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A HISTÓRIA DA PEÇA REI JOÃO, DE SHAKESPEARE

Em seu palácio na Inglaterra, o Rei João recebe o embaixador do rei Felipe da


França, que exige que João deixe seu trono, em favor do sobrinho Arthur, Duque da Bretanha,
filho de Geoffrey, irmão mais velho do rei e já falecido. João afirma que só há de responder o
ultimato francês com armas.

A corte se volta para os jovens irmãos, Robert e Philip, o Bastardo, filhos de Sir Robert
Faulconbridge. Quando se descobre que Philip é, na verdade, filho ilegítimo de Ricardo Coração
de Leão, Philip abre mão da herança Faulconbridge, para se tornar Sir Philip Plantagenet, fiel
súdito do Rei João e bastardo de Ricardo:

REI JOÃO Quem são, senhores?

BASTARDO Eu sou seu fiel súdito, fidalgo, Felipe, filho mais velho de,
suponho, Robert Faulconbridge, que pela mão generosa de Coeur‐de‐lion, foi
feito cavaleiro no campo.

REI JOÃO E o senhor?

ROBERT Filho e herdeiro de Faulconbridge.

REI JOÃO Ele é o mais velho e o senhor é o herdeiro? Não tiveram, então, a
mesma mãe?

BASTARDO Por certo a mesma mãe, meu grande Rei. E pensava, um só pai.
Mas, quanto à certeza dessa verdade, só o sabem o céu e minha mãe.

ELEANOR Que é isso, grosseiro que envergonha a mãe e assim lhe fere a
honra, em tom jocoso!

BASTARDO Eu, senhora? A causa é do meu irmão, não minha. E se meu


irmão o provar, me priva de quinhentas libras ao ano. Que Deus lhe salve a
honra de minha mãe e as minhas terras. Meu irmão me acusou de bastardia!
Como fui gerado só a minha mãe sabe. Mas que eu fui bem gerado, eu fui e
abençoo os ossos que o fizeram! Julgue o senhor, comparando nós dois, se foi
o velho Sir Robert que gerou ambos.

ELEANOR (para João) Tem traços de Coração de Leão. Tem também o seu
modo de falar. Não vê algumas marcas de meu filho no aspecto desse rapaz?

REI JOÃO Eu já o olhei bem, de alto a baixo, e é igual a Ricardo. Fale, jovem,
por que reclama essas terras do irmão?

ROBERT Certa vez o rei Ricardo mandou meu pai em embaixada a


Alemanha. Na ausência de meu pai, o rei ficou em minha casa, onde, coro em
dizê‐lo, ele se impôs. Muitas léguas havia entre o meu pai e a minha mãe
quando esse jovem foi gerado, segundo ouvi meu próprio pai dizer em seu leito
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de morte. Meu bom senhor, dê‐me o que é meu, a terra de meu pai, como era
o desejo dele.

REI JOÃO Meu rapaz, o seu irmão é legítimo, sua mãe o gerou quando
casada, e, se ela foi falsa, a culpa é dela. É um risco a que se expõe todo
marido.

ROBERT Não tem força o desejo de meu pai de deserdar quem não era seu
filho?

BASTARDO Não tem mais força pra me deserdar do que teve força para me
gerar.

ELEANOR Preferes antes ser um Faulconbridge, como teu irmão, e gozar de


tua terra, ou o filho suposto de Ricardo?

BASTARDO Se com o aspecto do meu irmão eu viesse ao mundo, eu mudava


o de lugar pois dava tudo para ter o meu rosto. De joelhos, dou graças por não
parecer com meu irmão!

ELEANOR Gosto de ti: rejeitas tua fortuna, dás a teu irmão tua terra e me
segues.

BASTARDO Irmão, fica com a terra. Teu rosto conseguiu quinhentas libras.
Senhora, hei de segui‐la até a morte

REI JOÃO De joelhos, Felipe e, maior, se levanta como Sir Richard e


Plantageneta.

BASTARDO Abençoada a hora, noite ou dia, em que — longe Sir Robert —


eu nascia!

ELEANOR Esse é o espírito Plantageneta! Richard, sou tua avó.

O Rei da França, acompanhado por Constance e Arthur, e o Duque da Áustria, encontra


João e o acusa de usurpar os direitos do sobrinho. João contra-ataca responsabilizando o Duque
da Áustria pela morte de seu irmão Ricardo.
Uma situação cômica/ irônica é criada quando os cidadãos de Angiers se declaram
prontos a abrir suas portas ao Rei da Inglaterra, mas não sabem quem é de direito o titular da
coroa.
Philip e João se unem para atacar a cidade. Mas os cidadãos, que desejam preservar a
cidade, sugerem um tratado de paz entre os dois reis, e o casamento de Luis, o Delfim de França,
com Blanche da Espanha, sobrinha de João. Constance fica arrasada com a traição do Rei da
França. Logo é realizado o casamento.
No meio da festa, entra o legado papal, Pandulfo, que repreende João, por impedir que
o recém-nomeado Arcebispo de Canterbury pelo Papa tome posse. João se recusa a obedecer ao
Papa, é excomungado, e Pandulfo convence o Rei de França a se afastar de João.
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Numa batalha, os ingleses saem vitoriosos, o Bastardo mata o Duque da Áustria,


e o jovem príncipe Arthur é aprisionado por João, que o deixa sob a custódia de Hubert.
Hubert se prepara para cegar o pequeno príncipe a mando do rei João, mas no último
instante, fica tão comovido com os pedidos do menino que resolve mentir a João sobre
Arthur estar morto.
Ao ouvir a notícia da morte de Arthur, os nobres ingleses se horrorizam e se desligam
de João. A situação fica tão desfavorável a João que ele sente um alívio quando Hubert revela
que Arthur está vivo.
Ninguém sabe, entretanto, que o menino caiu e morreu ao tentar fugir do castelo.
Quando o corpo é encontrado os nobres ingleses têm certeza que Artur foi assassinado por
ordem de João.
Sentindo a precariedade de sua posição, João cede às exigências do Papa, e pede a
Pandulfo que convença o Rei de França a acabar com a luta. O Bastardo informa João de que as
tropas francesas foram bem recebidas pelos ingleses, e que os nobres estão abandonando João.
No acampamento dos franceses, Pandulfo informa o Delfim que João fez as pazes com
a Igreja, mas Luis se recusa a abandonar seu plano para a conquista da coroa da Inglaterra. O
Bastardo proclama, que os ingleses são perfeitamente capazes de derrotar as tropas invasoras.
Quando os nobres ingleses (que haviam passado para o lado francês) descobrem que o
Delfim planeja executar todos eles assim que alcançar a coroa, voltam a apoiar João. Luis vê sua
posição ficar enfraquecida quando, além de perder a apoio dos nobres ingleses, naufraga uma
nau com reforços vinda da França.
Acometido por uma febre durante a batalha, João é levado para a Abadia, onde morre,
envenenado por um monge, deixando a coroa para seu filho Henrique. Livre finalmente do clima
de intrigas e conluios do Rei João, o Bastardo afirma que a Inglaterra jamais cairá ante um
conquistador se curar sozinha seus ferimentos domésticos e todos os ingleses forem fiéis ao país:

BASTARDO: Nunca foi a Inglaterra, e nem será


Pisada por um pé conquistador,
Senão com a ajuda dela mesma.
Agora que esses príncipes voltaram,
Vindo os três cantos deste mundo em armas,
Os enfrentamos! Nada nos traz mal,
Sendo a Inglaterra a si mesma leal!

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