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CAPÍTULO

2 Uma revolução
no pensamento
Habilidades da BNCC:
EM13CHS101 EM13CHS104 EM13CHS106 EM13CHS501 EM13CHS504
Estudaremos neste capítulo:

Reprodução/Mauritshuis, Haia, Holanda


Uma transformação científica
e filosófica

Empirismo e racionalismo

Novas formas de pensar para um


mundo em transformação

Crise do pensamento metafísico

A lição de anatomia do Dr. Tulp, de Rembrandt, 1632. Óleo sobre tela de 169,5 cm 3 216,5 cm. Museu Mauritshuis, Haia.

Observe a imagem da abertura deste capítulo e responda:


1. O que diferencia o conhecimento científico de outras formas de conhecimento?
2. Quais são os critérios para a validação do conhecimento verdadeiro?

O homem de fé vive de joelhos. Reconhece que tudo é recebimento e toma uma atitude de louvor, súplica e cuidado.
Seu olhar é cheio de misericórdia. Um olhar de piedade que o leva a descruzar os braços e a restaurar na terra a obra
inicial da criação, a obra do Deus que com infinita ternura cuida de toda criatura. Quando aparece o homem de fé, a
humanidade estremece, comovida por sua ternura, e a terra se transforma na estrela mais brilhante do universo. […]
O homem de fé se ajoelha e está na aprendizagem em que recebe, acolhe e cuida. Sacrifica-se. Crucifica-se pela criatura.
O homem de ciência se levanta e vive de pé! Confronta-se com a realidade. Aprofunda-se nela. Busca o conhecimen-
to das causas que a regem para controlá-la e dominá-la. […] A ciência é ferramenta que vence a resistência da realidade.
Com ela invertemos a aprendizagem religiosa de prece e de súplica. Desenvolvemos outra alternativa de confronto com
a realidade. Estamos hoje na vontade dessa alternativa e a saudamos como a mais alta cultura. Os povos que a desco-
nhecem são considerados atrasados e subdesenvolvidos; povos que ainda vivem de práticas mágicas e religiosas. Pode-
mos caracterizar a ciência moderna como aprendizagem de dominação da natureza. Está na antítese da aprendizagem
religiosa. A religião suplica forças para acolher o que acontece. A ciência acumula forças para dominar.
BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao pensar: o ser, o conhecimento e a linguagem. Petrópolis: Vozes, 2006.

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Foco no tema

Filosofia
Uma transformação científica e filosófica
A pintura A lição de anatomia do Dr. Tulp, de Rembrandt, representa o nascimento de uma nova con-
cepção de natureza e de mundo, a chamada Revolução Científica do século XVII. Trata-se de um ótimo
recurso para a reflexão sobre a transição da Filosofia da Idade Média, ao Renascimento e ao Barroco; da
fé à razão como fundamento do conhecimento humano. O homem de fé cede lugar ao homem de ciência,
deslocando-se do cosmos como uma totalidade integrada em direção ao processo de dessacralização
da natureza.
Mas o que significa essa dessacralização? As convicções de que a realidade pode ser conhecida e de
que os fenômenos podem ser explicados pela razão humana e pela ciência determinam valores que re-
forçam o antropocentrismo. Ou seja, o ser humano se separa do cosmo, que passa a ser visto como obje-
to, com a possibilidade de ser dominado. O corpo é, assim, dessacralizado, isto é, assim como a natureza,
também passa a ser visto como objeto de investigação e de dominação científica.
A tela de Rembrandt parece indagar seu observador sobre o sentido da vida como uma totalidade
entre espírito e matéria que se esvai em meio às transformações no conhecimento. Ao observador,
causa certo desassossego, pois a imagem do cadáver, que um dia foi um corpo cheio de vitalidade,
agora está reduzido à pura matéria, pronto para ser dissecado. O olhar do dr. Tulp, no centro da ima-
gem, parece dirigir-se a um vazio. Ele não olha para o livro de anatomia nem para o braço dissecado,
mas sugere um pressentimento: um olhar dirigido à história, para além do momento e da experiência
vivida ali. Há, de um lado, certo fascínio diante do controle e domínio que o conhecimento científico
lhe oferece sobre aquele corpo inerte; de outro, existe uma inquietação diante do seu poder de de-
cisão sobre um corpo quando este se encontra isento de alma ou, ainda – quem sabe –, do peso da
responsabilidade perante a separação que a ciência moderna anuncia entre o fato científico e o valor
ético ou moral.
Dessa forma, o que se assiste nessa lição de anatomia é a valorização do poder da intervenção hu-
mana e do controle tecnológico da natureza por parte da atividade científica; do objeto de conhecimento
concebido como mero objeto à disposição do sujeito. O corpo dissecado, no centro da pintura, não se re-
duz apenas ao corpo humano; ele é o símbolo dos corpos, da natureza dessacralizada, transformada em
objeto da ciência. Essa nova relação do humano com a natureza altera, consequentemente, a concepção
que o humano tem sobre si mesmo.
Portanto, o nascimento da ciência moderna não pode ser reduzido a um momento de cientificização
do mundo ou à descoberta das leis que regem os fenômenos físicos. A Revolução Científica do século XVII
é uma profunda transformação científica e filosófica, uma ruptura com o quadro de pensamento em que
a metafísica e a ciência aristotélica se encontravam fundamentadas há mais de mil anos.
Autônoma em relação à fé e contrária às pretensões do saber dogmático, a ciência de Galileu é a ciência de
um realista. Realista é Copérnico, realista é Galileu. Este não raciocina como “puro matemático”, mas como físico,
considerando-se mais “filósofo” (isto é, físico) do que matemático. Em outros termos, na opinião de Galileu, a
ciência não é um conjunto de instrumentos (de cálculos) úteis (para fazer previsões), mas muito mais a descrição
verdadeira da realidade, dizendo-nos “como vai o céu”.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Kant. São Paulo: Paulus, 2004, p. 213.

O humanismo renascentista, ao propor uma nova forma de pensamento e de comportamento, despertou


maior senso crítico na observação e interpretação dos fenômenos naturais em vez de relegá-los à interpre-
tação de uma autoridade. Esse fato, em especial, somado às transformações históricas do período – como o
choque de culturas provocado pelos grandes descobrimentos, a Reforma Protestante e a Contrarreforma, as
lições de anatomia e as descobertas de Galileu Galilei e Isaac Newton – criaram as condições teóricas que
fundamentaram o surgimento da ciência moderna.
Embora a ciência seja uma atividade autônoma, o desenvolvimento científico não se dá de forma
isolada. Isso significa que as conquistas de Copérnico, Galileu e Newton não se resumem a trabalhos pu-
ramente científicos, mas a transformações teóricas, resultantes dos conhecimentos científico-filosóficos
de meados do século XVII.

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Assim, Revolução Científica é considerada o movimento de ideias científico-filosóficas que ocorreu
no período compreendido entre a revolução astronômica, provocada pela publicação da obra de Nicolau
Copérnico (1543), até o final do século XVII, com a obra e a física clássica de Isaac Newton (1687). Nesse
longo período de cerca de 150 anos, configura-se uma nova visão do mundo, em um longo e gradativo
processo, acompanhado pelo surgimento de novas ideias sobre o ser humano, sobre o conhecimento, a
ciência e as relações que essa nova visão estabelece entre ciência e sociedade, entre ciência e Filosofia
e entre saber científico e fé religiosa.
Inicia-se, então, aqui um grande debate em torno da questão da origem e dos limites do conhecimen-
to. Na nova concepção de saber, o Universo passa a ser entendido matematicamente, com leis determi-
nadas pela sua própria realidade, jogando por terra o modelo teocêntrico como explicativo e regulador
do funcionamento do Universo e de suas leis.

A ciência é experimental
O fundamento que distingue a ciência moderna é o método. Isso quer dizer que, através do experi-
mento, os cientistas buscam a verdade sobre o mundo. E, com base no método experimental, funda-se
a autonomia da ciência, sua independência em relação a outras formas de saber. A ciência abandona a
essência ou substância das coisas e dos fenômenos, em busca da qualidade dessas coisas e fenômenos
de modo objetivo, que possa ser comprovado, reunindo teoria e prática, ciência e técnica.

Reprodução/Galeria Nacional, Londres,Inglaterra

Experimento com um pássaro em uma bomba de ar, de Joseph Wright, 1768. Óleo sobre tela de 183 cm 3 244 cm.
Galeria Nacional, Londres.

Em suma: cores, odores, sabores etc. são qualidades subjetivas, ou seja, não existem no objeto, mas somente
no sujeito que sente, assim como as cócegas não estão na pluma, mas sim no sujeito que as sente. A ciência é
objetiva porque não se interessa pelas qualidades subjetivas, que variam de homem para homem, mas sim por
aqueles aspectos dos corpos que, sendo quantificáveis e mensuráveis, são iguais para todos. E nem a ciência quer
“buscar a essência verdadeira e intrínseca das substâncias naturais”. […] Assim, nem as qualidades subjetivas nem
a essência das coisas constituem o objeto da ciência.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Kant. São Paulo: Paulus, 2004, p. 213-214.

Para que não mais o falso seja considerado verdadeiro, torna-se fundamental, nesse momento, a questão
do método. É da eficiência do método que dependerá a verdade ou falsidade do conhecimento.

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teocentrismo: através de uma conciliação entre as teorias gregas
De olho sobre a natureza e a religião cristã, promove-se uma síntese har-

Filosofia
moniosa em que Deus é colocado no centro do universo.
Estas são as etapas do método científico: Com o Renascimento, surge o antropocentrismo; o ser hu-
mano se coloca no centro do Universo, determinando seu poder

MRS Editorial
sobre a natureza, agora geometrizada, concebida como sem vida,
mecânica, objeto a ser conhecido e dominado. Essa concepção foi
justificada pelo método científico inspirado na filosofia utilita-
rista de Francis Bacon, no dualismo de René Descartes, na mate-
mática e física de Galileu Galilei e, posteriormente, Isaac Newton.
Assim, na concepção moderna, nos séculos XVI e XVII, a natu-
reza, vista como objeto de contemplação humana, adquire outro
valor. Francis Bacon, com a máxima “saber é poder”, defendia
o conhecimento como forma de desvendar seus segredos para
dominá-la. Galileu, ao valorizar apenas aquilo que pudesse ser
mensurável e quantificável, retira da natureza suas qualidades
sensíveis, e a separação entre espírito e matéria de Descartes
afirma o universo constituído por matéria em movimento, onde
tudo funciona mecanicamente, descrevendo a natureza sem vida.
Um cartesiano olharia para uma árvore e a dissecaria, mas aí ele
jamais entenderia a natureza da árvore. Um pensador de sistemas veria
as trocas sazonais entre a árvore e a terra, entre a terra e o céu. Ele veria
o ciclo anual que é como uma gigantesca respiração que a Terra realiza
com suas florestas, dando-nos o oxigênio. O sopro da vida, ligando a
Terra ao céu e nós ao Universo. Um pensador de sistemas veria a vida
da árvore somente em relação à vida de toda floresta. Ele veria a árvore
como o hábitat de pássaros, o lar de insetos. Já se você tentar entender
a árvore como algo isolado, ficaria intrigado com os milhões de frutos
que produz na vida, pois só uma ou duas árvores resultarão deles. Mas
se você vir a árvore como um membro de um sistema vivo maior, tal
abundância de frutos fará sentido, pois centenas de animais e aves so-
Investigue breviverão graças a eles. Interdependência. A árvore também não sobre-
A pintura de Joseph Wright, Experimento com um pássaro em uma bom- vive sozinha. Para tirar água do solo, ela precisa dos fungos que crescem
ba de ar, de 1768, possui diversos elementos importantes. Você consegue na raiz. O fungo precisa da raiz e a raiz do fungo. Se um morrer, o outro
identificá-los? Faça uma pesquisa sobre essa pintura e analise questões morre também. Há milhões de relações como esta no mundo, cada uma
como: o que e quem retrata? Quais sentimentos provoca nos próprios envolvendo uma interdependência.
personagens que a compõem e no observador? Em seguida, relacione sua Transcrição de diálogo do filme Ponto de mutação. Direção de Bernt Capra.
Produção: Adrianna A. J. Cohen. EUA, 1990.
análise às discussões levantadas neste capítulo sobre a ciência moderna.
Com Newton, completa-se a visão da natureza como máquina,
cuja compreensão dependia do conhecimento do funcionamento
das peças que a compõem. Por meio dos princípios da simpli-
A separação humano e natureza cidade e da homogeneidade, ele fundamenta o uso do método
Os primeiros povos explicavam os fenômenos inexplicáveis da indutivo pela ciência, isto é, das leis científicas, no qual serão uti-
natureza através de deuses que habitavam as rochas, as plantas lizados os raciocínios que partem do particular para o universal.
e o céu: era a época dos mitos diante dos quais eles experimen- É possível inferir de certas causas e consequências que todas as
tavam, ao mesmo tempo, o temor e a admiração. causas parecidas ou iguais terão as mesmas consequências.
Na Grécia Antiga, entre os séculos VI e V a.C., surgem novas
Com a lei da gravidade, Newton chegava a único princípio capaz de
formas de explicação para o cosmos e a natureza pelos pensado-
explicar uma quantidade ilimitada de fenômenos. Com efeito, a força
res pré-socráticos, que inauguram uma nova forma de conhecer a
que faz cair uma pedra ou uma maçã ao chão tem a mesma natureza que
natureza, ao romper com o conhecimento mítico e dar os primei-
a força que mantém a lua vinculada à terra e a terra vinculada ao sol. E
ros passos em direção ao pensamento racional. A preocupação
essa força é a mesma que explica o fenômeno das marés (como efeito
desses pensadores era a instauração de uma ordem que reduzis-
combinado da atração do sol e da lua sobre a massa de água dos mares).
se toda realidade existente a um princípio fundamental.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Kant.
Já os pensadores clássicos avançam com o pensamento racio- São Paulo: Paulus, 2004, p. 241.
nal. Platão trouxe uma nova concepção de realidade, com o mun-
do das ideias oposto ao mundo sensível. Aristóteles retoma os Pela lei da gravitação universal, o Universo é consagrado
estudos da natureza sensível, elaborando leis sobre o universo. como mecânico, determinado, reversível. O ser humano é descar-
Em seguida, na concepção de mundo medieval, sobressai o tado diante desse mundo idealizado, estático e previsível.

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Como fazer

(Vunesp-SP)
O empirismo é a “corrente filosófica para a qual a experiência é critério ou norma da verdade”, caracterizando-se pela “negação do caráter
absoluto da verdade” e pelo “reconhecimento de que toda verdade pode e deve ser posta à prova, logo, eventualmente modificada, corrigida
ou abandonada”.
(Dicionário Abbagnano, p. 326)

Além disso, o empirismo foi o resultado de importantes transformações ocorridas na relação entre homem e natureza durante os
séculos anteriores.
Assinale a alternativa que traduz mais corretamente as implicações dessa definição.
a) Em termos históricos, o empirismo consagrou no campo filosófico uma tendência já presente ao longo da Revolução Científica.
b) Não há contradição lógica entre empirismo e metafísica.
c) Uma das correntes mais criticadas pelos filósofos empiristas foi o ceticismo.
d) Um dos fundamentos do empirismo é a existência de ideias inatas.
e) A verificação da verdade sob o ponto de vista do empirismo dispensa a confrontação com dados e fatos.
Resolução:
O tema da questão é o empirismo, uma corrente filosófica determinante do pensamento moderno e que exerceu grande influência na
constituição da ciência moderna. O conceito dessa teoria já está descrito no próprio texto. O enunciado afirma essa teoria como resultante de
transformações ocorridas “durante os séculos anteriores” e pede a alternativa que traduz o que foi afirmado ali. Portanto, é uma resolução simples,
bastando uma leitura atenta para se chegar à resposta pedida. Vamos à análise das alternativas. A resposta correta é a alternativa a. Veja que a
resposta está clara no enunciado da questão; bastando relacionar a expressão do enunciado – “durante os séculos anteriores” – à alternativa a,
ao afirmar que o empirismo “do ponto de vista histórico, é uma tendência, ao longo da Revolução Científica”. A alternativa completa a questão,
porque nenhuma das outras alternativas aborda a questão histórica pedida. A alternativa b é falsa; essa contradição existe, uma vez que o objeto
de conhecimento de ambas são opostos: enquanto a metafísica se liga a essências das coisas, o empirismo se liga à experiência, ao fato como se
apresenta. A alternativa c também é falsa; porque o empirismo é cético ao defender a necessidade de uma comprovação para o conhecimento
fundado na experiência. A alternativa d é falsa; pois, para o empirismo, não há ideias inatas, isto é, toda ideia é concebida a partir da experiência,
e a mente é uma folha de papel em branco antes de qualquer experiência. E, por fim, a alternativa e também é falsa; pois, ao contrário do que se
afirma, o fundamento do empirismo é o método científico, comprovado pela observação e pelo experimento.

Parada obrigatória
1.
A ciência é objetiva porque não se interessa pelas qualidades subjetivas, que variam de homem para homem, mas sim por aqueles aspectos
dos corpos que, sendo quantificáveis e mensuráveis, são iguais para todos. […] Assim, nem as qualidades subjetivas nem a essência das coisas
constituem o objeto da ciência.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Kant. São Paulo: Paulus, 2004, p. 213-214.

Com base nas informações do texto, explique o método como fundamento da ciência moderna.

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Parada complementar

Filosofia
1. Leia o trecho a seguir. “Reunindo 16 corpos e 225 órgãos verdadeiros, a mostra revela
a crueza da anatomia humana. Dividida em nove segmentos (para
É em função da astronomia que se elabora […] a nova física;
representar cada segmento do organismo), a exposição começa com a
mais precisamente: em função dos problemas postos pela astro-
estrutura interna de um esqueleto, que contém mais de cem juntas. As
nomia coperniciana, e, especialmente, da necessidade de respon-
realizações do homem na medicina também estão presentes na seção ‘o
der aos argumentos físicos apresentados por Aristóteles e por
corpo tratado’, onde estão próteses de quase todas as partes do corpo.”
Ptolomeu contra a possibilidade do movimento da Terra.
(O Estado de S. Paulo. 13 de abril de 2007)
KOYRÉ, Alexandre. Estudos galilaicos. Lisboa: Publicações
Dom Quixote, 1992, p. 205.

Reprodução/Mauritshuis, Haia, Holanda


O historiador do pensamento científico, Alexandre Koyré,
destaca que a “nova física”, que foi erigida sobretudo por
Galileu e, depois, Newton, desenvolveu-se a partir das dis-
cussões em torno dos fenômenos astronômicos, sobretudo
a respeito do movimento da Terra. Copérnico, Galileu e ou-
tros pensadores questionavam a física aristotélica e ptolo-
maica porque essa afirmava, entre outras coisas,
a) que as teses sobre a imobilidade da Terra não tinham valor
porque foram concebidas por pessoas ignorantes.
b) que o telescópio usado por Aristóteles não era preciso o
suficiente para a observação astronômica.
c) que as investigações de Aristóteles não puderam ser com- (Rembrandt “A lição de anatomia do doutor Tulp”, 1632)

preendidas, haja vista que seus livros foram alterados pe-


los árabes. Tanto a exposição anunciada pelo texto quanto o quadro
d) que Aristóteles não poderia compreender bem os fenôme- de Rembrandt
nos naturais, pois viveu na época errada. a) destacam a relação entre as experiências científicas e as
e) que o cosmos estava organizado em esferas celestes e que manifestações religiosas
a Terra era imóvel. b) representam a arte contemporânea, caracterizada pela de-
núncia contra a banalidade da violência
2. (Ibmec-SP) Utilize o texto e a figura a seguir para responder a c) mostram a permanência do interesse sobre o funciona-
este teste. mento do corpo humano, do Renascimento aos dias atuais
O Corpo Humano: real e fascinante. Este é o título de uma ex- d) indicam o retrocesso das técnicas médicas relacionadas ao
posição inaugurada no mês de março na OCA, na capital paulista. estudo da anatomia humana
O texto abaixo foi retirado da programação cultural de um jornal e) podem ser vistas como representações artísticas, não
de grande circulação. mantendo vínculos com experimentos científicos

Teste seu conhecimento: 1 e 2

Empirismo e racionalismo
A construção de uma nova ciência exige não só um novo método, mas também uma nova filosofia.
E, tal como a nova ciência se constitui graças à aplicação de um método novo, a nova filosofia, para man-
ter o seu estatuto de ciência, terá de fazer o mesmo.
Assim, a Filosofia passa por uma grande reviravolta no século XVII, em especial com as teorias de Francis
Bacon e René Descartes. Muitas perguntas desafiam o pensamento do indivíduo moderno. É possível co-
nhecer? Quais são os critérios de validação da verdade? Qual a extensão do conhecimento? Qual é a fun-
ção do pensamento e do objeto no processo do conhecimento? O que é a verdade? Aquela da tradição,
válida até aquele momento, ou as novas teorias que propõem argumentos contrários? O conhecimento
vem da experiência e da razão ou ambas atuam na produção do conhecimento?

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Na busca por respostas para o problema das origens e fundamentação do conhecimento, formam-se
duas correntes filosóficas, opostas entre si: o racionalismo e o empirismo.
O empirismo valoriza a experiência sensível e concreta como fonte do conhecimento e da investi-
gação. Embora não descarte a importância da razão na busca da verdade, ela só é válida ligada à expe-
riência, ou seja, as ideias são adquiridas por meio da experiência sensorial e da reflexão sobre ela. As
sensações se reúnem e formam uma percepção; ou seja, um objeto é percebido por meio de várias e
diferentes sensações.
Se existe uma ideia de retângulo, por exemplo, é porque foram percebidas anteriormente pelos sen-
tidos outras formas que se aproximam dessa figura geométrica. É claro que não existem formas perfeitas
na natureza, mas certos objetos sugerem tais formas. Por exemplo, ao observar a lousa, percebe-se como
sendo retangular. Se seus ângulos forem medidos, serão percebidas algumas imperfeições, o que sugere
que o retângulo perfeito só pode ser concebido mentalmente. As ideias (como a ideia de retângulo per-
feito, por exemplo) são formadas após a experimentação do conhecimento sensível.
Assim, o empirismo se desloca do conhecimento medieval baseado na contemplação da natureza em
busca de resultados práticos sobre ela. Essa concepção renascentista se constitui como proposta, mas
somente adquire sua forma a partir do século XVII, com o avanço dos instrumentos de observação e seus
métodos de verificação e demonstração. Ao ressaltar o papel da evidência na formação das ideias, o
empirismo deu origem ao que se denomina método científico.
Diferentemente do empirismo, o racionalismo compreende a mente como dotada de um conhecimento
que não foi adquirido culturalmente, mas que é inato, ou seja, é dado antes do nascimento e de qualquer
experiência. O racionalismo não nega o empirismo, mas acredita que ele não apresenta valor científico,
pois limita-se a uma simples opinião; ao passo que o verdadeiro conhecimento é aquele que seja logica-
mente necessário e universalmente válido. De acordo com essa concepção de pensamento, apenas a mente
humana é capaz de conhecer a verdade, porque o conhecimento inclui a existência de ideias inatas.

Francis Bacon e o utilitarismo do conhecimento


Francis Bacon (Reino Unido, 1561-1626) fez da experiência o fundamento da ciência. Contudo, na
busca da verdade, percorria um caminho diferente dos empiristas e dos racionalistas. Segundo ele,
Os que se dedicaram às ciências foram ou empíricos ou dogmáticos. Os empíricos, à maneira das formi-
gas, acumulam e usam as provisões; os racionalistas, à maneira das aranhas, de si mesmos extraem o que
lhes serve para a teia. A abelha representa a posição intermediária: recolhe a matéria-prima das flores do
jardim e do campo e com seus próprios recursos a transforma e digere. Não é diferente o labor da verdadeira
filosofia, que se não serve unicamente das forças da mente, nem tampouco se limita ao material fornecido
pela história natural ou pelas artes mecânicas, conservado intacto na memória. Mas ele deve ser modificado
e elaborado pelo intelecto. Por isso muito se deve esperar da aliança estreita e sólida (ainda não levada a cabo)
entre essas duas faculdades, a experimental e a racional.
BACON, Francis citado em REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Kant. São Paulo: Paulus, 2004, p. 276.

Bacon destaca a ciência e os benefícios que ela poderia trazer às


Reprodução/Wellcome Collection, Londres, Inglaterra

pessoas. Com seu argumento de que “a verdade é filha do tempo e não


da autoridade”, Bacon criticava formas anteriores de conhecimento e
seus métodos, em especial, a escolástica. Com a construção de uma uto-
pia, a Nova Atlântida (que não foi terminada), ele relata uma sociedade
técnica, dotada de um conhecimento prático e intelectual, demonstran-
do de que forma a técnica e a ciência poderiam contribuir para a melho-
ria da vida de toda a humanidade, enfatizando, assim, o caráter utilitário
do conhecimento.
Para isso, demonstra na sua máxima “saber é poder” a importância de
conhecer a natureza para dominá-la melhor, o que exige uma nova concep-
ção de razão e de experiência. O objetivo do método baconiano é constituir
uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais, por meio da observa-
ção e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento
verdadeiro é resultado da concordância e da variação dos fenômenos que,
se devidamente observados, apresentam a sua causa real.
O alquimista em seu laborat—rio, de David Teniers, o Jovem, 1656. Óleo Ele defendia que, por causa da ciência e da técnica, ocorreria uma re-
sobre tela de 27,5 cm 3 38,5 cm. Museu de Viena, Áustria. forma do conhecimento e a transformação do mundo, que se tornaria mais

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previsível e a vida de cada indivíduo seria mais fácil, mais feliz, coisas. Do sucesso dessa empreitada depende, acima de tudo, o
isenta de trabalho, tristeza, doenças e golpes do destino. O novo futuro da Filosofia: saber se ela ainda é necessária ou se a ciên-

Filosofia
conhecimento levaria ao progresso e à submissão da natureza aos cia por si só bastaria. O nascimento da ciência moderna obriga a
desejos humanos. Apesar de não ter realizado progressos no que se Filosofia a repensar-se, a questionar-se enquanto conhecimento:
refere às ciências naturais, as ideias de Bacon e sua preocupação afinal, o que é Filosofia? Filosofia é ciência? A dúvida converte-se
com o método, o progresso e a técnica constituem o ponto de parti- em método dela mesma.
da para a atividade científica moderna. Uma das consequências do
pensamento baconiano foi a separação entre homem e natureza.

German Vizulis/Shutterstock
René Descartes: a descoberta
da subjetividade
René Descartes (França, 1596-1650) é considerado o responsá-
vel pelo racionalismo moderno. Atento às profundas mudanças
do conhecimento em sua época, ele propõe reconstruir todo o
saber a partir de novas bases, firmes, seguras e inabaláveis. Vi-
sando isso, percebia a necessidade de um método que ordenasse
e fundamentasse o pensamento. É daí que surge a chamada revo-
lução cartesiana do conhecimento.
Para Descartes, o que a mente conhece são suas próprias repre- O filósofo e
sentações ou ideias, independentemente do corpo, que introduz matemático René
elementos subjetivos no estudo da razão, vistos como irrelevantes Descartes (1596-1650).
para a natureza objetiva do conhecimento. Seu objetivo foi revisar
sistematicamente todos os seus conhecimentos à procura de qual- […] Mas eu me persuadi de que nada existia no mundo, que não
quer forma de dúvida e/ou certezas inabaláveis, na tentativa de havia nenhum céu, nenhuma terra, espíritos alguns, nem corpos al-
construir uma nova ciência. guns: não me persuadi também, portanto, de que eu não existia?
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros Certamente não, eu existia sem dúvida, se é que eu me persuadi, ou,
anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que apenas, pensei alguma coisa. [...] De sorte que, após ter pensado bas-
aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não tante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cum-
podia ser senão muito duvidoso e incerto; de modo que me era ne- pre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu
cessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou
todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo nova- que a concebo em meu espírito.
mente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e DESCARTES, René. Meditações metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 100.
(Coleção Os Pensadores)
de constante nas ciências. Mas, parecendo-me ser muito grande essa
empresa, aguardei atingir uma idade que fosse tão madura que não Descartes conclui que o pensamento é o único atributo que
pudesse esperar outra após ela, na qual eu estivesse mais apto para pertence verdadeiramente ao homem; aquilo que não pode
executá-la; o que me fez diferi-la por tão longo tempo que doravante existir separado dele – “nada sou, senão uma coisa que pensa,
acreditaria cometer uma falta se empregasse ainda em deliberar o isto é, um espírito, um entendimento ou uma razão”, escreveu o
tempo que me resta para agir. filósofo em suas Meditações. O que é uma coisa que pensa? É
DESCARTES, René. Meditações metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 93. uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que
(Coleção Os Pensadores)
quer, que não quer, que imagina também e que sente.
Descartes acreditava que a razão poderia chegar ao conhe- O filósofo sistematiza, então, uma divisão entre alma/corpo,
cimento da realidade de forma parecida com o conhecimento espírito/matéria no ser humano e uma extensão na percepção hu-
matemático, em que se verificam princípios gerais desligados do mana da realidade: a distinção entre subjetividade/objetividade.
mundo físico e que podem ser deduzidos quando se analisa um Passou-se, assim, gradativamente, à compreensão de que há uma
objeto particular. Sua intenção era criar uma espécie de matemá- subjetividade racional conhecida no humano, e uma objetividade
tica universal, que não se reduzisse a números ou figuras, mas material que pode ser conhecida, que é o mundo. A primeira é in-
que pudesse servir de modelo para toda forma de saber. dependente, superior, conhecedora e ativa; e a segunda, também
Dessa forma, Descartes coloca-se em uma nova atitude em independente, mas inferior, cognoscível e passiva. Assim, Descartes
relação à filosofia do passado. É o desejo de fundação de uma determina que a razão é o fundamento e a essência do ser humano.
ciência universal e una, com base em princípios claros e eviden-
tes, logo verdadeiros, e com universalidade do método que, se
aplicado bem e por todos do mesmo modo, consequentemente, Cognoscível: que pode ser conhecido.
levará todos à mesma conclusão. Caberia à Filosofia, a ciência
das primeiras causas, a instauração dessa ciência universal e una Consequentemente, na esteira dessa prática, engendra-se uma
fundada nesse método universal, estabelecendo novos princí- série de situações-problema que caracterizam o padrão moderno de
pios e fundamentos a partir dos quais se possa deduzir todas as conhecimento da natureza. Instaura-se a fragmentação do saber e a

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busca de simplificação da complexidade do real e toda a série de dicotomias com seus impactos no contexto socieda-
de/natureza. Cria-se, pois, uma concepção de natureza essencialmente baseada no dualismo, cuja expressão máxima
e fundamental é a separação homem/natureza, ponto nevrálgico do desenvolvimento tecnocientífico moderno.
MORIN, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. Lisboa: Publicações Europa-América, 1996.

Há um mundo que existe objetivamente, que o ser humano pode conhecer, transformar e dominar. A
natureza não sofre, não pensa, não tem sensibilidade nem sentimentos. Essa constatação afirma a su-
bordinação da realidade à vontade humana. Apesar de não ser intencional, gradativamente, essa visão
mecanicista (racionalista) de mundo consolida o antropocentrismo, instituindo, a partir do século XVII,
um processo de separação entre o ser humano e a natureza, numa visão utilitarista.

De olho
Nas sociedades modernas, a visão de mundo está ligada ao paradigma científico. O modelo mecanicista que afirma o Universo como uma máquina se
estendeu a todas as esferas da sociedade, podendo ser observado na política, na supervalorização do especialista, na fragmentação do conhecimento, na
ciência que divide os objetos em pedaços para os analisar, na saúde. A separação cartesiana entre corpo e mente resultou numa visão mecanicista e redu-
cionista, dificultando uma visão holística e integral do ser humano. O mecanicismo limita-se a uma análise quantitativa, medida por gráficos, estatísticas,
números, desconsiderando a totalidade do contexto, em detrimento da qualitativa. Para intervenções na área da saúde, por exemplo, é fundamental não
reduzir o ser humano a um composto biofísico. É necessário considerá-lo em sua integralidade: uma teia de relações entre aspectos da vida e da cultura. A
condição de saúde ou doença de uma pessoa depende tanto do meio ambiente natural quanto social, de forma interdependente, não podendo ser reduzida
a um único aspecto. Toda doença envolve uma interação contínua do corpo com a mente. Isso se reflete na humanização da saúde, ao assumir uma postura
ética de respeito, de acolhimento e de reconhecimento do outro e dos limites.

Parada obrigatória
2. (Unesp-SP)
Para Descartes, o corpo é uma máquina que pode ser completamente entendida em termos da organização e do funcionamento de suas
peças. Uma pessoa saudável seria como um relógio bem construído e em perfeitas condições mecânicas; uma pessoa doente seria como um
relógio cujas peças não estão funcionando apropriadamente. Mas em uma concepção holística de doença, a enfermidade física é apenas uma
das numerosas manifestações de desequilíbrio do organismo. Além disso, a primeira diferença óbvia entre máquinas e organismos é o fato de
que as máquinas são construídas, ao passo que os organismos crescem. Essa diferença fundamental significa que a compreensão de organismos
deve ser orientada para os processos da estrutura orgânica. A questão, portanto, será: pode haver uma ciência que não se baseie exclusivamente
na medição, uma compreensão da realidade que inclua qualidade e experiência, e que possa ainda ser chamada científica? A ciência, em minha
opinião, não precisa ficar restrita a medições e análises quantitativas.
(Fritjof Capra. O ponto de mutação, 1997. Adaptado.)

a) Qual é o significado de saúde sob um ponto de vista mecanicista? Explique como o desequilíbrio orgânico é entendido sob um en-
foque mecanicista.

b) Explique o significado de doença sob um ponto de vista holístico. Qual é a relação entre mecanicismo e análise quantitativa?

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Parada complementar

Filosofia
3. (UEL-PR) O principal problema de Descartes pode ser for- 4. (UEL-PR) Leia o seguinte texto de Descartes e responda
mulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir que à questão.
o nosso conhecimento é absolutamente seguro?” Como o De há muito observara que, quanto aos costumes, é necessário
cético, ele parte da dúvida; mas, ao contrário do cético, não às vezes seguir opiniões, que sabemos serem muito incertas, tal
permanece nela. Na Meditação Terceira, Descartes afirma: como se fossem indubitáveis […]; mas, por desejar então ocupar-
“[…] engane-me quem puder, ainda assim jamais poderá -me somente com a pesquisa da verdade, pensei que era necessário
fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que sou algo; ou agir exatamente ao contrário, e rejeitar como absolutamente falso
que algum dia seja verdade eu não tenha jamais existido, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver
sendo verdade agora que eu existo […]” se, após isso, não restaria algo em meu crédito, que fosse inteira-
mente indubitável […] E, tendo notado que nada há no eu penso,
(DESCARTES. René. Meditações Metafísicas. Meditação Terceira, São Paulo:
Nova Cultural, 1991. p. 182. Coleção Os Pensadores.)
logo existo, que me assegure de que digo a verdade, exceto que vejo
muito claramente que, para pensar, é preciso existir, julguei poder
Com base no enunciado e considerando o itinerário se- tomar como regra geral que as coisas que concebemos mui clara e
guido por Descartes para fundamentar o conhecimento, é mui distintamente são todas verdadeiras […].
correto afirmar: (DESCARTES, R. Discurso do Método. Quinta Parte. Os Pensadores. São Paulo:
Nova Cultural, 1991. p. 46-47.)
a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discerníveis
pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são falhos e Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamen-
limitados, portanto o conhecimento seguro detém-se nas to de Descartes, é correto afirmar.
opiniões que se apresentam certas e indubitáveis. a) A dúvida metódica permitiu a Descartes compreender que
b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta- todas as ideias verdadeiras procedem, mediata ou imediata-
-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias mente, das impressões de nossos sentidos e pela experiência.
coisas que são percebidas de acordo com as circunstâncias b) A clareza e a distinção das ideias verdadeiras representam
em que ocorrem os fenômenos observados. apenas uma certeza subjetiva, além da qual, apesar da ra-
dicalização da dúvida metódica, não se consegue funda-
c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do
mentar a objetividade da certeza científica.
conhecimento, uma vez que somente as coisas percebi-
c) Somente com o cogito, a concepção cartesiana das ideias
das por meio da experiência sensível possuem existên-
claras e distintas, inatas ao espírito humano, garante defi-
cia real.
nitivamente que o objeto pensado pelo sujeito é determi-
d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se
nado pela realidade fora do pensamento.
pode observar no debate perpétuo e universal sobre o co- d) Do exercício da dúvida metódica, no itinerário cartesiano,
nhecimento das coisas, sendo a existência de Deus a única a certeza subjetiva do cogito constitui a primeira verdade
certeza que se pode alcançar. inabalável e, portanto, modelo das ideias claras e distintas.
e) A condição necessária para alcançar o conhecimento se- e) A dúvida cartesiana, convertida em método, rende-se ao
guro consiste em submetê-lo sistematicamente a todas as ceticismo e demonstra a impossibilidade de qualquer cer-
possibilidades de erro, de modo que ele resista à dúvida teza consistente e definitiva quanto à capacidade do inte-
mais obstinada. lecto de atingir a verdade.

Teste seu conhecimento: 3 e 4

Novas formas de pensar para um mundo


em transformação
Você já estudou que a ciência moderna nasce, portanto, da experiência, e está ligada à utilização e
à construção de instrumentos e ferramentas que possibilitaram a produção de um saber mais exato e
preciso. Dessa forma, a base do conhecimento científico é a ação e o domínio do ser humano sobre a
natureza. A ciência, aliada à ideia de progresso material, moral e espiritual dos indivíduos, anuncia um
conjunto de mudanças tecnológicas que causou profundas transformações na organização da vida social
e da cultura humana.

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Blaise Pascal: a solidão dos espaços infinitos
A visão sacralizada de mundo dos antigos, protegidos pelos mitos e pelos deuses, cede lugar a uma
visão dessacralizada da vida. O Universo infinito revelado pela ciência demonstra a grandeza do Universo
e, ao mesmo tempo, a consciência da insignificância do ser humano diante do dele, provocando pensa-
mentos angustiantes, como estes de Blaise Pascal (França, 1623-1662), filósofo do século XVII:
Ante a cegueira e a miséria do homem, diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo
e como que perdido nesse rincão do Universo, sem consciência de quem o colocou aí, nem do que veio fazer, nem
do que lhe acontecerá depois da morte, ante o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e
sinto-me como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta e espantosa, e aí despertasse, igno-
rante de seu paradeiro e impossibilitado de evadir-se.[…] O silêncio desses espaços infinitos me apavora. Quantos
reinos nos ignoram!
PASCAL, Blaise. O homem perante a natureza, s.d. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000039.pdf.
Acesso em: 7 jun. 2020.

É um momento contraditório do pensamento humano. Ao mesmo tempo que nos fortalece a admi-
ração diante do novo e da grandeza humana, expressada por Shakespeare quando escreve “Que obra
de arte é o homem!” em Hamlet, a inquietação e a angústia de Pascal diante da pequenez humana no
Universo infinito nos fragiliza. No entanto, ambas as visões nos provocam a repensar o sentido da vida.
Na nova concepção, o sentido das coisas reside na forma como elas se adaptam aos interesses e aos
desejos do ser humano.
Aos poucos, essa visão “narcísica” o distancia da totalidade e o faz esquecer que as coisas e a natu-
reza têm leis próprias, e que ele próprio, independentemente da sua vontade, está ligado à natureza e
a todas as coisas existentes. Parece ser este o sentimento que angustiava Pascal: a perda da consciên-
cia da totalidade à qual todos os indivíduos estão ligados, e que precisava ser lembrada e arquivada
para sempre na memória do ser moderno.

Conexões

Filme: Ponto de mutação. Direção: Bernt Capra (EUA, 1990).


Este filme é baseado no livro de mesmo título escrito por Fritjof Capra e publicado em 1982. Através dos diálogos
significativos e reflexivos sobre a história do pensamento humano, os três personagens centrais (uma física, um
poeta e um político) apresentam a problemática do atual paradigma científico, que permeia as relações político-
-econômicas da sociedade contemporânea: o paradigma newtoniano-cartesiano. O filme evoca uma nova percepção
de mundo como forma de resolver a crise da ciência e da sociedade moderna, introduzindo novos paradigmas, como
desafio a novas práticas cotidianas.
Com um debate em sala, mediado pelo professor, discuta com a turma sobre o filme, embasando-o com questões
relacionadas a outras disciplinas, como Sociologia, História, Literatura, Matemática e Biologia.

David Hume: o hábito como guia da vida humana


Como empirista, David Hume (1711-1776) questiona a tradição racionalista e sua primazia dada ao
intelecto, enfatizando a experiência, seja por observação, seja por experimentação, como fonte do
conhecimento. Seu objetivo é elaborar uma ciência da natureza humana, com destaque para o modo
de funcionamento da mente, mas sempre fundamentado nos dados concedidos pela observação e
pela experiência.
Hume enfatiza que o ser humano não se reduz a um ser racional, mas é, também, dotado de imagi-
nação e instintos, imersos na natureza, e essa condição humana exerce forte influência sobre seu pen-
samento e comportamento, levando-o a determinadas crenças que a razão não consegue justificar por
meio de argumentos.
Esse pensador ainda afirma que todo conhecimento fundado em percepções pode ser dividido em duas
classes: impressões e ideias. Hume não está preocupado com o fato de como as impressões são produzidas
na mente, mas como elas se apresentam.

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Assim, denomina impressões as sensações fortes que são expe-

Claudine Van Massenhove/Shutterstock


rimentadas e sentidas por meio da experiência. Há as impressões

Filosofia
de sensação ou externas, como as cores e os sons, e as impressões
de reflexão ou internas, como as paixões, os desejos e as emoções.
Já as ideias são cópias das impressões, nas quais elas se funda-
mentam. Sempre que o ser humano pensa, imagina ou se recorda
de algo, tem em sua mente imagens frágeis das impressões. Per-
cepções são sentidas, e ideias são pensadas. Por exemplo, se uma
criança se queimar ao colocar o dedo na chama de uma vela, em
uma próxima vez, ela evitará tocá-la para evitar a dor.
Hume quer demonstrar empiricamente que todas as percepções
concernentes às ideias existem por causa de uma impressão passada,
e que as ideias são cópias obscuras dessas impressões. Ou seja, os
raciocínios experimentais dependem sempre da conexão entre causa
e efeito. No entanto, a causalidade em si não seria um fator objetivo, Estátua do filósofo
mas subjetivo, pois o que se acredita ser uma questão de causa é, britânico David
portanto, fruto do hábito. Foi por meio da repetição de experiências Hume (1711-1776), em
e seu arquivo pela memória que os seres humanos compreendem as Edimburgo, Escócia.
relações constantes entre certos fenômenos.
Quando lanço ao fogo um pedaço de madeira seca, minha mente é imediatamente levada a conceber que isso
aumentará as chamas, não que as extinguirá. Essa transição de pensamento da causa para o efeito não procede da
razão, mas deriva sua origem inteiramente do hábito e da experiência.
HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 88. (Coleção Os Pensadores)

Portanto, para Hume, o hábito ou costume é o que guia a vida humana, o mecanismo que faz esperar,
no futuro, uma série de eventos semelhantes àqueles que apareceram no passado e permitem emitir
juízos sobre o fato. Todas as inferências da experiência são efeitos do hábito, não do raciocínio.
Hume torna impossível tanto a universalidade quanto a necessidade pretendidas pela razão. O universal é
apenas um nome ou uma palavra geral que usamos para nos referirmos à repetição de semelhanças percebidas e
associadas. O necessário é apenas o nome ou uma palavra geral que usamos para nos referirmos à repetição das
percepções sucessivas no tempo. O universal, o necessário, a causalidade são meros hábitos psíquicos.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p. 89-90.

Para concluir, Hume faz uma análise psicológica do entendimento humano. Porém, cabe ainda um
questionamento: que novidade é essa que o pensamento de Hume agrega ao empirismo? Para ele, as
ideias não são apenas cópias das impressões suscitadas pelas sensações (dados trazidos pelas expe-
riências externas), mas também das impressões das emoções experimentadas diante dessas sensações
(experiências internas).

Parada obrigatória
3. (UEL-PR) Leia o texto a seguir.
Podemos definir uma causa como um objeto, seguido de outro, tal que todos os objetos semelhantes ao primeiro são seguidos por objetos
semelhantes ao segundo. Ou, em outras palavras, tal que, se o primeiro objeto não existisse, o segundo jamais teria existido. O aparecimento de
uma causa sempre conduz a mente, por uma transição habitual, à ideia do efeito; disso também temos experiência. Em conformidade com essa
experiência, podemos, portanto, formular uma outra definição de causa e chamá-la um objeto seguido de outro, e cujo aparecimento sempre
conduz o pensamento àquele outro. Mas, não temos ideia dessa conexão, nem sequer uma noção distinta do que é que desejamos saber quando
tentamos concebê-las.
(Adaptado de: HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. Seção VII, 29. Trad.
José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: UNESP, 2004. p.115.)

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Com base no texto e nos conhecimentos acerca das noções de causa e efeito em David Hume, assinale a alternativa correta.
a) As noções de causa e efeito fazem parte da realidade e por isso os fenômenos do mundo são explicados através da indicação
da causa.
b) A presença do efeito revela a causa nele envolvida, o que garante a explicação de determinado acontecimento.
c) A causa e o efeito são noções que se baseiam na experiência e, por meio dela, são apreendidas.
d) A causa e o efeito são conhecidos objetivamente pela mente e não por hábitos formados pela percepção do mundo.
e) A causa e o efeito proporcionam, necessariamente, explicações válidas sobre determinados fatos e acontecimentos.

Parada complementar
5. (UEA-AM)
Nada pode parecer mais ilimitado que o pensamento humano, que está livre até mesmo dos limites da natureza e da realidade. Enquanto
o corpo está confinado a um único planeta, o pensamento pode transportar-nos às mais distantes regiões do universo. Aquilo que nunca foi
visto, pode assim ser concebido. Mas, um exame mais cuidadoso nos mostrará que esse poder criador da mente consiste meramente na capa-
cidade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que os sentidos nos fornecem. Quando pensamos em uma montanha de ouro,
estamos apenas juntando duas ideias consistentes, ouro e montanha, com as quais estávamos anteriormente familiarizados.
(David Hume. Investigações sobre o entendimento humano, 2004. Adaptado.)

David Hume publicou Investigações sobre o entendimento humano em 1748. O excerto resume o conteúdo de sua filosofia
a) existencialista, que abrange a existência do ente humano na sua totalidade.
b) transcendental, que define o espaço e o tempo como formas a priori.
c) empirista, que deduz da experiência os princípios da razão.
d) idealista, que confere o grau de certeza às ideias claras e distintas.
e) racionalista, que considera os homens unidos pelo bom senso.

6. (Enem)
O contrário de um fato qualquer é sempre possível, pois, além de jamais implicar uma contradição, o espírito o concebe com a mesma
facilidade e distinção como se ele estivesse em completo acordo com a realidade. Que o Sol não nascerá amanhã é tão inteligível e não implica
mais contradição do que a afirmação de que ele nascerá. Podemos em vão, todavia, tentar demonstrar sua falsidade de maneira absolutamente
precisa. Se ela fosse demonstrativamente falsa, implicaria uma contradição e o espírito nunca poderia concebê-la distintamente, assim como
não pode conceber que 1 1 1 seja diferente de 2.
HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999 (adaptado).

O filósofo escocês David Hume refere-se a fatos, ou seja, a eventos espaçotemporais, que acontecem no mundo. Com relação ao
conhecimento referente a tais eventos, Hume considera que os fenômenos
a) acontecem de forma inquestionável, ao serem apreensíveis pela razão humana.
b) ocorrem de maneira necessária, permitindo um saber próximo ao de estilo matemático.
c) propiciam segurança ao observador, por se basearem em dados que os tornam incontestáveis.
d) devem ter seus resultados previstos por duas modalidades de provas, com conclusões idênticas.
e) exigem previsões obtidas por raciocínio, distinto do conhecimento baseado em cálculo abstrato.

Teste seu conhecimento: 5 e 6

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Crise do pensamento metafísico

Filosofia
Desde os antigos gregos, conhecemos duas questões opostas sobre a origem e a possibilidade do co-
nhecimento: o racionalismo e o empirismo. Embora essas correntes de pensamento dominassem o conhe-
cimento na sua época, Kant as considerava insuficientes, levando-o ao esforço de rever seus fundamentos.
Segundo ele, foi inspirado no pensamento de David Hume que despertou do longo sono dogmático em
que a compreensão filosófica da causalidade estava mergulhada desde Descartes, vendo-se diante da
necessidade de empreender uma nova fundamentação para o conhecimento metafísico, o que pode ser
visto na obra Crítica da razão pura. Kant detém o mérito de ter realizado uma síntese entre o racionalismo
dogmático e o empirismo cético, demonstrando que tanto a razão como a experiência possuem limites.

Immanuel Kant: o despertar do sono dogmático


Immanuel Kant (Prússia, 1724-1804) foi um grande filósofo, tanto no sentido de conhecer profundamente
a história dos grandes pensadores quanto pelas teorias que criou. A sua importância na história da Filosofia
é equiparada à de Copérnico na história da Ciência, alertando sobre a necessidade do que ele denominou
o “despertar do sono dogmático”.
O que é despertar do sono dogmático? É tomar como ponto de partida da metafísica a ideia de que
existe uma realidade em si (Deus, alma, mundo, infinito, finito, matéria, forma, substância, causalidade)
que pode ser conhecida pela razão ou – o que dá no mesmo – tomar como ponto de partida da metafísica
a afirmação de que as ideias produzidas pela razão correspondem exatamente a uma realidade externa,
que existe em si e por si mesma. Dogmático é aquele que aceita, sem exame e sem crítica, afirmações
sobre as coisas e sobre as ideias.
Então, o que é despertar do sono dogmático? É indagar, antes de tudo, se a metafísica é possível e,
se for, em que condições é possível. Despertar do dogmatismo é elaborar uma crítica da razão teórica,
isto é, um estudo sobre a estrutura e o poder da razão para determinar o que ela pode e o que ela não
pode conhecer verdadeiramente.
Existe verdade? Como é possível conhecer? Perguntas como essas intrigavam os pensadores, que se
debruçavam sobre elas, tentando resolver os problemas do conhecimento surgidos após a Revolução
Científica do século XVII. A visão da totalidade constitutiva do ser dos pensadores antigos não era mais
suficiente para responder às novas indagações do conhecimento. Não havia mais verdades absolutas,
mas verdades múltiplas, o que gerava uma sensação de insegurança perante a capacidade do ser huma-
no de conhecer e sobre a validade do seu conhecimento.
É isso o que se denomina “crise do pensamento metafísico”. A expressão “crise” não significa negação
da metafísica como forma de conhecimento, mas uma revisão dos seus valores, uma ressignificação da
função e validade desse conhecimento.
Naci Yavuz/Shutterstock

Desenho do filósofo prussiano


Immanuel Kant (1724-1804).

Antes de continuar, vamos recapitular o que você já estudou sobre o tema.


A metafísica antiga e medieval baseava-se no argumento de que a realidade existe em si mesma e
pode ser conhecida pelo pensamento, pela razão. A verdade é buscada pela correspondência existente

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entre o pensamento e a realidade, afirmando que o sujeito do conhecimento tem acesso ao Ser. No
século XVII, o filósofo René Descartes elaborou a metafísica moderna, afirmando as possibilidades do
conhecimento da realidade por meio de raciocínios ou conceitos, que, representando as coisas, as
transformam em objetos de conhecimento. O fundamento dessa constatação era a existência de Deus,
um Ser infinito, que garantia a realidade e a inteligibilidade de todas as coisas pelos seres humanos,
ao dotá-los de um intelecto capaz de conhecê-las em si mesmas. David Hume, por sua vez, afirmava
que a atuação do pensamento ocorria pela associação entre as informações recebidas pelos sentidos e
a memória, sendo, portanto, as ideias nada mais que hábitos mentais que se sucedem repetidamente.
De acordo com sua teoria, a metafísica é uma construção mental, não tendo uma realidade objetiva.
O filósofo alemão Kant também elaborou considerações importantes a respeito desse tema. Kant
dizia que a leitura de David Hume o despertou do “sono dogmático”, ou seja, da sua crença inabalável na
metafísica clássica.
Na época de Kant, destacavam-se duas correntes de pensamento: os racionalistas e os empiristas. Para
os primeiros, os objetos são conhecidos a priori, pela razão, ou seja, fundamentado em ideias inatas e no
método dedutivo-matemático. Já os empiristas, ao contrário, criticam a concepção de ideias inatas e buscam
compreender a ciência por meio dos juízos a posteriori, ou seja, após a experiência. Kant não discordava
dessas formas de pensar; ele realmente acreditava que os sentidos e a razão eram importantes na busca do
conhecimento, mas achava que ambas supervalorizavam seus objetos de conhecimento, sem observar outras
relações entre eles. Defendia que a origem do conhecimento estava nas impressões captadas pelos sentidos,
mas acrescentou que a razão também participa desse processo de alguma forma.
De acordo com a sua filosofia crítica, também conhecida como criticismo kantiano, aquilo que se
encontra fora do universo da experiência não pode ser conhecido pelo homem. Considera que é possível
conhecer o fenômeno quando este se encontra sujeito às formas a priori da sensibilidade, do entendi-
mento e da razão.
Para Kant, essas duas posições, o racionalismo e o empirismo, separaram a razão da matéria, os conceitos
do conteúdo, uma vez que, sem a sensibilidade (receptora das impressões sensíveis dos objetos percebidos
pela experiência) nenhum objeto nos seria dado; e sem o entendimento (que vai configurar a realidade, como
a categoria de causa e efeito, o peso de um objeto, as formas geométricas dos objetos percebidos) nenhum
objeto seria pensado. Para que haja conhecimento, precisamos tanto da experiência, fornecida pela nossa
faculdade de sensibilidade, como também do conceito, fornecido pela nossa faculdade de entendimento.
Ao observar, por exemplo, que a lousa é retangular, é possível se perguntar: onde está a noção de
retângulo? Kant responderia que está na mente. A mente sintetiza o conhecimento de que “a lousa é
retangular”, com base na conexão realizada entre a sensibilidade (a percepção do quadro) e o entendi-
mento (a forma retangular). Para esse pensador, as leis da Física não estão no mundo, pois não podem
ser percebidas, mas elas estão em nossa mente e estruturam a nossa experiência.
Portanto, o conhecimento é, para Kant, síntese entre o racionalismo e o empirismo. O que isso sig-
nifica? O fenômeno, que é intuído na sensibilidade, e o conceito, que é efetivado no entendimento, se
fundem. O fenômeno fornece uma multiplicidade nas formas da sensibilidade e as formas do entendi-
mento fazem a síntese de forma a fornecer a unidade. Assim, todo o nosso conhecimento começa pelos
sentidos, passa ao entendimento e termina na razão.
Então, o que é possível conhecer?
“Das coisas”, dizia Kant, “só conhecemos o que nelas colocamos”. A posição de Kant situa-se entre o empirismo
do filósofo escocês David Hume, que afirma que as sensações e as experiências são a única fonte de nosso conhe-
cimento, e a posição racionalista que afirma que a fonte do conhecimento advém da própria razão. A sensibilidade
recebe os objetos do mundo e o entendimento pensa esses objetos. A crítica de Kant escapa, nesse sentido, ao
ceticismo de Hume, para o qual não há como estabelecer uma ligação entre uma causa e um efeito teoricamente,
e escapa, igualmente, do dogmatismo que dispensa as experiências sensíveis como fonte de conhecimento. Todo
conhecimento que se pretende científico deve se limitar a buscar o conhecimento dos elementos empíricos; assim,
se procurarmos uma compreensão de elementos que estão para além do espaço e do tempo, devemos admitir que
tal compreensão não pode ser científica, ou seja, se existe algo fora do mundo sensível, não podemos conhecê-lo.
No entanto, a Filosofia vem, há séculos, se dedicando a questões que não têm seus objetos dados pelo espaço e pelo
tempo: a essa parte da Filosofia chamamos metafísica, ou seja, um conhecimento daquilo que está para além (meta)
da Física. Kant, com suas teorias da “Crítica da Razão Pura”, demonstrou que a metafísica não é possível como
conhecimento teórico, pois somente podemos aplicar os elementos racionais, a priori, às sensações empíricas. No
entanto, ele abre espaço para a metafísica no uso prático da razão.
REIS, Alexandre H. Filosofia e ética. Belo Horizonte: Educacional, 2008.

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Parada obrigatória

Filosofia
4. (Uema) Na perspectiva do conhecimento, Immanuel Kant pretende superar a dicotomia racionalismo-empirismo. Entre as alternati-
vas abaixo, a única que contém informações corretas sobre o criticismo kantiano é:
a) A razão estabelece as condições de possibilidade do conhecimento; por isso independe da matéria do conhecimento.
b) O conhecimento é constituído de matéria e forma. Para termos conhecimento das coisas, temos de organizá-las a partir da forma a
priori do espaço e do tempo.
c) O conhecimento é constituído de matéria, forma e pensamento. Para termos conhecimento das coisas temos de pensá-las a partir do
tempo cronológico.
d) A razão enquanto determinante nos conhecimentos fenomênicos e noumênicos (transcendentais) atesta a capacidade do ser humano.
e) O homem conhece pela razão a realidade fenomênica porque Deus é quem afinal determina este processo.

Parada complementar
7. (UFU-MG) O criticismo de Kant representa a reação do pensamento do Século das Luzes à polarização decorrente do racionalismo
e do empirismo do século anterior. Logo, na introdução da sua obra Crítica da razão pura, Kant defende a realização da revolução
copernicana na filosofia. Sobre esta revolução, analise as assertivas abaixo.
I. A filosofia, até então, sempre se guiou pelos instintos, deixando sempre no plano inferior o objeto do conhecimento.
II. Nas atividades filosóficas é preciso que o objeto seja regulado pelo conhecimento humano, o conhecimento a priori.
III. O conhecimento a priori resulta da faculdade de intuição, cuja comprovação é alcançada com a experi•ncia.
IV. Só é verdadeiro o conhecimento resultante da experiência, quando esta toma o objeto como a coisa em si mesma, sem o auxílio da razão.

Assinale a alternativa que contém as assertivas verdadeiras.


a) Apenas II e IV. c) Apenas II e III.
b) Apenas I, II e IV. d) Apenas I, III e IV.

8. (UFT-TO)
Conhecemos somente o nosso modo de perceber a natureza dos objetos em si mesmos, modo que nos é peculiar, mas pode muito bem não
ser necessariamente o de todos os seres, embora seja o de todos os homens. É deste modo apenas que nos temos de ocupar. O espaço e o tempo
são as formas desse modo de perceber; a sensação em geral é a sua matéria.
Fonte: KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste, 2013, p. 79.

O trecho ilustra alguns aspectos da teoria kantiana do conhecimento. Sobre esta mesma teoria, assinale a opção CORRETA.
a) Os progressos da experiência (e da ciência moderna) nos permitirão ultrapassar os seus limites; desta forma, o nosso conhecimento vencerá
a distância que nos separa das coisas.
b) Entre o sensível e o inteligível há uma diferença apenas de grau, isto é, de antemão nada nos impede de passar de um ao outro pelo
aprofundamento dos nossos conhecimentos.
c) O fenômeno é a coisa como esta nos aparece, cumpre então lembrar que Kant pensa, sobretudo, na estrutura do aparelho sensorial
e no seu valor geral para todo sentido humano.
d) Há, pode-se dizer, um relativismo kantiano, mas diferente, por exemplo, do de Protágoras, pois, em Kant, a nossa intuição do objeto
depende da constituição geral da sensibilidade.

Teste seu conhecimento: 7

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Síntese
Complete o quadro com as informações que aprendeu no capítulo, seguindo os exemplos já preenchidos.

REVOLUÇÃO NO PENSAMENTO

Transformação no
pensamento
Ruptura com o quadro
Homem de fé Transformação na ciência de pensamento em que
Está na aprendizagem em Valorização do poder da a metafísica e a ciência
que recebe, intervenção humana e aristotélica se encontravam
acolhe e cuida. do controle tecnológico fundamentadas há mais de
da natureza por parte da mil anos.
atividade científica.
Empirismo

Método científico
Homem de ciência
Aprendizagem de
controle e dominação
da natureza.

Racionalismo

Pascal:
condição humana

Objetividade

Criticismo kantiano

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Teste seu conhecimento

Filosofia
1. (UEL-PR) A ONU declarou 2009 o Ano Internacional da As- Os trabalhos de Aristóteles e Galileu representam dois mo-
tronomia pelos 400 anos do uso do telescópio nas investi- mentos marcantes do desenvolvimento das ciências naturais
gações astronômicas por Galileu Galilei. Essas investigações no Ocidente. Assinale a opção que sintetiza corretamente as
desencadearam descobertas e, por sua vez, uma nova ma- contribuições de cada um deles para a história da ciência.
neira de compreender os fenômenos naturais. Além de suas a) Aristóteles produziu conhecimento acerca do universo de
descobertas, Galileu também contribuiu para a posteridade modo empírico e experimental, ao passo que Galileu de-
ao desenvolver o método experimental e a concepção de fendeu o uso da matemática como ferramenta de desco-
uma nova ciência física. berta, relegando a lógica a uso apenas argumentativo.
Com base nas contribuições metodológicas de Galileu Galilei, b) O conhecimento de Aristóteles acerca do universo era
é correto afirmar: especulativo, embasado na lógica que ele mesmo criara,
a) A experiência espontânea e imediata da percepção dos diferentemente do conhecimento de Galileu, que defen-
sentidos desempenha, a partir de Galileu, um papel meto- dia o uso da matemática como ferramenta de descoberta,
dológico preponderante na nova ciência. relegando a lógica a uso apenas argumentativo.
b) A observação, a experimentação e a explicação dos fenô- c) A despeito de diferenças quanto à percepção do universo,
menos físicos da natureza desenvolvidos por Galileu apri- como heliocêntrico ou geocêntrico, tanto Galileu quanto
moram o método lógico-dedutivo da filosofia aristotélica. Aristóteles atribuíam à lógica o poder de desvelar relações
c) A observação controlada dos fenômenos na forma de experi- de causalidade entre os fenômenos naturais.
mentação, segundo o método galileano, consiste em interro- d) O conhecimento de Aristóteles acerca do universo era
gar metodicamente a natureza na linguagem matemática. empírico, e o de Galileu, contemplativo, diferindo ambos
d) A verificação metodológica da verdade das leis científi- quanto ao grau de manipulação dos fenômenos naturais
cas pelos experimentos aleatórios defendida por Galileu na construção dos conceitos científicos.
fundamenta-se na concepção finalista do Universo.
e) O método galileano reafirma o princípio de autoridade das 3. (Enem)
interpretações teológico-bíblicas na definição do método
para alcançar a verdade física. TEXTO I
Os segredos da natureza se revelam mais sob a tortura dos
2. (Cespe/UnB-DF) experimentos do que no seu curso natural.
Do princípio do século XVII ao fim do século XVIII, o aspecto BACON, F. Novum Organum, 1620. In: HADOT, P. O véu de Ísis: ensaio sobre a
história da ideia de natureza. São Paulo: Loyola, 2006.
geral do mundo natural alterou-se de tal forma que Copérnico teria
ficado pasmo. A revolução que ele iniciara desenvolveu-se tão rápi-
do e de modo tão amplo que não só a astronomia se transformou,
TEXTO II
mas também a física. Quando isso aconteceu, dissolveram-se os O ser humano, totalmente desintegrado do todo, não per-
últimos vestígios do universo aristotélico. A matemática tornou-se cebe mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma
uma ferramenta cada vez mais essencial para as ciências físicas. totalmente desarmônica sobre o ambiente, causando grandes
A visão do universo adotada por Galileu – morto em 1642, desequilíbrios ambientais.
ano do nascimento de Isaac Newton – baseava-se na observação, GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.
na experimentação e numa generosa aplicação da matemática.
Uma atitude de certa forma diferente daquela adotada por seu Os textos indicam uma relação da sociedade diante da natu-
contemporâneo mais jovem, René Descartes, que começou a for- reza caracterizada pela
mular uma nova concepção filosófica do universo, que viria a a) objetificação do espaço físico.
destruir a antiga visão escolástica medieval. b) retomada do modelo criacionista.
Em 1687, Newton publicou os Principia, cujo impacto foi c) recuperação do legado ancestral.
imenso. Em um único volume, reescreveu toda a ciência dos cor- d) infalibilidade do método científico.
pos em movimento com uma incrível precisão matemática. Com- e) formação da cosmovisão holística.
pletou o que os físicos do fim da Idade Média haviam começado e
que Galileu tentara trazer à realidade. As três leis do movimento, 4. (Enem)
de Newton, formam a base de todo o seu trabalho posterior. Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora
Ronan Colin A. História ilustrada da ciência: da Renascença à revolução científica. nossa memória possua todas as demonstrações feitas por ou-
S‹o Paulo: Círculo do Livro, s/d, p. 73, 82-3 e 99 (com adaptações).
tros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de

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Teste seu conhecimento

problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre
o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias.
DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da
a) investigação de natureza empírica.
b) retomada da tradição intelectual.
c) imposição de valores ortodoxos.
d) autonomia do sujeito pensante.
e) liberdade do agente moral.

5. (Enem)
Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos
fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes,
ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos
próprios sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar.
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.

Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar que


a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.
b) o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.
c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso.
d) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória.
e) as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria.

6. (Enem)

TEXTO I
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou
uma vez.
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

TEXTO II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas in-
dagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar
nossa suspeita.
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).

Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assu-
mir que Descartes e Hume
a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.
d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.

7. (Enem)
Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos,
algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão me-
lhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento.
KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado).

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Teste seu conhecimento

O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas
posições filosóficas que
a) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento.
b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo.
c) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica.
d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos.
e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant.

Anotações

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Referências

BILAC, Olavo. Conferências Literárias. Rio de Janeiro: Francisco Alves e Cia, 1912.
BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao pensar: o ser, o conhecimento e a linguagem. Petrópolis: Vozes, 2006.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
DESCARTES, René. Meditações metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores).
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção
Os Pensadores)
MARAVALL, José Antonio. A cultura do Barroco: análise de uma estrutura histórica. São Paulo: Edusp, 1997.
MORIN, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. Lisboa: Publicações Europa-América, 1996.
PASCAL, Blaise. O homem perante a natureza, s.d. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/cv000039.pdf. Acesso em: 7 jun. 2020.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do humanismo a Kant. São Paulo: Paulus, 2004.

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