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Trabalho e Saúde Coletiva: o ponto de vista


da atividade e das relações de gênero

Work and co llective health: the point of view


of activity and gender relations

Ju s s a ra Brito 1

Ab s tract In sofar as wo rk is a fundamental ac- Re su m o Na medida em que o trabalho é uma


tivity in life, we try to show the importance of atividade fundamental da vida, procuramos mos-
gaining a bet ter understanding of its dimen s i o n s trar a impo rtância de melhor co m pre ender su a s
for incorporation into analyses of the set of collec- dimensões pa ra incorporá-las nas análises do
tive health probl ems. This is why we have adopt- co n j u n to de probl emas de saúde col etiva. La n ç a-
ed approaches that expl o re the co n cept of the ac- mos mão de abord a gens que vêm expl o rando o
tivity of wo rk , to get h er with studies of gen d er re- co n cei to de atividade de tra ba l h o, bem como dos
lations, bearing in mind that in both cases the estudos das relações de gênero, tendo em vista que
aim is to underline the different dimensions of nos dois casos busca-se dar visibilidade às dife-
work. Using the activity of wo rk co n cept, we get ren tes dimensões do tra ba l h o. Através do co n cei to
cl o ser to the non-standard i z a bl e , ch a n ge a ble and de atividade de trabalho nos aproximamos do ca-
variable nature of life and wo rk situations. We r á ter não pa d ro n i z á vel , mu t á vel e vari á vel da vi-
use the co n cept of health in Canguilhem’s wo rk, da e das situações de trabalho. A partir da con-
which draws attention to the active relationship cepção de saúde presente na obra de Canguilhem,
betwe en the indivi dual and his envi ro n m ent (of que chama a atenção pa ra a relação ativa en tre o
work), with a view to outlining a debate on the indivíduo e seu meio (de trabalho), esboçamos
po s s i bi l i ty of cre a ting health norms. The materi- um debate sob re as possibilidades de criação de
als dealing with gen d er- based division of labor – n o rmas de saúde. Os materiais que tratam da di-
basic material of gen d er rel a tions – co m bine with visão sexual do trabalho – base material das rela-
the issues ra i sed by the concept of the activity of ções de gênero – se somam às questões apo n t a d a s
work, which also provide elements to a better per- pelo co n ceito de atividade de trabalho, contri-
ception of the health/work relationship. At the in- buindo também pa ra uma melhor percepção da
terface of these two points of view (work as activi- relação saúde-tra balho. Na interface desses dois
ty and as the embodiment of gender relations) we po n tos de vista (tra balho como atividade e co m o
1 Cen tro de Estu dos da come face to face with the impo rt a n ce of the ex- materialidade das relações de gênero) ressaltamos
Sa ú de do Tra b a l h ador e perience of workers in the gen eration of knowl- a impo rt â n cia da experi ê n cia dos/as tra ba l h a d o-
E co l ogia Humana, E s co l a
Nac i onal de Sa ú de Pública ed ge co n cerning health and the need for mu l ti pl e res/as na produção de saberes sob re a saúde, a s-
Sergio Aro u c a , Fiocruz. forms of intervention. sim como a necessidade de múltiplas formas de
Av. Leopo l do Bulhões 1480, Key words Activi ty of wo rk, Gen d er rel a tions, intervenção.
Ma n g u i n h o s , 21041-210,
Rio de Ja n ei ro RJ. Worker’s health Pa l avras-ch ave Atividade de trabalho, Relações
ju s s a ra br @ u o l . com . br de gênero, Saúde do trabalhador
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In trodução culação com os processos patológi cos forem


mu i to níti dos (diret a m en te ob s ervávei s , obj eti-
O obj etivo de s te arti go é discutir algumas qu e s- vávei s , men su r á vei s ) , aprox i m a n do-se ou con-
tões rel a tivas ao mu n do do tra b a l h o, ten do co- fundindo-se com o en foque qu e , em nosso en-
mo perspectiva contribuir com o desenvolvi- tendimento, deve ser su perado (Sa ú de Ocupa-
men to da área de Sa ú de Co l etiva . Nessa área do c i on a l ) . Ca be lembrar que o campo da Saúde
conhecimen to e intervenção en contramos o do Trabalhador se originou na luta dos traba-
campo denominado Saúde do Trabalhador – l h adores pelo direi to à saúde, no bojo da Refor-
em cuja con s ti tuição o Brasil teve um papel de- ma Sanitária e com inspiração no Movi m en to
cisivo –, que tem se ocupado desta qu e s t ã o, Operário Italiano (MOI), propon do o proce sso
fundamental para a vida. Nesse sentido, este de trabalho como categoria fundamental para
campo a nosso ver repre s enta um avanço em análise das relações en tre o trabalho e a saúde.
comparação a diferen tes abord a gens con tem- As s i m , visa estudar e intervir nessas relações a
porâneas sobre a relação trabalho-saúde, mu i- partir do processo de trabalho, mas incorpo-
tas vezes desvinculadas das preocupações da ra n do a experi ê n c i a / su bj etividade do trabalha-
saúde públ i c a . Entret a n to, não se poderia dei- dor nas pe s quisas e ações, apon t a n dopara uma
xar de assinalar que apesar de sua ri queza e ori- noção de saúde como luta con t í nu a , uma con-
gi n a l i d ade (dificilmen te en contramos propos- quista perm a n en te , em meio às forças políticas.
tas similares em outros países, mesmo na Am é- Para nós (Bri to, 2004), e s te campo é acima de
rica Latina), o campo da Sa ú de do Tra b a l h ador tudo uma pers pectiva diferenciada de estudo,
p a rece não ter sido ainda plen a m en te absorvi- a tenção e intervenção sobre os probl emas rel a-
do da forma mais pertinente e em toda sua tivos à saúde dos tra b a l h adore s ; uma forma de
m a gn i tu de pela área da saúde que lhe com por- ver, entender e desenvolver ações práticas, a
ta. Além de ob s erva rmos uma certa insistência, partir de olhares de diferen tes especialistas e
em alguns espaços (sejam eles acadêmicos ou o l h a res dos tra b a l h adores e das trabalhadora s ,
não) em perseverar na denominação “s a ú de com vistas a ga rantir a ótica de gênero.
oc u p ac i on a l ” p a ra se referir aos estu dos e ações Na medida em que o trabalho repre s enta
que envolvem o tra b a l h o, percebemos que o uma dimensão fundamental da vida, con s titui-
patrimônio con s tru í do no campo da Sa ú de do se então em um el em en to que sem pre atrave s s a
Trabalhador permanece sendo tratado como a probl em á tica da saúde. Como afirma Dej o u rs
e s pec í f i co, não sen do con s i derado, port a n to, de (1995), o trabalho nunca é neutro em relação à
i n teresse geral da Sa ú de Coletiva. Dois fatore s , saúde: ou é operador de saúde ou é patog ê n i co.
em especial, podem ajudar a com preen der esse Nesta abordagem (Dejours, 1986), a qu e s t ã o
fato. Pri m eiro, a nece s s i d ade de manter acesa a não é disju n tiva – “trabalho ou não trabalho?”
ref l exão sobre o campo em foco, tra zen do no- – e sim: qual trabalho? Nesse sen ti do, é impre s-
vos aportes e, assim, ren ovando e divulgando cindível uma discussão sobre o pr ó prio con cei-
as idéias que lhe são subjacen te s . Em segundo to de trabalho que adotamos. Assim, um esfor-
lugar, o estatuto dado ao tema do trabalho no ço de mel h or com preen der o que é trabalhar –
s eio da Saúde Coletiva. Sobre esse segundo sua importância na vida dos hom ens e das mu-
ponto é importante sinalizar que uma contri- lheres – poderá con tri buir para a maior e mais
buição do campo da Sa ú de do Trabalhador po- rica incorporação das probl em á ticas perti n en-
deria ser re a f i rmar a nece s s i d ade de se integrar tes à Sa ú de do Tra b a l h ador no âmbi to da Saú-
o trabalho nas análises dos con d i c i on a n tes da de Co l etiva. Contamos, para isso, com desen-
s a ú deda pop u l a ç ã o, em gera l . E m bora esta não volvimentos de diferen tes disciplinas que fa-
seja uma proposta nova, pois estava pre s ente zem uso do con cei to de atividade , e que en f a ti-
nos pri m ó rdios da con s ti tuição do campo, pa- zam a com p l ex i d ade e vari a bi l i d ade das situa-
rece haver o enten d i m en to de que apenas um ções, sua dinâmica e a mobilização dos traba-
certo número de probl em a s , bem del i m i t ado s , l h adores no próprio proce s s o. Além disso, ao
se associam ao trabalho e outros não. Em ou- procurar melhor com preender o que é traba-
tras palavras, t a lvez se entenda que apenas as lhar, cruzamos com os estudos sobre as “rela-
s i tuações em que o trabalho está cl a ra e diret a- ções sociais de sexo”, pois esses além de ampliar
men te assoc i ado às formas de adoec i m en to de- a noção de trabalho e de de s construir outras
vem ser objeto de uma análise do campo. Ou correlatas – como a de qualificação – apontam
ainda, que o processo de trabalho só seria de que o trabalho está no cen tro dos con f l i tos en-
i n teresse para a Saúde Co l etiva qu a n do a vin- tre os gru pos sociais femininos e masculinos.
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O que é trabalhar? alguns autores re a f i rmaram a centralidade do


tra b a l h o, evidenciando que o propalado “f i m
Os sen ti dos atri bu í dos ao trabalho são diferen- do trabalho” seria na verd ade o fim da def i n i-
tes em um mesmo mom en to histórico (na Gr é- ção de trabalho instaurada pela “econ omia po-
cia antiga, não se en con tra um voc á bulo desig- lítica”, isto é, o trabalho assalari ado (ou a “for-
nando o trabalho em geral, mas: ergo n, sch olè, ma salari a to”). Como indicam Hirata & Zari-
techné, ponos, práxis, poièsis) e se modificam fian (2000), as análises que sep a ram o trabalho
com o tem po : se nos séculos 9 e 10 seu sen ti do de outras esferas da vida (criação, ação po l í ti-
predom i n a n te (cristão) era de pen a / pen i t ê n c i a ca) acabam hiera rquizando as atividades hu-
e sofrimen to (tripalium) e no século 13 de manas, i n feri orizando aqu ela que é den om i n a-
exercício de um of í c i o, no século 18 essa noção da de trabalho, que fica cri s t a l i z adocomo lu gar
passa a ser correl ac i on ada às ativi d ades produ- de obj etivação e con trole, s em possibi l i d ade de
tivas (em uma deriva produtivista) que se de- s er cri a tivo, su bvertido e tra n s form ado. Com o
senvo lvem sob as relações sociais dom i n a n te s t ayl orismo essa idéia ganhou de fato uma gra n-
(capitalistas) e assim gl orificadas. Além disso, de adesão, produ z i n do até mesmo a crença de
em função da divers i d ade de práticas ex i s ten- que o trabalho é totalmente determinado ex-
te s , o que é con s i derado trabalho varia de uma ternamen te pela forma que é orga n i z ado pela
s oc i ed ade a outra, o que implica a inclusão ou “gerência cien t í f i c a” (ou mel h or, pelos re s pon-
exclusão de certas atividades desta noção, se- sáveis pela pre s c ri ç ã o ) . Outra crença então ge-
g u n do os critérios que lhe def i n em(Ters s ac & rada é que no chamado “trabalho manual” os
Maggi, 2004). i n d iv í duos agi riam de forma intei ra m en te sim-
Entretanto, a noção moderna de trabalho plificada, m ec â n i c a , s em mobi l i z a r-se psico l o-
está fortem ente vinculada ao con cei to engen- gicamente (cogn i tiva, a fetiva m en te) e sem cria-
drado pela economia política. Esta envolve tivi d ade alguma (Wisner, 1994). Com o tayl o-
uma visão antropológica, na medida em que o rismo e o fordismo proc u rou-se estabel ecer um
trabalho é caracterizado como um ato que se acordo em torno do aumen to da produtivi d a-
passa en tre o hom em e a natu re z a , e co l oca em de, da redução do desgaste e dos ganhos sala-
rel evo uma segunda característica, que diz res- riais. Tal acordo estava preten s a m en te baseado
peito ao fato de que as trocas entre homem e no re s pei to à pre s c ri ç ã o, à taref a , mas parado-
n a tu reza ocorrem sob condições sociais deter- xal e não formalmente exigia dos operadores
m i n ad a s . Con forme Hirata & Za rifian (2000), uma mobilização capaz de detectar e interpre-
essa segunda definição possibi l i tou avançar na tar os limites da prescrição, a presença de va-
con cei tualização de trabalho assalari ado, inau- riabi l i d ades e chegar a modos operatórios re-
g u ra n do a idéia de trabalho como ativi d ade so- guladores. Ou seja, uma inventividade que se
cial mensurável e passível de ser objetivada con f i g u rava em ren ormalizações, em molec u-
( como trabalho abstrato). Nos anos 70 do sé- lares ações inven tivas, a um custo el evado para
culo 20, essa noção foi parc i a l m en te criticada os trabalhadores no plano psico s s om á ti co(Do-
pelo fato de partir de um modelo assex u ado do ray, 1981; Dejours, 1987). Com a crise do tay-
tra b a l h o, em que o masculino é apre s en t ado lorismo e do fordismo vêm sen do ex perimen-
como universal e as relações de gênero não são tadas pelo capital novas formas de or ga n i z a ç ã o
contempladas, além de se limitar à esfera da do tra b a l h o, em que se ex i giria maior implica-
produção e de não incluir adequad a m en te as ção dos tra b a l h adore s , mas ainda assim a idéia
formas de trabalho diferentes da assalari ad a . de que o trabalho é totalmen te def i n i do previa-
Neste mesmo período os er gon omistas da ati- mente por regras e instruções tem se manti do
vidade mostra ram também que a visão gen é ri- predominante – apesar das diversas análises
ca de trabalho não corre s pon de ao que de fato que dem on s traram ser o trabalho de fato uma
se efetiva, propondo os con ceitos de trabalho atividade en i gmática e com p l ex a . Estamos nos
pre s c ri to (tarefa) e trabalho real (ativi d ade re a- referindo aqui ao importante legado deixado
lizada). Já nos anos 90, d i a n tede con ju n tu ra de seja pelo que se conquistou a partir da ex pe-
crise econômica, recessão e diferen tes formas riência ac u mu l ada com o Movimen to Operá-
de desemprego – tecnológi co, estrutural e de rio Italiano de luta pela saúde (anos 60), seja
l on ga duração –, assistimos a uma atualização pelas de s cobertas de um conju n to de discipli-
do debate sobre o trabalho, emergindo, entre nas/abord a gens que foram se con s titu i n do na
o utras questões, a enunciação do “fim do tra- França e na Bélgica, a partir desse mesmo pe-
balho” (Rifkin, 1995). Em meio a este debate, ríodo como a que se deu pela ergonomia da
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atividade, em seguida ex p l orada pela psicodi- c a racterizar de “abstrata” (baseada no trabalho


nâmica do trabalho, pela er go l ogia e pela cl í n i- a b s tra to e que não retrata o trabalho con c reto,
ca da atividade . aí inclu í do o que se den omina o real do traba-
O movimento italiano trouxe à tona a ques- lho), não perm i te ir muito mais além do qu e
tão de que o processo de con t í nua aprendiza- proceder à iden tificação dos clássicos “f a tore s
gem , que se de s envo lve por via da ex periência, de risco” (muitas vezes sem considerá-los se-
por sua transmissão e pela reflexão coletiva nela qu er em sua siner gi a , con forme ressaltado pel o
originada é en con trado mesmo nos trabalhos MOI). Com essa de s coberta o trabalho passa a
de mais simples execução. Nos seminários reali- ser compreendido, por essa linha da ergonomia,
z ados com del egados sindicais ou mem bros de a través de suas dimensões – a tarefa e a ativida-
con s elhos de fábrica, os trabalhadores se refe- de , poden do então ser assim def i n i do : O traba-
riam a seus trabalhos como algo esti mu l a n te e lho é uma atividade finalizada, realizada de uma
dinamizador de sua inteligência, habilidade psi- m a n ei ra indivi dual ou coletiva em determinado
com o triz e capac i d ade de criação (Oddon e , Re período de tempo, por um determinado homem
& Brianti, [1977] 1981). Pa ra Clot (1981), os ou mulher, situada em um co n texto particular
trabalhadores desenvolvem uma ex periência que fixa as limitações imediatas da situação. Es-
“informal”, pois mesmo no taylorismo outro ti- ta atividade não é neutra, co m promete e trans-
po de saber circula nos espaços produtivos. fo rma, até mesmo aquele que a realiza (Teiger,
Uma contribuição decisiva da ergonomia 1993, tradução nossa).
da atividade (denominação que qualifica um O foco de estu do e ação consistirá, a partir
pon to de vista particular sobre o trabalho) aos dessa de s coberta, na atividade de tra b a l h o,
e s tu dos sobre o trabalho foi detectar que o tra- con ceito também privilegiado e desenvolvi do
balho não se re sume à pre s c ri ç ã o, ou seja, qu e na abordagem ergológica (con forme veremos
há, de um lado, o trabalho teóri co / pre s c rito ad i a n te). Antes disso vamos destacar de qu e
( def i n i do pelas or ganizações através da def i n i- forma a psicodinâmica do trabalho aborda o
ção de métodos e procedimentos, o que foi “real do tra b a l h o”. Em pri m ei ro lu ga r, Dejours
po s teriorm en te de s i gn ado pela er gon omia co- (2004) evi dencia através das pe s quisas re a l i z a-
mo a tarefa) e, de outro, o trabalho real (que se das por essa disciplina que ex i s te o que se pode
con s ti tui nas situações con c ret a s , com suas va- chamar de uma organização prescrita do tra-
riabilidades, po s teriormente designado ativi- balho e uma or ganização real do trabalho. Em
dade realizada). De fato, a de s coberta da exis- o utras palavras, revela-se aí que o trabalho é
tência de uma def a s a gem, um hiato en tre aqu i- en gendrado em con f ron to (e negociação) com
lo que se proj eta previ a m en te como trabalho e o real – caracteri z ado como aquilo sobre o qu e
o que ele re a l m en te repre s enta e envo lve é mu i- não se tem con trole (rem eten do à experiência
to valiosa, na medida em que permite dar um do revés) qu a n do se segue apenas os procedi-
n ovo sen ti do para essa atividade hu m a n a , co- m en tos previstos ou os con h ec i m en tos já ex i s-
l oc a n doem evidência as dificuldades e desafios ten te s . Nessa linha, o trabalho é def i n i docom o
enfren t ados por aqueles que a de s envolvem. a atividade coordenada de s envolvida por ho-
Essa de s coberta nos instrumentaliza no com- m ens e mu l h eres para conseguir o que na pro-
bate a todo tipo de argumentação dirigida a dução não pode ser obti do pela estrita execu-
de s qualificar o tra b a l h o, qu a n do este não ex i ge ção pre s c rita do trabalho (Dave z i e s , 1993). Lo-
uma capacitação profissional formalizada, a go, o trabalho é sempre humano por essência
negar a sua complexidade. Essa de s coberta ou definição (Dave z i e s , 1993; Dej o u rs , 1995).
a l erta para o ri s co de uma visão empobrecida As questões trazidas pela er go l ogia – abor-
(e empobrecedora) do tra b a l h o, prejudicando dagem inspirada em diversas influ ê n c i a s , com o
a análise dos el em en tos que podem ser (de s ) f a- a ergonomia, o Movimen to Operário de Luta
vor á veis à saúde . Em outras palavra s , uma aná- pela Sa ú de (MOI) e a obra de Geor ges Ca n g u i-
lise baseada exclu s iva m en te no trabalho pre s- l h em – vão reforçar as proposições já apre s en-
c ri to / teóri co rem ete a uma avaliação equ ivoc a- tadas. Em primei ro lugar, Schwartz (2000) é
da dos con d i c i on a n tes da saúde, pois não tra- b a s t a n teassertivo qu a n do enuncia que não se-
duz o real do trabalho e os modos operatórios ria possível viver sob total heterodeterm i n a ç ã o.
reg u l adores en gen d rados e implem en t ados pe- Por esse motivo, os homens e as mulheres fa-
los tra b a l h adores no curso da ação, que impli- zem um uso de si por si, além de um uso de si
ca modificações das pr ó prias situações. Por es- pelo outro. Dito de outro modo, para viver e
se motivo, esse tipo de análise, que poderíamos trabalhar, buscam rec riar o mei o, produ z i n do
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novas normas (Ca n g u i l h em, [1947] 2001). O buscam efetiva m en te articular pe s quisa e inter-
ângulo a partir do qual Schwartz ob s erva o tra- venção sobre o processo de trabalho. E, por ou-
balho é aqu ele que ten de a ser negado-ign ora- tro lado, em meio ao deb a te sobre o fim do tra-
do pelas organizações. É o ângulo da vida, do b a l h o, ele é até mesmo apontado como mais
trabalho vivo, bu s c a n do iden tificar os “possí- adequ ado do que as noções de em prego e de
vei s”, pre s en tes nas ativi d ades. Encon trar a vida trabalho (em seu senti do gen é ri co, cf. Hirata,
pre s en te no processo de trabalho nos parece 2002). Não há, en tret a n to, uma definição única
fundamental qu a n do preten demos construir de ativi d ade de trabalho. Para os er gon omistas
a l tern a tivas – em parceria com os pro t a gon i s- da atividade ela pode ser definida como uma
tas da atividade – que favoreçam a saúde dos resposta a constrangimentos impostos ex te-
gru pos envo lvidos. Eviden temen te isso pre s su- riormen te ao trabalhador, sen do esta simu l t a-
põe um tipo de saber, uma inteligência da pr á- neamen te su s cet í vel de os transform a r. Gu é rin
tica, que não pode deixar de ser considerada – et al. (2001) afirmam que ao falarem de situ a-
como aliás já ch a m avam atenção Ivar Oddone ção de trabalho não se referem som en te à tare-
e seus parcei ros na década de 1970 (Oddone; fa e ao seu ambi en te físico, mas também à di-
Re & Bri a n ti . [1977] 1981). m ensão histórica em que a atividade se proce s-
O interesse em ado t a rmos o “pon to de vista sa. Buscando avançar nesta mesma dire ç ã o, a
da ativi d ade” está na po s s i bi l i d ade de ex p l ora r- partir da Clínica da Ativi d ade, Clot (2001) en-
mos outros caminhos para o nece s s á rio de s en- ten de que o sign i f i c ado da atividade se encon-
volvimento do campo da Saúde do Trabalha- tra no movimento de reconcepção da tarefa,
dor, con tribu i n do com o avanço de um de seu s para assim atribuir outras finalidades à ação
princípios – a interdisciplinaridade – na med i- além daqu elas previstas pelos or ganizadore s .
da em que este ponto de vista exige o cruza- Enfim, afirmamos a importância de incor-
m en to de en foqu e s . Co l a borando também pa- porar o pon to de vista da ativi d ade porque en-
ra potencializar outra “questão-ch ave”, a inte- ten dem o s , como Schwartz (2000), que o traba-
gração da experiência dos trabalhadores no lho é lu gar de rec riação daquilo que foi formu-
processo de produção de con h ecimen to (Lau- lado ex tern a m en te e antes mesmo do início do
rell & Noriega, 1989), c u ja sinergia – fecundo proce s s o. O con cei to de ativi d ade se refere a es-
cru z a m en to de enfoques – exige uma postura sa recriação remetendo ao caráter não to t a l-
de h um i ld ade ep i s temológica e a disposição pa- men te pad ron i z á vel da vida e do tra b a l h o. As-
ra retrabalhar os concei tos em diálogo críti co sim, a própria negação (ou ignorância) de qu e
com os saberes da experiência (também a se- ex i s te uma defasagem entre tarefa e atividade
rem retrabalhados), con forme propõe a ergo- pode ser danosa à saúde, pois as estra t é gias de-
l ogia (2000). Nesse sen ti do, co l oca-se em paut a senvolvidas na ação repre s entam exigências fí-
as repre s entações científicas sobre a re a l i d ade, sicas e psíquicas intensas. S chwartz (1988) re-
uma vez qu e , conforme lembra Czeresnia sume em poucas palavras esta idéia: identif ic a r
(2003), deve-se con s i derar um aspecto funda- o tra balho ao tra balho prescrito seria povoar a
m ental da construção da rac i on a l i d ade cien t í- esfera da produção material de trabalhadores
fica: os limites dos con ceitos de saúde e de d oen te s.
doença em referência à ex periência con c reta da Temos aqui, como dissemos, uma forte
s a ú de e do adoecer. Limites que parecem ser aproximação com a perspectiva de saúde pre-
ainda mais prof u n dos qu a n do a questão em fo- s en te em Canguilhem, p a ra qu em a instabi l i d a-
co é a relação saúde / trabalho. de é uma caracter í s tica das situações de vida e
O con cei to de ativi d ade perm i te com preen- trabalho. Em suas palavras o meio é sem pre in-
der o trabalho como um lugar permanente de fiel, sendo a saúde uma margem de to l er â n c i a
m i c ro - e s colhas – de deb a te de normas e valo- às infidelidades do meio e a capac i d ade de criar
res (Schwartz, 2000) –, pois o sujei to, nesta si- novas normas (Ca n g u i l h em, 1990). Com base
tu a ç ã o, é colocado diante de diferen tes rac i o- no próprio Ca n g u i l h em , Le Blanc (2002) sa-
n a l i d ades: racionalidade / n orma imposta pela lienta que não ocorre exclusivamente uma
hierarquia e racionalidade/norma do próprio adaptação do ser humano aos imperativos do
coletivo de trabalhadores (seu patrimônio, su a s tra b a l h o, pois neste caso a atividade su bj etiva
de s cobertas co tidianas e valores – econ ô m i co, corresponderia apenas a uma interiorização
social, po l í tico, de solidari ed ade , saúde etc.). das normas exteriores. O ser humano, como su-
É import a n te ainda sinalizar que o con cei to j ei to cri ador de norm a s , vive seu trabalho tam-
de atividade está no centro de abord a gens qu e bém a partir de suas preocupações, na med i d a
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em que a realização de uma tarefa passa pela em que sua atividade de inserção em um meio ca-
invenção de um uso de si (Schwartz, 2000). O racterístico, seu modo de vida escolhido ou impos-
autor pro s s egue dizendo que a vida no traba- to, esporte ou traba l h o, contribui para modelar
lho não se re sume a imposições, mas que ex pri- seu fen ó tipo, isto é pa ra modificar sua estrutu ra
me outras po l a ridades (afetiva, i n telectual, cul- morfol ó gica, levando a singularizar suas capa ci-
tural), cujo mau uso no trabalho pode com- dades (idem ) . A saúde, como estado do corpo
prom eter a saúde. Logo, para el e , reduzir o tra- dado, está ligada às margens de segurança orgâ-
balho à manutenção das normas é ver a vida nica. A má saúde é a limitação do poder de tole-
humana sob o ângulo da doença – que é o pri- rância e de compensação das agressões ambien-
mado do idênti co e ju s t a m en te a impossibili- tais. A saúde , como ex pressão do corpo produ-
d ade de fazer aparecer o novo – mais do que da to, é uma segurança vivida no sen ti do duplo de
s a ú de – que é criação do novo e simultanea- seg u rança con tra o ri s co e da audácia para cor-
m en te recusa do idêntico. O caráter patológi co rê-lo. É o sen ti m en to de uma capac i d ade de ul-
desta redução engendra uma separação entre trapassar capacidades iniciais. Para Caponi
vida e tra b a l h o, em que o trabalho sem pre ter á (2003), devemos considerar a complex i d ade
um valor negativo. A reconciliação do trabalho desta distinção aparen tem en te trivial, pois tudo
e da vida é obtida pela po s s i bi l i d ade de cri a ç ã o, pa rece indicar que é mais simples normalizar
pelos trabalhadore s , de “m i c ro - n orm a s” no co n dutas do que tra n sfo rmar condições perversas
meio de trabalho. Com base nisso, nos per g u n- de existênci a. No que tange à Saúde do Traba-
tamos: não caberia ao campo da Sa ú de do Tra- lhador isso remete à com preensão de como o
b a l h ador privilegiar estu dos e intervenções qu e m eio de trabalho intera ge com o corpo, dando-
possibilitem a ampliação da capacidade dos se maior ou menor ênfase à sua dupla condição.
trabalhadores de criarem novas normas (inclu- Em outras palavras, o qu a n to se apreende de
sive de saúde) relacionadas a cada situ a ç ã o, forma equilibrada essa dupla relação com o
com suas singulari d ade s ? meio. Os estudos, bem como as ações, estão
Para mel h or com preen der essa reflexão (Le orientadas mais no sentido de intervir no poder
Bl a n c , 2002), cabe lembrar que Ca n g u i l h em do corpo de compensar as agressões ambientais
en ten de a saúde como polari d ade dinâmica en- ( a través da assistência e de reg u l a m entação do s
tre o indiv í duo e o mei o : O co rpo que vive é esse danos à saúde) ou no poder de mudar as condi-
exi s tente singular, cuja saúde exprime o tipo de ções ambi entais inicialmen te dadas (através da
poderes que o co n s tituem na medida em que el e redução da ex posição a ri s cos ou, como apon-
deve viver sob imposição de tarefas, em rel a ç ã o tamos anteri orm en te , de intervenções dirigidas
de exposição a um ambiente onde el e , inicial- à ampliação da capacidade de criação de nor-
m en te, não escolhe. O co rpo humano que vive é o mas de trabalho com vistas à saúde)?
co n j u n to dos pod eres de um exi s ten te que tem ca- Essas questões rem etem eviden temen te à
pacidade de avaliar e de representar pa ra ele discussão sobre a con cepção de atividades de
mesmo esses pod ere s , seu ex erc í cio e seus limite s. prevenção e promoção da saúde ligada ao tra b a-
Com isso chama atenção que as impo s i ç õ e s l h o, bem como às con cepções de interven ç ã o.
do mei o, das tarefas, estarão de alguma forma Para Caponi (2003) as intervenções diri gidas à
sem pre pre s en te s , porém a vida do corpo em redução de exposições a condições de vida insa-
ação (no trabalho, por exemplo) é expressa pelo lu bres são essenciais se com preen dermos que a
seu poder de en f rentar essas imposições, a par- s a ú de só pode ser pen s ada nesta po l a ri d ade di-
tir de avaliações de seu próprio poder. Entende- nâmica, vi n c u l ada ao mesmo tem po ao indiví-
mos que se trata aqui de um poder também co- duo e ao mei o : É no interior de um meio capaz de
letivo: o que mudar e como mudar esse am- ga ra n tir uma existência saudável que o indiv í du o
bi en te noc ivo que en contramos? Para melhor pode co n s ti tu i r- se como um su jei to capaz de tol e-
en ten dermos essas idéias, podemos pro s s eguir rar as infrações e as infidelidades a que estamos
com a seg u i n te reflexão (Ca n g u i l h em1990): “o expostos (idem ) . Essa autora propõe uma discus-
corpo é simultaneamente um dado e um pro- são sobre estra t é gias de prevenção e de prom o-
duto”. O corpo é um dado na medida em que ção da saúde baseada na com preensão de Ca n-
ele é um gen ó ti po, efei to nece s s á rio e singular g u i l h emde que a saúde implica seg u rança con-
dos com pon en tes de um patrimônio gen é ti co. tra os ri s cos, audácia para corri gi-los e po s s i bi l i-
Nesse caso, códigos gen é ti cos que podem ou d ade de su perar nossas capac i d ades iniciais. As
não determinar efei tos pato l ó gi cos, con forme o e s tra t é gias de prevenção das doenças poderi a m
m eio em que se vive . É um produto, na medida s er con cebidas a partir dessa pri m ei ra implica-
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ção da saúde (seg u rança con tra os ri s cos), privi- desco nfo rto intel e ctual (e à nece s s á ria hum i ld a-
legiando a minimização da ex posição a riscos de ep i stem ol ógic a) , pois é incômodo / de s con for-
de s n ece s s á rios. Por sua vez, as estratégias de t á vel recon h ecer os limites dos con cei tos cien-
promoção da saúde deveriam con s i derar que a tíficos diante de uma realidade tão complexa
s a ú de implica algo mais, privi l egiando a maxi- como o trabalho em sua relação com a saúde. É
mização da capac i d ade dos indiv í duos para en- incômodo recon h ecer as limitações dos mode-
f rentar e corri gir aqu eles ri s cos ou traições qu e los de intervenção que utilizamos, até porqu e
inevi t avel m en te fazem parte de nossa história. seus efeitos tenderão a ser sempre muito
E n tendemos que essas ref l exões são bastante a quém do que é esperado pelos tra b a l h adores e
coeren tes com o campo da Sa ú de do Tra b a l h a- podem mesmo ser con tr á rios ao que eles de s e-
dor e podem de fato con tri buir com s eu ava n ç o jam (especialmen te se o envolvimen to desses
te ó ri co. É coeren te no sen ti do de qu e original- no processo for re s tri to ) . Logo, nos parece fun-
m en te este campo nasce de uma recusa de mo- damental uma análise sobre os conceitos qu e
delos de análise que de s con s i deram a su bj etivi- vêm sen do ado t ados neste campo da Sa ú de Co-
dade / ex periência dos tra b a l h adores, ou seja, qu e letiva, vi s a n do a um desempenho prof i s s i onal
negam a capac i d ade que eles têm para detectar mais satisfatório e mais próximo daquilo qu e
o que é noc ivo à saúde no ambi en te de tra b a l h o. anseia a população de trabalhadores e traba-
É coeren te também porque se trata de uma l h adora s .
abord a gem que preten de tanto atuar na segu-
rança con tra os ri s cos (intervi n do no ambi en te
e processo de trabalho) qu a n to pre s supõe a ne- Outros olhares sobre o trabalho:
cessidade de con s trução de parcerias en tre pro- con tribuições dos estudos de gênero
f i s s i onais de saúde e trabalhadores (entre ou-
tros) para o en f ren t a m en to e correção desses Como já dissem o s , ao tentar mel h or com preen-
ri s cos. Para esse en f rentamen to é imprescindível der o que é trabalhar, ch egamos aos estu dos qu e
con h ecer o en torn o, ou seja , detectar o que nel e tratam das “relações sociais de sexo”, que ao pro-
precisa ser tra n s formado, poi s , como a obra de bl em a ti z a rema divisão sexual do trabalho, a m-
Ca n g u i l h em apon t a , viver é também con h ecer. pliaram a pr ó pria noção de trabalho. Da mesma
Como po l a ri d ade dinâmica, a vida não é apen a s forma que as análises apre s en t adas acima de-
su bmissão ao meio, mas também insti tuição de mon s tra ram ser o trabalho uma ativi d ade en i g-
s eu pr ó prio meio e, port a n to, é uma forma de mática, esses estudos perm i ti ram o en ten d i m en-
con h ecimento. Pa rece ser nesse sen ti do qu e to de que as relações de gênero atravessam o
Ta m bellini (1976), ao teorizar sobre o campo da mundo do trabalho, constitu i n do-se em mais
Sa ú de do Trabalhador, fala em “m odos de andar um com pon en te de sua com p l ex i d ade.
a vida”, referi n do-se à capac i d ade das co l etivi d a- Um el em en to import a n te co l ocado por es-
des de re s pon der com plasti c i d ade às condições ses estu dos se refere à nece s s i d ade de recusar a
em que vivem, em correspondência ao que Ca n- oposição universal/particular, na medida em
g u i l h em de s i gna como modos de ser da vida. É que a idéia de universal reflete apenas um único
i n tere s s a n te chamar a atenção aqui que a ativi- pon to de vista, n ega n do a plura l i d ade de pers-
d ade de trabalho é sem pre um desafio e que em pectivas, demandas e nece s s i d ades. Por esse
s eu de s envo lvi m en to os trabalhadores precisam motivo, é proposta a produção de “con h ec i-
s er “a u d ac i o s o s”( con forme ex pressão de Ca n- mentos situado s” ( Ha raw ay, 1988), i s to é, i n s-
g u i l h emna obra acima citada) para fazer fren te critos numa rede densa de interações em que se
ao que não é dado pela or ganização (pre s c rita) valoriza as singularidades. Esta questão nos per-
do trabalho. Essa audácia implica sem pre correr mite escl a recer que esse é mais um desafio do
ri s co s , como bem discute No u roudine (2003). campo em análise nesse tex to: romper com a
Por isso pensamos ser fundamental buscar uma iden tificação do trabalho masculino como uni-
pers pectiva situada das ações de prevenção e versal. Se de um lado isso nos rem ete a uma
promoção da saúde dos tra b a l h adores, ou seja, análise mais cuidadosa das singularidades; de
que as normas de trabalho e de saúde tenham outro, nos conduz a co l ocar o foco sobretudo
uma base con c reta, os modos opera t ó rios utili- nas relações sociais (em que classe e sexo soc i a l
z ados pelos tra b a l h adores e sua ativi d ade de tra- são considerados co - ex ten s ivos), tal como de-
balho em sen ti do mais amplo (Clot, 2001). fen de Ker goat (2000). Para essa autora , as rel a-
Por fim, valer dizer que essas questões nos ções so ciais de sexo têm uma base material: a di-
rem etem ao que Schwartz (2000) den omina de visão sexual do tra b a l h o, con s ti tuída por siste-
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mas de hiera rquização e poder. Diversos estu- i den tificar a evo lução das formas de divisão se-
dos, e s pec i a l m en te os que envo lvem compara- xual do trabalho. Uma explicação para sua per-
ções intern ac i onais, como os re a l i z ados por Hi- manência na penu m bra é que em muitos casos
rata (2002), mostram o caráter heurísti co do o trabalho prof i s s i onal das mulheres guard a
con cei to de divisão sexual do tra b a l h o, pois el e prox i m i d ade com o trabalho domésti co, além
permite considerar a multidimensionalidade do de muitas vezes ser re a l i z ado no espaço priva-
tra b a l h o. Permite apreender seus aspectos so- do, caracterizando-se assim pela atom i z a ç ã o.
ciais, econ ô m i cos, or ga n i z ac i onais e su bj etivo s , O utra explicação é a insistência em tomar as
ex i gindo a conjugação de diferen tes análises com petências requ eridas nessas atividades co-
te ó ricas para sua análise. Além disso, como ins- mo qu a l i d ades natu rais, m a n ten do-o na invisi-
tru m en to con cei tu a l , a divisão sexual do tra b a- bi l i d ade e implicando sua desvalorização. En-
lho favorece a visibilização das diferen tes mo- tret a n to, o trabalho em co s tu ra, na agricultura
d a l i d ades de ativi d ades e suas articulações, poi s e no com é rc i o, en tre outro s , não se con s ti tu em
co l oca em evidência uma das formas pela qu a l de fato ativi d ades novas para as mu l h ere s . São,
a sociedade organiza a produção e a reprodu- ao con trário, exemplos de trabalhos prec á rios,
ção. Para Haicault (1984) deve ser dada ênfase a tomizados e invi s i bi l i z ados que as mulhere s
ao trabalho mental nece s s á rio para a re a l i z a ç ã o de s envo lvem há mu i to tem po, muitas ve zes em
de tarefas su perpostas, vi n c u l adas à produção e troca de ren d i m en tos co l etivos ou familiares e
à reprodu ç ã o. Port a n to, para a autora a noção que se efetivam em grandes jornadas. Da mes-
de dupla jornada não seria a mais adequada pa- ma forma, as atividades ligadas ao cuidado com
ra definir essa imbri c a ç ã o, pois ela na verd ade o corpo (como a en ferm a gem e assistência so-
não correspon de a uma adição de taref a s . Pro- cial) sempre foram assumidas pelas mu l h ere s ,
põe uma análise que esteja atenta ao tempo e ao até mesmo sem serem remu n eradas. E ainda há
espaço e suas con ex õ e s , além do modo como o todo um espectro de empregos de escritório.
trabalho profissional recicla as competências Como afirma Daune-Ri ch a rd (2003) as ati-
ex i gidas no trabalho doméstico. Nessa mesma vi d ades de serviço são excluídas de uma repre-
d i re ç ã o, é sugerida uma análise que con jugue sentação em termos de tec n i c i d ade e são con s i-
trabalho remu n erado e não remu n erado, assim deradas pertencentes a um universo de trabalho
como que se considere a “saúde do tempo” (Bri- em que são requ eridas qualidades ineren tes à
to, 1999). Essa proposição se ju s tifica pri m ei ra- n a tu reza feminina, mascara n do as compet ê n-
men te pelo fato de que em muitos casos a re- cias que são aí mobi l i z ad a s . Se a divisão sex u a l
muneração das mulheres (e dos homens) é pro- do trabalho oper á rio é apoi ada no discurso da
ven i ente de mais de uma atividade prof i s s i on a l f ra gi l i d ade e paciência fem i n i n a , a plasti c i d ade
e o trabalho não remu n erado não se limita ao das relações sociais de sexo perm i te um discur-
dom é s ti co. Em segundo lu gar, essa proposição so atual em que a “natu reza fem i n i n a” é carac-
busca co l ocar em evidência a ex tensão do tem- terizada pelo senso prático e pela capacidade de
po e sua forma de uso como con d i c i on a n te de entrar em relação com os outros (Tahon, 2004),
saúde / doença. Podemos falar ainda da impor- exigência dos novos setores produtivos contem-
tância de colocar em foco as pressões do tempo, por â n eos. Ca be ressaltar que a tendência atual
ten do em vista que a alternância tra b a l h o / tem- de aguçamen to da divers i d ade e heterogen ei d a-
po livre não é ex peri m en t ada por gra n de parte de das situações de trabalho exige maior aten-
das trabalhadoras e que a simultaneidade das ção para atividades não trad i c i onais e atípicas,
t a refas e os ritmos intensos são exigências co- muitas delas do chamado setor informal, que
muns nas diversas mod a l i d ades de trabalho fe- vêm inclu s ive aprox i m a n do o trabalho fem i n i-
minino. no do masculino. Para Thébaud-Mony & Ap-
O valor heurístico do conceito de divisão se- pay (2000), a prec a rização en con tra legitimida-
xual do trabalho se revela na possibi l i d ade de de nas formas instituídas de divisão do trabalho
detectar suas novas fron teiras, engendradas a social entre homens e as mulheres.
partir dos mesmos princípios: a separação (do É importante ainda registrar o papel de-
trabalho das mulheres e dos homens) e a hie- s em pen h ado pelo trabalho dom é s ti co no Bra-
rarquização (maior valorização do trabalho sil. Con forme Costa (2002), o exame de certo s
masculino). Como já mostraram as pesquisas “trabalhos por en com en d a”, fora das casas, co-
históricas, as mu l h eres sem pre tra balharam: o mo a lavação de roupas, mostra qu e , no Bra s i l ,
problema é, port a n to, recon h ecer o trabalho essa e outras atividades se con centram nas ca-
prof i s s i onal realizado por esse grupo, ou seja, sas, ainda hoje, ao contrário de outras expe-
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riências de países capitalistas ava n ç ados indus- pliada do que seja saúde, considerando o ser
tri a l m en te, em que as lavanderias co l etivas se humano nas suas dimensões bi o l ó gica, p s i co s-
propagaram rapidamente. Sinaliza que nem a social e histórica (Brito, At h ayde & Neves,
pre s en ç a , no merc ado bra s i l ei ro, dos aparel h o s 2003), a incorporação da probl em á tica do tra-
el etrodom é s ti cos nos anos 50 (século 20) pode balho em sua amplitude e com p l ex i d ade (qu e
mu d a r, sign i f i c a tiva m en te , a aplicação do tem- engloba, como vimos, a questão da divisão se-
po feminino às coisas do lar, ten do em vista as xual do trabalho e das relações sociais de sexo)
taxas de natalidade e o grande tamanho das passa a ser uma exigência epistemológica.
proles. A autora ac re s centa o fato de que a de- Percebemos que os estudos que con tem-
l egação de cuidados da casa a outras mulheres plam um olhar de gênero forn ecem el em en to s
se dá porque não há outra altern a tiva – públ i- que evidenciam a necessidade de criação de ou-
ca/coletiva – o que ocorre muitas ve zes atrav é s tros conceitos e métodos de pesquisa. Seja devi-
de meios informais de remuneração daqu elas do a probl emáticas que ex trapolam as noções
que assumem os afazeres dom é s ti cos. dispon í vei s , seja pelas descon ti nu i d ades nos es-
Por outro lado, ob s erva-se que as implica- paços de trabalho que implicam uma su cessão
ções do trabalho “desqualificado” se estendem à de situações e exposições de difícil identi f i c a-
família (Ma rcon des et al., 2003), corrobora n do ç ã o. Seja também pela importância dos aspec-
com a tese da centralidade do tra b a l h o. Os es- tos subj etivo s , uma vez que esses estão pre s en-
tu dos de gênero acabam mostra n do que os es- tes tanto na definição dos problemas a serem
tere ó ti pos de masculinidade e fem i n i l i d ade são pesquisados, qu a n to na escolha dos indicadores
a propriados pela lógica dom i n a n te de divisão de análise. As s i m , alguns autores, como Ara ú j o
s exual do trabalho, gera n do assim uma banali- e co l a boradores (2003), alertam para po s s í veis
zação dos ri s cos do trabalho, t a n topara as mu- inadequações do uso de indicadores con s tru í-
l h eres qu a n to para os homens (Vogel, 2001). dos para avaliar os efei tos do trabalho na saúde
Dessa forma, esses estudos indicam a impor- dos hom ens em estu dos en tre as mulhere s . Vale
tância de con s i derar a divisão sexual do traba- assinalar, porém, que para evitar a permanência
lho em toda análise e intervenção acerca da saú- numa pers pectiva que não se diferencie sign i f i-
de do tra b a l h ador, assim como apontam a ne- cativa m en te do modelo tradicional de análise
ce s s i d ade de elaboração de con cei tos relativo s da relação saúde-trabalho (da Medicina do Tra-
às nocividades das situações de trabalho que te- balho ou da Sa ú de Ocupac i onal) devemos estar
nham como referência as ex periências das tra- especialmente atentos às formas que os homens
b a l h adoras e trabalhadores (Brito, 1999). Em e as mu l h eres lutam con tra os efei tos patog ê n i-
com p l em en to a essa proposição, Doyal (1994) cos do ambi en te de trabalho. Nesse sen ti do ca-
sugere que mesmo nas investigações sobre a be lem brar que, con forme Dejours (1995), a
violência dom é s tica é preciso levar em conta a saúde é sem pre intersubjetiva e social e que a
d ivisão sexual do trabalho, pois o domicílio de- dinâmica ex i s ten te no interi or dos coletivos de
ve ser apreen d i do como um local de trabalho, o trabalho – sem pre sexuados – tem um papel
que en ten demos como mais uma indicação da pri m ordial na sua con s tru ç ã o. Ainda de acordo
capac i d ade con tida no campo da Sa ú de do Tra- com Dejours (2004), o trabalho apre s enta um
balhador no sentido de interpelar toda a área da c a r á ter paradoxal, pois faz a mediação das rel a-
Sa ú de Co l etiva. Já Ma rcon des e co l a boradore s ções de dominação dos homens sobre as mu-
(2003) mostraram claramen te que a interação lhere s , mas é também o instrumen to decisivo
en tre trabalho domésti co e remu n erado é um da re a propriação, pelas mu l h eres, de seus direi-
aspecto - chave na com preensão do impacto di- tos civis e cívicos, o que representa para nós um
feren c i ado das condições de trabalho sobre a meio de con quista da saúde a partir da criação
s a ú de dos homens e das mulheres. Os autore s de novas normas de vida.
indicaram que se de um lado a ad a ptação das
mu l h eres ao trabalho notu rno depen de da aju-
da de familiares (pois durante o dia elas tam- Con s i derações finais
bém trabalham em casa, ao con trário de seu s
co l egas de fábrica), a expect a tiva de prover as Apesar de estarmos trazendo aqui materiais e
n ecessidades da família parece con s tituir uma en foques tão diversos, podemos iden tificar al-
a tribuição que gera novos sof ri m en tos para os gumas convergências ou interfaces sign i f i c a ti-
homens. De fato, na medida em que en tende- vas entre eles. A indicação da importância da
mos que é necessário uma com preensão am- ex periência dos tra b a l h adores e tra b a l h adoras,
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dos saberes informais “não escri to s” ( O d done, as po s s i bi l i d ades, as saídas, as altern a tivas ex i s-
Re & Brianti [1977] 1981), para uma maior ten tes ou a serem en gen d radas para que a vida
compreensão das questões que atravessam o no trabalho seja mais favor á vel à saúde, ao pra-
trabalho (en tenden do que a saúde é uma des- zer. Mesmo que já existam alguns esforços nes-
sas questões) é um exemplo de tais interf aces. se sen ti do, é nece s s á rio que se mu l tipliqu em os
E n tendemos que as relações de gênero têm estu dos que mostrem pistas sobre essas possi-
também um caráter norm a tivo / pre s c ri tivo (nes- bi l i d ades. Para tal empreitada, devemos lem-
se sen ti do trata-se de uma imposição do mei o ) , brar da importância da interd i s c i p l i n a ri d ade e
que se apre s en t a , no en t a n to, de forma natura- do diálogo sinérgi co en tre os diferen tes sabe-
l i z ad a . As relações de gênero e a divisão sex u a l re s . Reforçar essa pers pectiva torna-se funda-
do trabalho estão na base de uma prescrição na- mental para que novos con cei tos e métodos se-
tu ra l i z ada do trabalho (Brito, 1999). A aborda- jam esboçados, rompendo efetivamente com
gem de gênero pode ser articulada às análises uma ótica cen trada exclusiva m en te nas form a s
com foco na atividade de trabalho, na medida de adoecimen to, nos aspectos danosos do tra-
em que esta com porta um recon h ec i m en to das balho e na visão estática de trabalho (de um
pre s c rições e das ten t a tivas de subvertê-las. processo de trabalho pac i f i c ado por uma servi-
Além disso, o pon to de vista da ativi d ade pode dão voluntária ao processo de valorização de
certamente ajudar na vi s i bilização e com preen- capital, um meio de trabalho sem variabilida-
são do trabalho concreto das mulheres. des, trabalhadores passivos aos “impactos”).
Os en foques aqui recuperados (o trabalho Ca be lem brar o que alguns estudos já mostra-
como atividade e como materi a l i d ade das rel a- ra m : não basta reunir prof i s s i onais de diferen-
ções de gênero) sintonizam com a visão de qu e tes formações em um Serviço de Saúde para
a relação saúde - trabalho é com p l exa e qu e , por que uma abord a gem com caráter interd i s c i p l i-
esse motivo, não pode ser apreendida por mo- nar (e intersaberes) se desenvolva (Oliveira,
delos causais simplificados. Isso porqu e , seja 2001). É por isso que ac reditamos que as disci-
nos estudos que tratam da atividade de tra b a- plinas e abord a gens aqui brevem en te apre s en-
lho seja naqu eles que discutem as relações de t adas podem con tri buir para o de s envo lvi m en-
gênero, há indicações de que o trabalho não to do campo da Saúde do Trabalhador (e da
pode ser vi s to exclusivamente como danoso, área da Sa ú de Co l etiva). Do mesmo modo, pa-
pois ele tem uma função muito importante ra que a ex periência dos tra b a l h adores e tra b a-
também na construção da saúde. Entretanto, lhadoras seja efetiva m en te incorporad a , certa-
mesmo se detivermos o olhar no trabalho co- mente não basta uma participação periférica
mo fon te de adoecimento, observamos que desses pro t a gonistas nas pesquisas e ações do
uma visão estática do processo de trabalho c a m po. Essas questões nos remetem, por um
( on de a dinâmica das mudanças e ren ormati- lado, à atuação dos prof i s s i onais de Saúde do
zações perm a n en temente em curso e as dife- Tra b a l h ador e, por outro, aos espaços e modos
rentes relações sociais são ignoradas ou des- de interação en tre co l etivos de prof i s s i onais de
con s i deradas) não é su f i c i en te(e neste sen ti do saúde e de coletivos de tra b a l h adores.
a mais pertinente) para que se avance na pro- Como consideramos que o trabalho é cen-
dução de con h ecimen tos sobre a tem á ti c a , poi s tral para a vida (saúde / doença) e como ac redi-
o que se preten de afinal é afirmar as po s s i bi l i- tamos, conforme Ca n g u i l h em (1990), que a
d ades de saúde e vida. Essa visão do trabalho – saúde é a capac i d ade de criar novas normas em
que se limita ao trabalho abstra to e assex u ado polari d ade dinâmica com o meio (inclusive o
– acaba assem el h a n do-se à visão das corren tes meio de trabalho), pensamos que a atuação
com as quais se preten de diferenciar ao con s ti- profissional em Saúde poderia se voltar um
tuir o campo da Sa ú de do Tra b a l h ador. No qu e po u co mais para a de s coberta das po s s i bi l i d a-
tange ao trabalho como operador de saúde, e s- des de mudanças. Isso implicaria a ampliação
se aspecto perti n en te ao trabalho con c reto pre- do diálogo com os diferen tes grupos de traba-
cisa ser mais bem con tem p l ado pela Sa ú de Co- l h adore s , de modo a que as soluções sejam en-
letiva. Nas palavras de Teiger (1993), o traba- contradas conjuntamente. Por outro lado, o
lho é um “con cei to enc a rn ad o” ( em um espaço, princípio de “não delegação” proposto pelo
em um tempo, em um corpo). Assim, para o Modelo Operário Italiano (Oddone, Re &
campo da Saúde do Trabalhador coloca-se o Brianti, [1977] 1981) poderia ser mais e mais
desafio de ex p l orar, mais e mel h or, esse aspecto bem dinamizado, uma vez que a experiência
da relação saúde-trabalho, enfim, de detectar ac u mulada pelos hom ens e mu l h eres na ativi-
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d ade de trabalho é insu b s ti tu í vel . É nesse sen ti- Pesquisa, den tre outros fatores a fim de evitar a
do que nos referimos aos espaços e modos de su prem acia do saber cien t í f i coem relação a sa-
i n teração entre prof i s s i onais de saúde e traba- beres advindos da prática (Brito, At h ayde &
lhadore s . Na medida em que os desafios com Neve s , 2003a), ou de sua outra face, uma visão
os quais nos dep a ramos são mu i tos e divers i f i- empobrecida da ciência. Dito de outro modo,
cado s , p a rece-nos ser impre s c i n d í vel a criação com esse processo poderemos não apenas en ri-
de uma mu l tiplicidade de formas de interven- qu ecer as análises, como desenvo lver ações qu e
ção com foco na saúde dos tra b a l h adores e tra- con templem as singularidades, conforme a
b a l h adora s . Apostamos na invenção de espaços proposta aqui apre s en t ada de criação de n o r-
d ivers i f i c ados de deb a tes e análises sobre as re- mas de saúde a partir das situações reais (sem-
lações en tre trabalho e saúde, privilegiando-se pre sexuadas) do trabalho.
a ex periência dos pro t a gonistas do trabalho em Para finalizar, vale ressaltar que provavel-
foco. Esses espaços podem ser pen s ados como mente tenhamos atualmente várias formas de
i n s tru m en tos de form a ç ã o, análise e interven- compreender o próprio campo da Saúde do
ção sobre as questões que intervêm na relação Trabalhador, ou mesmo várias linhas de pen s a-
saúde - tra b a l h o. Somen te desta forma podere- men to e ação constituídas no seu interior. O
mos ampliar a com preensão sobre essa relação, e s t í mulo às iniciativas diferenciadas, que este-
a brindo caminho para os diferen tes pon tos de jam dirigidas à expansão da vida e da saúde
vista e percepções. Por exem p l o, através de dis- dos/as trabalhadores/as, assim como a incor-
po s i tivos similares às Comu n i d ades Científicas poração de idéias não hegemônicas, devem ser
Am p l i adas con s ti tuídas pelo movimento italia- gara n ti dos como estra t é gia de cre s c i m en to, re-
no – que em nossas inve s ti gações temos prefe- n ovação e consolidação do campo e como um
rido chamar de Comunidades Ampliadas de fator que favorece a inclusão de mais parcei ro s .

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Artigo apre s en t ado em 15/06/2005


Aprovado em 27/07/2005
Versão final apre s en t ada em 27/07/2005

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