais. Inclusive, esses que defendem o
poder do capital são os mesmos que promovem iniciativas que
visam desorganizar as conquistas já reconhecidas pelo Estado
brasileiro. Como exemplo, vide a discussão atualmente em
pauta no Supremo Tribunal Federal, que pode definir o futuro
das terras indígenas do Brasil a partir da esdrúxula tese do
“marco temporal”, segundo a qual nenhum povo indígena
teria direito à demarcação de suas terras ancestrais caso não
as tivesse efetivamente em sua posse no dia 5 de outubro de
1988, data de promulgação da nossa Constituição Federal.
Ir contra aquilo que nos é imposto é revolucionário, pois
a subserviência, a mansidão diante das ameaças aos nossos
direitos e a nossa vida, o conformismo e a assimilação cultural
são amarras coloniais que sempre nos quiseram impor ao
longo dos séculos. Quando nos colocamos em oposição
a isso, é subversão e autonomia que estamos praticando. A
Teia dos Povos da Bahia tem se empenhado com afinco na
desconstrução da herança do modelo capitalista, racista e
patriarcal, buscando ainda uma estruturação que favoreça
oportunidades de vivenciarmos soberanias nos territórios,
junto a uma consciência política que firme o nosso bem viver.
Ao receber o convite para prefaciar este livro, de prontidão
aceitei, apesar da surpresa, porque os temas aqui trazidos
permeiam os passos de nossa própria luta na coirmã Teia
dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, a
qual integro. Nossa Teia faz parte da articulação desta nossa

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Grande Aliança Preta, Indígena e Popular, com todo respeito
e reverência a nossa Mãe Terra.
Registrar nossas batalhas em um escrito como este requer
experiência de vida, de luta, organização de ideias, frutífera
interpretação de quem ouve e lê, com o coração e amor
pela partilha. E esse presente nos foi dado por duas pessoas
queridas. Primeiro, Mestre Joelson Ferreira, idealizador da
Teia dos Povos da Bahia, que, em grandes rodas de diálogo com
indígenas, quilombolas, assentados, sem-terra, pesquisadores,
professores, estudantes, vem refletindo, aprofundando e
construindo alianças em direção às mudanças para um viver
mais digno e humano. O livro também traz forte contribuição
de Erahsto Felício, professor da educação básica, historiador,
poeta, militante das lutas nos movimentos sociais e também
articulador da Teia dos Povos da Bahia. Numa conexão de
ideias, os dois propuseram um laço de companheirismo e
nos concederam experimentar do resultado desse olhar mais
apurado que traz o conhecimento de quem vive a luta.
Na minha compreensão, as práticas e vivências aqui
contidas demonstram a grande necessidade de lutarmos por
terra, para que nossos territórios sejam livres e autônomos,
e que nos predisponhamos a esperançar, organizar, agir e
libertar.
No Maranhão, a Teia da qual sou uma tecedora tem servido
como base de proteção coletiva, apoio, reforço aos povos
ameaçados física e simbolicamente e tem agido de forma
unitária para enfrentar uma conjuntura de ataques e mortes,
reunindo diferentes povos e Comunidades Tradicionais para
dizer que não fomos dizimados e que continuamos lutando
pelo direito à territorialidade. Destaco aqui situações de
violações de direitos ocorridas em nosso estado, para dizer
de o quanto é grave a situação e como são inevitáveis as

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batalhas. No dia 30 de abril de 2017, o Povo Akroá Gamella
no município de Viana (MA) sofreu um atentado em luta pela
retomada das terras de seu pertencimento – por pouco não
houve mortes na ocasião. Essa situação mobilizou toda a Teia
em apoio aos Akroá Gamella: quilombolas, indígenas e outras
comunidades tradicionais deram as mãos. Também houve
o caso de Paulo Paulino Guajajara, um dos Guardiões da
Floresta, grupo responsável por fiscalizar e denunciar invasões
na mata na Terra Indígena Arariboia: ele foi assassinado em 1º
de novembro de 2019. Há ainda os dois quilombolas Flaviano
e Umbico, do Quilombo Charco, que perderam suas vidas
lutando pela titulação de sua terra em conflito com grileiros.
O primeiro assassinato ocorreu em 2010, e o segundo, em
2017. Todos esses casos tiveram repercussão nacional, mas,
infelizmente, as violências não param. Apesar das tristes
perdas, há também vitórias, como a conquista do território do
Povo Krenyê em Tumtum (MA): a sentença que determinou a
comemorada aquisição de sua reserva indígena, em 11 de junho
de 2018, é fruto dessa luta conjunta de Povos e Comunidades
Tradicionais da Teia do Maranhão. Sentindo a grande demora
de ter sua terra demarcada pela Fundação Nacional do Índio
(Funai), nós da Teia, indígenas, quilombolas e Comunidades
Tradicionais, nos unimos àquele povo que há muito esperava,
objetivando fortalecer a luta e pressionar para que o processo
de entrega da escritura de sua reserva ocorresse com maior
brevidade.
O Livro “Por terra e território – Caminhos da revolução
dos povos no Brasil” nos permite sentir que o conhecimento
está intrinsecamente associado ao território em que é
vivido, o espaço efetivamente apropriado, considerando
as especificidades de povos e comunidades, respeitando
os modos e saberes de cada um dentro das de suas lógicas
próprias, mas também trazendo para a caminhada aqueles que

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estão em processo de desterritorialização, com o chamado à
luta e à soma de forças.
Para os que buscam uma referência sobre modos de
vida que se baseiam no anticolonialismo, desconstruções
do capitalismo, racismo e patriarcado, este livro provoca
e enseja fazer análises sobre como é possível dar direção
contrária a tantas violações a nossas existências como Povos
e Comunidades. Também nos impulsiona a seguir mais
reflexivos, estratégicos, em luta, de modo que encontremos
luz iluminando a escuridão das negatividades, enaltecendo
nossos valores e saberes, produzindo um claro entendimento
de que, juntos, fica mais fácil chegar aonde queremos e poder
usufruir da abundância de soberanias que vem do amor à Terra
e da paz em nossos espaços de vida pelos quais lutamos. Que
possamos concretizar, vencer e chegar! Esse é o desejo que
nutre a nossa resistência e o nosso caminhar.

TünyCwe Wazahi Tremembé (Rosa Tremembé)


Da articulação da Teia dos Povos e Comunidades
Tradicionais do Maranhão

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APRESENTAÇÃO

O que nos une é maior do que o que nos separa.


Paz entre nós, guerra aos nossos senhores.

Por tantos anos, nós, da Teia dos Povos, encerramos


textos e convocações com as frases acima. Hoje abrimos
este livro, que não é outra coisa que não a convocação à
unidade dos povos em luta no Brasil. Nosso objetivo nestas
páginas é semear a palavra de quem já caminhou muito no
enfrentamento ao latifúndio – o mais longevo inimigo dos
povos deste país – e sistematizou reflexões que podem ajudar
os movimentos, organizações políticas, territórios, povos
e mesmo gente de luta que está desorganizada a avançar na
luta política. Nós o escrevemos tendo em vista as dores e
dificuldades das esquerdas num cenário de agravamento da
crise do capitalismo que tem culminado numa violência racial
e machista desenfreada. Ou seja, estamos olhando para nossos
fracassos enquanto esquerdas no Brasil e tentando propor
saídas.

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É difícil encontrar livros de lideranças de base dos
movimentos e dos povos, gente que está com a mão na terra.
Quase sempre os livros dos movimentos refletem opiniões
de intelectuais que acompanham essas lutas e a interpretam
em diálogo com as lideranças. O que temos aqui é, contudo,
um acúmulo de ideias de Joelson Ferreira, assentado do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no
assentamento Terra Vista, em Arataca (BA). Mestre Joelson,
como carinhosamente o chamamos na Teia dos Povos,
nasceu em 28 de agosto de 1961 em Nova Alegria, distrito de
Itamaraju, filho de José Oliveira Xavier e Maria de Lourdes
Ferreira. Cresceu na zona rural de Guaratinga (BA) e, aos 19
anos, foi para São Paulo, onde esteve envolvido na criação
do PT e da CUT. Foi nesse contexto que teve sua formação
política, nessa rica experiência popular em que operários
urbanos e campesinos retirantes se encontravam. Quando
retornou à Bahia, em 1986, ele prometeu vingar sua avó
Joana, que teve sua terra tomada por fazendeiros e, um ano
depois, conheceu o MST. Em 1988, já estava em sua primeira
ocupação de terra, no município de Itamaraju (BA).
É no MST que Joelson Ferreira se forma como um mestre
na agroecologia e nos saberes tradicionais dos povos. Foi
dirigente estadual e nacional do MST (2004-5), estabeleceu
críticas à condução do movimento e clamou pela unidade
com outros movimentos, povos e territórios. Mas, foi no
Assentamento Terra Vista, onde vive com sua família, que
ele colocou suas ideias em prática, produzindo uma transição
agroecológica que mudou a paisagem, a produção e a renda
em duas décadas de ações concretas pela soberania daquele
povo.
Em 2012, junto com Tupinambá, Pataxó Hã-hã-hãe,
quilombolas e outros movimentos campesinos cria a 1ª

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Jornada de Agroecologia da Bahia e ali os povos fundam a
Teia dos Povos. Essa experiência que começou fincada na
agroecologia, na difusão das sementes crioulas, hoje é uma
articulação de povos, organizações políticas, territórios
e movimentos sociais que congregam sem-terras, sem-
tetos, pescadoras e pescadores, quilombistas de periferia,
quilombolas, povo de fundo e fecho de pasto, extrativistas,
povos originários como Tupinambá, Pataxó, Pataxó Hã-hã-
hãe e Payayá, além de coletivos, grupos de estudo e sujeitos
em luta, embora desterritorializados. Nestes oito anos, a
Teia subiu florestas, recuperou aguados, construiu soberania
alimentar, resguardou irmãs e irmãos perseguidos, assistiu
com solidariedade real movimentos ameaçados e construiu
a grande aliança dos povos. Hoje nós possuímos uma Teia
irmã, chamada Teia dos Povos Tradicionais do Maranhão,
que possui uma profunda conexão com nossos sentimentos
de libertação e nos tem ensinando muito com suas defesas
territoriais e seus “encontrões”. O sonho de construir novas
redes está vivo, e este livro é parte disso.
Assim, este livro é uma síntese do pensamento rebelde de
Joelson Ferreira escrito por Erahsto Felício, um professor da
educação básica e representante da Divisão de Comunicação
da Teia dos Povos. Em certo sentido, estas são palavras de
um discípulo para o pensamento de seu professor. Mas, cada
frase foi lida, revisada, orientada por Joelson em inúmeras
ligações de telefone durante a pandemia de 2020. Como
temos consciência de que todo transcritor, tradutor, intérprete
acaba deixando algo seu no texto, queremos deixar claro que
aqui fizemos algo que aprendemos na caminhada da Teia:
produzimos consensos entre os autores para fazer ação política
do livro avançar.

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E o que se espera encontrar neste livro? Aqui está uma tese
política com um programa de fundo, mas não é o programa da
Teia dos Povos. É uma proposta de Joelson Ferreira ao debate,
porque o texto mescla experiências exitosas e consolidadas
na Teia, como a caminhada pela soberania hídrica e a
soberania alimentar, com anseios ainda não realizados, como
a soberania energética. Este livro é um chamado para avançar
em caminhos que já aprendemos a caminhar e também um
sonho utópico de construção de uma aliança de povos que
alcance todo o território do que chamamos Brasil – algo ainda
distante de nosso horizonte.
Escrevemos este livro pensando em dois destinatários
distintos. Em primeiro lugar, trata-se de uma conversa com
quem já tem entendido a importância de retomar a terra e
está aliado com a Teia dos Povos ou construindo suas redes
próprias para enfrentar o latifúndio. Acreditamos que estas
palavras fortalecerão tuas lutas e darão mais discernimento
sobre passos importantes que por vezes esquecemos. Por
outro lado, estas palavras também estão destinadas às pessoas
de lutas que estão desorganizadas – e este é um texto que
verdadeiramente clama para que se organizem – e para
gente de organizações de esquerda que acreditam que há que
aperfeiçoar mais nosso campo político, que ele sofre uma
crise e precisa de uma vivacidade outrora sentida. Esperamos,
honestamente, que estas palavras fortaleçam suas lutas e nos
colocamos à disposição para ajudar naquilo que pudermos.
Somos companheiros e companheiras!
Os capítulos foram dispostos de tal modo a não nos
retermos em conversas conceituais e esquecermos os
elementos práticos. Os três primeiros capítulos apontam os
fundamentos: sobre o que é a Teia (1º); o sentido que damos a
Terra e Território (2º); nossa noção de autonomia, bem como
nossa forma de ver a luta política e seus arcos temporais (3º).

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Os nove capítulos seguintes possuem natureza prática ao
ponto de sugerir ações concretas na luta política que podem
ser realizadas, que vão desde captação de água de chuva
até a abertura de escolas autônomas. Destes nove capítulos
mais práticos, há três que possuem um conteúdo mais fino e
espiritual, pois abordamos o cuidado com a militância (10º),
o fortalecimento da participação de mulheres (11º) e uma
política de gestão das diferenças na feitura da aliança (12º).
Os últimos capítulos retomam as dimensões mais conceituais
e as dimensões mais complexas de abordar, aquelas que
podem gerar mais dissensos; por isso, não começamos
com eles. Falamos, então, de como vemos e lidamos com a
ancestralidade e a espiritualidade de nossos povos (13º), da
luta contra o imperialismo (14º) e das ilusões que atrapalham
a luta política (15º). Esse último capítulo sobre as ilusões não
é uma conclusão. Acreditamos que só poderemos concluir
esta obra quando obtivermos uma grande vitória contra o
latifúndio, então podemos escrever uma conclusão explicando
como fizemos.
A militância apressada e sedenta pela prática poderá ir para
os capítulos sobre soberania hídrica, alimentar, de trabalho e
renda, pedagógica e energética e encontrar uma reflexão sobre
essas caminhadas com sugestões de ações. Contudo, aqui
há um alerta: uma boa prática é aquela que sabe o rumo da
caminhada, seu sentido político.
O livro é uma obra coletiva, ainda que seja assinado por
poucos. Todo nosso esforço de produzir este texto não seria
possível sem a leitura atenta, correções e críticas de Neto
Onirê (liderança da Brigada Ojeffersson do MST), Mariana
Tum (do Elo do Mercado Sul de Brasília), Rosangela Tugny
(UFSB), Rebeca Vivas (IFBA) e ARKX Brasil (da Divisão
de Comunicação). Um agradecimento especial a Solange
Brito (Assentamento Terra Vista) por nos ter dado força nesta

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tarefa, ter aturado ligações demoradas de telefone e ser sempre
solícita às nossas demandas. Permita-nos agradecer também
a Iago Aragão pelas ilustrações e capa, a Editora Reaja pela
consultoria que tornou possível tronar o projeto de livro em
livro físico, e um conjunto gigantesco de companheiras e
companheiros da Teia dos Povos que financiaram o projeto
e fizeram com que nossa palavra sobre autonomia não fosse
apenas de boca, mas de coração.
Diga ao povo que avance!
Avançaremos!

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A TEIA DOS POVOS

A tarefa de destruir o capitalismo, o racismo e o patriarcado


ainda está por se realizar. Nossa sociedade segue numa
violenta crise capitalista, cada dia mais excluindo os povos
da possibilidade de viver, seja pela superexploração, seja
porque agora atacam ainda mais rios, florestas, serras e mares,
nos tirando a vida em sua forma natureza. Não acreditamos
mais na possibilidade de solucionar o problema dos povos,
combater a miséria, a desigualdade e as violências por meio
das engrenagens do Estado burguês. Vimos as esquerdas
se iludirem com o poder e, em seguida, aliarem-se com os
poderosos, com os inimigos, como o latifúndio. Não tardou
para o povo ser vítima da pretensa esquerda e seus grandes
projetos de aliança com os ricos. Estamos falando de povos
que perderam seus rios por hidroelétricas, por mineradoras,

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por empreendimentos do agronegócio que usaram toda a
água para irrigar seus bolsos. Mas também estamos falando
de povos que estão sofrendo genocídio por arma de fogo nas
periferias. Então, tomar o Estado pela via, pelas regras que
os brancos burgueses criaram não nos interessa.
Também não acreditamos que haverá um pacto democrático
e popular para assegurar direitos fundamentais para a classe
trabalhadora. Esse pacto é uma cilada. Uma conciliação de
classes com os ricos visa calar a boca da revolta. Essa paz é
a harmonia da produção capitalista, não é a paz dos povos.
Essa falsa paz não nos interessa. Como dizemos, quem muito
merenda não janta. Não queremos merendas, migalhas dos
governantes. Onde quer que esse projeto tenha logrado algum
êxito inicial, logo depois foi golpeado pelos seus próprios
aliados de cima com humilhação para as esquerdas. Foi assim
no Paraguai, no Equador, no Brasil e na Bolívia – será assim
no México também. Acreditamos que já basta! Que nosso
caminho, portanto, é por meio da autonomia e da construção
de territórios gerando poder desde baixo, com a tomada de
meios de produção. É sobre essa grande jornada que queremos
falar.
Nossa jornada, nossa grande luta, é contra o racismo,
o capitalismo e o patriarcado. Todos os nossos caminhos,
elencados aqui, são para que triunfemos na derrota da
branquitude colonial, das classes dominantes e da subjugação
das mulheres pelos homens. Para isso, permita-nos explicar
a diferença entre jornada e caminhada. O que chamamos de
jornada é o devir mais amplo, o grande projeto, o objetivo
mais amplo. As caminhadas são as etapas necessárias para
percorrer essa jornada. Há ainda os passos, que são as tarefas
necessárias para lograr êxito em cada caminhada. A jornada
é o esforço de manter em nosso horizonte que tudo que

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fazemos, fazemos para que triunfem os povos e se libertem
das amarras raciais, do capital e do gênero. Então, isso é o
que chamaríamos de “estratégico” anos atrás. Mas falamos
jornada para que as pessoas entendam que, mesmo quando
estamos fazendo um mutirão para dar a manutenção numa
agrofloresta, estamos lutando contra o capitalismo e o faremos
de modo a avançarmos no combate ao racismo e ao machismo.
Então, é isso: não se pode perder a dimensão de que há uma
grande luta, uma revolução que trilhamos num ritmo muito
próprio de nossos povos.
Quando falamos em caminhada, estamos falando em
uma etapa da jornada. Não é possível guerrear sem armas,
como também é impossível viver no chão sem água. Para
que a jornada triunfe, precisaremos construir caminhadas que
estabeleçam as estruturas e os pilares de nossa nova morada,
da grande luta que é a própria jornada. Assim, para que
exista a jornada, precisamos produzir muito alimento, vencer
a fome, pois, no último século, a fome tem sido a condição
de chantagem neste país para que os povos não enfrentem
seus algozes. Desse modo, construir soberania alimentar
é uma caminhada, sem a qual nossa jornada poderá ficar
comprometida; sem a qual todo projeto emancipatório pode
ser assediado pelos poderes para se desmobilizar. Além desta,
existem muitas outras caminhadas para que construamos a
jornada. Acreditamos que, para ter êxito em nossa jornada,
será necessário caminhar fazendo alianças, construindo
soberanias (alimentar, energética, pedagógica…), fomentando
a liderança das mulheres, comunicando etc. Por isso, são
muitas as caminhadas.
Cada caminhada apruma o rumo dentro da jornada, conta
com passos que são as tarefas a cumprir na curta duração,
na pequena temporalidade. Então, vejam, se lhes falamos que

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soberania alimentar rompe com a chantagem da fome e nos
torna mais altivos e fortes na luta contra o capitalismo, há
que se cumprirem alguns passos, como fazer um banco de
sementes, organizar a produção de existência, criar sistemas
agroflorestais, construir reservas de alimento para a luta etc.
São passos dentro da caminhada. É assim que pensamos,
então.
As pessoas de esquerda acham que o grande esforço delas é
para superar o capitalismo, o racismo e o machismo e ficam na
internet e nas reuniões de suas organizações fazendo grandes
discursos – muitas vezes, elas falam para si mesmas. Sempre
haverá alguém dizendo que fulano acha que está lutando,
mas não está; que beltrano militante só está colaborando
com o sistema; que sicrano se acha revolucionário, mas na
verdade é só gogó, é só de boca. Vejam, nós não lutamos
diretamente contra o capitalismo, o racismo ou o machismo
em suas formas abstratas. Da mesma forma, é um erro se
esforçar tanto na jornada, pois ela é muito impalpável, dado
o seu arco longevo. Por isso, não é na jornada que devemos
colocar nossos esforços. Nossos inimigos são muito materiais.
Então, acreditamos que o nosso esforço maior deve estar na
construção das caminhadas (intermediárias), realizando os
passos da luta, as tarefas, no cotidiano. É isso, em outras
palavras, a ideia de ação comunitária que nossos irmãos e
nossas irmãs pretas têm nos ensinado. É ali, na ação concreta
no bairro, na horta comunitária, no trabalho com os irmãos no
cárcere, na escola criada para meninas pretas e meninos pretos
se fortalecerem no enfrentamento ao racismo; é ali que você,
de fato, faz o combate racial.
Sem entender isso, é difícil avançar, pois ficaremos na
radicalidade de boca. Serão horas e horas jogadas ao vento,
porque as palavras são jogadas ao vento se não há ação. É

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isso que colegas marxistas chamam de práxis. Estas palavras
jogadas fora nos atrapalham. Muitas vezes, as pessoas que
se apaixonam por essas palavras se frustram ao conhecer a
(ausência de) prática desses faladores e, com isso, acreditam
que as ideias são ruins, falsas. Então, não queremos radicalidade
de boca, queremos uma radicalidade poderosa, vinda da terra,
com raízes verdadeiras em nossos povos, com disposição para
o combate. E, para isso, não há dúvida, é preciso organização.

***

Organicidade

Observando a experiência histórica dos partidos políticos


do Brasil, a Teia dos Povos viu muitos deles se reivindicarem
como revolucionários e afirmarem que conseguiriam organizar
as classes trabalhadoras e os povos em uma grande luta.
Bom, nenhum partido conseguiu tamanha façanha. Vimos,
pelo contrário, partidos ditos revolucionários, por vezes,
criticarem os movimentos sociais organizados existentes,
não se aproximarem dos povos originários e quilombolas, se
afastarem da realidade dos territórios. Vimos, enfim, esses
partidos não serem capazes de construir boas relações com
os povos.
Os projetos revolucionários desses companheiros trocavam
o real e histórico (os movimentos sociais autênticos dos
povos) por um ideal de unidade que jamais vimos acontecer
nestas terras. Nós entendemos que as organizações, povos e
movimentos sociais não vão baixar suas bandeiras e se submeter
aos ditames de um partido, e nós entendemos as razões.
São muitos anos entre cooptação, traições, violências sutis,
racismo de gente que vestiu as cores das lutas revolucionárias.

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A sabedoria de nossos povos está, portanto, correta em manter
suas bandeiras levantadas, mesmo com a sedução ininterrupta
de uma unidade capaz de vencer nossos inimigos. Contudo,
não podemos ser nós a negar a necessidade de construir uma
unidade. O desafio histórico à nossa frente é muito maior do
que a capacidade de combate atual das organizações políticas
dos povos do Brasil. Apenas a unidade pode nos fazer avançar
e impor importantes derrotas a nossos inimigos.
Por tudo isso, a Teia dos Povos se constituiu como uma
articulação. A unidade que queremos não é a da bandeira,
da identidade política, mas a da ação. Se um povo indígena
desterritorializado retoma seu território ancestral a partir de
uma reivindicação de sobrevivência em meio às violências do
mundo moderno, para nós, eles estão construindo territórios
que podem ser autônomos e capazes de gerar uma vida boa e
digna para si. Então, pensamos que a seu modo eles tomaram
um meio de produção, porque a terra é a vida em si, mas
também é o que se convencionou nas esquerdas chamar de
meio de produção. Não importa aqui se eles seguem ou não
uma tradição da esquerda europeia, nos importa a ação. Da
mesma forma, se uma organização preta organiza o povo da
periferia para fundar um quilombo e se livrar de toda violência,
perseguição e extermínio que o Estado comete contra eles na
cidade, pensamos que estão construindo um território que
tem tudo para ser um espaço de combate ao racismo. Se estão
tomando terra, então estão enfrentando o latifúndio, que é o
nosso inimigo mais antigo por aqui. É na ação concreta que a
unidade surge.
Nós nos organizamos de modo a entender como as decisões
precisam ser tomadas e em que rumo podemos avançar. A Teia
dos Povos é composta, portanto, de territórios organizados,
por organizações políticas e pessoas desterritorializadas. Os

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territórios organizados, chamamos de núcleos de base, e
é deles que deve surgir a diretriz de ação, pois é onde emerge
a organização, a direção de luta. Os coletivos, organizações
e pessoas desterritorizalizadas, chamamos de Elos da
Teia, pois são conectores que se ligam aos Núcleos de Base.
Os Elos não devem pautar a organização da luta, pois antes
precisariam cumprir a tarefa fundamental de se tornarem
territórios organizados, mesmo na cidade. Entendemos,
portanto, que aqueles que organizaram seu território podem
dirigir a luta dos territórios; os demais devem seguir, dialogar
e ajudar nessa tarefa. Isso não quer dizer que pessoas dos
Elos não tenham importância no processo organizacional das
nossas lutas. Os Elos são fundamentais e muitas caminhadas
(táticas) e passos (tarefas) só serão cumpridos graças à sua
participação firme. Porém, aqui riscamos o chão para dizer que
a frente, a liderança, deve ser dos povos que se autogovernam
e não dos intelectuais – estes que estão sempre sedentos
por serem lideranças. De novo: pensamos nós que quem já
organizou seu território é que pode dirigir quem ainda não se
organizou. É do território que emergem as lideranças capazes
de organizar nossos povos.
A cooperação é o fundamento dessa aliança entre territórios
organizados e militância desterritorializada. É a partir dessa
ideia que surge a organicidade da divisão que nada mais
é do que um coletivo composto de gente de núcleos e elos
com uma função específica. Temos, para fins de exemplo, a
divisão de comunicação, que dá passos para difundir nossos
pensamentos, registrar parte de nossas memórias e articular a
luta com povos e movimentos que ainda estão longe de nossa
palavra.
Por fim, a organização precisa ir se descentralizando. Ou
seja, construindo regionais que deem conta das reuniões dos

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territórios que estão mais próximos. Isso porque entendemos
que os conflitos, a rede de apoio, a logística para produção e
outras questões têm sua própria espacialidade. Então, tão logo
se multiplique o número de territórios em uma dada região,
há que se constituir uma regional própria da Teia, de modo a
se organizar e fazer suas reflexões, sempre compartilhando-as
com as demais, alinhavando os principais debates, produzindo
consensos com outras regionais. A produção de consenso deve
ser uma prioridade absoluta, porque queremos andar juntos,
lutar em uma grande aliança. Então, é fundamental ter muita
paciência e cuidado ao tomar decisões em sem consenso, pois
elas podem fazer parar o processo de tecitura de alianças para
a ação.
Aqui, é importante dizer que cada acampamento, assen-
tamento, aldeia, comunidade e organização territorializada
precisa construir suas relações de aliança de modo a ter Elos
da Teia próximos e disponíveis para apoiar as lutas, cumprir
tarefas específicas e fortalecer as lutas pelos territórios. Não há
luta que prescinda de ajuda. Ninguém é tão autossuficiente em
sua luta a ponto de não ter que contar com alianças e militância
que se engaje na sua obra, ainda que não a coordene. Por
isso, é importante trazer para perto coletivos agroecológicos,
organizações de estudantes, professores universitários, grupos
de pesquisa, associações, institutos de pesquisa e coletivos
políticos que possam cumprir tarefas específicas junto aos
povos. É assim que tecemos a teia e ampliamos a nossa
capacidade de ação.
Nós possuímos uma carta de orientação interna que nos
ajuda nessa construção. O pouco que podemos dizer é que
as reuniões são convocadas para definir os rumos em cada
caminhada e para distribuir as tarefas (passos) que cada
comunidade, organização e movimento devem cumprir.

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Para nós, a organização interna de cada movimento, povo,
organização ou território é um debate que compete às pessoas
que ali se organizam. Podemos falar de concepções e práticas
que consideramos virtuosas, porém não queremos, de modo
nenhum, pautar o processo organizativo interno de quem anda
conosco. Há que respeitar as diferenças que são ideológicas,
de tradição de luta e, por vezes, de ancestralidade. Assim, um
terreiro possui uma liderança referendada espiritualmente e
não por uma assembleia. Há comunidades em que a linhagem
ancestral tem mantido um predomínio nas lideranças. Outras
definiram politicamente que o comando é de mulheres. Tem
quem eleja a sua liderança, tem outros lugares onde são os mais
velhos que definem isso. Do mesmo modo, a forma de divisão
das tarefas internas muda de comunidade a comunidade.
Há, contudo, questões que precisamos enfrentar, como o
vício de impor exclusivamente às companheiras as tarefas
domésticas, bem como o excesso de falatório e autoritarismo
dos homens nas reuniões e atividades coletivas, por exemplo.
Essas questões estão enraizadas em nossos territórios e são
como pragas que herdamos do colonizador. Há quem defenda
atacá-las com herbicidas potentes. Nós temos escolhido a
agroecologia e controlamos uma praga com o cuidado da terra
(situação) e o bom consórcio entre plantas (outras práticas).
São essas as ações capazes de ir revitalizando o espaço
outrora infestado. Então, há que transformar radicalmente
essas más condutas, aprumar os homens em seus territórios
e organizações, para que tenham, concretamente, atitudes
mais condizentes com a grande luta contra o patriarcado.
Contudo, também aqui há que ter respeito pelas diferentes
formas e ritmos com que cada povo, território, comunidade e
organização vai produzindo essa revolução.
Vocês precisam entender isso. É muito sério. Há
organizações que já resolveram suas questões raciais porque

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se fundaram no debate racial e estão há muitos anos pautando-
os de dentro para fora. Porém, há outras ainda engatinhando
nessa questão. Da mesma forma, há coletivos feministas que
possuem excelente acúmulo no debate de gênero, mas há
comunidades, Núcleos de Base e organizações onde ainda
impera o machismo. E todos nós temos que superar todas as
violências, mas não a superaremos de uma vez só e nem por
decreto. Como um riacho que se forma junto a uma fonte,
cresce e corre para chegar ao mar, nós não começamos grandes,
profundos e caudalosos como vemos na foz. Nós começamos
pequenos, finos e rasos. Mas ali adiante outro rio (outra luta)
se incorpora ao nosso rio (nossa luta) e nos fortalece, e nossas
águas ficam mais fundas. Depois de muitos afluentes irem
se incorporando à nossa luta, então, na foz, somos um rio
forte, poderoso, que, por vezes, consegue fazer efeito até nas
marés. E nós queremos ser o mar porque o mar é poderoso, é
onde todos os rios (lutas) se encontram. É assim que vamos
ganhando profundidade até sermos mar de luta.
A luta do território pesqueiro nos ensina os respeitos e
reverências com o mar e sua gente. A luta contra o racismo
do terreiro nos ensina os respeitos e reverências aos nkisis,
voduns e orixás. A luta dos povos originários em defesa da
natureza nos ensina que não há divisão entre nós humanos
e o que chamamos de bioma – e para muitos povos entre
nós, a natureza e os seus encantados. E assim por diante.
São pouquíssimas as organizações que nascem prontas para
todos esses aprendizados. Nós teremos que ir aprendendo na
medida em que convivemos e lutamos juntos. Há que ter certa
paciência nessa dimensão de nossa jornada.
Isto significa, por outro lado, que precisamos aprofundar
nossos conhecimentos nas diferenças que existem dentro de
nossa Grande Aliança Preta, Indígena e Popular. A sedução

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da simplificação pode levar muitas pessoas a quererem
colocar a todos nós numa chave interpretativa de classe.
Compreendemos, mas existem razões para não estarmos
falando de classe apenas. Ao longo do século XX, a identidade
de classe carregada pelos partidos de esquerda tentou dar conta
das nossas diferenças criando uma homogeneização enquanto
diziam estar produzindo hegemonia na classe. Ou, em outras
palavras, dizendo que estavam no processo de organização e
inspiração dos povos, mas estavam também tomando-os com
a mesma régua, com a mesma forma, tentando encaixá-los em
um espaço onde eles não cabiam. Assim, muitas organizações
de esquerda puderam ser racistas e desrespeitosas com a
espiritualidade dos povos, por exemplo. Nós, por outro lado,
entendemos que é fundamental ter conhecimento qualitativo
sobre nossas diferenças, pois entendemos que essa grande
aliança é heterogênea e não possui qualquer razão para se
tornar uma identidade monolítica. Nós queremos unidade
na ação, na prática, na construção da superação de nossos
inimigos, não na estética, na forma de nos organizar, de falar,
de vestir.
Aprofundar o conhecimento sobre nossas diferenças ajudará
a nos respeitarmos mais e a agir melhor. Por exemplo, quando
nossas companheiras e companheiros fundamentados no
evangelho conseguem entender a espiritualidade do terreiro e
rompem com os preconceitos construídos historicamente pelo
racismo. De igual forma, quando as matrizes de organicidade
dos povos e organizações vão se tornando compreensíveis
para os demais, isso favorece o aprendizado e o respeito de
todos para com todos. Enfim, a tarefa de construir territórios
livres precisa de gente consciente e que não se sinta seduzida
a dominar seus companheiros e aliados.

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