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A COMPETÊNCIA DE GESTORES ECLESIÁSTICOS NO ENSINO


CONFESSIONAL CATÓLICO1

Marcelo Wmaya de Oliveira Melo2


William Francisco da Silva3

RESUMO: O envolvimento da Igreja Católica na atividade educativa é antigo, assumindo


várias configurações e atravessando os séculos até os tempos hodiernos.
Contemporaneamente, quando tantas formas de pensamento se apresentam, os dirigentes
eclesiásticos precisam que a identidade católica na sua dimensão educativa seja preservada.
Frente a isto, o propósito principal deste estudo foi examinar como os documentos da Igreja
Católica, orientam a atuação de diretores eclesiásticos em preservação à identidade
educacional confessional. Em atendimento a este objetivo se sobressaem, a partir das análises
bibliográfica e documental, com contribuições de Brandão, Libâneo, Saviani, Lück, Sangenis,
entre outros, as seguintes notas: O reconhecimento das influências franciscana e jesuítica no
início da História da Educação Brasileira, como um desdobramento da atuação já antiga da
Igreja Católica no meio educacional, resultando numa tendência pedagógica católica; A
análise do aporte legal do ensino privado, confessional no Brasil, destacando o componente
curricular do Ensino Religioso segundo a BNCC, com breve referência a ideia de currículo
católico; E por fim uma apreciação das normativas católicas acerca de suas escolas e seus
respectivos dirigentes eclesiásticos. Todos estes apontamentos contribuíram para esclarecer
que um aspecto dialógico, mas marcado de autenticidade católica, exitosamente preserva a
doutrina da Igreja, não obstante a diversidade de pensamento.

Palavras-chave: Igreja Católica. Educação Católica. Currículo. Diretor Eclesiástico.

1. INTRODUÇÃO

Pensar a educação é uma tarefa muito comum. Algumas ciências fazem suas
proposições como a sociologia, a administração e a antropologia, igualmente grupos políticos
concebem suas ideias do que seria o processo educativo e os objetivos deste. Tudo isso pode
variar conforme o tempo e as pessoas que possuem a competência de pensar e decidir. Tal
maleabilidade é referida por Brandão (2007, p. 10) quando afirma que “a educação pode

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Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica
da Faculdade do Belo Jardim – FBJ/AEB.
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Aluno do Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica da FBJ/AEB.
Licenciado em Pedagogia – FBJ/AEB. Professor concursado da Rede Municipal de Educação de Sanharó – PE.
E-mail: wmayaoliveira@gmail.com
3
Professor Orientador. Graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru –
FAFICA. Mestre em Educação pela UFPE – CAA. Professor na FBJ/AEB. E-mail:
william2007silva@hotmail.com
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existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar
comum, como saber, como idéia (sic), como crença, aquilo que é comunitário como bem,
como trabalho ou como vida.”. Desse modo, a construção do sentido educativo está
intimamente ligada aos aspectos culturais, econômicos, políticos e sociais das comunidades
onde ocorre, sendo não poucas vezes uma expressão clara do seu próprio modo de vida, de
sua religião ou irreligião, de suas crenças políticas partidárias ou não, já que a educação serve
à manutenção de tais características.
Na mesma perspectiva a Igreja Católica Apostólica Romana tem dado a sua
contribuição no conjunto das definições e práticas educativas. Especialmente no Brasil, desde
o Império, não se pode contar a história da sua educação sem fazer referência à atuação da
Igreja, pois

[...] muitas congregações dedicaram-se principalmente à criação de colégios


secundários para as elites e classes médias brasileiras; algumas implantaram escolas
populares em áreas interioranas e rurais, fortalecendo grupos étnicos e classes
populares; outras se ocuparam com escolas normais e universidades, sabendo que
seus serviços eram de grande utilidade social para o país, diante das imensas brechas
deixadas pelo Estado no setor educacional (CUSTÓDIO e SOUZA, 2018, p. 99).

Boa parte deste relato permanece na atualidade por meio das escolas confessionais que
de acordo com sua doutrina religiosa subsidiam o funcionamento de suas escolas ao mesmo
tempo em que procuram garantir a efetividade dos direitos dos alunos previstos em lei. As
escolas diocesanas são exemplos interessantes desta realidade.
Por conseguinte, pergunta-se: Como os dirigentes eclesiásticos garantem que a
identidade católica na sua dimensão educativa seja preservada frente a tantas religiosidades e
concepções pedagógicas, confessionais ou seculares? Considerando que “a escola é por sua
natureza o espaço cultural privilegiado pela diversidade de expressões culturais e religiosas”
(PACHECO, T. 2015, p. 24973), as instituições diocesanas não são exclusivas de seus
confrades. Fiéis de outras tantas confissões também podem ser encontradas entre os espaços
nomeadamente católicos. Portanto, a convivência respeitosa e dialógica parece ser o meio
pelo qual a parte católica permanece como tal enquanto as diversidades também podem estar
presentes sem prejuízo de suas identidades e crenças ou descrenças no caso dos que não
professam qualquer fé. A fim de conferir o quanto esta hipótese pode fazer referência aos
fatos, este estudo traceja alguns caminhos, evidenciados ao longo deste trabalho.
A princípio, sabe-se que desde tempos remotos há uma estreita relação entre a Igreja
Católica e a educação. Não se trata de um simples fato isolado em algum período da história.
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Mas de uma construção progressiva que resultou em uma afinidade tão firme que dificilmente
seriam apartadas. Tendo em vista que

[...] cedo no cristianismo evidenciou-se a necessidade de se estabelecer nexos entre


fé cristã, conhecimento e educação, dentro do contexto de crer e aprender, e da
integração da Fé com o ensino. Contrapondo-se à Paidéia anterior [grega],
determinista, seletiva e elitista, surge agora a Paidéia cristã – Paidéia Christi, a todos
aqueles que a ela estivessem dispostos a aderir. Na história das idéias (sic)
pedagógicas, este é o momento decisivo, pois indica uma virada de perspectiva
educacional. Para o cristianismo não havia mais patrísticos, nem bárbaros, escravos
ou libertos. Nem judeus ou gentios, já que o convite “Vinde a Mim” era totalmente
inclusivo (GROSS, 2006, p. 143).

Mesmo que ainda não se possa, a partir de tal enunciado, falar diretamente de Igreja
Católica, este pressuposto subsidia uma práxis que atravessará longos períodos até os mais
recentes, dotados ou não de formalidade. Ele também pauta uma fórmula para congregar
diferentes agrupamentos e seus ideais em torno de uma mensagem, neste caso a do Evangelho
como pregado pela Igreja. Neste aspecto a educação é tomada como meio de transmissão de
uma mensagem de cunho cristão.
Quando os portugueses passam a colonizar as terras que, posteriormente seriam
denominadas Brasil, o vínculo religião-educação tem um dos seus exemplos mais
insofismáveis. A história da Educação Brasileira tem seu início a partir da atuação da Igreja
Católica, tratar deste dado é sumamente necessário. Pois

[...] com extensão até os dias de hoje, durante os três primeiros séculos da
colonização o processo educativo seguiu praticamente inalterado. Rigidamente
amparado numa concepção religiosa de mundo. [...] É o caso do trabalho educativo
dos religiosos da Companhia de Jesus que por aqui apontaram em 1549 [...]
(PAIVA, 2015, p. 202).

Deste modo, marcada por tradições, a Igreja Católica a partir de suas instituições
religiosas e educativas, influenciou fortemente o ensino e a concepção de educação no país até
os dias de hoje. A compreensão destes pressupostos permite conceber um senso de tradição, a
partir do qual se pode estabelecer comparações entre o que se propunha à época e o que se
estabelece na atualidade.
A partir disto, se desenvolvem as tendências pedagógicas católicas no Brasil para a
compreensão de como esta perspectiva dialoga com outras intenções. De imediato, o que se
afirma católico acerca de educação trata-se de uma pedagogia tradicional em que, dentre
outros aspectos, privilegia-se “[...] a ação de um agente externo na formação do aluno [...] a
transmissão do saber constituído na tradição [...]” (NOT, 1981, p. 16-17 apud LIBÂNEO,
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[1997?], p. 1). Isso constitui as escolas católicas como arautos de costumes e concepções de
mundo já há muito tempo arraigados. E são preservados por um sistema educacional marcado
pela hierarquia desde as autoridades da Igreja até a sala de aula, desde saberes considerados
irrenunciáveis até os concebidos como dispensáveis.
Mas se isto é possível, deve haver o subsídio legal, cuja referência se faz pertinente. A
título de exemplo a LDBEN Nº 9394/1996 especifica no Art. 3º Incisos II, III e V a
possibilidade de ensinar, aliada à diversidade de ideias e de teorias pedagógicas bem como,
neste mesmo sentido, a existência tanto de instituições públicas quanto privadas de ensino
(BRASIL, 1996). Detalhe que permite a organização e a manutenção de escolas pertencentes
a instituições religiosas, também empresas, organizações filantrópicas ou pessoas físicas.
Em um desdobramento do fator legal ocupa singular importância o componente
curricular do ensino religioso, apreciado, inclusive pela BNCC (BRASIL, 2017, p. 436)
quando declara que “[...] o sujeito se constitui enquanto ser de imanência (dimensão concreta,
biológica) e de transcendência (dimensão subjetiva, simbólica)”. Assim, o documento
reconhece os sujeitos como constituintes de espiritualidade, a qual deve ser contemplada
tendo em vista a sua pluralidade, inclusive no ensino escolar. No caso das instituições
católicas essa matéria deve receber atenção especial, por isso tal destaque.
Por estes aspectos, são explicadas as manifestações ora oficiais, ora espontâneas, de
religiosidade católica, nas escolas públicas, mas sobretudo confessionais, sejam estas,
diocesanas ou mantidas por ordens religiosas, também pertencentes a Igreja Católica.
Verificando-se aí a existência de um currículo confessional que assume tanto o caráter oficial
quanto o oculto. A propósito “[...] o termo currículo é utilizado para designar o programa de
uma disciplina, de um curso, ou de forma mais ampla das várias atividades educativas, através
das quais, o conteúdo é desenvolvido” (PACHECO, E. 2017, p. 2796). Nisto se pauta o
sentido catequético, a divulgação formal dos conteúdos católicos, as práticas oficiais,
estabelecidas, inclusive, nos estatutos das escolas ou de instâncias maiores, mas currículo e
currículo católico não se encerram nisto.
Seu espaço privilegiado é a escola católica, cujo valor para a Igreja pode ser
corroborado por um de seus textos oficiais, de responsabilidade da Congregação para a
Educação Católica, um dos organismos da Santa Sé no Vaticano. Esta instituição define por
exemplo, “[...] algumas considerações que sejam úteis para pôr em plena luz o valor educativo
da Escola Católica, no qual consiste principalmente a sua razão de ser e pelo qual ela é
autêntico apostolado” (SANTA SÉ, 1977, p. 1). Isto explica entre outros pontos que a escola
também é um campo de missão da Igreja, tanto no seu aspecto social quanto no catequético.
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Isto, necessariamente, promove uma espécie de convivência entre crenças diferentes pelo
papel social e mesmo caritativo da educação promovida pela Igreja, e os correligionários
pelas práticas catequéticas, não restritas, mas abertas a tantos quantos queiram participar, num
sentido missionário/evangelizador.
Finalmente a competência da equipe (e/ou indivíduo) de direção na aplicabilidade tanto
das disposições legais quanto das orientações da Igreja, sem que haja prejuízo em nenhuma
das partes, se constitui no fator a ser referenciado paralelamente às disposições compendiadas
pelos documentos da Igreja. Tal grupo ou indivíduo é “[...] responsável pela influência
intencional e sistemática da escola sob sua responsabilidade [...]” (LÜCK, 2009, p. 118).
Assim, a direção muitas vezes realizada por eclesiásticos ou religiosos é um símbolo dos
valores reconhecidamente tradicionais, deve por isso zelar pela sua preservação, tendo o meio
educacional formal como instrumento. Nisto, o respeito às diversidades supõe igualmente o
reconhecimento e a valorização da própria identidade religiosa. Assim,

a escola católica deve manter sua identidade acesa e evidente. A garantia da


identidade, contudo, não significa a uniformidade religiosa. Uma escola confessional
que respeita as crenças diferentes em seu meio dá testemunha significativa de seus
princípios (DEGRANDIS, 2013, p. 17-18).

Isso requer da equipe gestora, uma melhoria das competências administrativa, política e,
sobretudo, pedagógica, numa ótica de confronto legal e dogmático, bem como o diálogo
dessas diretrizes com o seu público alvo e com os seus profissionais. Um processo
permanente em que, com muita frequência a identidade católica de educação entra em xeque,
mas deve ser preservada e propagada em nome mesmo da diversidade tanto religiosa quanto
pedagógica.
Este enfoque, que contempla a perspectiva confessional se faz relevante em uma
conjuntura política onde o ensino religioso deixou de ser apenas pauta legislativa para tornar-
se uma discussão do Poder Judiciário Brasileiro. Conforme foi visto há algum tempo em um
debate cujo resultado foi a evidência da legalidade da confessionalidade do ensino religioso
(SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2017, p. 1). Mas isto requer uma abordagem de teor
científico, afinal,

associada diretamente com a implementação do Ensino Religioso, a interface entre


religião e escola não é tratada de forma aprofundada, ou seja, não há uma
recuperação histórica do debate ou um olhar atento às características culturais dos
professores e dos alunos brasileiros, nem à sua subjetiva religiosidade (VALENTE,
2018, p. 108).
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Deste modo, é perceptível que os debates empreendidos se tornaram uma disputa de


crenças ou descrenças sem levar em consideração a própria história da educação brasileira e
mesmo a forte e plural religiosidade das pessoas envolvidas na educação, a saber, alunos e
familiares, comunidade escolar. Tendo em vista que é muito forte a influência católica no
ensino público, tanto mais o deve ser no âmbito privado. Sem a pretensão de inferiorizar ou
negligenciar outras crenças, este estudo prioriza a educação católica, e o mesmo pode ser feito
por outras pesquisas sobre outras crenças.
Com isto, a aspiração da presente pesquisa é oferecer os subsídios para uma abordagem
mais completa que contemple as perspectivas históricas da relação Igreja e Escola, bem como
as proposições de interessados na questão como a Igreja Católica mediante os seus
documentos oficiais, e não somente isso, mas sua atuação e as possibilidades elencadas pela
legislação brasileira.
Por isso a proposta desta exploração destacará os textos acerca da relação entre estado e
religião dentro de uma instituição confessional católica com uma atenção especial para o
componente curricular de ensino religioso, procurando, assim como Dickie e Lui (2007, p.
238) evidenciar mediante a legalidade em várias instâncias na esfera escolar a pertinência de
critérios políticos, culturais, e sobretudo religiosos.

Mesmo com as dúvidas que ainda permanecem, o fato criou uma oportunidade para
se discutir novamente o ensino religioso não apenas nas escolas, mas também em
todas as instituições e entidades que pautam suas ações em torno de uma
doutrina religiosa ou que se preocupam com a educação religiosa de seus membros
(GENTILINI e SALLES, 2018, p. 860, grifo nosso).

É neste ponto que o ensino religioso, ou, especialmente, o que está por trás dele,
ultrapassa os limites de uma disciplina em um programa escolar e torna-se presente também
em outras práticas, em outros espaços e mesmo em outros componentes curriculares. Ou seja,
não é somente uma disciplina, é um saber aquém e além, é uma identidade que se pretende
perpetuar por todos os meios possíveis. Deste modo o ensino religioso é apenas uma
formalidade, enquanto a cultura religiosa está presente macroscopicamente na escola, nas
pessoas que a frequentam e que a dirigem principalmente. Tal descrição parece apontar para a
escola confessional católica, a sua identidade e como o faz para perpetuar sua mensagem,
apontamentos que este estudo se propõe a evidenciar.
A partir de tais premissas, o propósito principal deste estudo foi examinar como os
documentos da Igreja Católica orientam a atuação de diretores eclesiásticos em preservação à
identidade educacional confessional. Em atendimento a este objetivo merecem relevo as
seguintes notas: O destaque às influências franciscana e jesuítica no início da História da
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Educação Brasileira, como um desdobramento da atuação já antiga da igreja Católica no meio


educacional, resultando numa tendência pedagógica católica; A análise do aporte legal do
ensino privado, confessional no Brasil, destacando o componente curricular do Ensino
Religioso segundo a BNCC, com breve referência a ideia de currículo católico; E por fim uma
apreciação das normativas católicas acerca de suas escolas e seus respectivos dirigentes
eclesiásticos.

2. OS ASPECTOS METODOLÓGICOS

As constatações anteriores são insuficientes à compreensão da problemática desta


pesquisa, por tal razão o texto que segue foi construído a partir de uma análise de documentos
da Igreja que normatizam as práticas das instituições educacionais mantidas por ela, bem
como de textos legislativos brasileiros que permitem a aplicabilidade do aporte católico. Isto
especifica tal estudo como de análise documental, pois, como afirma Lakatos e Marconi
(2007) analisará fontes originais, especificamente documentos oficiais e jurídicos. Além disto
a análise bibliográfica, que verificou o que já foi publicado sobre a temática ou aspectos
ligados a ela (PRESTES, 2014), se fez necessária, como uma exigência da própria natureza da
pesquisa.
Em síntese pode-se apresentar os seguintes destaques (conf. Tabela 1), cujas
contribuições serão encontradas ao logo do presente escrito. Essencialmente foi traçada uma
contextualização de teor histórico e jurídico, onde se perceberá respaldada a prática educativa-
catequética católica, que por si mesma, já oferece esclarecimentos ao problema desta
pesquisa. E mais enfaticamente uma seleção de documentos reitera e ratifica a então referida
análise bibliográfica, e completa, não uma resposta definitiva, mas um passo à compreensão
da vasta problemática da direção escolar na complexa educação confessional católica.

Tabela 1: Esquematização das principais fontes da pesquisa bibliográfica e documental.


Tipologia Temáticas Autores e Documentos
Brandão (2007); Dassoler (2015); Degrandis (2013); Dickie e Lui (2007);
Bibliográfica Histórico Gross (2006); Iglesias (2011); Junqueira e Leal (2017); Libâneo [1997?]; E.
Pacheco (2017); T. Pacheco (2015); Sangenis (2018); Saviani (2005); etc.
Legislação Constituição Federal (1988); LDB (1996); BNCC (2017); SFT (2017)
Declaração Gravissimum Educationis sobre a Educação Cristã (1965)
Igreja Católica (1977, 1982)
Documental Documentos
Código de Direito Canônico – CDC (1983)
da Igreja
Catecismo da Igreja Católica – CIC (1992)
Compêndio de Doutrina Social da Igreja (2004)
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FONTE: Relação elaborada pelo autor a partir da pesquisa bibliográfica e documental.

3. A IGREJA CATÓLICA E A EDUCAÇÃO

3.1. Atuação na Idade Média

A História evidencia, há séculos, um relacionamento entre a Igreja Católica e a


Educação. Neste apontamento, no entanto, o maior destaque, indubitavelmente recai sobre o
período da Idade Média:
Em linhas gerais, depois da decadência do Império Romano do Ocidente, o que
sobrou foi a Igreja Católica como instituição organizada. Quando os bárbaros
entraram de vez no Império Romano Ocidental, a única instituição que restava
organizada e estruturada era a Igreja Católica (CHAGAS, REIS e XAVIER, 2017, p.
315).

Neste contexto, embora não fosse sua essencial missão, a Igreja começa a assumir
papéis mais temporais em meio aos quais encontram-se as tarefas administrativas, políticas
entre outras. Mas, principalmente a questão educativa. É um dos campos onde a atuação
católica teve mais resultados positivos, seja pela educação em si mesma, seja pela
evangelização.

[...] o poder imperial e o seu cuidado pelas escolas ficaram enfraquecidos, mas os
aspectos administrativo-culturais do domínio ficaram em parte nas mãos de
romanos, organizados em sua igreja. E é justamente por obra da Igreja, como parte
de suas atividades específicas, que a cultura e a escola se reorganizam. Não é por
acaso que muitos bispos foram antes funcionários romanos dos reis bárbaros
(MANACORDA, 2010, p. 144).

Os eclesiásticos de então, estavam envolvidos tanto com os serviços de sua fé quanto


com as ocupações político-administrativas, onde um aspecto influenciou consideravelmente o
outro, e assim aumentou a complexidade da Igreja como instituição organizada também
politicamente e não mais como uma entidade religiosa apenas. Herdeira da cultura greco-
romana, atuando junto aos pejorativamente chamados de bárbaros, ela soube transitar entre os
diferentes costumes e crenças, estabelecendo-se e ocupando espaço significativo, por muito
tempo “assim, a Igreja Católica foi a principal responsável pela manutenção do legado
cultural greco-romano e por sua integração com a cultura dos conquistadores [‘bárbaros’]”
(CHAGAS, REIS e XAVIER, 2017, p. 313). Isto apenas acrescentou ao já existente
organograma católico um maior fervor na questão do pensamento e do ensino, havendo duas
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perspectivas diferentes: “Pode-se dizer, consideradas as iniciativas educativas do clero secular


e do clero regular, que mudaram os conteúdos, e que dos clássicos da tradição helenístico-
romana passou-se para os clássicos da tradição bíblico-evangélica” (MANACORDA, 2010, p.
153). Da tal forma os conteúdos de cunho religioso se sobrepuseram aos assuntos temporais, e
a educação servia aos propósitos evangelizadores da Igreja.
Como o poder político romano entrara em decadência e se formavam novos reinos, a
instabilidade era comum, inclusive em matéria de costumes. Esta conjuntura foi remediada
pelas iniciativas católicas na sistematização da educação da época. Foi percebida uma “[...]
oportunidade de iniciar um processo de consolidação, onde teria, como objetivo, fincar seus
alicerces rumo a uma civilização em que a mesma se tornaria responsável pela criação de uma
nova mentalidade (ROSA, 2015, p. 8).
É a chamada Pedagogia Escolástica ou Tomista, que antecedeu a Pedagogia Jesuítica
(LIBÂNEO, [1997?]). Acerca dela o mesmo autor explica que “o movimento da Escolástica
caracteriza o pensamento cristão da Idade Média que visa conciliar razão (ideal de
racionalidade grega do platonismo e aristotelismo) e fé (verdade revelada por Deus)” (p. 3).
Vê-se aí, uma dualidade muito presente na Igreja Católica, cujas partes não se apresentam de
forma contraposta, mas complementar. Deste modo, a razão serve à fé, a existência da
primeira reforça a da segunda. Tal caráter repercute na educação principalmente nas
universidades medievais. Nesta perspectiva, o Tomismo na Europa Medieval, que resgata o
conhecimento clássico, antecede a Fase Jesuítica iniciada no Brasil. Depois surge o Neo-
Tomismo, movimento da Igreja que resgata desde o início do século XIX a antiga Escolástica
e permanece até hoje (LIBÂNIO, 1997).
Finalmente, convém apenas salientar que estas três correntes do que se pode chamar de
uma Pedagogia Católica possuem as mesmas características, a saber:

Fé e obediência aos superiores; Estudo ortodoxo dos dogmas católicos e da filosofia


escolástica; Doutrinação; Ordem e método rigorosos: Disciplina militar, hierarquia
rígida; Unidade de princípios, de currículo e de métodos (dai, o Ratio Studiorum);
Vigilância constante/clausura (IBIDEM, p. 4).

São perspectivas que destacam o respeito da parte dos alunos aos ensinamentos da
Igreja e mesmo das ciências, representados pelos professores em sua maioria, religiosos.
Funcionam com o forte propósito de preservação dos costumes católicos tradicionais. São
aplicados com rotinas milimetricamente pensadas, inspiradas na disciplina monástica.
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3.2. Os Jesuítas e os Franciscanos no Brasil

Após a Europa, o Brasil tornou-se campo de uma das mais bem sucedidas experiências
católicas na educação. É imprescindível citar a atuação dos jesuítas e dos franciscanos, porque
a educação brasileira confunde-se com ela, e se tratando do ensino confessional fazer tal
referências é irrenunciável. É informação básica em relação a educação brasileira que seria
necessário construir “uma verdadeira pedagogia brasílica, isto é, uma pedagogia formulada e
praticada sob medida para as condições encontradas pelos jesuítas nas ocidentais terras
descobertas pelos portugueses” (SAVIANI, 2005, p. 6). Assim, o primeiro sistema
educacional que se desenvolveu no país foi inteiramente religioso. Tendo como finalidade
proporcionar mudanças não apenas sob o viés intelectual, mas também religioso e social, em
conformidade com os interesses dos colonizadores, bem conformados à doutrina católica,
fruto de séculos de educação marcadamente judaico-cristã.
Também Maciel e Shigunov Neto (2008, p. 173) são concordes com tal parecer ao
afirmarem que “o Projeto Educacional Jesuítico não era apenas um projeto de catequização,
mas sim, um projeto bem mais amplo, um projeto de transformação social, pois tinha como
função propor e implementar mudanças radicais na cultura indígena brasileira.” Tal realidade
requeria uma sistematização mais substancial do que um simples programa catequético, o que
viria a tornar-se a educação brasileira. Marcadamente confessional, ela representa um dos
mais fortes vínculos de um estado com uma religião e a consagração de uma pedagogia
genuinamente católica, ou a primeira configuração de uma no país. Como aponta Saviani
(2005, p. 4), em

condições bastante favoráveis, a pedagogia católica se instalou no país, primeiro na


versão do Plano de Nóbrega, que eu chamaria de “pedagogia brasílica”, pois
procurava se adequar às condições específicas da colônia, e depois, na versão do
“Ratio Studiorum”, cujos cânones foram adotados pelos colégios jesuítas no mundo
inteiro. Assim, ao longo dos dois primeiros séculos, de 1549 até 1759, data da
expulsão dos jesuítas, a pedagogia cristã, de orientação católica, gozou de uma
hegemonia incontrastável no ensino brasileiro.

Sem tal pressuposto não há como compreender os fundamentos pedagógicas católicos,


por pelo menos dois motivos: primeiro, a importância deste fato; a atuação dos jesuítas foi tão
destacada que se espalhou pelo mundo jesuítico, se constituindo a chamada Ratio Studiorum,
numa regra fundamental, que documentou uma convergência de dois séculos. Não foi,
portanto, uma prática isolada, mas valendo-se do caráter universal, tipicamente católico,
espalhou-se para fora das fronteiras coloniais. Em segundo lugar por ser um histórico
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exemplo de que a religião, sobretudo cristã, também possui em seu múnus o fator social, que
será estudado mais adiante, mediante a sua doutrina social. Por hora, convêm considerar que

o franciscano e o jesuíta são produtos do Ocidente. São duas experiências religiosas


nascidas na Europa, uma medieval, outra recém-moderna [...] Tais ordens foram
braços poderosos do Ocidente (diga-se da Europa) para estender a povos não
europeus e orientais o modo de vida ocidental, missionando e civilizando – em
outras palavras, cristianizando e europeizando os quatro cantos do mundo. Ambos
deixaram as armas: um para ser o jogral de Deus; o outro para se fazer soldado de
Cristo (SANGENIS, 2018, p. 696).

Cada uma destas ordens, segundo suas identidades serviram a um fator comum:
influenciar pela ação missionária a cultura e a educação das colônias. Embora os destaques
sejam óbvios aos jesuítas, também os franciscanos foram arautos da cultura europeia,
sobretudo católica. Mas houve um certo velamento destes últimos, as razões podem ser
supostas segundo afirmações de Arns (1975, p.17-18 apud IGLESIAS, 2017, p. 263):

Apresenta-se uma correlação entre o domínio efetivo da Coroa portuguesa e a


história da Ordem franciscana, que registra a presença de frades espanhóis no ciclo
espanhol-platino, e só mais tarde, de frades luso-brasileiros, com o definitivo
estabelecimento da Custódia e, posteriormente, da Província Franciscana da
Imaculada Conceição do Brasil.

A disputa por território entre as potências portuguesa e espanhola teriam influenciado


também a atuação das ordens religiosas. Já que os jesuítas eram portugueses seu trabalho
encontrou mais apoio que os espanhóis franciscanos. Não somente a Igreja exerceu forte
influência sobre as nações europeias, mas estas, posteriormente, foram mais relevantes, seja
nas questões de colonização, seja nas questões religiosas, e a partir destas, nas educacionais.
Iglesias (2017, p. 265) afirma que “muito antes dos jesuítas portugueses trabalharem a serviço
da Coroa de Portugal, em nome da dilatação da fé do império, os franciscanos já o faziam em
grande escala a serviço da Coroa espanhola para assegurar a dominação dos territórios
conquistados.” Por isso, uma certa necessidade da Coroa Portuguesa privilegiou a ação
jesuítica. Mas é preciso reconhecer que foram “[...] os franciscanos os primeiros missionários
a desembarcar no Brasil e aqueles que permaneceriam atuantes nas novas terras conquistadas
durante os 49 anos iniciais de colonização que precederam a chegada dos inacianos [...]”
(MAINKA e SANGENIS, 2019, p. 10). Apesar disso, a atuação franciscana não ganhou
muito destaque, razão pela qual, quando se pensa em educação brasileira dificilmente os
jesuítas seriam esquecidos.
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3.3. A Tendência Pedagógica Católica no Brasil

Mesmo que com as Reformas Pombalinas os jesuítas tenham perdido o protagonismo


educacional brasileiro e também nos anos vindouros a educação nacional tenha recebido
outras tendências, realizar uma

[...] referência à pedagogia católica se faz necessária porque, apesar da influência da


Escola Nova, boa parte das escolas normais e dos cursos de pedagogia permaneceu
sob o controle da Igreja; e, mesmo nas instituições públicas, o pensamento católico,
por meio de seus representantes e dos manuais por eles elaborados, se manteve
presente (SAVIANI, 2005, p. 13).

Trata-se, portanto, para além de um sistema educacional ou um projeto, de um


sentimento de segurança cultural e socialmente enraizado na sociedade brasileira, que desde a
colonização pretendia cristianizar, mas depois deste, pretende preservar. “Na disputa pelo
domínio da educação, o grupo dos intelectuais católicos iniciou, então, uma ampla campanha
de divulgação de sua política educacional, abordando, também, aspectos do ideário
educacional de seus rivais” (COSTA, 2006, p. 10). Novamente a capacidade de assimilação
da Igreja daquilo que se apresentava na sociedade, entra em vigor, os pares católicos,
desejosos de preservarem os ideais de moralidade, de tradição, de pensamento, deixam-se
experienciar os pensamentos escolanovistas para dar-lhes, mais tarde, a configuração de
catolicidade necessária à sua aceitação. Os esforços resultam no que Saviani (2005, p. 23) vai
chamar de Pedagogia Católica que

[...] constitui a manifestação mais vigorosa da concepção pedagógica tradicional no


Brasil. Defendendo o primado da família e da igreja sobre o Estado em matéria de
educação, advoga o subsídio público às escolas católicas. Os católicos entendem que
apenas a Igreja tem condições de educar em sentido próprio. Por isso denominam
sua concepção de “pedagogia integral”, uma vez que alia ao âmbito natural o âmbito
sobrenatural, integrando três planos ontológicos: o físico (ordem da natureza), o
intelectual (ordem das idéias), ambos subordinados ao plano moral e religioso
(ordem dos deveres). Mesmo quando se renova incorporando as inovações trazidas
pelos avanços da teoria e da prática pedagógicas, a pedagogia católica jamais abre
mão da doutrina subordinando todas as novas conquistas, inovações metodológicas e
avanços sociais a uma ‘filosofia verdadeiramente católica da vida’.

Nesta concepção, percebe-se mais claramente como o principal objetivo da Igreja


demonstrado em outros termos mais acima ganha precedência sobre outras problemáticas. Ela
não ignora as áreas em que se insere, ela as assimila e as exerce ao mesmo tempo em que,
toma-as como mecanismo para a ação evangelizadora, ganha espaços para propagar a sua
13

concepção de vida, o seu entendimento do mundo e o que se pode fazer a respeito. Este hábito
da Igreja fez perpetuar muitas de suas características no espaço público educacional. A
pedagogia católica não é uma concepção educacional como as demais, ela é uma das frentes
de ação da Igreja.

4. POSSIBILIDADES LEGAIS DA AÇÃO CATÓLICA

4.1. Legislação Pertinente

Não obstante a enfática presença católica, o Estado Brasileiro, no aspecto religioso se


constitui como plural. Nos termos da Constituição Federal, precisamente no Art. 5º, Inciso
“VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas
liturgias” (BRASIL, 1988, p. 2). Não é citada nenhuma religião ou igreja específica, mas é
garantida a sua existência, bem como as suas práticas, desde que estas não venham a ferir
outras prescrições constitucionais. Ao mesmo tempo o Estado não assume uma religião como
própria.
Dentro desta pluralidade, surge a escola, cujas bases legais, igualmente, vão supor a
existência de muitas perspectivas. No Art. 206, lê-se o seguinte: “[...] II - liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de
idéias (sic) e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de
ensino; [...] (OP. CIT., p. 81). Também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº
9394/1996, simplesmente reitera o texto da Constituição Federal e estabelece: “Art. 3º. II -
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias (sic) e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço
à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino” (BRASIL, 1996,
p. 1). Em um primeiro momento os enunciados legais permitem entender que “qualquer”
pessoa ou instituição pode ensinar. Deste modo a produção e a transmissão do conhecimento
não está restrita a algum grupo permitido pelo Estado, ou mesmo privilegiado por
determinadas classes sociais. Tal pressuposto permite à Igreja, tomar iniciativas em matéria
de educação escolar. Em seguida, a diversidade pedagógica é prescrita tanto em relação às
suas concepções teóricas quanto em relação às suas mantenedoras, sejam elas de cunho
público ou privado. Este último subsidia as Escolas Católicas. E em terceiro plano, como a
14

LDB destaca os termos cultura e tolerância ficam mais claras as possibilidades que indicam a
aceitação de diferentes ideários, inclusive ratificada na coexistência deles. É neste espaço que
o ensino confessional está sustentado, sendo ele, realizado em instituições privadas, logo,
marcadas por uma identidade que esteja em acordo com a entidade religiosa, empresarial ou
política que o pensa e mantêm.
Com estas disposições, o ensino privado, e confessional católico, tem vez no Brasil, mas
a Igreja, preocupada em garantir relações saudáveis com o Estado Brasileiro, bem como a
salvaguarda de sua atuação no país, celebrou em 2008 um acordo sobre a situação jurídica
católica no território brasileiro e depois reconhecido pelo Decreto Presidencial º 7.107, de 11
de Fevereiro de 2010. O Acordo afirma “Artigo 2º A República Federativa do Brasil, com
fundamento no direito de liberdade religiosa, reconhece à Igreja Católica o direito de
desempenhar a sua missão apostólica, garantindo o exercício público de suas atividades,
observado o ordenamento jurídico brasileiro” (BRASIL, 2010, p. 2). Estas considerações
indicam que, desde que não venham a ferir nenhuma lei brasileira, a Igreja Católica pode
desempenhar as suas ações, em quaisquer que sejam os espaços, sem qualquer aparência de
clandestinidade. Como desdobramento o mesmo texto indica o que segue

Artigo 10
A Igreja Católica, em atenção ao princípio de cooperação com o Estado, continuará
a colocar suas instituições de ensino, em todos os níveis, a serviço da sociedade, em
conformidade com seus fins e com as exigências do ordenamento jurídico brasileiro.
§ 1º. A República Federativa do Brasil reconhece à Igreja Católica o direito de
constituir e administrar Seminários e outros Institutos eclesiásticos de formação e
cultura.
§ 2º. O reconhecimento dos efeitos civis dos estudos, graus e títulos obtidos nos
Seminários e Institutos antes mencionados é regulado pelo ordenamento jurídico
brasileiro, em condição de paridade com estudos de idêntica natureza (OP. CIT., p.
3).

Mais explícito, este ordenamento reconhece, em caráter específico, o direito da Igreja


em manter instituições de ensino próprias, para ajudarem o Estado em cumprir o dever de
educar. Colégios estes que, atenderão ao mesmo tempo aos dispositivos doutrinários e
canônicos4 católicos e aos dispositivos legais brasileiros. É importante esclarecer que isto se
aplica sobretudo aos estabelecimentos de Educação Básica e Superior. Outros institutos
educacionais, mais específicos são de inteira responsabilidade religiosa, a exemplo dos
seminários, onde são formados os sacerdotes católicos, os quais, só serão submetidos ao crivo
do estado em situações muito peculiares. Por exemplo, o reconhecimento de um

4
Canônico é um termo católico equivalente a legal.
15

curso/diploma de Filosofia obtido em um seminário e não em um curso superior regular de


uma universidade pública ou privada, mas reconhecida e validada pelo MEC.
Em seguida, o texto ainda no aspecto educacional traz à tona o Ensino Religioso:

Artigo 11
A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa,
da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância
do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa.
§1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula
facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em
conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de
discriminação (OP. CIT., p. 4).

Embora tenha sido um documento redigido também por autoridades eclesiásticas, ele
não dá privilégios ao catolicismo em referência ao ensino religioso no Brasil, mas determina o
respeito à diversidade de crenças. O próprio componente curricular é descrito como uma
possibilidade que, quando for posta em prática, deve demonstrar a pluralidade religiosa do
país. Portanto, deve ser um ensino muito próximo da realidade de cada comunidade, assim
como se indica por força de Lei, a saber:

Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação


básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil,
vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos
conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso
(BRASIL, 1996, p. 33-34).

Nesse sentido, este componente curricular tende a incorporar a pluralidade religiosa do


país e pode ser muito difícil constituí-la. Ela supõe que todas as religiosidades e
denominações cristãs e não cristãs tenham participação na construção deste conjunto de
conteúdos. E se existe embate entre crenças religiosas elas não podem ter lugar nos
conteúdos, mas devem ser contempladas com igual atribuição de valor, tendo em vista o
direito de cada aluno a professar um credo ou não e que este posicionamento seja livre,
respeitado, aceito e contemplado no currículo. Acerca deste parecer, analise-se o componente
curricular de Ensino Religioso.
16

4.2. O Ensino Religioso na Base Nacional Comum Curricular

Uma questão sempre amplamente debatida, apesar de ser possível considerar que as
questões referentes ao Ensino Religioso são prioritariamente da competência dos Estados e
Municípios, já que a LDBEN Nº 9394/96 o insere no Ensino Fundamental, responsabilidade
das referidas esferas de governo (BRASIL, 1996), a União passou a discutir tais assuntos e
por fim, indicou no texto final da Base Nacional Comum Curricular:

Ao longo da história da educação brasileira, o Ensino Religioso assumiu diferentes


perspectivas teórico-metodológicas, geralmente de viés confessional ou
interconfessional. A partir da década de 1980, as transformações socioculturais que
provocaram mudanças paradigmáticas no campo educacional também impactaram
no Ensino Religioso. Em função dos promulgados ideais de democracia, inclusão
social e educação integral, vários setores da sociedade civil passaram a reivindicar a
abordagem do conhecimento religioso e o reconhecimento da diversidade religiosa
no âmbito dos currículos escolares (BRASIL, 2017, p. 433).

Esta primeira abordagem enfatiza que a inclusão do Ensino Religioso como matéria
educacional passou por muitas configurações, quase sempre conflituosas. As práticas ao longo
dos anos no país e a tomada de consciência de direitos impulsionaram diversos segmentos da
sociedade a opinarem e reivindicarem sobre a questão. A partir disto, eles quiseram ver-se
incluídos não somente nos aspectos históricos e culturais dentro dos espaços educacionais,
mas de maneira especial em um espaço do currículo que se ocupasse do sentido religioso,
além de simplesmente aspectos catequéticos e/ou evangelizadores, de acordo com práticas
prioritariamente cristãs. Estas discussões fizeram com que as novas propostas para este
componente curricular apontassem para aspectos da religiosidade em termos gerais e não para
alguns especificamente. O que fez com que a Base Nacional tivesse os seguintes objetivos:

a) Proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos religiosos, culturais e estéticos,


a partir das manifestações religiosas percebidas na realidade dos educandos;
b) Propiciar conhecimentos sobre o direito à liberdade de consciência e de crença,
no constante propósito de promoção dos direitos humanos;
c) Desenvolver competências e habilidades que contribuam para o diálogo entre
perspectivas religiosas e seculares de vida, exercitando o respeito à liberdade de
concepções e o pluralismo de ideias, de acordo com a Constituição Federal;
d) Contribuir para que os educandos construam seus sentidos pessoais de vida a
partir de valores, princípios éticos e da cidadania (OP. CIT., p. 433)

A partir destes pareceres o ensino que valorize o viés religioso passa a ser caracterizado
por uma extensão dos conteúdos, que também se preocupe em mostrar as influências da
17

religiosidade nas produções culturais e nas artes. Proclama o item curricular como um
contributo aos direitos humanos, por evidenciar as diferenças de crença e mesmo de
descrença, também porque, se reconhece o ser humano como ser religioso. E de maneira
especial aponta para a realidade dos alunos, os quais serão reconhecidos também nas suas
práticas religiosas correspondentes às suas vivências. O texto continua reconhecendo que

O ser humano se constrói a partir de um conjunto de relações tecidas em


determinado contexto histórico-social, em um movimento ininterrupto de
apropriação e produção cultural. Nesse processo, o sujeito se constitui enquanto ser
de imanência (dimensão concreta, biológica) e de transcendência (dimensão
subjetiva, simbólica). Ambas as dimensões possibilitam que os humanos se
relacionem entre si, com a natureza e com a(s) divindade(s), percebendo-se como
iguais e diferentes (OP. CIT., p. 436).

Deste modo não deveria ser mais um aspecto negligenciado. Então, a União no que lhe
compete reconhece este aspecto como necessário e não somente como facultativo aos
sistemas de ensino. Como já foi visto tanto a Constituição quanto a LDBEN mencionam a
inteireza dos indivíduos, uma educação plena (BRASIL, 1988; BRASIL, 1996). Neste
cenário, a BNCC coloca em pauta que o ser humano na sua plenitude não é constituído apenas
pelo objetivo e pelo concreto, mas também pelo subjetivo e pelo abstrato. E se as principais
cartas legislativas apontam para as duas dimensões do ser humano, a Base não poderia deixar
de mencioná-la como aspecto educacional específico que atenda a este ponto, na formação
escolar e social.
Também a descrença assumida ou uma religiosidade não definida são referidas na Base
Nacional:

Também as filosofias de vida se ancoram em princípios cujas fontes não advêm do


universo religioso. Pessoas sem religião adotam princípios éticos e morais cuja
origem decorre de fundamentos racionais, filosóficos, científicos, entre outros. Esses
princípios, geralmente, coincidem com o conjunto de valores seculares de mundo e
de bem, tais como: o respeito à vida e à dignidade humana, o tratamento igualitário
das pessoas, a liberdade de consciência, crença e convicções, e os direitos
individuais e coletivos (BRASIL, 2017, p. 439).

A moralidade, a ética, os bons costumes estão presentes além das religiões, muitas
destas pautas, comumente reconhecidas como filosofias de vida são assumidas por pessoas
religiosas e também pelas sem religião. São em sua maioria ensinamentos comuns, não
restritos à religiosidade, que são conhecidos por muitas pessoas que se ligam somente a eles
sem denominação religiosa definida. Por este ponto, a falta de religiosidade e as suas
18

motivações também passam a constituir aspecto de inclusão e de reconhecimento da


descrença também como um aspecto religioso, não como religião, pois as filosofias de vida
também são parte de um patrimônio religioso.

5. UM POUCO SOBRE CURRÍCULO

Frente a todas as considerações elencadas até aqui, faz-se conveniente discorrer um


pouco sobre currículo. Não é uma problemática que possa ser compendiada facilmente, mas
para o presente estudo, apresentar as definições formal e oculta constitui um acréscimo
importante. Antes disto, “sabemos, entretanto, que popularmente o termo currículo é utilizado
para designar o programa de uma disciplina, de um curso, ou de forma mais ampla das várias
atividades educativas, através das quais, o conteúdo é desenvolvido” (PACHECO, E., 2017, p.
2796). Mesmo sendo uma forma rasa de entendimento ela é parte necessária, os programas, os
conteúdos elencados, as formas de avaliação, etc., embora sejam aspectos técnicos e/ou
burocráticos, eles materializam algo mais amplo. Como tem se discutido até aqui, o que
reconhecidamente é católico, tem enveredado por campos não católicos até torná-los tais
como. Não é por acaso que o ensino religioso no Brasil tem marca fortemente católica.

O sistema brasileiro de educação tem suas raízes nas grandes campanhas de


evangelização/alfabetização da trajetória portuguesa junto ao clero a partir de 1549,
que perdurou até o Século XVIII. As escolas eram instituições internamente ligadas
as igrejas, onde se aprendia [...] o ensino religioso, que continha uma carga horária
considerável de ensinamentos litúrgicos, inclusive o próprio exercício da fé católica,
através de rezas, principalmente em momentos como antes das refeições e início das
atividades didáticas. Tal prática tinha por objetivo disseminar a ideologia
política/ideológica do catolicismo, pois na época, esta era a religião oficial do
território de colonização e de Portugal (NETO, 2016, p. 232).

Este trecho não apresenta uma realidade alheia aos tempos atuais, facilmente é possível
perceber exemplos de práticas católicas nas escolas públicas e, sobretudo nas confessionais, e
não somente, períodos como Páscoa, Festejos Juninos e Natal são tradicionalmente fortes até
mesmo fora das escolas. Mesmo que em muitas ocasiões as formas de comemoração se
distanciem do sentido religioso, mas as suas raízes são cristãs católicas. Neto (2016) faz
referência a um momento de evidente oficialidade do currículo católico que, atualmente não
se verifica na BNCC, como foi visto acima, já não há em caráter oficial o privilégio da parte
católica. No entanto, estão profundamente fixados na cultura educacional brasileira, os
19

saberes e costumes católicos e podem ser facilmente configurados como um currículo oculto
que “[...] está presente de forma marcante no cotidiano dos processos educativos. [...] É
caracterizado pelas ações implícitas que permeiam as instituições escolares” (PACHECO. E.,
2017, p. 2803). E ainda, como afirma Libâneo (2012, p. 44 apud PACHECO, E. 2017, p.
2803) “embora recôndito, atua de forma poderosa nos modos de funcionar das escolas e na
prática dos professores”.
Hoje os conteúdos católicos, legalmente afirmando, devem constituir um conjunto de
conhecimentos e tradições religiosos, que venham a compor o currículo formal no aspecto
religioso, em vez de ser a sua totalidade, sobretudo nas unidades públicas. Mas nas unidades
confessionais, como se verá mais adiante, embora possa haver espaço para outros credos, ele
não é semelhante ao católico, este se sobrepõe aquele.
Nas unidades confessionais católicas o currículo especialmente dotado de sua doutrina
não é oculto, é explícito e formal. Desta feita, “[...] pode então ser compreendido como o
ponto central da prática pedagógica por permitir a discussão e definição de qual conhecimento
é válido ensinar (FONSECA e PINTO, 2017, p. 60). Do ponto de vista da Igreja isto é crucial,
mesmo que as liberdades de pensamento e religiosa também estejam presentes, isto não se
constitui como impedimento à sua ação pedagógica-evangelizadora. Dependendo de quais
sejam as ideias a Igreja pode não impedir que elas constem nas pautas do ensino que
promove, mas se elas não estão em absoluta conformidade com a sua doutrina, elas poderão
ser assimiladas e mais tarde subordinadas.
O objetivo primeiro da educação católica e de seu currículo religioso

[...] é o de produzir influências diretas e significativas na prática pedagógica. Ele


consiste, portanto, em um conjunto de experiências vivenciadas pela pessoa, as quais
são capazes de modificar comportamentos que repercutem na identidade desse
indivíduo (FONSECA e PINTO, 2017, p. 61).

Deste modo, as escolas católicas são espaços privilegiados para educação de qualidade
como exige a legislação, como necessitam os cidadãos e como a própria Igreja determina.
Este princípio está à serviço da formação da identidade católica no indivíduo, na sua família e
por repercussão, na sociedade.

6. COMO A IGREJA CATÓLICA SE POSICIONA: SUBSÍDIOS AOS DIRETORES DE


UNIDADES CONFESSIONAIS
20

6.1. As Normativas Católicas

A Igreja Católica possui orientações acerca de todas as suas ações, desde as


propriamente doutrinárias e dogmáticas até aquelas direcionadas a outros campos como a
saúde e a educação. Sobre esta última, se fará, inicialmente uma referência a alguns textos da
Igreja, em caráter universal e a partir de dicastérios da Santa Sé.
O primeiro destaque vai para um documento de 1965. Denominado de Gravissimum
Educationes é uma declaração sobre a educação cristã. Trata-se de um documento basilar da
prática educativa católica, em que, dentre outras afirmativas, destaca-se a seguinte:

No desempenho do seu múnus educativo, a Igreja preocupa-se com todos os meios


aptos, sobretudo com aqueles que lhe pertencem; o primeiro dos quais é a instrução
catequética que ilumina e fortalece a fé, alimenta a vida segundo o espírito de Cristo,
leva a uma participação consciente e activa no mistério de Cristo e impele à acção
apostólica. A Igreja aprecia muito e procura penetrar e elevar com o seu espírito
também os restantes meios, para cultivar as almas e formar os homens, como são os
meios de comunicação social, as múltiplas organizações culturais e desportivas, os
agrupamentos juvenis e, sobretudo, as escolas. (IGREJA CATÓLICA, 1965, p. 2)

Este trecho enuncia duas perspectivas, uma relaciona-se diretamente com as práticas e
concepções propriamente religiosas. Elas servem ao objetivo direto da Igreja em anunciar a
mensagem do Evangelho, de acordo com todos os meios possíveis, dos quais se sobrepõe a
catequese, entendida como o ensino da fé católica (IGREJA CATÓLICA, 2000). Trata-se do
uso dos meios de comunicação, de espaços e momentos planejados especialmente para este
fim, por católicos e para católicos. A segunda perspectiva representa uma expansão dos
espaços específicos para os outros, referindo-se aos ambientes mais amplos da sociedade
como as escolas, principalmente. Neles encontram-se pessoas de variadas etnias, religiões e
classes sociais, a todas, a Igreja oferece a sua mensagem e também a sua prática como uma
contribuição sua para o bem estar de todos. É um viés social da Igreja Católica.
Para tanto, ela mesma mantêm suas próprias instituições: “a presença da Igreja no
campo escolar manifesta-se de modo particular por meio da escola católica ” (IGREJA
CATÓLICA, 1965, p. 2). Este peculiar espaço, é estratégico, pois não somente se fomentam a
presença de educadores católicos como pode ocorrer nos espaços públicos – laicos – mas a
sua rotina, a sua orientação, vai se submeter à uma doutrina, com a qual o seu público estará
constantemente em contato. Este corpo discente não é selecionado entre os correligionários,
mas pessoas de credo ou sem credo também procuram estas escolas. Deste modo, a Igreja
21

entra em contato com a pluralidade religiosa, ao mesmo tempo em que se preserva na sua
própria cultura.

Por isso, visto que a escola católica tanto pode ajudar na realização da missão do
Povo de Deus, e tanto pode servir o diálogo entre a Igreja e a comunidade humana,
para benefício dos homens, também nas circunstâncias actuais (sic) conserva a sua
gravíssima importância. Por tal motivo, este sagrado Concílio proclama mais uma
vez que a Igreja tem o direito, já declarado em muitíssimos documentos do
magistério, de livremente fundar e dirigir escolas de qualquer espécie e grau,
recordando que o exercício de tal direito muito pode concorrer para a liberdade de
consciência e defesa dos direitos dos pais, bem como para o progresso da própria
cultura (IBIDEM, p. 3).

Por tal, não se pode conceber a escola católica sem levar em consideração a sua dupla
finalidade, aquela que é proclamada a respeito das escolas comuns, para desenvolvimento
pleno das pessoas e preparo para o exercício da cidadania, como reza a LDBEN Nº 6364/96
(BRASIL, 1996). E aquela que é reclamada como direito da própria Igreja, tendo em vista o
seu caráter eminentemente educativo, sobretudo no que tange a sua prática catequética – o
anúncio de uma mensagem. A respeito deste direito e sua base legal já houve apreciação dos
fundamentos legais como indicados pela legislação brasileira. Diante desse contexto, a
Gravissimum Educationis vai acrescentar que

é necessário que todas as escolas, de qualquer modo dependentes da Igreja, sejam


conformes a este modelo de escola católica, embora esta possa revestir várias formas
segundo as condições de lugar. Sem dúvida a Igreja estima profundamente também
as escolas católicas que, sobretudo nos territórios das novas cristandades, são
frequentadas por alunos não católicos (IBIDEM, p. 3).

Disto se concebe que existem não apenas um tipo de escola confessional, há aquela com
influências católicas pouco ou medianamente expressivas, pois tem alguma ligação com
aspectos ou instituições católicos, bem como aquela completamente orientada e mantida por
católicos. Mas em qualquer uma – subtende-se – haja ou haverá respeito às diferenças de
credos. Como já foi mencionado um pouco mais acima, não somente alunos católicos estão
presentes nas escolas confessionais, por essa razão eles devem ser respeitados segundo suas
singularidades, sem qualquer configuração de competição de crenças.
Tal problemática não se encerra facilmente. Um dos Dicastérios da Santa Sé emitiu um
outro documento com a finalidade de esclarecer alguns pontos ambíguos ou mesmo ratificar
os mais objetivos. A Congregação Para a Educação Católica publica em 1977 o texto “A
22

Escola Católica”, pois proclamava o fato de que, não obstante as diferenças, a identidade
católica deveria ser preservada.

Ciente e consciente dos graves problemas inerentes à educação cristã na sociedade


pluralista contemporânea, a S. Congregação para a Educação Católica julga dever
parar a atenção prioritariamente sobre a natureza e sobre as notas características de
uma escola que quer definir-se e apresentar-se como « católica ». A heterogeneidade
das situações em que a Escola Católica se vê obrigada a actuar nos diversos Países
de tradição cristã ou não cristã, devendo ter em conta também as diferentes
legislações, impõe que os problemas que lhe dizem respeito sejam tratados e
resolvidos por cada uma das Igrejas locais no quadro dos diversos contextos sócio-
culturais (SANTA SÉ, 1977, p. 1).

Isto prescreve que, não havendo condições suficientes de julgar com exatidão cada caso
a mais alta instância da Igreja delega as funções de aprovar, definir, orientar e administrar
escolas como católicas às instâncias nacionais e diocesanas, pois estas estão em contato mais
direto com a cultura e os costumes dos diversos países onde se encontram a Igreja e órgãos
sociais mantidos por ela. Os menores órgãos católicos deverão fazer as adaptações necessárias
sem prejuízos às normativas confessionais e aos discentes adeptos dos diferentes credos.
Por essa razão o documento continua: “o projecto (sic) educativo da Escola Católica,
que deve ter em conta os actuais (sic) condicionamentos culturais, define-se precisamente pela
referência explícita ao Evangelho de Jesus Cristo, que deve radicar-se na vida e na
consciência dos fiéis” (IBIDEM, p. 2). É uma característica própria destas escolas, que se
constituam nos ambientes propícios à manifestações da religiosidade católica, e sejam,
inclusive, propagadores da mesma crença, ações protagonizadas e direcionadas pelos e para
os indivíduos – a saber, profissionais, alunos e familiares de alunos – que possam ser
reconhecidos como fiéis correligionários. Em resumo, as escolas católicas recebem a missão
de ser defensoras do catolicismo, ao mesmo tempo em que acolhem os indivíduos de outras
religiões ou que não assumam qualquer credo. Estes últimos, as frequentarão normalmente
sem serem obrigados a compartilharem as mesmas práticas. Mas deverão saber que, se vão ser
inseridos num ambiente católico, eles terão contato com as ideias e práticas correspondentes,
mesmo que jamais as assumam para si.
Isto se dá porque as escolas católicas não devem ser vistas como instituições católicas
apenas, ou tão somente como escolas. Trata-se de uma composição, são escolas – de fato – e
são escolas católicas – principalmente. Logo, mesmo que o presente estudo tenha privilegiado
o ideário católico antes do pedagógico, o documento que agora se discute, antes define a
escola católica como escola, para depois caracterizá-la segundo a fé. Assim, afirma “para
23

compreender em profundidade qual é a missão específica da Escola Católica é oportuno


apelar ao conceito de «escola», precisando que, se não for «escola» e não reproduzir os
elementos que caracterizam a escola, não pode ser escola «católica»” (IBIDEM, p. 5). Por
essa razão, não é um lugar exclusivo para católicos, mas é um lugar característico. Nisto,
convêm apresentar uma comparação, pensa-se em um restaurante que oferece a comida típica
de algum país. Geralmente estabelecimentos assim possuem em sua caracterização os traços
culturais da nação que representam, o espaço, as cores, a música e é claro, a comida. Por fim,
tal espaço tem como propósito oferecer as riquezas de seu país, a clientela, por sua vez,
frequenta o espaço conforme sua escolha respaldada em objetivos bem particulares, talvez
apenas para conhecer uma cultura diferente, enquanto também preserva a sua própria. Nesta
alegoria o restaurante típico oferece o que deve oferecer: comida típica. Enquanto os clientes
– de nações plurais – buscam-no conforme seus interesses nem sempre conjugados com os do
estabelecimento.

Assim concebida, a escola não implica apenas uma escolha de valores culturais, mas
também uma escolha de valores de vida que devem estar presentes de maneira
operante. Por isso ela deve constituir-se como uma comunidade na qual os valores
são comunicados por autênticas relações interpessoais entre os diversos membros
que a compõem e pela adesão não só individual, mas também comunitária, à visão
da realidade em que a escola se inspira (IBIDEM, p. 6).

Portanto, a típica identidade católica é algo a mais. A escola confessional tem,


substancialmente tudo o que qualquer escola precisa ter para cumprir sua tarefa. Daí as bases
legais que orientam a educação pública também são aplicáveis. Deste modo, uma escola
católica também está preocupada com o desenvolvimento pleno dos seus alunos,
individualmente e coletivamente. Observa-os, antes de tudo, como seres humanos para
oferecer-lhes, a princípio, um serviço de qualidade que lhe propicie o seu pleno
desenvolvimento.

A Escola Católica [...] parte de uma concepção profunda do saber como tal; não
pretende de modo algum desviar o ensino do objectivo (sic) que lhe é próprio na
educação escolar. Neste contexto cultivam-se todas as disciplinas no respeito pleno
do método peculiar de cada uma. Seria portanto errado considerar as disciplinas
escolares como meras auxiliares da fé ou como meios utilizáveis para fins
apologéticos (IBIDEM, p. 7).

Assim sendo, vale esclarecer há um currículo comum para todas as escolas


confessionais ou não, bem como uma didática abrangente que atende a todo o público escolar.
Esta é uma prioridade, caso contrário, como se pode constatar, não seria autêntica escola. Só
24

depois disto, é que a autêntica escola poderá se constituir como genuinamente católica,
acrescentando seus valores àqueles mais fundamentais e advindos de qualquer crença.
Dentro deste aspecto, ocupa singular espaço o componente curricular do Ensino
Religioso, que o Documento em questão não deixa de mencionar. O que já se fez acima, a
partir da BNCC. Então o texto prescreve:

Sem entrar na discussão sobre a problemática relativa ao ensino da religião na


escola, deve sublinhar-se que esse ensino, embora não se esgote nos «cursos de
religião» integrados nos programas escolares, deve ser ministrado na escola de modo
explícito e sistemático, a fim de que não venha a criar-se na mente dos alunos um
desequilíbrio entre a cultura geral e a cultura religiosa. Tal ensino é completamente
diferente dos outros, porque a sua finalidade não é a mera adesão da inteligência às
verdades religiosas, mas a adesão de todo o ser à pessoa de Cristo (IBIDEM, p. 9).

A princípio, a Igreja por meio deste aporte normativo entende que o Ensino Religioso
tem sua importância por explicitar os aspectos religiosos juntamente com os culturais, de
modo que a cultura não seja sobreposta à religião, mas estejam num mesmo patamar. Por
meio disso se indica que o sentimento religioso tem uma importância equivalente ao
sentimento de pertencimento a determinado povo, a identidade de determinada etnia. A
religião é então vista, em sua amplitude como aspecto fundamental da formação humana,
igualmente a não religião, aspecto que também seria tratado neste caso. Porém, o mesmo item
curricular é concebido como uma oportunidade catequética na escola católica, especialmente
nesta questão se constitui um conflito entre catolicismo e outras expressões religiosas. Neste
ponto a Igreja reclama um espaço maior, cujos limites foram analisados mais acima, quando
se tratou da questão legislativa que, retomando breve e sucintamente, prescrevem um ensino
equilibrado. Além disso, a própria Igreja impõe a si mesma algumas precauções, como a
seguir:

É sublinhado o altíssimo valor do direito à liberdade religiosa: «Todos os homens


devem estar livres de coação, quer por parte dos indivíduos, quer dos grupos sociais
ou qualquer autoridade humana; e de tal modo que, em matéria religiosa, ninguém
seja forçado a agir contra a própria consciência, nem impedido de proceder segundo
a mesma, em privado e em público, só ou associado com outros». O respeito de tal
direito assume um valor emblemático «do autêntico progresso do homem em todos
os regimes, em todas as sociedades e em todos os sistemas ou ambientes» (SANTA
SÉ, 2004, p. 53-54).

Por tais pareceres, a ação católica educativa não deve estar dotada de alguma forma de
violência que imponha a sua doutrina. Ela pode sugerir, como o faz qualquer instituição,
corporação ou pessoa que, segundo objetivos bem específicos pretenda divulgar alguma
25

mensagem, seja uma propaganda comercial, uma campanha política, entre outros. Mas o
público que é atingido por estas sugestões adere ou não a elas. Na escola católica, o alunado
será alvejado pela doutrina através dos conteúdos, das imagens sacras, das rotinas, do próprio
nome da instituição, etc., isto tudo é uma materialização da ação evangelizadora da Igreja
através do ensino, mas assumir a fé católica não é condição obrigatória para os que lá
estudam.
Além disto, longe do proselitismo, as preocupações da Igreja se concentram
especialmente nos que são parte do seu corpo de fiéis. O Código de Direito Canónico, um dos
principais documentos católicos, prescreve a respeito da educação:

Cân. 793 - § 1. Os pais e os que fazem suas vezes tem obrigação e o direito de
educar sua prole: os pais católicos tem também o dever e o direito de escolher os
meios e instituições que possam, de acordo coma as circunstâncias locais, prover de
modo mais adequado para à educação católica dos filhos (SANTA SÉ, 1983, p.
214).

Isto pode ser entendido sob duas óticas: A primeira aponta para qualquer família que,
dotada de liberdade, pode escolher a forma de educação que considerar mais adequada aos
seus jovens, dentro destas escolhas, a escola católica seria uma possibilidade; A segunda
dirige-se de modo especial às famílias que assumem a confissão católica e, desejosa de que
sua prole seja educada de acordo com a sua fé, buscará, convenientemente uma instituição
confessional que sirva a este propósito.

6.2. A Competência dos Diretores de Escolas Católicas

Diante de tais entidades, de um lado a Igreja, de outro o aparelho legal e a sociedade, no


meio os alunos e suas vivências, como devem agir e como agem, os gestores das escolas
confessionais católicas?
Junqueira e Leal (2014) fazendo referência ao Código de Direito Canônico, explicam
que a escola católica é uma instituição reconhecida como tal pela Igreja Católica e que é
dirigida por alguém indicado por ela. No caso destes gestores, eles precisam corresponder ao
que Bankersen e Stockmanns (2013, p. 5) afirmam:

A gestão administrativa e pedagógica, com o acompanhamento do desenvolvimento


do trabalho pedagógico dos docentes, pode ser considerada como um trabalho
essencialmente humano-social, voltado para os valores, para a ética, para o contexto
histórico dos alunos, fazendo com que tanto os docentes, como os educandos,
produzam e transformem o meio em que vivem de modo que possam conquistar
26

realmente seus objetivos com potencial inteiramente favorável à realidade do


processo histórico em todas as dimensões.

Embora a competência dos gestores seja principalmente administrativa, eles também


possuem a pedagógica. Com o alinhamento das duas se faz necessário uma proximidade
pautada por valores substanciais nas relações humanas, as questões do respeito e da confiança
são sumariamente necessárias nas relações de trabalho. O que estas autoras indicam é que as
relações humanas aquém e além da ambiência escolar precisam ser valorizadas, pois elas
repercutirão nas práticas dos profissionais de educação e atingirão os alunos por último. Se o
que tem sido construído positivamente pelas sociedades está na pauta e na prática
administrativa-pedagógica, a tendência será a valorizar a realidade dos alunos e terá condições
de atender às suas necessidades em matéria pedagógica e de valores, o que, por sua vez,
indica o viés religioso.

Neste espaço, pensa-se em um gestor [...] multidimensional capaz de acompanhar as


novas gerações que adentram as escolas católicas com uma infinidade de
informações, porém com poucas condições de processá-las criticamente. Portanto o
papel do [gestor] se torna indispensável e necessário, no intuito de apontar
estratégias de análise diante do contexto que os envolve e das muitas informações
que toma conta do mundo infanto-juvenil dessas instituições de ensino
(DASSOLER, 2015, p. 96-97).

Por isto, evidencia-se claramente a necessidade de desenvolver múltiplas competências,


mas neste caso a dialógica se sobrepõe. A quantidade de informações que os alunos traz não
significa a capacidade de tratá-la adequadamente. É neste momento que o gestor da escola
católica articulando bem toda a sua equipe favorecerá aos alunos as oportunidades de
repensarem sobre seus conhecimentos acumulados e tomarem decisões mais conscientes. Os
porquês que serão buscados abrirão oportunidades para os valores pregados pela fé católica –
e por outras crenças de acordo com os dispositivos legais – serem apresentados como
possibilidades, como sugestões de valores a serem adotados diante da sociedade, para onde os
alunos retornarão. Espera-se, mais capacitados por meio dos valores autenticamente humanos
contribuírem para uma sociedade melhor.
Neste sentido, o grande desafio do gestor da escola confessional, segundo o que lhe
compete será o de “[...] zelar pela tradição da escola católica, ser capaz de interpretar as
demandas do tempo presente a atualizar-se constantemente” (IBIDEM, p. 97). Isto se
corporificará no diálogo onde a transparência se destaca, de modo que o respeito às diferenças
seja acompanhado da autenticidade de cada parte.
27

Especialmente autêntico é o diretor da escola católica, em conformidade com o Código


de Direito Canônico: “Cân. 803 - § 1. Como escola católica, entende-se aquela que é dirigida
pela autoridade eclesiástica competente [...] § 2 [...] Os mestres devem distinguir-se pela
retidão de doutrina e probidade de vida” (SANTA SÉ, 1983, p. 215). Portanto, o diretor
eclesiástico é principalmente um padre que, somando à sua tarefa educativa catequética,
assume a tarefa de educador na escola, que não será nos mesmos moldes de qualquer
educador, mas de um educador católico.

[...] a profissão do educador possui uma característica específica: a transmissão da


verdade. E esta característica atinge o seu sentido mais profundo no educador
católico. Para ele, qualquer verdade é sempre uma participação da única Verdade. A
comunicação da verdade, como realização da sua vida profissional, transforma-se no
caráter fundamental da sua participação na missão profética de Cristo, que ele
prolonga com o seu ensino (SANTA SÉ, 1982, p. 4).

Neste aspecto, é retomada a mesma concepção de educar que este estudo apresentou
desde o seu início, ou seja, promover o ensino, como tal, obviamente, mas imbuído do saber
católico que requer a evangelização como fim último.
O diretor católico, não é um profissional regular, pois ele tem dupla obrigação, a
pedagógica como de praxe e a religiosa, por ser ele mesmo um fiel e por ser tutor de um
sistema confessional. Ele deve possuir em primeiro plano, todas as competências próprias de
um diretor de escola, por exemplo, a capacidade de:

Promove[r] a visão abrangente do trabalho educacional e do papel da escola,


norteando suas ações para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos;
Gerencia[r] a correta e plena aplicação de recursos físicos, materiais e financeiros da
escola para melhor efetivação dos processos educacionais e realização dos seus
objetivos (LÜCK, 2009, p. 93.105).

Trata-se de ser capaz de desempenhar adequadamente as responsabilidades


administrativas, comuns a qualquer espaço organizacional, mas, neste caso, de fazê-lo com
objetivos pedagógicos e confessionais. Um diretor eclesiástico precisa ter, em matéria de
habilidades, algo necessário aos demais diretores, as questões culturais, administrativas,
econômicas, políticas e pedagógicas são substancialmente as mesmas nas unidades
confessionais ou não, e requerem as mesmas aptidões, inatas ou adquiridas pela experiência, e
especialmente pela formação acadêmica ou equivalentes, já que a própria Igreja orienta que

o profissionalismo é um dos caracteres da identidade de todo [...] católico. A


primeira coisa que o educador [...], desejoso de viver a própria vocação eclesial,
28

deve esforçar-se por obter é uma formação profissional sólida, que abrange, no seu
caso, um amplo conjunto de competências culturais, psicológicas e pedagógicas
(SANTA SÉ, 1982, p. 4).

E em segundo plano, tomando as afirmações de Lück (2009, p. 115), “promove[r] na


escola um ambiente orientado por valores, crenças, rituais, percepções, comportamentos e
atitudes em consonância com os fundamentos [...]” da doutrina da Igreja Católica. Afinal,
toda a educação se inspira numa determinada concepção do homem. No mundo pluralista de
hoje o educador católico é chamado a inspirar conscienciosamente a própria ação na
concepção cristã do homem, em comunhão com o Magistério da Igreja (SANTA SÉ, 1982, p.
4).
Todas estas orientações descrevem e regulam o agir do diretor eclesiástico. Ele não
pode distanciar-se delas, mas deve uni-las numa concepção católica de educação, que é
promover o ensino como contributo ao desenvolvimento humano, somado com a
evangelização, de modo que educar assume também o sentido missionário.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O empreendimento deste estudo percorreu um processo marcado por conflitos desde o


seu início. A Igreja Católica mostrou-se, ao longo da história plenamente capaz de preservar
sua doutrina apesar das dificuldades. Já no início da Idade Média, foi crucial o
estabelecimento de um modo de embate sofisticado, constituído de uma assimilação inicial e
de uma posterior reafirmação doutrinária e conversão do campo assimilado. Assim, depois de
conquistar o campo educativo na Europa, chega à Colônia Portuguesa, que mais tarde se
tornaria o Brasil. Aqui protagonizou o início da História da Educação Brasileira, deixando
uma fortíssima influência mesmo quando o estado separa-se oficialmente da religião. No
espaço público são perceptíveis os traços deixados pelo catolicismo, no espaço privado se
desenha uma completa obra educativa catequética que, mesmo dialogando com outras crenças
e descrenças, se mantêm firme, à semelhança das antigas obras escolares confessionais.
Constatou-se que, tradicionalmente, os educadores da Igreja, em particular os dirigentes
das escolas, arautos de uma educação que preza pela qualidade, são continuadores do
aprimorado jeito de adentrar em novas culturas, espaços e tempos para transformá-los em
genuínos contextos católicos, ou pelo menos permanecerem fieis junto aos seus
29

correligionários. Deste modo os diretores católicos acolhem diferentes crenças, dão-lhes


algum espaço, mas nunca devem fazer nada que diminua o que já foi conquistado pela Igreja
Católica. Sua concepção de diálogo, exige, em primeiro lugar um auto reconhecimento de ser
católico, é preciso perceber-se como tal; Em segundo lugar uma autêntica afirmação, ou seja,
mostrar que professa tal credo; Em terceiro lugar, receber o outro diferente, reconhecê-lo,
conviver com ele ao mesmo tempo em que permanecem invioláveis os princípios católicos.
Estes termos deixam algo aberto: uma descrição de rotinas, um discurso de um diretor
católico, um regimento interno de uma unidade educacional católica, uma relação de
conteúdos e materiais didáticos do Ensino Religioso neste tipo de escola, entre outros
problemas são possibilidades que este estudo sugere para que outros empreendimentos de
pesquisa os contemplem, pois o presente chega ao fim, sendo merecedor de uma
continuidade. Mas por hora, resta concluir que a educação, como percebida pela Igreja,
assume em grande parte as definições comuns, como o processo que objetiva contribuir para
um desenvolvimento integral do indivíduo e da sociedade, mas, ao mesmo tempo subordina
esta definição a uma instrumentalização de sua ação evangelizadora, principal missão de seus
membros, inclusive diretores eclesiásticos.

LA COMPETENCIA DE LOS GERENTES ECLESIOS EN LA EDUCACIÓN


CONFESIONAL CATÓLICA

RESUMEN: La participación de la Iglesia Católica en la actividad educativa es antigua,


asumiendo diversas configuraciones y pasando por los siglos hasta hoy. Hoy en día, cuando se
presentan tantas formas de pensamiento, los líderes eclesiásticos necesitan preservar la
identidad católica en su dimensión educativa. En vista de esto, el propósito principal de este
estudio fue examinar cómo los documentos de la Iglesia Católica guían el trabajo de los
directores eclesiásticos para preservar la identidad educativa confesional. En cumplimiento de
este objetivo, destacan los siguientes análisis bibliográficos y documentales, con
contribuciones de Brandão, Libâneo, Saviani, Lück, Sangenis, entre otros, las siguientes
notas: El reconocimiento de las influencias franciscana y jesuita al comienzo de la Historia de
la Educación Brasileña. , como un despliegue de la ya antigua actuación de la Iglesia Católica
en el entorno educativo, dando como resultado una tendencia pedagógica católica; El análisis
de la contribución legal de la educación privada y confesional en Brasil, destacando el
30

componente curricular de la Educación Religiosa según el BNCC, con una breve referencia a
la idea del currículo católico; Y finalmente una apreciación de las normas católicas sobre sus
escuelas y sus respectivos líderes eclesiásticos. Todos estos puntos han contribuido a aclarar
que un aspecto dialógico pero marcado de la autenticidad católica conserva con éxito la
doctrina de la Iglesia, a pesar de la diversidad de pensamiento.
Palabras clave: Iglesia Católica. Educación católica Plan de estudios. Director eclesiástico.

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