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ENSAIO | ESSAY 137

Relações sociais de sexo/gênero, trabalho e


saúde: contribuições de Helena Hirata
Social relations of sex/gender, work and health: contribution of
Helena Hirata

Simone Santos Oliveira1, Mary Yale Neves2, Jussara Brito1, Lúcia Rotenberg3

DOI: 10.1590/0103-11042021E111

RESUMO O artigo visou refletir acerca da produção intelectual da pesquisadora Helena Hirata como
importante referência para o campo da saúde coletiva, em especial para a compreensão das relações entre
o trabalhar e as dinâmicas que envolvem a saúde. Recorreram-se às suas publicações teórico-acadêmicas
e entrevistas concedidas a revistas especializadas, cuja análise foi aprofundada por meio de uma conversa
virtual com a pesquisadora. Com suas pesquisas comparativas no Brasil, na França e no Japão, Hirata
apresenta as diversidades e semelhanças dos mundos do trabalho, dos processos de globalização e seus
efeitos, fortalecendo a discussão sobre a ampliação do conceito de trabalho – para além do trabalho
assalariado – e sua centralidade. Seus estudos enriquecem o debate sobre a indissociabilidade entre as
relações sociais de sexo/gênero e a divisão sexual do trabalho. A imbricação e a interdependência do
conjunto das relações sociais figurarão de forma exemplar em suas análises acerca do trabalho de cuidado,
possibilitando a condensação de ideias e conceitos. Dessa forma, a produção intelectual de Hirata, ao
afirmar a transversalidade das relações sociais de sexo/gênero, subsidia reflexões sobre a determinação
do processo saúde-doença, contribuindo decisivamente para os estudos da relação saúde e trabalho.

PALAVRAS-CHAVE Feminismo. Saúde. Trabalho. Saúde do trabalhador.

ABSTRACT The article aims to reflect on the intellectual production of researcher Helena Hirata, as an
important reference for the field of collective health, especially for understanding the relationships between
work and the dynamics that involve health. Her theoretical-academic publications and interviews with spe-
cialized journals were used, whose analysis was deepened through a virtual conversation with the researcher.
1 Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Escola Nacional
With her comparative research in Brazil, France, and Japan, Hirata presents the diversities and similarities
de Saúde Pública Sergio of the worlds of work, the processes of globalization and their effects, strengthening the discussion about the
Arouca (Ensp), Centro expansion of the concept of work – beyond wage labor – and its centrality. Her studies enrich the debate on
de Estudos da Saúde do
Trabalhador e Ecologia
the inseparability between the social relations of sex/gender and the sexual division of labor. The imbrication
Humana (Cesth) – Rio de and interdependence of the set of social relations will appear in an exemplary way in her analysis of care
Janeiro (RJ), Brasil work, enabling the condensation of ideas and concepts. In this way, Hirata’s intellectual production, when
sssoliver@gmail.com
affirming the transversality of the social relations of sex / gender, subsidizes reflections on the determination
2 Universidade Federal of the health-disease process, contributing decisively to the studies of the health-work relationship.
Fluminense (UFF), Instituto
de Psicologia – Niterói (RJ),
Brasil. KEYWORDS Feminism. Health. Work. Worker’s health.
3 Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), Instituto
Oswaldo Cruz (IOC),
Laboratório de Educação
em Ambiente e Saúde – Rio
de Janeiro (RJ), Brasil

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 45, N. ESPECIAL 1, P. 137-153, OUT 2021
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Introdução um terreno propício para que a temática de


gênero seja mais bem apropriada nas pesquisas
Em um incomum tríplice arranjo, como um e intervenções pertinentes à saúde coletiva, em
ikebana (arranjo de flores japonês), Helena particular aquelas desenvolvidas no campo da
Hirata conjuga técnica/disciplina, equilíbrio/ saúde do trabalhador, assim como em outras
harmonia e sensibilidade/cuidado, confor- áreas afins.
mando uma robusta e delicada trajetória Nesse sentido, efetuamos uma análise que
acadêmica. O presente artigo visa contribuir apreende a interface ‘saúde e trabalho’ de
com a reflexão acerca da fecundidade de sua modo complexo, exigindo uma abordagem
produção intelectual para a construção de interdisciplinar1. Ou seja, trata-se de um
perspectivas de análise das relações entre recorte permeado pela ‘lente’ desse universo
o trabalhar e as dinâmicas que envolvem a de atuação e por experiências de pesquisas
saúde, à medida que incorporam a questão prévias por nós desenvolvidas, nas quais busca-
das relações sociais de sexo/gênero. mos incorporar a dimensão das relações sociais
Tal proposição decorre da importância de sexo/gênero teórica e metodologicamente.
de contribuições teóricas da autora, diretora Assim, após apresentar dados acerca da bio-
de pesquisa emérita do Centro Nacional de grafia e dos focos investigativos de Hirata, nos
Pesquisa Científica (CNRS) e pesquisadora debruçaremos sobre determinadas questões
colaboradora do Departamento de Sociologia presentes em sua obra, especialmente rele-
da Universidade de São Paulo (USP), cujos vantes, a nosso ver, para os estudos da saúde
temas da sociologia do trabalho – centralidade dos trabalhadores e trabalhadoras.
do trabalho, divisão internacional do trabalho,
globalização, reestruturação produtiva e or-
ganizacional, com seus efeitos nas relações de Breve biografia, trajetória
trabalho – são discutidos a partir da perspec- intelectual e construção de
tiva das relações sociais de sexo/gênero e da
problematização da divisão sexual do trabalho,
redes de trabalho
subsidiando reflexões acerca da determinação
do processo saúde-doença. Com base em conversa virtual realizada com
Para desenvolvimento deste estudo, re- a autora, assim como entrevistas concedidas
corremos a uma diversidade de informações, e publicadas em revistas especializadas, apre-
proveniente de diferentes fontes, tais como: sentamos breve biografia de Helena Sumiko
levantamento documental; produção teórico- Hirata. Nascida no Japão, em 1946, lá viveu
-acadêmica; entrevistas de Hirata concedidas a até 1952, quando, aos 5 anos de idade, seu
revistas especializadas e outras disponíveis na pai decidiu retornar ao Brasil. Brasileira por
mídia. Além disso, merecem destaque os con- opção, já que, aos 18 anos, precisou escolher
tatos realizados por e-mail e conversa virtual entre a nacionalidade japonesa e a brasileira,
com a autora. Dessa forma, buscou-se, neste reside, desde 1971, em Paris, na França, onde
ensaio, efetuar uma discussão do conjunto de se tornou, em 1980, pesquisadora do CNRS.
materiais, ressaltando conceitos, categorias e Helena Hirata elegeu, desde jovem, o
algumas das reflexões teóricas empreendidas caminho da militância política. Sua ativa parti-
pela pesquisadora e colocadas como ferramen- cipação no movimento estudantil a levou a sair
tas para o desenvolvimento de pesquisas, com do Brasil, refugiando-se na França. Em plena
vistas a apontar suas contribuições fundamen- ditadura cívico-militar, formou-se em filosofia
tais para compreender-transformar os modos na USP, associando-se a organizações de es-
de vida, saúde e trabalho. Entendemos que a querda. Em 1968, tendo participado, em Ibiúna,
discussão em torno de suas ideias poderá gerar no estado de São Paulo, do Encontro Nacional

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da União Nacional dos Estudantes (UNE), (GEDISST), conduziu Hirata a estudar as di-
então na clandestinidade, permaneceu detida ferenças entre homens e mulheres na organi-
por dez dias. Devido à sua atuação política, zação do trabalho, nos salários, na promoção,
foi obrigada a deixar o País sem concluir sua na carreira. Assim, pôde evidenciar que as
formação acadêmica. Portando documentos questões de gênero perpassavam o processo
falsos, seguiu via Chile em direção à França, produtivo, as políticas de gestão e a dimen-
país onde encontraria seu companheiro e berço são tecnológica, levando à conclusão de que
da produção intelectual que subsidiava até caberiam estudos específicos acerca de tal
então os seus estudos. problemática. De 1992 a 1995, o GEDISST
Sem comprovar titulação acadêmica, ins- esteve sob a sua direção.
creveu-se na Universidade Vincennes-Saint- Em 1997, ela obteve a habilitação para dirigir
Denis-Paris VIII. Seu trabalho ‘O papel do pesquisas, que é a titulação de mais alto nível
Estado nos países subdesenvolvidos: o caso acadêmico na França, pela Universidade de
do Brasil’ conferiu-lhe, em 1979, o título cor- Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines. Além
respondente atualmente ao de doutora. A tese, disso, desde 2003, atua como diretora de
no campo da sociologia política, foi sua única pesquisa no CNRS, vinculada ao Grupo de
pesquisa não empírica, elaborada a partir dos Pesquisas Sociológicas e Políticas de Paris
livros de Sérgio Buarque de Holanda. (CRESPPA), associado às Universidades de
Assim que conseguiu inserir-se no CNRS Paris VIII-Saint-Denis e Paris X-Nanterre. No
como datilógrafa (1977 a 1979), Hirata passou CRESPPA, integra a equipe Gênero, Trabalho,
a contar com a solidariedade das demais mu- Mobilidades (GTM). É diretora de pesquisa
lheres, sociólogas – entre elas, Danièle Kergoat emérita desde sua aposentadoria, em 2011.
–, que a orientaram, inclusive, na elaboração Os(as) pesquisadores(as) do CNRS foram,
de um projeto de pesquisa. Esse apoio foi es- ao longo dos anos, assimilando atividades
sencial para que ela, futuramente, alcançasse docentes, o que possibilitou a Helena Hirata
uma vaga de pesquisadora na instituição. O orientar diversas teses de doutorado e pós-
movimento sindical para a integração dos -doutorado, inclusive de várias pesquisado-
‘hors-statuts’ (com contratos de pesquisa, sem ras brasileiras. Vale destacar que, segundo a
vínculo regular) foi fundamental para o seu autora, mesmo com o reconhecimento das
ingresso no CNRS e de muitas de suas colegas pesquisadoras do CNRS do trabalho por
por volta de 1980. elas desenvolvido, havia uma discriminação
Decidida, ainda, a continuar estudando o na própria instituição acerca da promoção
Brasil, conversou com o diretor do Centro de à direção de pesquisa para as mulheres que
Sociologia das Organizações (CSO), Michel trabalhavam com as temáticas do feminismo
Crozier. Partiu dele a sugestão de um tema que e das relações sociais de sexo/gênero.
aludisse ao Japão. Foi com o projeto ‘Aspectos Com a integração ao CNRS, Hirata dedicou-
técnicos e socioculturais da organização do -se durante décadas ao exame dos processos
trabalho: comparação Brasil, França e Japão’ de globalização e de reestruturação produtiva,
que Helena Hirata passou a integrar, como à observação da divisão sexual do trabalho e
pesquisadora, o CNRS, onde permanece desde à análise do fenômeno do desemprego, cha-
janeiro de 1980. mando atenção para seus efeitos na saúde dos
Apesar de esse projeto inicial não contem- trabalhadores e das trabalhadoras – estudos
plar questões vinculadas às relações de sexo/ e interlocuções desenvolvidos em momentos
gênero, a aproximação com Danièle Kergoat, diversos com outros(as) pesquisadores(as), de
em um sublaboratório do CSO, que se trans- diferentes disciplinas, entre eles(as), Danièle
formaria mais tarde no Grupo de Estudos Kergoat, John Humphrey, Philippe Zarifian,
sobre a Divisão Social e Sexual do Trabalho Christophe Dejours, Kurumi Sugita, Nadya

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Araujo Guimarães, Alice Rangel de Paiva Abreu, identificar como suas contribuições teóricas se
Bila Sorj, Liliana Segnini e Pascale Molinier. constituíram e se constituem em um dos pilares
Helena Hirata tem realizado investigações de sustentação de certas experiências do movi-
sempre em uma perspectiva comparativa entre os mento de mulheres brasileiro3.
aspectos técnicos, sociais e culturais da organiza- Por fim, vale destacar que, em janeiro de
ção do trabalho industrial; e, mais recentemente, 2020, realizou-se, em Paris, o colóquio ‘Em
esses estudos têm discorrido sobre o trabalho de torno do trabalho de Helena Hirata. Trabalho,
cuidado na França, no Japão e no Brasil. Assim, gênero e subjetividades – da fábrica ao tra-
a pesquisadora manteve seu vínculo com o país balho de cuidado’, que contou com a parti-
que a adotou desde o início de sua formação aca- cipação de pesquisadores(as) e parceiros(as)
dêmica até os dias atuais, incluindo o período em da pesquisadora, procedentes da França, do
que esteve exilada. Reino Unido, da Espanha, da Itália, do Japão,
Ao Brasil, somente retornara em 1979, após do Canadá, da Argentina e do Brasil.
a Lei de Anistia aos presos e perseguidos po- A autora sempre valorizou a potência do
líticos, promulgada em decorrência de uma trabalho coletivo, fosse nos projetos de pes-
ampla mobilização social. A partir de então, quisas e nas cooperações internacionais, fosse
participou de inúmeros seminários, congressos na confecção de artigos e livros, fomentando
e colóquios nacionais, além de ter estabelecido uma sólida e instigante produção acadêmica.
parcerias, inclusive institucionais, duradouras, Várias dessas obras foram traduzidas em di-
integrando diversas redes de intercâmbio e de versas línguas. Apresentamos as principais
pesquisas. Atuou, principalmente, como pesqui- obras produzidas por Helena Hirata, sozinha
sadora visitante do Centro Brasileiro de Análise ou em coautoria (quadro 1), e as entrevistas
e Planejamento (Cebrap) e como professora vi- concedidas a revistas especializadas e outros
sitante da USP e da Universidade de Campinas canais midiáticos, bem como as participações
(Unicamp), sobretudo nos anos 1980-1990. da pesquisadora em podcasts, entre os anos
Cabe destacar ainda seu diálogo contínuo e 2000 e 2020 (quadro 2), nas quais resgata a
permanente com movimentos sociais, sindicatos sua trajetória intelectual e socioprofissional,
e grupos feministas no País. No dossiê organi- além de discorrer sobre temas e objetos da
zado por Briguglio, Grecco, Lindôso e Lapa2, no sociologia do trabalho e das relações sociais
qual é destacada a potente parceria construída de sexo/gênero, principalmente na França e
entre Daniéle Kergoat e Helena Hirata, pode-se no Brasil.

Quadro 1. Listagem de livros e coletâneas escritos ou organizados por Helena Hirata, entre os anos 1993 e 2017

Título Organizadores Editora Ano Paginação


Sobre o “modelo” japonês Helena Hirata São Paulo: EDUSP 1993 1. ed./312p.
Nova divisão sexual do trabalho? Um olhar Helena Hirata São Paulo: Boi- 2002 1. ed./336p.
voltado para a empresa e a sociedade tempo
Novas fronteiras da desigualdade: homens Helena Hirata e Margaret São Paulo: SENAC 2003 1.ed./365p.
e mulheres no mercado de trabalho Maruani
Desemprego: trajetórias, identidades e Helena Hirata e Nadya São Paulo: SENAC 2006 1. ed./320p.
mobilização Araujo Guimarães
Etrechômeur à Paris, São Paulo, Tokyo. Une Didier Demazière, Nadya Paris: Presses de 2013 1. ed./351p.
méthode de comparaison international Araujo Guimaraes, Hele- Sciences Po
na Hirata e Kurumi Sugita

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Quadro 1. (cont.)

Título Organizadores Editora Ano Paginação


Marché du travail et genre. Regards croisés. Helena Hirata, Margaret Paris: La Décou- 2008 1. ed./278p.
France Europe-Amérique Latine Maruani e Maria Rosa verte
Lombardi
Mercado de trabalho e gênero. Compara- Helena Hirata, Albertina Rio de Janeiro: Ed 2008 1. ed./420p.
ções internacionais de Oliveira Costa, Bila FGV
Sorj e Cristina Bruschini
Organização, trabalho e gênero Helena Hirata e Liliana São Paulo: SENAC 2008 1. ed./360p.
Segnini
Dicionário crítico do feminismo Helena Hirata, Françoise Editora UNESP 2009 1. ed./342p.
Laborie, Hélène Le Doaré
e Danièle Senotier
Travail et rapports sociaux de sexe. Ren- Helena Hirata, Xavier Du- Paris: L’Harmattan 2010 1. ed./277p.
contres autour de Danièle Kergoat nezat, Jacqueline Heinen
e Roland Pfefferkorn
Le sexe de la mondialisation Helena Hirata, Jules Paris: Presses de 2010 1. ed./278p.
Falquet, Danièle Kergoat, Sciences Politiques
Brahim Labari, Nicky Le
Feuvre e Fatou Sow
Trabalho flexível, empregos precários? Uma Helena Hirata, Nadya São Paulo: EDUSP 2010 1. ed./344p.
comparação Brasil, França, Japão. Araújo Guimarães e
Kurumi Sugita
Cuidado e cuidadoras. As várias faces do Helena Hiratan e Nadya São Paulo: ATLAS 2012 1. ed./236p.
trabalho do care Araujo Guimarães
Gênero e trabalho no Brasil e na França. Helena Hirata, Alice São Paulo: Boi- 2016 1. ed./288p.
Perspectivas interseccionais Rangel de Paiva Abreu e tempo.
Maria Rosa Lombardi
Le travail entre public, privé et intime. Helena Hirata, Aurélie Paris: Editions 2017 1. ed./254p.
Comparaisons et enjeux internationaux Damamme e Pascale L'Harmattan
du care Molinier
El cuidado en América Latina Nadya Araujo Guimaraes Buenos Aires: Fun- 2020 1. ed./255p.
e Helena Hirata, dación Medifé
Fonte: Elaboração própria.

Quadro 2. Entrevistas publicadas sobre Helena Hirata, entre os anos 2000 e 2020

Revista / Livro / Número /


Título Canal Entrevistadores/as Ano Paginação
O(s) mundo(s) do trabalho e Revista Plural Gisela Lobo Tartuce; João 2000 nº 7, p. 81-110
seus dilemas sociais Carlos Cândido; José Fran-
cisco Greco Martins; Marta
de Aguiar Bergamin
Entrevista Trabalho, Educação e Revista 2006 v. 4, nº 1,p.
Saúde 199-203
O Japão que nasce no Brasil De sol a sol Fernando Portela 2008 p. 87-100
L’art de l’enquête collective sur Mouvements Catherine Achin, Jim Cohen 2013 nº 76, p. 138-
la division sociale et sexuelle e Virginie Descoutures 152
du travail

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Quadro 2. (cont.)

Revista / Livro / Número /


Título Canal Entrevistadores/as Ano Paginação
Feminismos e Maternidade: Carolina Pombo Com Carolina Pombo 2014 29 min (vídeo)
entrevista com Helena Hirata a cabeça fora d’água
(canal do YouTube)
Mulheres são mais qualifica- Folha de Pernambuco Rodrigo Passos 26/04/2015
das, mas o salário continua
paradoxal
Precarização afeta mais as Valor Econômico Jorge Felix 08/07/2016
mulheres
Entrevista Idéias Revista do Barbara Castro e Mariana 2016 v. 7, nº 1 p.
IFCH/UNICAMP Roncato 295-318
Entrevista RFI Brasil (Radio Maria Emilia Alencar 2016
France Internatio-
nale)
Série “Supermulheres”: Mu- Mulheres de luta (ca- Canal Curta 2016 3 min (vídeo)
lher no mercado de trabalho: nal do YouTube)
desigualdades de gênero no
mercado de trabalho
Série “Supermulheres”: Mu- Mulheres de luta (ca- Canal Curta 2016 3 min (vídeo)
lher no mercado de trabalho: nal do YouTube)
cargos e salários
Mulher no mercado de traba- Mulheres de luta (ca- Canal Curta 2016 3 min (vídeo)
lho: Livro: Gênero e Trabalho nal do YouTube)
no Brasil e na França
Helena Hirata: Trajetória TV Boitempo (canal Cebrap 2016 45 min (vídeo)
intelectual no feminismo do YouTube)
materialista
Trabalho (imaterial), valor e São Carlos: EdU- São Carlos: EdUFSCar (H. 2017 p. 127-138.
Classes Sociais: Diálogos com FSCar Amorim)
pesquisadores contemporâ-
neos
Entrevista Revista Trabalho, Daniel Groisman e Rachel 2019 v. 17, nº 2
Educação e Saúde Gouveia Passos
Hora de (re)partir Podcast ‘Cuidar, verbo Regina Stela Corrêa Vieira 12/07 2019 63:09 min
coletivo’ (áudio)
Uma trajetória nos estudos de Revista Plural v.26.1 Grupo de Gênero e Sexuali- 2019 p. 11-32
gênero e trabalho dade do PPGS/USP
Helena Hirata – Da divisão Podcast ‘Larvas incen- Yumi Garcia dos Santos 14/07 2020 43 min (áudio)
sexual do trabalho aos estu- diadas’
dos sobre o cuidado
Trabalho e cuidado em tem- Centro de Estudos Centro de Estudos Avança- 05/08 2020 1:30 horas
pos de pandemia – entrevista Avançados CEA dos CEA – UFRRJ (vídeo)
com Helena Hirata (CNRS, – UFRRJ (canal do
França/USP) YouTube)

Fonte: Elaboração própria.

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Relações sociais de sexo/gênero, trabalho e saúde: contribuições de Helena Hirata 143

Questões para refratário à mensuração. Mesmo o cômputo


compreender-transformar do tempo dedicado ao trabalho doméstico
não logra apreender a natureza do conjunto
os modos de vida, saúde e de ações envolvidas.
trabalho Assim, no bojo da proposta de ampliação do
conceito de trabalho, está a recusa de compre-
Em suas análises sobre os mundos do trabalho, ender o trabalho como uma prática assexua-
sob a perspectiva da divisão social e sexual do da4,5,7-10, apontando para uma problematização
trabalho, Helena Hirata contribuiu de forma da divisão sexual do trabalho. Trata-se de uma
decisiva, desde os anos 1980, para aprofun- reconstrução do conceito, incluindo o trabalho
dar o debate sobre o conceito de trabalho e profissional e doméstico, formal e informal,
difundi-lo no meio acadêmico. A nosso ver, remunerado e não remunerado, pressupos-
este debate tem implicações importantes para to fundamental e fecundo para as pesquisas
a compreensão das relações entre o trabalhar e sobre o trabalho, os modos de vida e a saúde:
as dinâmicas que envolvem a saúde, conforme produção e reprodução, classe social e sexo
indicaremos adiante. social (gênero) como categorias indissociáveis.

A centralidade e ampliação do Para as mulheres, os limites temporais se


conceito de trabalho: para além do dobram e multiplicam entre trabalho domés-
trabalho assalariado tico e profissional, opressão e exploração, se
acumulam e articulam, e por isso elas estão
Ao longo de sua densa e profícua produção em situação de questionar a separação entre
intelectual, Hirata apresenta uma discussão as esferas da vida – privada, assalariada, po-
a propósito das limitações de concepções te- lítica – que regem oficialmente a sociedade
óricas bastante disseminadas pela sociologia moderna6(254).
do trabalho. A noção moderna de trabalho é
fortemente vinculada à teorização da eco- Vale aqui ressaltar duas marcas funda-
nomia política, criticada nos efervescentes mentais dessa linhagem teórica, por meio
debates dos anos 1970. Em que pese o mérito das quais se pode identificar sua singulari-
de avançar na definição de trabalho assala- dade. A primeira refere-se à compreensão da
riado, tal concepção apresenta limites para centralidade do trabalho na vida das pessoas,
tratar adequadamente as distintas formas de em oposição aos teóricos que propagaram a
trabalho não assalariado, pois apresenta o tese do fim do valor trabalho, na década de
modelo masculino de trabalho como universal 19906. A segunda marca é o entendimento de
e não contempla as relações sociais de sexo/ que a divisão sexual do trabalho e as relações
gênero4,5. É uma concepção que caracteriza sociais de sexo/gênero formam um sistema.
o trabalho como atividade social mensurável Isso porque o trabalho é a base material da
e passível de ser objetivada – uma vez que ‘tensão’ que se estabelece entre homens e
valoriza a apropriação do tempo do assala- mulheres, como grupos sociais4,5.
riado pelo capitalista –, contrastando com o São inúmeros os dados empíricos que
que caracteriza o trabalho doméstico6. Ou atestam o caráter indissociável do trabalho
seja, como é calcada na separação entre ope- profissional e doméstico. A vinculação histó-
rações objetiváveis e o sujeito que as realiza, rica das mulheres ao espaço doméstico, por si
por intermédio do tempo, essa noção não só, já as coloca em desvantagem em relação
contempla o trabalho doméstico – oriundo aos homens quanto às atividades que favore-
da disponibilidade histórica das mulheres em cem a promoção na carreira. Tal desvantagem
relação aos filhos e à vida conjugal – que é permeia toda a vida profissional, inclusive a

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aposentadoria, posto que a descontinuidade materialista, no qual o trabalho é central em


da vida profissional e o trabalho em tempo sua materialidade, enquanto prática social, e
parcial são mais comuns entre as mulheres11. se interessa pelas relações de poder, de ex-
Não apenas as condições do exercício do ploração, de opressão e de dominação entre
trabalho profissional se articulam ao trabalho homens e mulheres.
doméstico, o próprio “tempo do assalariamen- Na atualidade, essa problematização ganha
to é condicionado pelo tempo do trabalho do- novos contornos, tendo em vista a teoria queer,
méstico”6(254). Os estudos dos usos do tempo o movimento LGBTQIA+, a discussão a pro-
são reveladores nesse contexto, pois, apesar pósito dos vários sexos, conforme destacou a
de o intervalo de tempo que demarca um dia pesquisadora, durante conversa virtual. Nas
circunscrever-se a 24 horas para todos e todas, reflexões de Hirata14, o binômio trabalho-sexo
os modos como se dão os usos desse tempo é valorizado, assim como é fundamental a refe-
traduzem as normas sociais de cada grupo. rência à divisão sexual do trabalho, profissional
Ademais, a concepção de divisão sexual do e doméstico, subjacente à divisão sexual do
trabalho influenciou sobremaneira iniciativas poder e do saber.
do Estado brasileiro como, por exemplo, as Essa perspectiva permite a crítica à teoria
estatísticas oficiais do Instituto Brasileiro de marxista das classes sociais, que não possibilita
Geografia e Estatística (IBGE) que levam em apreender o lugar das mulheres na produção
conta o tempo dedicado ao trabalho doméstico, e na reprodução social. Em associação com
além de estudo-piloto sobre o uso do tempo12. Kergoat, Hirata13-18 defende que as relações de
Outrossim, indicadores e diagnósticos mais classe são sexuadas e que as relações sociais
precisos das desigualdades de gênero poderão de sexo/gênero e de classe organizam a totali-
subsidiar discussões sobre políticas públicas dade das práticas sociais. Na conclusão dessas
de criação de creches e locais de acolhimento autoras, a formação social do patriarcado é
a idosos, entre outros, no sentido de ampliar inerente ao capitalismo. O que se tem é um
as possibilidades de autonomia profissional e capitalismo patriarcal.
pessoal das mulheres. Assim, a abordagem em termos de relações
Ao associar as informações sobre o uso do sociais de sexo/gênero indica que domina-
tempo a dados qualitativos sobre o trabalho ção, opressão e exploração estão presentes em
doméstico, Hirata11(16) observa que “é impor- todos os espaços sociais e se retroalimentam.
tante refletir sobre os afetos, que estão na Como afirma Kergoat9, uma relação social
base da reprodução da servidão doméstica”. não pode ser um pouco mais vigorosa do que
Considerando que o papel de único provedor outra: ela é, ou não, uma relação social. Esse
já não é dominante – e, ainda assim, o trabalho aspecto conduz à ideia de ‘coextensividade’
doméstico é dividido de forma assimétrica das relações sociais:
–, ela se questiona, então, como os homens
demonstrariam o seu amor. [...] a exploração por meio do trabalho assala-
riado e a exploração do feminino pelo masculino
Consubstancialidade, são indissociáveis, sendo a esfera da relação
coextensividade das relações sociais de classes aquela em que, simultaneamen-
e produção globalizada te, é exercido o poder dos homens sobre as
mulheres8(277).
A discussão sobre consubstancialidade, que
aponta para a imbricação e a interdependência Para compreender os antagonismos que
do conjunto das relações sociais – cada uma se expressam nas relações sociais de sexo/
imprimindo suas marcas sobre as outras –, em gênero, é preciso investigar como ocorre a
Hirata e Kergoat13 está ligada ao feminismo divisão sexual do trabalho, cujos princípios

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Relações sociais de sexo/gênero, trabalho e saúde: contribuições de Helena Hirata 145

organizadores são os da separação (há tra- Em primeiro lugar, as políticas neoliberais


balhos de homens e trabalhos de mulheres) de desregulamentação do trabalho, somadas à
e de hierarquia (os trabalhos de homens têm externalização da produção, com as cadeias de
mais valor que o de mulheres). Em que pesem subcontratação impondo ainda mais condições
esses princípios estarem presentes em todas as precárias de trabalho às mulheres. Por outro
sociedades e serem legitimados pela ideologia lado, as privatizações, ao reduzirem a oferta
naturalista, isso não significa, segundo Hirata dos serviços públicos, ampliam a demanda pelo
e Kergoat5, que: trabalho não remunerado das mulheres, assim
como acarretam um aumento da inserção das
[...] a divisão sexual do trabalho seja um dado trabalhadoras no mercado de trabalho remu-
imutável. Ao contrário, ela tem inclusive uma nerado, notadamente no setor de serviços. No
incrível plasticidade: suas modalidades concre- entanto, os empregos criados são vulneráveis
tas variam grandemente no tempo e no espaço, e precários, com o crescimento do trabalho
como demonstraram fartamente antropólogos informal nos países do Hemisfério Sul.
e historiadores(as). O que é estável não são Em segundo lugar, o desenvolvimento das
as situações (que evoluem sempre), e sim a novas tecnologias de informação e de comu-
distância entre os grupos de sexo5(600). nicação e a financeirização das economias
propiciaram um aumento do assalariamento
Entre as mudanças e as permanências apon- feminino no Hemisfério Sul (nos anos 1990),
tadas por Hirata nos modos de conciliação associado ao crescimento de algumas ati-
entre a vida familiar e a vida profissional, vidades em determinados setores, como o
verifica-se a responsabilidade do trabalho da informática e do telemarketing. Em seus
doméstico ainda incidindo fortemente sobre estudos comparativos, Hirata evidencia que as
as mulheres – quer pelo acúmulo, em que condições de trabalho e de remuneração são
conciliam o trabalho profissional e o trabalho claramente desfavoráveis nas filiais dos grupos
doméstico e de cuidados, quer pela delegação internacionais situadas nos países do Sul.
a outras mulheres do cuidado com a casa, com Ademais, em terceiro lugar, a globalização
a família, com os idosos e com as crianças, em acarretou mudanças na atuação dos organis-
uma combinação de delegação e acúmulo que mos internacionais com relação às políticas de
se distribui por uma rede de mulheres4,5. igualdade entre homens e mulheres, parale-
Uma importante reflexão proposta por lamente à regulação dos estados nações e das
Hirata, articulada à discussão sobre as mu- empresas multinacionais, políticas generali-
danças e permanências da divisão sexual do zantes que desconsideram as singularidades
trabalho, refere-se aos processos de produ- locais, muitas vezes tendo consequências
ção globalizada. Suas pesquisas comparati- inversas às esperadas22,23.
vas entre diferentes países permitiram que A imbricação das relações de sexo e de
participasse ativamente, nos anos 1990, do classe é o que define inicialmente o conceito
debate em torno da globalização e da rees- de consubstancialidade. Posteriormente, esse
truturação produtiva19-22. Os processos de conceito irá se consolidar em torno de três
globalização são problematizados a partir relações sociais fundamentais: classe, gênero
de um olhar crítico e fundamentado pela e raça, o que se mostrará de forma exemplar,
abordagem das relações sociais de sexo/ nas reflexões acerca do trabalho de cuidado
gênero, permitindo a incorporação de novos globalizado, conforme veremos adiante. O
elementos na análise das dinâmicas que debate em torno das perspectivas teóricas da
afetam a vida e o trabalho das mulheres em interseccionalidade ou da consubstancialida-
âmbito mundial, com destaque para três de de, esclarece Hirata14-16,23-25, é que a análise
suas dimensões23. interseccional evidencia mais, em geral, o par

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146 Oliveira SS, Neves MY, Brito J, Rotenberg L

gênero-raça, deixando a dimensão classe social operária de São Paulo, levou à compreensão de
em um plano menos visível. A não hierarquiza- que uma análise a partir do ponto de vista da
ção, a interseccionalidade das três dimensões, divisão sexual do trabalho demanda a convo-
de acordo coma autora, pode “ser considerada cação de diferentes e complementares teorias:
um instrumento de conhecimento e ao mesmo dos mercados de trabalho, dos processos de
tempo um instrumento de ação política”24(61). trabalho e do sujeito-sexuado.
O diálogo com a psicodinâmica do trabalho,
Subjetividade e trabalho a partir de 1987, insere-se exatamente nessa
perspectiva. Hirata sinaliza que, tanto para a
É importante registrar o interesse de Hirata abordagem das relações sociais de sexo/gênero
pela questão da subjetividade e a adoção de quanto para a psicodinâmica do trabalho, as
uma perspectiva interdisciplinar no desenvol- relações de trabalho não são apenas relações
vimento de suas pesquisas4,17,18,26. A proble- de exploração, mas também relações intersub-
mática do individual e do coletivo mobilizou jetivas. Como uma das clínicas do trabalho,
a autora, desde suas primeiras incursões, a psicodinâmica do trabalho27 tem o olhar
por razões de ordem teórica e empírica. Do dirigido para as relações intersubjetivas, cujo
ponto de vista teórico, a relação interindividual enfoque é considerado fundamental para a
homem/mulher se constitui como um dos análise do trabalho e para o campo da saúde
componentes do antagonismo entre os grupos mental e trabalho. Uma importante contri-
sociais que é notabilizado pela abordagem das buição de Hirata, em parceria com Kergoat26,
relações sociais de sexo/gênero. Já os materiais para o desenvolvimento dessa abordagem foi
empíricos de uma pesquisa de campo realizada abrir uma discussão a respeito da ausência da
por ela no Japão, ainda no início da década dimensão sexuada da divisão do trabalho em
de 1980, despertaram a necessidade de uma suas construções teóricas sobre sofrimento e
análise sobre a relação entre o individual, o prazer no trabalho, além do debate em torno
grupo e o coletivo. No caso, a observação de dos sistemas defensivos desenvolvidos coleti-
que havia uma primazia do grupo sobre o indi- vamente diante de situações potencialmente
víduo mostrou-se como um ponto fundamental nocivas à saúde mental.
a ser elucidado, tendo em vista a compreensão Apesar de seus valiosos instrumentos con-
da dinâmica do trabalho industrial no País. ceituais, estes não consideravam, até então, a
De acordo com Hirata22, no tocante ao relação de poder existente entre os sexos nem
processo de trabalho, o capitalismo japonês a correspondência de uma ética e uma estética
mobilizava especificamente o sujeito desse da abnegação e do altruísmo feminina a uma
processo, e não uma ‘força de trabalho’ ou uma ética e uma estética da virilidade masculina,
força de trabalho homogênea e quantificável. historicamente exercícios de subjetividade que
Os resultados de sua pesquisa indicaram que são explorados pela organização do trabalho e
as relações sociais, especialmente as relações que, por sua vez, também podem estar na base
homem-mulher, são essenciais para a análise dos sistemas defensivos apregoados por aquela
do desempenho da indústria japonesa. Nos abordagem. Essa crítica gerou o encaminha-
estudos comparativos internacionais, a inte- mento de vários estudos posteriores, entre
gração do contexto social às relações sociais eles, o desenvolvido por Pascale Molinier27,
de sexo/gênero – com sua dimensão intersub- com a criação de conceitos que buscam tratar
jetiva – possibilitou, assim, tanto a crítica aos das relações intersubjetivas no trabalho, tendo
determinismos econômicos e tecnológicos, em vista as vivências das trabalhadoras e dos
como a crítica ao culturalismo18,22,23. Ainda em trabalhadores, com suas especificidades.
1981, um estudo sobre desemprego realizado Dessa forma, o exame dos elementos sub-
com John Humphrey, em um bairro da classe jetivos – não econômicos e não tecnológicos

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Relações sociais de sexo/gênero, trabalho e saúde: contribuições de Helena Hirata 147

– do desempenho e da produtividade das or- Conforme podemos perceber, cada trabalho


ganizações envolve a teorização a respeito do de campo proposto configura-se como uma
individual e do coletivo, acerca do trabalho e verdadeira imersão no mundo dos sujeitos
da subjetividade e com relação às dimensões entrevistados15,25.
éticas e de sofrimento e prazer no/do trabalho. Desse modo, Hirata19 percebeu que, se a
divisão sexual do trabalho está persistente-
Estratégias metodológicas e seus mente presente nos diferentes países, suas
desdobramentos teóricos fronteiras se deslocam, gerando configura-
ções diversas, que resultam, sobretudo, dos
Durante conversa realizada com a pesquisa- movimentos sociais e da potência de ação das
dora, foi mencionado que, no campo da socio- mulheres. Como afirma:
logia, a comparação internacional é uma das
maneiras de aceder a um conhecimento novo. Se o forte desenvolvimento das tecnologias
Dessa forma, as diversas pesquisas compara- domésticas tendeu a facilitar essas tarefas, a
tivas de Helena Hirata desenvolvidas desde divisão sexual do trabalho doméstico e a atri-
os anos 1980, no Brasil, na França e no Japão, buição deste último às mulheres, em realidade,
permitiram dois enfrentamentos importan- continuou intacta. A relação entre o trabalho
tes. Em primeiro lugar, ao sempre priorizar o doméstico e a afetividade parece estar no centro
trabalho de campo, tendo como premissa um dessa permanência19(150).
ponto de vista situado, atenta à experiência
das relações de poder, a autora evitou que as Por meio da associação de estudos de
relações sociais de sexo/gênero sofressem um campo aprofundados a comparações sobre
‘apagamento’ em face das relações de classe e os diferentes cenários internacionais, as di-
viabilizou as bases para a consolidação de uma nâmicas adjacentes à consubstancialidade
epistemologia feminista, principalmente do podem ser identificadas com mais clareza pela
feminismo materialista, unindo-se às princi- autora14-16, envolvendo questões de classe, sexo
pais pensadoras dessa vertente. Em segundo e raça. Ademais, a perspectiva interdiscipli-
lugar, suas pesquisas permitiram a compa- nar adotada por Hirata11,19 permite o acesso
ração entre diversidades e semelhanças nos a problemas individuais e coletivos, que se
mundos do trabalho, bem como o registro de referem ao trabalho de categorias profissionais
seus processos de globalização e seus efeitos. específicas, articulando questões subjetivas,
Hirata também destacou que suas pesquisas econômicas e políticas.
são empreendidas de forma artesanal, fazendo
uso de roteiros bastante flexíveis para a rea- O trabalho de cuidado: a
lização de entrevistas semiestruturadas, em condensação de ideias e conceitos
geral feitas individualmente. Ressaltou ainda
a importância de entrevistar os mais diversos As estratégias de pesquisa mobilizadas por
sujeitos sempre em sua língua materna, ou Helena Hirata têm permitido, ainda, que sejam
seja, em francês, em japonês ou em português, produzidos conhecimentos valiosos acerca da
além de, e fundamentalmente, interagir de dimensão do cuidado em diversas atividades de
maneira pessoal com os(as) entrevistados(as), trabalho, cuja importância e invisibilidade são
deixando-se afetar por suas problemáticas. indiscutíveis. Além do aspecto autobiográfico
Essas entrevistas, realizadas com grande – envelhecimento da sua mãe e da perspectiva
número de sujeitos, durante um período pro- de aproximação do seu próprio envelhecer –,
longado, permitem a produção de materiais o interesse específico, desde 2009, pelo tra-
riquíssimos, que contemplam um olhar sobre balho de cuidado pela pesquisadora deve-se,
as diferentes e indissociáveis esferas de vida. principalmente, ao fato de essa modalidade de

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148 Oliveira SS, Neves MY, Brito J, Rotenberg L

trabalho sintetizar a indissociabilidade entre Nessa direção,


trabalho doméstico e profissional, abarcando
um amplo espectro de atividades, remunera- os fluxos migratórios e a globalização do
das e não remuneradas, e diferentes setores cuidado e do trabalho reprodutivo desenham
(saúde, educação, assistência social, serviços os contornos de uma nova divisão internacional
de cuidadora). Outrossim, os estudos sobre do trabalho de serviço24(55).
o trabalho do cuidado são decisivos para as
discussões referentes à consubstancialida- É interessante destacar que uma nova divisão
de13-15,23-25, evidenciando, de forma cabal, as internacional do trabalho é vislumbrada, então,
desigualdades imbricadas das relações sociais quando a dimensão étnico-racial é integrada à
de gênero, de classe e de raça. análise. O processo da repartição social do tra-
O trabalho de cuidado, que não consiste balho de cuidado, portanto, evidencia-se a partir
apenas de uma postura de atenção, mas de um da incorporação dessa dimensão na comparação
conjunto de atividades materiais e de relações entre os três países objetos da análise.
que procuram responder concretamente às Na França (em Paris e Île-de-France), mais
necessidades dos outros, vem sendo histori- de 90% das cuidadoras são migrantes externas.
camente exercido por mulheres com idosos, Dessa forma, a especificidade do trabalho de
crianças, doentes, pessoas com deficiência. cuidado é inegável: ele não pode ser deslocaliza-
Entretanto, o desenvolvimento das profis- do, como ocorre com a produção industrial das
sões voltadas para o cuidado, assim como a multinacionais22. No Brasil, há uma migração
mercantilização e a externalização desse tipo interna: muitas mulheres do meio rural ou de
de trabalho – fruto do envelhecimento popu- cidades do interior, principalmente do Nordeste,
lacional e da massiva inserção das mulheres trabalham como cuidadoras nas principais me-
no mercado de trabalho –, contribuiu para sua trópoles. Tanto no Brasil quanto na França, as
maior visibilização9. São ações exercidas pelas cuidadoras se autodeclaravam negras ou pardas
mulheres por muito tempo de forma gratuita e relataram situações constantes de racismo, seja
e invisível, que finalmente ganham reconhe- por intermédio de violência verbal ou mediante
cimento como trabalho, embora ainda pouco comportamentos discriminatórios16,23,26.
valorizado do ponto de vista salarial e social. As relações sociais se manifestam de formas
De acordo com os estudos comparati- diferenciadas nos três países, mas são sempre os
vos e interdisciplinares desenvolvidos por mais vulneráveis que se tornam os provedores ou
Hirata14,15,22-25 no Brasil, na França e no Japão, provedoras do cuidado. Desse modo, embora o
os(as) cuidadores(as), tanto em domicílios perfil dos(as) cuidadores(as) entrevistados(as)
como em instituições de longa permanência seja bastante heterogêneo, há em comum o fato
de idosos, são compostos(as), em sua maioria, de essa ser uma profissão pouco valorizada.
por mulheres pobres, embora no Japão, nas Nos três países, os salários são relativamente
instituições de longa permanência, haja quase baixos e os(as) profissionais gozam de pouco
40% de cuidadores do sexo masculino. Tal reconhecimento social. A igualdade de condições
percentual é devido a uma política governa- profissionais, ante a desigualdade de perfis e
mental que, diante do cenário de grave crise trajetórias desses(as) trabalhadores(as), parece
financeira mundial em 2008, estimulou a encontrar sua explicação no próprio cerne da
formação e a garantia de emprego para esse atividade de cuidado, realizado tradicionalmente
contingente. Hirata destaca ainda que, no e gratuitamente, na esfera doméstica e familiar,
caso específico do Brasil e da França, a grande pelas mulheres15,23,24,26.
maioria do contingente feminino é de mu- Hirata25(27) pôde, ainda, observar a diferença
lheres negras, muitas vezes provenientes de que cuidadores e cuidadoras fazem entre ‘o que
migração interna ou externa. é cuidado’ e ‘em que consistem suas atividades’

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Relações sociais de sexo/gênero, trabalho e saúde: contribuições de Helena Hirata 149

quanto aos beneficiários do serviço. Para ambos, legado vinculado à afirmação da centralidade
há uma clara diferença entre provisão e práticas, do trabalho, que é um dos pontos de desta-
entre ética e trabalho concreto. Para eles(as), as que em sua obra, nos modos de apreensão
atividades realizadas referem-se não apenas à de diferentes problemas. Nessa linha, com o
dimensão fisiológica, mas também à dimensão entendimento de que as esferas da produção
psicológica, e, entre as disposições apontadas e da reprodução, de que o trabalho remune-
como importantes, evoca-se a paciência neces- rado e o trabalho doméstico estão sempre
sária para realizar essas atividades. Entretanto, em conexão, isso propicia a aquisição de um
o ‘cuidado’ e as ‘atividades’ são percebidos como olhar mais abrangente (não fragmentado),
‘ajuda’ pelas cuidadoras e, menos frequentemen- beneficiando tanto os estudos que tratam da
te, pelos cuidadores. vida no âmbito familiar quanto aqueles que se
Sob a ótica da demanda por cuidado, na debruçam sobre os mundos da produção. No
França, o estado e as políticas públicas têm primeiro caso, seria um equívoco desconsi-
um papel essencial para supri-las. No Japão, derar a questão do trabalho e das relações de
a família apresenta-se como maior suporte classe, por exemplo, em estudos sobre saúde
de provisão de cuidados. Já no Brasil, as e violência doméstica. No segundo caso, seria
lacunas do Estado são compensadas por uma falha ignorar o problema da dominação,
redes de apoio provenientes da vizinhança, da opressão e da exploração das mulheres – e,
principalmente de mulheres da família. mais especificamente, das mulheres negras.
Esses estudos desenvolvidos por Helena Observamos, também, que a perspectiva da
Hirata 24(61-62) reafirmam, então, a impor- divisão sexual do trabalho, além de conduzir a
tância do reconhecimento e da valorização um questionamento das ‘competências’ reque-
do trabalho de cuidado, ainda mais visível ridas às mulheres para atuar, principalmente,
com a demanda crescente por cuidado de- em trabalhos repetitivos e no setor de serviços,
corrente da expansão demográfica e do en- contribui para o reconhecimento de quadros
velhecimento da população nas sociedades diferenciados de sofrimento e de adoecimento
industriais e pós-industriais. Nessa direção, de trabalhadores(as).
coloca que é inegável a relevância da Encontramos, igualmente, inspiração em
suas discussões sobre a globalização, tendo
Discussão teórica em torno de ‘desgenerizar’ em vista a identificação de situações de maior
o care para pensar uma nova divisão sexual do vulnerabilidade social das mulheres em alguns
trabalho de cuidado, em que homens e mulheres países devido à dinâmica de interdependência
sejam responsáveis pela atenção às pessoas das relações entre sexo/gênero, classe e raça.
dependentes. Além disso, na medida em que essas relações
e a divisão do trabalho não são pensadas de
O cuidado deve ser realizado independen- forma determinista, considerando a existência
temente do sexo, já que todos e todas apre- de um espaço de liberdade para o exercício da
sentarão, em algum momento de suas vidas, capacidade de ação dos(as) explorados(as),
a condição de vulnerabilidade. oprimidos(as) e dominados(as), entendemos
que estudos comparativos como os desenvolvi-
Alguns diálogos com as pesquisas dos por Helena Hirata são fundamentais para a
em saúde elucidação das possibilidades e dos obstáculos
encontrados em diferentes contextos para que
No que tange especificamente às contri- as mudanças desejadas aconteçam.
buições de Hirata para o desenvolvimento de Seu aporte mais recente às análises sobre
pesquisas na área da saúde coletiva, ressaltam- o trabalho de cuidado dialoga de forma
-se, assim, as consequências incontornáveis do direta com grandes demandas das sociedades

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150 Oliveira SS, Neves MY, Brito J, Rotenberg L

contemporâneas, em particular, a condição considerando a transversalidade das relações


de maior longevidade, cujo preço é o inves- sociais de sexo/gênero. Uma dessas interlocu-
timento no cuidado das gerações de maior ções resultou no desenvolvimento de projeto
idade. Situações de emergência decorrentes de cooperação internacional entre o CNRS
do desequilíbrio ambiental e climático – fruto e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no
de ações humanas –, a exemplo de desastres, âmbito do Centro de Relações Internacionais
ou mesmo a atual pandemia de Covid-19, em Saúde (Cris/Fiocruz).
também se beneficiam de seus estudos, como Sua produção intelectual foi fundamental
podemos conferir na entrevista ao Centro de na construção de nossos olhares para as
Estudos Avançados (CEA), da Universidade pesquisas sobre saúde e trabalho nos campos
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), da educação, da saúde e do telemarketing1,28,
concedida em 5 de agosto de 2020. Nesta, as entre outras. Os questionamentos propi-
vivências dramáticas vinculadas ao trabalho ciados por suas reflexões, conjugados à
profissional em home office e, principalmen- concepção de saúde com a qual nos alinha-
te, dos(as) profissionais do cuidado e demais mos 29, conduziram-nos ao entendimento
trabalhadores(as) que permaneceram na de que a relação entre a saúde e o trabalho
linha de frente, são debatidas de forma muito se estabelece de acordo com os ‘modos se-
fecunda. Sua defesa da centralidade política xuados de viver’30. Nessa linha, afirmamos
e ética do cuidado na produção da vida e da que a atribuição das tarefas domésticas e
saúde é notável. de cuidado com os familiares às mulheres
No Brasil, o debate sobre a temática gênero, tem implicações em outras esferas da vida,
saúde e trabalho tem como marco dois eventos de forma que o menor tempo disponível
importantes, que contaram com a valiosa con- para si mesma “tende a resultar em menores
tribuição de Hirata. Em 1999, por ocasião do possibilidades de negociação cotidiana pela
II Congresso Internacional Mulher, Trabalho saúde, levando a diferenciações atravessadas
e Saúde, realizado no Rio de Janeiro, ocorreu pelas questões de gênero”1(324).
a conferência ‘Trabalho: uma abordagem in-
terdisciplinar’, proferida pela pesquisadora.
Em agosto de 2006, durante o VIII Congresso À guisa de conclusão
Brasileiro de Saúde Coletiva e XI Congresso
Mundial de Saúde Pública, realizado também Em sua trajetória interdisciplinar, Helena Hirata
no Rio de Janeiro e promovido conjuntamente fez-se acompanhar de rigor teórico e profunda
pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva acuidade metodológica, permitindo análises
(Abrasco) e pela World Federation of Public que articulam questões subjetivas, econômicas e
Health Associations (WFPHA), a contribuição políticas pertinentes ao trabalho de mulheres e
de Hirata como participante da mesa-redonda homens, de diferentes países e contextos sociais.
‘Trabalho, Saúde Coletiva e Globalização: quais Desde os embates teóricos sobre o conceito de
possibilidades?’ fomentou um debate sobre trabalho, a ousadia de questionar princípios
as desigualdades de gênero ante a interna- marxistas, até os estudos mais recentes sobre
cionalização da economia, com base em suas o trabalho de cuidado, pode-se vislumbrar uma
pesquisas comparativas na França, no Brasil linha de coerência que acompanha sua intensa
e no Japão. atividade intelectual e comprometimento com
O contato de diferentes grupos de inves- os movimentos sociais.
tigação brasileiros realizados com Hirata Por fim, se buscarmos identificar um ele-
foi crucial para o delineamento de linhas de mento que permeia a vasta obra de Hirata,
pesquisa que visavam tecer reflexões compar- um questionamento que lhe seja irresistível,
tilhadas sobre a temática ‘saúde e trabalho’, uma interpretação da qual não abre mão, esse

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Relações sociais de sexo/gênero, trabalho e saúde: contribuições de Helena Hirata 151

elemento se expressa nas desigualdades nos Colaboradoras


mundos do trabalho, nas diferenças injustas
porque evitáveis, e evitáveis porque constru- Oliveira SS (0000-0002-1477-749X)*, Neves
ídas pelo social. É este o esteio de sua obra, MY (0000-0002-9821-3826)*, Brito JC (0000-
a linha-mestra que guia sua profícua contri- 0001-6744-4595)* e Rotenberg L (0000-0002-
buição às ciências humanas e à compreensão 4132-2167)* contribuíram igualmente para a
de grandes questões da contemporaneidade. elaboração do manuscrito. s

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Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103- Aprovado em 05/05/2021
Conflito de interesses: inexistente
73312014000200014.
Suporte financeiro: não houve

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