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Interlúdio - Flashback (parte 1)

Eu me lembro de quando tudo começou. De quando o mundo decidiu treinar meu espírito
indefeso, uma vida atrás, uma outra realidade, um outro mundo, um outro tudo.

De quando um jovem teve tudo, teve sorte, talento e trabalhou duro. De quando em si
mesmo acumulou todo que aquela realidade tinha a oferecer.

De um mortal fui aos poucos me tornando um lorde, valorizando apenas o poder que me era
concedido. De um lord vídeo um rei. De um rei imperador e de imperador me tornei um
Deus.

E de um deus, me tornei um Ciclo.

Interlúdio – O ciclo da liberdade

Foram séculos vagando por uma imensidão sem fim até chegar à prisão do Arbítrio.
As correntes que o prendiam a um poste poderia ser rompidas facilmente, os fios que
sugavam sua vida, os cortes que compartilhavam seu poder com o mundo, qualquer um
desses poderiam ser resolvidos facilmente se ele assim o desejasse. Mas coisa que
realmente prendia o ser mais forte do universo eram os seus próprios ideais.

A verdadeira liberdade existe dentro do seu próprio poder. Da sua capacidade de ser
inconsequente, de ser absoluto e ser inabalável. Minha liberdade é não ser livre, minha
vontade é não ter vontade e meu desejo é não ter desejo. É também liberdade abrir mão de
si, para que todos outros sejam livres.

Eu não podia para de olhar para o ser mais poderoso do universo para saber que aquele
paradoxo deveria ser superado algum dia.

Um dia a sua liberdade verdadeira vai chegar, mas mantenha-se rei, guiando todo mundo
com sua lei, permitindo que cada um faça as próprias escolhas.

Interlúdio – O ciclo da ordem e do caos

Antes de partir na minha jornada final eu precisava moldar meus princípios, meus ideias. O
Arbítrio me ensinou que a liberdade era o poder de escolher, escolhendo até mesmo não
ser livre. Eu quero escolher, mas quero saber como fazer isso.

– Pintor, achei que chegasse semana que vem. – Disse ele, um dos ápices desse mundo,
incapaz de organizar a própria agenda.

– Posso entrar? – Ele era um ser tão peculiar, era melhor perguntar, mesmo que estivesse
me olhando com a porta aberta em um gesto convidativo.

– Não mexa em nada, nunca se sabe o que pode acontecer.


Era exatamente o que eu queria ouvir, eu estava ali por isso.

– Justamente, nunca se sabe o que vai acontecer, por isso estou aqui.

Enquanto me guiava ou se perdia comigo pela própria bagunça ele começou a me explicar.

– A bagunça, a aleatoriedade, a desordem, o quebrado e o que deu errado, são o começo


de tudo. O barro em forma de tijolo, não pode se tornar telha. Só do caos é que pode se
criar a ordem.

Enquanto andávamos pela casa, paredes mudavam de lugar e portas surgiam. Não foi
surpresa nenhuma quando me vi dentro de uma adega. Os ciclos e suas bebidas.

– Mas como saber qual a melhor ordem? Como saber se eu vou precisar de tijolo ou telha
antes de saber se vou fazer uma parede ou um telhado.

A adega era perfeitamente organizada. Os vinhos organizados por ano, nome, cor, tipo,
uva, região. Tudo em um lugar perfeito.

— A ordem não é o importante, não há ordem perfeita. Importante é sempre lembrar que
pode voltar ao caos e reconstruir tudo de novo.

Juro que vi ele sorrir naquele momento, como se pelos seus olhos tivessem passado a
visão cômica de alguém construindo uma parede de telhas.

— E qual a proporção perfeita entre ordem e caos? — Perguntei enquanto ele colocava
apenas uma taça de vinho. Ao piscar, me vi do lado de fora, olhando a casinha pacata de
quem organiza as três dimensões e o tempo de nosso universo.

Não tive como não sorrir, a visão cômica de uma parede inteirinha feita de telhas como
quem dizia "não tenha medo de tentar."

Interlúdio – Flashback (parte 2)

Poder escolher, sem medo de tentar. Gravei apenas isso na minha alma antes de me lançar
nesta jornada. Abandonei a alcunha de pintor e de ciclo do fim. Lancei-me em mundos,
inventei lendas sobre mim. O ciclo da ordem, e seu caos, o ciclo da liberdade e a sua
prisão, o ciclo do fim e seus recomeços.

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