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CONHECENDO A VIDA DO SOLO

Micro
VO LUME 4

fauna
© 2017 by Maíra Akemi Toma, Rogério Custódio Vilas Boas e Fatima Maria de Souza Moreira
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma,
sem a autorização escrita e prévia dos detentores do copyright.
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Impresso no Brasil – ISBN: 978-85-8127-068-5

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Ficha Catalográfica Elaborada pela Coordenadoria de


Produtos e Serviços da Biblioteca Universitária da UFLA

Microfauna / editores: Maíra Akemi Toma, Rogério Custódio Vilas Boas


e Fatima Maria de Souza Moreira – Lavras :
Ed. UFLA, 2017.
24 p. : il. (Conhecendo a vida do solo ; v. 4)

ISBN: 978-85-8127-068-5

1. Biodiversidade. 2. Organismos do solo. 3. Serviços


ambientais. I. Toma, Maíra Akemi. II. Boas, Rogério Custódio Vilas.
III. Moreira, Fatima Maria de Souza. IV. Universidade Federal de Lavras.
V. Título.

CDD – 631.4
CONHECENDO A VIDA DO SOLO

VO LU M E 4

Micro
fauna

Lavras, Minas Gerais


2017
EDITORES
Maíra Akemi Toma
Universidade Federal de Lavras | mairakemi@gmail.com

Rogério Custódio Vilas Boas


Universidade Federal de Lavras | rogeriovilas@gmail.com

Fatima Maria de Souza Moreira


Universidade Federal de Lavras | fmoreira@dcs.ufla.br

AUTORES
Camila Cramer Filgueiras
Universidade Federal de Lavras | camilacramer@gmail.com

Eduardo Souza Freire


Universidade de Rio Verde | esfreire26@yahoo.com.br

Talise Siqueira Galo


Universidade Federal de Lavras | talise.galo@gmail.com

Maíra Akemi Toma


Universidade Federal de Lavras | mairakemi@gmail.com

REVISÃO TÉCNICA
Vicente Paulo Campos
Universidade Federal de Lavras | vpcampos@ufla.br

REVISÃO DE TEXTO
Paulo Roberto Ribeiro

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Miriam Lerner | Equatorium Design

CRÉDITOS DAS IMAGENS


Camila Cramer Filgueiras: pp. 21, 22
Eduardo Souza Freire: p. 17
Ernesto de Oliveira Canedo-Júnior: p. 21
Filipe França: pp. 6, 7, 8, 9 10, 11, 13,
Juvenil Enrique Cares: pp. 17, 19
Maíra Akemi Toma: p. 20
Marcella Teixeira: p. 17
Maria de Fátima Muniz: p. 18
Shutterstock/ ©Lebendkulturen.de: pp. 4, 5
Shutterstock/ © D. Kucharski K. Kucharska: p. 4
Shutterstock/ © Rattiya Thongdumhyu: p. 12

Agradecemos às agências de fomento:


Descobrindo
a microfauna
do solo
A fauna do solo é formada por
uma grande quantidade e di-
versidade de invertebrados perten-
vezes se alimentam de resíduos em
decomposição.
São necessários alguns cuidados
centes aos mais diversos grupos, e no manejo edáfico para que seja
que exercem importantes funções preservada a existência desses e
no ecossistema solo. Entre eles, en- de outros organismos do solo. As-
contra-se um grupo de grande rele- sim, em condições que predomina
vância chamado microfauna. Esses a diversidade vegetal, a vida no
habitantes do solo atuam na produ- solo se expressa de uma manei-
ção e preservação da qualidade edá- ra mais complexa e dinâmica, e
fica, na regulação das comunidades principalmente equilibrada. Sendo
de micro-organismos e na ciclagem pe­ça fundamental de uma grande
de nutrientes. Além disso, possuem engrenagem, a microfauna merece
um importante papel nos ciclos bio- estudos e pesquisas buscando seu
geoquímicos, uma vez que muitas maior entendimento.

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Os organismos da
microfauna
D enomina-se microfauna o con-
junto de organismos micros-
cópicos que se encontram no solo,
microfauna, mas sim no grupo dos
micro-organismos. Quanto ao ha-
bitat, esses organismos necessitam
cujo tamanho é inferior a 0,2 mm de de solos com alta umidade. Sua lo-
diâmetro e tem como representan- comoção se dá pelos poros do solo,
tes, principalmente os protozoários, onde buscam proteção, alimento e
nematoides e rotíferos. Apesar de as reprodução. Localizam-se até 20 cm
bactérias, fungos e algas possuírem de profundidade no solo, onde exis-
tamanho microscópico, esses or- tem as condições mais adequadas
ganismos não são enquadrados na para seu desenvolvimento.

Rotífero Nematoide

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Protozoários
S ão seres vivos unicelulares e
microscópicos pertencentes
ao Reino Protozoa. São importan-
tes, como a água e o solo. Quanto ao
modo de vida, podem ser de vida li-
vre, parasitas ou mutualistas. Entre
tes componentes dos ecossistemas eles, destacam-se os flagelados, ci-
e fundamentais para a pesquisa, liados e amebas, que são seus maio-
funcionando como modelos para res representantes no solo. Esses
estudos de biologia celular e como três grupos foram classificados de
indicadores ambientais. São capazes acordo com a maneira que se movi-
de habitar diversos tipos de ambien- mentam e se alimentam.

Ameba

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Flagelados
Os flagelados são os mais antigos mada flagelo, que é utilizada para
e numerosos entre esses organis- se locomover.
mos. Possuem uma estrutura cha-

Nem todos os
protozoários tem
cloroplastros

Ciliados
Os ciliados, ao contrário dos flage- podem envolver parte ou todo o seu
lados, são os evolutivamente mais corpo, e pelo desenvolvimento obri-
recentes desse grupo. São caracte- gatório de cistos.
rizados pela presença de cílios, que

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Amebas
Neste filo, a locomoção se dá por as amebas representam os organis-
meio de expansões citoplasmáticas mos mais vorazes e ativos do gru-
chamadas pseudópodes. Do grego: po. Consomem bactérias, fungos,
pseudos – falso, podos – pé. algas e partículas de matéria orgâ-
Entre os protozoários do solo, nica pelo processo de fagocitose.

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Habitat e alimentação dos protozoários
Esses seres habitam os mais varia- do solo. Alimentam-se pelo pro-
dos tipos de ambiente. Ajudam na cesso de fagocitose, envolvendo as
decomposição de fezes e de qual- seguintes fases: a) a superfície cor-
quer matéria orgânica, ou seja, co- poral invagina-se ao redor da presa;
laboram com a limpeza do meio am- b) a fonte nutricional ingerida
biente. A maioria é consumidora de ocupa o vacúolo alimentar que se
bactérias, atingindo o primeiro lu- conjuga e se funde aos lisossomos
gar no consumo desses organismos primários, que já existem na célula;

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c) os nutrientes extraídos são dispo- so de exocitose. Devido ao alto con-
nibilizados no interior do protozoá- sumo de bactérias, os protozoários
rio e são distribuídos no citoplasma do solo ajudam na regulação e modi-
celular; d) tudo que não puder ser ficação do tamanho e características
digerido será eliminado pelo proces- dessas comunidades.

Reprodução
Os protozoários de vida livre podem da celula e, em seguida, ocorre a di-
se reproduzir por divisão binária visão do núcleo. O citoplasma extra-
(reprodução assexuada) ou reprodu- vasa, forma-se uma nova carapaça,
ção sexuada. O processo de divisão dando origem a dois novos indivi-
binária se inicia com o crescimento duos identicos, como clones.

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Esse ciclo é rápido (ocorre em Uma das formas sexuadas de re-
algumas horas) e, por isso, podem produção é quando dois indivíduos
promover um potencial impacto de sexos diferentes fundem-se.
sobre a comunidade bacteriana e Nesse processo, são gerados indi-
sobre populações de nematoides do víduos diferentes, pois houve um
solo, principalmente daqueles que cruzamento entre seus genitores,
se alimentam de bactérias competi- promovendo uma maior variabili-
doras por seu alimento. Essa forma dade genética para o organismo.
de reprodução é minoritária entre
os protozoários.

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Rotíferos

O seu nome faz referência à


coroa de cílios que rodeia a
boca desses animais (rota: roda,
fera: aqueles que possuem). O cor-
po é segmentado externamente,
mas não internamente. É dividido
em três regiões: cabeça, coroa cilia-
da (localizada ao redor da cabeça) e
na parte posterior, um pé ou calda.
Os cílios movem-se rapidamente,
criando correntes de água, o que
lembra uma roda girando, e tem
como funções ajudar na locomoção
e na captura de alimentos (algas uni-
celulares ou bactérias). O pé funcio-
na como um órgão de adesão e nele
existem glândulas que secretam ma-
terial adesivo. A cutícula geralmente
é transparente, mas há algumas es-
pécies que apresentam lindas cores.
Quanto ao tamanho, podem variar
de 40 µm a 3 mm.

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Os rotíferos possuem interessan- prios rotíferos, e de crustáceos.
te mecanismo de resistência, em Para que esses organismos sejam
condições não adequadas de desen- preservados, é importante manejar
volvimento, eles ressecam e retor- adequadamente os mananciais hí-
nam ao normal quando o ambiente dricos, diversificar o ciclo e espécies
torna-se propicio. de plantas cultivadas no solo, aplicar
Os rotíferos têm grande im- corretamente produtos químicos na
portância ecológica na dieta de agricultura, ou seja, utilizá-los sem
outros organismos do solo, como excesso, como também des­car­tá-los
os insetos, protozoários, dos pró- em locais adequados.

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Nematoides

S ão seres microscópicos, com va-


riação de 150 µm até 4 mm no
seu comprimento, com corpo filifor-
tecidos, apresentando-se ao micros-
cópio como organismos incolores
ou transparentes. Na classificação,
me e simetria bilateral, possuindo estão inseridos dentro do filo Nema-
as extremidades afiladas. Não pos- toda (do grego, nematos: fio).
suem nenhum pigmento nos seus Morfologicamente, podem ser

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descritos como “um tubo dentro de alta fertilidade pode conter milhões
outro tubo”. Na verdade, o tubo ex- de nematoides. Existem mais de 90
terno é a parede do corpo formada mil espécies descritas; contudo, pes-
por cutícula, lipoderme e muscula- quisadores acreditam que esse nú-
tura somática. O tubo interno é o in- mero pode ser muito maior.
testino que vai desde a parte basal do Os nematoides habitam quase
esôfago até ao início da cauda. Entre todos os ambientes terrestres, e ma-
os tubos, fica a cavidade denomina- joritariamente são encontrados na
da pseudoceloma. O pseudoceloma é faixa de 5 a 30 cm de profundidade,
cheio de líquido sob pressão que ba- ocorrendo com maior frequência em
nha todos os órgãos internos, levan- solos arenosos. Estima-se que 50%
do nutrientes às células. A cutícula deles sejam marinhos e os outros
tem a importante função de prote- 50% distribuídos nos continentes.
ger o nematoide, sendo permeável à Em sua maioria, são de vida livre e
água, e é trocada periodicamente. podem se alimentar de fungos, bac-
Os nematoides são os animais térias, plantas, insetos, protozoá-
mais abundantes e os mais diversi- rios, rotíferos, anelídeos e até mes-
ficados na face da Terra, onde, entre mo de outros nematoides. Por outro
cada cinco animais, quatro são ne- lado, podem ser presas de ácaros,
matoides. Uma colher de solo com larvas de insetos e fungos.

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Importância ecológica
Os nematoides são conhecidos fertilidade do solo através do fluxo
principalmente por serem nocivos de energia e da mobilização de nu-
à saúde humana, dos animais e das trientes. Além desses benefícios, os
plantas. Porém, igualmente, eles de- nematoides podem contribuir com
sempenham importantes funções importantes serviços aos agroe-
no solo, contribuindo para a cicla- cossistemas, como agente de con-
gem de nutrientes e a regulação da trole biológico de insetos-pragas.

Classificação dos nematoides de


acordo com o hábito alimentar
Fitopatogênicos – são os nema- Esses nematoides multiplicam-se
toides que atacam plantas, alimentan- dentro do inseto, causando sua
do-se do seu tecido vivo. Provocam morte, e produzindo milhares de
prejuízos de bilhões de dólares na novos nematoides.
agricultura mundial. Causam diversos
tipos de sintomas, entre eles, engros- Bacteriófagos – alimentam-se
samento nas raízes, conhecido como de células bacterianas presentes no
galhas, provocadas, por exemplo, por
espécies do gênero Meloidogyne. Agroecossistemas: ecossistema
adaptado para a produção agrícola.

Entomopatogênicos – esses Bactérias mutualísticas: vivem


nematoides matam insetos, através dentro do nematoide sem prejudicar o
mesmo. Sua presença é favorável para
da infecção por bactérias mutua- a sobrevivência do nematoide.
lísticas, presentes no seu interior.

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solo, podendo ingerir bactérias que decomposição de matéria orgânica
causam doenças nas plantas. Contu- do solo, mas também os fungos fito-
do, podem também consumir bac- patogênicos e fungos micorrízicos,
térias benéficas às plantas, como as que se associam às raízes das plan-
fixadoras de nitrogênio. tas, promovendo vários benefícios
(esse assunto será abordado com
Fungívoro – alimentam-se de mais detalhes na cartilha Micro-or-
fungos, não apenas os associados à ganismos).

Nematoides fitopatogênicos
Os nematoides fitopatogênicos ali- Taxonomia e
mentam-se de plantas, causando re- Sintomatologia
dução na produtividade das culturas. Os nematoides parasitas de plantas
Na produção de hortaliças, estima-se são distribuídos em duas classes:
a redução na ordem de 23%. Pesqui- Secernentea e Adenophorea. Na
sas mostraram que o prejuízo decor- classe Secernentea, está a ordem
rente do ataque de fitonematoide Tylenchida, com mais de 80% dos
pode chegar a 100 bilhões de dólares. nematoides de interesse agrícola.
Esses representantes da microfau- Têm como maior representante
na têm ação nociva sobre o sistema o gênero Meloidogyne, conhecido
radicular das plantas, afetando a ab- como nematoide de galhas. Atual-
sorção e a translocação de nutrientes. mente, mais de 90 espécies desse
Também podem predispor a planta a gênero são conhecidas. Estas se
outras doenças, principalmente a ou- hospedam em diversas espécies de
tros patógenos do solo, a estresses plantas e apresentam uma ampla
ambientais ou atuarem como trans- distribuição geográfica. As galhas
missores de outros patógenos. ocorrem em raízes e tubérculos.

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Na presença desses nematoides, O Meloidogyne em estádio juvenil
as partes infectadas são até três penetra no sistema radicular e induz
vezes mais grossas do que as não algumas células da raiz a hipertro-
infectadas. fiar, denominadas células gigantes.

TAXO N O M I A

F I LO N E M ATO DA

C L ASS E S

SECERNENTEA ADENOPHOREA
ORDEM TYLENCHYDA: ORDEM DORYLAIMIDA:
Meloidogyne, Heterodera, Pratylenchus, Longidorus, Paralongidorus,
Aphelenchoides e Bursaphelenchus. Xiphinema e Trichodorus.

80% DOS NEMATOIDES

Nematoide em estádio juvenil Fêmea adulta do Sistema radicular


atacando uma raiz. gênero Meloidogyne. apresentando o sintoma
de galhas.

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Esse sintoma é semelhante a um auxilia na absorção do nutriente da
câncer, mas, diferentemente, como célula gigante da planta.
ocorre nos animais, ele é localiza- As condições que favorecem o de-
do, pois cada fêmea é capaz de alte- senvolvimento dos nematoides de
rar no máximo cinco células. Atra- galhas são temperaturas elevadas,
vés dessas células, a fêmea suga o hospedeiro disponível e alta umi-
alimento necessário ao desenvolvi- dade no solo. Nesse caso, o ciclo de
mento do corpo e, para sua repro- vida pode se dar em apenas 28 dias.
dução, com a ajuda de um órgão Uma única fêmea pode produzir até
específico dos nematoides fitopato- 2500 ovos envolvidos em uma espé-
gênicos: o estilete. O estilete é uma cie de gelatina, formando uma mas-
estrutura rígida e pontiaguda, que sa de ovos na superfície da raiz.

estilete

Estilete de Pratylenchus sp.: órgão dos nematoides que permite o parasitismo nas plantas

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c
a

Ovos (a, b) e cisto com ovos (c) de nematoides fitopatogênicos

Além do gênero Meloidogyne, exis- alguns exemplos de espécies, sinto-


tem centenas de nematoides impor- mas e hospedeiros:
tantes na agricultura mundial. Veja

Planta: cenoura (Daucus carota) Planta: cafeeiro (Coffea arabica)


Nematoide: Meloidogyne sp. Nematoide: Meloidogyne paranaensis
Sintoma: galhas nas raízes Sintoma: aspecto de cortiça e
descamamento

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Planta: tomateiro (Solanum lycopersicum) Planta: abobrinha (Cucurbita moschata)
Nematoide: Meloidogyne javanica Nematoide: Meloidogyne sp.
Sintoma: galhas nas raízes Sintoma: galhas nas raízes

VOCÊ SABIA?
Que produtores de soja no planalto
central brasileiro e algumas regiões do
Nordeste estão sofrendo com o ataque
de fitonematoides? Na cultura da soja, o
gênero Pratylenchus tem causado grandes
Planta: batata inglesa (Solanum
tuberosum)
prejuízos, por ser de difícil controle.
Nematoide: Meloidogyne incognita
Sintoma: pipoca

Nematoides entomopatogênicos
São vermes que se desenvolvem uti- Enquanto o nematoide completa
lizando um inseto como hospedeiro. seu ciclo de vida, o que pode levar
As duas principais famílias repre- de 7 a 15 dias, o inseto permanece
sentantes são os Heterorhabditidae sem modificações aparentes, ocor-
e Steinernematidae. rendo apenas uma mudança na

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coloração. A infecção se dá quan- de seu corpo na hemolinfa do in-
do o nematoide entomopatogêni- seto. Essas bactérias irão degradar
co encontra o hospedeiro e, então, o inseto para que, posteriormente,
são produzidos juvenis infecti- os nematoides se alimentem dessa
vos que penetram o tegumento ou “sopa bacteriana”, formada pelas
aberturas naturais do hospedeiro, bactérias e por tecidos degradados
liberando as bactérias mutualísticas do hospedeiro.

Juvenis infectivos: são os nematoi-


des entomopatogênicos no terceiro está-
gio de desenvolvimento que conseguem
infectar os insetos.

Hemolinfa: substância líquida pre-


sente dentro de todo o inseto, respon-
sável pelo transporte de nutrientes e
hormônios.

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Uso no controle biológico mosquitos), ortópteros (gafanhotos
de pragas e grilos), etc.
A utilização de nematoides ento-
mopatogênicos é uma boa alter- Como conservá-los?
nativa para o controle biológico de A conservação do ambiente natural
pragas, pois não são tóxicos para os é a melhor maneira de manter esses
mamíferos e levam o inseto à morte importantes representantes da mi-
rapidamente (24 a 72 horas). Além crofauna no solo. Esses vermes ne-
disso, podem permanecer por longo cessitam de alta umidade, pH próxi-
tempo no solo, protegidos dentro mo do neutro e não sobrevivem em
dos insetos que utilizaram como temperaturas extremas. Esses fatores
hospedeiros, até que ocorra uma estão ligados diretamente à vegetação
nova oportunidade de infecção. predominante no agroecosistema.
Quanto às práticas agrícolas, a di-
Quem são seus hospedeiros? versificação das culturas viabiliza a
Os hospedeiros dos nematoides manutenção dos nematoides ento-
entomopatogênicos estão distri- mopatogênicos no solo, colaboran-
buídos em diversas ordens de in- do também para o seu deslocamen-
setos, tais como coleópteros (be- to ao longo da cultura, aumentando,
souros), lepidópteros (mariposas assim, sua oportunidade de encon-
e borboletas), dípteros (moscas e tro com hospedeiros potenciais.

c
a b

a) Coleptero; b) Lepidoptero; c) Ortoptero

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Interações entre
microfauna
e solo
O s seres da microfauna variam
enormemente em forma, nú-
mero e função e fascinam os seres
A ocorrência de um organismo em
determinado solo é uma expressão
de sua reação às condições dominan-
humanos desde a sua descoberta. tes, permitindo sua sobrevivência de
São organismos capazes de sobre- forma ativa ou inativa.
viverem e se multiplicarem em uma O sistema de manejo do solo,
imensa variedade de condições. assim como o uso de insumos, como
Como meio para o crescimento, fertilizantes minerais e defensivos,
proliferação e sobrevivência desses promove modificações diversas na
organismos, o solo é um ambiente microbiota, propiciando condições
adequado para alojar inúmeras e que influenciam na permanência ou
pequenas comunidades discretas. não desses organismos no solo.

Controle de fitonematoides com micro-organismos


Como foi mencionado anteriormente, os fitonematoides causam grandes
prejuízos na produção agrícola de todo o mundo. Atualmente, uma das for-
mas mais eficientes de manejá-los é a utilização de agentes de biocontrole,
como bactérias e fungos. São vários os organismos e formulações oriundos
de pesquisa. Destacam-se as rizobactérias do gênero Bacillus, que entre as
várias ações, reduzem a atratividade das raízes aos nematoides e o fungo
Pochonia, que parasita ovos e fêmeas de nematoides.

M I C R O FAU N A 23
Como preservar
e manter a
microfauna

A ssim como ocorre com outros
sistemas ecológicos, é funda-
mental conservar o solo o mais pró-
cultura comercial, deve-se diversi-
ficar o ciclo de plantas cultivadas,
regular o uso de produtos químicos
ximo possível de suas características no controle de pragas e doenças e
originais, para a manutenção da fau- preservar os mananciais hídricos,
na e da flora nativas. resguardando nascentes e utilizan-
Diante da ação dos seres huma- do de forma controlada a água.
nos na natureza e no avanço das Em um ecossistema, todos os ele-
áreas urbanas, é necessário atentar mentos, inclusive os seres humanos,
para a preservação do solo: descar- estão interligados e interdependen-
tes de lixos em áreas inadequadas e tes, direta ou indiretamente. A pre-
desmatamentos descontrolados são servação e manutenção, seja do mi-
ações severamente nocivas. Na agri- cro, seja do macro, equilibram o todo.

24 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


O solo e suas múltiplas funções são a base da vida no planeta. Além
de produzir nossos alimentos, fibras para nossas roupas e energia
para diversos fins, é responsável pela qualidade do ar e da água, entre
outras funções. Apesar disso, os diferentes segmentos da sociedade, em
geral, negligenciam a sua importância. Para muitos, o solo é considerado
“sujeira”. Do mesmo modo, os inúmeros organismos que nele ha­bi­tam
são considerados pragas e causadores de doenças. No entanto, organis-
mos maléficos são uma minoria das espécies existentes e são controla-
dos por outras espécies quando o ambiente está em equilíbrio. Equilíbrio
que é rompido por atividades humanas inadequadas. Isso acontece dev-
ido ao enorme desconhecimento sobre tudo que se refere ao solo. O ob-
jetivo da coleção “Conhecendo a vida do solo” é aumentar a consciência
sobre a importância do solo, de modo que esse recurso da natureza seja
preservado, não só para garantir a existência das futuras gerações, mas
também para melhorar a qualidade de nossa vida hoje.

Os editores

ISBN 978-85-8127-068-5

9 788581 270685

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