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hooks, bell. The Will to Change: Men, Masculinity, and Love.

New York: Washington


Square Press, 2004. Chapter 2 Understanding Patriarchy, p. 17-36. Tradução por
Kaká Portilho, Brasil, Rio de Janeiro, abril de 2020.

RESENHA CRÍTICA
Thayná Barboza

Primeiramente, é importante esclarecer quanto ao nome da autora escrito em


letras minúsculas: bell hooks adotou o nome artístico em homenagem à sua avó e o
usava em letra minúscula para, segundo ela, destacar o seu trabalho e não à sua
pessoa e imagem. Portanto, esta resenha crítica respeita a escolha da autora.
Nascida no sul dos EUA, hooks foi uma pensadora, escritora, professora e ativista
negra de grande relevância para os movimentos antirracista e feminista.
Autora de mais de 30 livros e com uma grande bagagem acadêmica, bell
escreveu diversos textos que contribuíram para um maior pensamento crítico na
sociedade, desde poemas, livros teóricos à literatura infantil. Dentre seus livros,
estão presentes as temáticas a respeito da luta contra o racismo, a importância do
amor, crítica ao sistema capitalista e a desigualdade social e de gênero. Em seu
livro The Will to Change, bell discute sobre o amor para os homens, onde, numa
sociedade baseada na lógica patriarcal, não os permite sentir e estabelecer relações
amorosas nem consigo, nem com os outros. São ensinados pelos pais, pela
sociedade e pela mídia, desde o seu nascimento, a serem violentos e a camuflarem
quaisquer vestígios de sentimento, empatia ou amor. Indo em contraponto às teorias
feministas que consideram o homem como “inimigo” desse movimento, bell hooks
apresenta uma preocupação com o fato dos moldes patriarcais terem reprimido a
humanidade dos homens, tornando-os violentos e detentores de uma lógica que os
faz acreditar que são superiores e têm poder, “desde que eles exerçam dominância
sobre as mulheres, crianças e homens mais fracos que eles”. (CORREIA, 2020)
Portanto, o capítulo 2 do livro – Conhecendo o patriarcado –, será o objeto
desta crítica com o objetivo de entender o patriarcado com base no contexto que a
bell hooks traz em seu livro: “O patriarcado é o que mais constantemente nos
“socializa” impondo as maneiras comportamentais pelas quais devemos
desempenhar nossos papéis determinados pelo gênero, ainda que não tenhamos
conhecimento algum sobre o termo.” (HOOKS, 2004) Dito isso, a autora usa uma
linguagem pessoal para relatar a sua experiência familiar, cuja sua criação e a do
seu irmão mais velho deram-se de formas diferentes com o patriarcado
determinando como eles deveriam ser tratados pelos pais. Ela conta que o seu
papel na família restringia-se a servir, ser frágil e cuidar dos outros: combo clássico
do que dizem qual o papel da mulher, que pode ser observado no nosso dia a dia e
no de mulheres próximas a nós. Enquanto o papel do irmão dela – e de todos os
homens – era de ser forte, pensar, comandar e não se preocupar em cuidar das
outras pessoas. Dentre vários exemplos que a autora relata, um deles ocorreu
quando o pai bateu nela por desejar brincar de bolinha de gude (brincadeira, a
princípio, destinada aos meninos) com o irmão dela. Devido a esse acontecimento,
todos os familiares ficaram sabendo e a mensagem que foi transmitida era a de que,
caso não obedecesse às regras, a mulher seria punida: e assim ocorre a educação
fundamentada na arte do patriarcado, como diz hooks. (HOOKS, 2004, p.4) No
entanto, obter uma criação anti-patriarcalista é um desafio, uma vez que esses
valores estão profundamente enraizados na sociedade. Um exemplo disso se dá
quando a autora cita o terapeuta estadunidense Terrence Real, que é um renomado
pensador sobre a masculinidade patriarcal e, apesar disso, não consegue manter
seus filhos livres do patriarcado.
O pensamento patriarcal molda os valores da nossa cultura. Somos
socializados neste sistema, tanto mulheres quanto homens. Muitos de nós
adquirimos atitudes patriarcais em nossa família de origem, hábitos que geralmente
são ensinados por nossas mães. E essas atitudes patriarcais são reforçadas em
escolas e instituições religiosas. (HOOKS, 2004)
Tudo isso posto e relacionado com o tema da pesquisa, pode-se entender a
origem da problemática na forma em que a mulher é retratada nos comerciais
publicitários na campanha ‘Itaipava 100%’. O capítulo 2 do livro The Will to Change
serviu para contextualizar a lógica patriarcal e trazer uma visão pessoal que,
certamente, atinge inúmeras outras mulheres, seja conscientemente ou não. A
Publicidade, como um dos meios de comunicação responsáveis por disseminar e
moldar os valores da sociedade, possui um papel essencial quando busca
redirecionar a comunicação e acompanhar os avanços feministas. No entanto, cabe
o questionamento se tais mudanças são reflexos de uma mudança de mentalidade
ou apenas Diversitywashing. É essencial esclarecer que a intenção, aqui, não é
isentar os homens das responsabilidades deles por atos de violência, mas sim de
reconhecer que todos - homens e mulheres - são afetados pelo patriarcado e
também de mostrar o contexto na qual estamos inseridos. Além disso,
contextualizar o palco de onde surgem as diversas formas de violência às mulheres,
além da objetificação dos seus corpos, seja no dia a dia, seja nas publicidades, cujo
é o recorte dessa pesquisa.

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