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INÍCIO / ARTES

Umberto Eco: "No momento em que


todos têm direito à palavra na internet,
temo-la dada aos idiotas"
O escritor Umberto Eco está a lançar o seu mais recente livro:
'Número Zero'. Uma crítica violenta ao esquecimento das pessoas e
ao mau jornalismo no que respeita à corrupção política e social. No
romance conta a história de um jornal que servirá para pressionar,
usando escândalos.

João Céu e Silva


24 Maio 2015 — 00:00
© João Céu e Silva

A
teoria da conspiração é o prato forte do novo romance de Umberto
Eco. Passa-se em 1992 para que a Internet e Berlusconi não viessem
piorar o cenário em que uma redação falsa se prepara para lançar um
jornal também falso. O escritor gosta do que é falso, até diz que
sempre foi fascinado por isso, mas está irritado com a desatenção
que os cidadãos prestam aos escândalos políticos, económicos e
sociais.

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Diz que a escrita deste romance o reconciliou com MIlão, onde vive há
30 anos.

Na entrevista que deu ao DN garante que tudo o que conta, salvo a


fantasia sobre o corpo de Mussolini, é verdadeiro, teve processos
judiciais e já foi publicado: "O pior do que conto no meu romance não
é o que se fez de terrível, mas que as pessoas se estejam nas tintas
para todos esses acontecimentos. Vejo que tudo entra por uma orelha
e sai pela outra das pessoas, como se as coisas terríveis que se
passaram há 50 anos não preocupem ninguém e sejam aceites
tranquilamente. Acho que ninguém me quer silenciar pois não sou
Roberto Saviano, que conta segredos da mafia atuais. Eu conto coisas
sobre as quais até a BBC já fez um documentário."

O romance Número Zero passa-se antes de Berlusconi. Era uma


personagem demasiado perigosa?

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Em 1992 parecia que a situação em Itália estava para explodir, daí que
fosse o melhor cenário para o que eu pretendia escrever. Tinha havido
uma operação Mãos Limpas, mas mesmo com as condenações por
corrupção nada mudou. Berlusconi entretanto foi eleito e o que antes
era negócios para financiar os partidos foi substituído pelo
enriquecimento próprio. Por isso, neste livro apetecia-me falar de uma
época mais longínqua, em que as personagens não sabiam o que iria
acontecer mas o leitor sim.

Vive frente ao castelo Sforzesco, que entra no livro. Por ser uma
visão diária, ou por outra razão?

Está no livro por ter sido a única documentação que precisei de


investigar - o resto estava todo na internet. Ao encontrar um livro sobre
os lugares secretos de Milão descobri vários locais que desconhecia e
coisas sobre os subterrâneos do castelo que se vê da minha janela.
Não sei se é verdade ou falso, mas diz-se que existem coisas horríveis
nas suas galerias e assim tornou-se o cenário perfeito para a
conspiração à volta de Mussolini.

Porque faz de Mussolini uma das grandes provocações do livro?

É a forma de meter em cena a psicologia do conspirador a coberto da


influência eterna do fascismo.

Enquanto escrevia o livro passou a acreditar em alguma teoria a que


antes não dava importância?

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A única teoria falsa no romance é a defendida por Braggadocio,
quanto ao resto é tudo verdade. Talvez em alguns dos casos que refiro
os responsáveis não tenham sido punidos e escaparam à justiça.
Como é o caso do golpe de Estado tentado pelo príncipe Borghese e
que falhou. Porque falhou? Não sei. A história disso tudo foi revelada
na imprensa, houve uma comissão para investigar, mas nada se
apurou.

Mas enquanto escrevia nunca se pôs a pensar "e se fosse verdade"?

Sempre fui fascinado pelo falso.

Em 1967 escreve uma Guerrilha Semiológica contra a uniformização


da cultura mediática...

...Que foi uma coisa muito mal compreendida! A Guerrilha Semiológica


é isto: na discussão sobre a comunicação dos anos 60 pensava-se
sempre em como passar a mensagem. A solução era mudar a
mentalidade face à influência da televisão e era preciso que em frente
a cada aparelho estivesse alguém que explicasse. Isso era a Guerrilha
Semiológica, que provocou até conflitos com os militares.

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Está satisfeito com o estado da linguagem atual?

Estar interessado na linguagem também quer dizer que se é um crítico


constante da linguagem. Acredito que o italiano permite dizer tudo o
que se quer, mas há uma maioria de pessoas que emprega mal as
palavras e a lista de clichés impressos nos jornais é uma espécie de
espelho paralelo ao estado da linguagem.

Confia no que lê nos jornais?

Eu vejo as notícias na televisão mas nos jornais leio principalmente a


Opinião. Quanto aos enganos que se encontram na imprensa, percebo
que resultam da obrigação de encher muitas páginas. Até porque
reparo que mesmo os jornais muito importantes se enganam.
Lê jornais em papel ou digital?

Por norma em papel. Nisso sou fiel a Hegel, que dizia que o jornal é a
oração quotidiana do homem moderno. Mas não sou contra o digital,
e se estou no estrangeiro utilizo o iPad para ler os jornais italianos.

Acredita que há futuro para a imprensa tradicional?

Não sei, porque também houve um tempo em que se dizia que a


bicicleta iria desaparecer e tal não aconteceu, pois agora vejo toda a
gente a pedalar. Há uma redescoberta contínua de certas práticas
consideradas em perigo, tanto assim que me dizem que o único setor
editorial que está em crescimento é o da literatura infantojuvenil. O
que vejo é que as crianças ainda gostam de folhear os livros e reparo
que cá em casa a primeira coisa que o neto faz é ir ver os livros. Não
liga aos jogos ou à televisão, portanto as novas gerações poderão
continuar a ler e a querer tocar nas páginas de papel, bem como deixar
os restos de bolos colados às páginas e reencontrar essas marcas na
velhice, coisa que não se encontra numa pen ou num disco rígido.

Encontra muitas mentiras sobre si na internet?

Sim, principalmente atribuem-me muitas frases célebres de outros. Ou


mesmo situações erradas como a que me atribuíram há uns anos de
que eu dissera que um escritor famoso tinha morrido e até o jornal
The New York Times me ligou para confirmar. Mas nem sempre
confirmam se é verdade, o que já não me incomoda porque acredito
na fraqueza da memória das pessoas. Sabemos sempre que no dia a
seguir já nada é notícia.

Considera ser necessário controlar a internet?

Isso é uma situação impossível de fazer nos tempos em que vivemos,


o que se deve é ponderar o que fazer desse universo. Há quem já
tenha dito, e acho que tem razão, que se nos anos 40 houvesse
internet não teria havido campos de concentração como o de
Auschwitz porque toda a gente teria tido conhecimento. No entanto,
no momento em que todos têm direito à palavra na internet temo-la
dada aos idiotas, que de outro modo nunca seriam lidos noutro sítio.

Alerta para os campos de concentração mas hoje temos situações


trágicas com os imigrantes do Mediterrâneo ou os que fogem da
Líbia ou do Mali e isso não se evita.

Isso é outra questão, a informação banaliza os acontecimentos. Dou


um exemplo: a primeira vez que se viram na televisão imagens de uma
criança negra cheia de fome e com moscas a rodeá-la foi um
momento marcante, só que agora já ninguém lhes liga devido à
vulgarização. Alguém no outro dia proibia a divulgação de imagens
dessas crianças negras com moscas à volta porque a sua repetição
era perigosa. As pessoas habituam-se.

Critica a demasiada informação?

O problema da internet é que produz muito ruído, pois há muita gente


a falar ao mesmo tempo. Faz-me lembrar quando na ópera italiana é
necessário imitar o ruído da multidão e o que todos pronunciam é a
palavra rabarbaro. Porque imita esse som quando todos repetem
rabarbaro rabarbaro rabarbaro, e o ruído crescente da informação faz
correr o risco de se fazer rabarbaro sobre os acontecimentos no
mundo. Haver muito ruído é o outro grande problema da informação
contemporânea e esse é um dos temas do meu romance: cada uma
das personagens não era problema, mas todos juntos faziam
demasiado barulho. Portanto, deve-se evitar muito ruído informativo.

Repetiu o que Dante disse um dia sobre as bibliotecas ocuparem o


lugar de Deus. Ainda acredita nisso?

Isso está na parte final da Divina Comédia. Via-se Deus como a


biblioteca das bibliotecas e a soma de todos os saberes possíveis. O
que eu disse foi uma formulação metafísica, até porque é impossível
ler tudo o que existe nas bibliotecas.

Já disse que São Tomás de Aquino é responsável por ter perdido a fé


em Deus e na Igreja. É verdade?

Não se deve interpretar desse modo o que disse, digamos que a


minha crise religiosa começa ao mesmo tempo em que me ocupo de
São Tomás. Ou seja, comecei a tese ainda crente e termino-a já não
sendo. No entanto, deixei S. Tomás no seu próprio tempo, tratei-o com
muito respeito e continua a influenciar-me no pensamento. Ele não é
responsável por mais nada.

PA R T I L H A R

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