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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SOROCABA

Apostila Prática - Projeto de Engrenagens para Redutores


Curso de Tecnologia em Projetos Mecânicos

Prof. M.Sc. Luiz Alberto Balsamo

Março / 2011

Luiz Alberto Balsamo


03/2011
FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SOROCABA

Apostila Prática - Projeto de Engrenagens para Redutores


Curso de Tecnologia em Projetos Mecânicos

1- INTRODUÇÃO

Esta apostila tem como principal objetivo oferecer um material para apoio
didático no que se refere ao conhecimento básico de projeto de engrenagens para
aplicação em redutores de velocidade, necessário as disciplinas de Elementos de
Máquinas II e Construção de Máquinas II, do Curso de Tecnologia em Projetos
Mecânicos da Faculdade de Tecnologia de Sorocaba.

2 – REDUTORES DE VELOCIDADE

Redutor de velocidade é um dispositivo mecânico que se destina a transmitir


movimento e força de maneira a reduzir a velocidade, ou seja, a rotação de um
acionador, segundo uma relação de transmissão pré determinada em função da
necessidade de adequação da rotação do acionador para a rotação requerida no
dispositivo a ser acionado.
Existem diversos tipos e configurações de redutores de velocidade, sendo os
mais comuns os redutores de velocidade por engrenagens, que nesse caso utilizam
engrenagens, que em sua maioria, podem ser cilíndricas ou cônicas, ou ainda do tipo
coroa e rosca sem fim.
Os redutores ocupam um papel extremamente importante em projetos de
conjuntos mecânicos onde existe a necessidade de transmissão de movimento e força,
pois os motores elétricos trabalham normalmente em velocidades que vão de 870 a
3600 rpm e os motores a combustão interna apresentam sua melhor faixa de trabalho
entre 2000 e 4500 rpm, enquanto os dispositivos acionados em sua maioria necessitam
realizar trabalho em menores rotações, por exemplo, a rotação no eixo da roda dos
veículos (aprox. 0,5m) gira a cerca de 1000rpm quando o veículo se movimenta a
100Km/h.
Para melhor entendimento do projeto de redutores é interessante conhecer os
diversos tipos de engrenagens e suas principais características.

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No quadro abaixo apresenta-se então os diversos tipos de engrenagens,


descrevendo-se suas principais características:

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2.1 – Características dos redutores.


Para o projeto de redutores que utilizam engrenagens cilíndricas na transmissão
de movimento pode-se considerar:

2.1.1 Potência de transmissão


• potências até 25.000 CV
• velocidades tangenciais de até 150-200m/s

2.1.2 Rendimento
rendimento de engrenagens cilíndricas entre 95 a 99%
rendimento total considerar todos os rendimentos mecânicos
ηt - rendimento total
ηe - rendimento de pares de engrenagens
ηa - rendimento de acoplamento
ηr - rendimento de rolamento

ηt = ηe × ηa × ηr

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2.1.3 Lei do engrenamento (relação de multiplicação):

n1 – rotação do pinhão
n
i= 1 n2 – rotação da coroa
n2

2.1.4 Redução total para cada tipo de redutor (máxima redução):

* simples redução: máxima relação: 1:8


* dupla redução: máxima relação: 1:45
* tripla redução: máxima relação: 1:200

2.1.5 Repartição em estágios

• dois estágios: iI = 0,76×it0,65 iII = it / iI

• três estágios: ×it0,52 iII = 1,1×


iI = 0,65× ×it0,3 iIII = it / (iI x iII)

2.1.6 Lubrificação - dados práticos para lubrificação de redutores:

vp (m/s) flanco dos dentes lubrificação

0 - 0,8 fundido ou graxa aplicada


desbastados
0,8 - 4 fresado liso ou por imersão em graxa
retificado grosso ou óleo
4 - 12 lapidado fino ou imersão em óleo
rasqueteado
12 - 60 retificado fino salpicamento

OBS: vp – velocidade periférica da engrenagem :

v = n× D (m/s)
p
19100

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3 – PROJETO DAS ENGRENAGENS

3.1 Engrenagens Cilíndricas de Dentes Retos : características geométricas

m= D i=
z D n
=2
= 2 1 D + D m × (z + z )
z z D n a= 1
=2 1 2

1 1 2 2 2

3.2 Módulos Normalizados (conforme DIN 780)

módulo (mm) variação entre módulos (mm)

0,3 a 1 0,10 em 0,10


1 a 4 0,25 em 0,25
4 a 7 0,5 em 0,5
7 a 16 1 em 1
16 a 24 2 em 2
24 a 45 3 em 3
45 a 75 5 em 5

3.3 Número Mínimo de Dentes

z ≥ 12 - vp pequenas: 0 - 2 m/s
z ≥ 14 - vp médias: 2 - 10 m/s
z ≥ 18 - vp altas: >10 m/s

3.4 Relação entre a Largura dos dentes e o diâmetro primitivo “B/D”

• B/D ≤ 1,2 - para pinhão bi-apoiado


• B/D ≤ 0,7 - para pinhão em balanço

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3.5 Materiais para engrenagens

material tratamento térmico σadm (kgf/mm2) HB (kgf/mm2)

Fo Fo --- 4 150
1045 normalizado 13 170
1045 têmpera total 15 250
1045 têmpera superficial 13 170 - 450
4340 têmpera total 25 300
4340 têmpera superficial 18 170 – 450
8620 cementado 15 600
8640 têmpera total 20 350
8640 têmpera superficial 14 170 – 500

3.6 Dimensionamento das ECDRs :

O dimensionamento de engrenagens deve ser feito obedecendo a dois critérios:

• critério de desgaste (pressão, contato, “pitting”) – tem como objetivo garantir que
não haja desgaste no flanco do dente, dentro de uma vida útil pretendida.
• critério de resistência (quebra) - tem como objetivo garantir que não haja quebra
durante sua vida útil.

3.6.1 Critério de desgaste

Esse critério utiliza a formulação de Hertz, para dois cilindros em contato;


chegando-se à seguinte expressão:

4,5 × 10 × N × (i ± 1)
6
(mm3)
B×D ≥ 2

k ×n×i

O produto BD2 representa o “volume mínimo”, da engrenagem, capaz de


transmitir a potência “N”, a uma rotação “n”, sob uma pressão “k”. O sinal positivo em
“i ± 1” é usado para engrenamento externo e o negativo para engrenamento interno.

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A pressão “k” é representada por uma expressão que contém: dureza do flanco
do dente, o tipo de material, a rotação e a vida da engrenagem

8,7 × HB  1 1  2

k=  +  (kgf/mm2)
( n × h)  E E 
1/ 3
1 2

HB - dureza Brinnell no flanco do dente (kgf/mm2)


N - potência transmitida (CV)

n – rotação da engrenagem
h - vida da engrenagem (horas)
E - módulo de elasticidade do material (kgf/mm2)
Eaço = 21.000 kgf/mm2

3.6.2 Critério de resistência :

Esse critério utiliza a resistência dos materiais para sua análise. O esforço no
engrenamento “PN” causa, na base do dente, momento fletor, forças cortante e
normal, tal que a tensão máxima deverá ser menor que a tensão admissível do
material:

1,4 × 10 × N × q
6

σ = ≤σ (kgf/mm2)
max
B ×m×e× D×n adm

o fator de carga “e” varia conforme o regime de utilização:

e = 0,8 - utilização contínua e carga máxima


e = 1,5 - uso parcial

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o fator de correção “q” depende do tipo de engrenamento e o número de dentes da


engrenagem e deve ser adotado conforme as tabelas abaixo:

Engrenamento externo:

z 12 13 15 17 20 30 40 50 > 60
q 4,5 4,3 3,9 3,6 3,3 3,1 2,9 2,7 2,6

Engrenamento interno:

z 20 30 40 50 100 > 200


q 1,7 1,9 2,0 2,1 2,3 2,4

3.7 Forças no Engrenamento das ECDRs

No contato entre os dentes, num engrenamento, a força normal “FN” tem uma
direção que forma com a tangente às circunferências primitivas um ângulo “α“. Essa
força normal, para facilidade de tratamento, é decomposta em duas forças ortogonais:
tangencial (FT) e radial (FR).

FT α

FR
FN

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1,4 × 10 × N 75 × N 2 × M
6
(kgf)
F = = = t
T
n× D v D p

F = F × tgα = 0,36 × F
R T T
(α = 20o)
(kgf)

M = 716200 × N (kgf.mm)
T
n

FT - força tangencial (kgf)


FR - força radial (kgf)
Mt - momento torçor (kgf.mm)

3.8 Engrenagens Cilíndricas de Dentes Inclinados ou Helicoidais –


- Principais Características

As engrenagens cilíndricas de dentes inclinados (helicoidais) apresentam


algumas vantagens e algumas desvantagens em relação as engrenagens de dentes
retos:

Vantagens:
• Menor volume necessário para os mesmos parâmetros de solicitação
• Menor ruído em operação
• Transmissão de movimento e força de maneira mais homogenia

Desvantagens:
• Maior custo de fabricação
• Projeto mais complexo
• Surgimento de uma força axial “FA”

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3.8.1 Características geométricas

mf

1,2mf

β
1,2mn

mn

mn - módulo normal

mf - módulo frontal

β - ângulo de hélice

zi - número de dentes imaginários

m =D mf =
mn z = z
z
f
cos β
i
cos β
3

i=
z D n
=
2
= 2 1 D + D (z + z ) × m
z D n a= 1
= 2 1 2 f

1 1 2 2 2

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3.9 Dimensionamento das ECDHs :

• Critério de desgaste

4,5 × 10 × N × (i ± 1) 6
(mm3)
B×D ≥ 2

k × n ×i ×ϕ p

Onde ϕP é um fator de correção que depende do ângulo de hélice:

β 0o 10o 20o 30o 40o 45o


ϕP 1 1,2 1,4 1,5 1,7 1,7

• Critério de resistência

1,4 × 10 × N × q
6

σ = ≤σ (kgf/mm2)
max
B × m × e× D × n ×ϕ
n R
adm

Onde ϕR é um fator de correção que depende do ângulo de hélice e “q” é função de zi:

β 0o 5o 10o 15o 20o ≥ 25o


ϕR 1 1,20 1,28 1,33 1,35 1,36

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3.10 Forças no Engrenamento das ECDHs

A composição das forças na transmissão com as ECDHs segue o mesmo


esquema due nas ECDRs, porém como já foi dito, nesse tipo de engrenagem aparece
uma nova componente, qual seja, uma força axial “FA”, que influencia diretamente “FR”

formulário:

1,4 × 10 × N 6

F = (kgf)
T
n× D

0,36 × F
F = T
(kgf)
R
cos β

(kgf)
F = F × tgβ
A T

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