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The Archives of the Directorate General of Information (DGI) of the Province of Santa Fe and the Intelligence Directorate of the Buenos Aires Provincial Police (DIPBA): a
comparative study of two discourse communities View project
Opposite discursive memories: ethos and antiethos in watchers and watched. View project
All content following this page was uploaded by Maria Vitale on 25 July 2021.
Introdução
1
A DIPBA foi criada em 1956 e dissolvida em 1998, por decisão do Ministério de Segurança e Justiça da
Província de Buenos Aires. O edifício onde funcionou e seu arquivo foram cedidos em 2000 à Comissão
Nacional Provincial pela Memória e em 2003 foi aberto para consulta pública.
(CHIAVARINO, 2014, 2016), mas também às artes do espetáculo (BETTENDORFF,
2015, 2016) e examina –entre outros eixos- a vigilância sobre grupos político9s e/ou
armados (VITALE & BETTENDORF, 2016)2.
Nos mencionados Relatórios de inteligência da Assessoria Literária do
Departamento de Coordenação de Antecedentes da Secretaria de Inteligência do Estado
sobressai um documento breve, “Normas e procedimentos a seguir com publicações
proibidas por decreto do Poder Executivo Nacional”, que, com data de seis de janeiro de
1978, esclarece na margem superior seu caráter “estritamente confidencial e secreto”.
Foi enviado como memorando pelo Chefe da Delegação Capital Federal da Direção
Geral de Inteligência da Polícia da Província de Buenos Aires (DGIPBA) e dirigido ao
Diretor Geral de Informações desse organismo.3 Nesse texto, fruto das “conversas”
(como ele mesmo afirma) entre aquela delegação, o Departamento de Assuntos Policiais
do Ministério do Interior e a Assessoria Letrada da Secretaria de Inteligência do Estado
(SIDE), são sinalizadas as características, as funções específicas e as limitações em
torno da proibição de publicações no âmbito do Terrorismo de Estado exercido durante
a última ditadura militar. Não é necessária uma leitura muito atenta para advertir neste
documento as pistas de um desacordo: o texto instala em um terreno indeterminado,
diante da ausência de normas, o destino tanto das publicações proibidas quanto dos seus
vendedores, editores e escritores, e comenta a formação de uma comissão cuja missão
será “efetuar uma análise a fim de ditar as normas a seguir no futuro”. Do mesmo modo,
as “Normas...” se encarregam de restringir o campo de atuação da Secretaria de
Inteligência do Estado:
4
Seguimos aqui uma concepção restrita da censura, como “essencialmente política” e “exercida pelo
Estado” (DARNTON, 2014, p. 235). A partir de uma perspectiva mais ampla, com a apresentada por
PORTOLÉS (2016, p. 43), “qualquer pessoa ou grupo pode ser censora se atuar como tal, isto é, se
impedir ou tentar impedir que outra pessoa comunique algo ou a alguém por considerá-lo um ato
ameaçador para uma ideologia”.
certos valores, a fim de obter a adesão à tese proposta em torno da obra literária
escrutada.
Tendo como quadro teórico geral as propostas de AMOSSY (2000, 2010) e de
MAINGUENEAU (1999, 2002, 2009, 2010) sobre o éthos, descreveremos a seguir as
diferentes facetas da imagem de si dos censores da SIDE em um corpus conformado
pelos Relatórios de inteligência da Assessoria Literária do Departamento de
Coordenação de Antecedentes da Secretaria de Inteligência do Estado (SIDE),
preservados no Arquivo DIPBA, Mesa Referência, Prontuários 17518 e 17753. Quanto
à metodologia, consideraremos nos documentos analisados, em especial, o plano
genérico-enunciativo (MAINGUENEAU, 2009; KERBRAT-ORECCHIONI, 1997),
incluída a heterogeneidade enunciativa (AUTHIER-REVUZ, 1980, 1984, 1995) e o
plano retórico (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 1989).
5
Para MAINGUENEAU (1999, 2002, 2009, 2010), o éthos mostrado corresponde ao que O. Ducrot
denomina o locutor como tal, o sujeito da enunciação; este é um éthos implícito, uma imagem que surge a
partir de vários indicadores, no texto escrito, verbais, e na oralidade multimodais, porque são tanto
verbais, paraverbais como não verbais. O éthos dito, no entanto, corresponde ao que Ducrot chama o
locutor como , que é o sujeito do enunciado, o locutor como ser o personagem do mundo. Trata-se dos
casos nos quais o locutor se auto representa explicitamente com certas qualidades.
6
MAINGUENEAU (1999, 2002, 2009, 2010) chama éthos pré-discursivo as representações do orador
que domina o público antes mesmo de tomar a palavra e denomina de éthos discursivo a imagem do
orador construída pelo próprio discurso. Amossy sinaliza que a imagem que o orador projeta em seu
discurso faz uso de dados sociais anteriores e da imagem que o público tem dele, para que o éthos
discursivo seja orientado a ratificar, ou, ao contrário, a modificar o éthos pré-discursivo, que prefere
chamar de prévio.
7
MAINGUENEAU (2009) classifica os gêneros como instituídos quando eles têm altamente
convencionalizadas suas condições sócio históricas, especialmente a finalidade, o status dos interventores
legítimos e sua organização textual
Seguindo a perspectiva de AMOSSY (2000, 2010), que nos convida a pensar o
éthos a partir das formas nas quais se manifestam as marcas da subjetividade no
enunciado, os relatórios tendem a apresentar uma ausência de marcas dêiticas, um
apagamento da subjetividade por meio do uso de formas impessoais de falar e de
modalidades que apontam para o categórico e não deixam lugar a dúvidas ou a
possibilidades. Do mesmo modo, o éthos especialista que observamos nos relatórios
está fundamentado sobre a presença de uma “língua de madeira” (AMOSSY &
HERSCHBERG-PIERROT, 2001) própria da comunidade discursiva enfocada na
vigilância político-ideológica, que inclui fórmulas estereotipadas e um léxico
especializado8 com os quais conseguem adequar-se às exigências do gênero quanto ao
âmbito burocrático-administrativo no qual estão inscritos e a comunidade de quem
participou da repressão político-ideológica sobre o campo cultural.
Outro aspecto que deve ser considerado para caracterizar este éthos
especializado consiste na adequação à organização textual rígida apresentada nos
relatórios, a qual se unem uma escrita através de parágrafos breves e precisos e
descrições detalhadas das obras avaliadas para dar forma a uma enunciação categórica e
firme que siga a rotina esperada na cena genérica dos relatórios.9
Estes elementos são encontrados principalmente nos primeis itens destes
documentos: o primeiro, “Apreciação”, inscreve a avaliação em função de quatro
fórmulas (F) cristalizadas que determinam se a publicação em questão “carece” (F1),
“contém algumas referências marxistas” (“com” ou “sem permissão de circulação”, de
acordo com as fórmulas F2 ou F3) ou “propicia a difusão de ideologias, doutrinas ou
sistemas políticos, econômicos ou sociais marxistas tendentes a derrogar os princípios
sustentados pela nossa Constituição Nacional” (F4). Seguem-se itens intitulados
“Atitudes ou expressões de positivas ou de apologia, adesão e/ou afirmação a” e
“Atitudes negativas ou de detração e/ou crítica a”, que são complementados com
8
Entre as seis características próprias de uma comunidade discursiva proposta por Swales (1990), a
quinta se refere precisamente à aquisição de um léxico especializado, que envolve abreviações, acrônimos
e uma terminologia altamente técnica que são específicas a uma comunidade determinada. O uso deste
léxico implica, de acordo com Swales, em uma comunicação efetiva entre especialistas. A partir da nossa
perspectiva, essa terminologia implica, nos relatórios de censura literária, na projeção de uma imagem de
si por parte do censor que sinaliza o profissionalismo, a expertise e a adequação à dimensão burocrático-
administrativa requerida pela situação de comunicação.
9
Maingueneau (2002, 2009, 2010) aprofunda o vínculo entre a construção do éthos e os tipos e os
gêneros discursivos ao propor a noção de cena de enunciação. Esta cena de enunciação é pensada em três
cenas: a) a cena englobante, que integra o texto a um tipo de discurso, no nosso caso, o discurso da
inteligência; b) a cena genérica, que é um contrato ligado a um gênero ou subgênero, aqui, o relatório de
inteligência; c) a cenografia, que é a cena de fala que o texto pressupõe e que deve estar validada pela
própria enunciação, como, veremos no nosso corpus, o ensaio crítico ou a resenha bibliográfica.
sintagmas nominais nos quais o censor se apresenta com um leitor especialista capaz de
extrair das obras, de forma objetiva e precisa, o posicionamento delas em termos
político-ideológico. No relatório sobre o volume de poemas Dar la cara, do escritor
panamenho Manuel Orestes Nieto, entre as “Atitudes ou expressões de positiva...”
encontramos os sintagmas “A luta dos negros”, “A libertação da América Latina e “As
tribos primitivas”, enquanto que as “Atitudes negativas...” estão compostas de
sequências como “A ‘usurpação’ do canal do Panamá”, “A guerra do Vietnã”, “O
imperialismo norte-americano”, “A sociedade capitalista”, entre outras.
O último item apresentado nos relatórios, “Conclusões”, compreende por um
lado uma análise das publicações avaliadas, na qual predomina um uso recorrente de
formas impessoais de falar, entre elas através do pronome “se”, assim como também a
presença de modalidades categóricas através das quais o censor se apresenta seguro em
relação às suas afirmações. Estas marcas são especialmente evidentes nos parágrafos
que finalizam esta seção, que retomam a “Apreciação” do primeiro item, tal como
observamos nos relatórios dedicados aos volumes de contos Barcos de papel, de Álvaro
Yunque e Cuentos, de Francisco Coloane:
10
En atención a que la presente publicación lesiona los valores sustentados por nuestra Constitución
Nacional, se propone la apreciación de referencia, quedando a su vez incluida en las disposiciones de la
Ley 20.840. (Informe sobre Barcos de papel de A. Yunque)
11
Por todo lo mencionado, se considera que el presente libro atenta contra los principios sustentados por
nuestra Constitución Nacional, estando en consecuencia encuadrado en las disposiciones establecidas por
los Artículos 1 y 2 de la Ley 20840, por lo que se propone la calificación expresada en el punto (A).
(Informe sobre Cuentos de F. Coloane)
12
Recordemos que “se” apresenta uma polivalência funcional, que inclui os usos como intransitizador,
impessoal e passivo, entre outros. Entendemos que nos nossos exemplos encabeçados pelo verbo
“propõe-se”, encontramo-nos diante deste último caso, já que supõem a presença de um agente que
aparece implícito. Para o nosso propósito, é importante destacar o caráter despersonalizador deste uso de
“se” acompanhado de um verbo na terceira pessoa. Sobre os usos do pronome “se” e da “passiva com se”
na gramática do espanhol, consulte Di Tullio (2007, p. 178-179) e Manacorda de Rosetti (1984).
neste último parágrafo de afirmações taxativas que apontam ao categórico nos verbos de
ação (“atenta”, “lesa”) cujos agentes são as publicações avaliadas, permite observar as
características próprias de um éthos seguro que projeta uma corporalidade firme e
determinada, sem indícios de dúvida ou possibilidade de erro nas apreciações
fornecidas.
Nas citações se destacam, no entanto, a dêixis pessoal de primeira pessoa do
plural em “nossa Constituição nacional”, marca de subjetividade que inclui o
enunciador em um coletivo maior, “nós, os argentinos”,13 que legitima a prática da
censura como uma defesa da Constituição diante das obras literárias que atentariam
contra ela14.
15
Lembremos a função que Perelman & Olbrechts-Tyteca (1989, p. 737-738) outorgam à figura retórica
da permissio ou concessão: “A concepção se opõe, principalmente, aos perigos que permitem o excesso;
expressa o fato de que está reservada uma acolhida favorável alguns argumentos do adversário ou
pretensamente próprios. Limitando as pretensões, abandonando certas teses, renunciando diferentes
argumentos, o orador pode fortalecer sua postura, fazer com que seja mais fácil de defender e, ao mesmo
tempo, dar provas, no debate, de jogo limpo e de objetividade”.
16
“Las raíces de la ira” incluye 22 narraciones cortas, sobre hechos, escenarios, personajes, situaciones
que transcurren en un pueblo costero “Puerto Ventura”, imaginario lugar que podríamos ubicar en
cualquier país americano. Los cuentos aquí reunidos, fuera del valor literario que pudieran contener,
muestran a su autor como poseedor de un estilo muy personal, conciso y sumamente rico en la utilización
de metáforas. (Informe sobre Las raíces de la ira)
17
La presente publicación incluye quince cuentos escritos por Elsa Bornemann, destinados al público
infantil. Todos ellos son narraciones breves, ágiles, donde se mezcla el humor, la acción, la fantasía.
(Informe sobre Un elefante ocupa mucho espacio de Elsa Bornemann)
Como vemos, estes parágrafos apresentam diferentes adjetivos avaliativos
axiológicos positivos que classificam tanto as obras literárias quanto a poética oferecida
pelos autores: eles marcam a presença da subjetividade do censor na elaboração dos
relatórios, nos que inscreve seus valores sob a figura de um leitor capaz de julgar
esteticamente as obras literárias. Trata-se de uma terminologia própria da cenografia
que o segmento “Conclusões” possibilita, mais próxima do ensaio crítico ou da resenha
bibliográfica e distante do caráter estritamente burocrático-administrativo que tínhamos
observado em outros fragmentos da configuração textual.
A corporalidade que os censores projetam através destes lexemas valorativos
positivos é a que corresponde ao repouso e ao prazer da leitura das obras literárias, de
quem é capaz de valorizá-las e apreciá-las em sua dimensão estética. Por sua parte, em
combinação com a imagem de si especializada, segura e objetiva de acordo com o
caráter burocrático-administrativo dos relatórios, este éthos vinculado com a figura do
crítico literário outorga ao censor a imagem da concórdia, ao mesmo tempo em que
contribui para apresentar suas avaliações no terreno político-ideológico – contrárias nos
exemplos observados para a permissão de circulação das publicações – como suscitadas
no âmbito de uma leitura cômoda e prazerosa, alheia a uma predisposição negativa em
relação a elas.
18
O concepto de éthos da competência é desenvolvido por Charaudeau (2005) no âmbito da análise do
discurso político. Baseado na possessão do saber e do saber fazer, este éthos (junto com o da seriedade e o
da virtude) confluem de acordo com este autor no que ele chama de um éthos da credibilidade, que
“consiste para o sujeito falante em determinar uma posição de verdade, de modo que possa ser levado a
sério” (CHARAUDEAU, 2005, p. 147). Da nossa perspectiva, a extrapolação deste conceito da análise do
discurso político em direção ao estudo de relatórios de inteligência dedicados à censura literária é útil
para compreender a construção por parte dos censores de uma imagem de sujeito crível na sua avaliação
político-ideológico das obras literárias, possível entre outras estratégias graças à projeção no seu discurso
de uma competência fundada sobre saberes e competências nos campos cultural e político.
posicionamento característico da figura do crítico literário, cujos saberes estão presentes
graças à cenografia por ela convocada.
Esta dimensão do éthos consiste na projeção de uma imagem de si que se
corresponde com um sujeito formado cultural e politicamente, cujos saberes o habilitam
a apresentar-se como leitor capaz de interpretar e ler nas entrelinhas os conteúdos
ideológicos que os textos literários estariam dissimulando ou escondendo, que é capaz
de discernir na sua leitura atenta e em função de seus conhecimentos os aspectos
perniciosos das obras sem ser arrastado por eles, imune frente àqueles elementos que, ao
contrário, sim afetam ao leitor comum, do qual procura distanciar-se e a quem, ao
mesmo tempo, propõe proteger. A construção de si mesmo como sujeito possuidor do
saber está presente nos relatórios sobre todo tipo de textos literários, e em certos casos
habilita um deslocamento para o terreno pedagógico e formativo.
Estreitamente vinculada com a cenografia própria da crítica literária que temos
observado, os censores exibem um saber acerca do campo literário que abarca tanto uma
competência em torno dos autores das obras que são avaliadas (suas biografias, seus
antecedentes, o lugar que ocupam no interior do sistema literário em seus respectivos
países, etc.), como também sobre gêneros e estilos que permitem realizar analogias que
contribuem para as suas avaliações. De fato, estes saberes que os censores introduzem
nos seus relatórios cumprem uma dupla função, já que atendem a estratégias retórico-
argumentativas como a analogia ou a inclusão da parte do todo, como também para
projetar uma imagem de si mesmo como leitor habitual, um éthos da competência
através de marcas que indicam uma certa formação no campo cultural e literário.
No relatório sobre a coleção de obras de Alexandr Grin intitulada Mundo
espléndido, o censor não apenas se apresenta como um conhecedor da literatura
soviética, como também se permite exibir seus saberes em torno da biografia e do estilo
do autor, do gênero da literatura de aventuras e do gênero cinematográfico do western,
que o habilitam a fazer analogias e caracterizações:
Estes contos são semelhantes a Jack London e Bret Gart (sic)19 e, algumas
vezes, também, aos filmes de far-west, com a inevitável luta dos honestos
contra os sem-vergonhas, mas, têm seu inconfundível estilo próprio, já que
Alexandr Grin era marinheiro profissional e aproveitava para a sua obra
literária suas próprias experiências de viagens pelo mundo, principalmente
pelos mares do sul.
19
O censor se refere aqui a Bret Harte (1836-1902), escritor norte-americano de romances de aventuras
na segunda metade do século XIX.
Em conclusão, as obras literárias de Grin constituem um fenômeno
excepcional na literatura soviética, sendo completamente alheios à
problemática política e social do seu país, apesar de ter alcançado o autor sua
maturidade nos anos de poder soviético, já que morreu em 1932. (Relatório
sobre Mundo espléndido de Alexandr Grin)20
Em alguns relatórios, em especial naqueles que propõem uma avaliação
“positiva” das publicações, os saberes sobre o campo literário projetados pelo censor
adquirem um caráter enciclopédico e servem para a qualificação formulada e costumam
ocupar quase a totalidade do segmento “Conclusões”:
20
Estos cuentos se asemejan a Jack London y Bret Gart (sic) y, algunas veces, también, a las películas del
far-west, con la inevitable lucha de los honestos contra los sinvergüenzas, pero, tienen su inconfundible
estilo propio, ya que Alexandr Grin era marinero profesional y aprovechaba para su obra literaria sus
propias experiencias de viajes por el mundo, sobre todo por los mares del sur.
En conclusión, las obras literarias de Grin constituyen un fenómeno excepcional en la literatura soviética,
siendo completamente ajenos a la problemática política y social de su país, a pesar de haber alcanzado el
autor su madurez en los años de poder soviético, ya que murió en 1932. (Informe sobre Mundo espléndido
de Alexandr Grin)
21
Una de las novelas del escritor y comediógrafo ruso de los mediados del siglo diecinueve, N. Gogol
(1809-1852), satírico de la sociedad rusa de su época, mundialmente conocido por su novela “El
inspector”. (Informe sobre Tomo III “Novelas” de Colección de obras en seis tomos de N. Gogol)
22
Esto es una de las novelas policiales del escritor inglés Conan Doyle, el más famoso representante del
género policial en la literatura, con su personaje del detective genial Sherlock Holmes. (Informe sobre
Colección de obras en ocho tomos, tomo VIII, “El descubrimiento de Raflz Joy”, de A. Conan Doyle)
acontecimentos no campo político e ideológico. A exposição destes saberes habilita as
avaliações sobre as obras literárias analisadas nos relatórios, ao incluí-las nos contextos
específicos ou no interior de um determinado sistema de pensamento. No relatório
dedicado à peça de teatro Pequeños animales abatidos, do escritor chileno Alejandro
Sieveking, o censor oferece seus saberes sobre o governo de Salvador Allende, que
conferem credibilidade às suas interpretações sobre os personagens e as situações da
obra em função desse contexto histórico e social, que de acordo com ele “não surgem da
simples leitura do texto”:
23
A través del desarrollo argumental existen alusiones al proceso chileno durante el gobierno de Allende,
la confianza en la victoria en la Unidad Popular, la incidencia negativa de la “derecha económica”. Todos
los elementos mencionados, contribuyentes a evidenciar el trasfondo ideológico marxista que se da en la
obra, se ven acentuados por la inclusión en la contratapa del libro, de un comentario relativo al momento
clima y significación de la trama.
Se brinda en este una interpretación desde una óptica marxista, directamente destinada a condicionar la
actitud del lector común asignando caracteres especiales a los personajes o situaciones (ejemplo textual)
que no surgen de la simple lectura del texto. (Informe sobre Pequeños animales abatidos de Alejandro
Sieveking)
seja utilizada como leitura recomendada nos colégios. (Relatório sobre
Barcos de papel, de Álvaro Yunque)24
Vemos aqui que os censores assumiram para a sua avaliação uma imagem de si
fundada em um compromisso e um conhecimento em relação à formação dos jovens.
Ao apresentar a si mesmo como conhecedor da “correta formação do indivíduo”, o
censor se mostra capaz de conceber aquilo que é oposto, que atenta contra eles, mesmo
quando suas mensagens e intenções se encontram encobertas.
24
Si bien la obra no expresa un desembozado planteo marxista, es claro el mensaje encubierto –que no es
captable por el joven lector-, que crea las bases como para que el niño vaya “tomando conciencia” de la
“falsedad de nuestro sistema de vida”.
Por ser el público infantil el destinatario de esta obra y en tanto la misma no contribuye a la correcta
formación del individuo, a la vez que favorece a la posterior implantación ideológica marxista, se
aconseja que no sea utilizada como lectura recomendada en los colegios. (Informe sobre Barcos de papel
de Álvaro Yunque)
promove uma união entre Estado e Igreja sob a forma de um Estado católico, como
também uma atribuição ao “ser argentino” de um caráter cristão, componentes que no
âmbito da última ditadura foram insistentemente formulados sob o sintagma “ocidental
e cristão”:
25
La insistencia de la prensa escrita de 1976 en el sintagma “occidental y cristiano” dio cuenta de la
alianza interdiscursiva que entablaron con un discurso militar que retomó como estrategia de legitimación
de la toma del poder el mito de la nación católica, que en 1976 sirvió, también, para legitimar las
prácticas represivas encuadradas en el terrorismo de Estado. En efecto, el Acta que fija los propósitos y
los objetivos básicos para el Proceso de Reorganización Nacional en dos objetivos básicos: “2) Vigencia
de los valores de la moral cristiana, de la tradición nacional y de la dignidad del ser argentino” y “9)
Ubicación internacional en el mundo occidental y cristiano […]” se identifica con claridad dicho mito.
(VITALE, 2015, p. 152)
exploradores-explorados), ataca a religião católica, deixando a mensagem de
que os princípios sustentados pela nossa concepção religiosa de caridade,
amor ao próximo, justiça, generosidade, são deixados de lado tanto pelos
ministros de Deus na terra, quanto pelos seus seguidores, em especial aqueles
que possuem maiores recursos econômicos. (Relatório de Barcos de papel, de
Álvaro Yunque)26
A identificação dos censores com os valores preconizados pelo regime militar
ocorre aqui através da construção de um “nós” que oferece a formulação de alguns
componentes próprios do mito da nação católica, que contribuem para legitimar a
avaliação da obra literária oposta a esses valores compartilhados. A partir da tríade
“família, educação, religião”, que constituem “nossos valores fundamentais”, o relatório
constrói sua argumentação apresentando de forma separada cada um deles, de modo que
enquanto a família é “um dos pilares básicos da nossa sociedade”, a religião expressa
“nossa concepção religiosa de caridade, amor ao próximo, justiça, generosidade”.
Através dessa construção do “nós”, o censor investe em si mesmo esses valores cristãos
no âmbito de uma comunidade que integra, ao mesmo tempo, o seu público e a nação
argentina em seu conjunto.
Outro modo de criar uma imagem de si por parte dos censores baseada no
compromisso com o discurso oficial militar é detectado na presença de palavras e
sintagmas entre aspas, que – de acordo com AUTHIER-REVUZ (1980, 1984, 1995)-
constituem uma manifestação da heterogeneidade mostrada marcada.27 De fato, as aspas
26
La publicación “Barcos de papel” cuyo autor es Arístides Gandolfi Herrero (Álvaro Yunque) –
conocido militante del P.C. –, presenta una serie de cuentos cortos destinados al público infantil. Todos
ellos son altamente conflictivos, en tanto cuestionan nuestros valores fundamentales: familia, educación,
religión.
Se plantea en los cuentos, consecuente con la concepción marxista del autor la contradicción padres-hijos,
ricos-pobres, maestros-alumnos.
Todos los cuentos relatan hechos que ocurren entre gente de clase baja, donde se muestra la
desorganización familiar producida generalmente por padres alcohólicos y “dominantes”, que castigan y
vejan a sus hijos; a los que presenta siempre como humildes y sacrificados al igual que la figura materna,
siempre abnegada y sumisa. Se crea a través de estas imágenes una distorsión de los educandos en lo que
hace a uno de los pilares básicos de nuestra sociedad. […]
En el último de los cuentos titulado “El árbol de navidad” además de dejar claramente planteada la
antinomia ricos-pobres, (que a otro nivel sería explotadores-explotados), ataca la religión católica,
dejando el mensaje de que los principios sustentados por nuestra concepción religiosa de caridad, amor al
prójimo, justicia, generosidad, son dejados de lado tanto por los ministros de Dios en la tierra, como por
la grey, en especial aquellos que poseen mayores recursos económicos. (Informe sobre Barcos de papel
de Álvaro Yunque)
27
Authier-Revuz (1980, 1984, 1995) diferencia la heterogeneidad constitutiva de la heterogeneidad
mostrada. La primera se refiere al hecho de que en todo discurso hay siempre un Otro –presencia
permanente indicada/reconocida implícitamente-, que lo determina desde fuera del sujeto, que es más
hablado que hablante. La heterogeneidad mostrada, en cambio, es la inscripción del otro en el hilo del
discurso, mediante lo cual el sujeto hablante señala que una parte de su discurso no le pertenece. La
hipótesis de Authier-Revuz es que la heterogeneidad mostrada es un modo de negociación –obligado- con
la heterogeneidad constitutiva, que es necesario desconocer para poder enunciar un discurso. En efecto, al
delimitar y circunscribir la palabra del otro en el discurso, el sujeto presenta imaginariamente que el resto
expressam a distância em atitude de ataque de palavras usadas nas obras literárias
avaliadas e que conotam um universo ideológico inimigo. Como ilustração, observamos
estas aspas nos seguintes fragmentos: “detrata ao sistema ‘opressor imperialista norte-
americano’” (Relatório sobre Conversación con el último norteamericano, de Enrique
Cirules); “o autor, além de criticar duramente a política norte-americana e o
‘imperialismo conquistador e colonizador’”; “Faz uma defesa da guerra civil espanhola
contra o ‘verdugo’ Franco” (Relatório sobre Mi Hermano, Yuri de Valentin Gagarin).
Em todos esses casos, encontramos que a atitude de ataque em relação ao
discurso alheio está centrada em uma distância para lexemas ou sintagmas (muitos deles
cristalizados) próprios de posicionamentos comunistas ou latino-americanos, contra os
quais o enunciador se enfrenta. De fato, o censor manifesta de modo implícito através
dessa distância sua imagem de sujeito comprometido com a luta contra o comunismo e
os ideais latino-americanistas e anti norte-americanas, que contribui também para
reforçar sua identificação com os valores e doutrinas propiciados pelo regime ditatorial.
Considerações finais
Referências
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Ces mots qui ne vont pas de soi: Boucles réflexives
et non-coïncidences du dire. Paris: Larousse, 1995.
29
Basta sinalizar que no Brasil, em 2016, o deputado Jair Bolsonaro dedicou seu voto favorável ao
impeachment contra Dilma Rousseff à memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um torturador
durante o período ditatorial, e que na Argentina, em 2017, o Diretor Geral da Alfândega, Juan José
Gómez Centurión, no programa “Debo decir”, do canal América TV, negou que durante a última ditadura
houvesse um plano sistemático de desaparição de pessoas.
BETTENDORFF, Paulina. Ethos, tópicos y memoria discursiva en informes de la
DIPBA a funciones de cine. Estudios del discurso, México DF, n. 1, v. 2, p. 70-90,
2016.
FUNES, Patricia. Ingenieros del alma. Los informes sobre canción popular, ensayo y
Ciencias Sociales de los Servicios de Inteligencia de la dictadura militar argentina sobre
América Latina. Varia historia, v. 23, n. 38, p. 418-437, 2007b.
SWALES, John. Genre Analysis: English in Academic and Research Settings. Boston:
Cambridge UP, 1990.