Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Micro
VO LUME 4
fauna
© 2017 by Maíra Akemi Toma, Rogério Custódio Vilas Boas e Fatima Maria de Souza Moreira
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma,
sem a autorização escrita e prévia dos detentores do copyright.
Direitos de publicação reservados à Editora UFLA.
Impresso no Brasil – ISBN: 978-85-8127-068-5
Editora UFLA
Campus UFLA - Pavilhão 5
Caixa Postal 3037 – 37200-000 – Lavras – MG
Tel: (35) 3829-1532 – Fax: (35) 3829-1551
E-mail: editora@editora.ufla.br
Homepage: www.editora.ufla.br
Diretoria Executiva: Marco Aurélio Carbone Carneiro (Diretor) e Nilton Curi (Vice-Diretor)
Conselho Editorial: Marco Aurélio Carbone Carneiro (Presidente), Nilton Curi, Francisval de
Melo Carvalho, Alberto Colombo, João Domingos Scalon, Wilson Magela Gonçalves.
Administração: Flávio Monteiro de Oliveira
Secretária: Késia Portela de Assis
Comercial/Financeiro: Damiana Joana Geraldo Souza
ISBN: 978-85-8127-068-5
VO LU M E 4
Micro
fauna
AUTORES
Camila Cramer Filgueiras
Universidade Federal de Lavras | camilacramer@gmail.com
REVISÃO TÉCNICA
Vicente Paulo Campos
Universidade Federal de Lavras | vpcampos@ufla.br
REVISÃO DE TEXTO
Paulo Roberto Ribeiro
M I C R O FAU N A 3
Os organismos da
microfauna
D enomina-se microfauna o con-
junto de organismos micros-
cópicos que se encontram no solo,
microfauna, mas sim no grupo dos
micro-organismos. Quanto ao ha-
bitat, esses organismos necessitam
cujo tamanho é inferior a 0,2 mm de de solos com alta umidade. Sua lo-
diâmetro e tem como representan- comoção se dá pelos poros do solo,
tes, principalmente os protozoários, onde buscam proteção, alimento e
nematoides e rotíferos. Apesar de as reprodução. Localizam-se até 20 cm
bactérias, fungos e algas possuírem de profundidade no solo, onde exis-
tamanho microscópico, esses or- tem as condições mais adequadas
ganismos não são enquadrados na para seu desenvolvimento.
Rotífero Nematoide
Ameba
M I C R O FAU N A 5
Flagelados
Os flagelados são os mais antigos mada flagelo, que é utilizada para
e numerosos entre esses organis- se locomover.
mos. Possuem uma estrutura cha-
Nem todos os
protozoários tem
cloroplastros
Ciliados
Os ciliados, ao contrário dos flage- podem envolver parte ou todo o seu
lados, são os evolutivamente mais corpo, e pelo desenvolvimento obri-
recentes desse grupo. São caracte- gatório de cistos.
rizados pela presença de cílios, que
M I C R O FAU N A 7
Habitat e alimentação dos protozoários
Esses seres habitam os mais varia- do solo. Alimentam-se pelo pro-
dos tipos de ambiente. Ajudam na cesso de fagocitose, envolvendo as
decomposição de fezes e de qual- seguintes fases: a) a superfície cor-
quer matéria orgânica, ou seja, co- poral invagina-se ao redor da presa;
laboram com a limpeza do meio am- b) a fonte nutricional ingerida
biente. A maioria é consumidora de ocupa o vacúolo alimentar que se
bactérias, atingindo o primeiro lu- conjuga e se funde aos lisossomos
gar no consumo desses organismos primários, que já existem na célula;
Reprodução
Os protozoários de vida livre podem da celula e, em seguida, ocorre a di-
se reproduzir por divisão binária visão do núcleo. O citoplasma extra-
(reprodução assexuada) ou reprodu- vasa, forma-se uma nova carapaça,
ção sexuada. O processo de divisão dando origem a dois novos indivi-
binária se inicia com o crescimento duos identicos, como clones.
M I C R O FAU N A 9
Esse ciclo é rápido (ocorre em Uma das formas sexuadas de re-
algumas horas) e, por isso, podem produção é quando dois indivíduos
promover um potencial impacto de sexos diferentes fundem-se.
sobre a comunidade bacteriana e Nesse processo, são gerados indi-
sobre populações de nematoides do víduos diferentes, pois houve um
solo, principalmente daqueles que cruzamento entre seus genitores,
se alimentam de bactérias competi- promovendo uma maior variabili-
doras por seu alimento. Essa forma dade genética para o organismo.
de reprodução é minoritária entre
os protozoários.
M I C R O FAU N A 11
Os rotíferos possuem interessan- prios rotíferos, e de crustáceos.
te mecanismo de resistência, em Para que esses organismos sejam
condições não adequadas de desen- preservados, é importante manejar
volvimento, eles ressecam e retor- adequadamente os mananciais hí-
nam ao normal quando o ambiente dricos, diversificar o ciclo e espécies
torna-se propicio. de plantas cultivadas no solo, aplicar
Os rotíferos têm grande im- corretamente produtos químicos na
portância ecológica na dieta de agricultura, ou seja, utilizá-los sem
outros organismos do solo, como excesso, como também descartá-los
os insetos, protozoários, dos pró- em locais adequados.
M I C R O FAU N A 13
descritos como “um tubo dentro de alta fertilidade pode conter milhões
outro tubo”. Na verdade, o tubo ex- de nematoides. Existem mais de 90
terno é a parede do corpo formada mil espécies descritas; contudo, pes-
por cutícula, lipoderme e muscula- quisadores acreditam que esse nú-
tura somática. O tubo interno é o in- mero pode ser muito maior.
testino que vai desde a parte basal do Os nematoides habitam quase
esôfago até ao início da cauda. Entre todos os ambientes terrestres, e ma-
os tubos, fica a cavidade denomina- joritariamente são encontrados na
da pseudoceloma. O pseudoceloma é faixa de 5 a 30 cm de profundidade,
cheio de líquido sob pressão que ba- ocorrendo com maior frequência em
nha todos os órgãos internos, levan- solos arenosos. Estima-se que 50%
do nutrientes às células. A cutícula deles sejam marinhos e os outros
tem a importante função de prote- 50% distribuídos nos continentes.
ger o nematoide, sendo permeável à Em sua maioria, são de vida livre e
água, e é trocada periodicamente. podem se alimentar de fungos, bac-
Os nematoides são os animais térias, plantas, insetos, protozoá-
mais abundantes e os mais diversi- rios, rotíferos, anelídeos e até mes-
ficados na face da Terra, onde, entre mo de outros nematoides. Por outro
cada cinco animais, quatro são ne- lado, podem ser presas de ácaros,
matoides. Uma colher de solo com larvas de insetos e fungos.
M I C R O FAU N A 15
solo, podendo ingerir bactérias que decomposição de matéria orgânica
causam doenças nas plantas. Contu- do solo, mas também os fungos fito-
do, podem também consumir bac- patogênicos e fungos micorrízicos,
térias benéficas às plantas, como as que se associam às raízes das plan-
fixadoras de nitrogênio. tas, promovendo vários benefícios
(esse assunto será abordado com
Fungívoro – alimentam-se de mais detalhes na cartilha Micro-or-
fungos, não apenas os associados à ganismos).
Nematoides fitopatogênicos
Os nematoides fitopatogênicos ali- Taxonomia e
mentam-se de plantas, causando re- Sintomatologia
dução na produtividade das culturas. Os nematoides parasitas de plantas
Na produção de hortaliças, estima-se são distribuídos em duas classes:
a redução na ordem de 23%. Pesqui- Secernentea e Adenophorea. Na
sas mostraram que o prejuízo decor- classe Secernentea, está a ordem
rente do ataque de fitonematoide Tylenchida, com mais de 80% dos
pode chegar a 100 bilhões de dólares. nematoides de interesse agrícola.
Esses representantes da microfau- Têm como maior representante
na têm ação nociva sobre o sistema o gênero Meloidogyne, conhecido
radicular das plantas, afetando a ab- como nematoide de galhas. Atual-
sorção e a translocação de nutrientes. mente, mais de 90 espécies desse
Também podem predispor a planta a gênero são conhecidas. Estas se
outras doenças, principalmente a ou- hospedam em diversas espécies de
tros patógenos do solo, a estresses plantas e apresentam uma ampla
ambientais ou atuarem como trans- distribuição geográfica. As galhas
missores de outros patógenos. ocorrem em raízes e tubérculos.
TAXO N O M I A
F I LO N E M ATO DA
C L ASS E S
SECERNENTEA ADENOPHOREA
ORDEM TYLENCHYDA: ORDEM DORYLAIMIDA:
Meloidogyne, Heterodera, Pratylenchus, Longidorus, Paralongidorus,
Aphelenchoides e Bursaphelenchus. Xiphinema e Trichodorus.
M I C R O FAU N A 17
Esse sintoma é semelhante a um auxilia na absorção do nutriente da
câncer, mas, diferentemente, como célula gigante da planta.
ocorre nos animais, ele é localiza- As condições que favorecem o de-
do, pois cada fêmea é capaz de alte- senvolvimento dos nematoides de
rar no máximo cinco células. Atra- galhas são temperaturas elevadas,
vés dessas células, a fêmea suga o hospedeiro disponível e alta umi-
alimento necessário ao desenvolvi- dade no solo. Nesse caso, o ciclo de
mento do corpo e, para sua repro- vida pode se dar em apenas 28 dias.
dução, com a ajuda de um órgão Uma única fêmea pode produzir até
específico dos nematoides fitopato- 2500 ovos envolvidos em uma espé-
gênicos: o estilete. O estilete é uma cie de gelatina, formando uma mas-
estrutura rígida e pontiaguda, que sa de ovos na superfície da raiz.
estilete
Estilete de Pratylenchus sp.: órgão dos nematoides que permite o parasitismo nas plantas
M I C R O FAU N A 19
Planta: tomateiro (Solanum lycopersicum) Planta: abobrinha (Cucurbita moschata)
Nematoide: Meloidogyne javanica Nematoide: Meloidogyne sp.
Sintoma: galhas nas raízes Sintoma: galhas nas raízes
VOCÊ SABIA?
Que produtores de soja no planalto
central brasileiro e algumas regiões do
Nordeste estão sofrendo com o ataque
de fitonematoides? Na cultura da soja, o
gênero Pratylenchus tem causado grandes
Planta: batata inglesa (Solanum
tuberosum)
prejuízos, por ser de difícil controle.
Nematoide: Meloidogyne incognita
Sintoma: pipoca
Nematoides entomopatogênicos
São vermes que se desenvolvem uti- Enquanto o nematoide completa
lizando um inseto como hospedeiro. seu ciclo de vida, o que pode levar
As duas principais famílias repre- de 7 a 15 dias, o inseto permanece
sentantes são os Heterorhabditidae sem modificações aparentes, ocor-
e Steinernematidae. rendo apenas uma mudança na
M I C R O FAU N A 21
Uso no controle biológico mosquitos), ortópteros (gafanhotos
de pragas e grilos), etc.
A utilização de nematoides ento-
mopatogênicos é uma boa alter- Como conservá-los?
nativa para o controle biológico de A conservação do ambiente natural
pragas, pois não são tóxicos para os é a melhor maneira de manter esses
mamíferos e levam o inseto à morte importantes representantes da mi-
rapidamente (24 a 72 horas). Além crofauna no solo. Esses vermes ne-
disso, podem permanecer por longo cessitam de alta umidade, pH próxi-
tempo no solo, protegidos dentro mo do neutro e não sobrevivem em
dos insetos que utilizaram como temperaturas extremas. Esses fatores
hospedeiros, até que ocorra uma estão ligados diretamente à vegetação
nova oportunidade de infecção. predominante no agroecosistema.
Quanto às práticas agrícolas, a di-
Quem são seus hospedeiros? versificação das culturas viabiliza a
Os hospedeiros dos nematoides manutenção dos nematoides ento-
entomopatogênicos estão distri- mopatogênicos no solo, colaboran-
buídos em diversas ordens de in- do também para o seu deslocamen-
setos, tais como coleópteros (be- to ao longo da cultura, aumentando,
souros), lepidópteros (mariposas assim, sua oportunidade de encon-
e borboletas), dípteros (moscas e tro com hospedeiros potenciais.
c
a b
M I C R O FAU N A 23
Como preservar
e manter a
microfauna
A ssim como ocorre com outros
sistemas ecológicos, é funda-
mental conservar o solo o mais pró-
cultura comercial, deve-se diversi-
ficar o ciclo de plantas cultivadas,
regular o uso de produtos químicos
ximo possível de suas características no controle de pragas e doenças e
originais, para a manutenção da fau- preservar os mananciais hídricos,
na e da flora nativas. resguardando nascentes e utilizan-
Diante da ação dos seres huma- do de forma controlada a água.
nos na natureza e no avanço das Em um ecossistema, todos os ele-
áreas urbanas, é necessário atentar mentos, inclusive os seres humanos,
para a preservação do solo: descar- estão interligados e interdependen-
tes de lixos em áreas inadequadas e tes, direta ou indiretamente. A pre-
desmatamentos descontrolados são servação e manutenção, seja do mi-
ações severamente nocivas. Na agri- cro, seja do macro, equilibram o todo.
Os editores
ISBN 978-85-8127-068-5
9 788581 270685