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Mecânica dos Solos

Avançados e Introdução
a Obras da Terra

Prof. Luís Urbano Durlo Tambara Júnior

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof. Luís Urbano Durlo Tambara Júnior

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

J95m

Júnior, Luís Urbano Durlo Tambara


Mecânica dos solos avançados e introdução a obras da terra. / Luís
Urbano Durlo Tambara Júnior. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

203 p.; il.

ISBN 978-65-5663-019-9

1. Mecânica dos solos. - Brasil. 2. Fundações (Engenharia). – Brasil.


Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 624.15136

Impresso por:
Apresentação
Na natureza, o solo é essencialmente constituído por duas fases: a
sólida e a fluída, sendo a última formada por líquidos e gases. Os espaços
ocupados pela fase fluída, água e ar são denominados vazios. Na Engenharia
Civil, o solo é de grande importância, pois nele que são elevadas as construções
e fundações, e depositados todos os esforços de uma obra.

Em processos de Engenharia Civil, conhecer o conceito de


mecânica de solos pode ser usado como recurso para construções mais
seguras, uma vez que ao conhecer o solo em que se constrói saberemos
suas propriedades resistivas. Os solos não são compostos homogêneos e
necessitam de estudos no local para sua identificação. Sua formação ocorre
através do intemperismo das rochas (processo de deterioração através da
ação do tempo). No Brasil, devido ao clima quente e úmido, ocorre com
maior frequência o intemperismo químico, processo que transforma em
solo a rocha através de alteração dos processos químicos, solubilizando e
depositando seus minerais (ORTIGÃO, 2007).

Na Unidade 1, estudaremos os diferentes conceitos de pressões e


tensões existentes nos diferentes tipos de solo. Compressibilidade, ou seja,
a capacidade que o solo tem de diminuir seu volume sob ação de cargas
e adensamento, a capacidade de recalque dos solos quando submetidos a
determinada sobrecarga.

Na Unidade 2, estudaremos as propriedades de resistências dos


diferentes tipos de solos, os conceitos de resistências aplicados a solos,
apresentando os métodos de cálculos de círculo de Mohr, resistência de
atrito e coesão e os ensaios para determinação de resistências nos solos.

Na Unidade 3, estudaremos o equilíbrio de maciços de terra, trazendo


definições de empuxos ativos, passivo. Condições de estabilidades dos muros
de arrimo. Emprego de estacas pranchas. E estudaremos os mecanismos de
estabilização de taludes.

Neste livro didático, são apresentados conteúdos abordados por


autores importantes na área de Mecânica de Solos e Obras da Terra como
Homero Pin Caputo, Milton Vargas entre outros de grande importância na
evolução do tema. Faremos uso também do conhecimento de autores antigos
como Terzaghi, denominado “pai da mecânica dos solos”, além de outros
que conseguiram desenvolver um material mais acessível para o avanço
desta ciência.

Prof. Luís Urbano Durlo Tambara Júnior

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS
DA TERRA........................................................................................................................1

TÓPICO 1 – CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 PRESSÕES E TENSÕES NOS SOLOS................................................................................................3
2.1 CONCEITO DE TENSÕES NUM MEIO PARTICULADO...........................................................4
2.2 TENSÕES DEVIDAS AO PESO PRÓPRIO DO SOLO..................................................................6
2.3 PRESSÃO NEUTRA E CONCEITO DE TENSÕES EFETIVAS ...................................................7
2.4 AÇÃO DA ÁGUA CAPILAR NO SOLO........................................................................................9
2.5 TENSÃO DEVIDO APLICAÇÃO DE CARGA............................................................................11
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................24
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................25

TÓPICO 2 – COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS.........................................................................27


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................27
2 O TURÍSTICO CASO DA TORRE DE PISA (GERSCOVICH, 2008)..........................................28
3 FATORES QUE DETERMINAM A COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS..............................32
3.1 ENSAIOS PARA PROPRIEDADES DE COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS.......................33
3.2 COMPRESSIBILIDADE DE SOLOS ARENOSOS........................................................................39
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................41
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................42

TÓPICO 3 – ADENSAMENTO DOS SOLOS.....................................................................................43


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................43
2 PROCESSO DE ADENSAMENTO – SOLOS FINOS SATURADOS – ARGILAS MOLES......43
3 TABELA DO FATOR TEMPO EM FUNÇÃO DO GRAU DE ADENSAMENTO.....................48
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................56
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................66
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................67

UNIDADE 2 – MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS


DA TERRA.......................................................................................................................69

TÓPICO 1 – RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS................................................71


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................71
2 RESISTÊNCIA DOS SOLOS...............................................................................................................71
2.1 TENSÕES EM UM PLANO GENÉRICO.......................................................................................75
2.2 CÍRCULO DE MOHR.......................................................................................................................75
2.3 RESISTÊNCIA DOS SOLOS: ATRITO E COESÃO .........................................................80
3 ATRITO ...................................................................................................................................................80
3.1 COESÃO.............................................................................................................................................81
3.2 CRITÉRIOS DE RUPTURA (MOHR-COULOMB)............................................................83
3.3 ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE SOLOS......................................85

VII
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................86
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................87

TÓPICO 2 – RESISTÊNCIAS DAS AREIAS.......................................................................................89


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................89
2 COMPORTAMENTO TÍPICO DAS AREIAS..................................................................................90
2.1 AREIAS FOFAS ................................................................................................................................90
2.2 AREIAS COMPACTAS....................................................................................................................90
3 ÂNGULO DE ATRITO DAS AREIAS...............................................................................................92
4 ESTUDOS DA RESISTÊNCIA DAS AREIAS POR MEIO DE ENSAIO DE
CISALHAMENTO DIRETO E COMPRESSÃO TRIAXIAL.........................................................95
4.1 ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO.....................................................................................95
4.2 ENSAIO DE COMPRESSÃO TRIAXIAL......................................................................................99
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................104
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................105

TÓPICO 3 – RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS............................................................107


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................107
2 INFLUÊNCIA DA TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO NA RESISTÊNCIA DAS
ARGILAS...............................................................................................................................................108
3 RESISTÊNCIA DAS ARGILAS EM TERMOS DE TENSÕES EFETIVAS...............................108
4 RESISTÊNCIA DAS ARGILAS EM ENSAIO DE ADENSAMENTO RÁPIDO.....................111
5 TRAJETÓRIA DE TENSÕES.............................................................................................................113
6 EXEMPLO DE TRAJETÓRIA DE TENSÕES (MARANGON, 2018).........................................115
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................118
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................132
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................133

UNIDADE 3 – MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS


DA TERRA....................................................................................................................135

TÓPICO 1 – EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA...................................................................137


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................137
2 DEFINIÇÃO DE EMPUXOS: EM REPOUSO, ATIVO E PASSIVO .........................................137
3 TEORIA DE RANKINE E COULOMB: SOLOS COESIVOS E NÃO COESIVOS.................142
3.1 TEORIA DE RANKINE ................................................................................................................142
3.1.1 Rankine em Estado de Empuxo Ativo:...............................................................................143
3.1.2 Rankine em Estado de Empuxo Passivo:...........................................................................144
3.1.3 Em estado de sobrecarga no terrapleno.............................................................................146
3.1.4 No caso de considerar solo coesivo.....................................................................................147
3.2 TEORIA DE COULOMB................................................................................................................151
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................156
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................157

TÓPICO 2 – MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA.........................159


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................159
2 ESTRUTURAS DE ARRIMO ...........................................................................................................159
2.1 TIPOS DE MUROS..........................................................................................................................159
2.2 ESTABILIDADE DE MUROS DE ARRIMO................................................................................163
3 ESTACA-PRANCHA ..........................................................................................................................172
3.1 ESTACAS DE MADEIRA E CONCRETO ARMADO...............................................................173
3.2 ESTACAS METALICAS.................................................................................................................173

VIII
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................178
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................179

TÓPICO 3 – ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES.................................................................................181


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................181
2 TALUDES..............................................................................................................................................181
2.1 CORTE E ATERRO.........................................................................................................................182
2.2 PARTES DE UM TALUDE.............................................................................................................182
2.3 ESCORREGAMENTO DEVIDO À INCLINAÇÃO...................................................................185
2.4 ESCORREGAMENTOS POR PERCOLAÇÃO DE ÁGUA ......................................................186
3 MÉTODOS DE ESTABILIDADE.....................................................................................................186
3.1 MÉTODO DO TALUDE INFINITO.............................................................................................187
3.2 MÉTODO DE CULMANN............................................................................................................190
3.3 MÉTODOS QUE ADMITEM SUPERFÍCIES DE RUPTURA CIRCULAR..............................192
3.4 MÉTODOS DAS CUNHAS...........................................................................................................194
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................196
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................199
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................200

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................201

IX
X
UNIDADE 1

MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS


E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar os conceitos de tensões aplicadas aos solos;

• definir a importância da presença da água em diferentes tipos de solos;

• apresentar as propriedades de compressibilidade e adensamento dos solos;

• conhecer, identificar e calcular os esforços que ocorrem em um solo em


suas diferentes camadas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

TÓPICO 2 – COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

TÓPICO 3 – ADENSAMENTO DOS SOLOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico, estudaremos os conceitos avançados de mecânica
dos solos, relacionando as tensões que ocorrem dentro do solo e trazendo um
entendimento de como se comporta o solo em determinadas ações de carga.

Estudaremos os efeitos da ação da água em solos, assim como as diferentes


tensões que ocorrem devido carga em solos, verificando os métodos existentes de
distribuição de tensão utilizados para calcular as resistências dos solos, como
exemplo o Método de Boussinesq e o Método de Newmark.

2 PRESSÕES E TENSÕES NOS SOLOS


Quando elaboramos um projeto de obra, devemos pensar inicialmente
qual o tipo de solo que construiremos e qual sua capacidade de pressão. A partir
daí se decide qual tipo de fundação utilizaremos para executar a obra, para que
não seja excedida a capacidade de resistência do solo. Um projeto mal elaborado
de capacidade do solo pode resultar em sua deformação, causando recalques de
edifícios e, em casos extremos, resultando em seu tombamento.

Tendo em vista essa informação, introdutoriamente devemos entender


que existem diversos tipos de pressões que podem ocorrer em solos antes que
exista um carregamento próprio de um edifício, devido ao peso próprio do
solo e tensões neutras (por conta da presença de água). Quando há presença
de carregamentos estruturais aplicados, essa tensão recebe o nome de pressão
induzida.

3
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

2.1 CONCEITO DE TENSÕES NUM MEIO PARTICULADO


Inicialmente, devemos ter claro que tensões são esforços que ocorrem em
uma área determinada e que aqui nesta disciplina o solo compõe a área. Esse solo
é um material composto por duas fases: sólida e fluida, sendo a última constituída
por água e ar. Vargas (1977), tendo em vista que nem todo solo é igual, apresenta
a existência de solos com granulometria diferentes, a transmissão dos esforços
está dependente da dimensão dos grãos ou tipo de solo, sendo:

• Para partículas maiores (como as areias ou pedregulhos): ocorre através de


contato entre as superfícies dos grãos.
• Para partículas argilosas: devido a sua baixa granulometria, as forças de contato
dos grãos são pequenas, podendo ocorrer transmissão de esforços através de
água quimicamente adsorvida.

E
IMPORTANT

A água pode estar presente no solo de diferentes formas (LEEPER; UREN, 1993):

• Água adsorvida: é aquela que está presente na superfície da partícula de um solo sob
a influência de forças de atração molecular, sendo necessárias altas temperaturas para
sua remoção.
• Água de constituição: é a que compõe a estrutura do material.
• Água higroscópica: uma quantidade de água que se encontra envolta do grão e não
pode ser removida na temperatura ambiente, sendo necessário fazer uso de uma estufa.
• Água livre: é a água que se encontra solta, livre do grão, e não há ligação nenhuma. Essa
conseguimos retirar na temperatura ambiente.
• Água capilar: é a água capaz de aderir a uma superfície por tensão superficial.

Vamos nos atentar à figura seguinte, em que Pinto (2006) representou


através de uma imagem com dois planos a transmissão de tensões de um solo
em aspecto microestrutural. Sabemos que essa representação ocorre de maneira
simplificada, uma vez que os esforços em maneira real atuam em três dimensões
(x, y e z).

Observamos que cada grão realizaria um esforço (F) com ângulo variável
ao entrar em contato com outra superfície. Esse esforço parte do centro de
gravidade de cada partícula e pode ser decomposto em esforços normais (N)
e cisalhantes ou tangenciais (T) ao plano. O esforço normal é a decomposição
perpendicular ao plano da força atuante do grão. O esforço cisalhante (T), por sua
vez, é o esforço tangencial ao plano em que está aplicada a força.

4
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

O plano Q apresenta a superfície real em que ocorrem os contatos das


partículas, entretanto, é muito ineficiente modelar matematicamente cada contato
entre grão de um solo. Para a mecânica dos solos, podemos fazer uso de uma
simplificação através do conceito de tensões em meio contínuo.

FIGURA 1 – ESQUEMA DE CONTATO ENTRE GRÃOS

FONTE: Pinto (2006, p. 95)

Portanto, se somarmos todas os esforços normais que ocorrem em


determinado solo e dividirmos pela área total de contato (Eq. 1), obtemos a tensão
normal definida como σ . Assim também podemos obter a tensão cisalhante τ ,
visto na (Eq. 2), através divisão da somatória de esforços cisalhantes (T) pela área
de atuação.

∑N ∑T
=σ =
área
( Eq.1) τ
área
( Eq. 2 )

Para casos práticos de mecânica dos solos são desprezadas as influências


da tensão cisalhante, uma vez que estatisticamente elas se anulam. Agora que
já temos por definido os conceitos dos estados de tensão, podemos abordar de
maneira mais aprofundada os tipos de tensões que ocorrem no solo.

De maneira a salientar outras aplicações matemáticas para execução


em solos, Ortigão (2007) aborda que é possível fazer uso de conceitos vistos
em Mecânica dos Meios Contínuos e Resistências de Materiais para conhecer
as tensões em qualquer ponto de massa de um solo. Na figura a seguir está
representado um plano cartesiano com três eixos e a decomposição de uma carga
nesses eixos. Haverá tensões normais segundo esses três planos que passam pelo
ponto mencionado: σx, σy e σz, sendo necessária a execução de arranjos matriciais.

5
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 2 – TRÊS PLANOS ORTOGONAIS E A DECOMPOSIÇÃO DAS TENSÕES NORMAIS E


CISALHANTES EM TRÊS PLANOS

FONTE: Adaptado de Ortigão (2007)

2.2 TENSÕES DEVIDAS AO PESO PRÓPRIO DO SOLO


Refletiremos um pouco sobre o efeito do peso próprio. No momento em
que subimos em uma balança para conferir nossa massa, acabamos exercendo
certa força sobre ela, que dependendo de seu dispositivo de funcionamento nos
apresentará quanto “pesamos”. Sabemos então que a plataforma em que essa
massa se encontra precisa resistir ao nosso peso, se não ela se romperia. Com os
solos ocorre o mesmo.

Vamos levar em consideração um exemplo, visto na figura seguinte, de


um solo que se apresenta seco e que é constituído por dois tipos diferentes solos:
uma areia fofa até 4 metros de profundidade seguido de pedregulho entre 4 e 6
metros de profundidade. As densidades de cada tipo de solo (γn) são apresentadas
na figura. A tensão calculada do peso próprio na profundidade de 6 metros é
calculada através da somatória de tensões multiplicada por cada espessura de
solo, sendo para estes casos adotado a Eq. 3.

FIGURA 3 – TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO DO SOLO

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

6
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Os valores calculados são apresentados no diagrama de tensões visto na


direita da figura e se verifica uma tensão normal de 64 kPa na profundidade de
4 metros (final da faixa de areia do solo) e uma tensão de 106 kPa para uma
profundidade de 6 metros. Esse exemplo representa a forma mais básica em que
podemos encontrar um solo, uma vez que há facilidade do ingresso de água no
solo.

γ n ×V γ n × área ×altura
σ=
área
=
área
= γ n × altura ( Eq. 3 )

2.3 PRESSÃO NEUTRA E CONCEITO DE TENSÕES EFETIVAS


Sabemos que em uma situação real nunca encontraremos um solo
completamente seco, uma vez que o solo se encontra sob intempéries e/ou devido
a presença de nível d’água em determinada profundidade respectivo aos lençóis
freáticos.

Quando lidamos com a presença de água em solos, devemos levar em


conta novos conceitos de pressões. O engenheiro Terzaghi (1883-1963), conhecido
como pai da mecânica dos solos, foi o primeiro a identificar que a tensão normal
total de um plano deve ser considerada como a soma da Pressão Neutra e das
Tensões Efetivas.

• A pressão da água atuante nos solos é referida como u na Eq. 4:

=u ( zF - z A ) ⋅γ A ( Eq. 4 )
Em que:

u é denominado como pressão neutra ou poropressão;


zF
é a profundida até o plano final desejado;
zA
é a profundidade ao nível d’água;
γA
é a massa específica da água.

• A tensão ou pressão efetiva é definida pela subtração da pressão total ( σ ) pela


pressão neutra (u) como visto na Eq. 5.

σ =σ -u ( Eq. 5 )
Porém, qual é o significado da pressão efetiva? Quando falamos do
comportamento dos solos na engenharia não podemos associar ao comportamento
típico de materiais da construção civil, visto que há uma linearidade entre a

7
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

deformação com as mudanças de dimensão. As deformações no solo ocorrem


através da movimentação devido às forças transmitidas pelas partículas, sendo
essas calculadas através da obtenção da tensão efetiva.

Quando o solo está abaixo do nível de água não ocorre a movimentação


das partículas, sendo preenchidos todos os espaços vazios entre as partículas,
evitando que ocorra este tipo de tensão efetiva.

Terzaghi realizou uma verificação desse comportamento de maneira muito


simples. Ao colocar em um tanque transparente um solo saturado e aumentando
o nível de água no tanque, ele observou que há aumento da pressão total sem
observar diminuição do volume no solo, ou seja, não há alteração das tensões
cisalhantes, uma vez que a água não resiste ao cisalhamento (ORTIGÃO, 2007).

Para compreender melhor o efeito da água em solos observaremos um


exemplo de perfil e diagrama de tensões de determinado solo e determinar as
tensões totais ( σ ), neutras (u) e tensões efetivas ( σ ) nos pontos A, B, C e D para o
perfil de solo. Para esse exemplo, abordaremos o valor de peso específico da água
igual a 1 tf/m3.

FIGURA 4 – NÍVEIS DE ÁGUA SUBTERRÂNEO E PRESSÕES DE SOLOS

FONTE: Cavalcante (2006, p. 2)

Vemos que no ponto A não existe a ocorrência de nenhuma carga de solo


ou água, portanto, para esse ponto os valores de σ , u e σ serão iguais a 0.

Para o ponto B:

σ = 1,7 ×1,5 = 2,55 tf / m2


µ = 0 tf / m2
- µ 2,55 tf / m2
σ σ=
=

8
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Ponto C:

3 8,85 tf / m2
σ 2,55 + 2,1×=
=
µ= 1,0 ×3= 3,0 tf / m2
=σ 8,85
= - 3,0 5,85 tf / m2

Ponto D:

σ = 16,05 tf / m2
= 8,85 + 2 ×3,6
µ = 1,0 × 6,6 = 6,6 tf / m2
=σ 16,05
= - 6,6 9,45 tf / m2

2.4 AÇÃO DA ÁGUA CAPILAR NO SOLO


Pinto (2006) define que a capilaridade é uma propriedade física dos
fluídos devido a adesão e coesão do líquido. Esse fenômeno é a capacidade de
líquidos de subir em tubos capilares por conta da adesão e coesão que atuam na
subida, e ocorre em praticamente todo tipo de corpos porosos, devido às tensões
superficiais.

Esse fenômeno também ocorre nos solos, uma vez que os espaços vazios
nos solos são tão pequenos que resultam em uma alta tensão superficial. A altura
da ascensão de água em tubos capilares é calculada através da lei de Jurin (Eq. 6).

4T
=h
dγ a
× cos α ( Eq. 6 )

Em que:

h = altura da coluna de água (m);


T = tensão superficial do líquido (0,072 N/m2 para água em 20 ºC);
γ a = peso específico da água;
d = diâmetro do capilar (m);
α = ângulo de contato.

DICAS

Acadêmico, para compreender melhor sobre capilaridade no solo, assista:


https://www.youtube.com/watch?v=QP9hlDHkbDs.

9
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Cavalcante (2006) apresenta uma tabela com valores médios da ascensão


capilar de acordo com determinados tipos de solos. Na figura seguinte, vemos
o perfil de um poço e a ação da ascensão de água capilar. O nível de saturação
corresponde à altura em que se encontra a água no poço decorrente de resultado
de capilaridade, em que apresenta solo saturado em água (grau de saturação
igual a 100%), a ascensão da capilaridade vai depender da grandeza dos vazios e
dos tamanhos das partículas (PINTO, 2006).

FIGURA 5 - PERFIL DE ASCENSÃO CAPILAR RELACIONADO AO NÍVEL DE ÁGUA EM UM POÇO

FONTE: Adaptado de Marangon (2018)

TABELA 1 - VALORES TÍPICOS DE ALTURA DE ASCENSÃO CAPILAR, DE ACORDO COM O TIPO


DE SOLO

Tipo de solo Altura de ascensão capilar (cm)


Areia grossa <5
Areia média 5 - 12
Areia fina 12-35
Silte 35 -70
Argila ≥70
FONTE: Cavalcante (2006, p. 15)

Alguns aspectos importantes referentes aos fenômenos de capilaridade


são destacados por Cavalcante (2006, p. 16):

• Na construção de pavimentos rodoviários: se o terreno de fundação


de um pavimento é constituído por um solo siltoso e o nível
freático está pouco profundo, para evitar a ascensão capilar da
água é necessário substituir o material siltoso por outro com menor
potencial de capilaridade.
• A contração dos solos: quando toda a superfície de um solo está
submersa em água, não há força capilar, pois α = 90º. Porém, à
medida que a água vai sendo evaporada, vão se formando meniscos,
surgindo forças capilares que aproximam as partículas.

10
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

• Coesão aparente da areia úmida: se for seca ou saturada a areia, a


coesão se desfaz. Os meniscos se desfazem quando o movimento
entre os grãos aumenta e as deformações são muito grandes.
• Sifonamento capilar: observado em barragens, o sifonamento
capilar consiste na percolação da água sobre o núcleo impermeável
da barragem.

2.5 TENSÃO DEVIDO APLICAÇÃO DE CARGA


Anteriormente, vimos a influência de tensões causadas pelo peso próprio
do solo e a influência da água nesse solo. Agora, verificaremos as diferentes
influências causadas pela ação de cargas sobre os solos e seus diferentes métodos
de cálculo de tensões nos solos. Veremos os métodos empíricos, semiempíricos
e Ad Hoc (constituído por modelos matemáticos destinados a representar
a estrutura e o funcionamento dos sistemas ambientais através de relações
complexas). Sendo eles os métodos de Espraiamento das Tensões, Método de
Bulbo de Tensões, Método de Boussinesq e Método de Newmark.

A figura a seguir apresenta os diferentes tipos de distribuição de tensões


que podemos encontrar em estudos de mecânica dos solos. Ao se aplicar uma
carga na superfície de um terreno numa área bem definida, os acréscimos de
tensão numa certa profundidade não se limitam à projeção da área carregada.
Nas laterais da área carregada também ocorrem aumentos de tensão, que se
somam às anteriores devido ao peso próprio.

FIGURA 6 - DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

FONTE: Adaptado de Caputo (1987)

Em que:

σ0 = tensão devida ao peso próprio do solo;


Δσ1 = alívio de tensão devido à escavação;
Δσ2 = tensão induzida pela carga aplicada.

11
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

As tensões devido ao peso próprio já vimos anteriormente, já o estudo


devido a cargas aplicadas na superfície de um maciço abordaremos agora. Neste
subtópico, abordaremos como critério baseado na teoria da elasticidade através
da hipótese que as cargas são aplicadas em um (TERZAGHI, 1943):

• maciço semi-infinito;
• elástico (obedece a Lei de Hooke em que as tensões crescem linearmente com
as deformações e o corpo recupera a forma e o volume iniciais ao cessar a ação
das forças);
• isótropo (mesmas propriedades em todas as direções);
• homogêneo (mesmas propriedades em todos os pontos).

• Método do espraiamento uniforme: sendo as cargas transmitidas pela


estrutura pela qual se propagam no interior do solo e se distribuem ao
longo de sua profundidade, como apresenta a figura seguinte, uma prática
corrente para se estimar o valor das tensões em certa profundidade consiste
em considerar que as tensões se espraiam segundo áreas crescentes tendo
em base o ângulo de atrito do solo em questão, mas sempre se mantendo
uniformemente distribuídas (a). Esse método deve ser entendido como uma
estimativa grosseira, pois as tensões em uma determinada profundidade não
são uniformemente distribuídas, mas se concentram na proximidade do eixo
de simetria da área carregada, apresentando a forma de um sino (b) (PINTO,
2006).

FIGURA 7 – TRANSMISSÃO DE CARGAS PARA O INTERIOR DO MACIÇO DE ACORDO COM


PROFUNDIDADE DE ESPRAIAMENTO SIMPLES A) ESTIMATIVO UNIFORMEMENTE DISTRIBUÍDO
B) FORMA DE SINO

FONTE: Adaptado de Cavalcante (2006)

12
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Em que:

φ0 = ângulo de espraiamento;
Solos muito moles φ0 < 40º;
Areias puras φ0 ≅ 40º a 45º;
Argilas rijas e duras φ0 ≅ 70º;
Rochas φ0 > 70º.

E
IMPORTANT

Para compreender melhor essa situação, realizaremos um exemplo ao calcular


a tensão no plano situado a 5 metros de profundidade do nível do solo, levando em
consideração que a área carregada tem comprimento infinito e que o solo é constituído
de areia pura (φ0 = 40º).

FIGURA – PERFIL DE SOLO SOB CARGA

FONTE: Cavalcante (2006, p. 4)

Solução:

Inicialmente, calculamos o valor de b1:

b
tg ϕ0 =
5,0
=b 5,0 ×tg 40º
b1 =2b + 1,5 =9,67 m

Em seguida, igualamos as equações referentes a carga inicial para isolar a carga de p1.

Q = p0 × b0 = p1 ×b1
p0 × b0 100 ×1,5
=p1 = = 15,51 tf / m2
b1 9,67

13
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

• Método do Bulbo de tensões: método do bulbo de tensões é definido por


Marangon (2018, p. 46): “denomina-se isóbaras as curvas ou superfícies obtidas
ligando os pontos de mesma tensão vertical. Este conjunto de superfícies
isóbaras forma o e se chama bulbo de ‘tensões’”.

FIGURA 8 – BULBO DE TENSÕES (LINHAS DE IGUAL VALOR DE “TENSÃO”)

FONTE: Adaptado de Caputo (1987)

Esse método é aplicado ao fazer uso de sapatas como fundação.


Considerando a aplicação de duas sapatas em um solo composto por 3 m de areia
e 3 de argila mole (ver figura seguinte): uma sapata pequena (SP) que possui
dimensões de 1,2 m x 1,2 m e uma sapata maior (SM) que possui dimensões de 2,0
m x 2,0 m. Vemos que ao considerar o bulbo de tensões da SP, vemos:

Z =α ⋅ B = 2,0 ⋅ 1,2 = 2,4 m

FIGURA 9 – EXEMPLO APLICAÇÃO DE BULBO DE TENSÕES

FONTE:O autor

14
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Para essa sapata se verifica que todo o bulbo de tensões está contido na
camada de areia, sendo essa camada responsável por resistir por toda a tensão
induzida pela sapata SP. Para a sapata SM, temos:

Z =α ⋅ B = 2,0 ⋅ 2,0 = 4,0 m

Portanto, para essa sapata maior, parte do bulbo de tensões ultrapassa


a camada de areia e atinge a camada de argila mole. Portanto, uma parcela
das tensões será resistida pela camada de argila, sendo necessário verificar a
resistência à compressão desta camada de argila mole.

• Método de Boussinesq: esse método faz uso da aplicação da teoria da


elasticidade. Considera carga pontual no interior de uma massa elástica,
homogênea e isotrópica. Com esse método observamos que as tensões variam
inversamente com o quadrado da profundidade, sendo basicamente infinita no
ponto de aplicação. Usamos a Equação de Boussinesq para calcular o acréscimo
de tensão é vista na Eq. 7.

3 ×z 3
σv = 5
Q ( Eq. 7 )
( 2
2π r + z 2
) 2

FIGURA 10 – CARGA PONTUAL PARA MÉTODO DE BOUSSINESQ

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

Como exemplo para a aplicação de cargas concentradas: traçar o


diagrama de acréscimos de pressões no plano situado a 2,0 m de profundidade
até a distância horizontal igual a 5,0 m (fazer cada metro), quando se aplica na
superfície do terreno uma carga concentrada de 1500 kN.

15
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 11 – EXERCÍCIO PARA MÉTODO DE BOUSSINESQ

FONTE: O autor

• Método de Newmark: esse método é utilizado em áreas retangulares, caso


tenha uma fundação estilo radier. A solução complexa da equação para esse
cálculo é vista conforme Eq. 8. Portanto, temos em vista que as soluções que
utilizam teoria da elasticidade são de difícil aplicação. Assim, para que haja um
melhor aproveitamento facilitação do emprego do método de Newmark são
utilizados ábacos e tabelas.

Em que:

I = coeficiente de influência dependente de m e n.


( ) 
0,5
σ 0   2 mn( m + n + 1 ( m + n + 2
2 2 2 2 2 2
2 mn m + n + 1 
σv + arctg ( Eq. 8 )


( )(
4 π  m 2 + n2 + 1 + m 2 n2 m 2 + n2 + 1 ) m 2 + n2 + 1 - m 2 n2 
 

16
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO DE UM CARREGAMENTO EM ÁREA RETANGULAR (MÉTODO DE


NEWMARK)

FONTE: Pinto (2006, p. 167)

GRÁFICO 1 – TENSÕES VERTICIAS INDUZIDAS POR CARGA UNIFOMEMENTE ISTRIBUÍDA EM


ÁREA RETANGULAR (SOLUÇÃO DE NEWMARK)

FONTE: Pinto (2006, p. 168)

17
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

TABELA 2 – VALORES DE I EM FUNÇÃO DE ME N PARA A EQUAÇÃO DE NEWMARK

FONTE: Pinto (2006, p. 169)

18
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Exercício resolvido: um galpão industrial apresenta uma planta baixa


retangular com 12 metros de largura e 48 metros de comprimento e aplicará
ao terreno uma pressão uniformemente distribuída de 50 kPa. Determinar
o acréscimo de tensão, segundo a vertical pelos pontos A, B, C e D, a 6 m de
profundidade, aplicando a solução de Newmark. Calcule também para o ponto
E, fora da área carregada.

FIGURA 13 – EXERCÍCIO NEWMARK

FONTE: Pinto (2006, p. 174)

Resolução: no ponto central A temos quatro vezes a área de influência de


carga. Para o ponto B e C temos duas vezes a área de influência. Para o ponto D
temos uma vez a área de influência. Ao fazer uso da tabela e ábaco de Newmark
obtemos os coeficientes de I para calcular a tensão em cada ponto.

TABELA 3 – RESULTADOS PARA A PROFUNDIDADE DE 6M


Ponto Área Nº áreas m n I área I total Tensão, kPa
A 6 * 24 4 1 3 0,204 0,82 41
B 12 * 24 2 2 3 0,239 0,48 24
C 6 * 48 2 1 8 0,204 0,41 20,5
D 12 * 48 1 2 8 0,240 0,24 12
FONTE: Pinto (2006, p. 175)

Veja que nesta profundidade no B há redução de 42% em relação ao ponto


central A. Nas arestas, há cerca de 30% do valor do ponto central. Para o ponto
E, fora da área carregada, é considerado o efeito do carregamento na área EFGH,
menos o carregamento nas áreas EFIJ e EKLH, somando o efeito da área EKDJ,
que havia sido subtraído duas vezes na operação anterior.

19
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

TABELA 4 – RESULTADOS DE ÁREA PARA A PROFUNDIDADE DE 6 M

Retângulo Área m N I da área


EFGH 18 * 54 3 9 0,247
EFIJ 6 * 54 2 9 0,205
EKLH 6 * 18 2 3 0,203
EKDJ 6*6 2 1 0,175
FONTE: Pinto (2006, p. 175)

O efeito da área efetivamente carregada: Δσ = 50 x (0,247 – 0.205 – 0,203 +


0,175) = 0,7 kPa.

Gráfico de Fadum e Osterberg: o Gráfico de Fadum permite determinar


o acréscimo de tensão vertical (σz) sob um carregamento triangular de
comprimento finito.

GRÁFICO 2 – GRÁFICO DE FADUM

FONTE: Caputo (1987, p. 267)

Já o gráfico de Osterberg permite calcular o acréscimo de tensão devido a


uma carga em forma de trapézio retangular, infinitamente longo.

20
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

GRÁFICO 3 – GRÁFICO DE OSTERBERG

FONTE: Caputo (1987, p. 272)

Para ambos os casos obtemos (Eq. 9):

σ=
z ∆σ ×I ( Eq. 9 )
Esses esforços são calculados através da utilização dos ábacos.

21
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

GRÁFICO 4 - ÁBACO DE FADUM

FONTE: Pinto (2006, p. 170)

22
TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

GRÁFICO 5 – ÁBACO DE OSTERBERG

FONTE: Pinto (2006, p. 172)

23
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os conceitos de tensão estão num meio particulado, mais especificamente de


um solo.

• As ações do peso próprio e do peso da água atuam como tensões num solo,
conhecendo os conceitos de poropressão e tensão efetiva.

• A água possui um comportamento de percolação que resulta numa ascensão


capilar devido as forças de tensões superficiais do solo (quanto mais fino, maior
a capacidade de a água ascender capilarmente).

• Existem diferentes tensões devido aplicação de carga, nas quais verificamos


diversos tipos de métodos de distribuição de tensão que utilizam da teoria
da elasticidade, desde o método de espraiamento simples (que faz uso de
carregamentos contínuos), até métodos mais complexos, como o método de
Newmark, usado para calcular ação de fundações estilo radier.

24
AUTOATIVIDADE

1 Um terreno constituído por uma camada de areia fina com γn = 16 kN/m3,


com 7 metros de espessura, acima de uma camada de areia grossa, com
γn = 19 kN/m3 e espessura de 2 metros. Esse solo, por sua vez, é apoiado
a um solo de alteração de rocha. A representação do solo é apresentada
na figura seguinte. O nível de água (N.A.) encontra-se a 1 metro de
profundidade. Calcular:

a) Tensões verticais o contato entre a areia grossa e o solo de alteração, a 9


metros de profundidade.
b) Se ocorrer uma enchente que eleve o nível de água até a cota +2 metros
acima do terreno, quais seriam as tensões no contato entre a areia grossa e o
solo de alteração de rocha? Compare os resultados.
c) Considerar que devido ao efeito de capilaridade foi constatado uma
ascensão capilar de 50 centímetros, em hipoteticamente encontrava-se
saturada. Recalcular as tensões verticais a 9 metros de profundidade.

FIGURA – PRESSÕES E TENSÕES NO SOLO

FONTE: O autor

2 Foi projetada a construção de um aterro com 20 m de largura e 2 de altura.


Admitindo que esse aterro transmita ao terreno uma pressão uniformemente
distribuída de 35 kPa, ao longo de uma faixa de 20 m de largura e
comprimento considerado infinito, determine os acréscimos de tensão a 5 m
de profundidade, segundo uma seção transversal.

25
26
UNIDADE 1
TÓPICO 2

COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

1 INTRODUÇÃO
Neste segundo tópico, abordaremos os efeitos de compressibilidade e
adensamento dos solos. Mostraremos o que fazer para que seja possível realizar
uma obra sobre diferentes tipos de solos.

Uma das principais causas de recalques é a compressibilidade do solo, ou


seja, a diminuição do seu volume sob a ação das cargas (ou tensões) aplicadas.
Em particular, um caso de grande importância prática é aquele que se refere à
compressibilidade de uma camada de solo, saturada e confinada lateralmente.
Tal situação condiciona os chamados recalques por adensamento, que alguns
autores preferem denominar de recalques por consolidação (CAPUTO, 1987).

ATENCAO

Compressibilidade é definida como a relação entre a magnitude das


deformações e a variação no estado de tensões impostas. No caso de solos, essas
deformações podem ser estabelecidas através de variações volumétricas ou em termos
de variações no índice de vazios. É a característica dos materiais deformarem quando
submetidos a carregamentos externos, nos solos é a diminuição do seu volume sob
ação de cargas.

É a propriedade que têm certos corpos de mudarem de forma ou volume


quando lhes são aplicadas forças externas. No caso de solos, essas deformações
podem ser estabelecidas através de variações volumétricas ou em termos de
variações no índice de vazios.

Construído por volta de 1932, o Palácio de Las Bellas Artes da Cidade do


México é um dos principais exemplos de recalque de fundação. Sua construção
aconteceu em cima de solos moles (solo argiloso com alta compressibilidade),
observando-se um recalque diferencial de 2 metros do nível da rua, sendo
necessário uma adaptação para acessar o edifício.

27
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

No Brasil também ocorreram problemas quanto aos recalques; um dos


casos mais populares é o da construção dos prédios na orla de Santos com até
18 pavimentos, decorrentes da grande expansão imobiliária iniciada a partir da
década de 1940 na região. Os prédios eram apoiados em sapatas ou “radiers”,
assentes numa camada de areia medianamente a muito compacta, sobrejacente
a mais de 30 m de argila mole, média e rija. Foram observados para os prédios
recalques médios entre 40 cm e 120 cm (TEIXEIRA, 1994).

FIGURA 14 – (a) PALÁCIO DE LAS BELLAS ARTES, NA CIDADE DO MÉXICO. RECALQUE


DIFERENCIAL DE 2,0 M ENTRE A ESTRUTURA E A RUA. (b) EDIFÍCIOS DA ORLA DE SANTOS-SP

FONTE: Lambe e Whitman (1979, s.p.); Massad (2008, s.p.)

2 O TURÍSTICO CASO DA TORRE DE PISA (GERSCOVICH,


2008)
A Torre de Pisa é um campanário da catedral da cidade italiana de Pisa,
com cerca de 60 metros de altura e 20 metros de diâmetro. Sua construção levou
muitas décadas até ser finalizada. O início de sua construção se deu por volta de
1175 e só foi finalizada entre 1370. Essa demora de quase 200 anos foi resultado
de diversas interrupções na sua execução.

É o principal atrativo turístico para cidade, sendo a inclinação da torre o


grande responsável por isso. A torre começou a se inclinar após a progressão de
construção para o terceiro andar, em 1178. Isso se deve a uma fundação de apenas
três metros sobre um subsolo fraco e instável. A construção foi posteriormente
paralisada por quase um século, porque os pisanos estavam continuamente
envolvidos em batalhas com Génova, Lucca e Florença.

Por mais que houvesse intervenção de engenheiros e arquitetos, a inclinação


seguia com uma média de 1,2 milímetros por ano. No século XIX foram feitas
escavações para tentar converter o aumento da inclinação da torre, entretanto,
todas intervenções não resultaram em redução da inclinação. Como medida, até
a injeção de quase cem toneladas de argamassa no solo foram realizadas.

28
TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Em 1990, especialistas descobriram que poderiam corrigir o problema


escavando a terra das fundações instáveis e colocando contrapesos na face oposta
da torre para evitar desabamentos. Depois veio a fase de extração de solo: 41
brocas perfuraram o chão e retiraram 60 toneladas de terra. A remoção de terra
criou um espaço vazio no solo, no lado oposto ao inclinado. Com isso, o próprio
peso da torre fez com que ela se reacomodasse no buraco e retornasse em meio
grau. Antes do trabalho de restauração, realizado entre 1990 e 2001, a torre estava
inclinada com um ângulo de 5,5 graus, estando agora a torre inclinada em cerca
de 3,99 graus. Isto significa que o topo da torre está a uma distância de 3,9 m de
onde ele estaria se a torre estivesse perfeitamente na vertical.

FIGURA 15 - INCLINAÇÃO DA TORRE DE PISA

FONTE: <https://petcivilufjf.files.wordpress.com/2011/02/torre-pisa.jpg>. Acesso em: 2 set. 2019

29
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

NOTA

Recalque é definido como uma deformação vertical positiva de uma superfície


delimitado no terreno, sendo resultado da aplicação de cargas (incluindo peso próprio do
solo). Sendo que esses podem ser divididos em recalques normais e anormais. Abordaremos
os recalques normais, sendo divididos em dois tipos: os decorrentes de deformação com
índice de vazios constantes (caso típico de areias e/ou carregamentos rápidos de argila)
denominados recalques imediatos e recalques por adensamento, com variação de índice
de vazios (caso típico de carregamento permanente de argilas) denominados recalques
diferidos (GERSCOVICH, 2008).

Ao projetar estruturas sobre solos compressíveis devemos prever as


deformações e todo o processo de sua evolução pelo tempo, com o intuito de
decidir qual tipo de fundação adotar para o projeto, podendo inclusive encarecer
de maneira elevada a construção de uma obra, ao fazer uso de fundações
profundas. Um engenheiro só conhecerá a grandeza das deformações do solo se
realizar dois estudos:

• Conhecer a distribuição de pressões no solo.


• Conhecer as propriedades do solo através de ensaios laboratoriais.

Diversos fatores podem influenciar na variação de volume dos solos por


efeito de compressão, sendo eles:

• granulometria;
• densidade;
• grau de saturação;
• permeabilidade;
• tempo de ação da carga de compressão.

A influência de cada um destes fatores e do seu conjunto sobre a


compressibilidade pode ser simulada de forma didática pelo Modelo Analógico
de Terzaghi. Quando se executa uma obra de engenharia, impõe-se no solo
uma variação no estado de tensão que acarreta deformações (TAYLOR, 1948). A
natureza das deformações pode ser subdividida em três categorias:

• Deformações elásticas: associadas a variações volumétricas totalmente


recuperadas após a remoção do carregamento → pequenas variações no índice
de vazios.
• Deformações plásticas: induzem a variações volumétricas permanentes. Após
o descarregamento, o solo não recupera seu índice de vazios inicial.
• Deformações viscosas ou fluência: associadas a variações volumétricas sob
estado de tensões constante.

30
TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

GRÁFICO 6 – DIAGRAMA DE TENSÕES ELÁSTICAS, PLÁSTICAS E FLUÊNCIA DE UM SOLO

FONTE: Gerscovich (2008, p. 10)

DICAS

Em construções de casas e prédios deve-se ter cuidado evitar cavar menos


de 1,5 m para execução de fundações, uma vez que o solo que se encontra até essa
profundidade pode apresentar material orgânico, evitando a formação de recalques.
Entretanto, tratando-se de solo são, não há problema ao reduzir a altura da escavação.

Recapitulamos que o solo é um sistema composto de grãos sólidos e


espaços vazios entre eles, que podem estar preenchidos por água e/ou ar. Portanto,
as deformações que ocorrem neste solo podem ser decorrentes de:

• Deformação dos grãos individuais.


• Compressão da água presente nos vazios (solo saturado).
o Desprezadas devido ao nível de tensões aplicadas pelas obras civis.
• Variação do volume de vazios, devido ao deslocamento relativo entre partículas.
o As deformações no solo ocorrem basicamente pela variação de volume dos
vazios.

31
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

E
IMPORTANT

Somente para casos em que os níveis de tensão são muito altos, a deformação
total do solo pode ser acrescida da variação de volume dos grãos.

3 FATORES QUE DETERMINAM A COMPRESSIBILIDADE DOS


SOLOS
Gerscovich (2008) elucida os principais tópicos que afetam a
compressibilidade dos solos, sendo eles:

• Tipo de solo: interação entre as partículas de solos argilosos acontece através


do carregamento elétrico negativo que existe na superfície das argilas,
resultando em uma atração com as moléculas de água (através do hidrogênio
que possui carga positiva) o contato feito através da camada de água absorvida
(camada dupla). Já os solos granulares transmitem os esforços diretamente
entre partículas.
• Estrutura: solos granulares podem ser arranjados em estruturas fofas, densas
e favo de abelha (solos finos). Quanto maior o índice de vazios, maior será
a compressibilidade do solo. Já os solos argilosos se apresentam estruturas
dispersas ou floculadas.

FIGURA 16 – ESTRUTURAS DE SOLOS GRANULARES

FONTE: O autor

• Grau de saturação: nos solos saturados, a variação de volume ocorre por uma
variação de volume de água contida nos vazios (escape ou entrada). No caso
de solos não saturados, a compressibilidade do ar é grande e pode interferir na
magnitude total das deformações do solo.

32
TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

• Nível de tensões: apesar das obras de engenharia não chegarem aos limites
de tensão que atingem patamar que cause deformação ou quebra nos grãos
do solo, o nível de tensão que o solo é submetido afeta na compressibilidade.
Verifiquemos o gráfico seguinte: quanto maior a reta vertical tangente à curva
maior é a compressibilidade, sendo inicialmente visto um arranjo denso
devido à remoção dos vazios. Posterior, quando há muito altas cargas sobre
o solo ocorre um novo ganho tangencial, devido à quebra de grãos do solo,
aumentando sua compressibilidade.

GRÁFICO 7 – CURVA TENSÃO X DEFORMAÇÃO DE SOLO ARENOSO

FONTE: Gerscovich (2008, p. 12)

3.1 ENSAIOS PARA PROPRIEDADES DE COMPRESSIBILIDADE


DOS SOLOS
As propriedades de compressibilidade dos solos podem ser definidas a
partir de ensaios de compressão, que podem ser classificados de acordo com o
grau de confinamento, em três tipos (CAVALCANTE, 2006):

• não confinados;
• parcialmente confinados;
• integralmente confinados.

• Ensaio não confinado: o ensaio não confinado é normatizado no Brasil através da


norma NBR n° 12770 (Solo coesivo): determinação da resistência à compressão
não confinada – Método de ensaio (ABNT, 1992). A carga é aplicada em uma
única direção, dando liberdade ao corpo de prova para deformar nas outras
direções sem qualquer restrição.

33
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 17 – ENSAIO DE COMPRESSÃO SIMPLES

FONTE: <https://geocoring.com.br/wp-content/uploads/2018/12/3.-
Servi%C3%83%C2%A7os-3.-Laborat%C3%83%C2%B3rio-6.-compress%C3%83%C2%A3o-
simples-1.jpeg>. Acesso em: 14 set. 2019.

A norma estabelece que o corpo de prova deve ser colocado no


equipamento de compressão, aplicando carregamento de forma contínua, até
que a os valores da carga diminuam ou que se obtenha 15% da deformação axial
específica. A equação para realização do cálculo de deformação axial específica,
ɛ, para determinada carga aplicada é vista na Equação 10:

∆H
ε
=
H
×100 ( Eq.10 )

Em que:

ε = deformação axial específica, em %;


∆ H = variação de altura do corpo de prova, em mm;
H = altura do corpo de prova, em mm.

Ao registrar as tensões no plano horizontal pela deformação longitudinal,


obtém-se a curva, conforme apresentado no gráfico a seguir. O solo não é um
material elástico, mas admite-se frequentemente um comportamento elástico-
linear para o solo, definindo-se um módulo de elasticidade E para um certo valor
de tensão e um coeficiente de Poisson ν.

34
TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

GRÁFICO 8 – DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS ELÁSTICOS DOS SOLOS A PARTIR DE ENSAIO A


COMPRESSÃO

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

• Ensaio parcialmente confinado: para executar esse ensaio utiliza-se o método


de compressão triaxial. Nesse caso, a amostra é mantida confinada lateralmente,
impedindo sua deformação durante aplicação de tensão axial. Para o ensaio
é utilizado o corpo de prova cilíndrico com relação altura/diâmetro mínima
igual a 2,5.

O módulo de elasticidade do solo depende da pressão a que o solo está


confinado. Tal fato mostra como é difícil estabelecer um módulo de elasticidade
para o solo, pois na natureza ele está submetido a confinamentos crescentes com
a profundidade. O ensaio consiste inicialmente na aplicação de uma pressão
confinante hidrostática (σc), depois se mantendo constante a pressão confinante,
aplica-se acréscimos ∆σ na direção axial. Durante o carregamento, mede-se, em
diversos intervalos de tempo, o acréscimo de tensão axial que está atuando e a
deformação vertical do corpo de prova.

Apesar de haver dificuldades de obter os módulos de elasticidade para


um solo, pelo fato de serem encontrados em confinamentos crescentes com o
incremento da profundidade, é possível indicar valores com ordens de grandeza
aproximado para determinados tipos de solos.

TABELA 5 – MÓDULO DE ELASTICIDADE TÍPICO DE SOLOS ARGILOSOS SATURADOS EM


SOLICITAÇÃO NÃO DRENADA

Consistência Módulo de elasticidade (Mpa)


Muito mole < 2,5
Mole 2,5 a 5
Consistência Média 5 a 10
Rija 10 a 20
Muito rija 30 a 40
Dura > 40

FONTE: Pinto (2006, p. 40)

35
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

A próxima tabela apresentará os valores de módulo de elasticidade em


Mpa para solos arenosos em pressão confinante de 100 kPa, sendo possível aplicar
a equação de módulo (Eq. 11) para obter em pressões diferentes desta.

n
σ 
Eσ= Ea ×Pa   ( Eq. 11)
 Pa 

Em que:

Ea = módulo correspondente à pressão atmosférica;


Pa = adotada como igual a 100 kPa;
Eσ = módulo correspondente à tensão considerada, σ;
N = expoente geralmente adotado como 0,5.

TABELA 6 – MÓDULOS DE ELASTICIDADE TÍPICOS DE AREIAS EM SOLICITAÇÃO DRENADA,


PARA TENSÃO CONFINANTE DE 100 KPA

Módulo de elasticidade
Descrição da areia
(Mpa)
Compacidade Fofa Compacta
Areias de grãos frágeis, angulares 15 35
Areia de grãos duros, arredondados 55 100
Areia basal de São Paulo, bem graduada, pouco argilosa 10 27

FONTE: Pinto (2006, p. 39)

FIGURA 18 – PREPARAÇÃO DO ENSAIO TRIAXIAL


∆σ1

σc σc pedra
porosa

σc σc
corpo
drenagem ou de membrana
medição de prova
pressão neutra entrada de água
e aplicação da
pressão confinante

pedra porosa

FONTE: Pinto (2006, p. 266)

36
TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Ensaio integralmente confinado: esse ensaio também é conhecido como


ensaio de compressão edométrica, sendo o ensaio mais antigo e conhecido para
determinar os parâmetros de compressibilidade do solo. Nesse caso, o corpo de
prova é colocado dentro de um recipiente indeformável que impede todo tipo
de deformação lateral, sendo aplicada externamente a tensão axial. O recipiente
indeformável é chamado de anel edométrico e possibilita o confinamento total
da amostra de solo. Para esse ensaio, as tensões laterais são desconhecidas.
Essas tensões são geradas em decorrência da aplicação da tensão axial e pela
consequente reação das paredes do anel edométrico (MARANGON, 2018;
CAVALCANTE, 2006).

As amostras, geralmente indeformadas, podem ser coletadas em blocos


ou com auxílio de tubos amostradores de paredes finas denominados tubos
“Shelby”.

ATENCAO

Muito cuidado deve ser tomado para que a amostra não sofra nenhum tipo
de perturbação desde a coleta até à moldagem e laboratório. Se for perturbada a amostra,
pouco ou quase nada se poderá extrair sobre o comportamento do solo no seu estado
natural.

FIGURA 19 – TUBOS SHELBY EM CÂMARA ÚMIDA E DO EQUIPAMENTO DE ADENSAMENTO

FONTE: Marangon (2018, p. 64)

37
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Esse ensaio simula o comportamento do solo quando ele é comprimido


pela ação do peso de novas camadas que sobre ele se depositam (ex.: quando se
constrói um aterro em grandes áreas).

A norma utilizada para o ensaio é a Norma NBR n° 12007 MB 3336 (1999).


O procedimento do ensaio de maneira resumida é:

• Saturação da amostra (se for o caso).


• Aplicação do carregamento.
• Leituras, geralmente efetuadas em uma progressão geométrica do tempo (15s,
30s, 1min, 2min, 4min, 8min, ... 24h), dos deslocamentos verticais do topo da
amostra através de um extensômetro.
• Plotar gráficos com as leituras efetuadas da variação da altura ou recalque
versus tensões aplicadas.
• A partir da interpretação dos gráficos, decidir se um novo carregamento deve
ser aplicado. Repetem-se os processos anteriores.
• Última fase: descarregamento da amostra.

As sequências usuais de cargas (em kPa): 10, 20, 40, 80, 160, 320, 640, entre
outros.

Geralmente realizado entre seis a dez estágios de carregamento, sendo


que cada estágio dura ao menos 24 horas. O descarregamento é feito em quatro
a seis estágios, seguindo os mesmos procedimentos de leitura empregados
quando da aplicação dos estágios de carregamento. Portanto, o tempo de ensaio
endométrico completo é longo, durando ao menos uma semana.

Os índices de compressão (Cc) e recompressão (Ccr) são obtidos através


do gráfico gerado pelo ensaio edométrico e pelas seguintes fórmulas:

Cc =
( e1 - e2 ) =
∆e
( log σ '2 - log σ '1 ) log
σ2
σ1

cr =
( e1 - e2 )
( log σ 2′ - log σ 1′ )

38
TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

GRÁFICO 9 – CURVA DE COMPRESSÃO DE ENSAIO OEDOMÉTRICO

FONTE: Marangon (2018, p. 70)

3.2 COMPRESSIBILIDADE DE SOLOS ARENOSOS


Um esquema representando a compressibilidade de areias é apresentado
no gráfico a seguir. Os valores foram obtidos através de ensaio de compressão
confinada (Oedométrica). No gráfico podemos observar que para areias não há
expansão até 10MPa. Para tensões superiores a essa, um aumento significativo
de deformação volumétrica (denominado tensão de escoamento, σ’esc), sendo
desprezadas as deformações antes desta tensão. Gerscovich (2008, p. 21) apresenta
outros aspectos importantes da compressibilidade dos solos arenosos:

[...] conclusão importante é que para a faixa de pressões usualmente


transmitidas ao terreno na grande maioria dos projetos de engenharia
(inferiores a 10MPa) não há uma variação significativa da variação
volumétrica nem a quebra dos grãos (σ’vo< σ’esc). Por esta razão,
pode-se dizer que os recalques em areias são desprezíveis na grande
maioria dos projetos de engenharia.

39
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

GRÁFICO 10 – COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS ARENOSOS ATRAVÉS DE ENSAIO DE


COMPRESSÃO OEDOMÉTRICA

FONTE: Gerscovich (2008, p. 11)

40
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os solos se deformam quando submetidos a carregamentos externos. Essa


característica é conhecida como compressibilidade do solo.

• Os fatores que afetam a compressibilidade do solo são: tipo, estrutura, nível de


tensão e grau de saturação.

• Existem ensaios nos quais se pode obter dados de compressibilidade dos solos,
de acordo com o tipo de grau de seu confinamento. Sendo eles: não confinados,
parcialmente confinados e integralmente confinados.

41
AUTOATIVIDADE

1 Uma camada de argila de espessura H atingirá 90% de consolidação em dez


anos. Quanto tempo necessário caso a espessura da camada fosse 4H?

2 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O ensaio triaxial não é capaz de determinar os parâmetros de


deformabilidade do solo, embora determine os parâmetros de resistência.
( ) Por meio do ensaio de adensamento, determinam-se as características de
compressibilidade dos solos sob a condição de desconfinamento lateral.
( ) Os principais fatos que determinam a compressibilidade são o tipo e
estrutura do solo, nível de tensão e grau de saturação.
( ) Solos argilosos apresentam maior compressibilidade quando comparados
com solos arenosos.

Agora, assinale a alternativa que contenha a sequência CORRETA:


a) ( ) F - F- V- V.
b) ( ) F- V- F- V.
c) ( ) V- F- V- V.
d) ( ) V- V- V- V.

42
UNIDADE 1
TÓPICO 3

ADENSAMENTO DOS SOLOS

1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste tópico é transmitir conhecimento das propriedades do
solo referentes aos conceitos de adensamento dos solos, ou seja, estudar como
ocorre a expulsão de fluído no decorrer do tempo após carregamento de um
solo, assim como saber como variam as tensões no solo durante o processo de
adensamento.

2 PROCESSO DE ADENSAMENTO – SOLOS FINOS SATURADOS


– ARGILAS MOLES
A compressibilidade dos solos é provida devido à grande porcentagem
de vazios (Eq. 13) em seu interior. Em obras de engenharia, não há significativa
variação de volume decorrente das mudanças nas partículas sólidas do solo.
Sem erro considerável, pode-se dizer que a variação de volume do solo é
inteiramente resultante da variação de volume dos vazios. Já a água é considerada
incompressível.

Reduções de volume ocorrem com a alteração da estrutura à medida que


essa suporta maiores cargas: quebram-se ligações interpartículas e há distorções.
Disso resulta um menor índice de vazios e uma estrutura mais densa. Uma forma
conveniente de estudar o fenômeno é através da analogia mecânica sugerida por
Terzaghi (1943).
Vv
e=
Vs
( Eq.13 )

Em que:

E = índice de vazios, %;
Vv = volume de vazios;
Vs = volume de sólidos.

43
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

• Modelo mecânico de Terzaghi: quando consideramos que a estrutura


sólida de um solo é semelhante à estrutura de uma mola, cuja deformação é
proporcional à carga aplicada, o solo com umidade seria identificado como
uma mola dentro de um pistão cheio de água, que possui um orifício estreito
representando a baixa permeabilidade do solo. Ao se aplicar uma carga sobre
o pistão, no instante imediatamente posterior, a mola não se deforma, pois
ainda não terá ocorrido qualquer saída de água, considerando a água um
fluído incompressível. Nesse caso, toda a tensão aplicada será suportada pela
água. Estando a água pressionada, ela tenderá a sair do pistão, já que o exterior
está sob a pressão atmosférica. Num instante qualquer, sendo permitida a
saída da água através de um orifício, ocorrerá uma deformação da mola, que
corresponde ao esforço vertical aplicado por alguma carga. Nesse instante, a
tensão aplicada será parcialmente suportada pela água e parcialmente pela
mola. A água, ainda sob pressão, continuará a sair do pistão, mantendo-se
o orifício aberto. Simultaneamente, a mola se comprimirá cada vez mais e,
portanto, suportando cargas cada vez maiores. O processo continua até que
toda a carga seja transferida para a mola. Não havendo mais sobrecarga na
água (PINTO, 2006).

FIGURA 20 – ANALOGIA MECÂNICA PARA PROCESSO DE ADENSAMENTO

FONTE: Taylor (1948, p. 246)

Nos solos, o fenômeno comporta-se de modo similar:

• O recalque total depende da rigidez da estrutura do solo, da espessura da


camada e do incremento de carga vertical.
• O tempo de dissipação da pressão neutra depende da permeabilidade do solo
e das condições de drenagem que há nos contornos da camada.

44
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

ATENCAO

É fundamental deixar claro que o adensamento ocorreu para aquele nível de


tensão específico. Caso a tensão sobre a amostra seja elevada, o processo do adensamento
continuará.

• Teoria do adensamento de Terzaghi: o estudo teórico do adensamento permite


obter uma avaliação da dissipação das sobrepressões hidrostáticas (excesso de
pressão neutra gerada pelo carregamento) e, consequentemente, da variação
de volume ao longo do tempo. Alguns pressupostos:

a) solo homogêneo e saturado;


b) partículas sólidas e a água contida nos vazios do solo são incompressíveis;
c) compressão (deformação) e drenagem unidimensionais (vertical);
d) propriedades do solo permanecem constante (k, mv, Cv);
e) validade da lei de Darcy (v = k . i);
f) há linearidade entre a variação do índice de vazios e as tensões aplicadas.

Permitindo associar o aumento da tensão efetiva e a correspondente


dissipação de pressão neutra, com o desenvolvimento dos recalques de maneira
simples por um parâmetro fundamental no desenvolvimento da teoria, que é o
grau de adensamento.

O grau de adensamento (Eq. 14) é a relação entre a deformação (ɛ)


que ocorre em determinado tempo pela deformação após todo processo de
adensamento (ɛf). A deformação (Eq. 15) é a relação entre a variação de altura
(ΔH) e a altura inicial. A deformação final (Eq. 16), por sua vez, está relacionada
pela relação da variação de índice de vazios do solo.

ε
Uz =
εf
( Eq.14 )
∆H
ε=
H
( Eq.15 )
e -e
ε f = 1 2 ( Eq.16 )
1 + e1

Dessa maneira, se substituímos as equações de deformação final e


definimos uma deformação em determinado tempo t, obtemos a equação 17, em
relação a variação entre índices de vazios.

45
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

e1 - e
1 + e1 e1 - e
Uz =
=
e1 - e2 e1 - e2
( Eq.17 )
1 + e1

Observamos no gráfico a seguir que o grau de adensamento é a relação


linear entre as tensões efetivas ( σ ) e os índices de vazios (e).

GRÁFICO 11 – VARIAÇÃO LINEAR DO ÍNDICE DE VAZIOS COM A PRESSÃO EFETIVA

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

O grau de adensamento é considerado equivalente ao grau de acréscimo


de tensão efetiva, definido como a relação entre o acréscimo de tensão efetiva
ocorrido até o instante t e o acréscimo total de tensão aplicada.

Podemos expressar a porcentagem de adensamento em função das


pressões neutras. No instante do carregamento, conforme Eq. 18:

σ 2 -σ 1 = ui ( Eq.18 )
No instante t, visto na Eq. 19:

σ 2 -σ = ui - u ( Eq.19 )
Ao convertemos a expressão de grau de adensamento em relação às
tensões efetivas, temos a Eq. 20:

46
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

σ - σ 1 ui - u
Uz
= =
σ 2 -σ 1 ui
( Eq.20 )

De maneira resumida, podemos associar o grau de adensamento pelas


equações vistas na Eq. 21:

ε e - e σ -σ 1 ui - u
U=
z = 1 = =
ε f e1 - e2 σ 2 -σ 1 ui
( Eq. 21)

Duas equações empíricas são ajustadas muito bem à equação teórica do


adensamento de Terzaghi, facilitando a obtenção do resultado. Sendo elas: Eq. 22
– para umidades iguais e superiores a 60%, e a Eq 23 – para umidades inferiores
a 60%:

Quando U ≤ 60%

π
T=
4
U2 ( Eq. 22 )

Quando U > 60

T = -0,932 log ( 1 - U ) - 0,0851 ( Eq. 23 )

• Tempo de Consolidação: para o caso de adensamento, em quanto tempo o


equilíbrio é atingido? Em outras palavras, qual o tempo de consolidação da
fundação? Para responder a primeira questão é preciso avaliar as variáveis
envolvidas no processo de transferência de carga. Quanto maior a velocidade
de escape da água e menor o volume de água, mais rápido o adensamento
ocorrerá (visto na Eq. 24):

volume de água
tα =
velocidade de escape
( Eq. 24 )

Considerando que o volume de água que é expulso é proporcional à carga


aplicada (Δσ = força/área), à espessura da camada (H) e à compressibilidade da
mola/solo (m), e que a velocidade de escape depende da permeabilidade do solo
(k) e do gradiente hidráulico (≅Δσ/H), pode-se reescrever a Equação 25:

(=
∆σ ) H × m H2 × m
=tα ( Eq. 25 )
k × ∆σ k
H

47
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Exemplo 1: considerando que a compressibilidade de um solo arenoso é


1/5 da compressibilidade do solo argiloso e o contraste de permeabilidade entre
os dois materiais é de 10000 vezes, qual a relação entre os tempos necessários
para que o adensamento ocorra nesses materiais, admitindo que a espessura da
camada é a mesma?

Solução:

=tα
(=
∆σ ) H × m H2 × m
k × ∆σ k
H
2
tareia mareia H / kareia mareia / kareia
= =
targ ila marg ila H / karg ila marg ila / karg ila
2

Se:
1
mareia = marg ila
5

Então:
kareia = 10000 karg ila
tareia 1
=
targ ila 5 ×10000
targ ila
tareia =
50000

3 TABELA DO FATOR TEMPO EM FUNÇÃO DO GRAU DE


ADENSAMENTO
Os valores da porcentagem de adensamento (de pressão neutra dissipada)
Uz podem ser obtidos atribuindo-se valores a z/Hde T, com os quais se constroem
as curvas do gráfico a seguir.

Para um determinado solo (cve Hd) e para um tempo “t”, tem-se um


fator “T”. Então, a uma profundidade z, observadas as curvas de “T”, obtém-
se a percentagem de dissipação da pressão neutra “Uz” e, consequentemente,
obtém-se o valor de “ganho” de tensão efetiva no solo (no gráfico, da esquerda
para a direita, de “0” a “1.0”-100%, indicado como ∆σ’(t)/∆u0). Observe que o
complemento corresponde à porcentagem do excesso de pressão ainda a dissipar
-∆u(t)/∆u0.

48
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

GRÁFICO 12 – CURVA DE ADENSAMENTO (RECALQUE EM FUNÇÃO DO TEMPO)

FONTE: Pinto (2006, p. 214)

TABELA 6 – FATOR TEMPO EM FUNÇÃO DA PORCENTAGEM DE RECALQUE POR


ADENSAMENTO PELA TEORIA DE TERZAGHI

U(%) T U(%) T U(%) T U(%) T U(%) T


1 0.0001 21 0.0346 41 0.132 61 0.297 81 0.588
2 0.0003 22 0.038 42 0.138 62 0.307 82 0.61
3 0.0007 23 0.0415 43 0.145 63 0.318 83 0.633
4 0.0013 24 0.0452 44 0.152 64 0.329 84 0.658
5 0.002 25 0.0491 45 0.159 65 0.34 85 0.684
6 0.0028 26 0.0531 46 0.166 66 0.351 86 0.712
7 0.0038 27 0.0572 47 0.173 67 0.364 87 0.742
8 0.005 28 0.0616 48 0.181 68 0.377 88 0.774
9 0.0064 29 0.066 49 0.189 69 0.389 89 0.809
10 0.0078 30 0.0707 50 0.197 70 0.403 90 0.848
11 0.0095 31 0.755 51 0.204 71 0.416 91 0.891
12 0.0113 32 0.0804 52 0.212 72 0.431 92 0.938
13 0.0133 33 0.0855 53 0.221 73 0.445 93 0.992
14 0.0154 34 0.0908 54 0.23 74 0.461 94 1.54
15 0.0177 35 0.0962 55 0.239 75 0.477 95 1.128
16 0.0201 36 0.102 56 0.248 76 0.493 96 1.219
17 0.0227 37 0.108 57 0.257 77 0.51 97 1.335
18 0.0254 38 0.113 58 0.266 78 0.528 98 1.5
19 0.0283 39 0.119 59 0.276 79 0.547 99 1.781
20 0.0314 40 0.126 60 0.287 80 0.567 100 ∞

FONTE: Pinto (2006, p. 215)

49
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

ATENCAO

O solo diminui de volume com o aumento das tensões efetivas.

GRÁFICO 13 – GRAU DE ADENSAMENTO UZ EM FUNÇÃO DA PROFUNDIDADE Z E DO FATOR


TEMPO T

FONTE: Pinto (2006, p. 213)

• Ensaio de Adensamento (edométrico): o ensaio de adensamento tem


por objetivo a determinação experimental das características do solo que
interessam à determinação dos recalques provocados pelo adensamento. O
aparelho utilizado é o edômetro. A amostra é confinada por um anel rígido
e a drenagem é feita por duas pedras porosas (superior e inferior). Aplicam-
se vários estágios de cargas verticais: (1/10; 2/10; 4/10; 8/10, entre outras) kgf/
cm2. Cada estágio de carregamento deve durar tempo suficiente à dissipação
de “praticamente” todo o excesso de pressão neutra. As deformações são
registradas no extensômetro em determinados tempos t = (0s; 15; 30; 1min; 2; 4;
8; 16; 32...).

50
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

No final de cada estágio, as tensões são praticamente efetivas, ou seja,


σ’≅σ.

A cada estágio de carga corresponde uma redução de altura da amostra, a


qual se expressa segundo a variação do índice de vazios.

• Quando o material é retirado do campo, sofre um alívio de tensões. No


laboratório, reconstitui-se as condições de campo iniciais.
• Corresponde à primeira compressão do material em sua forma geológica.
• Ocorre quando o excesso de pressão neutra é praticamente nulo μ≅0 e a tensão
efetiva é praticamente igual a tensão total σ’≅σ.

• Aspectos de tensão de solo normalmente adensado e pré-adensamento: um


solo normalmente adensado se dá quando tensão efetiva de pré-adensamento
(σ’vm) é igual que a tensão efetiva vertical de campo (σ’v0). Significando que
nunca esse solo foi submetido a carregamento vertical maior que o aplicado.
Para esse caso, dizemos que o solo é normalmente adensado. Portanto, temos
que (σ’vm = σ’v0). Se temos que a tensão efetiva de pré-adensamento (σ’vm) é
maior que a tensão efetiva vertical de campo (σ’v0), concluímos que em algum
momento antes da aplicação de σ’v0 este solo já foi submetido a um estado
de tensões superior ao atual. Para esse material dá-se o nome de solo pré-
adensado. Vários fatores podem causar este pré-adensamento (LADD, 1971),
conforme apresentados na tabela a seguir, os quais podem ser causados pela
variação da tensão total, poropressão e estrutura do solo.

TABELA 7 – MOTIVOS DE PRÉ-ADENSAMENTO

Variação Ação
Remoção de sobrecarga superficial (processo erosão, ação do
homem, recuo das águas do mar, por exemplo).
Tensão total
Demolição de estruturas antigas.
Glaciação.
Variação da cota do lençol freático.
Pressões artesianas.
Poropressão Bombeamento profundo.
Ressecamento e Evaporação.
Ressecamento devido à vegetação.

Compressão secundária.
Estrutura do
Mudanças ambientais: temperatura, concentração de sais, pH etc.
solo
Precipitação de agentes cimentantes, troca catiônica etc.

FONTE: Gerscovich (2008, p. 20)

51
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

As tensões de pré-adensamento podem ser notadas no gráfico gerado pelo


ensaio Oedométrico, representada pelos primeiros dados antes da reta virgem e
pode ser encontrado por dois métodos: Método de Casagrande e o Método de
Pacheco Silva. Os passos para a determinação da tensão de pré-adensamento a
partir da curva pelo método de Pacheco Silva, dão-se da seguinte forma:

• prolonga-se a reta virgem até o encontro com uma horizontal traçada do índice
de vazio inicial;
• do ponto de interseção, baixa-se uma vertical até a curva;
• desse último ponto, traça-se uma horizontal até o prolongamento da reta
virgem.

Apesar do método de Casagrande ser mais difundido internacionalmente,


ele exige uma curva com trechos de recompressão e compressão virgem mais
bem definidos, além de sofrer maior influência do operador.

GRÁFICO 14 - CURVA PELO MÉTODO DE PACHECO SILVA

3,3
e₀
Indice de vazios

2,8

2,3

σ'vm

1,8
10 100 1000
Tensão vertical, kPa

FONTE: Ortigão (2007, p. 138)

• Solos Colapsíveis e Expansíveis: os solos colapsíveis são definidos assim


por apresentarem uma rápida compressão quando submetidos a aumento de
umidade sem variar a tensão normal a que estejam submetidos. Isso ocorre por
serem solos não saturados, e esse fenômeno pode ser estudado por meio de
ensaios de compressão edométrica. O gráfico a seguir mostra exemplo um solo
colapsível em que:

o a curva A indica o resultado de um ensaio em que o corpo de prova permanece


com seu teor de umidade inicial;

52
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

o a curva B representa o resultado de um ensaio em que o corpo de prova foi


previamente saturado;
o a curva C, o de um corpo de prova inicialmente com sua umidade natural e
que, quando na tensão de 150 kPa, foi inundado, apresentando uma brusca
redução do índice de vazios.

Neste exemplo, o coplapso ocorre pela destruição dos meniscos capilares


responsáveis pela tensão de sucção. Esses solos estão diretamente associados à
perda de resistência de solos não saturados.

GRÁFICO 15 – EXEMPLO DE ENSAIO DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA DE SOLO COLAPSÍVEL

FONTE: Gerscovich (2008, p. 31)

Já de maneira contrária aos solos colapsáveis, alguns outros solos não


saturados apresentam expansão quando saturados. Esse fenômeno está mais
ligado a minerais argilosos, como minerais do tipo esmectita, siltosos e micáceos.
A expansão é decorrente da entrada de água nas interfaces das estruturas das
partículas argilosas ou a liberação de pressão de sucção a que o solo estava
submetido (MARANGON, 2018).

• Aplicação de drenos verticais e sobrecargas para acelerar adensamento: por


que com a utilização de drenos verticais o recalque de uma camada de solo
compressível é acelerado? Ao construirmos drenos verticais em solos argilosos
pode favorecer a saída de água presente nas camadas mais profundas de argila
através de percolação da água, ao se aplicar uma carga sobre o solo. Os drenos
podem ser perfurações preenchidas com areia. Os recalques se desenvolvem
muito mais rapidamente, pois as distâncias de percolação são menores e os
coeficientes de permeabilidade são maiores na direção horizontal do que na
direção vertical.

53
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 21 – APLICAÇÃO DE DRENOS EM SOLO ARGILOSO

FONTE: Baroni (2011, p. 46)

Outra alternativa para acelerar o adensamento de solos é fazer uso de


sobrecargas. Esse procedimento é interessante para reduzir o efeito de recalques
por determinado carregamento pelo qual pretende-se realizar um carregamento.
Cavalcante (2006, p. 88) afirma:

Exemplo prático da colocação de uma sobrecarga constituída de


2 metros de aterro para provocar um recalque de 30 cm em pouco
mais de quatro meses, o que não seria atingido com o aterro definitivo
projetado de 3 metros de altura nesse mesmo período. Depois de
atingido o valor do recalque desejado, a sobrecarga deve ser retirada,
mantendo-se a cota do aterro final prevista em projeto.

54
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

GRÁFICO 16 – USO DE SOBRECARGA PARA ACELERAR ADENSAMENTO

FONTE: Cavalcante (2006, p. 65)

O caso da vila dos atletas, no Rio de Janeiro, fez uso dessas duas aplicações
em conjunto para acelerar o adensamento dos solos moles da região, conforme
visto na Figura 21.

55
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

LEITURA COMPLEMENTAR

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DE ENSAIOS DE COMPRESSÃO


TRIAXIAL EM SOLOS GRANULARES E FINOS

Yago Machado Pereira de Matos


Beatriz Rodrigues Soares
Fernando Feitosa Monteiro
Ícaro Rodrigues Marques
Renan Oliveira Ribeiro
Marcos Fábio Porto de Aguiar

RESUMO

O presente trabalho visa, por meio de ensaios de compressão triaxial,


apresentar valores auferidos dos parâmetros de resistência de solos com
constituições granulares e finas. Os resultados consideram a coesão real dos
grãos, o ângulo de atrito interno do solo e o plano de ruptura das amostras. Em
razão da natureza incerta dos solos nos diversos cenários do mundo, os ensaios
de laboratório são muito importantes para estimativa de seus comportamentos
e avaliação das tensões que neles atuam. No que diz respeito à determinação da
resistência ao cisalhamento dos solos, existem dois tipos de ensaios de laboratório
que são, habitualmente, executados: o ensaio de cisalhamento direto e o ensaio de
compressão triaxial. O ensaio triaxial, quando executado corretamente, fornece
informações bastante consistentes sobre os parâmetros de resistência do solo.
Os resultados obtidos de ângulo de atrito, coesão e plano de ruptura foram
apresentados. Verificou-se a dificuldade de comparação entre os valores das duas
amostras de solo.

TENSÕES NOS SOLOS

Para Lambe e Whitman (1969), o fato de o solo ser composto de vazios


e partículas sólidas discretas, fornece-lhe certa liberdade de movimento entre
seus grãos. Assim, esse simples fato distingue o solo dos materiais totalmente
sólidos e fluídos, sendo possível, portanto, tratar do comportamento tensão
deformação desse material como mecânica de partículas. Segundo Pinto (2006),
para a aplicação da mecânica dos sólidos deformáveis aos solos, deve-se partir
do conceito de tensões. Uma maneira satisfatória consiste na consideração de
que os solos são constituídos de partículas e que as forças aplicadas a eles são
transmitidas de partícula a partícula, além das que são suportadas pela água
dos vazios. Considera-se, inicialmente, a maneira como as forças se transmitem
de partícula a partícula, que é muito complexa e depende do tipo de mineral.
Entretanto, em qualquer caso, a transmissão se faz nos contatos e, portanto, em
áreas muito reduzidas em relação à área total envolvida. Conforme Terzaghi
(1936), a tensão normal total em um plano qualquer deve ser considerada como
a soma de duas parcelas:
σ= σ '+ u (1)

56
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

Em que σ é tensão normal total, σ’ é a tensão transmitida nos contatos


entre as partículas, denominada tensão efetiva, e u é parcela da pressão total que
se desenvolve na água ocorrente nos vazios do solo, também conhecida como
pressão neutra ou poropressão.

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

Quando um corpo é submetido a uma carga externa, desenvolvem-se,


nos diferentes pontos desse corpo, várias combinações de tensões normal, σ, e
cisalhante, τ . Dessa forma, as tensões atuantes nesses três planos, mutuamente,
ortogonais e onde a tensão cisalhante é nula são denominadas tensões principais
e designadas por σ1, σ2 e σ3 como indica a Figura 01.

Figura 01– Plano de tensões principais (Bishop, 1962).

Em que σ1, σ2 e σ3 são definidas, respectivamente, como tensões principais


maior, intermediária e menor. Contudo, pode-se fazer uso de hipóteses admitidas
na mecânica dos solos a fim de simplificar os cálculos com base na teoria da
elasticidade. Assim, em casos especiais, pode ocorrer o estado axissimétrico
de tensões, no qual σ2 = σ3, o estado hidrostático de tensões, onde σ1 = σ2 = σ3,
e o estado plano de tensões, que considera σ2 = 0. Conforme Pinto (2006), no
estado plano de tensões, quando se conhecem os planos e as tensões principais
em um determinado ponto, pode-se determinar as tensões em qualquer plano
que passa por esse ponto. O cálculo é feito pelas equações de equilíbrio dos
esforços aplicadas a um prisma triangular definido pelos dois planos principais
e o plano considerado. A partir dessas equações, é possível obter expressões
que indicam as tensões normal e cisalhante em função das tensões atuantes nos
planos principais, σ1 e σ3, e do ângulo, α, que o plano considerado determina
com o plano principal maior.

Com a obtenção dessas expressões, pode-se representar as tensões σ α e τ α ,


graficamente, por um círculo, em um sistema de coordenadas, ( σ ; τ ), denominado
Círculo de Mohr. Esse círculo é utilizado para simplificar a determinação de tensões
e traduzir os resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento dos solos.
Conhecendo-se as tensões principais σ1 e σ3, é possível determinar as coordenadas
do centro e o raio desse círculo.

57
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Em mecânica dos solos, a resistência ao cisalhamento pode ser definida


como o máximo valor de tensão cisalhante que pode ocorrer na massa de solo.
Desenvolvendo-se, caso esse valor seja excedido, a superfície de ruptura. A teoria
da ruptura estabelece uma correlação entre tensão de ruptura, tensões aplicadas e
algumas propriedades do solo. Conforme Marangon (2009), as curvas de ruptura
(tensão x deformação) obtidas nos ensaios de resistência têm uma das formas
mostrada na Figura 02.

Figura 02– Aspectos das curvas tensão x deformação (Marangon, 2009).

CRITÉRIOS DE RUPTURA

Pinto (2006) define esses critérios como formulações que buscam exprimir
as condições em que ocorre a ruptura dos materiais. Existem critérios que
estabelecem máximas tensões de compressão, de tração ou de cisalhamento.
Outros se referem a máximas deformações. Um critério é satisfatório na medida
em que reflete o comportamento do material em consideração. Contudo, a
ruptura dos solos, quase sempre, é causa do fenômeno de cisalhamento. Dentre
os principais critérios de ruptura, destaca-se o de MohrCoulomb. Por se tratar
de uma combinação de dois critérios, a teoria de Mohr-Coulomb emprega a reta
utilizada por Coulomb para traçar a envoltória tangenciando os círculos de Mohr
conforme a Figura 03.

Figura 03– Representação dos critérios de ruptura de Coulomb e Mohr (Pinto, 2006).

58
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

Segundo Mohr (1890), a ruptura ocorre em um plano quando existe uma


combinação crítica de tensão normal e cisalhante, e não um valor máximo de
tensões: normal ou tangencial. A partir da elaboração da reta de Coulomb, tem-se:

τ = c + σ .tan φ (2)

Onde τ é a resistência ao cisalhamento do solo, σ é a tensão normal ao


plano considerado, c é a coesão real do solo e φ é o ângulo de atrito interno do
solo. Desse modo, a coesão e o ângulo de atrito são denominados parâmetros de
resistência dos solos. Apesar de esses critérios não levarem em consideração a
tensão principal intermediária, conseguem refletir bem o comportamento do solo,
pois a tensão principal intermediária tem pequena influência na sua resistência.

ENSAIO DE COMPRESSÃO TRIAXIAL

Uma maneira bastante precisa de se obter os parâmetros de resistência


de uma amostra de solo em laboratório é por meio do ensaio de compressão
triaxial. O ensaio convencional consiste na aplicação de um estado hidrostático de
tensões e de um carregamento axial sobre um corpo de prova cilíndrico do solo
(PINTO, 2006). Segundo Head (1994a), o ensaio de compressão triaxial oferece a
condição mais satisfatória de medida da resistência ao cisalhamento dos solos. O
princípio do ensaio de compressão triaxial é versátil, e os procedimentos podem
ser relacionados a diversos problemas práticos. Possui a grande vantagem
de controlar a magnitude das tensões principais, o controle da drenagem, e a
medição da pressão neutra. Os resultados desses ensaios podem conceder um
melhor entendimento do comportamento dos solos e de suas propriedades.

Antes de inserir o corpo de prova na câmara de ensaio, é necessário


envolvê-lo com uma membrana de borracha. Em seguida, enche-se a câmara com
água, que aplicará a pressão confinante (σ3) na amostra em todas as direções, para,
finalmente, promover o carregamento axial (σ1). Durante o carregamento, mede-
se o acréscimo de tensão axial e a deformação vertical do corpo de prova, ε . Com
os valores de σ1 e σ3, é possível obter a tensão desviadora, σd, a qual é, conforme
Head (1994b), tradicionalmente, associada com o rompimento de amostras de
solo, pois sugere a máxima diferença entre as tensões principais. Uma ilustração
do ensaio pode ser vista na Figura 04.

σ=
d σ1 − σ 3 (3)

59
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

∆σ1

σc σc pedra
porosa

σc σc
corpo
drenagem ou de membrana
medição de prova
pressão neutra entrada de água
e aplicação da
pressão confinante

pedra porosa

Figura 04– Esquema da câmara do ensaio triaxial (Pinto, 2006).

Quanto à aplicação do carregamento axial, o ensaio triaxial pode ser feito


com carga controlada, quando executado com aplicação de forças no pistão,
ou com deformação controlada, caso em que a câmara é deslocada para cima,
pressionando o pistão. No que diz respeito à drenagem, o ensaio de compressão
triaxial pode ser adensado drenado (CD), o qual ocorre drenagem permanente
do corpo de prova; adensado não drenado (CU), que admite a expulsão da água,
somente, durante a aplicação da tensão confinante; e não adensado não drenado
(UU), cujo procedimento não permite qualquer drenagem.

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado por meio de execução de ensaios de compressão


triaxial em solos arenosos e argilosos, no qual foram utilizados, para cada amostra,
diferentes maneiras de moldagem dos corpos de prova, a compactação estática e
a talhagem respectivamente. Empregou-se em todas as amostras de solo o ensaio
triaxial adensado não drenado (CU) e com deformação controlada. Aplicou-se
para os solos granulares tensões confinantes de 1, 2 e 3 kgf/cm² e, para os solos
finos, tensões confinantes de 0,5, 1 e 2 kgf/cm². Os valores dos parâmetros de
resistência ao cisalhamento obtidos para os dois tipos de solo foram apresentados,
realizando-se, assim, as devidas considerações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antes da execução dos ensaios triaxiais, foi necessária a caracterização


das duas amostras de solo, conforme recomenda DNER (1994a, 1994c, 1994d e
1995). A Tabela 01 resume o resultado da granulometria das duas amostras.

60
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

Tabela 01– Resumo da granulometria das amostras.

Resumo Granulometria
Tipo de Pedregulho Areia Grossa Areia Média Areia Fina Silte (0,05 - Argila (<
Total
Material (> 4,8mm) (4,8 - 2,0mm) (2,0 - 0,42mm) (0,42 -0,05mm) 0,005mm) 0,005mm)
Solo
0% 0% 0% 83% 3% 14% 100%
Granular
Solo Fino 6% 2% 0% 30% 24% 38% 100%

Para a amostra granular, cuja moldagem foi feita por compactação estática,
determinou-se a umidade ótima do material, seguindo DNER (1994b). Os corpos
de prova foram, então, esculpidos com a quantidade de água determinada. Todos
os procedimentos realizados nos ensaios de compressão triaxial estão detalhados
na Figura 05.

61
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

62
Figura 05– Resumo de procedimentos do ensaio de compressão triaxial (Monteiro, 2014).
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

O solo fino foi talhado a partir de uma amostra indeformada, seguindo,


então, os mesmos procedimentos apresentados do material granular a partir da
pesagem do corpo de prova. Os resultados dos ensaios para as amostras arenosas
e argilosas são ilustrados nas Tabelas 02 e 03, e suas respectivas envoltórias nas
Figuras 06 e 07.

Tabela 02– Resultados do ensaio para a amostra arenosa (Monteiro, 2014).

Corpo
σ (kgf/cm²) σ1 (kgf/cm²) Raio (kgf/cm²) u (kgf/cm²) σ'1 (kgf/cm²) σ'3 (kgf/cm²) σd (kgf/cm²)
de Prova 3
3 1 8,12 3,56 -1,63 9,75 2,63 7,12
24 2 10,04 4,02 -1,1 11,14 3,1 8,04
4 3 14,43 5,72 -1,39 15,82 4,39 11,43

Figura 06– Envoltória com círculos de tensões totais e efetivas da amostra arenosa (Monteiro, 2014).

63
UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Tabela 03– Resultados do ensaio para a amostra argilosa.

Corpo σ3 σ1 Raio σ'1 σ'3 σd


u (kgf/cm²)
de Prova (kgf/cm²) (kgf/cm²) (kgf/cm²) (kgf/cm²) (kgf/cm²) (kgf/cm²)
1 0,5 1,24 0,37 0,22 1,02 0,28 0,74
3 1 2,18 0,59 0,32 1,86 0,68 1,18
5 2 5,52 1,76 0,85 4,67 1,15 3,52

Figura 07– Envoltória com círculos de tensões totais e efetivas da amostra argilosa.

64
TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS

A Tabela 04 apresenta os valores dos parâmetros de resistência ao


cisalhamento das amostras arenosas e argilosas bem como seus planos de ruptura.

Tabela 04– Comparação dos parâmetros de resistência das amostras.

Amostra c (kgf/cm²) ψ(o) c' (kgf/cm²) ψ'(o) ψr(o)

Argilosa 0,14 29,63 0,15 39,43 63

Arenosa 1,19 32,2 0,12 33,72 61

CONCLUSÃO

Por meio deste trabalho, foi possível determinar os parâmetros de


resistência ao cisalhamento das amostras de solo arenoso e argiloso fazendo
uso do ensaio de compressão triaxial do tipo adensado não drenado e com
deformação controlada. O solo deformado de composição granular foi moldado
por compactação dinâmica e submetido a tensões confinantes de 1, 2 e 3 kgf/cm²,
apresentando plano de ruptura de 61º, ângulos de atrito total e efetivo de 32,20º
e 33,72º; e coesões total e efetiva de 1,19 kgf/cm² e 0,12 kgf/cm² respectivamente.
Quanto à amostra indeformada de solo fino, que foi esculpida por talhagem e
sujeita a níveis de tensão de 0,5, 1 e 2 kgf/cm², exibiu plano de ruptura de 63º,
ângulos de atrito total e efetivo de 29,63º e 39,43º; e coesões total e efetiva de 0,14
kgf/cm² e 0,15 kgf/cm² nessa ordem. Verificou-se a dificuldade de comparação entre
os resultados das duas amostras em razão das diferentes condições de moldagem
empregadas. Recomenda-se, assim, a realização de novos ensaios de compressão
triaxial em amostra deformada argilosa a fim de justificar a comparação entre os
parâmetros de resistência ao cisalhamento dos dois tipos de solo.

FONTE: <researchgate.net/publication/323265984_Avaliacao_dos_Resultados_de_Ensaios_de_
Compressao_Triaxial_em_Solos_Granulares_e_Finos>. Acesso em: 24 out. 2019.

65
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Podemos utilizar os modelos mecânicos de Terzaghi para aplicar nos processos


de adensamento dos solos.

• É de grande importância a realização do ensaio edométrico para realização


das medições dos processos de adensamento. Vimos as diferenças entres solos
colapsíveis e expansíveis.

• Existem vantagens em tempo ao realizar a aplicação de drenos verticais e


sobrecargas para acelerar adensamento dos solos.

• O tempo de consolidação dos solos depende da velocidade de escape da água,


quanto maior velocidade, menor o volume de água, mais rápido o adensamento
ocorrerá.

CHAMADA

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66
AUTOATIVIDADE

1 Em cima de um solo de argila mole saturada foi realizado um aterro


prevendo um recalque total de 50 cm. Após dez dias, a construção já tinha
recalcado 12 cm. Qual será o recalque que acontecerá após três meses e dez
dias após a realização do aterro?

2 A construção de um aterro com 2,5 m de altura sobre um terreno constituído


de uma camada de 4 m de argila mole sobre areia apresentaria um recalque
de 50 cm. Para estudar a evolução dos recalques com o tempo, precisa-se do
coeficiente de adensamento. Sabendo que o coeficiente de compressibilidade
(av) é de 0,06 kPa-1 e o coeficiente de permeabilidade é de 3x10-8 m/s e o índice
de vazios igual a 3, qual é o valor de Cv?

FIGURA – EXEMPLO DO SOLO

+2,5m

aterro
0 NA

argila mole

-4 m

areia

FONTE: O autor

3 Um aterro a ser construído transmitirá uma pressão uniforme de 40 kPa.


O terreno foi sobreadensado pelo efeito de uma camada de 1 m de areia
superficial que teria sido erodida. Dessa forma, sabe-se que a tensão de
pré-adensamento é 18 kPa superior à tensão efetiva existente em qualquer
ponto. O recalque por adensamento ocorre na argila mole, cujo índice de
compressão é 1,8 e o índice de recompressão é 0,3. Que recalque sofrerá o
terreno?

67
68
UNIDADE 2

MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS


E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar os conceitos de resistência ao cisalhamento aplicadas aos solos;

• conhecer o comportamento de resistências de solos arenosos e argilosos;

• aprender os principais ensaios para cada tipo de solo;

• avaliar soluções para aprimoramento de resistências em solos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

TÓPICO 2 – RESISTÊNCIA DAS AREIAS

TÓPICO 3 – RESISTÊNCIA DOS SOLOS ARGILOSOS

CHAMADA

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melhor as informações.

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UNIDADE 2
TÓPICO 1

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

1 INTRODUÇÃO
Nesta segunda unidade, estudaremos as propriedades de resistências
dos diferentes tipos de solos. No primeiro tópico, abordaremos conceitos de
resistências, apresentando os cálculos de círculo de Mohr, resistência de atrito
e coesão e os ensaios para determinação de resistências nos solos. Depois,
abordaremos a resistência e o comportamento das areias e, adiante, estudaremos
sobre os comportamentos resistivos dos solos argilosos. Discutiremos também
sobre a influência da tensão de pré-adensamento, as definições de tensões efetivas,
a comparação entre o comportamento das argilas e areias, a trajetória de tensões e
os ensaios de adensamento rápido das argilas.

O objetivo deste primeiro tópico é oferecer conhecimento das propriedades


de resistências de solos arenosos e argilosos, identificando os ensaios para cada
tipo de solo, conhecendo suas propriedades resistivas e aprender soluções para
aprimoramento de resistências em solos.

2 RESISTÊNCIA DOS SOLOS


De modo a recapitular, os solos são materiais trifásicos compostos por
fases: sólida, líquida e gasosa. Portanto, para um conhecimento mais real de
seu comportamento, deve ser considerado como um meio descontínuo em que
necessita estudos aprofundados em mecânica do meio contínuo, que faz uso de
resistência de materiais e mecânica dos fluídos. Em mecânica dos solos, é definida
uma classificação simplificada para os solos, sendo a de materiais contínuos
deformáveis, na maior parte das vezes homogêneos e isotrópicos. Aplicam-se as
teorias de Elasticidade e Plasticidade.

71
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

DICAS

Materiais isotrópicos: propriedades mecânicas e térmicas são as mesmas em


todas direções.

Conforme vimos na primeira unidade, os esforços devidos ao peso próprio


e forças externas aplicadas geram tensões em pontos do interior do maciço do solo
(Figura 1). Nesta unidade, abordaremos os principais fundamentos de mecânica
dos sólidos -deformáveis. Sendo os principais componentes de tensões:

• Tensões normais (σ) → tensões na direção perpendicular ao plano


• Tensões cisalhantes (τ) → tensões nas direções paralelas ao plano

FIGURA 1 – TENSÕES TRIDIMENSIONAIS EM UM ELEMENTO DO SOLO

FONTE: Das (2014, p. 235)

Grande parte da superfície do planeta é coberta por solos. Os solos


resistirão às cargas devido a sua capacidade de suportar às tensões de
cisalhamento. Para estudar o fenômeno, consideramos um teste em uma areia
da praia, em que pegamos uma caixa sem fundo e a enchemos de areia de modo
que a areia dentro da caixa sem fundo esteja em contato com a areia da praia. O
experimento consiste em aplicar uma força horizontal à caixa até atingir a força
máxima que torna o movimento iminente (TORRES, 2003).

72
TÓPICO 1 | RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

A estática estabelece que: à medida que a força horizontal aumenta, uma


força horizontal é produzida entre as duas superfícies em contato (ocorre na
parte inferior da caixa sem fundo) e atinge um valor máximo igual à força normal
aplicada à superfície multiplicado por um coeficiente μ(e) que é conhecido como
coeficiente de atrito estático. Após ocorrer movimento estático, a força necessária
para manter o movimento uniforme é um pouco menor que o máximo estático
e é calculada pelo produto de um coeficiente de atrito dinâmico μ(d), que é
consequentemente menor que a estática (ORTIGÃO, 2007).

Nos solos, verificamos que ocorrem em sua maioria esforços de tensão de


cisalhamento, entretanto, em casos muito especiais, também é verificado esforços
de tração. O local geométrico dos estados de tensão na ruptura é definido como
a envoltória de ruptura (ou resistência). Sendo que os estados de tensão abaixo
da envoltória correspondem a situações de estabilidade e acima a estados de
tensões impossíveis de ocorrer. Os critérios de Rankike (esforços de tração) e
de Tresca (esforços de cisalhamento) são apresentados nas Figura 2 e Figura 3,
respectivamente (GERSCOVICH, 2008):

Critério de Rankine: a ruptura ocorre quando a tensão de tração se iguala


à tensão normal máxima (σmax) observada em ensaio de tração.

FIGURA 2 – CRITÉRIO DE RUPTURA DE RANKINE

FONTE: Gerscovich (2008, p. 5)

Critério de Tresca: a ruptura ocorre quando a tensão de cisalhamento se


iguala à tensão de cisalhamento máxima (τmax) observada em ensaio de tração.

73
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 3 – CRITÉRIO DE RUPTURA DE TRESCA

FONTE: Gerscovich (2008, p. 5)

O problema da determinação da resistência aos esforços cisalhantes nos


solos constitui um dos pontos fundamentais de toda a Mecânica dos Solos, em
que é necessário avaliar a estabilidade de obras civis (MARANGON, 2018), como
no exemplo de um perfil de ruptura de uma massa de uma encosta na Figura
1 em que Gerscovich (2008) ressalta que a ruptura de um solo é caracterizada
inicialmente pela formação de uma zona de cisalhamento contínua na massa de
solo, posteriormente desenvolvendo uma superfície de cisalhamento, ou seja,
ocorre uma camada de solo que perde suas características de resistir aos esforços,
resultando em uma movimentação do solo.

FIGURA 4 – ZONA FRACA, ZONA CISALHADA E SUPERFÍCIE DE CISALHAMENTO EM UM SOLO

FONTE: Adaptado de Leroueil (2001, p. 107)

74
TÓPICO 1 | RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

2.1 TENSÕES EM UM PLANO GENÉRICO


Os estados de tensões definidos conforme Caputo (1987) são:

• Em qualquer ponto do solo a tensão atuante e a sua inclinação em relação à


normal ao plano (σ) variam conforme o plano considerado.
• Existem três planos em que a tensão atuante é normal ao próprio plano, não
existindo a componente cisalhante.
• Esses planos, em qualquer situação, são ortogonais entre si.
• Esses planos recebem o nome de “planos de tensão principal” ou “planos
principais”, e as tensões neles atuantes são chamadas de “tensões principais”
(σ1, σ2, σ3), sendo:
o σ : tensão principal maior;
1
o σ : tensão principal intermediária;
2
o σ : tensão principal menor.
3

NOTA

Existem casos especiais de igualdade de tensões, quando (GERSCOVICH,


2008):
σ2 = σ3 Para tensões em um solo normalmente adensado, quando a superfície é horizontal.
σ1 = σ2 = σ3 Para estado hidrostático de tensões, comum em ensaios de laboratório quando
os corpos de prova são submetidos a confinamento.

Para a geotecnia, a resistência ao cisalhamento depende das tensões


cisalhantes, que são frutos das diferenças entre as tensões principais (diferença
entre a tensão maior e menor: σ1 e σ3). Realiza-se a determinação das tensões
(σ e τ ) em um plano genérico a partir das tensões principais (σ1 e σ3). Como?
Bom, a resposta é: por meio das “equações de equilíbrio dos esforços”
aplicadas a um prisma triangular definido pelos dois planos principais e o
plano considerado (Figura 5).

2.2 CÍRCULO DE MOHR


No ano de 1900, o engenheiro estrutural Otto Mohr apresentou sua teoria
para ruptura em materiais, apoiada na ideia de que um material se rompe devido
uma combinação de ações das forças normal e cisalhante, e não devido a uma
máxima força normal ou de cisalhamento isolado (DAS, 2014). A relação funcional
entre a tensão normal e tensão cisalhante em um plano de ruptura é expressa pela
Eq. 1. Para essa equação a função é representada por uma linha curva.

75
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

O estado de tensões atuantes em todos os planos que passam por um


ponto pode ser representado graficamente em um sistema de coordenadas em
que as abscissas são as tensões normais e as ordenadas são as tensões cisalhantes
(PINTO, 2006).

Os tópicos para a realização do círculo de Mohr são:

• Construir o círculo por meio do conhecimento das duas tensões principais


(tensões vertical e horizontal em um terreno horizontal) ou as tensões normais
e de cisalhamento em dois planos quaisquer.
• Deve-se levar em consideração que nestes dois planos as tensões normais não
podem ser iguais.
• Após a construção do Círculo de Mohr, determina-se as tensões em qualquer
outro plano, identificado pelo ângulo α (formado com o plano principal maior).
• As componentes da tensão atuante nesse plano são determinadas pela
interseção da reta que passa pelo centro do círculo e forma um ângulo 2α com
o eixo das abscissas, com a própria circunferência (Ponto X).
• Ponto X: interseção com a circunferência da reta que, partindo do ponto
representativo da σ3, forma ângulo α com eixo das abscissas.

FIGURA 5 – DETERMINAÇÃO DAS TENSÕES EM UM PLANO GENÉRICO, A PARTIR DAS


TENSÕES PRINCIPAIS

FONTE: Adaptado de Pinto (2006, p. 256)

As forças na direção normal ao plano considerado:

σα ⋅ A =σ1 ⋅A ⋅ cos 2 α + σ3 ⋅ A ⋅ sen 2 α ( Eq.1)

76
TÓPICO 1 | RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

As forças na direção tangencial ao plano considerado:

τα ⋅ A =σ1 ⋅A ⋅ senα ⋅ cos α - σ 3 ⋅ A ⋅ senα ⋅ cos α ( Eq. 2 )


As transformações geométricas:

σα =σ1 ⋅ cos 2 α + σ3 ⋅ sen 2 α ( Eq. 3 )


σ1 σ
σα= ⋅ ( 1 + cos 2α ) + 3 ⋅ ( 1 - cos 2α ) ( Eq. 4 )
2 2
σ1 + σ 3 σ1 - σ 3
σα = + ⋅ cos2α ( Eq. 5 )
2 2
τα = ( σ1 - σ3 ) ⋅ senα ⋅ cos α ( Eq. 6 )
( σ1 - σ3 ) ⋅ sen2α
τα =
2
( Eq. 7 )

FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO DAS TENSÕES NUM PLANO GENÉRICO POR MEIO DO CÍRCULO
DE MOHR

FONTE: Adaptado de Pinto (2006, p. 257)

Da análise do Círculo de Mohr, as conclusões obtidas são (PINTO, 2006):

a) A máxima tensão de cisalhamento em módulo ocorre em planos que formam


45° graus com os planos principais.
b) A máxima tensão de cisalhamento é igual à semidiferença das tensões principais
( )
σ1 - σ 3 /2 (ver máximo na Figura 6).
c) As tensões de cisalhamento em planos ortogonais são numericamente iguais,
mas com sinais contrários.

77
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

d) Em dois planos que formam o mesmo ângulo com o plano principal maior, de
sentido contrário, ocorrem tensões normais iguais e tensões de cisalhamento
numericamente iguais, mas de sentido contrário.

De maneira resumida, verificamos o comportamento de solos por meio de


esquema do círculo de Mohr e da envoltória de ruptura.

A Figura 7(a) apresenta dos pontos em um solo, o ponto X em que


devido a carregamento aplicado no solo romperá e o ponto Y (Figura 7(b)) em
que está mais abaixo da envoltória, portanto, encontrando-se estável. Na Figura
7(c), verificamos a representação do aumento do Círculo de Mohr até alcançar a
envoltória, significando em ruptura do solo devido incremento de carga.

FIGURA 7 – ESQUEMA RESUMO DE CÍRCULO DE MOHR E ENVOLTÓRIA DE RUPTURA

FONTE: Adaptado de Baroni (2011, p. 36)

Exemplo aplicado:

Um elemento do solo é mostrado na Figura 8, as tensões atuantes são


σx = 96 kN/m2, σy = 120 kN/m2, τ = 120 kN/m2 e, θ = 20º. Calcule:

a) As magnitudes das tensões principais.


b) As tensões normais e de cisalhamento no plano AB.

78
TÓPICO 1 | RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

FIGURA 8 – ELEMENTO DE SOLO COM AS TENSÕES ATUANTES

FONTE: Adaptado de Das (2014, p. 232)

Solução:

a)
2
σ 3  σ y + σ x  σy - σx  2
=  ±   + τxy
σ1  2  2 
2
120 + 96  120 - 96 
+ ( -38 )
2
= ±  
2  2 
σ1 = 147, 85 kN / m2
σ3 = 68,15 kN / m2

b)
σy + σx σy - σx
=σn + cos 2θ + τsen2θ
2 2
120 + 96 120 - 96
=
σn + cos ( 2 * 20 ) + ( -38 ) sen ( 2 * 20 )
2 2
σ n = 92,76 kN / m2
σy - σx
=τn sen2θ - τ cos 2θ
2
120 - 96
τn = sen ( 2 * 20 ) - ( -38 ) cos ( 2 * 20 )
2
τn = 36, 82 kN / m2

79
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

De forma a executar de maneira mais prática, existem outras alternativas


de determinar os estados de tensões é através da utilização dos ângulos que
o plano considerado faz com o plano principal maior. A Figura 9 indica os
elementos em que são conhecidas as tensões normal e de cisalhamento em dois
pontos diferentes dos eixos horizontais (x) e verticais (y) (DAS, 2014).

FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DAS TENSÕES ATRAVÉS DO MÉTODO DO POLO

FONTE: Adaptado de Pinto (2006, p. 258)

2.3 RESISTÊNCIA DOS SOLOS: ATRITO E COESÃO


Para facilitar a compreensão do efeito das tensões de cisalhamento nos
solos, precisamos ter em vista as ideias sobre o mecanismo de deslizamentos entre
corpos sólidos e entre partículas que ocorre no solo. Os principais fenômenos são
o atrito e a coesão.

3 ATRITO
O conceito de atrito (PINTO, 2006) equivale ao visto durante aprendizagem
de física, através da Lei de Coulomb. A resistência de um solo ao atrito está
relacionada a uma força horizontal necessária a se aplicar a um corpo que comece
a fazer deslizar sobre uma superfície (Figura 10(a)). Em que N é a força vertical
aplicada, T a força horizontal necessária para iniciar o deslizamento. Ocorre uma
proporção entre as forças, resultando uma relação conforme Eq. 8:

T N. tg ϕ
= ( Eq. 8 )
O ângulo de atrito ϕ também é entendido como o ângulo máximo que a
força transmitida pelo corpo à superfície pode fazer com relação à força normal
ao plano de contato, sem que ocorra deslizamento (Figura 10(b)).

80
TÓPICO 1 | RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

FIGURA 10 – ESQUEMA DO ATRITO ENTRE DOIS CORPOS (A) EM UMA SUPERFÍCIE


HORIZONTAL (B) COM FORÇA APLICADA COM UM ÂNGULO DE ATRITO

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

E
IMPORTANT

• No fenômeno de atrito nos solos o deslocamento envolve que muitos grãos


deslizem entre si e que se acomodem em vazios.
• Há diferenças de atritos entre os diferentes tipos de solos (areia e argila):
ᵒ Areia: as forças transmitidas são suficientes grandes para expulsar a água da superfície
(contato entre os grãos)
ᵒ Argilas: maior número de partículas e a parcela de forças transmitida em cada contato
é reduzida. Partículas de argila envolvidas por moléculas de água (visto na unidade
anterior).

3.1 COESÃO
É a parcela de resistência ao cisalhamento de um solo que independe
das tensões normais aplicadas. Sua ocorrência se dá com a atração química entre
partículas argilosas, particularmente atrações iônicas; cimentação de partículas.
Segundo Vargas (1977), de uma forma intuitiva, a coesão é aquela resistência que
a fração argilosa empresta ao solo, pelo qual o mesmo se torna capaz de manter
a coesão em forma de torrões ou blocos, ou pode ser cortado em formas diversas
e manter esta forma. Os solos que têm essa propriedade chamam-se coesivos. Os
solos não-coesivos, que são areias puras e pedregulhos, esboroam-se facilmente
ao serem cortados ou escavados.

A coesão é típica de solos muito finos, siltes plásticos e argilas, sendo


constatada sua elevação com a quantidade de argila e atividade coloidal, relação
de pré-adensamento e diminuição da umidade.

Pinto (2006) afirma que a atração química entre as partículas pode produzir
uma resistência independente da tensão normal atuante no plano denominada
“coesão real”: parcela da resistência ao cisalhamento de solos úmidos, não
saturados, devido à tensão de atração entre partículas.

81
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Já a coesão aparente é resultado da tensão superficial da água nos capilares


do solo, formando meniscos de água entre as partículas dos solos parcialmente
saturados, que tendem a aproximá-las entre si.

Gerscovich (2008) afirma que no caso dos solos coesivos (argilo minerais),
a presença de uma ligação entre partículas faz com que o esforço necessário
para movimentação relativa do bloco seja aumentado de uma parcela que
independe da tensão normal (Figura 11); denominada coesão. Definida pela Eq.
9. Já a equação englobando ambos fenômenos fica definida pela Eq. 10.

H 
  =τ f =c ( Eq. 9 )
A
τ= c′ + σ′ ⋅ tg ϕ ( Eq. 10 )

FIGURA 11 – ESQUEMA DE COESÃO DOS SOLOS

FONTE: Gerscovich (2008, p. 18)

ATENCAO

Não devemos confundir o fenômeno físico de coesão com a coesão


correspondente a da equação de resistência ao cisalhamento.
A coesão da equação de resistência ao cisalhamento corresponde somente ao
intercepto de uma equação linear para uma faixa de tensão mais elevada e não para tensão
baixa ou nula (PINTO, 2006).

82
TÓPICO 1 | RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

3.2 CRITÉRIOS DE RUPTURA (MOHR-COULOMB)


Os melhores critérios de ruptura que representam o comportamento
dos solos são os desenvolvidos por Mohr e Coulomb. Sendo o critério de Mohr
expresso como: sem ruptura enquanto o círculo representativo do estado de
tensões se encontrar no interior de uma cura que é a envoltória dos círculos
relativos a estados de ruptura, observados experimentalmente para o material
(DAS, 2014). O critério de Coulomb-Mohr é expresso de maneira que: não há
ruptura em um solo se a tensão de cisalhamento não ultrapassar um valor dado
pela Eq. 11 e Eq. 12:

τ f = c + f ⋅σ ( Eq.11) ou

τ f = c + σ tg ϕ ( Eq.12 )

Em que:

τ f = resistência ao cisalhamento.
c = coesão;
f = coeficiente de atrito interno;
ϕ = ângulo de atrito interno;
σ = tensão normal do plano de ruptura;

Envoltórias curvas são de difícil aplicação. Portanto, de maneira prática, é


utilizado envoltórias retas de melhor ajuste. O valor c: deixa de ser coesão e passa
a ser um coeficiente da equação que expressa a resistência em função da tensão
normal (σ), sendo denominado como “intercepto coesivo” (GERSCOVICH, 2008).

Já para um solo saturado, de maneira específica para as argilas, a tensão


normal total em um ponto é a soma da tensão efetiva (σ) e poropressão (u), sendo
descrito pela Eq. 13.

σ =σ'+ u ( Eq.13 )

• Pinto (2006) define os principais pontos com relação das análises do estado de
tensões no plano de ruptura (Figura 12).
• O Círculo de Mohr tangencia a envoltória.
• O plano de ruptura (ângulo α com plano principal maior).
• O plano onde age a tensão normal é AB (σα).
• A tensão cisalhante é CB (τα).
• Tensão cisalhante CB < ED (tensão cisalhante máxima).
• No plano de máxima tensão cisalhante ED, a tensão normal AD proporciona
uma resistência ao cisalhamento maior do que a tensão cisalhante atuante CB.

83
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 12 – ANÁLISE DO ESTADO DE TENSÕES NO PLANO DE RUPTURA

FONTE: Pinto (2006, p. 264)

Se dentro do círculo de Mohr (ponto D) traçar uma reta paralela à


envoltória de resistência, o ângulo é obtido através das Eq. 14 e Eq. 15:

2 α =ϕ + 90º ( Eq.14 )
ϕ
α= + 45º ( Eq.15 )
2

A partir do triângulo ACD, extraímos também as seguintes expressões:

σ -σ
senϕ = 1 3
σ1 + σ3
( Eq.16 )
1 + senϕ
σ1 =σ3
1 - senϕ
( Eq.17 )
2 senϕ
( σ1 - σ3 ) =
σ3
1 - senϕ
( Eq.18 )

Os valores típicos de φ para alguns solos granulares são mostrados na


Tabela 1.

84
TÓPICO 1 | RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS

TABELA 1 – VALORES TÍPICOS DO ÂNGULO DE ATRITO DRENADO PARA AREIAS E SILTES

Tipo de solo φ (graus)


Areia: Grãos arredondados
Fofa 27-30
Média 30-35
Compacta 35-38
Areia: Grãos angulares
Fofa 30-35
Média 35-40
Compacta 40-45
Pedregulho com alguma areia 34-48
Siltes 26-35

FONTE: Das (2014, p. 332)

3.3 ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE


SOLOS
Das (2014) define que existem diversos métodos laboratoriais para
determinar os parâmetros de resistência ao cisalhamento (c, ϕ, c’, ϕ’) de diversos
tipos de solos em laboratório, sendo eles:

• Ensaio de cisalhamento direito.


• Ensaio triaxial.
• Ensaio de cisalhamento simples.
• Ensaio triaxial de deformação plana.
• Ensaio de cisalhamento anular ou ring shear.

Os dois ensaios mais comumente realizados para determinar as


características de resistência ao cisalhamento são os ensaios de cisalhamento
direto e ensaio triaxial. Esses ensaios serão abordados nos estudos de resistência
de areia no Tópico 2.

Marangon (2018) aponta métodos de ensaios de resistência ao cisalhamento


em campo (“in situ” capazes de apresentar reais valores de resistência do solo),
sendo comumente usados os seguintes ensaios:

• Ensaio de palheta ou “Vane Shear Test”.


• Ensaio de penetração estática do cone (CPT) ou “Deepsounding”.
• Ensaio pressiométrico (câmara de pressão no furo de sondagem).

Os ensaios de penetração estática do cone e o “Vane Test” têm por objetivo


a determinação da resistência ao cisalhamento do solo, enquanto o ensaio
“Pressiométrico” visa obter uma espécie de curva de tensão-deformação para o
solo investigado.

85
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O principal esforço resistivo que um solo precisa suportar é a resistência ao


cisalhamento.

• É preciso identificar a máxima tensão aplicada em um solo para que não ocorra
o rompimento através do cisalhamento de solos, utilizando técnicas de Círculo
de Mohr e Mohr e Coulomb.

• O atrito e a coesão são importantes parâmetros para identificar a resistência ao


cisalhamento dos solos.

86
AUTOATIVIDADE

1 Qual a importância de identificar a resistência ao cisalhamento dos solos?

2 No plano horizontal de um elemento de solo atuam uma tensão normal


de 400 kPa e uma tensão cisalhante positiva de 80 kPa. No plano vertical, a
tensão normal é de 200 kPa. Determinar:

a) a inclinação do plano principal maior;


b) as tensões em um plano que forma um ângulo de 20 com a horizontal.

3 Para o elemento do solo sob tensão mostrado na figura a seguir, através do


método dos polos, determine:

a) a tensão principal maior;


b) a tensão principal menor;
c) as tensões normal e de cisalhamento no plano AE;

FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO DAS TENSÕES DE UM ELEMENTO DE SOLO COM TENSÕES


ATUANTES SOBRE (A) E SEU CÍRCULO DE MOHR (B)

FONTE: Adaptado de Das (2014, p. 234)

87
4 São conhecidas as tensões em dois planos ortogonais, como indicado a
seguir. Determine as tensões principais representando o círculo de Mohr.

88
UNIDADE 2 TÓPICO 2

RESISTÊNCIAS DAS AREIAS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos especialmente o comportamento das areias
quanto à resistência, cujo comportamento é determinado pelo contato entre os
grãos minerais, que são geralmente de origem quartzosa, de diâmetro superior a
0,05 mm.

Serão apresentas as resistências das areias, apresentando seu


comportamento característico, seu ângulo de atrito, índice de vazios críticos
e alguns estudos de cisalhamento direto e triaxial realizados para obter as
resistências de cisalhamento das areias.

Conforme a NBR 6502 (ABNT, 1995), as areias são solos não coesivas
e não plásticos formado por minerais ou partículas de rochas com diâmetros
compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm. As areias são divididas em diferentes
diâmetros, sendo: areia fina (0,06-0,2 mm), areia média (0,2-0,6 mm) e areia
grossa (0,6-2,0 mm). A Tabela 2 apresenta todos os limites de fração de solos de
acordo com os tamanhos de grãos:

TABELA 2 – LIMITES DE FRAÇÕES DE SOLO PELO TAMANHO DE GRÃO

Fração Limites definidos pela ABNT (mm)


Matacão 200 – 1000
Pedra-de-mão 60 – 200
Pedregulho grosso 20 – 60
Pedregulho médio 6 – 20
Pedregulho fino 2–6
Areia grossa 0,6 – 2
Areia média 0,2 – 0,6
Areia fina 0,06 – 0,2
Silte 0,002 – 0,06
Argila < 0,002

FONTE: Adaptado de ABNT (1995)

89
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

2 COMPORTAMENTO TÍPICO DAS AREIAS


Além da caracterização quanto a granulometria, as areias também podem
ser divididas de acordo com seu comportamento volumétrico. Pinto (2006), Das
(2014) e Gerscorvich (2008) apresentam algumas propriedades de comportamento
típico das areias fofas e compactas, descritas a seguir.

2.1 AREIAS FOFAS


Quando submetidas em ação de carregamento axial, mostra que durante
ensaios de tensões confinantes sob diferentes cargas, o corpo de prova de areia
fofa apresenta deformações proporcionalmente maiores com o aumento da
carga. As areias fofas apresentam inicialmente elevado índice de vazios; com o
cisalhamento o índice de vazios vai reduzindo em função de sua compressão
(GERSCORVICH, 2008).

Pinto (2006) afirma que quando desenhado o Círculo de Mohr,


correspondente às máximas tensões desviatórias do solo (ruptura), obtemos
círculos que apresentam uma envoltória reta passando pela origem, uma vez
que há proporcionalidade entre as tensões confinantes. A resistência da areia
é definida pelo ângulo de atrito interno efetivo, visto na Figura 14 (c). Desta
maneira, conclui-se que a areia não apresenta coesão. Um exemplo dessa situação
está na impossibilidade de moldar um corpo de prova de areia seca ou saturada.

A capacidade de moldagem de um corpo de prova de areia úmida é


devido a existência de tensões capilares da interface água-ar. Uma tensão capilar
neutra e negativa. Sendo nula a tensão total aplicada, se a amostra não estiver
confinada, a tensão efetiva é positiva e igual a tensão capilar. Derivando disso sua
nomenclatura de coesão aparente. Os castelos de areia feitos na praia seguem esse
princípio, estão estáveis e não desmoronam enquanto estiverem úmidos, porém,
quando secos ou saturados perdem sua estabilidade devido não aguentarem o
peso próprio (DAS, 2014).

As medidas de variação de volume durante o carregamento axial indicam


redução de volume, conforme mostra a Figura 14 (b), sendo que, para pressões
confinantes maiores, as diminuições de volume são um pouco maiores.

2.2 AREIAS COMPACTAS


Pinto (2006) apresenta na Figura 14 (d), (e) e (f) os resultados do mesmo
ensaio de compressão triaxial, realizado nas areias compactas.

90
TÓPICO 2 | RESISTÊNCIAS DAS AREIAS

A tensão desviadora cresce de maneira mais rápida com as deformações,


atingindo um pico, denominado resistência máxima ou resistência de pico.
Percebe-se que quando atingido, há uma redução lenta até estabilizar próximo ao
valor definido como resistência residual.

Os círculos representativos do estado de tensão máximas definem a


envoltória de resistência. De maneira a simplificar, as resistências de pico são
proporcionais às tensões de confinamento dos ensaios, a envoltória a esses círculos
é uma reta que passa pela origem, e a resistência de pico das areias compactas se
expressa pelo ângulo de atrito interno correspondente.

Os Círculos de Morh, para essas areias, apresentam tensões na condição


normal e residual. Esses círculos definem uma envoltória retilínea passando pela
origem. O ângulo de atrito correspondente, chamado ângulo de atrito residual, é
muito semelhante ao ângulo de atrito da areia no estado fofo, pois as resistências
residuais são da ordem de grandeza das resistências máximas da mesma areia no
estado fofo.

Com relação à variação de volume, observa-se que os corpos de prova


apresentam, inicialmente, uma pequena redução de volume, porém, antes de
atingir a resistência máxima, o volume aumenta e na ruptura apresenta maior
volume do que no início do carregamento. Ao aplicarmos os parâmetros da
Teoria da Elasticidade, corresponderia a um Coeficiente de Poisson maior que
0,5, não sendo aceito pela teoria este valor não poderia ser utilizado para os solos
nessa condição.

Entretanto, durante o início do carregamento axial, as deformações


específicas são pequenas, os acréscimos de tensões axiais são consideráveis e o
corpo de prova ainda não dilatou (efeito menor que 0,5 de Poisson). Sendo esse
estágio de carregamento correspondente ao nível de tensões frequentes em obras
de engenharia, em que o coeficiente de segurança é a ruptura de ordem de 2 ou 3.

O motivo da existência da resistência de pico para areias compactadas


é devido ao entrosamento entre as partículas. Nas areias fofas, o processo de
cisalhamento promove uma reacomodação das partículas, que ocorre com uma
redução de volume, nas areias compactadas, as tensões de cisalhamento devem
ser suficientes para vencer os obstáculos representeados pelos outros grãos
na trajetória. Vencidos esses obstáculos, a resistência cai ao valor da areia no
estado fofo.

91
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 14 – RESULTADOS TÍPICOS DE ENSAIOS DE COMPRESSÃO TRIAXIAL EM AREIAS: (A),


(B), (C) AREIAS FOFAS; (D), (E), (F) AREIAS COMPACTAS

FONTE: Pinto (2006, p. 276)

3 ÂNGULO DE ATRITO DAS AREIAS


Para a tensão confinante, o ângulo de atrito depende da compacidade da
areia, pois é ela que governa o entrosamento entre as partículas. Características
das areias que influem na sua resistência ao cisalhamento (MARANGON, 2018;
PINTO, 2006):

a) distribuição granulométrica;
b) formato dos grãos;
c) compacidade relativa;
d) tamanho dos grãos;

92
TÓPICO 2 | RESISTÊNCIAS DAS AREIAS

e) rugosidade dos grãos;


f) resistência dos grãos;
g) composição mineralógica;
h) presença de água;
i) estrutura da areia;
j) envelhecimento das areias;

A seguir, serão detalhadas cada uma das características com relação à


influência no ângulo de atrito.

a) Distribuição granulométrica: quanto mais bem distribuída granulometricamente


uma areia maior será seu entrosamento e maior o valor de ϕ.

ϕ areia bem graduada > ϕ areia uniformes

Partículas finas têm grande importância no comportamento resistente


de areias, por ocuparem o espaço entre grãos, modificando as relações de
entrosamento, mesmo em pequenas quantidades.

b) Formato dos grãos: areias constituídas de grãos angulares tem maiores valores
de ϕ que areias de grãos arredondados, resultando em maior entrosamento das
partículas.

ϕ grãos angulares > ϕ grãos arredondados

c) Compacidade relativa: o ângulo de atrito vai depender fundamentalmente do


índice de vazios. Maior o entrosamento dos grãos maior o ganho de resistência
do solo.

ϕ compacta = 7 a 10º > ϕ fofa

d) Tamanho dos grãos: pouco influência ϕ. Pode indiretamente influir em outras


propriedades como a distribuição granulométrica e compacidade. Estes, por
sua vez, influenciam ao ϕ.

e) Rugosidade dos grãos: o ângulo de atrito aumenta com a rugosidade dos grãos
devido ao maior atrito superficial:

ϕ grãos rugosos > ϕ grãos lisos

f) Resistência dos grãos: a resistência dos grãos interfere na resistência da areia


embora a ruptura seja concebida como um processo de deslizamento e rolagem
dos grãos. A resistência dos grãos está em função da composição mineralógica,
nível de tensões, forma e tamanho do grão. Grãos de feldspato e mica e grãos

93
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

angulares e maiores sob tensão confinante crescente quebram com mais


facilidade. Essa quebra justifica a envoltória de resistência curva e a variação
do índice de vazios crítico com a tensão confinante.

g) Composição mineralógica: influencia a resistência dos grãos. Partículas


lamelares de mica tem baixo ângulo de atrito interno ao deslizamento, no qual
afeta o ângulo de atrito de solos micáceos.

h) Presença de água: em areias saturadas a influência da água é baixa, exceto


quando presente em areias muito irregulares de arestas frágeis ou na presença
secundária de argilas expansíveis. Em areias não saturadas, a presença de
meniscos capilares determina a pressão neutra negativa (sucção= O). O ganho
de resistência devido coesão aparente, é importante na análise da resistência
para valores de tensão confinante muito pequenos.

i) Estrutura da areia: a disposição relativa dos grãos de areia é anisotrópica. Em


função da disposição orientada de grãos de areia alongados ocorre uma herança
da disposição sedimentar ou da rocha de origem, sendo possível detectar
pequenas variações do ângulo de atrito com a direção do cisalhamento.

DICAS

Anisotropia é a propriedade de variar as propriedades físicas de um material de


acordo com sua direção. Exemplo de material anisotrópico: a madeira, com propriedades
mecânicas que dependem da disposição das suas fibras. Expandindo ou retraindo de forma
diferente às variações de umidade no ambiente.

j) Envelhecimento da areia: consiste no aumento de rigidez da areia com o


tempo, sem variação de volume. Está associada a interação físico-química entre
as partículas. Não afeta a resistência ao cisalhamento porque essas ligações são
frágeis.

Envelhecimento de areia indeformada > Envelhecimento areia


remoldada.

Na Tabela 3, verifica-se que os fatores de maior influência na resistência


ao cisalhamento das areias são as distribuições granulométricas, formato dos
grãos e compacidade. A tabela apresenta dados de ângulos de atrito para
tensões de 100 a 200 kPa, ordem de grandeza das tensões que ocorrem em obras
de engenharia civil.

94
TÓPICO 2 | RESISTÊNCIAS DAS AREIAS

TABELA 3 – VALORES TÍPICOS DE ÂNGULOS DE ATRITO INTERNO DE AREIAS

Compacidade
Fofa Compacta
Areias bem graduadas
Grãos angulares 37º 47º
Grãos arredondados 30º 40º
Areias mal graduadas
Grãos angulares 35º 43º
Grãos arredondados 28º 35º

FONTE: Adaptado de Pinto (2006)

4 ESTUDOS DA RESISTÊNCIA DAS AREIAS POR MEIO DE


ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO E COMPRESSÃO
TRIAXIAL
Conforme visto anteriormente, os procedimentos laboratoriais mais
comumente utilizados para obtenção da resistência aos cisalhamentos das areias
são definidos por meio de ensaios de compressão triaxial ou de cisalhamento
direto. Portanto, neste subtópico, abordaremos sobre esses dois ensaios.

4.1 ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO


Marangon (2018) afirma que o ensaio de cisalhamento direto é a maneira
mais prática, antiga e menos custosa de obter um ensaio de cisalhamento.
É baseado por meio do critério de Coulomb. O ensaio é executado em uma
caixa metálica bipartida, deslizando-se a metade superior do corpo de prova
em relação à inferior, conforme apresentado na Figura 15. O corpo de prova é
inicialmente comprimido pela força normal “N”, seguindo-se a aplicação da
forca cisalhante “T”.

Essa força impõe um deslocamento horizontal (ΔL) à amostra até a


ruptura do corpo de prova (que ocorre ao longo do plano XX). Para cada tensão
normal aplicada (σ = N/A), obtém-se um valor de tensão cisalhante de ruptura (τ
= Tcis/A), permitindo o traçado da envoltória de resistência (DAS, 2014).

95
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 15 – DIAGRAMA DO ARRANJO PARA ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO

FONTE: Baroni (2011, p. 34)

Em que:

• Tensão de cisalhamento:

T
τ=
A
• Tensão normal:

N
σ' =
A

• A área (A) corresponde a seção transversal da amostra.

Etapas para execução do ensaio de cisalhamento (DAS, 2014):

1. mede-se dimensão da caixa e é preenchido interior desta com o solo a ser


estudado (Figura 16 (a));
2. fixa-se a caixa na máquina de ensaio (Figura 16 (b));
3. desatarraxam-se os parafusos da parte superior da caixa;
4. escolhe-se uma velocidade ideal para o ensaio, e liga-se a máquina (Figura 16
(c));
5. o corpo de prova é comprimido por uma força normal (N) ao plano de
cisalhamento;
6. no quadro metálico que suporta a pedra porosa superior e a parte superior da
amostra, é aplicada uma força (T) que cisalha a amostra ao longo da superfície
horizontal;
7. remove-se o molde do equipamento já cisalhado (Figura 16 (d)).

96
TÓPICO 2 | RESISTÊNCIAS DAS AREIAS

FIGURA 16 – DETALHAMENTO DE PROCEDIMENTOS PARA EXECUÇÃO DE ENSAIO DE


CISALHAMENTO DIRETO

FONTE: Baroni (2011, p. 35)

Durante o ensaio convencional, são tomadas medidas das seguintes


grandezas:

a) deslocamento horizontal da célula de cisalhamento;


b) deslocamento vertical do corpo de prova;
c) deformação do anel dinamométrico.

No caso a e b – Deflectômetros: leituras são transformadas em


deslocamentos através de sua multiplicação pela constante do deflectômetro.

No caso c – Deflectômetro mede a sua deformação e essa é convertida em


força através da equação de calibração do anel.

As grandezas calculadas a partir do ensaio são:

• deslocamento horizontal (mm);


• deslocamento vertical (mm);
• força cisalhante (kN);
• área do plano de cisalhamento (cm2);
• tensão cisalhante (kPa);

Durante realização da geração dos gráficos, são obtidas as seguintes


informações do solo:

97
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

• Tensão cisalhante (τ) x Deslocamento horizontal (ΔH);


• Deslocamento vertical (ΔV) x Deslocamento horizontal (ΔH);
• Envoltória de resistência de pico (tensão cisalhante, τ x tensão normal, σ’).

E
IMPORTANT

A envoltória de resistência é obtida a partir de, no mínimo, três ensaios. Para


cada ensaio toma-se os valores de tensão cisalhante máxima e tensão normal. Colocados
os valores dos ensaios no gráfico, ajusta-se uma reta aos pontos. O coeficiente linear desta
reta corresponde ao “intercepto coesivo” (c) e sua inclinação ao “ângulo de atrito interno
de pico” (ϕ’p).

As principais desvantagens apontadas neste ensaio são:

• A imposição de uma superfície de ruptura: principalmente em solos


homogêneos. O solo não rompe segundo o plano de maior fraqueza, mas ao
longo do plano horizontal XX.
• Controle de drenagem: uma deficiência importante do ensaio de cisalhamento
direto é a impossibilidade de controle da drenagem no corpo de prova, pois
a caixa não tem um sistema de vedação adequado. Por essas razões, a única
solução é conduzir o ensaio em condições totalmente drenadas, mantendo
nulas as poropressões. Isso é feito controlando-se a velocidade de ensaio
(ensaio lento).
• Tensões normal e de cisalhamento: são conhecidas somente no plano de
ruptura para determinar o estado de tensão do solo nos diferentes planos.
• O ensaio de cisalhamento direto pode ser: ensaio rápido, ensaio adensado
rápido e ensaio lento.
o Ensaio de cisalhamento direto rápido: esse se caracteriza pela aplicação
simultânea inicial da tensão normal (σ) constante e cisalhante (τ) que deverá
aumentar gradativamente até a ruptura do corpo de prova.
o Ensaio de cisalhamento direto adensado rápido: aplica-se a tensão normal
(σ) e após a estabilização das deformações verticais devido esta tensão que
será mantida constante sobre o corpo de prova. Aplica-se a tensão cisalhante
(τ), crescente até a ruptura.
o Ensaio de cisalhamento direto lento: a tensão normal (σ) é aplicada e, após o
adensamento da amostra, a tensão cisalhante (τ) é aplicada, gradativamente,
até a ruptura (permitindo dissipação das pressões neutras), com uma
diferença fundamental dos ensaios rápido e adensado rápido, a velocidade
de aplicação da tensão cisalhante (τ) e/ou a velocidade de deformação do
corpo de prova devem ser mínimas, da ordem de 10 mm/min.

98
TÓPICO 2 | RESISTÊNCIAS DAS AREIAS

A Figura 17 apresenta os resultados gráficos obtidos após a execução


de um ensaio de cisalhamento direto. O comportamento desse solo apresenta
características muito parecidas ao de uma areia compactada visto anteriormente.

FIGURA 17 – EXEMPLO RESULTADOS ENSAIO DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DIRETO


DE UMA AMOSTRA

FONTE: Baroni (2011, p. 40)

De maneira a resumir esse ensaio, temos as seguintes informações:

• as tensões só são conhecidas em um plano;


• ensaio não permite determinação de parâmetros de deformabilidade e do
módulo de cisalhamento;
• controle das condições de drenagem é difícil;
• areias: em termos de tensões efetivas;
• argilas: ensaios drenados → ensaios lentos;
• ensaios não drenados → carregamentos rápidos;
• ensaio muito utilizado quando se quer conhecer a resistência residual do solo.

4.2 ENSAIO DE COMPRESSÃO TRIAXIAL


O ensaio triaxial é o mais comum e versátil ensaio para a determinação da
resistência ao cisalhamento do solo. Na Figura 18, vemos (MARANGON, 2018):

a) moldagem de um corpo de prova de areia sobre a própria base interna da


câmara;
b) montagem na câmara triaxial, ainda fora da prensa de compressão, após
montagem do corpo de prova na base;
c) aspecto da câmara montada na prensa, preenchida com água e sob pressão,
durante a realização do ensaio;
d) registro de um corpo de prova rompido, em que se observa o plano de
cisalhamento do material ensaiado, no caso um solo argiloso compactado; e
e) o conjunto completo do equipamento para ensaio de compressão triaxial.

99
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

O equipamento Figura 18 (e) consiste basicamente de uma câmara


cilíndrica transparente e resistente assentada sobre uma base de alumínio, no
interior da qual é colocado um corpo de prova cilíndrico revestido por uma
membrana de borracha impermeável sob um pedestal, através do qual há uma
ligação com a base da célula. Entre o pedestal e amostra utiliza-se uma pedra
porosa para facilitar a drenagem. A câmara é preenchida com água, cuja finalidade
e transmitir pressão à amostra (DAS, 2014). Esse ensaio tem como objetivo:

• reproduzir, em laboratório, as condições de tensões e/ou deformações


(aproximadas) às que o solo estará submetido no campo;
• prever o comportamento do elemento de campo (resistência e deformabilidade)
a partir dos resultados obtidos na amostra de laboratório.
• fornecer parâmetros de resistência e de deformabilidade para estudos
numéricos (MEF).

FIGURA 18 – CONJUNTO DE EQUIPAMENTOS PARA ENSAIO DE COMPRESSÃO TRIAXIAL

FONTE: Marangon (2018, p. 136)

A esquematização do ensaio é visualizada através da Figura 19. Vemos por


onde são aplicadas as forças de carga, a entrada e drenagem de água aplicando a
pressão confinante.

100
TÓPICO 2 | RESISTÊNCIAS DAS AREIAS

FIGURA 19 – ESQUEMA DA AMOSTRA E DO EQUIPAMENTO DE ENSAIO DE COMPRESSÃO


TRIAXIAL
∆σ1

σc σc pedra
porosa

σc σc
corpo
drenagem ou de membrana
medição de prova
pressão neutra entrada de água
e aplicação da
pressão confinante

pedra porosa

FONTE: Pinto (2006, p. 266)

Inicialmente, o corpo de prova é submetido a uma tensão confinante


(σc) igualmente distribuída em toda a superfície do corpo de prova (solicitação
isotrópica de tensão). A seguir, aplica-se um incremento de tensão desviadora
(Δσd), através de um pistão metálico. Ver Figura 20 para detalhes.

Como não existem tensões de cisalhamento na superfície do corpo de


prova, as tensões axiais (σc + Δσd) e de confinamento (σc), são respectivamente
as tensões principais maior "σ1 " e menor "σ3". O incremento de tensão Δσd = σ1
- σ3 é chamado tensão desviadora. O ensaio triaxial é executado em duas etapas
distintas:

• aplicação da tensão confinante (σc);


• aplicação da tensão desviadora (σd).

FIGURA 20 – ESQUEMA DA APLICAÇÃO DE TENSÃO CONFINANTE E TENSÃO DESVIADORA

FONTE: Adaptado de Das (2014, p. 354)

101
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Durante o carregamento, medem-se, a diversos intervalos de tempo, o


acréscimo da tensão axial e a deformação vertical do corpo de prova; pode haver
controle da drenagem durante os ensaios. A Tabela 4 esquematiza alguns métodos
de acordo com a aplicação de ensaio de drenagem e condição de corpo de prova.

TABELA 4 – FORMAS DE REALIZAR ENSAIOS ATRAVÉS DA NECESSIDADE DE DRENAGEM E DO


CORPO DE PROVA

Ensaio Método
Variação do volume é determinada pela medida do volume
Drenagem + corpo de
de água que sai ou entra no corpo de prova (acoplar
prova saturado
buretas graduadas nas saídas de água)
Drenagem + corpo de
Através de sensores no corpo de prova (dentro da câmara)
prova seco
Drenagem não Pressão neutra medida por transdutores conectados nos
permitida tubos de drenagem

FONTE: Adaptado de Das (2014)

Referente às condições de drenagem dos ensaios triaxiais convencionais,


os três tipos básicos são (PINTO, 2006; MARANGON, 2018):

• Ensaio Adensado Drenado (CD): também conhecidos como “ensaios lentos”


(S–slow), são ensaios que há permanente drenagem do corpo de prova, que se
encontra previamente saturado. Aplica-se a pressão confinante e espera-se que
o corpo de prova, adense (dissipação da poro-pressão). Aumenta-se a tensão
axial lentamente para que a água sob pressão saia (pressão neutra durante
todo ensaio é nula), nesses ensaios o caminho de tensões totais e efetivas são
idênticos, já que não há poropressões geradas.

O ensaio CD pode demorar dias, principalmente em solos argilosos


que possuem baixa permeabilidade, pois a tensão de confinamento deve ser
aplicada lentamente para garantir drenagem plena. Parâmetros determinados:
c’ e ϕ’

• Ensaio adensado não drenado (CU): ensaio que aplica a pressão confinando
e deixa-se dissipar a pressão neutra. Resultando no adensamento do corpo de
prova através da pressão confinante. Em sequência, aplica-se o carregamento
axialmente sem drenagem (este ensaio também é denominado ensaio rápido
pré-adensado) e indica a resistência não drenada em função da tensão de
adensamento.

102
TÓPICO 2 | RESISTÊNCIAS DAS AREIAS

Em areia fofa e argila normalmente adensada, a poropressão aumenta


junto com a deformação até determinado limite, sendo que depois disso ela
decresce e torna-se negativa em relação a pressão atmosférica. Esse decréscimo
ocorre por tendência do solo em aumentar o seu volume. Diferente do que ocorre
no ensaio CD, a tensão efetiva e a tensão total não são iguais no ensaio CU. Por
meio desse ensaio determina-se a envoltória de resistência em termos de tensão
efetiva em um período menor que os ensaios de CD.

• Ensaio não adensado não drenado (UU): ensaio em que se submete ao corpo
de prova a pressões confinantes e ocorre o carregamento axial, sem permitir
drenagem da amostra. Não ocorre variação de volume da amostra se o corpo
de prova estiver saturado. O ensaio também é conhecido como ensaio rápido
por não requerer tempo para drenagem.

Esse ensaio é normalmente utilizado em corpo de prova de argila e


depende de um conceito de que a tensão axial adicional da ruptura é praticamente
a mesma e independente da tensão de confinamento.

103
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As areias apresentam comportamento diferentes (fofas e compactadas).

• O motivo da existência da resistência de pico para areias compactadas é


devido ao entrosamento entre as partículas. Nas areias fofas, o processo de
cisalhamento promove uma reacomodação das partículas, que ocorre com
uma redução de volume.

• Os processos para realização de ensaios de compressão triaxial e ensaios de


cisalhamento direto para estudos de solos em laboratório.

• Ensaio de cisalhamento direto é prático e menos custoso quando faz uso da


teoria do critério de Coulomb.

104
AUTOATIVIDADE

1 Se levarmos em consideração de maneira análoga, as piscinas de bolinha


que as crianças pulam e se afundam fazem parte dos sistemas de grãos de
areia. Quais são as características que permitem de fato que ocorra esse
afundamento quando uma criança está dentro de uma destas piscinas?

2 Dois ensaios de cisalhamento direto foram realizados com uma areia,


obtendo-se os seguintes resultados:

Ensaio 1:
Tensão normal = 100 kPa;
Tensão cisalhante na ruptura = 162,5 kPa.

Ensaio 2:
Tensão normal = 250 kPa;
Tensão cisalhante na ruptura = 162,5 kPa.

Para um ensaio de compressão triaxial drenado, com essa areia no


mesmo estado de compacidade e com pressão confinante de 100kPa, com que
tensão desviadora ocorrerá a ruptura?

105
106
UNIDADE 2 TÓPICO 3

RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

1 INTRODUÇÃO
Os solos argilosos são classificados assim devido seu limite
granulométrico ser inferior de 0,002 mm de diâmetro, conforme descritos pelo
sistema do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) através da
classificação de textura ou de uma classificação de acordo com o comportamento
da engenharia pela Associação Americana de Rodovias Estaduais e Autoridades
de Transporte (AASHTO), determinando a parte física desses materiais em
empregos geotécnicos, como sua plasticidade (DAS, 2014).

As principais características para a resistência dos solos argilosos


diferem do comportamento tensão-deformação vistos na areia (Tópico 2) e são
(PINTO, 2006):

• baixa permeabilidade;
• necessidade de conhecer o comportamento da resistência tanto em termos de
carregamento “drenado” como de carregamento “não drenado”;
• necessidade de analisar separadamente o comportamento para argilas NA
(solo nunca esteve submetido a maiores cargas) e para argila PA (solo esteve
no passado sujeito a tensões maiores que as atuais);
• a resistência depende do atrito entre as partículas e, consequentemente, das
tensões efetivas, embora na maioria dos casos a água nos poros possa estar sob
pressão.

Quando tratamos de areias, ocorre um comportamento independente


para cada índice de vazios. Já para as argilas o comportamento depende do índice
de vazios: após atingir a pressão de pré-adensamento correspondente, fundem-se
numa única reta virgem.

107
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

DICAS

Confira a leitura complementar para verificar estudos que possibilitam o


emprego de resíduos da construção civil (RCC), materiais de descarte da construção civil,
destinados para aumentar as resistências ao cisalhamento de solos de areia-argila.

2 INFLUÊNCIA DA TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO NA


RESISTÊNCIA DAS ARGILAS
O índice de vazio das argilas depende da sedimentação das partículas
(estrutura) e do histórico de tensões (pré-adensamento). Portanto, o
comportamento “tensão x deformação” e de resistência de uma argila depende
da situação relativa da tensão confinante frente a sua tensão de pré-adensamento
(PINTO, 2006).

Existe uma associação entre a velocidade de carregamento e a condição de


drenagem das argilas. Para condições drenadas, o carregamento deve ser lento
o suficiente para que não seja gerado excesso de poro-pressão relevante durante
a solicitação, ou na análise da resistência a longo prazo, poro-pressão gerada no
passado já dissipou – análise em tensões efetivas. Para condição não drenada, o
carregamento é tão rápido que não há tempo para dissipação das poro-pressões
geradas; na análise da resistência a curto prazo, é ainda mantida a poropressão
gerada – análise em tensões totais.

3 RESISTÊNCIA DAS ARGILAS EM TERMOS DE TENSÕES


EFETIVAS
Pinto (2006) afirma que os principais fatores que influenciam a resistência
ao cisalhamento das argilas são seus valores de atrito entre as partículas e suas
tensões efetivas. Portanto, o estudo das resistências das argilas deve se iniciar
através da análise de seu comportamento em ensaios drenados. Para argilas
normalmente adensadas, o comportamento típico de argilas quando submetidas
em ensaios triaxiais drenados (CD) está apresentado na Figura 21.

A Figura 21 (a) apresenta a relação de índices de vazios em função da


pressão hidrostática de adensamento. Verificamos que essa argila já sofreu de
adensamento, conforme curva tracejada, apresentando tensão efetiva próxima
a 3 (valores absolutos) e que atualmente apresenta curva de índice de vazios
representada pela função de linha contínua.

108
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

Os ensaios de compressão triaxial, por exemplo, foram realizados para


tensões confinantes de valores de 4 e 8. Obtendo as curvas visualizadas na
Figura 21 (b). As tensões desviadoras (σ1-σ3) crescem de maneira lenta com as
deformações verticais submetidas ao corpo de prova, porém, proporcionais as
tensões confinantes (4 e 8).

A Figura 21 (c), assim como a Figura 22 (g) mostram que durante


carregamento triaxial há redução de volume do corpo de prova, de mesma
grandeza, sendo maior perda de volume para maiores confinamentos.

O gráfico da Figura 21 (d) apresenta os resultados de resistência abaixo


da tensão de pré-adensamento para tensão desviadora. Menores índices de
vazios representam maiores proximidades entre partículas, mostrando este
comportamento diferente nas Figura 21 (d) e (e).

ATENCAO

As informações obtidas por meio da normalização dos gráficos são:

• Vemos que quando o ensaio ocorre em tensão confinante menor da tensão de pré-
adensamento, o crescimento da tensão axial x deformação acontece de maneira mais
rápida e o máximo acréscimo de tensão axial ocorre para menores deformações.
• A tensão desviadora máxima difere de maneira a obter menor tensão axial.
• Ocorre menor redução de volume durante carregamento axial do que no solo
normalmente adensado.

A Figura 21 (f) apresenta o gráfico normalizado pela divisão das tensões


desviadoras do eixo y pela tensão confinante do ensaio. Verificamos que para
estados de pré-adensamento ocorre uma proporção de deformação do solo,
entretanto, para pressões maiores as curvas se sobrepõem.

Por fim, na Figura 21 (h) vemos o resultado final em que ocorre uma
envoltória curva para os esforços em que ocorrem o pré-adensamento. Deve-se
procurar a reta melhor se ajuste a envoltória, sendo definida pela Eq. 19.

τ= c′ + σ ⋅ tgϕ′ ( Eq.19 )
Em que c’ é a coesão efetiva ou intercepto de coesão efetiva.

109
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 21 – RESULTADOS DE ENSAIOS: COMPRESSÃO TRIAXIAL DO TIPO CD EM ARGILA


SATURADA SEM ESTRUTURA

FONTE: Pinto (2006, p. 297)

110
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

O ângulo de atrito interno efetivo das argilas influencia a resistência ao


cisalhamento para casos acima da tensão de pré-adensamento são apresentadas
na Tabela 5.

TABELA 5 – VALORES TÍPICOS DE ÂNGULO DE ATRITO INTERNO DAS ARGILAS PARA TENSÕES
ACIMA DE PRÉ-ADENSAMENTO

Índice de plasticidade Ângulo de atrito interno efetivo (º)


10 30 a 38
20 26 a 34
40 20 a 29
60 18 a 25
FONTE: Adaptado de Pinto (2006, p. 300)

NOTA

O comportamento “tensão x deformação” e de resistência de uma argila


depende da situação relativa da tensão confinante frente a sua tensão de pré-adensamento.

4 RESISTÊNCIA DAS ARGILAS EM ENSAIO DE ADENSAMENTO


RÁPIDO
O objetivo dos ensaios é estudar o comportamento do solo em condições
similares aquelas encontradas no campo, sendo a escolha do tipo de solicitação,
drenada ou não drenada, função do tipo do solo, das condições de drenagem, da
determinação da condição crítica. A seguir, são apresentadas algumas indicações
de qual ensaio realizar dependendo do tipo de solo existente:

• Terrenos argilosos abaixo de fundações (edifícios e aterros):


o Ensaios rápidos (não drenados) – CU, UU, compressão simples, vane test.
o Quando ocorrer lentes de areia (drenados) – CD.
• Problemas de empuxos de terra e estabilidade de taludes em solos argilosos:
o Obras temporários de curto prazo – CU, UU.
o Obras definitivas de longo prazo – CD.
• Barragens de Terra (elevadas pressões neutras):
o Após a construção – UU.
o Rebaixamento rápido – CU.

O ensaio de compressão não confinado é um ensaio especial para amostras


não adensadas e não drenadas, normalmente realizado em corpos de prova

111
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

argilosos. Como o solo está completamente saturado e não drenado, a resistência


ao cisalhamento não drenado é independente da pressão de confinamento. Em
que a pressão de confinamento é igual a zero (σ3 = 0). Aplica-se uma carga axial
rápida para causar a ruptura da amostra. Na Figura 22, observamos a tensão
principal menor total igual a zero e a tensão principal maior total é σ1 (DAS,
2014). Temos que a resistência ao cisalhamento é definida pela Equação a seguir.

σ1 qu
τf = = = cu
2 2

Em que:

qu = resistência à compressão não confinada.

FIGURA 22 – ENSAIO DE COMPRESSÃO NÃO CONFINADO

FONTE: Das (2014, p. 361)

A Tabela 6 fornece as consistências aproximadas de argilas com base nas


suas resistências à compressão não confinada.

112
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

TABELA 6 – RELAÇÃO GERAL DE CONSISTÊNCIA E RESISTÊNCIA Â COMPRESSÃO NÃO


CONFINADA DE ARGILAS

Consistência Qu (kN/m2)
Muito mole 0-25
Mole 25-50
Médio 50-100
Rígida 100-200
Muito rígida 200-400
Dura > 400

FONTE: Adaptado de Das (2014)

5 TRAJETÓRIA DE TENSÕES
Das (2014) afirma que através de diversos carregamentos efetuados por
meio dos ensaios triaxiais podemos representar um diagrama que é denominado
trajetória de tensão. Essas trajetórias de tensões são linhas que conectam diversos
pontos, que representam um estado de tensão sucessivo submetido a um corpo
de prova de solo, durante o andamento de um ensaio (ver Figura 23).

FIGURA 23 – EVOLUÇÃO DO ESTADO DE TENSÕES REPRESENTADO POR (A) CÍRCULOS DE


MOHR, (B) PELA TRAJETÓRIA DAS TENSÕES

FONTE: Pinto (2006, p. 306)

Se p e q são coordenadas dos pontos da trajetória, pela sua definição,


temos:

σ1 + σ3
p=
2
σ1 - σ 3
q=
2

113
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Sendo p a média das tensões principais (tensão normal) e q a semidiferença


das tensões principais (tensão cisalhante). Após realizar o desenho da trajetória
de tensões de um ensaio, determinamos a envoltória a essas trajetórias. A Figura
24 apresenta a envoltória na reta (FDI), pela qual expressamos através da seguinte
equação:

q = d + p ⋅ tan β

Em que: d e β são correlacionados com os coeficientes das envoltórias


de resistência, c e ϕ, visto geometricamente na Figura 24. As retas FDI e GCH
encontram-se no ponto A. Resultando nas seguintes expressões:

c tgϕ
=
d tgβ

Como tg=
β senϕ , resulta:

d
c=
cos ϕ

FIGURA 24 – ESQUEMA DA CORRELAÇÃO ENTRE ENVOLTÓRIA AOS CÍRCULOS DE MOHR E A


ENVOLTÓRIA ÀS TRAJETÓRIAS DE TENSÃO

FONTE: Das (2014, p. 377)

114
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

Conforme Pinto (2006, p. 308) afirma: “com o intuito de reduzir a confusão


de utilizar muitos círculos de Mohr em conjunto. A representação dos pontos
finais de trajetória de tensões permite determinar a envoltória média provável do
solo analisado. Sendo estas expressões muito uteis para determinar a envoltória
de resistência mais provável”.

6 EXEMPLO DE TRAJETÓRIA DE TENSÕES (MARANGON,


2018)
A resistência ao cisalhamento de um solo foi investigada através do
ensaio Triaxial, sendo a sua trajetória de tensões obtida em termos de tensões
totais (TTT), visando o estudo desse solo argiloso compactado como suporte em
projetos de pavimento:

• Dados dos ensaios: corpos de prova (CPs) realizado através de amostra retirado
do bairro Retiro em Juiz de Fora – MG de um solo compactado, moldados
nas dimensões 5x10 cm, na densidade máxima, homogeneizados no teor de
umidade ótima, correspondente a energia aproximada do PN, permanecendo
24 horas em câmara úmida.
• Ensaio: tipo UU prevendo uma situação mais desfavorável de solicitação do
subleito por uma roda de veículo parado sobre o pavimento, imediatamente
após a liberação ao tráfego.

Foram moldados 4 CPs, adotadas as seguintes tensões de


confinamento: 20kPa, 50kPa, 70kPa e 150kPa, correspondendo ao intervalo
dos níveis de tensões usualmente utilizadas na análise visando o projeto de
um pavimento. Os dados correspondentes à moldagem e ruptura dos corpos
de prova estão apresentados na tabela a seguir. O traçado da envoltória de
resistência Mohr-Coulomb levou a obtenção da seguinte equação para a sua
resistência, em kPa: τ= 45+ σ tg 44,30 (kPa).

TABELA 7 ­– DADOS DE MOLDAGEM E RUPTURADOS CORPOS DE PROVA SUBMETIDOS AO


ENSAIO TRIAXIAL

W(%) Massa específica aparente seca (kN/m³)


Amostra Moldagem Moldagem Moldagem Moldagem
Ótima Moldagem Máxima
(CP1) (CP2) (CP3) (CP4)
ZM10 26,5 26,48 14,83 14,89 14,90 14,86 14,91
Tensões de confinamento (kPa)
Ensaios UU
20 50 70 150
Tensões devido máxima ruptura 237,3 512,4 797,4 879,0

FONTE: Adaptado de Marangon, 2018.

115
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Pede-se determinar:

• Os pares de tensões atuantes nos corpos de prova, no momento da ruptura.


• Os parâmetros de resistência ao cisalhamento, para o solo ensaiado, determinado
a partir da trajetória de tensões fornecida na Figura 25.

FIGURA 25 ­– ENVOLTÓRIA DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO EM TERMOS DO DIAGRAMA


P` X Q

FONTE: Marangon (2018, p. 159)

Resolução:

• As tensões atuantes nos corpos de prova, no momento da ruptura, correspondem


aos valores de σ3 (confinamento) e σ1 (axial).

Então, os valores de σ3 são: 20kPa, 50kPa, 70kPa e 150kPa. Os valores de


σ1 obtém-se a partir das tensões desvio, σ1 = σd +σ3, então:

TABELA 8 – VALORES DE TENSÕES PARA ENSAIOS UU

Tensões de confinamento σ3 (kPa)


Ensaios UU
20 50 70 150
Tensão Desvio na Ruptura σd (kPa) 237,3 512,4 797,4 879,0
Tensão axial σ1 (kPa) 257,3 562,4 867,4 1029,0

FONTE: Adaptado de Baroni (2011).

116
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

• a obtenção dos parâmetros de resistência ao cisalhamento, a partir da trajetória


de tensões fornecida, temos que usar as equações de relação entre parâmetros:

sen ϕ= tan β
c = d/cosϕ

Considerando a “leitura” no gráfico do intercepto d=30 e calculando o


valor do ângulo de inclinação da trajetória β, obtido a partir de um triângulo
imaginário no gráfico (catetos de intervalos no eixo das abscissas entre 250-450 e
no eixo das ordenadas entre 200-340).

β= arc tg (∆y/∆x)
β= arc tg (340-200/450-250)= arc tg(0,7) = 35,0º
Então ϕ= arc sen (tan β) = arc sen (0,7) = 44,4º
Logo, c= 30/cos(44,4) = 42 kPa

Obs.: Os parâmetros de resistência ao cisalhamento obtidos nas envoltórias


de resistência, traçada a partir dos Círculos de Mohr e das trajetórias de tensões
estão apresentados em resumo na tabela a seguir. Pode-se observar os próximos
valores obtidos.

TABELA 9 – PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO C E ϕ

Parâmetros de Resistência ao Cisalhamento c (kPa) e ϕ(graus)


Amostra
Círculo de Mohr Trajetória das tensões
c = 45,0 c = 42,0
ZM10
ϕ = 44,3 = 44,4

FONTE: Adaptado de Marangon (2018)

117
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

LEITURA COMPLEMENTAR

EFEITO DA ADIÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO E


DEMOLIÇÃO (RCD) NAS PROPRIEDADES HIDROMECÂNICAS DE
UM SOLO ARENO-ARGILOSO

Aline Cátia da Silva


Stela Fucale
Silvio Romero de Melo Ferreira

RESUMO

Diante de uma produção cada vez mais evidente dos resíduos sólidos
resultantes das ações humanas, tais como os Resíduos da Construção e Demolição
(RCD), destinar adequadamente esses materiais ganhou importância no cenário
atual, pois quando dispostos irregularmente atuam de forma degradante sobre
o meio ambiente e contribuem com a proliferação de vetores de doenças. Sob
outra perspectiva, os problemas enfrentados pela Construção Civil na busca por
áreas cujos solos apresentem propriedades favoráveis para utilização em obras
de engenharia têm incentivado o melhoramento dos solos com características
insatisfatórias. Sendo assim, este artigo tem por objetivo analisar a influência
de agregados miúdos reciclados de RCD nas propriedades hidromecânicas
de um solo areno-argiloso, em diferentes teores de substituição (10, 20 e 30%).
Para tanto, os materiais utilizados foram submetidos a ensaios laboratoriais
de caracterização física de solos, compactação na energia Proctor normal,
caracterização microestrutural, cisalhamento direto e permeabilidade das
amostras compactadas na condição ótima de compactação. Os resultados obtidos
mostram que para o solo utilizado, a adição de agregado reciclado de RCD reduz
as suas frações finas e, a plasticidade pouco interfere na massa específica dos
grãos, pois diminui em até 2% a umidade ótima, com uma baixa variação do
peso específico aparente seco, e mantêm a faixa de valores dos parâmetros de
resistência, todavia se verifica um acréscimo no coeficiente hidráulico do solo
em mais de 13 vezes. As diferenças de comportamento hidráulico podem ser
explicadas por mudanças observadas na microestrutura das amostras.

Palavras-chave: Resíduos da Construção e Demolição. Melhoramento de solo.


Permeabilidade. Cisalhamento direto.

ABSTRACT

As the production of solid waste resulting from human actions, such


as Construction and Demolition Waste (CDW), has continually increased,
proper disposal of these materials has become critically important, because
when improperly disposed, they degrade the environment and contribute to
the proliferation of disease vectors. The construction industry has also faced
difficulties in searching for areas with soils suitable for use in engineering

118
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

projects, leading to efforts to improve soils having unsatisfactory characteristics.


This study aims to analyze the influence of recycled CDW aggregates on the
hydromechanical properties of clay-sand soil at different substitution levels (10,
20, and 30%). To achieve this, the materials used were submitted to a variety of
laboratory tests: physical characterization, normal Proctor energy compaction,
microstructural characterization, direct shear, and permeability of the compacted
samples under optimum compaction conditions. The results show that for the
soil used, the addition of recycled CDW aggregate reduces its fine fractions and
plasticity, interferes minimally in the real specific weight, decreases the optimal
humidity by up to 2%, with a low variation of the apparent dry specific weight,
keeps within the range of values for the resistance parameters, and increase in
the hydraulic coefficient of the soil by more than 13 times. The differences in
hydraulic behavior can be explained by observed changes in the microstructure
of the samples.

Keywords: Construction and demolition waste. Soil improvement. Permeability.


Direct shear.

1 INTRODUÇÃO

As atividades humanas têm contribuído com o aumento da geração de


resíduos sólidos, seja individual ou coletivamente, devido ao modelo de consumo
praticado. Frente a isso, existe a problemática do descarte destes materiais, a citar
os Resíduos da Construção e Demolição (RCD), que são responsáveis por diversos
problemas ao serem dispostos irregularmente próximos a locais públicos, como
terrenos baldios, corpos hídricos e vias de tráfego, atraindo o descarte de outros
resíduos para estes ambientes e contribuindo com a proliferação de vetores de
doenças. Os RCD são gerados em construções, reformas, reparos, assim como
resultantes de escavações de terrenos, sejam provenientes de empresas de
pequeno a grande porte ou por geradores informais. Essas diferenças, apesar
de influenciarem na diversidade dos componentes dos RCD, não reduzem a
possibilidade de reutilização destes resíduos, pois o seu potencial de reciclagem
pode atingir até 91%. Por outro lado, a carência na disponibilidade de áreas cujos
solos apresentem propriedades adequadas para utilização em obras de engenharia
torna-se preocupante, visto a escassez de matérias-primas não renováveis e os
materiais locais, muitas vezes, não possuírem características satisfatórias. Esse
cenário abre a possibilidade de melhorar as características do solo componente
dessas áreas, tais como densidade, resistência e permeabilidade, criando assim
um novo material. Para isso, podem ser empregados processos de estabilização
de solos. Dentre os tipos de estabilização disponíveis, existe o método de origem
física ou mecânica, que envolve processos como a estabilização granulométrica
e rearranjo das partículas por compactação. O melhoramento de solos com
agregados tem se enquadrado cada vez mais na tecnologia dos materiais
compósitos, sendo estes originados da combinação de dois ou mais elementos
diferentes, cujas propriedades não são encontradas nos materiais de origem,
uma vez que suas características são otimizadas. Os resíduos provenientes das
atividades construtivas podem ser aplicados como agregados reciclados, sendo

119
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

estes definidos como materiais com características granulares e que ao passar


por um processo de beneficiamento exibem propriedades técnicas aceitáveis para
aplicações em obras de engenharia. Dessa forma, os agregados reciclados de RCD
têm sido empregados em diversas áreas, em virtude da sua resposta positiva de
adaptabilidade as técnicas amplamente difundidas na construção civil, inclusive
no reforço de solos, por meio de sua estabilização granulométrica, proporcionando
a estes menores deformações e melhores características resistentes. Autores como
Ferreira e Tomé, verificaram a utilização de agregados provenientes de RCD
como alternativa de melhoramento de um solo de basalto para ser aplicado em
camadas na base de fundações superficiais, obtendo como resultado o aumento
da capacidade de carga e redução do recalque do solo que se encontrava na base
da fundação. Já Dias, que utilizou agregados reciclados de RCD misturados a um
solo tropical, visou analisar a viabilidade técnica do novo material em sistemas
de cobertura de aterros sanitários. Santos, ao avaliar a aplicação de diferentes
amostras de agregado reciclado de RCD em estruturas de solo reforçado, como
material de preenchimento, obteve um bom desempenho mecânico; e Macedo,
que inseriu agregados de RCD como elemento de reforço em um solo areno-
argiloso, com o intuito de melhorar os seus parâmetros de resistência. A busca
por opções que proporcionem a melhoria das características de solos com certas
impropriedades para serem aplicados em atividades de construção, assim como
a oferta de uma adequada destinação dos resíduos sólidos provenientes das
ações humanas, a exemplo dos resíduos oriundos da construção civil, torna-se
possível a associação do solo a esses materiais alternativos, mitigando assim os
problemas que envolvem tais materiais. Contudo, faz-se necessário investigar
as características dos compósitos formados para se compreender a mobilização
do conjunto, haja vista que nem todas as misturas atendem aos critérios
técnicos pertinentes. Nesse contexto, o objetivo do presente estudo é analisar
as propriedades hidromecânicas de um solo areno-argiloso com a incorporação
de diferentes teores de agregados reciclados de RCD, bem como identificar as
limitações destes elementos quando associados, visto que o solo, amplamente
utilizado como material de construção, se apresenta susceptível muitas vezes as
ações de agentes externos como a água e solicitações de diversos carregamentos.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

São apresentados os materiais investigados e descritos os ensaios


laboratoriais realizados.

2.1 Materiais

O solo utilizado possui textura areno-argilosa e foi coletado de uma


encosta denominada Alto do Reservatório, situada em Recife-PE, figura 1-a. O
terreno da localidade possui sedimentos não consolidados da Formação Barreiras.
O agregado miúdo reciclado de RCD enquadra-se na Classe II B (não perigoso
e inerte), conforme NBR 10004, e provém de uma usina de beneficiamento
localizada no município de Camaragibe-PE, figura 1-b.

120
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

FIGURA 1 – LOCAL DE COLETA DO SOLO (A) E VISTA GERAL DA USINA DE RECICLAGEM (B)

(a) (b)

2.2 Métodos

Foram realizadas adições de agregados miúdos reciclados de RCD


à massa de solo seca, nas porcentagens de 10, 20 e 30%, sendo tais misturas
denominadas S90/R10, S80/R20 e S70/R30, respectivamente. As amostras de solo,
agregado reciclado e misturas de solo com RCD foram submetidas a ensaios
de caracterização geotécnica, tais como granulometria por peneiramento e
sedimentação, conforme a NBR 7181, massa específica real dos grãos, segundo a
NBR 6508, limite de liquidez, de acordo com a NBR 6459, e limite de plasticidade,
seguindo as especificações da NBR 7180. Ensaios de compactação foram
executados, segundo as prescrições da NBR 7182, para se obter a umidade ótima
e o peso específico aparente seco máximo das amostras na energia de Proctor
normal, cujos valores foram utilizados para a moldagem dos corpos de prova
nos ensaios de cisalhamento direto e de permeabilidade à carga variável. A
microestrutura das amostras foi observada a partir de ensaios de Microscopia
Eletrônica de Varredura (MEV), em um equipamento JSM 6460 Scanning Electron
Microscope (SEM), de marca Jeol, a uma voltagem de 30 kv. As amostras foram
extraídas, cuidadosamente, da parte interior dos corpos de prova provenientes do
ensaio de cisalhamento direto, colocadas para secar ao ar e fixadas em um suporte
metálico (diâmetro de 75 mm e altura aproximada de 10 mm) por meio de uma
fita adesiva de carbono. As superfícies das amostras foram revestidas com uma
película fina de carbono. Para a determinação do coeficiente de permeabilidade
do solo, do agregado reciclado de RCD e das misturas, foram realizados ensaios
com permeâmetros de carga variável, seguindo os procedimentos da NBR 14545.
Após a moldagem, os corpos de prova foram submetidos à saturação, durante
um período de 48 horas, de forma que todos os vazios das amostras ficassem
completamente preenchidos com água, para que se pudesse proceder os ensaios
de permeabilidade. Os coeficientes hidráulicos foram obtidos pela média de 3
ensaios para cada amostra. Os ensaios de cisalhamento direto foram realizados
em um equipamento com capacidade de 500 kgf e sensibilidade de 0,001 mm.
Todo o procedimento de ensaio foi conduzido de acordo com a norma ASTM D
3080, sendo utilizada uma caixa cisalhante bipartida na horizontal, com área de
10 cm x 10 cm. Neste estudo, a velocidade empregada para o ensaio foi de 0,083
mm/s e as tensões normais pré-definidas foram 50, 100, 150 e 200 kPa. A etapa de

121
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

consolidação teve duração de 1 hora, período suficiente para que as deformações


fossem praticamente constantes, sendo estas acompanhadas através do sensor de
leitura vertical do equipamento de cisalhamento.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

São apresentados os resultados de caracterização física, compactação,


análise microestrutural e comportamentos hidráulico e mecânico do solo, do
agregado reciclado de RCD e das misturas formadas.

3.1 Caracterização física e compactação

As curvas de distribuição granulométrica dos materiais estudados são


apresentadas na figura 2. Com base nos resultados dos ensaios de granulometria,
foram obtidas as seguintes frações granulométricas do solo natural: 13% de
pedregulho; 46% de areia; 3% de silte e 38% de argila, conforme escala da ASTM.
O agregado reciclado de RCD é composto por 79% de grãos equivalentes a areia
(tamanhos entre 0,074 mm e 5 mm) e 21% de material que passa na peneira de
número 200 (abertura de 0,074 mm), de acordo com a escala da ASTM. As curvas
granulométricas das misturas apresentam uma variação em relação às do solo e
do agregado reciclado, situando-se entre as curvas dos materiais de origem. O
agregado de RCD reduziu as frações de silte e argila do solo (< 0,074 mm), todavia
exerceu uma maior influência na fração de areia, aumentando-a.

FIGURA 2 – CURVAS DE DISTRIBUIÇÃO DO TAMANHO DAS PARTÍCULAS ENQUADRADAS NA


ESCALA GRANULOMÉTRICA DA ASTM

Os valores de massa específica real dos grãos, limites de Atterberg e os


índices obtidos no ensaio de compactação são apresentados na tabela 1, seguida
pela figura 3, que apresenta as curvas de compactação do solo, agregado reciclado
de RCD e das misturas preparadas para este estudo, utilizando a energia de
Proctor normal.

122
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

TABELA 1 – PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DAS AMOSTRAS INVESTIGADAS

FIGURA 3 – CURVAS DE COMPACTAÇÃO PARA AS AMOSTRAS DE SOLO, AGREGADO


RECICLADO DE RCD E MISTURAS

A massa específica real dos grãos do solo praticamente não é modificada


pela inserção do agregado de RCD, uma vez que a densidade do agregado
reciclado é próxima a do solo. O solo possui alta plasticidade (IP>15%), enquanto
que o agregado reciclado de RCD é não plástico. A adição do RCD ao solo causou
uma redução na plasticidade das misturas de 21% para 10%, Tabela 1, tornando
a plasticidade média. De acordo com o SUCS (Sistema Unificado de Classificação
de Solos) o solo é classificado como uma areia-argilosa (SC), o agregado de
RCD equipara-se a um solo do grupo SM (areia-siltosa) e todas as misturas se
classificam como areias-argilosas. Pelo sistema TRB (Transportation Research
Board) o solo é um material argiloso do tipo A-7-6, o agregado de RCD enquadra-
se no grupo A-2-4 e as misturas de solo com 10, 20 e 30% de RCD pertencem às
classes A-6, A-2-6 e A-2-4, respectivamente. Isso indica que a adição do agregado
reciclado de RCD tende a melhorar as características do solo para uso como
subleito de pavimentos, à medida que o teor de agregado reciclado aumenta,
uma vez que o comportamento do solo enquanto subleito passa de sofrível a mal

123
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

para excelente a bom, conforme o TRB. A amostra de agregado reciclado de RCD


apresenta um peso específico aparente seco máximo superior ao do solo, devido
a distribuição das suas partículas se encontrar mais graduada, existindo uma
melhor acomodação dos grãos ao longo do processo de compactação, e um menor
valor de umidade ótima, visto o baixo teor de finos no agregado reciclado, o que
reduz a superfície específica e, consequentemente, a umidade nesse material. As
curvas das misturas são mais altas e deslocadas para a esquerda, figura 3, ou
seja, a adição do agregado reciclado ao solo resultou na redução da umidade
ótima das misturas, em até 2%, na diminuição da porosidade e no aumento do
peso específico aparente seco máximo, porém a variação é pequena, tabela 1. O
resultado já era esperado, tendo-se em vista que está se adicionando ao solo um
material com peso específico superior e com menor umidade ótima, conforme
antes mencionado. Comportamento semelhante foi relatado por outros autores
ao incorporarem agregados reciclados a matriz dos solos.

3.2 Análise Microestrutural

As eletromicrografias das amostras de solo e do agregado reciclado


de RCD, com aumentos sucessivos de 100x, 500x e 1000x, são apresentadas na
figura 4. A estrutura do solo compactado é constituída por agregados naturais
com grãos subarredondados a arredondados inseridos em uma matriz argilosa,
figura 4-a-b, evidenciando a presença de flóculos com arranjos de grãos de areia
interligados por partículas de silte e argila de forma densa, devido ao processo de
compactação, figura 4-c, conferindo ao solo um arranjo de baixa permeabilidade
(item 3.3). A forma dos grãos do solo é compatível com o processo de formação
dos solos (Formação Barreiras). O agregado reciclado de RCD compactado
apresenta uma estrutura superficial irregular, figura 4-d. Observa-se a existência
de partículas finas (material pulverulento do RCD) que formam uma película
revestindo os agregados, figura 4-e. O RCD é composto por agregados que não se
conectam entre si, formando uma estrutura granular com pequenas floculações
esparsas, figura 4-f. Há uma maior densidade de partículas no agregado reciclado
de RCD do que no solo, isso também pode ser comprovado pelo menor índice de
vazios (item 3.3) e maior peso específico seco (item 3.1) do agregado de RCD se
comparado a areia argilosa.

Uma comparação das eletromicrografias das amostras de solo com o


agregado reciclado e as misturas, nas proporções de 10, 20 e 30% de adição de
agregado de RCD, é apresentada na figura 5, sendo as imagens ampliadas em 70x.
As misturas de solo com agregado reciclado apresentam reentrâncias e saliências
em suas superfícies de forma mais acentuada do que no solo, figura 5-c-d-e. As
partículas do solo mais finas se agregam as partículas do RCD, formando flóculos
com diferentes formas e grumos de maiores dimensões, o que propicia a ocorrência
de caminhos preferenciais de percolação de água, resultando, consequentemente,
no aumento da permeabilidade do solo (item 3.3).

124
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

FIGURA 4 –­ ELETROMICROGRAFIAS DO SOLO COM AUMENTOS DE 100X (A), 500X (B) E


1000X (C) E DO AGREGADO RECICLADO DE RCD COM AUMENTOS DE 100X (D), 500X (E) E
1000X (F)

FIGURA 5 – ELETROMICROGRAFIAS, AMPLIADAS EM 70X, DO SOLO (A), AGREGADO


RECICLADO DE RCD (B) E MISTURAS DE SOLO COM 10% (C), 20% (D) E 30% (E) DE AGREGADO
RECICLADO DE RCD.

125
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

3.3 Condutividade hidráulica

A variação do coeficiente de permeabilidade do solo com a inserção dos


diferentes teores de agregado reciclado de RCD é apresentada na figura 6. O
valor médio da condutividade hidráulica do solo saturado foi de 9,31x10-10 m/s,
o que indica a sua baixa permeabilidade, podendo ser utilizado como barreira
natural impermeabilizante em bases e coberturas de aterros sanitários, pois
atende aos requisitos para barreira hidráulica (< 1x10-9 m/s), conforme a USEPA,
devido ao arranjo granulométrico que possui. A condutividade hidráulica do
agregado reciclado de RCD (6,16x10-8 m/s) se enquadra no intervalo das areias
muito finas e siltes, misturas de ambos e argila (10-5 a 10-9 m/s), segundo Caputo
e Caputo. Pode também ser utilizado em cobertura de aterros para resíduos
sólidos não perigosos. O resultado mostra que o agregado reciclado de RCD
possui características hidráulicas próximas a de agregados naturais. O coeficiente
hidráulico do solo sofre um acréscimo quando misturado com o agregado reciclado
de RCD, Figura 6-a, superando em mais de 13 vezes o valor obtido para o solo
separadamente. Ressalta-se que a inserção de agregado de RCD ao solo facilita
a redução da pressão neutra, gerando um efeito associado a dissipação desta
pressão mais rapidamente, podendo as misturas serem aplicadas em obras de
compactação. Há uma redução do índice de vazios do solo com a incorporação do
agregado reciclado, Figura 6-b, porém a condutividade hidráulica cresce devido
ao aumento das floculações e grumos formados nas misturas, que propiciam
caminhos preferenciais de percolação. A variação do valor da permeabilidade
entre as misturas é pequena, demonstrando que as características hidráulicas das
misturas formadas são semelhantes. Cabe ressaltar que, todas as misturas podem
compor camadas de cobertura para aterros de resíduos não perigosos, entretanto,
conforme a NBR 13896, a única mistura que pode ser aplicada em bases de aterros
de resíduos sólidos é a S90/R10, visto que possui uma permeabilidade inferior a
1x10-8 m/s, figura 6. Observa-se ainda que o solo e as misturas concordam com as
suas classificações como areias argilosas (SC), assim como o agregado reciclado
de RCD como areia siltosa (SM), por apresentarem coeficientes hidráulicos típicos
de uma areia com uma porção considerável de partículas finas.

FIGURA 6 – VARIAÇÃO DO COEFICIENTE HIDRÁULICO COM O TEOR DE AGREGADO


RECICLADO DE RCD (A) E O ÍNDICE DE VAZIOS (B).

126
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

3.4 Resistência ao cisalhamento

As curvas de tensão cisalhante versus deslocamento horizontal (τ x dh) e


de deslocamento vertical versus deslocamento horizontal (dh x dv) das amostras
investigadas nas tensões normais empregadas (50, 100, 150 e 200 kPa) estão
apresentadas na figura 7. Vale salientar que as amostras que não apresentam
curvas de τ x dh com um comportamento de pico bem definido tiveram suas
tensões cisalhantes de ruptura obtidas a partir do momento em que as curvas τ x
dh apresentam uma inclinação razoavelmente constante, conforme definido por
De Campos e Carrillo, figura 8, sendo este o critério de ruptura adotado neste
estudo.

As tensões máximas de cisalhamento (tensões de ruptura) para cada


tensão normal impostam permitem a elaboração das envoltórias de Mohr-
Coulomb, figura 9 e, consequentemente, a obtenção do ângulo de atrito e da
coesão dos materiais ensaiados. Os resultados dos ensaios de cisalhamento direto
estão compilados na tabela 2.

FIGURA 7 – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO PARA AS TENSÕES DE 50


(A), 100 (B), 150 (C) E 200 KPA (D)

127
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 8 – DEFINIÇÃO DA TENSÃO CISALHANTE NA RUPTURA, CONFORME DE CAMPOS E


CARRILLO

128
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

FIGURA 9 – ENVOLTÓRIAS DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Obs.: τ – tensão cisalhante; σ – tensão normal; R² – coeficiente de


determinação.

TABELA 2 – RESUMO DOS RESULTADOS OBTIDOS NOS ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO

129
UNIDADE 2 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

O solo e as misturas mostram, em sua maioria, curvas de τ x dh


com crescimento contínuo, sem apresentar um pico de resistência, figura 7,
caracterizando um comportamento do tipo elasto-plástico com enrijecimento. A
amostra de agregado reciclado apresenta curvas τ x dh com ocorrência de pico em
todas as tensões normais aplicadas, de forma bem definida, figura 7, indicando
que o material é friável, sendo o máximo de resistência (ruptura) atingido na
faixa entre 1 e 2 mm de deslocamento horizontal, tabela 2. Os valores das tensões
cisalhantes máximas do agregado reciclado são bem superiores aos obtidos para
o solo e para as misturas de solo com RCD, semelhante ao que foi observado
por Santos e Dias, que obtiveram valores de tensões cisalhantes maiores para os
agregados de RCD utilizados do que para os solos de referência. Nota-se também
que, para o agregado reciclado, após o alcance da máxima tensão cisalhante,
há uma posterior redução da mesma em todas as tensões normais, denotando
uma resistência residual. Contudo, esta não atinge patamares constantes até o
fim do ensaio, pois se constata um “falso” aumento de resistência a partir de 8
mm de deslocamento, sendo justificado pela eventual ocorrência de rotação dos
principais planos de tensões existentes durante a execução do ensaio. Todas as
amostras apresentaram variações dos deslocamentos verticais, figura 7, revelando
a ocorrência de alterações volumétricas dos corpos de prova durante o ensaio.
A dilatação sofre uma redução com o aumento da tensão normal em todas as
amostras, sendo os deslocamentos horizontais considerados mínimos nas maiores
tensões normais impostas. O ângulo de atrito do agregado de RCD é superior ao
do solo. Para efeitos práticos a inserção de agregado reciclado na matriz do solo
argiloso, praticamente, não altera o valor de intercepto coesivo e há um pequeno
acréscimo do ângulo de atrito, tabela 2. A baixa influência do agregado reciclado
na parcela de ângulo de atrito dos solos também foi um aspecto observado por
Dias e Macedo. No que tange à análise da qualidade de ajuste dos pontos dos
gráficos, figura 9, em torno das respectivas linhas de tendência, foram calculados
os coeficientes de determinação (R²) dos materiais em questão, estando os valores
para as envoltórias Morh-Coulomb situados próximo de 1 (um), o que denota um
bom ajuste linear das retas de regressão. O emprego do agregado reciclado de
RCD constitui uma alternativa interessante de utilização em obras de engenharia,
mitigando os impactos ambientais causados pela exploração de jazidas e pelo
descarte inadequado no meio ambiente dos resíduos gerados pelas atividades
construtivas.

4 CONCLUSÕES

O solo é classificado como areia argilosa (SC) pelo SUCS, é do tipo A-7-
6 pelo TRB, apresenta alta plasticidade e possui agregados naturais com grãos
subarredondados a arredondados inseridos em uma matriz argilosa, com
a presença de flóculos formados pelo arranjo de grãos de areia interligados
por partículas de silte e argila de forma densa, conferindo ao mesmo baixa
permeabilidade. O agregado reciclado de RCD é composto majoritariamente
por grãos equivalentes a areia e 21% de material com tamanho inferior a 0,074

130
TÓPICO 3 | RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS

mm, equipara-se, segundo o SUCS, a um solo do grupo SM (areia siltosa), se


enquadra na classe A-2-4 pelo sistema TRB, é não plástico, possui uma massa
específica real dos grãos próxima a do solo estudado e uma microestrutura
granular com pequenos flóculos espaçados. A inserção de agregado reciclado
provocou mudanças no solo referente às características físicas, tais como: redução
das frações < 0,074 mm, da plasticidade, da porosidade e da umidade ótima,
aumento do peso específico seco máximo e melhoria das características para
aplicação como subleito de pavimentos, chegando admitir um comportamento
de excelente a bom, conforme o TRB, a medida que o teor de agregado de RCD
dentro da matriz aumenta. A adição do agregado de RCD acentuou as reentrâncias
e saliências na superfície do solo, implicando em agregações de partículas finas
do solo com as partículas do RCD, formando flóculos e grumos de maiores
dimensões. A condutividade hidráulica do solo foi elevada em mais de 13 vezes
quando da inserção do agregado de RCD, variando a ordem de magnitude da sua
permeabilidade de 10-10 para 10-8 m/s. Assim, as misturas podem ser empregadas
em bases e coberturas de aterros de resíduos não perigosos, como os resíduos
sólidos municipais. O comportamento elastoplástico das curvas de tensão
cisalhante versus deslocamento horizontal do solo não se altera com a adição do
agregado reciclado. As tensões cisalhantes máximas do agregado de RCD são
as mais elevadas dentre os materiais estudados, indicando um ângulo de atrito
de 42°, superior ao do solo (29°) e ao das misturas com 10, 20 e 30% de agregado
reciclado (29°, 29,5° e 32°, respectivamente). Ressalta-se que, além de a inserção
do agregado reciclado de RCD aumentar a permeabilidade e praticamente não
alterar a resistência ao cisalhamento do solo compactado, está se reduzindo um
passivo ambiental pelo efeito da reutilização do agregado reciclado proveniente
de resíduos da Indústria da Construção Civil.

FONTE: FERREIRA, S. R. M.; FUCALE, S.; SILVA, A. C. Efeito da adição de resíduos da construção e
demolição (RCD) nas propriedades hidromecânicas de um solo areno-argiloso. 2019. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/rmat/v24n2/1517-7076-rmat-24-2-e12355.pdf. Acesso em: 15 jan.
2020.

131
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As capacidades de resistência a cisalhamento das argilas diferem das de areias.

• Há diferentes comportamentos das argilas quando pré-adensadas e não


adensadas.

• A máxima tensão de argilas pré-adensadas é inferior a tensão axial de solos


argilosos não adensados.

• Realizar a trajetória de tensões facilita a definir a envoltória resistiva de um


solo em estudo.

CHAMADA

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132
AUTOATIVIDADE

1 Um projeto de expansão de um pátio de estacionamento de um shopping


center, situado em uma cidade brasileira, previu, devido à pouca
disponibilidade do terreno, um corte vertical com 3 m de altura e 60 m de
comprimento, em um talude de solo argiloso, cujos parâmetros geotécnicos
determinados nas unidades do Sistema Internacional foram os seguintes:

Peso específico aparente úmido: 17 kN/m3.


Teor de umidade natural: 24%.
Coesão: 30 kPa.
Ângulo de atrito interno: 13°.

Levando-se em conta que o local está sujeito, durante parte do ano, a


fortes precipitações pluviométricas, verifique se esse corte necessita de uma
obra de contenção, respondendo SIM ou NÃO e justificando sua resposta pelo
cálculo do fator de segurança.

As características mineralógicas do solo permitem que se admita como


peso específico dos sólidos o valor de 26,5 kN/m3 e, por outro lado, para esse
caso, considere que o fator de segurança deve ser superior a 1,5.

2 Para argilas normalmente adensadas a envoltória de ruptura, pode ser dada


na equação τf =σ'tgϑ' . A envoltória de ruptura modificada correspondente
é dada pela equação q’=p’tgα. De maneira similar, se a envoltória de
ruptura for a equação τf = c′ + σ'tgϑ' . A envoltória de ruptura modificada
correspondente é um gráfico q’-p’, que pode ser expresso como q’=m+p’tgα.
Expressar α como uma função de ϕ’ e forneça m como uma função de c’ e ϕ’.

3 Por que é necessário analisar separadamente o comportamento de argilas


normalmente adensadas e pré-adensadas?

133
134
UNIDADE 3

MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS


E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar os conceitos de empuxo em solos;

• identificar as condições de estabilidade de muro de arrimo;

• conhecer métodos de execução de estaca-prancha;

• apresentar as principais soluções para problemas relacionados a taludes.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

TÓPICO 2 – MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHAS

TÓPICO 3 – ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

135
136
UNIDADE 3
TÓPICO 1

EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico, abordaremos sobre os efeitos de empuxo de terra
aplicado em mecânica dos solos. Conhecer o empuxo de terra é fundamental para
projetar e analisar e o projeto de obras como muros de arrimo, cortinas de estacas-
prancha, construção de subsolos, encontro de pontes, entre outros.

O empuxo de terra é definido por Caputo (2008), ação horizontal


produzida por um maciço de solo sobre as obras com ele em contato. Por ser
um processo de alta complexidade torna-se difícil elaborar uma teoria geral que
não faça uso de simplificações. Por outro lado, a determinação do valor do
empuxo de terra é fundamental para a análise. O valor do empuxo de terra, assim
como a distribuição de tensões ao longo do elemento de contenção, depende da
interação do solo e do elemento estrutural durante todas as fases da obra. O
empuxo atuando sobre o elemento estrutural provoca deslocamentos horizontais
que, por sua vez, alteram o valor e a distribuição do empuxo, ao longo das fases
construtivas da obra.

2 DEFINIÇÃO DE EMPUXOS: EM REPOUSO, ATIVO E PASSIVO


Inicialmente, devemos aprender sobre a definição de alguns conceitos
para adentrar sobre o efeito dos empuxos em solos, Barros (2010, p. 6):

Estruturas de contenção ou de arrimo são obras civis construídas com


a finalidade de prover estabilidade contra a ruptura de maciços de
terra ou rocha. São estruturas que fornecem suporte a estes maciços
e evitam o escorregamento causado pelo seu peso próprio ou por
carregamentos externos. Exemplos típicos de estruturas de contenção
são os muros de arrimo, as cortinas de estacas-prancha e as paredes
diafragma. Embora a geometria, o processo construtivo e os materiais
utilizados nas estruturas citadas sejam muito diferentes entre si,
todas elas são construídas para conter a possível ruptura do maciço,
suportando as pressões laterais exercidas por ele.

137
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Tendo identificado o que são as estruturas de contenção, agora vamos


considerar um ponto de um solo maciço semi-infinito em qualquer profundidade,
em que queremos calcularmos a pressão vertical que ocorre em determinada
profundidade. Para isso, utilizamos a equação geral (equação 1):

σ v =γz ( Eq.1)
Em que:

σv = tensão efetiva verticial (kg/m);


γ = peso específico do solo (kg/m³);
z = profundidade (m).

Agora, ao considerarmos que o solo é um plano imóvel, indeformável


e sem atrito. Observaremos que o estado de tensões da outra parte do maciço
não variará e que a pressão sobre esse plano será horizontal, ou seja, crescerá
literalmente com a profundidade, através da equação 2 (CAPUTO, 2008):

σ h = K0 γz ( Eq. 2 )
Em que:

σ h =tensão efetiva horizontal ou pressão no repouso (kg/m);


K0 = coeficiente de empuxo no repouso.

Por sua vez, o coeficiente de empuxo em repouso é determinado através


da razão entre a tensão efetiva vertical (σh) e a tensão efetiva horizontal (σv)
(equação 3).

σh
K0 =
σv
( Eq. 3 )

Essas pressões que ocorrem no solo são conhecidas como pressões no


repouso. O coeficiente de empuxo no repouso é obtido experimentalmente,
entretanto, existem valores que se adequam ao tipo de solo estudado, sendo estes
apresentados na Tabela 1.

138
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

TABELA 1 – VALORES DE COEFICIENTE DE EMPUXO NO REPOUSO PARA TIPOS DE SOLO

Solo K0
Argila 0,70 – 0,75
Areia solta 0,45 – 0,50
Areia compacta 0,40 – 0,45

FONTE: Caputo (2008, p. 104)

Podemos definir os tipos de empuxo nos solos como (CAPUTO, 2008):

Podemos definir os tipos de empuxo nos solos como (MARANGON,


2009, p. 164):

Empuxo no repouso é a condição em que o plano de contenção não


se movimenta. Consideramos, neste tipo de empuxo, um equilíbrio
perfeito em que a massa de solo se mantém absolutamente estável,
sem nenhuma deformação na estrutura do solo, isto é, está num
equilíbrio elástico.

O empuxo ativo – a estrutura se desloca para fora do terrapleno – verifica-


se quando determinada estrutura é construída para suportar um maciço de solo.
Neste caso, as forças que o solo exerce sobre as estruturas são de natureza ativa.
O solo “empurra” a estrutura, que reage, tendendo a afastar-se do maciço.

FIGURA 1 – EXEMPLO DE EMPUXO ATIVO

E
A

E
A

Cortina de estacas
Muro de arrimo
(Por gravidade)

FONTE: Adaptado de Caputo (2008, p. 142)

NOTA

Terrapleno é considerado o maciço de solo em contato com a estrutura de


contenção.

139
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

No empuxo passivo – a estrutura se desloca contra o terrapleno – é a


estrutura que é empurrada contra o solo. A força exercida pela estrutura sobre o
solo é de natureza passiva. Um caso típico deste tipo de interação solo-estrutura
é o de fundações que transmitem ao maciço forças de elevada componente
horizontal.

FIGURA 2 – PONTE COMO EXEMPLO DE EMPUXO PASSIVO

FONTE: Baroni (2012, p. 6)

O empuxo ativo e passivo verifica-se em alguns tipos de obras, a existência


concomitante dos dois tipos de pressões ativas e passivas, como é o caso da estaca
prancha.

FIGURA 3 – MURO-CAIS ANCORADO, CASO EM QUE SE DESENVOLVEM EMPUXOS ATIVO E


PASSIVO

FONTE: Baroni (2012, p. 6)

140
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

NOTA

Abreviações utilizadas:

Empuxo ativo = Ea Coeficiente ativo = Ka


Empuxo passivo = Ep Coeficiente passivo = Kp

Caputo (2008) afirma que o estado de tensões ativo e passivo também pode
ser interpretada com o uso do círculo de Mohr. À medida que o solo é submetido
a uma solicitação de cisalhamento, o Círculo de Mohr varia de diâmetro. Quando
o círculo se encontra abaixo da envoltória de resistência, geralmente representada
por uma linha reta denominada envoltória de Mohr-Coulomb, o elemento de solo
permanece em equilíbrio.

Quando σv for igual a γz observa-se a expansão do maciço, a tensão


horizontal σh diminui até que o círculo se torna tangente à reta de Coulomb; neste
ponto, ocorre a ruptura e o valor de σh é dado por Kaγz. Assim, os pontos de
tangência representam estados de tensão sobre planos de ruptura.

Vemos que no estado ativo a plastificação do maciço dá-se ao longo de


planos definidos por um ângulo de 45° + φ/2 com a horizontal. No estado passivo
o maciço se contraí a tensão horizontal σh cresce até que o círculo se torna tangente,
ocorrendo à ruptura e um ângulo de 45° -φ/2 ao longo de planos.

No caso do estado em repouso a tensão horizontal σh é menor que a tensão


vertical σv, mas não chega a haver ruptura (equilíbrio elástico e não plástico como
os dois anteriores), conforme visualizado na Figura 4 (MARANGON, 2018).

FIGURA 4 – ESTADOS DE TENSÕES NOS ESTADOS EM REPOUSO, ATIVO E PASSIVO

FONTE: Adaptado de Baroni (2012, p. 5)

141
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

3 TEORIA DE RANKINE E COULOMB: SOLOS COESIVOS E


NÃO COESIVOS
Neste tópico serão abordados os conceitos dos processos clássicos de
obtenção de empuxos, baseados nas teorias de elasticidade, abordados pelos
engenheiros pesquisadores Rankine e Coulomb. A teoria de elasticidade é
utilizada para a determinação das pressões de empuxo de terra para transcrever o
comportamento dos solos e suas propriedades de deformação quando submetidas
a determinada pressão de compressão.

A seguir, será discutido a teoria de Rankini, utilizada para determinar os


empuxos de terra através da utilização de métodos de equilíbrio limite.

3.1 TEORIA DE RANKINE


Quando estudamos um solo e observamos a condição na qual cada ponto
na massa de um solo esteja no limite de ruptura definimos este limite como o
equilíbrio plástico no solo. Rankine (1820-1872) foi um dos primeiros engenheiros
a estudar esta condição da pressão de terra, desenvolvendo a teoria dos empuxos
de solos em 1957, com observações diferentes de uma teoria anterior apresentada
por Coulomb (1776) (DAS, 2014). Veremos sobre a teoria de Rankine e, a seguir,
a teoria de Coulomb.

Para determinar os empuxos de terra, é observado nos processos clássicos


a utilização de métodos de equilíbrio limite. A teoria de Rankine baseia-se na
equação de ruptura de Mohr (equação 4), pelo qual apresentamos no tópico
anterior.

σ1 =σ 3 N ϕ + 2 c N ϕ' ( Eq. 4 )

Em que:

σ1 e σ 3 são tensões principais;


 ϕ
N ϑ tg 2  45° + 
=
 2 ;
Φ o ângulo de atrito interno; e
c a coesão do material.

Marangon (2018) explica que as equações empregadas são definidas para


um elemento infinitesimal do meio e se prolonga a toda a massa plastificada
através de integração ao “longo de sua altura”. Admitimos que a cunha de solo
em contato com a estrutura esteja em um estado ativo ou passivo de plastificação.
Esse corpo de solo se desloca sob a aplicação de análises de equilíbrio dos corpos
rígidos.

142
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

A Teoria de Rankine admite que não há atrito entre o solo e a parede,


portanto a distribuição de pressão junto ao muro cresce linearmente com a
profundidade (CAPUTO, 2008). No caso de solos não coesivos o ponto de
aplicação é situado a uma distância vertical de 1/3 da altura do muro e sua
resultante é determinada pela área do diagrama (MARANGON, 2018).

E
IMPORTANT

As condições fundamentais da teoria de Rankine são (MARANGON, 2018):


a) O atrito entre o terrapleno e o paramento vertical do plano de contenção é considerado
nulo.
b) O terrapleno é constituído de uma camada única e contínua de mesmo solo e sua
superfície superior é horizontal e o solo homogêneo.
c) O terrapleno não tem efeito de sobrecarga.
d) O solo do terrapleno em todo o espaço semi-infinito considerado é areia pura seca
homogênea, solo sem coesão.

3.1.1 Rankine em Estado de Empuxo Ativo:


Para solos não coesivos a condição inicial de Rankine impõem a condição
de coesão nula (c = 0). Admitimos que a parede se afasta do terrapleno (empuxo
ativo), a pressão horizontal σh diminuirá até atingir um valor mínimo, sendo
representado pela equação 5. A pressão vertical σv será a pressão principal maior,
conforme equação 6 (CAPUTO, 2018).

σ h =σ 3 =Ka γh ( Eq. 5 )

σ v =σ1 =γh ( Eq. 6 )


Levando em consideração o momento que ocorrerá o deslizamento na
seção BC (Figura 5), formando um ângulo já conhecido de 45 – φ/2 com a direção
da pressão principal maior. Portanto assumimos para solos não coesivos o valor
do coeficiente de empuxo ativo com a equação 7.

1 1  ϕ
K
= a =
Nϕ 
= 2 tg 2  45° - 
ϕ 2
( Eq. 7 )
tg 2  45° +  
 2

143
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

ATENCAO

Conforme Marangon (2018), a cunha acompanha o movimento do


deslocamento do muro, afastando-a no sentido horizontal, devido σv(maior) = σ1.
E a resistência ao cisalhamento desenvolvida ao longo do plano de ruptura reduz a
ação de movimento, diminuindo o esforço sobre o parâmetro vertical ao valor mínimo.
σh(menor) =σ3

FIGURA 5 – EMPUXO ATIVO: ESTADO DE TENSÕES E PLANO DE RUPTURA

FONTE: Adaptado de Marangon (2018, p. 173)

3.1.2 Rankine em Estado de Empuxo Passivo:


Levando em consideração um muro que se estende a uma profundida
infinita, caso o muro seja gradualmente empurrado contra o terrapleno, a tensão
σh aumentará, aumentando o raio do círculo de Mohr visto na Figura 6, causando
a ruptura do solo (DAS, 2014).

144
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

FIGURA 6 – PRESSÃO PASSIVA DE TERRA DE RANKINE

FONTE: Das (2014, p. 396)

Marangon (2018) apresenta que para condição passiva, temos: σh = σ1 e


σv = σ3. Substituindo na equação, temos que: σh= Nϕ. σv. Portanto, obtemos a
equação 8 para o coeficiente de empuxo passivo:

 ϕ
K=
p N=
ϕ tg 2 α
= tg 2  45° + 
2
( Eq. 8 )

O coeficiente de empuxo ativo é dado pela equação 9:

1
Ka =
Kp
( Eq. 9 )

Em que Ka < 1,0 e que Ka < K0 < Kp.

ATENCAO

Segundo Marangon (2018), a cunha acompanha o movimento do muro,


vencendo o seu peso e a resistência interna ao cisalhamento. Isso causa o afastamento no
sentido vertical para cima, devido σv(menor) = σ3.
A resistência ao cisalhamento desenvolvida ao longo do plano de ruptura é somada ao
peso da cunha agindo sobre o parâmetro vertical. σh(maior) = σ1.

145
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 7 – EMPUXO PASSIVO: ESTADO DE TENSÕES E PLANO DE RUPTURA

FONTE: Adaptado de Marangon (2018, p. 173)

Uma tabela resumo dos valores de φ são apresentados na Tabela 2 com os


valores de empuxos ativo e empuxo passivo para a teoria de Rankine.

TABELA 2 – COEFICIENTES DE EMPUXO ATIVO E PASSIVO DE RANKINE, EM FUNÇÃO DE Φ

φ Ka Kp
0° 1,00 1,00
10° 0,70 1,42
20° 0,49 2,04
25° 0,41 2,47
30° 0,33 3,00
35° 0,27 3,69
40° 0,22 4,40
45° 0,17 5,83
50° 0,13 7,55
60° 0,07 13,90
FONTE: Marangon (2018, p. 174)

3.1.3 Em estado de sobrecarga no terrapleno


Segundo Marangon (2018), para situações em que se considere haver
sobrecarga uniformemente distribuída no sobre pleno, com intensidade “q” (ver
Figura 8), podemos transformar esta carga em uma altura equivalente de solo da
camada (h0).

146
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

FIGURA 8 – DIAGRAMA DE TENSÕES CONSIDERANDO UMA SOBRECARGA NO TERRAPLENO

FONTE: Marangon (2018, p. 174)

Sendo:

q = γ.h0;
h0 = q/γ = sobrecarga vertical/peso específico do solo.

Devido à altura equivalente de solo (h0), existirá uma pressão inicial (σhi)
nos diagramas de tensões. Conforme apresentado na equação 10.

q
σ hi = Ka γh0 = Ka γ = Ka q
γ
( Eq.10 )

Nesta equação, vemos que o a pressão inicial está relacionada ao produto


do coeficiente de empuxo ativo pela tensão vertical atuante da “cota” aplicada
(MARANGON, 2018).

3.1.4 No caso de considerar solo coesivo


Quando consideramos que exista uma parcela de argila no solo, isso
resultará em uma coesão com valor diferente de zero, adotada nas situações
anteriores. Portanto, não haverá simplificação da equação 4 vista anteriormente.

Para casos de pressão ativa obtemos os valores de σv conforme equação 11


e σh conforme equação 12:

σ v = σ h . N ϕ + 2C . N ϕ ( Eq.11)
1 Nϕ
σh =

.σv - 2 c

= Ka .σv -2 c Ka ( Eq.12 )

147
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

A Figura 9 representa os diagramas de tensões para este tipo de caso,


é observado a formação de fendas no terrapleno devido à falta de resistência à
tração que o solo apresenta, resultando nestas falhas e trincas devido ao esforço
que ocorre na parte superior da parede com o solo.

FIGURA 9 – DIAGRAMA DE TENSÕES (ATIVO) CONSIDERANDO O SOLO COESIVO E ASPECTO


DEFENDAS DE TRAÇÃO QUE TENDEM A OCORRER NOS SOLOS

FONTE: Marangon (2018, p. 175)

O ponto em que a σh= 0 corresponde a equação 13.

Ka . σ v =2. C Ka ( Eq.13 )
Considerando essa profundidade hI, obtemos a equação 14:

2c K a 2c
Ka .=
γ.hi 2. c. Ka ∴
= hi - .
γ Ka
, ou=
: hi ( Eq.14 )
γ. Ka

Considerando a parte do empuxo ativo obtemos a equação 15. Neste solo,


também apresenta uma profundidade qualquer que apresentará empuxo nulo,
sendo necessário que ocorra a condição da equação 16 para isso. Essa profundida
é definida como altura crítica (hcrit).

∫( )
h 1
Ea =
0
Ka .σ v - 2.c. Ka dh = .K .γ.h 2 - 2. c.h. Ka
2 a
( Eq.15 )
1
2. c.h. Ka ( Eq. 16 )
.K .γ .h 2 =
2 a

148
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

Ao substituirmos temos a equação 17 e equação 18 (tirando o valor de(hcrit):

1
.K .γ .h 2 = 2. c.hcrit . Ka ( Eq. 17 )
2 a criti
2. c. Ka 4.c
hcrit
= = = 2. hi ( Eq. 18 )
1
.K .γ γ Ka
2 a

Na Figura 10(a) observamos a formação das fissuras decorrentes da


formação de tensões de tração na parte superior do solo. Na Figura 10(b)
verificamos a altura em que se pode fazer um corte sem necessidade de estrutura
de contenção ou escoramento. Marangon (2018) afirma que isso é possível devido
a profundidade da altura crítica não ocorrer a formação de empuxo.

FIGURA 10 – (A) ASPECTO DEFENDAS DE TRAÇÃO QUE EVOLUÍRAM PARA ESCORREGAMENTO


DE TERRA – INSTABILIZAÇÃO DO TALUDE; (B) ALTURA DE ESCAVAÇÃO DE VALA SEM
NECESSIDADE DE ESCORAMENTO

(a) (b)
FONTE: Marangon (2018, p. 176)

Ao trabalhar com solos com coesão (argilosos) é recomendado trabalhar


com um coeficiente de segurança, adotando hcrit= hI, ou seja, a altura correspondente
a fissura de tração. Deve-se considerar a resultante do empuxo Ea como a tesão
resultante pela área do triangulo hachurado da Figura 11.

149
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 11 – RESULTANTE DE EMPUXO ATIVO CONSIDERANDO O SOLO COESIVO

FONTE: Caputo (2008, p. 111)

Já para o caso passivo, o valor de σh é representado pela equação 19:

σ h = K p σ v + 2c K p ( Eq. 19 )

Conforme visto no diagrama de tensões para solos coesivos, na Figura 12,


a parcela de empuxo E”p é somada ao E’p e não subtraída.

FIGURA 12 – RESULTANTE DE EMPUXO PASSIVO CONSIDERANDO O SOLO COESIVO

FONTE: Caputo (2008, p. 111)

É necessário prestar atenção em qual tipo de aterro devemos aplicar para


a teoria de Rankine. Uma vez que Caputo (2008) afirma que esse método admite
que não existe atrito entre o terraplano e a parede, sendo, portanto, um método
com maior fator de segurança, porém menos econômico.

150
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

3.2 TEORIA DE COULOMB


A teoria de Coulomb surgiu anteriormente a de Rankine, no ano de
1776. Coulomb foi um físico e engenheiro de formação francês. Sua teoria foi
apresentada à Academia de Ciências da França em 1773. Em sua teoria o
terrapleno é considerado como um maciço indeformável, mas que se rompe
segundo superfícies curvas (espirais logarítmicas), as quais se admitem planas
por conveniência de cálculo (CAPUTO, 2008), conforme visto na representação
da Figura 13.

Essa teoria baseia-se na teoria de equilíbrio limite, isto é, na existência


de uma superfície de ruptura, que, ao contrário da teoria de Rankine, admite
originalmente a existência de atrito solo-muro.

Segundo Marangon (2018), a vantagem deste método está no fato de que


se pode considerar a ocorrência de atrito solo-muro, além de possibilitar a análise
de estruturas com o paramento não vertical. Em resumo são consideradas as
seguintes hipóteses:

a) O solo homogêneo e isotrópico.


b) A ruptura ocorre sob o estado plano de deformação (problema bidimensional).
c) Ao longo da superfície de deslizamento o material se encontra em estado de
equilíbrio limite (critério de Mohr-Coulomb), ou seja, o estado de equilíbrio
plástico é proveniente do peso de uma cunha de terra.
d) Forças de atrito são uniformemente distribuídas ao longo da superfície de
ruptura junto ao paramento do muro (atrito solo-muro), permitindo conhecer
a direção do empuxo.

O autor afirma que o cálculo do empuxo é realizado estabelecendo


equações de equilíbrio de forças atuantes sobre uma cunha de deslizamento
hipotético (ver Figura 13 para empuxo ativo e Figura 14 para empuxo passivo).
Sendo que das forças atuantes, o empuxo no estado ativo será o valor máximo e
o empuxo no estado passivo o valor mínimo dos empuxos determinados sobre
as cunhas.

Solos Não Coesivos

Caputo (2008) explica que a teoria de Coulomb, para casos de solos


não coesivos, leva em conta, ao contrário da teoria de Rankine, o atrito entre o
terrapleno e a superfície sobre a qual se apoia. Ao considerarmos a ruptura de
cunha ABC (adotada como triangular para simplificação de cálculos) da Figura
13, observamos as forças em equilíbrio de:

P – Peso da cunha.
R – Reação do terreno, parcela de atrito da equação de Mohr-Coulomb, que
forma um ângulo ϕ com a normal à linha de ruptura BC.
Ea – Empuxo ativo resistido pela parede, sedo a força cuja direção é determinada
pelo ângulo δ de atrito entre a superfície rugosa AB (muro e solo).

151
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Determinamos as resultantes de empuxo ativo (Ea) ou empuxo passivo


(Ep) através do traçado do polígono de forças. As opiniões dos valores atribuídos
ao ângulo δ com relação as limitantes dos valores de são divergentes. Müller
Breslau identificou e admitiu que o máximo valor do ângulo deve ser δ = ¾ ϕ.
Por outro lado, Terzagui define que a limitante do ângulo deve ser ϕ/2 ≤ δ ≤ 2/3 ϕ
(CAPUTO, 2008).

FIGURA 13 – CUNHA E CORRESPONDENTE POLÍGONO DE FORÇAS PARA EMPUXO ATIVO

FONTE: Caputo (2008, p. 114)

FIGURA 14 – CUNHA E CORRESPONDENTE POLÍGONO DE FORÇAS PARA EMPUXO PASSIVO

FONTE: Caputo (2008, p. 115)

Para o empuxo passivo, a curvatura da superfície de ruptura tem maior


importância e é mais acentuada quanto maior for o valor de δ em relação a ϕ, o
que torna admissível a aplicação da teoria de Coulomb para cálculo do empuxo
passivo, somente aos solos não coesivos quando o valor de δ ≤ ϕ/3 (CAPUTO,
2008).

152
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

A solução analítica do equilíbrio de forças P, R e Ea obtemos as equações


gerais demonstradas a seguir:

1 2
Ea= γh Ka ( Eq. 20 )
2

sen2 ( α + ϕ )
Ka = ( Eq. 21)
 sen ( ϕ + δ ) sen ( ϕ - β ) 
sen2 α sen ( α - δ ) 1 + 
 sen ( α - δ ) sen ( α + β ) 
 

Para o equilíbrio de forças de P, R e Ep obtemos as equações gerais


(equação 22 e equação 23):

1 2
Ep= γh K p ( Eq. 22 )
2

sen2 ( α + ϕ )
Kp = ( Eq. 23 )
 sen ( ϕ + δ ) sen ( ϕ - β ) 
sen2 α sen ( α - δ ) 1 - 
 sen ( α - δ ) sen ( α + β ) 
 

Caputo (2008) reforça que a teoria de Coulomb para o caso de solos não
coesivos, leva em conta, ao contrário de Rankine, o atrito entre o terrapleno
e a superfície sobre a qual se apoia. Essas equações, para α= 90º e β= δ= 0º,
transformam-se nas conhecidas expressões de Rankine de Empuxo ativo equação
24 e Empuxo passivo equação 25:

1 2 2 ϕ
Ea=
2
γh .tg  45 - 
2
( Eq. 24 )

1 2 2 ϕ
Ep =
2
γh .tg  45 + 
2
( Eq. 25 )

Marangon (2018) afirma que antigamente eram utilizadas tabelas, como


as de Krey, que facilitam muito a determinação dos valores dos empuxos ativos
e passivos, como apresentado na Tabela 3, para o caso ativo de um muro com
paramento vertical (α=90°) e terrapleno com horizontal (β=0°).

153
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

TABELA 3 – COEFICIENTES DE EMPUXO ATIVO PARA MURO COM α=90°E β=0°


ϕ 15° 20° 25° 27,5° 30° 32,5° 35°
δ = 0° 0,590 0,491 0,406 0,369 0,334 0,301 0,272
δ = 5° 0,557 0,466 0,386 0,351 0,318 0,288 0,261
δ = 10° 0,534 0,448 0,372 0,340 0,309 0,281 0,253
δ = 15° 0,517 0,435 0,364 0,332 0,302 0,274 0,248
δ = 20° - 0,428 0,358 0,328 0,300 0,271 0,246
δ = 25° - - 0,357 0,327 0,298 0,271 0,246
δ = 30° - - - - 0,297 0,273 0,248

FONTE: Adaptado de Marangon (2018)

Solos Coesivos

Ao aplicarmos a teoria de Coulomb para solos coesivos, adicionaremos as


forças de coesão, S, que é a parcela ao longa da superfície de ruptura e a fora de
adesão T, entre o terrapleno e a parede. Além das forças já conhecidas de peso da
cunha (P) e da reação de resistência do solo (R), veja a representação do equilíbrio
de forças da Figura 15. A questão principal da resolução destes solos consiste
em procurar um valor máximo de Ea que feche o polígono das forças (CAPUTO,
2008).

FIGURA 15 – CUNHA E POLÍGONO DE FORÇAS PARA EMPUXO ATIVO CONSIDERADO O


SOLO COESIVO

FONTE: Caputo (2008, p. 130)

154
TÓPICO 1 | EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA

Conforme Marangon (2018, p. 183):


Se faz necessário o cálculo da resultante diretamente pelo desenho
do polígono de forças. Não há uma maneira de simplificar a sua
determinação como no caso do coeficiente de empuxo K que
corresponda à situação em análise. Para a situação de empuxo
passivo o procedimento deve ser o mesmo, considerando a posição da
resultante Ep como já ilustrado. As soluções de Coulomb e Rankine
são analíticas, embora sob conceituações distintas, são simples e de
fácil utilização e vem sendo largamente empregadas até o presente,
apesar de algumas limitações de aplicabilidade em situações práticas.
Ambas não levam em conta, por exemplo, a condição de terrapleno ser
irregular ou apresentar sobrecarga.

155
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O método de Rankine (1857) considera o solo em estado de equilíbrio plástico


e baseia-se nas seguintes hipóteses: solo isotrópico e homogêneo; superfície do
terreno plana; a ruptura ocorre em todos os pontos do maciço simultaneamente;
a ruptura ocorre sob o estado plano de deformação.

• O método de Coulomb, por sua vez, considera que exista coesão no solo.

• As soluções de Coulomb e Rankine são analíticas, embora sob conceituações


distintas, são simples e de fácil utilização e vem sendo largamente empregadas
até hoje.

156
AUTOATIVIDADE

1 Calcular σ’vo e σ’ho nos pontos A, B, C e D do perfil geotécnico da Figura a


seguir traçar os diagramas de variação de d σ’vo e σ’h0 com a profundidade.

FIGURA – PERFIL GEOTÉCNICO ESTUDADO

FONTE: Ortigão (2007, p. 110)

2 Considere um muro de concreto ciclópico (peso) com 3 m de altura, para


contenção de uma areia, cujos parâmetros são apresentados na figura a
seguir. Considere uma carga de “multidão” distribuída sobre o terrapleno,
majorada em 50%, por motivo de segurança. Pede-se determinar, utilizando-
se da teoria de Rankine:

a) O diagrama de tensões de empuxo.


b) A resultante de empuxo (E).
c) O ponto de aplicação da resultante de empuxo (d).
d) Considerando o conceito de “momento de tombamento” Mtom = E.d, sendo
do “braço de alavanca” – distância na vertical do ponto de aplicação da
resultante em relação ao ponto “A” de “rotação” do muro, calcule-o.

FONTE: Caputo (2008, p. 95)

157
158
UNIDADE 3
TÓPICO 2

MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior apresentamos conceitos teóricos para calcular as
pressões de solo para estruturas de contenção. Dentre elas, encontram-se: os muros
de arrimo e as estacas-prancha. Os muros de arrimo podem ser divididos em dois
tipos: rígidos e de solo estabilizado mecanicamente. Já as estacas-prancha podem
funcionar como cortinas de contenção (provisórias ou definitivas) formadas por
perfis justapostos e cravados no solo. Neste tópico, abordaremos sobre essas duas
estruturas, seus tipos e os métodos de estabilidade.

2 ESTRUTURAS DE ARRIMO
Gerscovich (2013, p. 2) define que:

Muros são estruturas corridas de contenção de parede vertical ou


quase vertical, apoiadas em uma fundação rasa ou profunda. Podem
ser construídos em alvenaria (tijolos ou pedras) ou em concreto
(simples ou armado), ou ainda, de elementos especiais. Os muros de
arrimo podem ser de vários tipos: gravidade (construídos de alvenaria,
concreto, gabiões ou pneus), de flexão (com ou sem contraforte) e com
ou sem tirantes.

As obras de muros de arrimo são obras comumente realizadas por


engenheiros, principalmente aqueles especializados em engenharia rodoviária.

2.1 TIPOS DE MUROS


A seguir, são apresentados alguns tipos de muros pelo qual foram
resumidos por Das (2014), Caputo (2008) e Gerscovich (2013):

Muros de alvenaria de pedra: são os muros mais antigos e numerosos.


Para muros de pedra arrumados manualmente a resistência do muro resulta
unicamente do imbricamento dos blocos de pedras. Apresenta como vantagens
a simplicidade de construção e a dispensa de dispositivos de drenagem, pois o
material do muro é drenante.

159
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 16 – MUROS DE ALVENARIA DE PEDRA

FONTE: <https://alemdainercia.files.wordpress.com/2017/12/muros-de-pedras-1.jpg>.
Acesso em: 5 mar. 2020.

Muros de gravidade: construídos com concreto simples ou alvenaria


de pedra. Como seu próprio nome sugere, dependem do seu peso próprio e de
qualquer solo soba a alvenaria para estabilidade. Adequado para muros baixos,
uma vez que seu custo aumenta com a maior altura do muro.

FIGURA 17 – MUROS DE GRAVIDADE

FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/_9BbEWEZ1XDU/TClqju2ErPI/AAAAAAAAAEk/DLBrIegJKAA/
s1600/muro+de+arrimo+de+peso.JPG>. Acesso em: 5 mar. 2020.

Muros de semigravidade: esses muros apresentam uma pequena


quantidade de aço para que possam reduzir um pouco seu tamanho de seções.

Muros de flexão: feitos de concreto armado e consistem em uma fina haste


e uma laje de base. Este tipo de muro é econômico até uma altura de cerca de 8
metros.

160
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

FIGURA 18 – MUROS DE FLEXÃO

FONTE: Gerscovich (2013, p. 10)

Muros de sacos de solo-cimento: são constituídos por camadas formadas


por sacos de poliéster ou similares, preenchidos por uma mistura cimento-solo
da ordem de 1:10 a 1:15 (em volume).

FIGURA 19 – MUROS DE CONTENÇÃO DE SACOS DE SOLO-CIMENTO

FONTE: Gerscovich (2013, p. 7)

161
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Muros de gabião: são os muros construídos com gaiolas metálicas


preenchidas com pedras arrumadas manualmente e construídas com fios de aço
galvanizado em malha hexagonal com dupla torção.

FIGURA 20 – MUROS DE GABIÃO

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a3/Gabion.jpg>. Acesso em:


5 mar. 2020.

Muros em fogueira (“crib wall”): funcionam como muro de gravidade.


São estruturas formadas por elementos pré-moldados de concreto armado,
madeira ou aço, que são montados no local, em forma de “fogueiras” justapostas
e interligadas longitudinalmente, cujo espaço interno é preenchido com material
granular graúdo.

FIGURA 21 – MUROS “CRIB WALL”

FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/_uIGNIXMkU6w/RcGeCSHPrNI/AAAAAAAAABo/
bfcdXM0VUTY/s400/cheras+krib+3.jpg>. Acesso em: 5 mar. 2020.

162
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

Muros de pneu: são construídos a partir do lançamento de camadas


horizontais de pneus, amarrados entre si com corda ou arame e preenchidos
com solo compactado. Funcionam como muros de gravidade e apresentam com
vantagens o reuso de pneus descartados e a flexibilidade.

FIGURA 22 – MUROS DE PNEUS

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-5Q-6R8y3vzw/VSHvXIftyoI/AAAAAAAALyc/DSnK3ggrF38/
s1600/noti_img_2693_pq.jpg>. Acesso em: 5 mar. 2020.

2.2 ESTABILIDADE DE MUROS DE ARRIMO


As seguintes condições devem ser atendidas para que um muro de arrimo
esteja em estabilidade: tombamento, deslizamento da base, capacidade de carga
da fundação e ruptura global (GERSCOVICH, 2013). Conforme mostrado na
Figura 23. Inicia-se o projeto definindo um pré-dimensionamento do muro.

163
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 23 – ESTABILIDADE DE MUROS DE ARRIMO

FONTE: Gerscovich (2013, p. 19)

De maneira resumida, Caputo (2008) apresenta as condições para que não


haja ruptura de estabilidade de muros de arrimo:

A 1ª condição de segurança contra tombamento é para que o muro não


tombe em torno da sua extremidade externa da base, necessitando que o peso do
muro seja maior que o momento de empuxo causado pelo solo.

A 2ª condição de segurança contra o deslizamento da base estará satisfeita


se pelo menos a equação 26.

H V tg ϕ' ( Eq. 26 )
1, 5=

Sendo que:

ϕ’ – ângulo de atrito entre o muro e o solo, tomado da ordem de 30° se


o solo é areia grossa pura e aproximadamente 25° de areia grossa argilosa ou
siltosa.

A 3ª condição de segurança contra ruptura e deformação excessiva


do terreno de fundação ou capacidade de carga da fundação considera que a
condição a ser satisfeita é que a maior das pressões seja menor ou igual à pressão
admissível do terreno.

164
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

A 4ª condição de segurança global condiz com a possiblidade de ruptura


do terreno segundo uma superfície de escorregamento.

Cálculo dos esforços Rankine x Coulomb

Para um projeto é necessário notar que a pressão lateral ativa em um


muro de arrimo pode ser calculada por meio da teoria de Rankine apenas quando
o muro se move suficientemente para fora por rotação sobre a extremidade da
sapata ou por deslocamento do muro. Portanto, a seleção adequada do coeficiente
de empuxo lateral de terra é crucial para a segurança e planejamento apropriados
(DAS, 2014).

Após o pré-dimensionamento a segunda etapa do projeto consiste na


definição dos esforços atuantes. Para isso utilizasse os as teorias de Rankine e
Coulomb. A Figura 24 mostra exemplos de cálculo usando o método de Rankine
e Coulomb (GERSCOVICH, 2013).

FIGURA 24 – ESFORÇOS NO MURO (A) COULOMB (B) RANKINE

FONTE: Gerscovich (2013, p. 21)

E
IMPORTANT

Gerscovich (2013) aponta que a solução de Rankine tende a fornecer valores


mais elevados de empuxo ativo. Entretanto, é mais utilizada porque:

• As soluções são simples, especialmente quando o retroaterro é horizontal.

165
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

• Dificilmente se dispõe dos valores dos parâmetros de resistência solo-muro (δ).


• No caso ativo, o efeito do atrito solo-muro no valor do coeficiente de empuxo ativo Ka é
desprezível. O efeito do coeficiente de atrito solo-muro pode ser expresso pela mudança
na direção do empuxo total Ea.
• Para paramentos não verticais, o solo pode ser incorporado ao muro.

As grandes limitações da teoria de Rankine são:

• O retroaterro deve ser plano.


• A parede não deve interferir na cunha de ruptura.
• Não existe resistência mobilizada no contato solo-muro.

Apesar de mais geral, a solução de Coulomb também impõe que:

• O retroaterro deve ser plano.


• A face da parede deve ser plana.

Método Construtivo

Conforme estudos apontados na literatura, para muros com retroaterro,


os empuxos calculados pelas teorias de empuxo ativo são inferiores devido aos
esforços horizontais causados pela ação dos equipamentos de compactação. Foi
utilizado por Iglod em 1979 a teoria da elasticidade para auxiliar nos cálculos dos
esforços horizontais gerados durantes a construção de retroaterros.

Entretanto, na prática, esse valor é mensurado através de um fator de


correção geralmente na ordem de 20% do valor do empuxo calculado ou pela
alteração da posição da resultante para uma posição entre 0,4 H a 0,5 H, contado
a partir da base do muro, ao invés do valor de H/3 (GERSCOVICH, 2013).

Parâmetros de Resistência

A Tabela 4 apresenta uma indicação de valores típicos dos parâmetros


geotécnicos usualmente necessários para pré-dimensionamento de muros de
contenção com solos da região do Rio de Janeiro (GERSCOVICH, 2013).

TABELA 4 – VALORES TÍPICOS DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS PARA PROJETO DE MUROS


Tipo de solo γ ( kN/m³) ᶲ’ (graus) C’ (kPa)
Aterro compactado (silte areno-argiloso) 19 – 21 32 – 42 0 – 20
Solo residual maduro 17 – 21 30 – 38 5 – 20
Colúvio in-situ 15 – 20 27 – 35 0 – 15
Areia densa 18 – 21 35 – 40 0
Areia fofa 17 – 19 30 – 35 0
Pedregulho uniforme 18 – 21 40 – 47 0
Pedregulho arenoso 19 – 21 35 – 42 0
FONTE: Gerscovich (2013, p. 24)

166
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

E
IMPORTANT

Segundo Gerscovich (2013), no contato do solo com a base do muro, deve-se


sempre considerar a redução dos parâmetros de resistência.
O solo em contato com o muro é sempre amolgado e a camada superficial é usualmente
alterada e compactada, antes da colocação da base.
Assim, deve-se considerar:
Ângulo de atrito solo muro (δ) = 2ᶲ/3.
Adesão (a) = 2c/3 a 3c/4.

Segurança Contra Tombamento

Conforme visto anteriormente, para que o muro não tombe em torno da


extremidade externa, o muro deve resistir mais (momento causado pelo peso do
muro = Mres) que o momento exercido no ponto (momento gerado pelo empuxo
do solo = Msolic). O coeficiente de segurança contra o tombamento é definido
como a razão da E. 27.

M RES
FS=
TOMB ≥ 1, 5 ( Eq. 27 )
M solic

FIGURA 25 – SEGURANÇA CONTRA O TOMBAMENTO

FONTE: Gerscovich (2013, p. 24)

167
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Segurança Contra Deslizamento

Para verificar o equilíbrio desta unidade é necessário verificar o equilíbrio


das componentes horizontais das forças atuantes, com a aplicação de um fator de
segurança adequado com a equação 28.

∑ FRES
FS
=DESLIZ ≥ 1, 5 ( Eq. 28 )
∑ FSOLIC

Podemos ver na Figura 26 os esforços causados em um muro de arrimo, o


fator de segurança contra o deslizamento é apresentado na equação 29.

EP + S
FSDESLIZ
= ≥ 1, 5 ( Eq. 29 )
Ea

FIGURA 26 – SEGURANÇA CONTRA O DESLIZAMENTO

FONTE: Gerscovich (2013, p. 25)

O valor de S é calculado pelo produto da resistência ao cisalhamento na


base do muro vezes a largura; identificados na Tabela 5:

TABELA 5 – VALORES CÁLCULO DE S

Tipo de análise Solo Equação

Longo prazo Permeabilidade alta

Curto prazo (ᶲ=0) Permeabilidade baixa

FONTE: Gerscovich (2013, p. 26)

168
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

Em que:

δ = atrito solo muro;


B = largura da base do muro;
c’ = adesão soo-muro;
w = somatória das forças verticais;
u = porop-ressão.

Gerscovich (2013) afirma que o deslizamento pela base é, em grande parte


dos casos, o fator condicionante. As 2 medidas ilustradas na Figura 27 permitem
obter aumentos significativos no fator de segurança: base do muro é construída
com uma determinada inclinação, de modo a reduzir a grandeza da projeção
do empuxo sobre o plano que a contém; muro prolongado para o interior da
fundação por meio de um ‘dente’; dessa forma, pode-se considerar a contribuição
do empuxo passivo.

FIGURA 27 – MEDIDAS PARA AUMENTAR O FS CONTRA O DESLIZAMENTO DA BASE DO MURO

FONTE: Gerscovich (2013, p. 27)

Capacidade de Carga da Fundação

Para essa análise é considerado o muro rígido e a distribuição de


tensões linear ao longo da base. Se a resultante das forças atuantes no muro se
localizar no núcleo central da base do muro, o diagrama de pressões no solo será
aproximadamente trapezoidal e o terreno estará submetido apenas a tensões de
compressão (CAPUTO, 2008).

169
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 28 – CAPACIDADE DE CARGA DA FUNDAÇÃO

FONTE: Caputo (2008, p. 143)

Para evitar ruptura do solo de fundação do muro de arrimo, o critério


geralmente utilizado é o indicado na equação 30.

qmax qmax
σ max = ≈
FS 2 , 5
( Eq. 30 )

Segurança contra a ruptura global

A última verificação refere-se à segurança do conjunto muro-solo,


conforme visto na Figura 29.

FIGURA 29 – RUPTURA GLOBAL

FONTE: Caputo (2008, p. 146)

170
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

Neste caso, a estrutura de contenção é considerada como um elemento


interno à massa de solo, que potencialmente pode se deslocar como um corpo
rígido. Essa verificação consiste em se garantir o coeficiente de segurança
adequada à rotação de uma massa de solo que se desloca ao longo de uma
superfície cilíndrica, conforme equação 31 (GERSCOVICH, 2013).

∑ M RES
FSGLOBAL
= ≥ 1, 5 ( Eq. 31)
∑ Minstabilizante

Método das Fatias-Fellenius

Este método consiste em dividir a massa de solo em fatias e considerar as


forças atuantes em cada parcela, conforme visto na Figura 30.

FIGURA 30 – MÉTODO DAS FATIAS

FONTE: Gerscovich (2013, p. 33)

Para a fatia n, as forças consideradas são: peso (Pn), sobrecarga (Q), reações
normais (N e tangenciais (Tn). Os componentes normais (Hn-1 e Hn+1) e verticais
(Vn-1 e Vn+1) das reações (Rn-1 e Rn+1) das fatias vizinhas. É necessário realizar
algumas hipóteses quanto às grandezas e pontos de aplicação de H e V. O método
de Fellenius consiste em admitir que as reações Rn-1 e Rn+1 são iguais, da mesma
direção e sentidos opostos. Com isso, despreza-se a ação mútua entre as fatias.

Drenagem

Para construir muros de arrimo é necessário evitar o acúmulo das águas


pluviais infiltradas no lado da terra. Uma das principais maneiras de evitar isso
é na construção de sistemas de drenagem dessas águas. Algumas precauções
são necessárias para a instalação de drenos em muros de arrimo, sendo elas
(BARONI, 2012):

171
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

• Construir sempre filtros (drenagem) entre o muro e o terreno.


• O filtro tem como função aliviar a pressão neutra (a pressão da água) sobre o
muro.
• Sem o filtro, a água existente dentro do terreno tende a derrubar o muro.
• Com o filtro, a água é drenada e o muro fica livre da pressão da água.

FIGURA 31 – DETALHAMENTO DE UM MURO DE ARRUMO ESQUEMA

Fonte: Baroni (2012, p. 34)

3 ESTACA-PRANCHA
As estacas-pranchas são peças de madeira, concreto armado, Plástico
Reforçado com Fibra de Vidro, Polietileno (de outro material como o PRFV
(Plástico Reforçado com Fibra de Vidro, Polietileno), mais resistente à corrosão
d'água do mar) ou metálicas que são cravadas no terreno para formar uma
justaposição as cortinas, planas ou curvas, destinadas a servir de obra de retenção
de água ou de terra (CAPUTO, 2008).

Essas contenções podem ser provisórias ou definitivas e são uma solução


para a contenção vertical. É necessário calcular uma ficha mínima contra o
tombamento da estrutura e o perfil deve ser dimensionado de tal maneira que
resista aos esforços. Em obras de infraestrutura, são aplicadas em terminais
portuários, passagens de nível em vias e rodovias, contenção para valas de rede de
água e esgoto, além de proteção de acessos a túneis, por exemplo. Para um projeto
de contenção sempre é necessário fazer uma sondagem geológico-geotécnica
prévia do solo para que se conheça os parâmetros envolvidos (VARELA, 2010).

172
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

3.1 ESTACAS DE MADEIRA E CONCRETO ARMADO


As estacas de madeira são constituídas por pranchões de grande
espessura, com a extremidade inferior cortada em forma de cunha e de maneira a
se encaixarem perfeitamente entre si. O encaixe pode ser realizado de tipo macho-
fêmea, seção quadrada, trapezoidal ou triangular e muitas vezes a união é feita
somente a meia madeira (CAPUTO, 2008).

O uso de estacas-pranchas de madeiras atualmente encontra-se delimitado


a obras temporárias devido ao reduzido comprimento, a pouca resistência a ciclo
de molhagem e secagem (MOLITERNO, 2010).

As estacas de concreto armado são estacas pré-moldadas, mais resistentes


que as de madeira, porém com peso próprio muito elevado e de difícil cravação.
Essas estacas vêm sendo raramente empregadas, uma vez que há muitos
problemas de danificação dessas estruturas, especialmente na hora de cravação
onde pode ocorrer problemas nas juntas. Há maiores vantagens para o emprego
das estacas pranchas metálicas, que são as que serão abordadas a seguir.

3.2 ESTACAS METALICAS


O dimensionamento de estacas-pranchas é realizado geralmente por
metros quadrados ou em metros lineares. A execução do sistema é relativamente
rápida e pode atingir profundidades de cerca de 600 m/dia. Contudo, a cravação
gera bastante ruído devido ao bate-estacas e é de difícil execução em solos
mais duros, a Figura 32 apresenta o processo de cravação das estacas-pranchas
metálicas (VARELA, 2010).

FIGURA 32 – PROCESSO DE CRAVAÇÃO DE ESTACAS-PRANCHAS METÁLICAS

Martelo

Batente
Capacete

Estaca
prancha

FONTE: Varela (2010 p. 22)

173
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

As estacas-prancha são usualmente cravadas com equipamento bate-


estacas ou com utilização de martelos de vibração que cravação à estaca com
auxílio de guindastes. Quando são aplicadas de forma provisória para apoio na
escavação de blocos de fundações, devem ser dotadas de um furo para facilitar
o içamento após a conclusão da execução dos blocos. É sempre bom manter de
reserva uma bomba de imersão para garantia de não se pegar a água do lençol
freático o que impede a execução do bloco de fundação (VARELA, 2010).

DICAS

Leia o material suplementar que apresenta uma reportagem sobre as estacas-


pranchas metálicas.

Perfis Metálicos

As cortinas de contenção podem ser montadas com diferentes tipos


de perfis, que possibilitam obter geometrias e características diferentes para
aplicações específicas. Os mais comuns são apresentados por Varela (2010):

Tipo AU

Apresentam boa relação entre o módulo de elasticidade e o peso/m2. Há


economia na quantidade de aço com bom desempenho de instalação. Possuem
larguras úteis que podem chegar até 750 mm.

E
IMPORTANT

As estacas-pranchas do tipo AU apresentam melhor relação Módulo Elástico x Peso


(kg/m2). Combina economia na quantidade de aço com excelente performance de instalação.
A maior largura útil → menor número de conectores por metro linear de parede, o que
influencia diretamente na redução do consumo de aço e na permeabilidade do sistema.

174
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

FIGURA 33 – PERFIL DE ESTACA-PRANCHA TIPO AU

FONTE: Varela (2010, p. 24)

Tipo AZ

Sua principal característica está na mudança de posição das ranhuras de


intertravamento. Por conta disso, a tensão máxima não passa pelas ranhuras, o
que contribui para aumentar sua capacidade de estrutura favorecendo seu uso
em obras estruturais expostas a altas pressões e/ou executadas em solos de baixa
resistência.

FIGURA 34 – PERFIL DE ESTACA-PRANCHA TIPO AZ

FONTE: Varela (2010, p. 25)

Combinado HZ/AZ

Essa combinação das estacas/vigas H com os perfis AZ possibilitam atingir


maiores profundidades de contenção.

FIGURA 35 – PERFIL DE ESTACA-PRANCHA TIPO HZ/AZ

FONTE: Varela (2010, p. 25)

175
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

De alma reta

Essas estacas são planas e sua justaposição oferece pouca resistência à


flexão. São projetadas para formar estruturas cilíndricas. Uma característica
importante desse tipo de perfil é a capacidade de resistência à tração nos
conectores.

E
IMPORTANT

Varela (2010) especifica que em um projeto de contenção com estacas-


prancha, recomenda-se combinar o menor peso/m² possível, a maior largura útil do perfil
possível – para maior produtividade na execução – e o maior módulo de elasticidade
possível. O módulo de elasticidade é a capacidade de um material suportar determinada
tensão até se deformar.

Cortina de estacas-pranchas sem ancoragem

A definição de estacas-pranchas depende apenas dos empuxos passivos


mobilizados na parte frontal da cortina, comportando-se estruturalmente como
uma viga em balanço Apresenta maiores deslocamentos e as estruturas precisam
ter alturas limitadas.

FIGURA 36 – EXEMPLO DE ESTACA-PRANCHA SEM ANCORAGEM

FONTE: Varela (2010, p. 26)

Determinação da altura da ficha

Varela (2010) afirma que para pequenas alturas (até 5 m) podem ser
empregadas cortinas sem ancoragem. A rotação da cortina em torno de um ponto

176
TÓPICO 2 | MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

“O” e o sistema de forças atuantes são indicados na Figura 37. Para simplificar os
cálculos admite-se que a linha de ação de Ep2 coincide com o ponto “O” arbitrado.

FIGURA 37 – ESQUEMA PARA OBTENÇÃO DE ALTURA DE FICHA DE ESTACAS-PRANCHAS

FONTE: Varela (2010, p. 26)

Para solos não coesivos (areia), temos:

Os momentos das forças em relação ao ponto de aplicação, ou seja, a


Rótula, é igual a:

FIGURA 38 – DETERMINAÇÃO DA ALTURA DA ESTACA-PRANCHA

FONTE: Varela (2010, p. 27)

Dessa forma, temos da equação 32, ou ainda, equação 33. A equação


33 permite o cálculo do comprimento teórico da ficha. A favor da segurança
acrescentamos 20% ao valor encontrado.

(h + f )
3
1 f3 1
2
.K p . γ = .K p . γ .
3 2 3
( Eq. 32 )
. f 3 Ka ( h + f ) ( Eq. 33 )
3
Kp =

177
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os muros de arrimo proporcionam uma transição entre dois níveis situados


em diferentes cotas no aterro.

• É necessário verificar a estabilidade de um muro de arrimo devido a


possibilidade de desligamento e tombamento. Além disso, devemos considerar
a possibilidade de ruptura do talude, bem como verificar as tensões aplicadas
ao solo da fundação e os recalques.

• Um sistema de drenagem mesmo rústico pode proporcionar benefícios a um


muro de arrimo como a redução de esforços sobre ele.

• É necessário verificar a estabilidade da ficha de estacas-pranchas para que não


ocorra os deslocamentos da pranchada.

178
AUTOATIVIDADE

1 Verificar a estabilidade do muro com retroaterro inclinado. O atrito solo-


muro na base será desprezado, portanto vale a teoria de Rankine.

2 Para o muro de arrimo a seguir, verificar a estabilidade ao deslizamento e


ao tombamento, bem como tensões aplicadas ao solo de fundação.

FONTE: Caputo (2008, p. 97)

179
180
UNIDADE 3
TÓPICO 3

ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, identificaremos o que são taludes e sua importância na
engenharia. Verificaremos como se comportam os movimentos de massas em
taludes e quais os métodos utilizados para calcular a estabilização destes taludes.
A ocorrência de deslizamentos de taludes de terra apresenta preocupantes
consequências para a vida de uma comunidade, qualidade das estradas, meio
ambiente, assim como das construções de edificações. Sendo a estabilidade de
taludes um dos principais tópicos de técnicos da área de solos.

2 TALUDES

NOTA

O que é um talude?

Os taludes são considerados qualquer superfície inclinada que limita um maciço de terra,
rocha ou de terra e rocha. Podem ser considerados como taludes naturais e taludes
artificiais.

Talude natural é aquele que foi formado pela natureza, pela ação geológica
ou pela ação das intempéries (chuva, sol, vento etc.).

Talude artificial é aquele que foi construído pelo homem. Encontramos


taludes artificiais nas minas a céu aberto, nas barragens de reservatório de água,
nas laterais de estradas e ruas, na escavação de uma vala para assentamento de
tubo de água e até nos fundos das casas construídas em local em aclive (terreno
subindo) ou declive (terreno descendo) (CAPUTO, 2008).

181
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

2.1 CORTE E ATERRO


Talude de corte é aquele que se forma como resultado de um processo
de corte, de retirada de material. Talude de aterro é aquele que se forma como
resultado da deposição, da terraplenagem e de bota-foras.

2.2 PARTES DE UM TALUDE


Crista é a parte mais alta do talude. Pé é a parte mais baixa do talude.
Altura (H) é a diferença de cota entre a crista e o pé.

São essas características que definirão a inclinação de um talude natural.


Terrenos rochosos suportam bem os taludes e podem apresentar ângulo acentuado
como 80-90 graus e em contrapartida terrenos arenosos não gostam muito de
taludes inclinados e apresentam ângulos pequenos como 20-30 graus.

A maior parte das catástrofes acontecidas poderiam ter sido evitadas se


medidas, muitas vezes muito simples, tivessem sido adotadas. O poder público
sempre age segundo interesses político-partidários o que nem sempre representa
as necessidades imediatas da população (BARONI, 2012).

FIGURA 39 – CICATRIZES DOS DESLIZAMENTOS EM ENCOSTAS DA REGIÃO SERRANA DO RIO


DE JANEIRO NO ANO DE 2011

FONTE: Baroni (2012, p. 32)

Os escorregamentos dos taludes são causados por uma redução da


resistência interna do solo que se opõem ao movimento da massa deslizante e/ou
por acréscimo das solicitações externas aplicadas ao maciço. A profundidade da

182
TÓPICO 3 | ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

superfície de rotura e a velocidade de deslizamento permitem classificar o tipo de


escorregamento. Varnes (1958) estabeleceu uma classificação destes movimentos
baseados na velocidade de ocorrência, conforme visto na Tabela 6.

TABELA 6 – ESCALAS DE VELOCIDADE DE VERNES PARA CLASSIFICAÇÃO DOS


DESLOCAMENTOS DE TERRA

Superficiais SD < 1,5 m

Profundidade da Superfície Pouco profundas 1,5 ≤ SD < 5,0 m


de Deslizamento (SD) Profundas 5,0 ≤ SD < 20,0 m
Muito Profundas SD ≥ 20,0 m
Extremamente rápido v > 3 m/s
Desmoronamento
Muito rápido 0,3 m/min < v ≤ 3 m/s
Rápido 1,5 m/dia < v ≤ 0,3 m/min
Escorregamento
Velocidade Moderado 1,5 m/mês < v ≤ 1,5 m/dia
Lento 1,5 m/ano < v ≤ 1,5 m/mês
Rastejo/ Fluimento Muito lento 0,06 m/ano < v ≤ 1,5 m/ano
Extremamente lento v ≤ 0,06 m/ano

FONTE: Marangon (2009, p. 9).

Caputo (2008, p. 58) explica que: “os desmoronamentos são movimentos


rápidos, resultantes da ação da gravidade sobre a massa de solo que se destaca
do restante do maciço e rola talude abaixo. Ocorre um afastamento evidente da
massa que se desloca em relação a parte do maciço”.

Os escorregamentos procedem da separação de uma cunha de solo que


se movimenta em relação ao resto do maciço em uma superfície bem definida. O
movimento é rápido, porém não há uma separação efetiva dos corpos.

Os rastejos são movimentos lentos que ocorrem nas camadas superiores


aos maciços. Diferem dos escorregamentos pois não existe uma linha separatória
nítida entre a porção deslocada e a parte estável do maciço.

As causas de instabilidade de taludes podem ser diversas e geralmente


são classificadas em causas externas, intermediárias ou internas (MARANGON,
2009):

As relações das causas externas incluem:

• O aumento da inclinação dos taludes, por escavação ou por erosão provocada


pela água ou pelo vento.
• O aumento da altura do talude, através da escavação no pé ou da construção
de um aterro no topo.

183
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

• A aplicação de sobrecargas no talude, em particular na sua parte superior.


• A variação sazonal da temperatura e umidade, podendo conduzir à abertura
de fendas superficiais de retração no solo, que favorecem a infiltração de água
nos terrenos.
• Abalos sísmicos ou vibrações induzidas nos terrenos.
• Erosão superficial.
• Efeito da vegetação do talude que constitui uma sobrecarga e que pode causar
perda de resistência quando se dá o apodrecimento das raízes.
• Efeitos do congelamento da água no terreno e consequentemente aumento do
seu volume.

As causas intermediárias são:

• Rebaixamento rápido do nível das águas exteriores.


• Erosão interna, provocada pela circulação de água no interior do talude.
• Liquefação do solo.

As causas internas são:

• Aumento das pressões intersticiais, com a consequente redução da resistência


ao corte.
• Diminuição da resistência dos terrenos.
• Aumento das tensões de origem tectônicas.

De maneira mais completa é apresentado, no quadro a seguir, os tipos


de problemas, as formas de ocorrência e suas principais causas. A seguir, será
explicado, em maiores detalhes, alguns dos tipos de problemas de escorregamento
mais encontrados em taludes.

QUADRO 1 – TIPOS DE PROBLEMAS RELACIONADOS AOS TALUDES, FORMAS DE SUA


OCORRÊNCIA E AS PRINCIPAIS CAUSAS RESPONSÁVEIS PELO OCORRIDO

Tipo de
Forma de ocorrência Principais causas
problema
Em taludes de corte e aterro (em
Deficiência de drenagem.
sulcos e diferenciada).
Deficiência de proteção superficial.
Longitudinal ao longo da
Concentração de água superficial e/
Erosão plataforma.
ou intercepção do lençol freático.
Localizada e associada a obras de
Deficiência ou inexistência de
drenagem (ravinas e boçorocas).
drenagem interna.
Interna em aterros (pipping).
Secagem ou umedecimento do
material.
Empastilhamento superficial em
Presença de argilomineral
taludes de corte.
Degradação expansivo ou desconfinamento do
Superficial.
superficial material.
Profundo.
Inclinação acentuada do talude.
Formas e dimensões variáveis.
Relevo energético.
Descontinuidades do solo e rocha.

184
TÓPICO 3 | ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

Superficial em corte ou encostas


naturais.
Saturação do solo.
Profundos em corte.
Evolução para erosão.
Formas de dimensões variadas.
Escorregamento Corte de corpo de tálus.
Movimentação de grandes.
em corte Alteração por drenagem.
dimensões e generalizada em
Compactação inadequada da
corpos de tálus.
borda.
Atingindo a borda do aterro.
Atingindo o corpo do aterro.

Deficiência de fundação.
Deficiência de drenagem.
Escorregamento Deficiência de proteção superficial.
Atingindo o corpo do aterro.
em aterro Má qualidade do material.
Compactação inadequada.
Inclinação inadequada do talude.

Deficiência de fundação.
Recalque em Deformação vertical da Deficiência de drenagem.
aterro plataforma. Rompimento do bueiro.
Compactação inadequada.

Ação da água e de raízes na


Queda de
Geralmente em queda livre. descontinuidade do maciço
blocos
rochoso.

Movimento de bloco por


Rolamento de
rolamento em cortes ou encostas Descalçamento da base por erosão.
blocos
naturais.

FONTE: Marangon (2009, p. 4)

2.3 ESCORREGAMENTO DEVIDO À INCLINAÇÃO


Estes escorregamentos ocorrem sempre que a inclinação do talude excede
aquela imposta pela resistência ao cisalhamento do maciço e nas condições de
presença de água. A prática tem indicado, para taludes de corte de até 8 m de
altura, constituídos por solos, a inclinação de 1V:1H como a mais generalizável. Os
padrões (inclinações estabelecidas empiricamente, como referência inicial) usuais
indicam as inclinações associadas aos gabaritos estabelecidos nos triângulos
retângulos mostrados na Figura 40. Esses gabaritos são frequentemente usados
na prática da Engenharia, porém, para um grande número casos de taludes não
se obtém a sua estabilidade com estas inclinações, sendo necessário a realização
de uma análise de estabilidade como será visto nesta unidade.

185
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

FIGURA 40 – PADRÕES DE INCLINAÇÃO PARA TALUDES, ESTABELECIDAS EMPIRICAMENTE

FONTE: Marangon (2009, p. 2)

2.4 ESCORREGAMENTOS POR PERCOLAÇÃO DE ÁGUA


Marangon (2009) afirma que os escorregamentos, devido à percolação
d’água, são ocorrências que se registram durante períodos de chuva quando
há elevação do nível do lençol freático ou, apenas, por saturação das camadas
superficiais de solo. Quando os taludes interceptam o lençol freático, a
manifestação, eventual, da erosão interna pode contribuir para a sua estabilização.

3 MÉTODOS DE ESTABILIDADE
Em teoria, um talude se apresenta como uma massa de solo submetida a
três campos de força: peso, escoamento de água e à resistência ao cisalhamento.
Basicamente existem dois métodos de estudos utilizados (CAPUTO, 2008):

1. Calcular as tensões em todos os pontos do meio e compará-las com as tensões


resistentes. Sendo uma zona de equilíbrio quando as tensões forem menores
que tensões resistentes e zonas de ruptura se superiores. Esse método é
denominado método de análise das tensões.
2. Isolar massas arbitrárias e estudar as condições de equilíbrio, pesquisando a
de equilíbrio mais desfavorável, este é conhecido como método de equilíbrio
limite.

186
TÓPICO 3 | ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

O método de equilíbrio limite é uma ferramenta em que se admite como


hipótese (MARANGON, 2009):

• existência de uma linha de escorregamento de forma conhecida: plana, circular,


espiral-log ou mista, que delimita, acima dela, a porção instável do maciço.
Essa massa de solo instável do maciço. Essa massa de solo instável, sob a ação
da gravidade, movimenta como um corpo rígido;
• respeito a um critério de resistência, normalmente utiliza-se o de Morh-
Coulomb, ao longo da linha de escorregamento.

As equações da “Mecânica dos Sólidos” são utilizadas para a verificação


do equilíbrio da porção de solo situada acima dessa superfície de deslizamento.
As forças participantes são as causadoras do deslizamento e as resistivas. Como
deficiência o equilíbrio limite ignora a relação tensão x deformação do solo.

De uma forma geral, as análises de estabilidade são desenvolvidas no


plano, considerando-se uma seção típica do maciço situada entre os dois planos
verticais e paralelo de espessura unitária. Existem algumas formas alternativas
para estudar o equilíbrio tridimensional de um corpo deslizante, porém estas
ainda não estão suficientemente desenvolvidas, sendo pouco usual a sua
utilização.

A seguir, são apresentados alguns métodos de estabilidade desenvolvido


através da metodologia.

3.1 MÉTODO DO TALUDE INFINITO


Marangon (2009) afirma que quando consideramos um taludo com
geometrias de extensão e espessura muita grandes podemos considerá-lo como
um talude infinito. Para esses taludes, a linha potencial de ruptura é paralela à
superfície do terreno (ver Figura 41).

FIGURA 41 – EXEMPLO DE TRECHO DE TALUDE INFINITO

FONTE: Marangon (2009, p. 14)

187
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Ao analisarmos esse problema pelo método do equilíbrio limite,


admitimos que a cunha potencial de deslizamento se movimenta como um corpo
rígido. As tensões induzidas pelo peso da cunha, representada pelo plano ABCD,
sobre a face CD tem como força resultante W, pelo qual atua no ponto médio do
segmento CD. As forças do empuxo, lateral Fd e Fe, em razão do exposto, devem
ser iguais e ter linha de ação coincidente.

FIGURA 42 – TALUDE INFINITO A) GEOMETRIA DE REDE DE FLUXO; B) ESFORÇOS SOBRE UMA


LAMELA ISOLADA

FONTE: Caputo (2008, p. 386)

Assim, podemos determinar as diversas solicitações. Sendo:

Pressão neutra U:

u
= h . cos2 i
= hw
γw
u = γ w . h .cos2 i
U = u . b0 = γ w .b0 . h .cos2 i

Peso da lamela W:

W = γ sat .b.h
b = b0 .cosi
N = W .cosi = γ sat .b.h.cosi
T = W .seni = γ sat .b.h.seni
N
σ= =γ sat . h .cos2 i
b0
T
τ= =γ sat . h .sen i .cosi
b0

188
TÓPICO 3 | ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

O fator de segurança é definido como a relação entre as forças resistentes


e atuantes:

FR s.b0 c + ( σ − u ) .tgθ c + ( γ sat − γ w ) .h.cos i.tgθ


2
FS
= = = =
FA T T / b0 γ sat .h.sen i.cos i

Simplificando:

γ sat - γ w =γ'

Temos:
c + γ' . h .cos2 i.tgθ
FS =
γ sat .h.sen i .cosi

EXEMPLO: um maciço com talude infinito, constituído de solo silto-


arenoso, rompeu após uma chuva intensa em virtude de ter ficado totalmente
saturado e de ter perdido a sua parcela de resistência devida à coesão. Calcular o
coeficiente de segurança que existia antes da chuva, quando o NA estava abaixo
do topo da rocha, admitindo que a ruptura se deu com coeficiente de segurança
unitário.

Dados:
Antes da chuva: 3,5
γ = 1,70 tf/m³
c = 2 tf/m³
4m

Após a chuva:
γ = 1,90 tf/m³
c = 0 tf/m³ ROCHA

FS = 1

Solução:
c + γ' . h .cos2 i.tgθ
FS =
γ sat .h.sen i .cosi
Após a chuva:

Se FS = 1

γ ′. h .cos2 i.tgθ =γ sat .h.sen i .cosi


γ ′. cosi.tgθ
γ sat .sen i =
γ sat 1, 90 1, 00
tg
= θ .tg
= i × = 0 , 60
γ′ 0 , 90 3 , 50
= θ 31,1°

189
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Antes da chuva: (u=0)

tf tf
γ ′ →=
γ nat 1, 70 3
; γ sat →=
γ nat 1, 70
m m3
2 + 1, 70 .4 .cos2 16°.tg 31,1°
FS =
1, 70.4.sen 16° .cos 16°
FS = 3 , 20

3.2 MÉTODO DE CULMANN


Para este método a hipótese considera uma superfície de ruptura plana
passando pelo pé do talude. Portanto, a cunha definida é analisada quando a
estabilidade como se fosse um corpo rígido que desliza ao longo desta superfície
como visto na Figura 43 (MARANGON, 2009).

FIGURA 43 – MÉTODO DE CULMANN: A) GEOMETRIA DO TALUDE; B) POLÍGONO DE FORÇAS

FONTE: Marangon (2009, p. 16)

Uma vez conhecida a geometria do talude e arbitrada a superfície de


ruptura, temos as forças participantes do equilíbrio da cunha.

força peso: W (módulo, direção, sentido e ponto de aplicação conhecidos);


força de coesão: Cm (módulo e direção e sentido conhecidos);
força de atrito: F (sentido e direção conhecidos).

190
TÓPICO 3 | ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

Observe que para resistir ao esforço atuante (T) é necessário mobilizar


parcelas de resistência: cm – coesão mobilizada e tgθm – coeficiente de atrito
mobilizado.

c.AD
Cm =
FS
tgθ
tg θm =
FS

Como deveremos ter:

c.AD N.tgθ
T = Cm + N. tgθm = +
FS FS

Resultando:

c.AD + N.tgθ s.AD FR


FS
= = =
T T FA

Sabendo que N = W. cos θ e T = W. senθ. O peso da cunha resulta em:

1 sen ( i - θ )
W = H. AD.
2 sen i

Assim, quando definimos uma superfície de ruptura, podemos resolver


algebricamente o problema. O fator de segurança do talude será o menor fator
obtido dentre as várias superfícies arbitradas.

Da expressão T = Cm + N tg θm ou substituindo os valores de N e T:

1 sen ( i - θ ) 1
Cm + AD + γ.H.AD .cos θ.tgθm = γ.H.AD.sen ( i - θ ) .senθ
2 sen i 2

Obtemos o chamado número de estabilidade (N):

cm 1 sen ( i - θ ) .sen ( θ - θm )
N= = γ .H
γ.H 2 seni.cos θm

Assim, arbitrando φm, o plano onde ocorrerá a máxima tensão cisalhante


será aquele definido por um plano de inclinação “θ” que necessitará da máxima
coesão mobilizada. Diferenciando a expressão em relação a “θ”, o máximo
ocorrerá para um plano definido por θcr:

191
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

1
θ=
cr
2
( i + θm )

A expressão é transformada em:

cm 1 1 - cos ( i - θm )
= .
γ.H 4 sen i.cos θm
4.cm.sen i . cos θm
H=
γ 1 - cos ( i - θm ) 

3.3 MÉTODOS QUE ADMITEM SUPERFÍCIES DE RUPTURA


CIRCULAR
Marangon (2009, p. 18) explica:

Ao ser rompida uma massa de solo verifica-se que, em muitos casos,


a superfície “cisalhada” se apresenta com geometria próximo de
um círculo. Este fato, de se ter a superfície de cisalhamento circular,
é muito mais comum quanto maior a homogeneidade da massa de
solo. Observa-se, por exemplo, que nas estruturas de aterro, em que
são construídos com solo relativamente homogêneo, de camada
para camada, quando rompidos a superfície se aproxima muito de
um círculo. Diferente disto se verifica em outras situações, de solos
heterogêneos, em que o formato geométrico destas superfícies varia
muito, conforme as características geológico-geotécnico do local.
Ressalta-se aqui o fato de em alguns casos de cálculo se traçar uma
superfície “plana”, adotada para simplificação das análises, já que na
prática da Engenharia Geotécnica, tal geometria não é muito comum
de se verificar.

Marangon (2009) informa que normalmente os taludes apresentam-se


composto de vários solos com características diferentes. A determinação dos
esforços atuantes sobre a superfície de ruptura torna-se complexa e para superar
essa dificuldade utiliza-se o expediente de dividir o corpo potencialmente
deslizante em lamelas.

Assim, pode-se determinar o esforço normal sobre a superfície de ruptura,


partindo de hipótese que esse esforço vem determinado basicamente pelo peso
do solo situado acima daquela superfície.

A superfície de ruptura pode ter uma forma qualquer (JANBU, 1956), se


bem que os métodos mais utilizados, como Fellenius e de Bishop, empreguem
superfície de ruptura circular. A Figura 44 mostra o esquema adotado nas
análises pelos métodos das lamelas, os esforços que atuam numa lamela genérica
e o equilíbrio de força nessa lamela.

192
TÓPICO 3 | ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

FIGURA 44 – MÉTODO DAS LAMELAS

FONTE: Marangon (2009, p. 19)

Método das Lamelas: grandezas envolvidas em uma lamela ou fatia.

En, En+1 = resultante das forças horizontais totais, atuantes nas seções n e
n+1, respectivamente.

Xn, Xn+1 = resultante das forças cisalhantes que atuam nas seções n e n+1,
respectivamente.

W = peso total da lamela.


N = força normal atuante na base da lamela.
b = largura da lamela.
h = altura da lamela.
L = comprimento da corda AB.
θ = ângulo da normal N com a vertical.
x = distância do centro do círculo ao centro da lamela.
R = raio do círculo.

Como característica dos métodos de lamelas o fator de segurança é


definido como a relação entre a somatória dos momentos resistentes e os
momentos atuantes:

∑ MR
FS =
∑ MA

193
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

3.4 MÉTODOS DAS CUNHAS


Em muitas análises de estabilidade é possível delimitar o corpo
potencialmente deslizante segundo alguns planos predeterminados. A presença
de extratos menos resistentes no interior de um maciço ou a construção de
maciços sobre camada de baixa resistência constituem exemplos onde é
possível definir de antemão a possível superfície de ruptura. A divisão do
corpo deslizante segundo duas ou três cunhas permite conduzir uma rápida e
confiável análise de estabilidade.

FIGURA 45 – ESFORÇOS SOBRE AS CUNHAS DE POLÍGONO DE FORÇAS

FONTE: Caputo (2008, p. 412)

A cunha BDR recebe o nome de cunha ativa e a ABR de cunha passiva. São
desconhecidos os seguintes esforços: F1, F2, E, α e o FS, o que torna o problema
indeterminado. Assumindo um valor para α podemos tornar o problema
determinado. É comum assumir que a direção dos esforços (E) entre as cunhas
fica determinada pela resistência mobilizada ao longo da superfície de ruptura,
ou seja:

 tgθ 
α =θm = arc  
 FS 

Arbitrando um fator de segurança inicial é possível definir as direções F1


e F2.

tgθ1  tgθ1 
Fsi
= →θ
=m1 arctg  
tgθm1  FSi 
tgθ2  tgθ2 
Fsi
= →θ
= m2 arctg  
tgθm2  FSi 

194
TÓPICO 3 | ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

Podemos ainda determinar a intensidade de Cm1:

C1 . AB
Cm1 =
FSi

O quadro a seguir enumera todas as normas brasileiras referentes à


estabilidade de taludes em solos.

QUADRO 3 – NORMAS ABNT REFERENTES À ESTABILIDADE DE TALUDES

Norma Ano Nome

NBR 11682 2009 Estabilidade de Encostas.

NBR 6122 2019 Projeto e Execução de Fundações.

NBR 8044 2018 Projeto geotécnico – Procedimento.


NBR 19286 2016 Muros em solos mecanicamente estabilizados Especificação.

NBR 6502 1995 Rochas e Solos.

Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com


NBR 9604 2016 retirada de amostras deformadas e indeformadas —
Procedimento.
Coleta de amostras indeformadas de solos de baixa
NBR 9820 1997
consistência em furos de sondagem – Procedimento.
Solo – Sondagens de simples reconhecimentos com SPT –
NBR 6484 2001
Método de ensaio.

NBR 9061 1985 Segurança de escavação a céu aberto – Procedimento.

Proteção de taludes e fixação de margens em obras


NBR 12589 1992
portuárias – Procedimento.
NBR 5629 2018 Tirantes ancorados no terreno — Projeto e execução.
Aterros de resíduos não perigosos – Critérios para projeto,
NBR 13896 1997
implantação e operação.

Controle tecnológico da execução de aterros em obras de


NBR 5681 2015
edificações.

FONTE: <abntcolecao.com.br>. Acesso em: 11 mar. 2020.

195
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

LEITURA COMPLEMENTAR

ESTACAS-PRANCHA METÁLICAS SÃO USADAS EM CONTENÇÕES


DE OBRAS SUBTERRÂNEAS

Juliana Nakamura
Luiz Antônio Naresi Júnior

O uso de estacas-prancha metálicas em obras de contenção não é uma


novidade. Trata-se, na verdade, de uma solução para a contenção vertical
extremamente versátil, empregada desde o início do século passado. Contudo,
nos últimos anos, o aprimoramento dos equipamentos para cravação e a maior
oferta de laminados a quente por parte das usinas siderúrgicas deram novo
impulso ao uso dessa solução.

FONTE: <https://www.aecweb.com.br/tematico/img_figuras/contencao-com-estacas-prancha.
jpg>. Acesso em: 6 mar. 2020.

Hoje, as estacas-prancha são bastante usuais em obras de terminais


portuários, na construção de barragens, trincheiras, diques, caixões ou
ensecadeiras. Também são usuais em contenções para passagens de nível em
vias e rodovias, bem como em valas de rede de água e esgoto. A solução pode
ser aproveitada, ainda, na construção de estacionamentos subterrâneos e em
subsolos de edifícios.

Em São Paulo, por exemplo, estacas-prancha metálicas foram utilizadas


na construção da passagem de nível de acesso ao aeroporto de Congonhas para
abreviar o tempo de obra e reduzir o impacto no fluxo viário. No caso, foram
empregadas peças laminadas a quente com conectores Larssen instaladas com
martelo vibratório.

196
TÓPICO 3 | ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

Vantagens e Contraindicações

Compostas por perfis de aço cravados justapostos, as estacas-prancha têm


como principais atrativos a execução rápida e o custo competitivo, especialmente
em obras que exigem a contenção de grandes profundidades. Outro ponto a favor
da técnica é dispensar o uso de lama bentonítica. Em contrapartida, a cravação
pode provocar ruídos.

De modo geral, as estacas-prancha metálicas são aplicáveis em quase


todo tipo de solo, desde os mais finos, como os argilosos, passando pelos siltes e
arenosos. “No entanto, apresentam dificuldades de introdução em solos com SPT
acima de doze golpes e não são aplicáveis em locais com presença de matacão ou
interferências”, comenta o engenheiro Luiz Antônio Naresi Júnior, consultor de
fundação pesada e geotecnia.

As estacas-prancha apresentam dificuldades de introdução em solos com


SPT acima de doze golpes e não são aplicáveis em locais com presença de matacão
ou interferências.

Dimensionamento e Aspectos Executivos

O dimensionamento das estacas-prancha depende fundamentalmente


do resultado das sondagens geológico-geotécnicas prévias e de um projeto que
leve em conta o tipo de solo e as possíveis sobrecargas. Como regra, quanto mais
profunda for a escavação, maior será o comprimento das estacas-prancha para que
se tenha uma compensação dos esforços ativos e passivos. Durante a elaboração
do projeto, recomenda-se combinar o menor peso por metro quadrado com a
maior largura do perfil possível para que haja maior produtividade na produção.

Quando a ficha (parte da estaca que fica cravada abaixo da cota de


escavação) é insuficiente, uma série de metodologias podem ser utilizadas, como
contraventamento e atirantamento, para aumentar a resistência da contenção.

As cortinas de contenção podem ser projetadas com diferentes tipos de


perfis para adaptar-se a variadas geometrias. Os mais comuns são:

• AU: apresentam boa relação entre o módulo de elasticidade e peso/m².


• AZ: indicado para obras estruturais expostas a altas pressões e/ou executadas
em solos de baixa resistência.
• Combinado HZ/AZ: recomendado para projetos que precisam atingir maiores
profundidades de contenção.
• De alma reta: resulta em estacas planas. São usados para formar geometrias
cilíndricas.

197
UNIDADE 3 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA

Cravação de Estacas-Prancha

A determinação do método de cravação das estacas-prancha metálicas


deve levar em conta aspectos como as características do solo, as restrições da
obra e os prazos disponíveis. Há duas soluções mais usuais. A mais antiga, por
impacto, com bate-estacas, é mais lenta e gera alto ruído.

Nos últimos anos, tornou-se mais popular a cravação por vibração,


com martelos hidráulicos acoplados em escavadeiras hidráulicas ou suspensos
por guindastes. Por ser mais eficiente e gerar menos ruído, esse método
é especialmente indicado para obras em áreas urbanas. No caso de obras
temporárias, a cravação por vibração permite que as estacas-prancha metálicas
sejam reutilizadas mais vezes.

A cravação de estacas-prancha metálicas é uma técnica de amplo


domínio. Mesmo assim, não pode prescindir de alguns cuidados. Um deles é a
verificação constante da verticalidade da estaca. Outra recomendação diz respeito
ao manuseio e ao estoque de peças, que precisam ser dispostas de modo a ser
facilmente içadas e a evitar danos significativos às estacas, aos conectores e à
pintura de proteção.

FONTE: <https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/estacasprancha-metalicas-sao-usadas-em-
contencoes-de-obras-subterraneas_19303_10_22>. Acesso em: 14 dez. 2019.

198
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os maciços podem ser naturais ou artificiais. Dada a maior homogeneidade


dos maciços artificiais, estes adequam-se melhor aos métodos correntes de
análise de estabilidade.

• A instabilidade de um talude pode se manifestar de diversas maneiras.


Através de desmoronamentos, onde a massa do solo se desloca do maciço;
escorregamento pelo qual o solo se movimenta em relação ao resto do maciço
com uma superfície bem definida.

• Os métodos de estabilidade utilizam conceitos de equilíbrio limite, considerando


a ruptura incipiente quando as tensões atuantes igualam a resistência do solo,
sem preocupação com as deformações envolvidas.

• O método de Culmann admite superfície e ruptura plana passando pelo pé do


talude.

• Planos ou estratos de menor resistência podem condicionar as superfícies de


ruptura. Quando é possível aproximar estas superfícies por retas, as análises
podem ser conduzidas de uma forma rápida através do método das cunhas.

CHAMADA

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199
AUTOATIVIDADE

1 Determinar através do método de Culmann a máxima profundidade que


poderá ter um corte vertical (i = 90º) em um solo com γ = 1,80 tf/m³,
s= 4 + σ . tg 25º tf/m², para que resulte um FS = 2.

2 Calcular o fator de segurança para o talude da figura a seguir. Considerar


a ruptura segundo as cunhas ABD e BCD. Admitir que sobre AB atuem
pressões neutras cuja resultante corresponda a 20% do peso da cunha.

FONTE: Adaptado de Caputo (2008)

200
REFERÊNCIAS
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