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Créditos
Autores
Alex Inforzato, Antonio Joalison Araujo Moraes, Airton França Diniz Junior, Bruno José Ferreira de
Souza Peixoto, Eduardo Turini Ribeiro, José Rotondaro, Renato Simão

Capa
Adelson Santana (com ajustes de Tiago C. Nepomuceno)

Ilustrações Internas
Adelson Santana, Alisson Borges da Costa, Arthur Parreira, Ego Virtualis, Jorge Kenko, Licínio Souza,
Marlom Souza, Raoni Venancio, Vinicius Dinofre Dada

Coordenação
Marcelo Rodrigues

Revisão
Nelson Rosa

Publicação
Publicado pelo Projeto Tagmar em 12/5/2008 e disponível para download gratuito em
http://www.tagmar.com.br/

Revisão
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1
Licenciamento
Este livro foi adaptado do livro “Tagmar – RPG de Aventura Medieval” © 1991 de autoria de Marcelo
Rodrigues, Ygor Moraes Esteves da Silva, Julio Augusto Cezar Junior e Leonardo Nahoum Pache de
Faria; e está licenciada de acordo as seguintes condições: Atribuição-Uso Não-Comercial-
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Sumário
1 Introdução ...............................................................................................................................5
1.1 Apresentação .................................................................................................................................. 5
1.2 A Religião em Tagmar ................................................................................................................... 5
1.3 Como você pode Ajudar no Projeto Tagmar ............................................................................... 6
2 Prólogo ....................................................................................................................................8
3 As Ordens .............................................................................................................................17
3.1 Ordem Blator - Os Destemidos Senhores da Guerra ................................................................ 22
3.2 Ordem de Cambu - A Divina Prosperidade ............................................................................... 28
3.3 A Ordem de Crezir - Os Dragões Vermelhos ............................................................................ 35
3.4 A Ordem de Crizagom - Os Bravos Cavaleiros da Justiça ......................................................... 41
3.5 A Ordem Cruine – A Noite Eterna............................................................................................. 48
3.6 A Ordem de Ganis - A Grande Mãe........................................................................................... 54
3.7 A Ordem de Lena - Os Primorosos ............................................................................................ 60
3.8 A Ordem de Maira - Os Runcaim............................................................................................... 66
3.9 A Ordem de Palier - A Luz ......................................................................................................... 73
3.10 A Ordem de Parom - O Sacro Ofício ......................................................................................... 79
3.11 A Ordem de Plandes - A Divina Demência ............................................................................... 84
3.12 A Ordem de Selimom - O Alvorecer.......................................................................................... 90
3.13 A Ordem de Sevides, Liris e Quiris - Os Filhos da Terra ......................................................... 96
4 Epílogo ............................................................................................................................... 103

3
Introdução

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1 Introdução
1.1 Apresentação
Quando um homem prova seu valor a seu deus, torna-se um sacerdote. Quando este valor torna-se
evidente o bastante para impressionar outros homens, este sacerdote é convidado a integrar uma ordem.
Fazer parte de uma ordem é o primeiro passo importante na carreira eclesiástica de um sacerdote, uma
vez que ele é aceito como um verdadeiro e valoroso defensor de sua fé. O postulante admitido é
apresentado a novos mistérios da devoção, que aumentam seu vínculo com a divindade e,
conseqüentemente, sua capacidade para invocar milagres. Mas, como tudo isso acontece? A quem um
sacerdote responde? Quais seus dogmas, qual a estrutura de sua ordem?
Avessos à vulgarização de seus segredos, os mestres das diversas ordens divinas trancaram em seus
monastérios seus ritos sagrados, seus textos sapienciais, suas práticas iluminadas que levam à comunhão
do mundano com o divino. Às massas, restava o culto exterior e as prescrições morais. Mais você foi
escolhido...
Seja bem vindo à irmandade!
Neste livro você encontrará:
A gênese...
Todas as histórias das Ordens, desde sua fundação até os dias atuais. Saiba como tudo começou.
...os locais sagrados...
A organização e hierarquia das Ordens: onde ficam, quem são seus líderes, qual sua ética e seus votos.
Os mistérios do culto que levam à iluminação.
...e o poder da fé.
Os símbolos sagrados, a ideologia e os milagres — as dádivas divinas aos maiores defensores da
fé em Tagmar.

Os deuses, perfeitos e extemporâneos, não precisam de nós (ou não seriam deuses). Mas em sua divina
sabedoria, nos deram oportunidade de participar de algo de sua natureza — através da devoção, da fé, da
submissão sincera e constante. Não é um caminho para qualquer um; muitas vezes traz dúvidas e
decepções, e algumas vezes a responsabilidade parece pesada demais. Mas não há nenhum outro
caminho mais verdadeiro ou mais puro.
Kerdal, sacerdote de Crizagom.

1.2 A Religião em Tagmar


Uma Religião pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que os mortais
consideram como sobrenatural, divino e sagrado; bem como o conjunto de rituais e códigos morais que
derivam dessas crenças. Independente da origem, o termo é adotado para designar qualquer conjunto
de crenças e valores que compõem a fé de determinada pessoa ou conjunto de pessoas. Cada religião
inspira certas normas e motiva certas práticas. A religião, geralmente, é considerada uma “sala de
máquinas” para a espiritualidade de uma sociedade, influenciando vários aspectos desta, desde sua
cultura até suas tradições. É fato que toda religião possui um sistema de crenças no sobrenatural,
envolvendo os deuses.
Mas, o que são os deuses? De maneira bem simplista, podemos defini-los como entidades capazes de
reger aspectos (básicos ou não) no mundo mortal. Em Tagmar, cada divindade possui seus campos de
influência sobre o mundo, seus “domínios” e suas respectivas abrangências. E eles não apenas existem,
como também cedem seu poder a seus sacerdotes e, através destes e de seus milagres, interagem e
interferem no cotidiano de seus fiéis. Os deuses de Tagmar também podem intervir no mundo mortal

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através de demonstrações sobrenaturais de poder, as provas diretas de seu poder e influência, bem
como através de seus enviados, mas estas são raras e pouco utilizadas pelas divindades, que preferem as
maneiras mais sutis como sonhos, mensagens e situações específicas. No Mundo Conhecido,
atualmente, o que se observa é que o grande desafio das religiões de cada divindade não é convencer os
mortais de que seu deus existe, mas sim, de que os valores que aquela divindade defende são os mais
adequados para o presente, o “porquê” de seguir aquele deus específico; o que faz dele a melhor
escolha para as pessoas.
Cada religião possui seu credo, seu conjunto de crenças, práticas, dogmas e valores éticos e morais que
orientam os modos de agir e pensar de seus fiéis. Isto é largamente empregado nas congregações
comuns, mas é ainda mais valorizado nas chamadas Ordens Sacerdotais.

1.3 Como você pode Ajudar no Projeto Tagmar


O Projeto Tagmar é o responsável por manter e
desenvolver esta nova versão do RPG Tagmar.
Todo trabalho é feito por um processo de
criação coletiva onde um grupo grande de
pessoas trabalha voluntariamente para
desenvolver os livros.
Gostaríamos de convidar você, leitor, a
participar desta nobre missão. Sua
colaboração é muito importante e pode
ser feita de duas formas:
Mensagem: se você tem
sugestões/críticas para este livro ou
para algum outro livro do Tagmar,
mande uma mensagem para nós. Para isto
acesse:
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Participe do Projeto: se você gosta de escrever


regras, criar novas criaturas ou aventuras, ou gosta
de escrever textos de ambientação, ou ainda tem
vocação para desenhar, entre para o Projeto Tagmar
e participe mais ativamente da construção de um
RPG. Entrar para o projeto é fácil (e gratuito!), basta
seguir as instruções em:
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Prólogo

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2 Prólogo
Em algum lugar na região central de Abadom, 1290 D.C.
"Esperança. Tem de haver uma esperança. A justiça sempre triunfará no fim de tudo!"
Abro meus olhos e contemplo o brilho que sobe da fogueira na qual estou ao redor, encolhido,
tentando manter-me aquecido, enquanto as palavras ainda ecoam na minha mente. Elas foram ditas por
um jovem sacerdote, a cerca de três dias atrás, ao redor de outra fogueira, logo após ele começar a falar
sozinho depois que o cutelo de um orco decepou três dedos de sua mão direita. Ele ficou afastado,
mesmo depois de curado pelos companheiros, olhando para sua mão aleijada, agachado na lama e
repetindo aquela sentença para si mesmo. Se ele procurava por alguma forma de apoio ou simpatia,
pelo menos não acabou de mãos vazias, pois ninguém da nossa comitiva lhe deu atenção, exceto eu...
Hoje à noite, estou sentado ao redor de outra fogueira, a quase cinqüenta quilômetros ao norte,
recordando como ele gritou ontem pela manhã, quando um grupo de bankdis o cercou, derrubando a
espada que estava na sua mão esquerda e o cortaram em pedaços.
“Pelo menos seus algozes juntaram-se a ele”, repito a mim mesmo como se fosse um consolo...
Seu nome era Simas. Prometi a mim mesmo não esquecê-lo.
Olho para o que restou de nosso grupo desde a precipitada retirada das margens do rio Baloc, há seis
meses e vejo que muitos deles ainda carregam no rosto a mesma surpresa pelos acontecimentos
ocorridos nestes últimos anos.
A guerra contra a maldita seita já dura quase quarenta anos no norte, desde a invasão de Marana pelas
tropas verrogaris com o apoio dos demonistas. Abadom, apesar de sua corajosa resistência, está
desmoronando lentamente e o sul já está perdido há muito tempo...
Ludgrim, Eredra, Verrogar, Dantsem, todos nas mãos dos adoradores blasfemos dos seres das
profundezas. Mas ainda espero poder viver o suficiente para vê-los encontrar a liberdade. Oro todos os
dias a Crizagom para que ele me conceda esta graça.
A justiça sempre triunfará no fim...
É estranho admitir isso, mas estou me habituando a certas coisas como lembrar os nomes dos que
tombaram, das vilas em chamas por onde já passamos, da sensação do calor dos incêndios em nossas
costas enquanto prosseguimos, quilômetro após quilômetro em direção a Tronum, a capital de um país
sem rei, para de lá rumarmos para Filanti. Ouvimos rumores que seu monarca se juntara à Aliança,
embora um pouco tarde para isso, numa tentativa de conter o avanço dos demonistas sobre o sul de seu
país e decidíramos nos unir a ele. Minha unidade e outras duas foram escolhidas para esta empreitada.
Estávamos marchando há quase uma semana, escoltando um número crescente de refugiados do sul de
Abadom que resolveram nos seguir até o norte. Já havíamos encontrado inúmeras patrulhas e unidades
menores dos bankdis nesta região e a todas havíamos silenciado, não sem perdas, para que pudéssemos
atravessá-la sem termos de enfrentar uma perseguição maciça, o que colocaria as vidas dos pobres
desabrigados em terrível perigo.
- Mestre Kerdal, aceita um pouco do rescaldo que sobrou de ontem? Acabamos de aquecê-lo...
A voz de Leimar interrompeu meus devaneios e trouxe-me de volta à realidade. Ele era um jovem
neófito que se juntara ao nosso grupo há pouco tempo, vindo das montanhas da Cordilheira do
Sotopor, onde os soldados abadrim estavam se refugiando para tentarem uma nova estratégia de defesa
contra as hostes bankdis.
Era uma tentativa corajosa e até poderia resultar em algumas vitórias, mas aquilo, na minha opinião,
apenas adiaria o inevitável. Sem um rei que o comandasse e inspirasse, o exército abadrim estava
confuso e caótico. As cidades do Sul estavam caindo uma após a outra e parte da população do país
estava fugindo em direção do norte, para Plana e para o Oeste, além do rio Sul, fugindo da guerra.
- Somente um pouco, Leimar, obrigado. Não estou com muita fome hoje!

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Servi-me de uma caneca da sopa requentada enquanto observava os outros acólitos. Muitos deles eram
muito jovens, quase ainda não tendo idade para se barbear direito e já haviam presenciado horrores que
muitos adultos nunca veriam na vida.
Leimar serviu mais um companheiro e pegou um caneco para si, vindo sentar-se perto de mim.
- Mestre Kerdal, é verdade que vamos para Tronum? – perguntou.
- Exato. Precisamos apresentar-nos a Dahrio e nos juntar aos demais sacerdotes que foram convocados
para viajar até Filanti e de lá seguirmos viagem até Plana.
- O senhor já esteve em Tronum, mestre Kerdal? Chegou a ver o Palácio Imperial antes... antes do
ocorrido?
Chamas, fogo, gritos, dor, morte...
- Sim, Leimar. Já tive a oportunidade de conhecer a grande e poderosa capital deste país com suas altas
muralhas e suas torres, com seus grandes portos, estalagens e ruas de comércio. Também tive a chance
de ver e conviver com alguns grandes homens da Guarda da Lança.
- O senhor conheceu alguns destes bravos guerreiros? – Leimar perguntou-me com os olhos bem
abertos, cheios de legítima surpresa.
- Cheguei a conhecer alguns destes bravos homens. Eles faziam jus à sua fama de elite do exército
abadrim.
- E o Palácio Imperial, mestre Kerdal, como ele era? Eu nunca fui a Tronum na minha vida.
Chamas, fogo, gritos, dor, morte, sangue, muito sangue, desespero, impotência...
- Imponente. Uma bela construção, com seus salões suntuosos, suas cúpulas resplandecendo a luz dos
primeiros raios do sol, seus jardins esplendorosos, as festividades...
Alegria, triunfo, êxito, o rei, os nobres, o salão em festa, o comandante da frota, a cabeça... o calafrio... a
sensação de algo estranho...
Balancei a cabeça para espantar aquelas recordações.
- O que o senhor acha que pode ter acontecido para ocorrer tamanha tragédia, senhor? – a pergunta foi
feita em um tom mais baixo de voz.
Traição, luto, desonra, injustiça, mal, demônios, magia...
- Isso não importa agora, Leimar. Buscar causas ou fatos ou especulações do que aconteceu naquela
noite não importa mais. Isto foi há três anos. Repisar o passado não mudará o futuro. Estaremos
serrando serragem fazendo isso. Devemos nos concentrar no presente. No hoje, pois é tudo isso o que
vale a vida. O amanhã pertence ao conhecimento dos deuses. O passado deve nos ensinar jamais nos
atrapalhar na busca da justiça.
Um som de choro de criança ergueu-se no meio do acampamento, misturando-se ao lamento dos mais
idosos e ao pranto dos enlutados. Para aquelas pessoas, que perderam quase tudo que tinham, exceto
suas vidas, minhas palavras não trariam nenhum alento.
O jovem acólito tomou um gole de sua sopa e olhou-me nos olhos. Suas mãos tremiam... o choro da
criança ficou mais alto e mais forte...
- Tenho medo de nunca mais voltar para casa, mestre Kerdal. É duro admitir isso, mas eu o sinto
entranhando-se dentro de mim, querendo drenar minhas forças. Estou me sentindo impotente, inútil.
Sorri-lhe. Começava a gostar daquele jovem e sincero humano.
- Leimar, o medo é natural. Somente uma pedra ou uma árvore não sente medo. Mas ele pode e deve
ser suplantado, vencido pela fé naquilo que você acredita: na justiça, na honra, no bem, na verdade
acima de qualquer coisa. Creia-me, seguir os mandamentos de Crizagom não é fácil. Ele nos exige
pureza na alma e no corpo, um comportamento honrado e justo. É quase impossível sobreviver neste
mundo corrupto e decaído que se tornou o nosso com este comportamento, mas nós o seguimos e

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entramos em batalha não porque amamos o gosto por sangue, mas sim pelo senso de justiça que
possuímos, pela honra e pela ordem que devem ser preservadas e porque a verdade sempre triunfa no
final. Seja fiel a Crizagom em seu coração, acreditando no que ele acredita e ele o encherá de coragem
para suplantar qualquer medo que venha contra ti.
Pude perceber o refrigério que estas palavras trouxerem ao jovem acólito.
- Obrigado, mestre Kerdal. Suas palavras alentaram e aquietaram meus temores.
- Isto não se aprende da noite para o dia, Leimar. Leva-se tempo, mas você é jovem e creio que
Crizagom tem muitos planos para você ainda. Agora termine sua refeição e vá se deitar. Temos um
longo dia pela frente amanhã.
***
No dia seguinte continuamos nossa marcha em direção ao norte, com o intuito de chegarmos até a
estrada que nos levaria para Oeste, até as cordilheiras e de lá para Tronum. Fomos agraciados pelos
deuses, pois não encontramos nenhuma patrulha bankdi pelo caminho e nenhuma escaramuça
aconteceu. Foi assim também pelos próximos dois dias. A multidão de refugiados crescera um pouco
mais...
Na tarde do terceiro dia nossos batedores retornaram até o grosso de nossa formação trazendo uma
notícia que me deixou alarmado.
- Senhor, vimos um contingente de soldados armados perto do entroncamento da estrada que leva até as
montanhas de Sotopor. Estão acampados lá.
- Demonistas? – perguntei sobressaltado.
- Não, senhor. São aliados. Vimos o estandarte de nosso deus fixado no meio do acampamento deles.
O que um grupo armado estaria fazendo acampado no entroncamento da estrada que levava para a
capital?. Algo não estava certo.
- Levem-me até lá.
***
Chegamos até o acampamento do grupo e fui recebido por um homem de idade mediana, com uma
cicatriz na face e olhos faiscantes. Seu nome era Altiom. Um velho conhecido...
- Mestre Kerdal! Que Crizagom seja louvado. O senhor está vivo e bem! – ele disse quando me viu –
Tivemos notícia de sua luta no rio Baloc e temíamos o pior.
Desci de meu corcel e apertei-lhe calorosamente a mão estendida. Estava suada e gelada...
- Tivemos algumas perdas, meu amigo. Bravos heróis que Crizagom cedeu para Cruine, mas nosso
grupo continua coeso e o moral continua alta. – respondi – Mas o que o traz aqui? Mudança de planos?
- Sim, mestre Kerdal. Mestre Dahrio não pode nos acompanhar até Filanti. Soubemos que um grande
ataque está sendo organizado contra a fortaleza de Fleuter, que ainda resiste no sul e ele pessoalmente
vai liderar o restante de nossas forças até lá para ajudarem na defesa do local. Ele nos ordenou que
caminhássemos até o entroncamento da estrada para a capital e o aguardássemos aqui. Isto o deixa no
comando de todos nós, agora, senhor, pois é o mais antigo entre os presentes.
E foi assim que ganhei meu primeiro grande comando. Seguimos viagem no dia seguinte, conforme o
plano estabelecido anteriormente. Subiríamos até o norte de Abadom, acompanhando a margem do
lago Denégrio até atravessarmos a foz do rio Maum e marcharíamos até Pórtis, em Plana, deixando um
país moribundo e sem governo para trás, mas levando a esperança de que desta vez conseguiríamos
deter o avanço da Seita e que desta vez a justiça triunfaria no final.

***

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Olho para o sol que nasce por sobre as águas do Lago Denégrio e percebo que fazia tempo que não via
um raiar de dia tão lindo como este. O globo de luz dourada salpicava de tons vermelho-alaranjados as
nuvens baixas que, vagarosamente, cruzavam os céus de Pórtis, no sul de Plana, dispersando a névoa
que pairava por sobre o porto da cidade.
Uma brisa fresca soprou do leste enfunando as velas da embarcação que conduziria nosso grupo até um
porto perto de Tória, no outro lado da foz do rio Frefo, e de lá até Ambernita, no sul da Moldânia, de
onde prosseguiríamos nossa marcha até Chats, capital de Filanti.
Do alto da amurada da pôpa de nosso navio, imaginei que, apesar do cuidado que deveríamos ter em
navegar pelas águas escuras do lago, as chances de encontrarmos embarcações hostis era muito
pequena, de sorte que nosso grupo poderia se permitir alguns momentos de merecido descanso, com os
combates e o cheiro da morte em Abadom se tornando apenas memórias ruins em nossas vidas, que
pretendíamos esquecer com o passar dos anos.
"Não que isso seja fácil de acontecer com um meio-elfo" – pensei comigo mesmo.
A travessia até o porto que ficava perto de Tória foi tranqüila e sem incidentes. Fizemos muitas
amizades com a tripulação do navio, que era um barco até certo ponto veloz para o seu tamanho. O
pouco de náutica que aprendi na minha vida foi-me ensinado pelo capitão do barco, um marinheiro
humano chamado Hagrim, de meia-idade, cabelos já grisalhos e com muitas cicatrizes nos braços, com
quem tive algumas conversas.
Tudo levava a crer que passaríamos nossa estada no mar sem maiores incidentes, exceto alguns
sacerdotes mais enjoados que o habitual.
Mas estávamos enganados...
Até aqui o braço do inferno nos perseguia...
No início da manhã do sexto dia de nossa viagem, quando já singrávamos águas próximas de Ambernita,
o vigia do mastro principal gritou lá de cima:
- Capitão, velas a boreste. Parece ser uma embarcação grande.
Um alvoroço tomou conta da tripulação. Os homens começaram a correr de um lado para o outro do
navio, puxando cordas e soltando velas. Alguns subiram nos mastros de popa e proa mexendo
alucinadamente no velame, tentando desatar os nós que os prendiam.
Corri até o capitão Hagrim e perguntei o motivo de tamanha correria.
- Barcos grandes não são comuns nessas águas, clérigo. Saravossa possui algumas embarcações de guerra
por aqui, mas elas costumam patrulhar águas bem mais ao Oeste. Estou temendo o pior.
- Mas não estamos também longe de águas onde os barcos bankdis e seus aliados costumam navegar? –
perguntei cheio de apreensão.
- Sim, estamos. Mas aqueles demônios estão ficando mais ousados, enviando seus barcos em patrulhas
cada vez mais distantes de suas bases em Verrogar. Temo que, logo, todo o Lago esteja infestado com
seus barcos dos infernos.
Fui até o passadiço e pus-me a observar o navio desconhecido ao longe. O tempo foi passando e ele
parecia estar se aproximando rapidamente...
- Atenção. É um drakkar verrogari, senhor... com quatro mastros e dez velas. Está com o vento a seu
favor. – gritou o vigia do mastro principal, após cerca de uma hora de perseguição.
- Que Ganis nos proteja – gemeu um dos marujos – É um barco mais veloz que o nosso.
O capitão começou a gritar ordens para seus comandados. Falava aos berros, com expressões que
fariam qualquer nobre corar de vergonha. Ele dirigiu-se a mim.
- O navio que nos persegue é um barco de guerra verrogari, muito maior e mais veloz que o nosso.
Provavelmente irão nos abordar, portanto, que seus homens estejam preparados, pois teremos de lutar
para nos livrarmos deles.

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Desci até o deque inferior e convoquei nosso grupo.
- Às armas, confrades. Parece que os apóstatas adoradores de demônios que enfrentamos em Abadom
estão nos perseguindo até aqui. Um barco de guerra verrogari irá nos abordar em pouco tempo. Mas
nós vamos mostrar-lhes que não importa o lugar, os sacerdotes de Crizagom sabem lutar pela justiça e
pela verdade. – Falei-lhes em alto e bom tom.
O retinir das armaduras e o embainhar de espadas tomou conta do local. Rapidamente colocamos
nosso equipamento e nos preparamos para a luta que estava por vir.
- Vamos mandá-los de volta para os infernos – Alguém bradou no fundo do compartimento.
Um tremendo grito de aprovação saiu em uníssono de muitas bocas.
Subi até o deque principal e percebi que a nossa barcaça já estava sendo alcançada pela embarcação
verrogari. Corri até o capitão e disse-lhe:
- Leve-nos até perto do drakkar. Anteciparemos a abordagem deles. Eu e meu grupo invadiremos o
barco. Cuide que seus homens apenas nos dêem cobertura com seus arcos e flechas.
Um olhar surpreso cravou-se em mim e o capitão balançou a cabeça.
-Vocês estão querendo se suicidar? Não ouviu o que eu disse? Aquele é um barco de guerra verrogari.
Vocês não terão a menor chance.
Olhei bem profundamente para o marujo, que continuava a me encarar como se não quisesse acreditar
no que eu falaria a seguir.
- Se Crizagom permitir que eu parta hoje para as terras de Cruine, o farei alegremente, pois partirei
defendendo aquilo em que acredito: Justiça, honra, bravura, disciplina e estratégia. Não poderia pedir
melhor morte que esta. Mas acredito piamente que não verei o reino do deus da morte hoje. Eles não
esperam encontrar muita resistência e nós os surpreenderemos. Agora, faça o que eu lhe pedi! – Disse-
lhe com firmeza.
O capitão partiu rumo ao timoneiro para lhe dar as novas instruções, enquanto eu desci novamente até
onde estavam meus comandados e convoquei-os:
- Camaradas. Honremos o nosso senhor neste momento e mostremos a esses adoradores de demônios,
o que um servo sagrado pode fazer.
Comecei a entoar, em alta voz, uma prece a Crizagom, pedindo-lhe a proteção. Fui acompanhado por
um coro de inúmeras vozes, que se juntaram, num crescendo, formando um som parecido com a
rebentação das águas do mar junto aos penedos da costa. Alguém começou a bater sua espada em seu
escudo, em meio a cânticos sagrados, no que todos começamos a imitá-lo e o som foi-se transformando
num ribombar de inúmeros trovões. Senti minha pele arrepiar. O ar do recinto começou a ficar elétrico,
uma sensação de imensurável renovo e refrigério invadiu meu corpo.Uma lufada de vento atravessou
nossa formação. Foi como se o próprio Crizagom soprasse um pouco de seu fôlego sobre cada um de
nós. Eu sentia sua presença, palpável, nítida, perceptível...
Aguardamos o drakkar aproximar-se. As primeiras setas cruzaram o convés. Cordas e ganchos foram
lançados e cravaram na madeira de nossa embarcação. Os primeiros verrogaris se preparavam para
pular...
Minha mão direita procurou o cabo da espada. Apertei-o fortemente. A lâmina brilhava, sedenta. Ergui-
a acima de minha cabeça e gritei a plenos pulmões:
- Por Crizagom... abordar!!
Um tremendo urro acompanhou-me quando me projetei para cima e para fora do local onde estávamos
alojados. Não via mais nada exceto a amurada de nosso barco e o convés do drakkar. Escudo em riste...
Saltei pela borda e caí do outro lado. Três demonistas armados com espadas curvas e protegidos por
armaduras e capas partiram em minha direção.

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O primeiro veio de frente, brandindo a espada. Dei dois passos para trás e atirei contra ele o escudo ,
derrubando-o. Aproveitei sua queda e cravei-lhe a espada no tórax. O outro se aproximou pelo flanco
esquerdo tentando cortar minha cabeça. Joguei o corpo para trás. A lâmina roçou meus cabelos, mas
passou no vazio. Apoiei o corpo e me arremessei de pé. Com a espada na mão direita, fiz um
movimento de arco. A arma atravessou a cintura do verrogari antes que ele pudesse tentar outro golpe.
Presenti perigo. À direita. O terceiro inimigo. Virei a tempo de ver a lâmina cortar o ar em direção ao
meu pescoço. Aparei o golpe com a minha espada. Ergui a mão esquerda e agarrei o pulso do agressor.
Alguns segundos medindo forças. Tremíamos. De relance, pude observar meus camaradas levando o
caos e a morte aos abomináveis. Um frenesi havia se apossado deles. Lutavam como leões.
Olhei bem para meu adversário. Seus olhos meio amarelados faiscavam de puro ódio e seus dentes
rangiam medonhamente. Forcei meus músculos para frente e dei um grande grito, empurrando o
inimigo para trás. Ele tentou saltar, mas já era tarde. Troquei a base das pernas e em um movimento de
cintura, dirigi minha espada em direção aos joelhos do demonista. Ele caiu pesadamente ao chão.
Ao meu redor, as hordas dos verrogaris pareciam querer recuar. O retinir de metal contra metal era
entrecortado pelas vozes de comando, pelos gritos de dor e agonia dos moribundos e pelo clamor dos
vitoriosos. As primeiras línguas de fogo começaram a subir da nau verrogari, enquanto os combates
intensificavam. Abaixei-me para pegar meu escudo e continuar a lutar.
"Mestre Kerdal... cuidado!!"
Súbito, um baque. Algo, ou alguma coisa chocou-se violentamente contra meu lado esquerdo. Uma dor
aguda percorreu meu ombro e braço. O ar saiu com força de meus pulmões, enquanto meu corpo era
projetado para frente. Meu elmo caiu. Só consegui ouvir um grito lancinante de agonia antes de me
esparramar no chão.
Ergui-me rapidamente e me voltei para o lugar de onde partira a agressão. Um cheiro horrível de
enxofre invadiu-me as narinas. Era tão forte que ameaçava me sufocar. O que vi me deixou chocado...
Altiom se debatia, tentando tirar sua armadura, que parecia arder sobre seu corpo. Seus gritos de dor
ainda consomem meus sonhos até hoje. Corri em seu auxílio. Parecia que havia sido atingido por algum
tipo de sortilégio maligno. Ele derrubara-me e sofrera o ataque em meu lugar...
Enquanto tentava ajudar meu valoroso amigo, corri os olhos para tentar encontrar o autor de tamanha
covardia. Meus olhos caíram sobre um homem corpulento, que usava uma armadura completa cinzenta,
um elmo com um penacho semelhante a uma crina de cavalo e um escudo prateado, com uma insígnia
bankdi. Ele acabava de sair da posição de conjuração. Em sua cintura pendia um grande martelo de
batalha.
Cerrei meus dentes. Diante de mim se encontrava um Sacerdote Negro. Um ser desprezível que
vendera sua alma aos seres infernais em troca de poder maligno. Aquele era um demonista verdadeiro...
A situação mudara. Eu não enfrentava um cultista ou um soldado comum, mas um amálgama de clérigo
e mago das profundezas, com poderes concedidos pelos demônios. Um adversário, não... uma
aberração que deveria ser expurgada desta existência.
Voltei-me rapidamente para Altiom, que conseguira retirar o peitoral metálico de sua armadura. Suas
mãos tremiam intermitentemente. Horríveis queimaduras espalhavam-se por todo o seu tórax. O cheiro
de enxofre continuava emanando das mesmas. Seu sofrimento devia ser indescritível, mas ele ainda teve
forças para me sussurrar:
"Por Crizagom..." --e desmaiou.
Eu deveria tentar curá-lo, ali mesmo, senão ele não resistiria aos ferimentos. Nisso, uma voz gutural
gritou algo em uma língua estranha. O Sacerdote Negro dissera alguma coisa a alguém.
Do alto eles caíram sobre mim. Não tinha visto nada igual antes. Já combatera criaturas infernais no
passado, mas nada parecido com aquilo.
Seres de corpo pequeno, coloração avermelhada, olhos negros e redondos e aparência demoníaca
cercaram-me a mim e ao corpo de meu camarada. Suas bocas pequenas com presas abriram-se num

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esgar horrível. Em vez de mãos, possuíam garras de três dedos. Patas de bode no lugar de pernas. De
suas testas, pequenos chifres curvos projetavam-se para o alto. Falavam alguma coisa num linguajar
gutural e profano.
Olhei para os lados. A luta continuava intensa no barco verrogari. Não poderia contar com o auxílio de
ninguém naquele momento. As criaturas das profundezas atacaram. Deveria haver umas dez ou doze
delas. Ergui minha espada e girei-a sobre meu corpo. Consegui atingir duas daquelas coisas que caíram
para trás, emitindo um som que parecia ser um guincho de dor. Mas as restantes amontoaram-se sobre
mim mordendo e arranhando meus braços e rosto. Dei-lhes um safanão e três delas recuaram. As
restantes continuaram a me atacar.
Eu resolvi acabar com aquilo rapidamente. Altiom precisava urgentemente de cuidados e ainda havia o
Sacerdote Negro que ficara lá, parado, esperando suas crias acabarem comigo. Minha mão esquerda
escorregou até o símbolo sagrado de Crizagom em meu pescoço, preso por uma correntinha de ouro e
segurou-o fortemente. Fechei meus olhos e recitei a prece há tempos guardada em minha memória.
Um clarão de luz dourada, um som alto, uma onda de vento e os pequenos demônios foram
literalmente empurrados para longe de mim como que se por uma mão invisível. Tomados de um
pânico terrível, os seres de aparência ridícula fugiram em desabalada correria, ignorando os apelos de
seu mestre sombrio que, surpreso, gritava algo para eles, naquela voz gutural.
Aproveitei o momento de fúria do demonista para com as pequenas criaturas e orei por um milagre de
cura sobre Altiom, clamando a Crizagom para que aquilo bastasse para mantê-lo vivo, por enquanto.
Um urro inumano partiu do sacerdote negro, enquanto ele empunhava seu martelo de batalha e
carregava contra mim, com seu escudo levantado. Pulei para o lado onde estava caído o meu escudo,
evitando a primeira investida. O golpe perdendo-se no vazio.
Ergui-me, já de posse de meu companheiro de lutas, que me salvara a vida muitas vezes, firmemente
preso em meu braço esquerdo. Brandi a espada e desferi um golpe potente sobre meu adversário. Mas
ele era rápido e minha lâmina bateu contra o metal de seu escudo, retinindo-o.
Ele contra-atacou, girando o corpo, tentando atingir meu flanco esquerdo. Um bom golpe, veloz,
executado com perfeição. Funcionaria contra qualquer um... menos comigo.
Desci meu braço direito velozmente contra seu membro descoberto. Foi tudo muito rápido. Nem eu
mesmo vi direito. No instante seguinte, martelo, mão, punho e antebraço do bankdi caiam sobre o
convés do drakkar verrogari, banhando de vermelho-púrpura o madeirame.
O demonista gritou de dor, recolhendo o membro decepado e agora inútil, enquanto tentava estancar o
sangramento com sua mão esquerda. Aproveitei o momento e separei-lhe a cabeça do resto de seu
corpo, achando que aquela era uma morte muito misericordiosa para uma criatura tão abominável.
Ergui minha arma e gritei em vitória. Os últimos remanescentes dos apóstatas se lançavam ao mar para
salvarem suas detestáveis vidas. Nosso grupo percorria a nau verrogari eliminando os exíguos focos de
resistência. O incêndio começava a ficar fora de controle...
A vitória era nossa... mais uma vez.
A justiça sempre triunfará no final.
“Simas... me lembrei de você.”
***
As lembranças de nossa luta no Lago Denégrio contra os verrogaris e os seres infernais pareciam antigas
memórias hoje.
Muitos de nossos amigos não sobreviveram para estarem aqui hoje, em Chats, na celebração de nossa
união às forças de defesa Filanti. Altiom era um deles, infelizmente. Leimar saíra com alguns ferimentos
mais sérios, mas se recuperara para a cerimônia.
Mais uma vez Crizagom me dava uma chance de lutar contra os adoradores infernais sob a égide de um
soberano.

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Sua majestade, o rei de Filanti, acompanhado de seus generais e da maioria da nobreza fizera questão
de discursar para o restante de nosso grupo. Não éramos em grande número, mas as lutas em Abadom
nos haviam transformado em veteranos de guerra, bem mais experientes que qualquer soldado que este
país pudesse produzir. Além disso, possuíamos uma coisa que nenhum outro guerreiro tinha...
A justiça divina estava do nosso lado.
E, no final, a justiça sempre triunfará.

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As Ordens

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3 As Ordens
Congregações Comuns e Ordens Sacerdotais
Um erro muito comum é acreditar que a adoração aos deuses seja sempre realizada através das religiões
estruturadas e centralizadas. Na verdade a adoração às divindades pode ocorrer em vários níveis de
escala:
Fé individual: Fé é o mesmo que acreditar ou confiar, geralmente por questões emocionais, por algum
motivo geral ou pessoal, por alguma razão específica ou mesmo sem razão bem definida, sem evidências
físicas. Fé é acreditar tanto numa pessoa quanto num objeto inanimado, uma ideologia, num
pensamento filosófico, num sistema qualquer, num conjunto de regras, numa crença, numa base de
propostas ou dogmas de uma determinada religião.
A Fé não é baseada em evidências físicas reconhecidas. Ela geralmente é associada a experiências
pessoais e pode ser transmitida a outros através de relatos. Nesse sentido é geralmente associada ao
contexto religioso e a decisão de "ter fé" é unilateral, ou seja, depende da vontade exclusiva de quem
quer ter fé.
No contexto religioso de Tagmar ela pode ocorrer quando uma pessoa professa sua crença numa
divindade específica através de suas orações, caráter, modo de vida, atos de caridade e compromisso e
fidelidade aos dogmas daquela divindade (tal compromisso não precisa ser cego ou submisso e pode ser
baseado em evidências de caráter pessoal, mas outras vezes essa fé pode ser forçada, ou seja, imposta
por uma determinada comunidade ou pela família do indivíduo, por exemplo).
Templos: O templo é uma estrutura arquitetônica (estilizada ou não) dedicada a um serviço religioso ou
a uma atividade espiritual, tais como oração, sacrifícios, rituais ou ações correlatas. Trata-se de um local
sagrado onde se reúnem várias pessoas e onde estas celebram seus rituais e experiências místico-
religiosas específicos de acordo com as práticas eclesiásticas daquela divindade em questão, na maioria
das vezes sob a orientação e condução de um sacerdote ou ministro autorizado pela deidade, que atua
como um “mediador” entre a deidade e o homem.
Em Tagmar existem vários templos dedicados às divindades, alguns tão suntuosos como um palácio
imperial, outros tão simples como uma casa comum, mas em sua essência eles funcionam como uma
“habitação terrena do seu deus”.
Congregações (ou igrejas) comuns: Em sua definição mais simplória, uma congregação é um grupo, um
corpo de pessoas reunidas para determinado propósito ou atividade, no caso em discussão, de
atividades religiosas. Cada divindade possui seus dogmas, doutrinas, valores ético-morais e regras de
conduta e convivência que seus fiéis seguem à risca, sendo tudo isto administrado, dirigido, fiscalizado e
ensinado pela Congregação (Igreja) comum através de seus sacerdotes nos templos respectivos.
Cada Congregação possui sua própria segmentação hierárquica particular, algumas sendo rígidas, com
cada sacerdote sabendo e reconhecendo seu lugar na “estrutura social” da igreja, e outras um pouco
mais informais, cujo relacionamento entre os sacerdotes e entre estes e os fiéis é menos estruturado e
rígido. Existem variações, mas a maioria das congregações se encontra entre estes dois extremos.
Apesar da fé e do culto à divindade serem disseminados por todo o Mundo Conhecido (com algumas
deidades sendo mais veneradas em certos locais que em outros), o âmbito de ação de uma congregação
comum restringe-se àquele local ou região onde existem alguns templos da respectiva divindade (o
alcance de suas ações é extremamente regionalizado). Uma congregação de Maira em uma cidade de
Filanti, por exemplo, não saberá do que acontece com outra congregação do mesmo deus em outro
local muito distante e normalmente não vai alem das fronteiras de um país.
Ordens Sacerdotais: A Ordem Sacerdotal é uma organização religiosa de alcance continental
(diferentemente das congregações comuns, uma Ordem Sacerdotal possui um espectro de ação que
engloba todo o Mundo Conhecido), não estando ligada a nenhum governo (As Ordens Sagradas
existem para lutar por uma religião, não por um rei, uma nação ou um povo, pois para isso existem os
exércitos regionais), criada por decisão direta da própria divindade, e onde se alojam um ou mais grupos

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seletos dos mais fiéis e capazes seguidores do deus (em sua maioria, exemplos da fé verdadeira naquele
deus, e reconhecidos, de algum modo, como sendo mais próximos de seu deus do que os mortais e
sacerdotes comuns), que reforçam a fé naquela divindade específica ao mesmo tempo em que
resguardam a sua existência (daí todas, ou quase todas as Ordens terem suas sedes localizadas em
regiões secretas e bem guardadas).
Todas as Ordens possuem uma sede, que normalmente foi o local de surgimento, o qual normalmente
é um lugar de difícil acesso e de conhecimento restrito. Além distos as Ordens mantêm congregações
em outros lugares de Tagmar. Estas respondem diretamente a sede da Ordem, mas gozam de relativa
independência para a maior parte das suas ações, como por exemplo a ordenação de novos membros.
No entanto não se deve confundir as congregações da Ordem com os demais templos de outras
congregações comuns. Estas congregações mantidas pelas Ordens se encontram espalhadas por Tagmar,
e são normalmente encontradas nas capitais mais importantes de Tagmar, com um destaque especial
para Saravossa, onde todas as ordens mantêm uma congregação.

Estrutura das Ordens Sacerdotais


Cada deus possui, em particular, uma Ordem estruturada de acordo com seus princípios e necessidades
mais íntimos, cada qual sendo única e intransferível de divindade para divindade; algumas podem se
assemelhar em alguns ou até em vários aspectos; mas, para aqueles que puderam vislumbrar todos os
seus segredos, a certeza é de que nenhuma Ordem é igual à outra a despeito de qualquer semelhança,
pois aqueles que adentram suas fileiras verão claramente que cada qual, a sua maneira, possui seus
próprios votos e objetivos, e até mesmo a sua própria razão de existir.
As Ordens existentes no mundo de Tagmar hoje são classificadas em três tipos básicos: Clericais,
Militares e Ocultistas; mas há algumas Ordens que possuem uma organização diferente.

Estrutura das Ordens Clericais


As Ordens clericais poderiam se conhecidas como as Ordens dos Estudiosos das coisas do Espírito.
Essas Ordens dedicam-se basicamente ao estudo dos escritos antigos, a dar ajuda aos fiéis necessitados,
seja como forma de conforto físico ou mesmo espiritual, e, sem dúvida, à propagação da fé em seu
Deus, estando sempre em busca de novos convertidos. Os sacerdotes de uma ordem Clerical, quase
sempre, serão sábios em sua esfera de conhecimento, a religião, e normalmente serão pessoas calmas e
contemplativas que buscam desvendar os segredos da criação que os Deuses mantém escondido do alto
de seus tronos celestes. Os maiores curandeiros e curadores estão sem dúvida nas fileiras das Ordens
Clericais. Em contrapartida, alguns desses sacerdotes têm pouca inclinação para qualquer tipo de
treinamento militar e outros quase sempre possuem um voto quase extremo de não agressão, o que os
faz não vestir armaduras e nem dedicar seu tempo às artes da guerra. Os templos das Ordens Clericais
podem se tornar um elemento tranqüilizador de familiaridade em terras estrangeiras.
As Ordens Espirituais possuem uma estrutura hierárquica bem definida que apesar de não ser tão rígida
quanto às Militares deve ser respeitada.
Sumo Sacerdote: O Maior posto das Ordens Espirituais, cabe a ele reger a Ordem com amor e
sabedoria.
Alto Sacerdote: Imediatos do Sumo Sacerdote, responsáveis por ajudar a manobrar a máquina
monástica junto aos Sacerdotes Superiores.
Sacerdotes Superiores: Imediatos dos Altos Sacerdotes, responsáveis por controlar as possessões da
Ordem junto aos Diáconos.
Diáconos: Imediatos dos Sacerdotes Superiores, responsáveis por regerem as congregações de Párocos.
Párocos: Imediato dos Diáconos, responsáveis por comandar Igrejas ou Templos.
Sacerdotes: Imediatos dos Párocos, atuam sob as ordens dos Párocos junto aos fiéis.
Noviços: Imediato dos Sacerdotes, o posto inicial para aqueles desejosos de adentrarem na Ordem,
devem submeter-se a toda a hierarquia e procurar aprender o máximo possível.

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Os graus da Ordem são conferidos mediante solene juramento com a presença de todos os de mesmo
grau e superiores, sempre renovando os votos antigos e professando novos. O avanço na hierarquia se
faz mediante reunião e votação de todos os de grau superior aos votados. A ascensão ao cargo máximo é
conferida em uma solenidade com a presença votante apenas dos Alto Sacerdotes.

Estrutura das Ordens Militares


As Ordens militares são literalmente Escolas de Guerreiros Sagrados, ou Escolas de Guerreiros da Fé.
Ainda que todas as Ordens “lutem”, à sua maneira, para defender os interesses de seus deuses e
propagar a fé, são os membros das Ordens Militares que efetivamente pegam em armas por seu deus.
Esses Sacerdotes Guerreiros são sem dúvida a “elite da elite” dos guerreiros divinos, possuindo um
treinamento tão profundo nas artes das guerras que esses não deixam em nada a dever a um simples
guerreiro membro de alguma outra organização de elite. Muito pelo contrário, devido a seus poderes
divinos conferidos por seu deus e sua capacidade natural de liderança, esses guerreiros da fé tornam-se
os melhores líderes e generais que possam existir no mundo de Tagmar, sendo que muitos deles estão
imortalizados na história como grandes lendas do passado. Apesar da necessidade da formação cultural
e intelectual desses fiéis, esses devotam, sem dúvida, a maior parte de seu tempo às artes da guerra,
levando sempre o nome de seu deus no fio de sua espada. Possuem sempre um código de conduta
muito rígido e quase não desfrutam da maioria dos confortos e regalias que os membros de outras
Ordens possuem, mas para esses devotos não há nada mais importante que viver e morrer por seu deus.
As Ordens Guerreiras possuem uma estrutura complexa, extremamente rígida e cegamente respeitada
por todos os seus membros, ela é composta de:
Grão Mestre: O Maior posto da Ordem cabe a ele regê-la com mão de ferro.
Comendador: Subordinados do Grão Mestre para assuntos diplomáticos.
Alto Comandante: Subordinados do Grão Mestre, responsáveis por comandarem as tropas.
Chefe Maior: Subordinados dos Altos Comandantes são responsáveis por comandar grandes
regimentos de Sacerdotes.
Comandantes: Subordinados dos Chefes Maiores são responsáveis comandar grupamentos de
sacerdotes.
Imediatos: Subordinados dos Comandantes são os responsáveis por assegurar suas ordens junto aos
Sacerdotes.
Sacerdote: Subordinados dos Imediatos. Aqui se encontra a maioria dos membros da Ordem.
Noviços: Este é o posto inicial da Ordem, toda a hierarquia está acima e espera-se deles grande
dedicação e obediência.
Os graus da Ordem são conferidos mediante solene juramento com a presença de todos os de mesmo
grau e superiores, sempre renovando os votos antigos e professando novos. O avanço na hierarquia se
faz mediante reunião e votação de todos os de grau superior aos votados. A ascensão ao cargo máximo é
conferida em uma solenidade com a presença votante apenas dos Comendadores e Altos Comandantes.

Estrutura das Ordens Ocultistas


Algumas coisas não devem ser visíveis, algumas verdades devem ser ocultadas dos olhares mais
indiscretos, e aqueles muito em evidência quase sempre não estão em condição de conduzi-los, por isso
algumas vezes um grupo de “desconhecidos” precisa entrar em cena e agir nos bastidores da trama para
que tudo possa continuar a caminhar como deveria. Os membros das Ordens Ocultistas são sem
dúvidas os maiores sábios e estudiosos do oculto de toda Tagmar, seus profundos conhecimentos por
muitas vezes se confundem e até superam os de muitos místicos arcanos. No entanto, seu papel
primordial é o de encontrar, estudar e zelar pelas verdades absolutas que, em hipótese nenhuma, devem
cair em mãos erradas e tão pouco no conhecimento público. O conhecimento muitas vezes é uma arma
letal demais para ser manuseada por mãos inábeis. Em suma, os membros das Ordens ocultistas são

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trabalhadores anônimos de uma “obra maior” que, por necessidade de causa, atravessa as margens da
história oculta dos olhos e da mente da maioria das pessoas comuns.
As Ordens Ocultistas, apesar de serem Ordens secretas e de não fazerem qualquer tipo de aparição
pública para que fique visível sua hierarquia, possuem a mesma tão rígida quanto uma Ordem Clerical.
A única diferença é que você nunca vai ver ou ouvir um membro de uma Ordem ou Sociedade
Ocultista dizendo ser o Mestre ou o Grão Mestre. E, por se tratar de um organismo sigiloso, a
hierarquia torna-se um dos elos vitais para sua existência.
Venerável Mestre: O Maior posto das Ordens Ocultistas cabe a ele manter a harmonia da Ordem com
muita astúcia e sabedoria. Sua influência exerce-se sobre todo Tagmar.
Vigilante: Imediato do Venerável Mestre, responsável por ajudar o Venerável a conduzir a Sociedade
junto a todos.
Mestre Conselheiro: Imediato do Venerável Mestre atua como conselheiro para os assuntos da Ordem.
Sua esfera de influência também é todo o continente tagmariano.
Conselheiro: Imediato do Vigilante atua como conselheiro para os assuntos da Ordem.
Mestre de Cerimônias: Subordinado ao Venerável e aos Vigilantes. É responsável por todos os
preparativos das cerimônias. Caso o Venerável se abstenha de proferir os ritos, este deve estar
preparado também para proferi-los.
Grande Secretário: Subordinado ao Venerável, é o responsável por todos os documentos,
documentação e formalidades escritas de tudo quanto aconteça. Responsável também pela entrega de
relatórios semanais ao Vigilante sobre todas as atividades da Ordem.
Grande Tesoureiro: Subordinado ao Vigilante, é o responsável por prestar contas de todos à
movimentação financeira dos cofres da Ordem. Responsável também por manter atualizado todo o
inventário do patrimônio da Ordem.
Diáconos: Subordinados ao Venerável e aos Vigilantes dependendo de onde estejam atuando, são os
grandes “faz-tudo” da Ordem: são mensageiros, executores, negociantes... Tudo quanto seja ordenado
aos diáconos estes devem estar aptos a realizarem. Todos os membros de uma Ordem Ocultistas devem
parecer pessoas comuns, mas os Diáconos devem ser os mestres dessa arte.
Preceptores: Subordinados ao Venerável e aos Vigilantes dependendo de onde estejam atuando, os
Preceptores são responsáveis por todos os Aprendizes, devendo-lhes ensinar tudo quanto seja
necessário sobre a Ordem: sua hierarquia e seus ritos, para que eles não venham a comprometer toda a
Organização.
Sentinelas: Aqui se encontra a grande concentração das Ordens Ocultistas. Esses membros,
subordinados ao Venerável e aos Vigilantes, dependendo de onde estejam atuando, são responsáveis
por vigiar a tudo e a todos (inclusive membros da própria Ordem) a fim de garantir que os interesses da
Ordem não sejam comprometidos.
Aprendizes: Esse é o primeiro estágio para quem entra em uma Ordem Ocultista, aqueles que aqui
permanecem desconhecem os segredos e toda a influência da Ordem. Mas aqueles que se encontram
nas fileiras dos aprendizes têm uma única preocupação: aprender.
É característica marcante das Ordens Ocultistas escolherem seus membros com extrema cautela.
Aqueles que estejam sendo observados para se tornarem adeptos, certamente terão toda a sua história e
dos seus antepassados revirada. Desnecessário dizer que ninguém se oferece — A Ordem é quem
determina os que serão os futuros membros. Ao ingressar na Ordem faz-se um juramento solene, e para
cada cargo que este venha a ocupar existe um juramento especifico de comprometimento com a tarefa.
Cada Venerável escolhe seus Vigilantes, podendo destituí-los a qualquer momento se lhe aprouver. Para
ascensão aos cargos de Conselheiros os Vigilantes e o Venerável se reúnem e escolhem os nomes. Os
demais cargos são distribuídos por aqueles responsáveis por eles.

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Ordem de Blator

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3.1 Ordem Blator - Os Destemidos Senhores da Guerra
Aço e sangue é o que te ofereço, ó divino general.
Caminho por campos de morte desolados, onde corpos são empilhados para queima, antes que
comecem a contaminar os guerreiros feridos com seus humores pestilentos e fatais. O sol, rubro,
começa a desaparecer no poente, e o crocitar dos corvos ressona no crepúsculo.
Não há paisagem mais bela.
Harvorael, o elfo, a despeito de minhas previsões, sobreviveu. Ele está sentado sobre uma pilha de
cadáveres, a corda de seu arco partida, suas adagas quebradas. Ele ofega ruidosamente enquanto cuida
de suas feridas, delicado e ágil como um gato lambendo seus ferimentos. Durante as semanas que
antecederam o ataque ele me tratou com desdém, certamente me considerando um bárbaro selvagem.
Mas hoje vejo em seus olhos que ele entende meu mundo. Nos olhamos e nos saudamos como irmãos.
Um jovem chora desconsolado sobre o cadáver de seu pai — um homem que lutou bravamente e
morreu pelas mãos de um adversário ímpar.
— Não envergonhe a memória de seu pai! Ele lutou valorosamente e morreu com a dignidade de um
guerreiro. Quer maior honra que essa?
— Ele foi meu maior mestre, e de sua carne recebi meu corpo... como poderei viver sem ele agora?
— Com a retidão com que, tenho certeza, ele te ensinou a portar-se, tanto diante da vida como diante da
morte.
O jovem se levanta, limpando as vergonhosas lágrimas de seus olhos. Buscando a lâmina chanfrada com
que o pai combateu, ele começa a preparar o corpo para seu último adeus.
Ouço Borark, um animal indigno das armas que porta e da posição que ocupa, gritar uma heresia aos
seus subordinados:
— Joguem os corpos dos inimigos aos corvos! Esses vermes não merecem a dignidade de uma cova rasa!
Por Blator que não me contive — puxei de minha espada e, num instante, ela estava na garganta de
Borark, sedenta de seu sangue sujo.
— É certamente uma lição de paciência que Blator me dá, Borark, colocando-me no mesmo exército
que você! Esses homens foram adversários valorosos, que combateram dignamente contra nós e nos
fortaleceram. Ou eles são respeitosamente enviados aos seus ancestrais, ou uma destas pilhas contará
com mais um corpo!
Borark range os dentes, avaliando se deve ou não enfrentar-me. Jamais o mataria como um cão, de
modo que me afasto dois passos, dando-lhe a oportunidade de sacar sua maça d'armas. Suas mãos
chegam ao cabo e o seguram com energia, mas seus olhos trazem uma dúvida limpidamente estampada.
Todo o campo parece ficar em silêncio, como se prendesse seu fôlego.
— O que nos recomenda fazer então, ó vigário de Blator? — diz o general, as palavras embargadas na
garganta pelo seu ressentimento.
— Recomendo que os nosso sejam queimados no alto desta colina e os deles lá em baixo. Honremos a
todos, pois cumpriram seus deveres de guerreiros.
— Assim seja!
Os soldados começam a dispor os corpos com suas armas, tanto amigos quanto adversários, os
aprontando para a viagem aos campos de Cruine. Borark, que nada entende de honra, afasta-se a passos
largos — certamente não foi covardia o que deteve sua mão, mas prudência, pois os homens acreditam
que um sacerdote de Blator traz os favores do deus ao exército ao qual se une.
Uma pena. Pois gostaria de me testar contra você, Borark. Mas a providência de Blator é grande, e
certamente haverá mais guerras para nos encontrarmos... e talvez você não tenha a sorte de estar do
mesmo lado que eu da próxima vez...

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História
Após o grande cataclismo, quando as tribos ainda estavam se unindo para resistir às escaramuças de
outros povos e defender seus territórios, que num futuro não muito distante viriam a se tornar os reinos
atuais do mundo conhecido, muitas figuras importantes surgiram nesse conturbado cenário de sangue e
de morte. Essas pessoas, que deixaram seus nomes gravados para sempre a fogo nos registros da
história, foram em sua época grandes líderes e conquistadores para seus povos, como “pastores de
gente”, que guiavam com mão de ferro os rebanhos para campos mais férteis e para um futuro melhor.
Essas pessoas ao longo das eras tiveram muito em comum a despeito de sua origem e história pessoal, e
todas elas impreterivelmente foram consideradas grandes Senhores da Guerra, e sem dúvida essas
pessoas eram fervorosos devotos de Blator.
Devido a suas características em comum, ao longo da história é possível ver que muitos desses Senhores
da Guerra nutriam um respeito muitas vezes incompreensível por seus arquiinimigos, respeitando
sempre o general ou líder máximo do exército oposto e muitas vezes fazendo com que não o matassem,
mas o tomassem como prisioneiro. Surpreendentemente este não era destratado, mas sim, bem
acomodado e dignamente abrigado por seu captor dentre as suas fileiras como um hóspede ilustre. A
incompreensível razão por detrás dos fatos era simples: esses grandes generais faziam o que faziam por
reconhecer seus antagonistas como seus iguais.
Quando as primeiras guerras cessaram e os primeiros pactos e acordos de paz entre o grande Império
Molda e os demais reinos surgiram, esses mestres da guerra puderam baixar suas espadas e aproveitar
um curto, mas revigorante, período de paz. E foi nesse tempo que esses ancestrais dos grandes generais
de hoje puderam estabelecer um contato mais estreito entre si apesar de suas diferenças ideológicas,
políticas e de credo. Dessa interação surgiu a idéia de se criar um Conselho de Guerra onde os maiores
generais de todos os povos pudessem estabelecer contato e trocarem suas glórias em tempos de paz.
Os registros da Ordem atestam que a primeira manifestação física desse conselho se deu em meados de
830 DC, no extinto reino da Moldânia, Sua localização não era fixa a cada 50 anos o conselho mudava
de local, e pouco a pouco foi deslocado cada vez para as terras ao sudeste ao longo do Denégrio,
passando por onde hoje é Filanti e depois Verrogar. Em algum ponto da história do conselho, um
grande general, que também era um grande Sacerdote de Blator, disse haver recebido em visão uma
mensagem do deus da guerra ordenando que estes erguessem uma magnífica Ordem em sua
homenagem. Esse líder máximo que guiou a construção da Ordem e a governou em seus primeiros
anos chamava-se Ardor d´Ieron, e ele batizou a congregação de A Ordem dos Destemidos Senhores
da Guerra.

Localização
Ao se consultar os mapas mais atuais a cerca da localização exata da edificação da Ordem idealizada por
Ardor, poderá se verificar que esta se encontra mais ou menos no meio da imensa cadeia de montanhas
conhecida hoje como os Montes Palomares, localizada entre os reinos de Filanti e Verrogar. A
Cordilheira dos Destemidos, como é conhecida por seus membros, serve como uma magnífica defesa
natural contra possíveis ataques externos e também torna difícil sua localização devido as diversas e
pouco conhecidas trilhas por entre os montes. No entanto, embora o templo principal da Ordem
encontre-se nos Montes Palomares, existem diversas outras congregações que abrigam membros da
Ordem. Estas respondem, em situações mais complexas, diretamente ao Templo Principal dos Montes
Palomares, mas funcionam quase independentes ao que se refere a maior parte das suas ações, inclusive
ordenando novos membros. No entanto não deve-se confundir as congregações da Ordem com os
demais templos de Blator, e principalmente por que elas não são muitas e se encontram normalmente
apenas nas capitais dos reinos mais belicosos e excepcionalmente em Saravossa, onde todas as ordens
mantém uma congregação.
A Ordem mantém uma postura extremamente neutra com relação aos reinos, defendendo o brasão de
um reino apenas em casos extremos. A ultima vez que algo do gênero ocorreu foi em 1407 DC, quando
a Ordem ajudou na libertação os reinos do sul que se encontravam sob o domínio da Seita, episódio
que fez crescer muito o número de interessados em se tornar seguidores. Fato que contribuiu para o
crescimento e enriquecimento da Ordem.

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Símbolo
O símbolo da Ordem é o de uma espada cruzada com um machado tendo por trás um escudo
redondo, símbolo presente em todas as guerras com apenas algumas variações de uma cultura para
outra. Na representação da Ordem esses “símbolos” são ricamente adornados como se fossem armas
de coleção e não simples armas de combate.

Objetivo
O objetivo da Ordem é sem dúvida o de levar a fé em Blator e o culto à guerra aos quatros quantos do
Mundo Conhecido. É importante ressaltar que para esses devotos a guerra não é uma manifestação
bestial dos seus sentimentos mais primitivos, mas sim uma arte complexa, bela e intrincada, na qual
sempre vence o melhor artista. E os Destemidos Senhores da Guerra estão indiscutivelmente entre os
maiores mestres nessa arte.

Os Destemidos Senhores da Guerra


A Ordem treina desde sua fundação boa parte dos maiores e melhores combatentes de todo o Mundo
Conhecido. Estes seres são os mais militarizados e altamente treinados nas artes da guerra, que tem com
o intuito único de serem peças mortais nesse tabuleiro quando a guerra se fizer presente. Há uma
grande quantidade de seguidores de Blator espalhados por todo o mundo conhecido sem dúvida, mas
boa parte dos grandes heróis de guerra, do passado ou do presente, eram ou são membros da Ordem.
Essa superioridade nas armas fez com que muitos líderes, de grandes exércitos, solicitassem os
treinamentos dos Senhores da Guerra para seus soldados. E isso foi feito em maior e menor escala, com
a condição de que todos os soldados treinados se convertessem a Blator e a Ordem. Com isso a Ordem
teve uma grande expansão, mas os efeitos não foram os que os líderes da Ordem planejaram. Uma
parte dos soldados convertidos só o fizeram para adquirir o tão desejado treinamento e quando
consideraram que já possuíam conhecimentos suficientes na arte da guerra, resolveram se retirar da
Ordem. Houve então diversos conflitos entre os legítimos Senhores da Guerra e seus dissidentes, numa
tentativa de aplicar a punição aos traidores. O resultado foi um banho de sangue em ambos os lados. Os
grupos dissidentes da Ordem se espalharam pelo Mundo Conhecido e muito do conhecimento veio a
ser adotado, tempos depois, pelas Academias de Combate. Os Senhores da Guerra, após este triste
episódio, aumentaram as exigências para uma ordenação, fazendo que a entrada para a ordem torna-se
uma das mais complexas e rigorosas entre todas as Ordens.
A heterogeneidade de nacionalidades é um traço marcante da Ordem desde o seu tempo de criação, e
tem sido sua grande balança de equilíbrio no que diz respeito à Ordem não tomar o partido de algum
reino específico. A Ordem é composta de muitos dos melhores combatentes do todo o Mundo
Conhecido, assim foi desde o começo e assim será sempre até o fim. Muitos dos grandes líderes, vários
dos maiores generais, ou seja, uma verdadeira elite forma suas fileiras. Imagine que em uma reunião
Magna da Ordem estejam presentes muitos dos grandes heróis de Verrogar, Filanti, Levânia, Marana,
Ludgrim, Dantsem, Acordo... Todos reunidos em torno de sua fé, momentaneamente acima de seu
patriotismo, se respeitando como iguais da mesma maneira que seus ancestrais o faziam até mesmo no
campo de batalha. Para estes a guerra é um fato e não uma tragédia, portanto, não há motivo para
desespero ou barbárie.

Peculiaridades
Os destemidos Senhores da Guerra envergam belíssimas couraças parciais em um dourado ouro,
ricamente adornadas com temas militares retratando batalhas por toda sua estrutura. Acompanha a
couraça um magnífico escudo grande redondo, também dourado, e também ornado com temas bélicos.
Um belo Elmo fechado também em dourado e também representando guerras é encontrado
protegendo suas cabeças. E completando a fantástica indumentária, os Senhores da Guerra envergam
uma belíssima capa vermelha anexa à couraça por presilhas com o símbolo da Ordem. Praticamente,
todos os seus membros utilizam-se de medalhões e toda sorte de adereços religiosos ou bélicos. Todos
os Membros ao serem ordenados são presenteados com uma brafoneira dourada (que deve ser usada
no braço esquerdo) ricamente ornada com símbolos que os distingue como membros da augusta

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Ordem dos Destemidos Senhores da Guerra. A distinção hierárquica é feita por meio de uma
braçadeira sempre colocada no braço esquerdo abaixo do ombro e que varia em cor e temas
representando a patente do membro.

Votos Específicos
A Guerra é uma arte e não a farás como um bárbaro: É nesse aspecto que esses devotos mais se
diferenciam dos seguidores de Crezir, a guerra para estes é um tabuleiro de xadrez, um jogo ou uma
arte que deve ser desenvolvida como tal e da melhor maneira possível para que se seja vencedor, o fato
de ser o perdedor não faz de você um pária, apenas um jogador menos capaz que seu adversário. A
clemência para com os generais considerados como iguais sejam eles membros da Ordem ou não, é
uma realidade.
Não te furtarás à morte digna de um guerreiro: A morte é uma inegável realidade para todo soldado, e
todos sabem que ela vem mais cedo ou mais tarde. Para esses devotos uma morte em combate é uma
morte digna e honrosa e deve ser aceita como tal. Não que estes se oponham à captura, de forma
alguma, ser capturado não é uma vergonha mortal, pois um grande general sabe reconhecer o valor de
seu oponente e até sua superioridade, mas estes procurarão de todas as formas evitar humilhações e
mortes indignas.
Honrará seus irmãos de Ordem ainda que as circunstâncias lhes coloquem em campos opostos: Não
raro quando dois reinos se enfrentam seus generais máximos sejam irmãos de Ordem, nem sempre a
captura é possível e um sem número de vezes um Senhor da Guerra já caiu perante outro. Mas sempre
que isso acontece o vencedor deve honrar os restos mortais de seus irmãos da maneira mais digna
possível a um soldado, seja entregando seus restos para os seus, seja proferindo seu digno sepultamento.
Ou ainda quando ferido mortalmente o derrotado se vale do cumprimento da Ordem, – Por Blator, na
Força e na Guerra – que distingue todos os membros mesmo que não se conheçam. Ao pronunciar
estas palavras, o derrotado pede para que, ao invés de sofrer agonizando, tenha uma morte limpa e
rápida pelas mãos de seu algoz. Qualquer medida deliberadamente desrespeitosa para com um igual
pode ser severamente punida para aquele que violar o protocolo de guerra.
Devotarás parte de tuas conquistas para a grandeza da Ordem: Para tudo quanto for conquistado e
adquirido por seus devotos, uma parte deve sempre ser ofertada a Ordem como uma forma de
agradecimento a Blator pela conquista e também como forma de agradecimento por toda a educação
militar que a instituição lhe proveu. Esse voto é levado muito a sério por todos os Senhores da Guerra.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Militares. O líder máximo da Ordem é conhecido também como O Grande
Senhor da Guerra.

Líder em atividade
Durante toda a história da Ordem os líderes desta foram das mais variadas nações, porém, quase todos
foram da raça dos humanos. O líder atual da Ordem é considerado um dos grandes gênios militares de
sua época, um Verrogari de nome Rudor Maximus. Rudor é um homem de porte e estatura
extremamente avantajada, mas seu corpo não supera sua mente em grandeza. Sacerdote nato e líder de
guerra incontestável, Rudor tem mantido as glórias da Ordem e de Blator nos últimos 30 anos, mas os
seus longos 62 anos de vida não parecem lhe pesar em nada, e em verdade Rudor demonstra a mesma
determinação e vigor de um jovem guerreiro. Branco, de olhos escuros e cabelos cortados bem curtos,
rente ao crânio, Rudor é mais que respeitado por todos os Senhores da Guerra, ele é venerado como
uma lenda viva. Seu maior seguidor e atual maior desafeto é exatamente seu irmão caçula Idor
Maximus, general absoluto do reino de Verrogar, que aparentemente não aceitou a decisão de Rudor de
abrir mão de sua nacionalidade para se tornar o líder máximo da Ordem. Rudor aparentemente não se
descuidou de sua função de irmão mais velho e manteve seus olhos sobre Idor, e ao que parece este
não concorda com algumas atitudes de seu irmão caçula. O relacionamento entre os dois encontra-se
altamente estremecido, o que pode não ser nada bom para o reino de Verrogar e seu atual rei. Rens
Alicante, membro mais velho da Mesa de Aço, é amigo pessoal de Rudor.

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Juramento
O juramento dos Senhores da Guerra é proferido mediante a uma solene cerimônia sempre proferida
pelo líder local da Ordem.
“Eu juro por meus ancestrais lealdade eterna a Blator e à Ordem dos destemidos Senhores da Guerra;
Juro que levarei a fé em Blator através de meus atos por onde quer que eu passe;
Juro respeitar e honrar meus superiores;
Juro que abraçarei a morte com a dignidade de um guerreiro;
Juro que farei guerra a todos os inimigos da Ordem e de Blator, sempre que se faça necessário;
Juro que encararei a derrota por um superior como uma grande lição, e que lhe devotarei todo o meu
respeito;
Juro que honrarei todos os meus iguais sejam eles membros da Ordem ou não;
Juro honrar todos os meus irmãos que caírem diante de mim ou ao meu lado;
Juro nunca revelar os segredos da Ordem, a traição é indigna de um grande guerreiro;
Juro que sempre que possível serei implacável, porém, clemente para com meus inimigos;
Juro que sempre combaterei com toda a minha astúcia e toda a minha força;
Juro que se eu não tiver forças para manter meu juramento, que eu seja justiçado pelos meus irmãos”.

Saudação
O cumprimento da Ordem é feito cerrando-se o punho direito e o projetando para frente, como um
soco e em seguida proferindo as palavras: “Por Blator, na Força e na Guerra”.

Relíquias
Caso as lendas digam a verdade, a Ordem possui a maior e mais magnífica coleção existente de armas,
armaduras e objetos bélicos mágicos de toda tagmar. É dito inclusive que seu líder máximo, Rudor
Maximus, é dono de uma belíssima e indestrutível couraça dourada. Dizem ainda que sua espada
poderia matar um Dragão de tão poderosa. De qualquer forma a existência desses tesouros e a real
história destes é motivo de especulações para todos os não-iniciados e talvez até para os próprios
membros mais jovens da Ordem.

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Ordem de Cambu

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3.2 Ordem de Cambu - A Divina Prosperidade
Ainda é noite e a grande lua que brilha ilumina o porto de Caleonir. Aqui, sentando na escuridão, com
a brisa suave do mar em meu rosto, eu me recordo do passado.
Minha história começa no ano de 1363 D.C., em Plana. Eu era o primogênito de uma família de nove
irmãos e meus pais sempre foram grandes devotos de Cambu. Meu nascimento foi difícil e a parteira
afirmava que não sobreviveria até o próximo verão. Minha mãe, em resposta, prometera a Cambu que,
se eu vivesse, o serviria por toda a vida.
Dez anos haviam se passado até que em um final de tarde um sacerdote de Cambu veio me buscar. De
uma humilde vila fui levado para a grande cidade de Caleonir, sede da ordem e capital de Plana. No
grande templo central, durante doze anos, fui treinado e educado. Passei a conhecer e a admirar ainda
mais o deus que garantira a minha sobrevivência.
Apesar da invasão Bankdi em 1347 D.C., Plana ainda vivia independente. Nossos exércitos, apoiados
por forças de Saravossa, Chatz e Zanta, rechaçavam cada ataque dos demonistas, que vinham de
Abadom. Porém, um dia, tudo mudou. Em 1390 D.C., seus exércitos marcharam sobre nossa linda
terra em hordas cada vez maiores e com maior ferocidade. Em um ano... um ano apenas, estávamos
derrotados. Em pouco tempo a liberdade e a alegria de viver tinham sido roubadas de nós.
As cidades foram dominadas e colocadas sobre controle dos Bankdis e traidores. Eles escravizaram a
população, impediram o culto aos deuses e lançaram a ordem de Cambu na clandestinidade. Foram
tempos difíceis e negros. Fomos perseguidos, caçados como animais. Todos os templos foram
saqueados e destruídos. Sacerdotes eram queimados em praça pública, em um espetáculo de puro
horror, e qualquer devoto dos deuses era chicoteado.
A ordem foi transferida para as Cordilheiras de Sotopor, onde permanecemos, aguardando o momento
certo, o sinal dos deuses para começarmos a punir os apóstatas. E ele veio... O Grande Sábio...
Seriam necessários três anos até que conseguíssemos entrar novamente em Caleonir. Agíamos nas
sombras... interceptando suprimentos dos Bankdis, atacando pequenas tropas e principalmente
matando oficiais. Nosso número era em muito inferior comparado aos nossos inimigos, porém a tática
funcionava e Cambu sorria para nós.
Durante o dia a cidade ficava sob o controle Bankdi, mas à noite, com o toque de recolher imposto a
todos, circulávamos pelas vielas e ruas coletando informações, levando mensagens, atacando e matando
oficiais Bankdis... minando, destroçando aquela praga que se enraizara no nosso solo.
Hoje é mais uma noite das muitas que existem no ano de 1394 D.C. Durante todo o dia caminhei pela
cidade como um comerciante qualquer vendendo tecidos e vasos. Aprendi a ser um, durante os anos de
treinamento na Ordem. Achei meio estranho aquilo, naquela época, mas hoje tudo se mostra com um
propósito... Posso caminhar à vontade pela cidade pois passo a impressão de ser apenas mais um
insignificante negociador entre os muitos na cidade... e até tenho lucrado alguma coisa com os negócios.
Cambu é fiel!
A mensagem de hoje vem como todas as outras, no fundo de uma grande jarra de vinho. O pagamento
sempre uma moeda de ouro... Menor do que a comum e com um pequeno símbolo da ordem gravado
na borda. Imperceptível para aqueles que não sabem onde procurar.
Levei a mensagem ao cais, mais uma das centenas que já enviei de outros informantes. Informações que
deram a nossos aliados a posição de tropas inimigas, número de soldados e até trajetos de suprimentos.
Quantos morreram para obter tais informações? Quantos ainda teriam que ser sacrificados no altar da
liberdade?
Caminho pelas sombras, para levar a luz aos oprimidos... Já a muito não sei de antigos amigos, irmãos
ou pais. Luto, contudo, por eles, para que possam viver em um mundo mais justo e livre. Pois quem
acredita na liberdade, sempre alcançará a mesma.

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História
Cambu é o deus do comércio e da diplomacia, o protetor dos viajantes e dos comerciantes. A ele
também é dado o dom da palavra sendo capaz de unir e aproximar os povos. Todos aqueles que
plantam em seus corações o desejo de prosperar, sem a ganância que escraviza, de estar cada vez
melhor, de querer o melhor para suas vidas, através da troca de mercadorias e do tino comercial tem
em Cambu a sua divindade maior. Também aqueles que prezam o diálogo, a conversa entre os seus
iguais e outros povos, a utilização do bom senso nas relações entre os seres em detrimento do uso da
força bruta buscam em Cambu a inspiração necessária para sua atividade.
Na Cidade Dourada, na Cordilheira de Sotopor, a biblioteca da ordem detém os antigos textos originais
com o início da mesma. Neles estão relatados que no ano de 800 D.C., Cambu apareceu para dois
jovens e fiéis sacerdotes, Címero e Rizaio, que viviam nas margens do Rio Frefo. A eles foi dada a
missão de propagar a fé, servindo como mensageiros dos dogmas da divindade, além de organizarem os
rudimentos do que seria a Ordem da Divina Prosperidade.
Aliás, a História da Ordem esta indissoluvelmente ligada ao próprio nascimento de Plana como nação
independente. Foi graças aos sacerdotes de Cambu que muitos dos povos que habitavam a região se
uniram com um objetivo comum e formaram o reino de Plana e, mais tarde, lutaram para que este se
tornasse definitivamente independente da Moldânia.
Durante a fundação de Caleonir foi construído o primeiro templo de Cambu, que, posteriormente, viria
a ser a primeira sede da Ordem. Missionários foram enviados às demais cidades para propagar a fé e a
mensagem do deus aos povos. A Ordem cresceu. A doutrina se propagou na região e vários outros
templos foram construídos em todas as cidades e nas pequenas vilas. A maior parte do povo passou a
venerar Cambu.
À medida que o tempo passou, porém, nuvens negras se formaram vindas de paragens distantes. Relatos
de homens e demônios, dor e sangue começaram a ser ouvidos. Enfim, após alguns anos, não bastou
somente propagar a fé, mas garantir que esta sobrevivesse aos anos vindouros. Com a dominação de
Plana pela Seita, uma pequena fortaleza foi construída, com o auxílio de anões fiéis à Ordem, nos
contrafortes da Cordilheira de Sotopor, ao Sudeste do país – a cidadela dos viajantes — para não
somente esconder os manuscritos seculares da Ordem, mas também o tesouro que arrecadaram durante
os anos e ser a nova sede. Sua localização se tornou secretíssima e somente os mais altos membros e
servos leais tinham (e ainda tem) conhecimento desta. Mesmo nos anos mais negros de dominação
Bankdi, sua localização jamais foi revelada. Este foi o centro da resistência da Ordem. Tesouros, armas,
suprimentos e informações estavam assegurados para os anos de luta. Longos anos de combate e
resistência à dominação do mal se passaram. Aos reinos mais distantes foram enviadas mensagens e
informações que pudessem ajudar nos combates. Uma imensa rede secreta foi formada em todo o
reino, onde fieis servos de Cambu auxiliavam na resistência.
Os anos que se seguiram à libertação da Seita foram de reconstrução dos templos, caça aos traidores
que colaboraram com os bankdis e aos sobreviventes demonistas e expansão da Ordem para todo o
Mundo Conhecido.

Localização
Após a sua construção, a cidadela dos viajantes passou a ser chamada por muitos como a Cidade
Dourada. Ela se localiza em uma região de difícil acesso, nos contrafortes da Cordilheira de Sotopor,
próximo à divisa com o atual reino de Acordo. Rumores contam que suas ruas são calçadas em blocos
de ouro e colunas de pedra, incrustadas de jóias e prata, adornam sua estrutura. No grande salão de
cerimônias, centenas de baús com moedas de ouro são oferecidas a Cambu. A própria estátua de seu
deus feita toda em ouro e com mais de 20 metros de altura se encontra no centro da cidade. A Ordem
sobrevive, em grande parte, devido a seu anonimato, ao seu grande poder econômico e às ações entre
os fiéis e os comerciantes do Mundo Conhecido. Especula-se que até o poder em Plana está ligado à
Ordem. Rumores alegam que alguns membros do Conselho Maior que governa o reino são devotos
que integram a Ordem de Cambu.

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A sua riqueza é conseguida através dos serviços diplomáticos prestados pela Ordem, donativos dos fiéis
e impostos pagos pela utilização dos conhecimentos em práticas comerciais que são estudados a fundo
pelos seus sacerdotes. Ao contrario das demais Ordens, a Ordem de Cambú tem uma presença muito
marcante em todos os reinos humanos, pois a grande maioria dos templos de cambú estão de alguma
forma subordinados ou associados a ela. Porém, se enganam aqueles que acreditam que todo o dinheiro
arrecadado é enviado à Cidade Dourada. Uma grande parcela dele é repassada para sustentar esse
milheres de templos de Cambú espalhados por toda Tagmar.

Símbolo
O símbolo da ordem é a imagem estilizada de uma Rosa dos Ventos sobreposta por uma moeda,
simbolizando a presença de Cambú em todas as direções.

Objetivo
A Ordem é voltada para o estímulo da paz e o entendimento entre os povos, através do intercâmbio
comercial entre eles, o que geraria lucros materiais e espirituais para todos os seres. Seus sacerdotes têm
como função buscar o equilíbrio e o bem estar da população que se encontra sob sua responsabilidade.
A Ordem tem formado homens e mulheres em sua sede para buscar uma aliança duradoura entre os
reinos de Tagmar, através do dom da palavra de sabedoria, da diplomacia e da interação comercial.
Contudo, os anos de dominação Bankdi levaram a um fortalecimento do braço armado da ordem.
Durante a Guerra da Seita, os membros da Ordem de Cambu optaram por trabalhar com a informação
e contra informação, atuando como espiões e usando táticas de guerrilha ao confronto direto.

Os Economistas
Grande ramo da Ordem de Cambu. Estes sacerdotes dedicam-se ao estudo e prática do
desenvolvimento do comércio entre os povos do Mundo Conhecido. Eles são versados nas mais
diversas formas de troca, compra e venda de produtos de valor reconhecido como diferentes entre os
negociantes, utilizando seus conhecimentos para se chegar a um preço justo para o produto que agrade
a todos os envolvidos na negociação. Formas de empreendimentos, empréstimos e financiamentos
também são estudados por estes sábios. Eles pregam a teoria de que o comércio beneficia ambos os
parceiros, porque se um não fosse beneficiado ele não participaria da negociação. Eles também rejeitam
a noção de que toda a troca tem implícita a exploração de uma das partes. O comércio, entre locais,
para eles, existe, principalmente, porque há diferenças no custo de produção de um determinado
produto comerciável em locais diferentes. Como tal, uma troca aos preços de mercado entre dois locais
beneficia a ambos.

Os Arautos da Negociação
Outro ramo muito conhecido da Ordem de Cambu. Estes sacerdotes são mestres na habilidade da
linguagem, do diálogo e da escolha das palavras certas e agradáveis durante negociações entre dois ou
mais países em litígio. São muito respeitados entre os governantes das nações de Tagmar por atuarem
com imparcialidade, sabedoria, parcimônia e isenção quando da negociação, discussão e conclusão de
acordos entre os Estados do Mundo Conhecido.

Os Penas Douradas/Penas Prateadas


Estes sacerdotes compõem a tropa de elite da Ordem de Cambu. São arqueiros extremamente exímios
e adestrados ao limite de suas habilidades no manejo deste tipo de arma. Alguns dos melhores arqueiros
de Tagmar compõem suas fileiras. Seus nomes derivam da coloração das penas usadas na fabricação de
suas flechas. Ao contrario do que possa parecer, esta tropa de elite nunca usada para o ataque ou
conquista, mas somente para a defesa dos interesses da ordem.
Os Penas Douradas servem aos Ministros da Ordem, que contam com um efetivo de cerca de cem
arqueiros cada um, realizando escoltas de caravanas e comitivas e as mais diversas missões para os seus
líderes.

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Os Penas Prateadas servem aos Conselheiros da Ordem, que contam também com um efetivo de cerca
de cem arqueiros cada um, com funções semelhantes ás dos Penas Douradas, executando missões, mas
normalmente são designados como guardiões de lugares sagrados.

Guardiões da Cidade Dourada


São sacerdotes totalmente devotados à Ordem e treinados no manejo das armas de combate. Fortes,
ágeis e rápidos, a eles são destinadas as tarefas de patrulha das muralhas da Cidade Dourada e das
trilhas secretas que dão acesso à mesma. Também são responsáveis pela segurança do carregamento
mensal de ouro que é destinado à fortaleza, realizando sua escolta das cidades até a mesma. Também
executam missões que exijam o emprego das armas para sua realização.

Peculiaridades
Os Economistas e os Arautos da Negociação vestem-se com grandes túnicas clericais de coloração
dourada, com o símbolo de Cambu, quando estão executando suas atividades habituais. Medalhões e
adereços religiosos ligados à Ordem são também usados pelos mesmos.
Já os Penas Douradas e Prateadas vestem cotas de malha parcial de coloração dourada/prateada com o
símbolo da Ordem em alto relevo na região peitoral e um elmo aberto. Eles envergam ou arcos
compostos ou arcos de guerra e uma maça para combate corpo a corpo.
A indumentária dos Guardiões varia conforme sua missão. Nas missões de patrulha das trilhas secretas
eles envergam cotas de malha completas de coloração mais escura, camuflando-se com o ambiente ao
redor. Portam um elmo aberto e um escudo pequeno redondo. Carregam também uma pequena
corneta de chifre de animal para alertar os companheiros. Neste tipo de missão eles preferem usar
lanças, espadas ou machados crescentes. Nos demais tipos de missão os guardiões usam a couraça
metálica parcial dourada típica da Ordem, com o símbolo da mesma estampado na placa peitoral, um
belíssimo elmo também dourado, adornado com runas e símbolos místicos e um grande escudo
quadrado, de corpo inteiro. Não existem restrições de armas para estes tipos de tarefas.

Votos Específicos
Tudo o que possuis não é teu, é de Cambu: Apesar da Ordem ser bastante próspera em termos de bens
materiais, os membros da mesma aprendem a viver não tendo posses. Eles vivem e morrem por ela.
Tudo o que tem e terão será providenciado pela Ordem,desde alimentos a armas.
Sempre buscarás as palavras antes das armas: Antes de resolverem qualquer querela por meio armado,
os sacerdotes da Ordem devem tentar negociar e chegar a uma solução amigável entre as partes
litigantes.
Buscarás a paz entre os povos: Cambu é o deus das relações inter-raciais e entre todos os povos de
Tagmar. Os sacerdotes de sua Ordem devem lutar para que todos os seres racionais do Mundo
Conhecido se relacionem amigavelmente entre si.
Sempre retribuirás o que receber: Os sacerdotes de Cambu não costumam receber nada de graça. Eles
sempre retribuem qualquer ajuda, material ou não, que receberem.
Buscarás sempre o preço mais justo: Este voto é levado muito a sério particularmente entre os
Economistas que são os comerciantes mais ferrenhos de todo o Mundo Conhecido. Se eles acham que
um determinado produto vale menos do que está sendo cobrado ou mais do que está sendo vendido,
eles negociarão exaustivamente até que o preço mais justo seja alcançado para aquele produto.

Estrutura
A estrutura religiosa da Ordem de Cambu é bastante peculiar e mistura elementos clericais,
administrativos e militares em seu organograma, todos eles sob a condução do Conselho Maior e Menor
da Ordem (que possuem o mesmo nome de seus homônimos do governo de Plana).

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Conselho Maior
É composto por nove membros. O presidente do conselho recebe o título de Grão-Mestre, os demais
recebem a denominação de Ministros Regionais, cada qual representando uma das regiões de Tagmar
(que são iguais às dos pontos cardeais e colaterais. Ex: Norte, Nordeste, Sul, Sudoeste, etc). Durante as
reuniões usam o grande manto branco com o símbolo de suas regiões e cada um tem em seu poder um
anel de ouro contendo incrustada uma turmalina rosa clara. No interior do anel existem dois símbolos
grafados: o primeiro e maior é o de Cambu; o segundo, da região que representa seu portador. Para se
tornar um Ministro Regional é necessário ter idade superior a 40 anos humanos (ou proporcional a esta
idade para as demais raças), e ser escolhido na sua região por seus pares, os Conselheiros da Ordem. A
escolha do Grão-mestre é feita em votação aberta entre os Ministros Regionais. O Grão-mestre da
Ordem fica sabendo a localização da Cidade Dourada e recebe de seu sucessor a Chave de pedra, a
única que dá acesso às câmaras ocultas da Cidade Dourada.

Conselho Menor
É composto por um membro representante para cada uma das principais cidades da região em questão
e tem como seu líder o Ministro Regional. Recebem o título de Conselheiros da Ordem de Cambu. Aos
conselheiros cabe administrar os templos de sua cidade e das outras cidades e vilas que se encontram
sob sua responsabilidade. Para isso contam com os sacerdotes e principalmente com os noviços, que são
os mais jovens integrantes da ordem. Aos conselheiros são entregues anéis prateados com duas
turmalinas rosa claro incrustadas. A idade mínima para ingressar no conselho é de 30 anos humanos (ou
proporcional a esta idade para as demais raças), e ser escolhido em reunião secreta pelos membros da
Ordem naquela cidade e cercanias, que formam um conselho da cidade. É levado em conta o tempo de
serviço e a dedicação à Ordem.

Os Adminstradores
O braço administrativo da ordem é encarregado de cuidar dos templos e das atividades comerciais. A
Ordem tem ampliado sua influência através não somente da fé e das armas, mas através do dinheiro.
A principal força é a Guilda de Comércio do Oeste. Ela é responsável por financiar grandes expedições
comerciais em toda Tagmar, dos comerciantes de Plana a de outros reinos. Quando empresta dinheiro
cobra dez por cento de juros sobre o valor emprestado, quando participa tem cinqüenta por cento do
lucro.
Escolas de Diplomatas e navegadores são financiados por eles e cobrados valores de serviços aos alunos.
A escola tem a função de preparar profissionais capazes para a sua função.
A cidade de Porto Velho tem, entre os estaleiros de construção, o pertencente à ordem. É de lá que
saem os navios que serão usados nas expedições (sendo estes para o comercio ou para a defesa) e parte
da tripulação que o integrará. Serão os olhos e ouvidos da Ordem. Estes navios recebem a marca de
Cambu no mastro principal e no casco, ambos discretos e visíveis aos membros da ordem.
Nas estradas muitas estalagens e postos e abastecimento são controlados pela Ordem. A eles é dada a
função de atender aos viajantes e servir de abrigo a membros da ordem em suas missões.
O dinheiro que financia e mantém a Ordem vem através destas estruturas, além de cinco por cento de
dízimos pagos pelos comerciantes de cada cidade de Plana e de donativos dos fiéis.

Os Guardiões e os Penas Douradas/Prateadas


Possuem uma estrutura semelhante à das Ordens Militares, mas seu maior posto hierárquico é o de
General, que responde diretamente ao Grão-Mestre e aos Ministros Regionais.

Sacerdotes
Cada conselho da cidade tem um número variável de sacerdotes e cada um destes é responsável pela
educação de alguns noviços.

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Noviço
Noviço é o mais baixo posto da Ordem. Estes são compostos pelos sacerdotes de Cambu que desejem
adentrar e seguir os dogmas da Ordem de Cambu. Durante os primeiros anos eles estudarão, ajudarão a
celebrar cultos e auxiliarão nas atividades administrativas. Após este período aos noviços é conferida a
escolha de integrar o braço religioso/diplomático, administrativo ou armado da Ordem.

Líder em Atividade
O atual líder da Ordem de Cambu, também conhecido como “O Divino Negociante”, é o Grão-Mestre
Jorehu Hafoli, um humano de seus sessenta anos, mas com um vigor invejável. Dono de uma mente
acurada e uma impressionante visão comercial, Jorehu pretende estender os braços da Ordem de
Cambu até as regiões mais ao sul de Tagmar, financiando expedições a locais mais inóspitos como as
geleiras, o Domo de Arminus e até os Mangues. Ao mesmo tempo, ele procura consolidar os
empreendimentos da Ordem nas regiões onde a mesma possui templos.

Juramento da Ordem da Divina Prosperidade


O juramento é realizado numa cerimônia, na Cidade Dourada, onde o acólito recém-ingresso na
mesma estende suas mãos sobre o símbolo da Ordem envolto por várias moedas de ouro.
“Eu (nome do acólito), juro diante dos meus superiores e dos meus companheiros de Ordem, que serei
sempre fiel a Cambu. Espalharei a riqueza da terra a seus fiéis, trazendo a paz e a harmonia a corações
e lares. Buscarei a conciliação entre as raças através das palavras ao invés da guerra. Que buscarei ser
sempre justo em minhas negociações e empreendimentos comerciais. Que ajudarei meus irmãos de
Ordem e todos aqueles que clamarem o nome de Cambu. Mas todos que macularem e desonrarem o
seu nome e seu desejo amargarão sua irá com sangue e dor.”

Saudação
O cumprimento feito pelos membros internos da Ordem é um aperto de mãos usando as duas mãos.
Em seguida ambos trocam entre si uma moeda de cobre, dizendo: “Que Cambu lhe traga
prosperidade”.

Relíquias
Sendo uma Ordem extremamente rica em posses financeiras, correm boatos de que os salões
subterrâneos da Cidade Dourada, além da imensa quantidade de moedas de ouro, guardam artefatos e
objetos mágicos extremamente raros e poderosos que foram comprados com o dinheiro arrecado pela
Ordem. Os rumores mais freqüentes dizem respeito à presença de uma orbe chamada de Oráculo de
Cambu, que permite a seu usuário prever eventos futuros, bem como conhecer os desígnios da própria
divindade, conversando pessoalmente com a mesma. Dizem que somente o Grão-Mestre conhece o
ritual necessário para invocar os poderes do Oráculo e que não toma decisões importantíssimas sem
antes consultar a vontade de Cambu através dele.

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Ordem de Crezir

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3.3 A Ordem de Crezir - Os Dragões Vermelhos
— Marna, bela e imprevisível como uma tempestade.
Dedilho com suavidade minha harpa e a melodia soa, clara e sonora. Sou Dúgal Pássaro-élfico, o
sangue em minhas veias tão mestiço que já não sei donde venho. Estou em campos de matança e
tristeza, onde as cinzas dos mortos se elevam do solo estéril, sopradas com violência contra meu rosto.
Estou aqui para compor uma elegia, mas tudo começou com uma ode à luxúria.
— Marna, fogosa e feroz.
Ainda me vejo, deitado entre lençóis, observando seu corpo nu e alvo, suas mãos aparentemente
delicadas afiando o aço de sua lâmina... Marna, a sacerdotisa de Crezir. Ela possuía tudo que eu
apreciava em uma mulher: uma amante selvagem, insaciável e absolutamente invulnerável às sutilezas do
amor, embora se entregasse prazerosamente aos caprichos da paixão. Seus músculos rijos se
movimentavam com elegância sob sua pele delicada, e a crueza de sua beleza sem caprichos me
lembrou uma serpente (e eu as adoro, por serem lindas e letais). Busquei minha harpa e toquei alguns
acordes, quando Marna cessou seu trabalho hipnótico e sedutor, me perguntando:
"O que está fazendo?"
"Vou cantar tua beleza", respondi satisfeito, esperando que a lisonja a fizesse retomar seu trabalho.”
"Não, não agora... agora não estou bela."
"Quando então, minha senhora?"
"Amanhã, Dúgal. Amanhã me verá mais bela que jamais serei entre estes lençóis. Tenha paciência, meu
jovem amante".
E eu tive. Seguimos para os campos a oeste de Ender, quase nas fronteiras de Conti. Ao que parece,
uma tribo nômade de orcos atacava as vilas do local, vilas estas que contavam com uma guarda fraca,
com poucos guerreiros de carreira e muitos trabalhadores voluntários. Quase que por acidente, um
grupo de batedores encontrou o acampamento dos salteadores, e alguém chamou Marna.
Ela reuniu dois pelotões, cada um com quinze homens, guerreiros experimentados que tinham em
comum um único detalhe: o gosto por matar. Eles obedeciam Marna em cada pequena vontade, e a
seguiram em marcha até o acampamento dos orcos. Lá chegando, encontramos a guarda local,
esfarrapada e mal armada. "Qual a estratégia, minha senhora?" — perguntou o pobre capitão, um
homem cansado com um olhar de súplica nos olhos. Marna apenas sorriu... e partiu em carga contra o
acampamento. Seus homens foram atrás, e também não exibiam qualquer preocupação em manter o
elemento surpresa.
Marna usou exaustivamente seus poderes, as dádivas de sua deusa sedenta de sangue, e hordas de orcos
tombavam, vítimas do enorme machado de Crezir. Não havia mais beleza em seus movimentos — seu
corpo, seu ginete, tudo estava banhado de sangue... sua arma ceifava vidas impiedosamente, enquanto
sua montaria pisava os moribundos caídos. E Marna ria. Insanamente, os olhos em chamas, os dentes
brancos destacados contra o rubor negro de sangue que a cobria.
Tudo cessou muito rapidamente — mortos todos os orcos machos, restaram apenas as fêmeas e as crias,
protegidas por poucos soldados com lanças. Marna os matou avidamente, como avidamente me amava.
Ela virou-se para mim, gritando meu nome, e tive medo.
"Vem, Dúgal! Venha e cante minha beleza, porque jamais serei mais bela que agora!" — e dizendo isso,
pegou de um archote e queimou as choupanas. Eu podia ouvir os gritos das fêmeas tentando proteger
suas crias, em vão. Os que fugiam do fogo morriam pelo aço.
"Quero calcar aos meus pés as cinzas de meus inimigos e de sua prole! Que seu legado jamais se erga
novamente contra mim ou contra a deusa! Toque Dúgal! Toque, porque este coral é para tua música!"
"São apenas orcos", eu ficava repetindo para mim mesmo, mas os gritos das crianças dos Orcos eram
iguais aos gritos de quaisquer outras crianças, humanas, elfas ou anãs.

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Marna me beijou ao fim de tudo, um beijo cheio de paixão, mas com um fedor de sangue que me
enojou. Afastei-me, atônito e chocado. Ela sorriu. "Existem dois tipos de homens para mim, Dúgal: os
úteis e os inúteis. Estes podem ser amados, pois não servem para nada mais, e aqueles são incenso para
o altar de Crezir, e sua utilidade reside em poderem ser mortos. Sorte sua, meu pássaro canoro, que
você não tenha qualquer utilidade para mim."
Ainda sinto o gosto de sangue que seus lábios deixaram nos meus. Ela partiu com seu exército,
deixando atrás de si um enorme campo de morte... a não ser por mim.
"Eles eram apenas orcos", repito para mim mesmo, sem conseguir concatenar pensamentos que me
rendam uma letra. Os gritos ainda ressoam nos ventos, gritos quase humanos...
A elegia não é para estes pobres selvagens... é para minha vergonha...

História
A história da Ordem teve seu início por volta de 1115 DC, e faz referência a lendas contadas durante
várias gerações nas terras mais selvagens do extremo sul de Tagmar. Os relatos falam de uma antiga
lenda dessas terras, a história de um gigante gerado no útero da deusa e forjado no fogo da destruição.
Os detalhes já se perderam com o tempo, mas ao que parece, após sofrer uma terrível derrota no
território que hoje conhecemos como Ludgrim, um grande grupo de orcos atravessou as Terras
Selvagens e se ocupou de saquear nômades que lá viviam. Embora possuísse muitos membros – entre
os quais excelentes guerreiros – uma das maiores tribos nômades da região vivia assombrada com a
possibilidade de um possível extermínio dos seus, posto que quanto mais os orcos se deslocavam em
direção ao sul, maior ficavam em número de integrantes. Ao que parece os sacerdotes dessa tribo
apelaram à deusa pedindo por um milagre que os salvasse desse desfecho trágico.
Alguns textos recuperados pela Ordem retratam algumas dessas passagens: “Ele será fértil como a terra
que circunda um rio caudaloso, dará quantos descendentes lhe forem colhidos de sua fonte, com
quantas mulheres se deitar, quantas vezes se deitar. Ele será forte como a rocha,e seus descendentes lhe
herdarão a força, o vigor, a beleza e a impetuosidade de espírito. Ele será chamado Draku e exércitos
tremerão a sua passagem. Sua vida será marcada pela guerra, e o rastro de corpos sempre denunciará
seu caminho, milhares cairão diante de seu julgo até que ele retorne a mim. Isso Eu vos digo e assim
será feito.”
Eis que duas décadas depois essa criança havia se tornado um colosso com mais de dois metros de
altura, uma vasta cabeleira vermelha até a cintura e um par de intrigantes e penetrantes olhos cor violeta.
Há esse tempo ele já era o líder da tribo e lutava para restaurar a glória de seus antepassados. Seus
inimigos o chamavam de “O Gigante de fogo” ou até mesmo “O demônio de Fogo”, quando os seus se
aperceberam que Draku era uma palavra antiga para dragão, passaram a chamar-lhe “O Dragão de
Fogo” e, mas tarde, “O Dragão Vermelho”. Quando a última das tribos inimigas caiu e este ainda se
encontrava em meio ao campo de batalha completamente coberto de sangue e ferimentos, a deusa se
aproximou, cuidou de seus ferimentos e disse: “Cumpriste tua missão aqui. Parte imediatamente e leva
tudo que te for necessário, caminha para o norte até o limite de tuas forças e quando não mais puder
dar um passo sequer descansa o quanto te seja necessário. Depois ergue em minha glória àquela que
sobreviverá as eras, a mais esplendorosa de todas as Ordens, pois que vocês serão como que Dragões
entre mortais e só deverão obediência a Mim”. De fato Draku caminhou até o limite máximo de suas
forças e quando não mais agüentou dar um passo, descansou ao pé de uma cadeia de montanhas, aonde
mais tarde veio a edificar a Ordem que deveria sobreviver a passagem do tempo. Uma grande fortaleza
foi erguida bem no topo da cordilheira, onde só os mais fortes sobreviveriam.
Draku foi o primeiro grande mestre da Ordem dos Dragões Vermelhos e responsável por toda a
estruturação de seus votos. Ele estabeleceu um forte laço entre os ensinamentos de Crezir e os preceitos
da Ordem.
Com o surgimento da Seita Bankdi os seguidores e membros da Ordem dos Dragões Vermelhos foram
tentados a ingressar nas fileiras da Seita, devido a seu alto grau de instrução militar e a fúria com que
lutavam. Mas a Ordem possuía um objetivo maior e era intimamente ligada a deusa Crezir, de modo
que uma aliança com demonistas tornava-se impossível. A insistência dos lideres bankdis acabou por ter

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um efeito inverso e a Ordem se voltou contra a Seita assim que percebeu suas reais intenções, sendo
uma grande opositora a ligação entre os bankdis e a corte verrogari. Assim, a Ordem dos Dragões
Vermelhos declarou guerra aos demonistas e com intuito de preservar seu principal refugio, tornou sua
localização tão obscura quanto pode.

Localização
O mundo muito mudou ao longo das gerações, mas a Fortaleza dos Dragões Vermelhos, também
conhecida como “O Ninho dos Dragões”, continua camuflada no alto de suas montanhas escarpadas.
Tomando como base os mapas atuais a Ordem estaria localizada a noroeste da cidade de Treva, em
Verrogar, quase na divisa com Dartel e com o grande deserto, numa cadeia de montanhas conhecida
pelos homens como Montes Crassius, mas batizada por seus moradores como “A cordilheira do
Dragão”, em homenagem ao fundador da Ordem. A fortaleza é de difícil localização devido as diversas
e pouco conhecidas trilhas que cortam os montes. A Ordem mantém uma postura extremamente
xenófoba com “os de fora”, mantendo apenas relações políticas com esses. Os próprios verrogaris são
tratados assim, ainda que com mais tolerância por serem, em sua grande maioria, devotos de Crezir.
Assim, seja por medo ou por respeito, nenhum membro da Ordem costuma facilitar o acesso de
estranhos a fortaleza, mas por convenção do que propriamente por proibição.
No entanto, embora a fortaleza principal da Ordem encontre-se nos Montes Crassius, algumas outras
congregações já foram formadas em outros lugares de Tagmar. Estas respondem diretamente ao
“Ninhos dos Dragões”, mas tem uma relativa independência ao que se refere a maior parte das suas
ações, inclusive ordenando novos membros. No entanto não se devem confundir as congregações da
Ordem com os demais templos de Crezir, e principalmente por que elas não são muitas e se encontram
normalmente apenas nas capitais dos reinos mais belicosos e excepcionalmente em Saravossa, onde
todas as ordens mantêm uma congregação.

Símbolo
O símbolo da Ordem é o de um magnífico dragão de assas abertas soltando uma baforada de fogo.

Objetivo
A Ordem dos Dragões Vermelhos é uma Ordem Militar de Crezir dedicada exclusivamente à Deusa e
seus desígnios. Forma seus noviços com extrema rigidez e com foco total na fúria e nos prazeres da
guerra. Seus lideres procuram levar aos campos de batalhas sempre sua máxima força para que ajam de
forma feroz e implacável, massacrando os inimigos e se deliciando com o campo coberto de corpos e a
grama encharcada de sangue.

Os Dragões Vermelhos
Seus serviços quase sempre podem ser comprados, ainda que a um alto preço e desde que a deusa não
se oponha. Seus saques e pilhagens por onde passam quando em campanha são ótimas fontes de
riquezas. Nenhuma falha é admitida sendo sempre punida com a auto-flagelação e a vergonha da
derrota é insuportável para esses guerreiros que não se deixarão aprisionar com vida; para a traição é
reservada torturas impronunciáveis. A força bélica e a fúria dos Dragões Vermelhos já mudaram o rumo
de muitas batalhas, sendo a guerra para eles sua vida e eles a encaram de peito aberto. Deve-se ressaltar
que os Dragões Vermelhos são guerreiros sanguinários e não desordeiros, eles guardam sua fúria para
seus inimigos e não para todos os que cruzem seus caminhos. Todas as armas são permitidas, porém, as
de corte são as mais apreciadas. Para aqueles mais antigos na Ordem a predileção pela montante é
visível a exemplo do fundador da Ordem que mantinha a sua como uma cicatriz, que era capaz de
manuseá-la com apenas uma das mãos e com invejável destreza.

Peculiaridades
Os Dragões Vermelhos envergam belíssimas couraças parciais vermelho-sangue, ricamente adornadas
com temas de dragões por toda sua estrutura. Acompanha a couraça um magnífico escudo grande,
também vermelho, no formato de uma face de dragão. Um belo elmo fechado também vermelho e em

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formato de cabeça de dragão. E completando indumentária os Dragões Vermelhos portam uma
belíssima capa negra anexa à couraça por presilhas em formato de cabeças de dragões. Alguns ainda se
utilizam de medalhões e toda sorte de adereços religiosos ou bélicos. Todos os Membros ao serem
ordenados são marcados a ferro quente com o símbolo do dragão no peito esquerdo. A distinção
hierárquica é feita por meio de tatuagens ritualísticas, quanto mais alta a patente maior é a parte do
corpo tomada pelos desenhos.

Votos Específicos
Não deverás jamais fugir a um combate ainda que em franca desvantagem: A covardia é abominada por
todos os Dragões Vermelhos e aqueles que demonstram possuir essa fraqueza não são dignos de
ostentar o nome da Ordem, devendo ser expulsos.
Não te amedrontará diante da morte: Esses fanáticos são conhecidos por encontrarem suas mortes
bradando seus gritos de guerra e golpeando furiosamente seus algozes.
Não atacarás um irmão de Ordem: Os conflitos internos são comuns, porém, a imposição da pena
capital cabe somente ao Grão Mestre, ficando ao julgo dos superiores imediatos somente em caso de
necessidade de execução imediata.
Guardarás o quinhão de tua matança para a Ordem: Tudo quanto for dado, pilhado e ou saqueado pelo
Filho do Dragão um quinto pertencerá à Ordem, porém tudo quanto a Ordem forneça para o uso
pessoal e ou presenteie ao sacerdote, é do sacerdote.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Militares. O líder máximo da Ordem é conhecido também como O Grande
Dragão Vermelho.

Líder em atividade
Durante toda a história da Ordem os descendentes de Draku quase sempre estiveram no poder, pois de
fato o cargo de Grande Dragão cabe aquele mais capaz, ao melhor líder e guerreiro, e os herdeiros de
Draku tem se encaixado nessas exigências como uma luva. Há três décadas o líder mais jovem da
história da Ordem foi ordenado, seu nome: Linus Draku. Linus assumiu a Ordem aos 18 anos de idade
e hoje aos 48 anos já se tornou a lenda que paira abaixo apenas do próprio Draku. Linus é descrito
como um homem frio, cruel, completamente incapaz de qualquer sentimento de culpa ou remorso. Sua
justiça é caústica e suas ações ainda hoje não deixam de causar espanto, muitos dizem que ele nasceu
sem o coração. Mas a verdade é que ninguém ousa contestar a sua autoridade.

Juramento
O juramento dos Dragões de Fogo é proferido mediante a um pacto de sangue onde aquele que vai
proferir o juramento corta a palma da mão, deixando o sangue de seu corpo fluir livre para uma bela
vasilha de prata colocada logo a frente do candidato. Esse sangue depois é ofertado a deusa sendo
derramado sobre uma de suas imagens situada na câmara de preparação. Caso a deusa recuse o sangue
o candidato é morto, e suas entranhas oferecidas a deusa como reparação.
“Eu juro pelo meu sangue lealdade eterna a Crezir e à Ordem dos Dragões Vermelhos;
Juro que imporei a fé na deusa pelo fio da minha espada por onde quer que eu passe;
Juro jamais questionar meus superiores, a insubordinação é passível de pena de morte;
Juro que abraçarei a morte com todas as minhas forças;
Juro que manterei todos os meus votos sob quais quer circunstâncias;
Juro que preferirei mil vezes a morte à derrota ou a desonra de ser feito prisioneiro;
Juro que destruirei todos aqueles que se colocarem no caminho Ordem ou da Deusa;
Juro que a combate será para mim a aspiração máxima;

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Juro considerar como meus irmãos de sangue todos Os Dragões Vermelhos de Fogo;
Juro nunca revelar os segredos da Ordem, a traição é passível dos tormentos eternos;
Juro que jamais terei clemência para com um inimigo;
Juro que sempre combaterei com toda a minha fúria, e toda a minha força;
Juro que se eu não tiver forças para manter meu juramento, que eu seja vítima da fúria eterna de
Crezir.”

Saudação
O cumprimento da Ordem é feito com um leve meneio de cabeça e cada qual apertando o antebraço
de seu companheiro, enquanto pronunciam simultaneamente as palavras “Fúria e Morte por Crezir”.

Relíquias
Caso as lendas digam a verdade, a Ordem desde sua criação enfrentou e derrotou pelo menos um
Dragão, anexando conseqüentemente todo seu tesouro aos cofres da Ordem. Dizem alguns relatos que
o próprio Draku quando ainda em vida comandou um desses combates, o que lhe valeu uma magnífica
couraça de escamas de dragão. De qualquer forma a existência desses tesouros e o real conteúdo destes
é motivo de especulações até para os próprios membros da Ordem.

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Ordem de Crizagom

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3.4 A Ordem de Crizagom - Os Bravos Cavaleiros da Justiça
Eu me lembro bem, era uma manhã cinza que precedia a noite mais fria do ano. O ar gelado
denunciava a fala e a respiração dos homens condensando-as, tornando-as visíveis e quase palpáveis. O
dia estava apenas nascendo, e a fraca claridade vinha dos parcos raios de sol transpondo as pesadas
nuvens que cobriam todo o céu. Um mensageiro chegou a todo brio, quebrando o frágil silêncio
matinal, sua montaria a despeito do frio estava ensopada de suor, bem como seu cavaleiro. Os olhos do
homem demonstravam uma urgência funesta em um semblante exaurido, e todas as palavras de
explicação se fizeram rapidamente desnecessárias.
O mensageiro foi encaminhado diretamente à sala do conselho da Ordem, amparado de perto por duas
sentinelas que mantinham o homem de pé enquanto caminhavam pelos então ainda escuros corredores.
Certamente o homem não teve nem tempo de maravilhar-se com os entalhes feitos nas paredes por
mãos habilidosas, entalhes de guerra que pareciam prever a causa da presença daquele homem trôpego.
A conversa se deu rapidamente e a portas fechadas, quem ouviu o homem foi o nosso Marechal,
Vlader:
- Senhor! Estamos sendo invadidos pelo leste! Um exército imenso se abate sobre nossas terras sem
qualquer aviso prévio. As sentinelas só os perceberam quando já era tarde demais… Eles estão varrendo
todas as vilas no caminho… Os outros mensageiros foram abatidos por batedores experientes, eu
mesmo só sobrevivi porque me desviei do meu caminho…
- Quantos são?
- Não sei ao certo senhor! Mas são mais de vinte mil, Senhor! Isso com toda certeza… Se eles não forem
impedidos de continuar, em dois dias estarão sobre uma de nossas grandes cidades…
- Eu comando seiscentos bons homens nesse Templo de minha Ordem, e ainda que eu tenha total
confiança na capacidade de meus homens, não pode haver vitória sobre tamanha diferença de forças…
- Mas senhor! Se os nossos não forem avisados da ameaça a tempo de aprontar uma resistência,
seremos facilmente massacrados… Milhares morrerão… Centenas de milhares…
- De quando tempo você precisa?
- De três dias e dois cavalos descansados, o meu está a um passo da morte…
- Então três dias você terá! Pegue dois cavalos e leve sua mensagem, e que Crizagom esteja com você!
- Soem os sinos! Há cidadãos em perigo necessitando de nossa proteção! Às armas!
Um dia inteiro de viagem separava nossas forças, os homens marchavam com uma resignação inabalável
contra a morte certa, nada poderia abalar o moral das tropas, pois nada podia ser mais honrado do que
lutar pelo que era certo. Não direi aqui que não havia medo ou pesar em alguns corações, ou talvez até
mesmo em todos. Eu não sou homem de mentiras e não macularei essas linhas com uma… A ciência da
gravidade da situação fazia com que os homens marchassem em completo silêncio… Mas esse era o
nosso dever, e nós o cumpriríamos até o fim.
Nós montamos nosso acampamento às costas de um vau por ordem do Marechal. Vlader sabia que o
confronto se daria na manhã seguinte e que o vau seria uma boa defesa natural, obrigaria que eles
avançassem em pequenos contingentes, o que tiraria um pouco da vantagem numérica dos atacantes. A
noite passou fria e igualmente silenciosa, nem uma palavra foi dita em vão, e não fosse pelas luzes e
alguma movimentação, nosso acampamento pareceria um cemitério repleto de estátuas de guerreiros
regiamente armados. Ninguém dormiu essa noite…
A alvorada veio como que um chamado para a guerra, e no mesmo silêncio respeitoso os homens
começaram a se posicionar e aguardar as ordens do nosso superior. Detalhes do embate eu não
mencionarei aqui, não há necessidade, basta dizer que nos posicionamos estrategicamente bem, graças a
Vlader, e lutamos como leões durante todo o dia. Ao fim do dia, somente o cansaço, as dores e o gosto
do nosso próprio sangue nos lembrava que estávamos ainda vivos e tínhamos um dever a cumprir. Por

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três dias lutamos bravamente, e por Crizagom, posso jurar que para cada um de nós que tombava, dez
deles caiam também…
No alvorecer do quarto dia nós não éramos duzentos, pouco mais de uma centena talvez, cansados,
feridos, exaustos… Foi nesse dia que eu recebi a ordem mais dura da minha vida. Vlader me ordenou
que tomasse dois de nossos cavalos que estivessem em melhores condições e partisse levando
informações mais precisas à cerca do inimigo: número, armamentos, estratégia…
Quando deixei nosso acampamento o ruído da batalha já recomeçava pela quarta vez, e no meu íntimo
eu lamentei por ter que deixar meus irmãos de armas ali entregues a seu próprio destino… não pude
olhar para trás, não tive forças para isso…
A mensagem de Vlader chegou intacta ás mãos certas, um inimigo já alquebrado e assustado pelas suas
baixas encontrou um exército de defesa preparado e muralhas sólidas a sua frente. A sorte mudou de
lado graças ao sangue e valor dos meus irmãos… seiscentos morreram para que milhares pudessem
viver. A batalha foi vencida sem maiores prejuízos para nós, os poucos inimigos que sobreviveram
fugiram para não mais voltar… e não há um só dia que eu não lamente não ter podido morrer junto aos
meus irmãos nos vaus do leste… Com essas linhas espero ao menos honrar a memória daqueles que se
bravamente sacrificaram-se para que nós pudéssemos vencer, pois eles cumpriram seu dever até o fim…
até a morte.
- Adam “O bravo”, Cavaleiro da Justiça de
Crizagom.

História
Honra e justiça, esses são os valores que regem esses homens leais e nobres. Em um mundo tirano e
corrupto, onde a dissimulação e a perfídia são armas utilizadas nos mais variados e improváveis campos
de batalhas, aqueles que carregam esses princípios muitas vezes podem ser vistos como tolos ignorantes,
porém na verdade eles nutrem os sentimentos mais elevados que podem ser encontrados em qualquer
criatura vivente de Tagmar; e essa é a fortaleza que mantém vivos esses homens de honra, dia após dia.
Na verdade, o que a maioria desconhece é que nenhuma fortaleza do mundo dos Deuses ou dos
Homens é mais intransponível ou mais inexpugnável que a verdade. Ela é e sempre será o porto seguro
desses bravos cavaleiros que julgam seus semelhantes não pelo que eles são, mas pelo que eles fazem,
baseando-se sempre nos atos para emitirem um julgo com total imparcialidade. A heróica vida desses
homens poderia ser facilmente resumida em duas simples palavras (honra e justiça), porque para eles de
nada vale aquilo que não é verdadeiro, honrado e justo. De nada valeria viver em um mundo repleto de
mentiras regido por homens corruptos e falsos. Para eles, a nobreza que carregam dentro de si é o
grande sustentáculo da luta por um mundo melhor, mais leal e justo.
Para todos esses devotos honrados, leais, verdadeiros e incorruptíveis que carregam arduamente essa
bandeira: Honra e Força.
A história da Ordem encontra-se intimamente ligada a fundação do reino de Azanti, em 990, D.C.
Conta à história sobre uma nobre família, nascida dos nobres preceitos de seus antepassados, e que
tinha seu centro de poder ao norte do reino de Filanti. Ao longo da criação do reino esses nobres
ergueram uma Marca em honra e glória à Crizagom, esta foi chamada: “Marca de Supramati”. Os
membros dessa augusta família sempre estiveram entre os mais ferrenhos devotos do Deus e ao longo
da história um grande número de seus filhos e filhas deram suas vidas pela causa. Dentre eles havia um
de grande firmeza e convicção, e Crizagom abençoou-o com uma missão sagrada. Consta nos textos da
Ordem que em uma bela manhã de verão, uma radiante criatura luminosa apareceu ao então
primogênito da Casa de Supramati e disse:
- Venho em nome de seu Deus e trago-lhe uma ordem Dele.
O homem curvando-se até quase tocar o chão disse com voz emocionada, mas firme.
- Dize-me, oh Enviado dos céus, o que me ordena o meu Senhor?
- Acerca-te de seu palafrém, cavalga até o alto daquela montanha que vai ao horizonte, e prepara-te que
lá encontrarás teu destino. Parte imediatamente.

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Mais que depressa o homem selou sua montaria e partiu até onde lhe havia indicado o Enviado. Lá
chegando, pode divisar ao longe uma figura humana que crescia a cada instante na paisagem. Quando a
distância tornou-se relativamente pequena este pode divisar nitidamente a magnífica figura de um
cavaleiro, envergando um belíssimo arnês acompanhado de uma deslumbrante e esvoaçante capa azul,
trazendo a mão seu elmo e olhando para o horizonte com cenho carregado ao lado de um imponente e
alvo alazão. Este não desviando seu olhar do horizonte, disse com voz firme de quem está acostumado a
dar ordens, uma voz ao mesmo tempo autoritária e cativante:
- Meu filho, o futuro de seu reino jaz no turbilhão da incerteza, o mal ameaça macular a integridade dos
homens de bem.
Estupefato com o timbre da voz que saia da boca do cavaleiro e ecoava no topo dos montes, e com a
revelação, nada conseguiu falar e a custo conteve o frêmito que lhe irrompia do corpo.
- Mas Eu não posso, não devo e não vou permitir que tais virtudes caiam mortas e sejam perdidas nas
trevas do esquecimento.
O cavaleiro apertou os olhos como a apurar a visão e seus olhos demonstraram uma determinação até
então oculta:
- Cavalga para o norte, pois quando as trevas se abaterem por essas paragens lá residirá o sustentáculo da
resistência às forças do mal que ameaçam perverter esse mundo. Segue sempre em frente e não perca
nunca de vista essa cadeia de montanhas que vês no horizonte e que estará sempre a tua direita como
uma sentinela a indicar-lhe o caminho. Atravessarás os campos de Maira e romperá o véu de Ganis que
te levará ao coração das montanhas dos Filhos de Blator, fará teu caminho por entre a escuridão e por
fim encontrarás a luz, ali edifica a Mim uma magnífica Ordem de Cavaleiros da Justiça e faze com que
esses Paladinos espalhem por todo o mundo essas virtudes que te guiam.
Dito isso o cavaleiro olhou bem nos olhos o estupefato humano que se posicionara a seu lado, bateu a
mão direita fechada sobre o coração e pronunciou as palavras: “Honra e Força”, montou então seu
palafrém e saiu a cavalgar em direção ao horizonte.
De fato foi exatamente isso que o homem fez, preparou-se para uma longa viagem e cavalgou até o
extremo norte de seu reino até finalmente encontrar o lugar indicado por seu Deus. Valendo-se de sua
influência e recursos, ajuntou um grande número de fiéis e, ocupando-se em civilizar a terra ainda
selvagem, deu início a construção da Ordem com suas próprias mãos. O nome do grande homem
responsável pela realização desse projeto era Magnus Supramati, e uma estátua de bronze em sua
homenagem se faz presente até os dias de hoje no pátio principal da Ordem. Quando terminada a obra
cerca de uma década e meia depois, todos os responsáveis pela sua construção foram investidos e
tornaram-se os primeiros Cavaleiros da Justiça de Crizagom. Mas a justiça ainda deveria ser empregada
em muitos outros lugares e ele precisaria de ajuda, ajuda comprometida e confiável, e esta viria de perto,
de seu próprio sangue. Um membro de sua família há muito havia se estabelecido como grande
guerreiro em Filanti, mas as injustiças lá cometidas fizeram-no abdicar de seu posto. Foi então que
Magnus Supramati convocou seu sobrinho-neto, Aza, que se incorporou às fileiras da ordem com
muitos de seus melhores homens, todos antigos membros da antiga Mesa de Prata de Filanti. Embora
muitos cultuassem outros deuses, acabaram por se converterem à fé na justiça e na verdade. Nascia
assim, a primeira grande força da Ordem de Crizagom: os paladinos da justiça.

Localização
Consultando-se os mapas mais atuais a Ordem está localizada no extremo norte das terras de Filanti,
onde hoje se encontra o Ducado de Azanti, mais especificamente em algum lugar no topo da
Cordilheira de Keiss, que faz divisa natural do Ducado com as Cidades. As trilhas escassas e de difícil
acesso que serpenteiam por entre as montanhas formando verdadeiros labirintos rochosos, fizeram com
que, durante todos esses anos, poucas pessoas não-pertencentes à Ordem conseguissem encontrar a
sede dos paladinos. Apenas os membros da Ordem possuem mapas precisos de sua localização.
De fato para chegar-se a Ordem tem-se apenas um caminho fortemente guardado por seus membros.
Para tal deve-se adentrar o “lago proibido”, lago originado de uma imensa cachoeira que cai da
cordilheira. Por detrás da queda d’água há uma caverna natural, grande suficiente para passarem oito

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homens montados lado a lado. Um caminho natural dentro da rocha com apenas uma direção é
fortemente guardado por inúmeras sentinelas que se posicionam ao longo dos três portais de acesso.
Todo o trajeto pode ser transposto em aproximadamente meia uma hora em velocidade de escalada..
Vencido esse caminho desemboca-se em um grande vale compreendido entre as montanhas, que é
exatamente onde a Ordem foi edificada.
O crescimento da ordem foi tão lento como o crescimento do Reino de Azanti, e varias congregações se
espalharam pelo mundo conhecido. Em 1224 D.C. com a formação da Aliança dos Povos, os dirigentes
da Ordem decidiram mudar a sede da Ordem para capital Zanta. Na fervorosa capital foi construído
então o mais belo de todos os templos de Crizagom, que iria abrigar a sustentar liberdade e justiça por
quase 200 anos. Mas durante a Batalha dos Mil Mártires, em 1403 D.C., a Ordem sofreu milhares de
baixas, perdendo inclusive seus líderes, o que a pôs em uma situação frágil. Embora pouco tempo
depois a Seita Bankdi tenha sido derrotada, havia uma grande instabilidade política em Azanti, seu
reino-sede, e muitos demonistas mantinham ainda pequenas resistências isoladas. Sem líder, com
poucos membros e nenhuma estrutura, a Ordem de Crizagom se recolheu a sua sede original e
começou um lento processo de recuperação, se reerguendo com todo seu esplendor anos mais tarde.
Os novos líderes da Ordem chegaram a conclusão que essa recuperação só foi possível devido ao
pouquíssimo conhecimento de sua localização, então decidiram – através de um grande conselho que
abordou outros temas importantes – que a localização da ordem seria mantida em absoluto segredo,
tornando-se assim, extremamente secreta.

Símbolo
A Ordem é simbolizada por um magnífico Martelo de Guerra, arma sagrada que é a preferida da
Ordem.

Objetivo
A Ordem dos Cavaleiros da Justiça de Crizagom devota-se à defesa e manutenção de todas as virtudes,
valores e preceitos considerados sagrados por seu Deus. A guarda da honra, lealdade, incorruptibilidade
e justiça são os grandes anseios e deveres desses bravos cavaleiros. Eles lutam contra tudo quanto é
errado, injusto, desonroso ou desleal no mundo. O mundo ideal para esses devotos seria livre de todos
esses vícios e valores negativos, e apesar de parecer utópico e impossível, ainda assim esses bravos
guerreiros não se cansam de lutar por aquilo em que acreditam e certamente morreriam por suas
crenças e seus compromissos, pois não há nada mais sagrado que a manutenção da palavra dada.

Os Paladinos (Cavaleiros da Justiça)


Os Paladinos são de longe os homens mais honrados, honestos e verdadeiros de toda Tagmar, sua
firmeza de caráter e comprometimento para com seus votos é a mais sublime característica de sua
Ordem. Jamais se ouvirá da boca de um desses homens qualquer tipo de mentira ou inverdade. Estes
podem ser encontrados em qualquer lugar do Mundo Conhecido onde o mal e a injustiça estejam por
ameaçar os baluartes que consideram sagrados. Esses homens fazem o bem pelo bem, não por
dinheiro, não por glória ou por fama, mas porque é justo, certo e honrado. Não raro será possível vê-los
em cima de seus deslumbrantes Cavalos de Guerra lutando contra as forças do mal onde quer que esteja
em ação, e não raro seria possível vê-los tomando um partido em uma contenda ou até mesmo em uma
grande guerra, mas uma coisa é certa, eles sempre estarão lutando do lado da justiça.
A Ordem hoje faz um esforço heróico para tentar propagar ao máximo esses valores que se perdem
mais e mais no coração dos homens a cada dia que se finda. Em especial a Ordem vê com grande
tristeza a queda moral do reino de Azanti, e luta com todas as suas forças para reverter esse quadro
desolador. Aonde quer que se possa levar as máximas de honra, igualdade e justiça, certamente lá
estará um deles.

Peculiaridades
Os Paladinos cavalgam magníficos cavalos de guerra, dizem os melhores cavalos de guerra de toda
Tagmar, grandes, fortes, de patas largas e peludas, selvagens e ferozes ao extremo e de crina exuberante.

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Nascidos, criados e adestrados nas planícies e montanhas ao redor da Ordem, esses animais são uma
das marcas registradas da Ordem e são famosos coadjuvantes de várias histórias.
Os Paladinos envergam belíssimas couraças prateadas e grandes escudos com o símbolo da Ordem. A
placa peitoral da couraça também ostenta o imponente símbolo da Ordem. Um elmo fechado também
prateado encimado por uma “crina” feita de rabo de cavalo, pode ser visto em suas cabeças, dando aos
Paladinos um ar ainda mais imponente e nobre. Completando a indumentária, uma belíssima capa azul
anil anexa à couraça por presilhas prateadas. Alguns ainda utilizam-se de medalhões e toda sorte de
adereços religiosos ou bélicos.
Todas as armas são permitidas, mas por eles normalmente travarem combate a cavalo a predileção por
lanças, leves e pesadas, é um fato inquestionável. A grande arma da Ordem, porém são seus martelos
sagrados, chamados de Martelos de Luz. Esses martelos especialmente produzidos pela Ordem são
construídos de forma a torná-los Martelos de Guerra pesados. Eles são confeccionados especificamente
para seus donos, o que faz deles armas personalizadas, e de fato eles são maiores e mais pesados que os
Martelos de Guerra comuns, e ainda dotados de uma aerodinâmica especial que faz deles uma arma de
grande poder marcial (igual de uma Maça), podendo ainda ser usados com uma ou duas mãos. Os
Martelos de Luz dos Paladinos mais antigos são itens mágicos poderosíssimos, diz-se inclusive que a
utilização destes por alguém que não tenha adquirido o direito divino de fazê-lo pode levar a um
desfecho terrível.

Votos específicos
Reconhecerás a todos os Paladinos como verdadeiros irmãos: Talvez de todas as Ordens Militares, essa
seja a que mais profundamente alcançou o real significado das palavras igualdade e fraternidade. Seus
membros são irmãos na mais profunda acepção da palavra, ao ponto que um Paladino jamais deixaria
de ajudar um irmão e sem dúvida morreria para salvar-lhe a vida. Todo aquele que se levantar ou
atentar contra um Paladino deve esperar por uma retaliação maciça por parte de seus irmãos de Ordem.
Nunca revelarás os segredos de nossa Ordem: Esse voto é levado muito a sério dentre os Paladinos,
suas palavras não voltam atrás e eles certamente levariam seus juramentos até as últimas conseqüências.
E principalmente porque no momento que vive o mundo de Tagmar a revelação da localização da sede
seria um convite à destruição por parte de seus inimigos. A pesar de não se utilizarem de nenhum meio
místico para um bloqueio mais profundo desses segredos, sua inabalável força de vontade por si só
representa um ótimo adversário para aqueles que desejam extrair-lhes qualquer verdade sobre a Ordem.
Combaterás a todos aqueles que forem avessos aos preceitos da Ordem e lhes dará justo julgamento: Os
Paladinos são conhecidos por não serem simplesmente algozes ou executores de seus inimigos, um
traço forte desses devotos é a justiça de seus julgamentos. A completa ausência da mentira na mente
destes faz com que eles sejam dificilmente enganados o que os faz ótimos juízes. Esses também não raro
aceitam a rendição de seus antagonistas como suficiente, esse ato é admirável em um mundo onde
qualquer afronta resulta em morte, e é muito bem vista por todos aqueles que nutrem respeito à vida,
inclusive o clero de Selimom, que se felicita com a clemência destes paladinos.
Guardarás fervorosamente todos os princípios e preceitos de nossa Ordem: Para os Paladinos os
preceitos: honra, lealdade, verdade, justiça, igualdade e fraternidade; são à base de sustentação da
Ordem e de sua maneira de vida. Nada menos pode ser esperado desses devotos que guardarem
fervorosamente esses votos tão importantes para seu Deus.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Militares.

Líder em atividade
O atual líder da Ordem, assim como seu fundador, advém da augusta Casa de Supramati. Eduardi
Supramati III nasceu em Filanti e foi treinado desde muito jovem para assumir a Marca de seu pai.
Filho do Marquês Uther Supramati II de Filanti e de Linara Máximus de Verrogar, este sonhava desde
pequeno em ser um grande cavaleiro do reino, mas desentendimentos e descontentamentos com a

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corruptibilidade de algumas personalidades palacianas fizeram com que empreendesse uma viagem em
busca de respostas, que graças a Crizagom acabou em Azanti. Devoto fervoroso do Deus da Honra e da
Justiça, Eduardi é o líder absoluto da Ordem a mais de dez anos. Relatos sobre a sua personalidade o
descrevem como um homem nobre, nobre na mais completa acepção da palavra. Eduardi é um homem
de estatura avantajada e a pesar de ser um sacerdote seu treinamento marcial ao longo dos anos lhe
valeu uma robustez digna de qualquer grande guerreiro, hoje conta com pouco mais de 40 anos e guia a
Ordem com amor e extrema justiça. Recentemente Eduardi proferiu pessoalmente as cerimônias
fúnebres de seu inseparável amigo de aventuras Anar Rufiam (Furioso), seu alvo cavalo de Guerra que o
acompanhava desde muito jovem. Uma belíssima estátua de mármore branco que representa os dois
pode ser encontrada no pátio de manobras militares, a estátua aparentemente foi presente de um rei
Anão de nome Brilthor, velho amigo de Eduardi, que viveria na Cordilheira de Keiss. Eduardi mantém
contato com sua casa, a Marca de Supramati, por intermédio da troca de correspondências com sua
prima e grande amiga Rebeca Olenska.

Juramento
O juramento dos Paladinos é proferido numa capela da Ordem com a presença maciça de todos os
membros que não estejam em missão ou de guarda.
“Eu [nome completo] juro solenemente diante de todos os presentes:
Que defenderei até a morte qualquer pessoa ou objeto pertencente à Ordem ou sob a minha proteção;
Que trabalharei incansavelmente para que a honra e a justiça voltem a serem valores essenciais;
Que propagarei a fé em Crizagom e em nossos sagrados preceitos por onde quer que eu passe;
Que considerarei todos os Paladinos e os sinceros devotos de Crizagom como meus irmãos;
Que levarei a justiça a todos aqueles que se colocarem no caminho da Ordem ou de meu Deus;
Que realizarei de bom grado qualquer tarefa digna e justa que me for solicitada;
Que serei sempre um exemplo vivo de tudo aquilo que eu venha a pregar;
Que defenderei todos os injustiçados e os que não puderem se defender;
Que guardarei e zelarei sempre pela honra, lealdade e justiça;
Que guardarei fervorosamente todos os meus votos;
Que nunca revelarei os segredos da Ordem;
Que da minha boca só se ouvirá a verdade;
Que jamais faltarei com a palavra dada;
Que preferirei a morte à desonra;
Por meu Deus e por minha honra.”

Saudação
O cumprimento da Ordem é feito cerrando-se o punho da mão direita, levando-o de encontro ao peito
esquerdo e proferindo as palavras: “Honra e Força”.

Relíquias
Caso os boatos sejam verdade a Ordem possui vários itens mágicos de maior ou menor poder sob sua
custódia, em sua maioria de cura ou marciais. Porém em especial os boatos mais recentes contam sobre
um chifre de Unicórnio possuidor de inúmeros poderes miraculosos e que aparentemente foi trazido ao
poder da Ordem pelas mãos de Eduardi.

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Ordem de Cruine

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3.5 A Ordem Cruine – A Noite Eterna
— Caçaste-me como a um cão até este ponto! Será que não poderíamos ser racionais um pouco e
chegarmos, ambos, a um acordo?
A criatura apóia-se contra a parede, o corpo trespassado pela lança que arremessei. Ele não sangra, ele
não ofega. Mas implora; implora por sua semivida ímpia com palavras doces e elogiosas, tentando me
confundir. Mal as ouço, pois são para mim como mel misturado a veneno. Contudo, devo dar-lhe uma
última chance de redenção.
Salto de meu corcel e desembainho minha espada, aproximando-me de minha presa.
— Ouça-me! Posso torná-lo imortal! S-seria... seria formidável com suas habilidades de guerreiro
associadas à imortalidade! E...e riquezas! Posso torná-lo mais próspero que um conde...
— Cala-te.
Minha lâmina toca levemente sua garganta. Sinto-a clamando, faminta... sedenta por terminar com
aquele sacrilégio em forma humana.
— Ao menos me deixe ver o rosto de meu algoz!
— Não terá a oportunidade de fitar meus olhos, criatura, se é o que quer. Este é o rosto que terá de
mim, não como um homem — pequeno e mísero — mas como um Vingador Negro, mensageiro de
Cruine, a quem desprezaste e zombaste até hoje. Aquiete, pois, sua covardia e ouça as palavras da
redenção:
"— Foste criado pelos deuses como devia ser e nasceste de um ventre mortal para viver uma vida plena
de significado. Quando este período findasse, retornarias ao seio dos teus criadores, onde repousarias
por uma noite sem sonhos, para então, se te fosses permitido, retornardes ao mundo. Mas isso não te
foi o bastante. Decidiste prolongar a vigília, ferindo a ordem natural do ciclo trazendo vergonha e ira
sobre ti. Que triste ignorância, temer o ocaso. Vives em noite perpétua, como um parasita, um canibal.
Não foste criado para este propósito. Seus pais, seus avós e todos os seus ancestrais aguardam por ti nos
campos além da noite...."
A criatura exibe um sorriso de escárnio, pois já não tem mais motivos para esconder seu cinismo:
— Palavras de consolo dadas por um assassino... hipócrita! Se pudesse ver seu rosto, reconheceria o ódio
em seus olhos... quem matei? Um pai? Um irmão?
— Que Cruine tenha misericórdia de você, que nada entende. Todos são meus pais e meus irmãos...
mesmo você. Ódio? Não há ódio em meu ofício, os deuses não se sentem satisfeitos em ver no que se
tornou... predador de sua espécie. Fui enviado por Cruine para libertá-lo desta fome infindável,
insaciável... para livrá-lo destas noites insones e sem repouso, intermináveis. Eu o enviarei de volta para
os campos do Ceifador, que também é o Semeador. Ninguém finda realmente... se até os ventos
prosseguem sempre, porque será apenas você aquele que acabará?
— Bravatas! Bobagens de um culto de fanáticos, cujas idéias só não são mais restritas que suas breves
vidas!
Uma pena. Observo a criatura debater-se, lutando inutilmente para livrar-se da prisão de minha lança,
abençoada por nosso Grão-Mestre justamente para este fim. Há muito a fazer, e meu tempo é curto.
Posso repousar descansadamente minha consciência sabendo que cumpri meu dever, como Vingador e
Sacerdote.
— Pois rezarei para que tenha mais sabedoria na outra vida, onde encontrará maior severidade que a
minha.
Não houve tempo para mais súplicas ou ameaças — um silvo breve e a noite é subitamente despertada
pelo retinir do aço de minha espada contra a parede das ruínas que serviam de lar a esta alma
desencaminhada. O baque de sua cabeça batendo no solo é abafado pelo revoar dos corvos, que
procuram refúgio menos barulhento.

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Um rápido ritual... uma bênção breve e sigo meu caminho, deixando para traz uma fogueira que
acrescenta um pouco mais de luz a uma noite toda feita de escuridão...

História
Toda Criatura viva e consciente do Mundo Conhecido sabe que, quando morrer, encontrará Cruine, o
deus da morte. É este deus, até certo ponto temido e reverenciado, que ditará qual será o caminho que
a alma, que agora repousa em suas mãos, tomará. Ele a julgará e decidirá o seu destino. Parte das almas
simplesmente retorna. Os deuses colocam esses espíritos em novos corpos e fazem com que essa nova
vida criada aprenda com os erros passados e caminhe para sua evolução. Daí a máxima: “A morte é
apenas o começo”.
Para aqueles que compreendem esse desígnio divino, a vida passa a ter um gosto senão mais doce, pelo
menos muito menos amargo. Não que a compreensão dessa verdade faça a vida dessas pessoas
materialmente mais fácil, mas dá a elas uma certeza até certo ponto preciosa. A certeza de que a morte
não é o fim de tudo, muito pelo contrário, de que é apenas mais uma etapa da viagem da vida, mais um
caminho que precisa ser trilhado no eterno caminho da perfeição. Visto por esse ângulo, enfrentar a
vida torna-se uma tarefa infinitamente mais fácil. Para esses devotos, que olham a morte nos olhos,
aceitam o que vêem e fazem desse saber a linha mestra de suas vidas, a própria vida torna-se menos
assustadora, menos cruel, menos invencível. A simples consciência da sua não-mortalidade derruba a
maioria das barreiras instransponíveis da vida, tira dos seres a sua maior fragilidade e mostra-lhes a
maior verdade de todas: que eles são Imortais.
A imortalidade passa a ser uma realidade na vida desses seres “transcendentais”, passa a não ser vista
apenas como um dom ou uma dádiva, mas acima de tudo como um estado de espírito. A simples
certeza de o que você fez, faz, ou é, não será passageiro, dá a esses seres uma força sobrenatural e à vida
um colorido todo especial. Eles têm a certeza de que tudo quanto eles fizerem ecoará por toda
eternidade. Contrariando a primeira impressão que acredita que a vida vista pelos olhos da morte é
passada em preto e branco, eles descobrem que a vida além da morte não é mórbida, mas bela, com um
propósito definido.
Conta a lenda que em algum ponto no sopé da Cordilheira da Navalha morava uma milenar criatura,
que buscava paz e redenção para sua mente perturbada e para seus atos pouco louváveis através dos
séculos. Algumas poucas pessoas ainda se lembravam da presença soturna dessa criatura em seus contos
de terror nas aldeias mais próximas, mas mesmo os mais corajosos não se atreviam a ir até ela, pois se
dizia que ela possuía poderes terríveis capaz de transformar homens robustos em criaturas ignóbeis. Eles
se referiam a ela como a Bruxa, mas para aqueles que a conheceram no início de sua jornada ela tinha
um outro nome, Galana. Eis que um dia, esta, surpresa, percebe a presença de um viajante que passava
próximo a sua cabana como que a se dirigir em direção a ela. Era possivelmente um homem, pelo
aspecto físico, e aparentemente velho pelo curvar das costas, mas, em verdade, o que quer que fosse, o
ser estava completamente oculto por um longo manto negro e portava à mão, que fosse visível, apenas
um cajado. Era cair da noite e ela preparava-se para enxotar seu indesejável visitante quando uma voz
gutural fez tremer as montanhas em volta:
- Não ouse levantar um só dedo contra seu senhor, criatura abominável!
Trêmula e atônita ao ouvir aquela voz que pareceu ler seus pensamentos, só pode pensar que fora
finalmente encontrada por seus perseguidores.
- Não sou aquele que te persegue, ser! Mas aquele que te pode condenar ao sofrimento eterno!
Ainda mais atônita, a milenar criatura sentiu como que se o sangue lhe fugisse das veias, ao contato
gélido do hálito que emanava daquela voz metálica.
- Guarda-te to teu medo e salva-te do teu destino. Teus pedidos de redenção chegaram até mim. Se
desejares verdadeiramente que teus pecados sejam perdoados e que tua vida encontre paz, sobe essas
colinas e caminha até achares uma caverna sem fim. Lá encontrarás meu santuário de sombras. Edifica a
Mim uma Ordem de Vingadores negros como a noite que cobre essas montanhas, e deixa que eles
desencadeiem minha fúria contra aqueles que te cercavam em seu passado.

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- Apressa-te que dentro em breve derramarei sobre estes que me desafiam toda a minha ira, a começar
por esse pedaço de terra que chamas de lar. Apreça-te e salva-te.
Ao que se guarda nas histórias da Ordem, essas foram às últimas palavras da aparição, e o que a criatura
de nome Galana fez foi realmente apressar-se. Valendo-se de seus poderes ela encontrou o lugar
descrito e em menos de uma década ergueu a Cruine, seu deus e senhor, uma Ordem de Vingadores
Negros que ela chamou de a Ordem da Noite Eterna. Depois disso pouco se sabe dessa criatura,
rumores dão conta que cumprida sua tarefa ela tenha alcançado seu perdão e partido, enfim, para o
reino de seu Senhor.

Localização
A Ordem da Noite Eterna situa-se em algum ponto do alto da Cordilheira da Navalha ainda em
território de Luna. Não se sabe ao certo quantos caminhos levam até sua entrada nos dias de hoje, mas
como se não bastasse que ela se encontre em meio a uma enorme cadeia de montanhas a Ordem, na
verdade, se localiza dentro delas. A porta de entrada era, inicialmente, uma enorme caverna natural que
se perdia para dentro da rocha, que ao longo das décadas foi sendo escavada e ampliada pelas mãos de
seus membros. Hoje, a Ordem é um complexo labirinto de cavernas escavadas ao longo das rochas,
disposta da melhor forma a poder abrigar e suprir todas as necessidades dos devotos. Apesar de não
primar pela beleza, a grandiosidade da estrutura em pedra poderia surpreender, por dias a fio, um
mestre Anão. A Ordem é totalmente “subterrânea”, sendo seus amplos corredores de rocha e salas,
iluminadas apenas por archotes dispostos sistematicamente nas paredes. Daí, um traço marcante da
construção é uma ausência de luz solar. Esse fato leva a alguns devotos, que permanecem longos
períodos no interior da mesma, a desenvolverem uma tolerância parcial à escuridão e uma aparente e
discreta aversão ao sol e a qualquer manifestação muito forte de luz (embora isso em nada afete as
missões dos Vingadores Negros, que podem atuar normalmente à luz do dia). Desnecessário dizer que a
Peste não afetou em nada a Ordem ou a seus membros que, “curiosamente”, parecem imunes a esta.
Alem da sede que fica na Cordilheira da Navalha a Ordem mantêm congregações em outros lugares de
Tagmar. Estas respondem diretamente a sede da Ordem, mas gozam de relativa independência para a
maior parte das suas ações, como por exemplo, a ordenação de novos membros. No entanto não se
deve confundir as congregações da Ordem com os demais templos de Cruine. Estas congregações não
são muitas e se encontram normalmente apenas nas capitais mais importantes de Tagmar, com um
destaque especial para Saravossa, onde todas as ordens mantêm uma congregação.

Símbolo
A Ordem é representada pelo Sol sobreposto pela Lua (como em um eclipse solar), deixando
transparecer os raios do sol apenas nas bordas da Lua. Essa representação talvez simbolize, para esses
devotos, que exista um lugar ou um reino atemporal. A sobreposição dos astros pode indicar, também,
a ausência do dia e da noite, fazendo referência assim a um lugar onde não haja a passagem do tempo.
Muito provavelmente essa simbologia faça referência ao reino de Cruine, ou mesmo à própria realidade
da Ordem onde todos os dias são noites.

Objetivo
Ao contrário do que se vê nas vilas, cidades, ou em qualquer lugar onde haja um templo de Cruine, que
é a presença discreta de seus sacerdotes abençoando os recém nascidos, realizando ritos fúnebres e
encomendando almas a seu deus, como religiosos totalmente voltados ao espiritual, a Ordem da Noite
Eterna não é uma Ordem Clerical mas sim Militar. A Ordem foi criada com o objetivo da manutenção
do que eles chamam de “O ciclo”, que nada mais é que o ciclo de vida natural de qualquer criatura
existente em Tagmar: Nascer, crescer, envelhecer e morrer. Qualquer tentativa de romper esse ciclo é
visto como uma violação às Leis “naturais”, e uma afronta direta a Cruine, e isso não pode ser tolerado.
A existência de toda sorte de criaturas sobrenaturais como mortos-vivos: vampiros, zumbis, esqueletos,
necroarcanos, etc... E até mesmo Necromânticos, é vista como uma violação grave ao “Ciclo”. Por isso a
Ordem devota-se à destruição total dessas criaturas e todas as suas emanações “não-naturais”, antes que
essas possam abalar o equilíbrio natural que rege todas as coisas.

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Os Vingadores Negros
Esses seres, comumente recrutados dentre os sacerdotes mais dedicados à causa de Cruine, são
observados durante anos e, após serem aprovados, são apresentados à profunda doutrina da Ordem.
Aqueles que alcançam a grandeza dos ensinamentos ocultos são levados à sede da Ordem na
Cordilheira da Navalha em Luna e adicionados às suas fileiras. Uma vez lá, são submetidos a um
intenso treinamento físico e espiritual afim de que possam, sem tropeços, levar até o fim de suas vidas
naturais os elevados preceitos da Ordem. Aqueles que não compreendem totalmente as “verdades
absolutas” são enviados aos templos a fim de servirem como simples sacerdotes. Aqueles que realmente
não se enquadram são enviados novamente a própria vida que tinham antes de terem sido contatados
pela Ordem (com o cuidado de “esquecerem” tudo o que viram e aprenderam) até o fim de seus ciclos.
Mas para aqueles que abraçam a causa, a destruição de criaturas inomináveis será o tema de suas vidas.

Peculiaridades
Os Vingadores cavalgam inquietantes corcéis negros criados pela própria Ordem. Envergam couraças
parciais negras e grandes escudos também negros com o símbolo da Ordem em meio. A placa peitoral
da couraça também ostenta, em alto relevo, o símbolo da Ordem. Um elmo fechado, também negro,
em forma de crânio de caveira pode ser visto em suas cabeças dando aos vingadores um aspecto
assustador. Por cima da armadura os Vingadores vestem um grande manto negro a exemplo da aparição
que ordenou a criação da Ordem.
Os membros, ao saírem em missão, recebem medalhões mágicos com o símbolo de Cruine imantados
com magia, que permite ao usuário sentir a presença e a aproximação de criaturas malignas. Ao
retornarem, os medalhões são devolvidos à Ordem. Caso um Vingador caia em combate e um
medalhão seja perdido, a Ordem tentará reavê-lo de todas as formas possíveis e imagináveis.
Todas as armas são permitidas, mas existem duas que são obrigatórias de uso aos clérigos: As lanças
abençoadas com um milagre que imobiliza os mortos vivos quando em contato com os mesmos, as
chamadas “Grilhões de Cruine” e as espadas sagradas da Ordem, conhecidas como “Vingadoras
Sagradas”, que são, de longe, as mais populares dentre os membros. Feitas com metal extraído das
entranhas da própria cordilheira, adornadas com caveiras e inscritas com orações na língua dos mortos,
essas espadas são itens magníficos. Sem dúvida, as Vingadoras pertencentes aos membros mais antigos
são itens mágicos de grande poder, e, assim como os medalhões, essas são confeccionadas somente pela
Ordem e caso caiam em mãos externas a Ordem tentará reavê-las a todo custo. Todo tipo de adereço
militar ou Clerical pode ser utilizado.

Votos específicos
Reconhecerás a todos os Vingadores como irmãos em Cruine: Inúmeros fatos contribuem para a forte
manutenção desse voto, a mesma origem, os mesmo sofrimentos, a ausência de passado e de parentes,
o completo isolamento do mundo uma vez admitido dentre as fileiras da Ordem, etc... Provavelmente
por essas e outras razões a Ordem seja encarada verdadeiramente como uma grande família, visto que
seus irmãos de Ordem tornam-se seus únicos parentes. Os laços fraternais são um traço muito forte
dentre os Vingadores.
Nunca, jamais, sobre quaisquer circunstâncias, revelarás os segredos de nossa Ordem: Esse voto é
levado muito a sério dentre os Vingadores visto que sua manutenção é de vital importância para a
sobrevivência da Ordem e para que ela consiga alcançar seu objetivo máximo que é a manutenção do
ciclo. Por isso um Vingador nunca se deixará aprisionar, caso a batalha esteja perdida ele preferirá a
morte a deixar os segredos da Ordem caírem nas mãos do inimigo.
Não farás guerras ou combates que não sejam para a manutenção do ciclo: Os Vingadores foram
criados com um objetivo muito específico: eles são o braço armado de Cruine, não um exército de
mercenários, ou de um país específico. Os Vingadores jamais tomariam o partido de um reino qualquer
que seja ele, a não ser que o resultado da guerra tenha influência direta sobre o ciclo. Apesar de na
história não constar à ocorrência desse fato, não é impossível que ele aconteça e seria no mínimo
intrigante e assustador ver os Vingadores cavalgando sob a bandeira de um reino.

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Perseguirás e destruirás todos aqueles que afrontarem o ciclo: O cerne da existência da Ordem. Os
Vingadores Negros existem para extinguir, expurgar da existência todo e qualquer tipo de criatura que
tenta ludibriar aquilo cujo mundo seu deus governa, tudo o que fere o ciclo vital da criação dos deuses.
Essas criaturas podem ser desde simples mortos-vivos, até suas manifestações mais poderosas, como
vampiros, cronoespectros, necroarcanos, etc... Este voto também inclui todo aquele ser que adora e
serve aos seres infernais, inclusive os próprios demônios (os devotos de Cruine não suportam a idéia das
almas serem levadas pelos demônios e não por seu deus).
Viverás somente para a Ordem e seus princípios: Para qualquer um que adentre as fileiras dos
Vingadores a vida “mundana” está morta. Uma vez dentro dos corredores da Ordem o mundo externo
deixa de existir, todas as suas aspirações anteriores devem deixar de existir completamente, talvez essa
seja a mais xenófoba de todas, vivendo quase que em uma realidade à parte do resto do mundo.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Militares. Existe uma ordem hierárquica que é respeitada e seguida, com
toda a disciplina pelos acólitos. O líder da Ordem é conhecido como o “Grande Ceifador”.

Líder em atividade
O Líder dessa intrigante organização chama-se Eltrom Maltus. Eltrom é um homem humano de
aproximadamente 80 anos de idade. Estima-se que Maltus esteja à frente da Ordem há pelo menos 50
anos. Nada ou muito pouco se guarda registrado sobre seu passado, mas aparentemente Maltus foi
recrutado pela Ordem quando contava aproximadamente 15 anos de idade. Dono de cabelos já ralos e
a muito encanecidos, de corpo magro e pele macilenta, fala calma e carregada, porém com olhos vivos a
demonstrar toda a determinação de seu espírito em contraste direto com seu corpo cansado e corroído
pelo peso dos anos, Maltus ainda é o líder e o homem forte da organização. Se bem que rumores e
maquinações a cerca de sua sucessão já se arrastem por mais de duas décadas.

Juramento
O juramento da Ordem da Noite Eterna exige uma grande preparação. O candidato faz um forte jejum
de pão, água e vegetais, durante treze dias, preso em uma câmara de preparação específica para esse
processo; não podendo receber visita de ninguém nesse período, ficando em oração e meditação
constantes. Após essa etapa, o sacerdote passa por um ritual fúnebre denominado “renascer”,
encomendando a alma do candidato a Cruine, o candidato é purificado com a “água sagrada”, tem o
corpo todo inscrito na língua dos mortos, e vestido com uma mortalha cerimonial. Após muitos cânticos
e fórmulas cerimoniais o candidato é induzido a um êxtase catatônico (ingere-se uma bebida
especialmente preparada para a celebração) e é enterrado vivo em um caixão especial chamado de
“Portal”. O candidato permanece enterrado por três dias e nesse período ele deve encontrar-se com
Cruine e jurar-Lhe sua incondicional lealdade, bem como para com a Ordem e seus propósitos.
Aqueles que não sobrevivem a essa etapa tem seus corpos submetidos à cerimônia do “Pó a pó”, onde
são cremados e suas cinzas guardadas pela Ordem para fins ritualísticos. O conteúdo do juramento é
relevante e pessoal, variando de candidato para candidato; o mais importante é que este seja realmente
sincero, visto que será o próprio Cruine que irá julgar-lhe a pureza de sentimentos.

Saudação
O cumprimento da Ordem é feito abraçando-se de ambos os lados do corpo em demonstração de
fraternidade e proferindo as palavras: “Que Cruine nos guarde em nossa passagem”.

Relíquias
Os rumores dão conta de que existe, guardado nos subterrâneos da Ordem, um grande número de
objetos místicos voltados para detecção e destruição de criaturas sobrenaturais e demoníacas. Porém um
rumor, dentre tantos outros, parece se repetir com maior freqüência: esse dá conta da existência de uma
pedra misteriosa, de formato oval e de um negrume profundo que dizem permitir falar com o próprio
senhor dos mortos diretamente de seu reino.

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Ordem de Ganis

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3.6 A Ordem de Ganis - A Grande Mãe
“Para mim está claro, agora, o motivo pelo qual a Deusa o trouxe a mim.”
As feridas do jovem eram tratadas, e seu estado deplorável e desnutrido lentamente sanado. Ao resgatá-
lo das margens do rio, Lina tinha apenas dois objetivos em mente: poupar a vida do rapaz, e poupar
aquele remanso da enorme mancha rubra vertida de seus ferimentos. Quem ele era, e a que se devia o
ataque que obviamente sofrera? Tais questionamentos nem ao menos começaram a se formar na mente
da Sacerdotisa. — “ Proteger e nutrir. Ao menos por enquanto.”
Passados dois dias, o rapaz recobrou os sentidos, e o fez de maneira violenta: pulou da cama
improvisada, procurando em vão o cabo de sua espada, já a muito perdida.
Perdida, ou entregue as mãos de Ganis
O desespero cobriu sua face e, sem ao menos agradecer, ergueu-se e abandonou o acampamento de sua
salvadora. Lina sorriu, na certeza de que seus caminhos voltariam a se cruzar. Dada a vastidão das Águas
da Deusa, nada do que é reunido por elas é fruto do acaso. Sem tardar, duas luas após o primeiro
encontro, estava o rapaz com novos ferimentos aos pés da Sacerdotisa. Sendo estes mais sérios, Lina
resolveu recorrer às dádivas da Deusa para curá-lo, preservando assim sua vida. O rapaz despertara
rapidamente, a ponto de poder ver os efeitos do milagre realizado por Lina: seu cabelo flutuava como se
estivesse dentro d’água, suas mãos emitiam um pálido brilho azulado e, de todas as direções, se escutava
um som de água que misturava músicas de melodia impensável e os sons de uma cachoeira.
Essa visão mudou sua opinião quanto a Lina, fazendo-o agradecer. Lina sentiu, pois planejava que a
gratidão, caso fosse dada, viesse de maneira mais espontânea. Volere, que era um rapaz franzino,
começou então a tecer sua história.
“ — Perdoe a minha ignorância em nosso primeiro encontro. Ele foi, certamente, fruto de uma pressa
que ainda tenho, pois minha irmã é cativa de orcos. Eles se separaram, e estão em número de dois
agora na guarda, mas ainda assim não fui capaz de vencê-los. Já que me deste a oportunidade de me
manter vivo, tentarei pagar avisando que o resto do grupo, três fortes, está patrulhando esta área. E seu
acampamento não é discreto.”
Lina sorriu e disse: “ — Não temo orcos, portanto não tenho motivos para me esconder. Mas odeio
orcos, e portanto eles tem motivo para temer a mim. E, pelo que sinto, eles ignoram este fato.” A
Sacerdotisa olhou para uma das paredes de sua tenda, por onde trespassou, sem acertar alvo algum, a
lâmina de uma espada. Volere se lançou ao chão, amedrontado pelas vozes dos orcos e seus gritos
enlouquecidos.
Então, o som de um rio caudaloso surgiu em crescendo, e então se deu o silêncio. Volere baixou os
braços que cobriam seu rosto, e viu que orcos não estavam mais lá. Levou algum tempo para avistá-los
ao longe flutuando rio abaixo. Lina passava a mão em seus cabelos, acalentando o rapaz, mas sem
conseguir ocultar um leve franzir no cenho. Então disse:
“— Eu o protegi, o alimentei e, agora, mostrei que não deve temer os orcos, e sim a teu próprio medo.
No entanto, sua próxima lição é árdua – é onde devo deixá-lo ir. Sei que os orcos se escondem em uma
caverna, escondida atrás da cachoeira, na distância de meio dia daqui. Creio ser por isso que você,
desacordado, sempre foi trazido pelo rio até o remanso onde estamos. Você atentou bem quanto à
localização do esconderijo dos orcos, mas foi relapso no resto da paisagem que a Deusa nos deu para
apreciar. Observe tudo mais profundamente, e resgate sua irmã enquanto ainda é tempo.”
Contam os bardos que Volere mergulhou no lago formado abaixo da cachoeira. E, no ápice de seu
fôlego e de uma descida de 22 metros, encontrou uma espada única. Outras lendas de bardos versam
sobre o casamento de sua irmã, alguns anos depois, e das aventuras de Volere, O Guerreiro da Espada
Invisível, caçador de Orcos.

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História
Dizem os sábios que a vida veio dos Deuses. Dizem os mais sábios que ela veio através da água. Esta
condição sacra de meio condutor é defendida fervorosamente pelos seguidores de Ganis, a Deusa das
Águas, conhecida dentre eles como A Grande Mãe. A atribuição de progenitora da vida não é vista com
bons olhos pelos seguidores de Maira, a qual chamam também de A Grande Mãe, e obviamente
atribuem a origem do dom da vida. Fato é que, cada uma a seu modo, ambas as divindades estão
intimamente ligadas a vida como conhecemos. As Sacerdotisas incluem, como argumento em suas
pregações, o fato de todo feto nascer acolhido em água. Seja no mar, em ovos ou na barriga dos
mamíferos. Peixe, cão, homem, todos respiramos água antes de respirar o ar, todos dormimos abrigados
por seu acalento. Esta condição une a todos.
A história da Ordem remonta aos tempos antigos, quando ainda se vislumbrava o esplendor do antigo
reino da Moldânia. Neste extenso reino, havia aqueles que moravam mais a norte e que tinham um
contato maior e mais direto com as águas de Ganis. Muitos destes tiravam dessas águas a maior parte de
seu sustento e não raro o sentido de suas vidas simples, mas felizes. Esses pioneiros foram os primeiros
a conhecer, respeitar e amar a Deusa em todas as suas formas. Os escritos datam da fundação da
primeira vila ribeirinha ao norte do reino da Moldânia onde hoje é o reino de Conti, quando o primeiro
altar dedicado a Deusa das águas, Ganis, foi erguido. O fato é que a fé e a devoção desses humildes
pescadores foi crescendo junto com sua vila, artesanato, comércio. A medida que Ganis, como uma
mãe zelosa, assumia a vida dessas pessoas e os ensinava a viver, os dias pareciam menos penosos, o
corpo material mais satisfeito e as almas, mais iluminadas.
De fato devido ao inegável caráter Matriarcal dessa fé baseada na Deusa, as mulheres desde sempre
foram as encarregadas por manterem os altares, bem como a condução das oferendas, agradecimentos e
cultos. Normalmente todas as mulheres das vilas tinham esta incumbência, mas com o passar do tempo
a mulher mais velha de cada vila passou a ter o cargo de “Portadora da Vontade”, guardiã da fé da deusa
águas, o que lhe trazia prestígio e devoção. Com a evolução natural dos povos e das vilas que se
multiplicaram sempre amparadas e alimentadas pelas águas de Ganis, aquilo que antes era simples,
quase informal e restrito àquela pequena comunidade, tornou-se grande demais. A grandiosidade das
procissões, oferendas, festejos, forçaram com que a estrutura hierárquica da fé na figura de suas
sacerdotisas também se alterasse e crescesse. Com isso o grande templo de Ganis surgiu e a Sagrada
Ordem de Ganis foi fundada sob a tutela matriarcal da Portadora da Vontade e anciã Liturga, onde hoje
é a cidade de Muli, a capital do reino de Conti nos dias atuais. Assim, com as bênçãos de Ganis, a vila
virou cidade, o altar virou templo, o templo virou Ordem, a Portadora da Vontade da vila se tornou a
Sumo Sacerdotisa da Deusa.

Localização
A Ordem da grande Mãe é uma das poucas do mundo de Tagmar que possuem uma localização
pública e conhecida por todos: o coração do recém criado reino de Conti no extremo norte da capital.
O templo foi edificado bem de frente para o reino da Deusa, em cima de uma encosta que dá para o
mar. A estrutura do templo é, em si, um espetáculo à parte, e todos aqueles que se propuserem a
admirá-la terão a impressão de estar de frente para um pedaço do fundo do mar ali suspenso, em tons
de azul, bem diferente da arquitetura tradicional dos povos dessas terras. Para aqueles que tiveram a
dádiva de vislumbrar o salão principal de rituais, construído num recuo subterrâneo do Templo, há a
visão magnífica do teto em forma de clarabóia invertida, totalmente constituído por cristais brutos. Por
transparência destes cristais é possível ver a silhueta de várias criaturas marinhas. Aqueles mais antigos
dizem que os Sacerdotes que fizeram as plantas de construção foram inspirados diretamente pela
própria Deusa. Esta seria, caso verdadeira, uma explicação para a arquitetura exótica da mesma.
Apesar de o reino ainda ser pequeno e pouco desenvolvido, todas as vilas de Conti possuem ao menos
um altar em homenagem a Deusa Mãe do reino, onde a fé é passada no melhor estilo de Mãe para
filha. A influência da Ordem tem crescido bastante principalmente nos “outros” reinos que devem
agradecimentos a Ganis e que vivem de suas bênçãos. A Ordem está mais do que nunca em sua história
enviando sacerdotisas e até sacerdotes (fato recente para a Ordem) para os templos espalhados ao longo
do mundo, onde essas vão levar as bênçãos, o conforto, o aconchego e as palavras de Ganis.

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Esta localização pública da ordem teve conseqüência desastrosa durante a guerra contra seita, e a
belíssima construção foi praticamente destruída quando da invasão bandki na região. Foram necessários
quase 50 anos para que a lindíssima Catedral dos Mares fosse reconstruída, que coincidente mente
marca o fim do império da Moldania e o surgimento de Calco e Conti.
Muitas outras congregações já foram formadas em outros lugares de Tagmar. Estas respondem
diretamente a sede da Ordem, mas gozam de relativa independência para a maior parte das suas ações,
como por exemplo, a ordenação de novos membros. No entanto não se deve confundir as congregações
da Ordem com os demais templos de Ganis. As Ordens não são muitas e se encontram normalmente
apenas nas capitais dos reinos mais dependentes do comércio marítimo e em Saravossa, onde todas as
ordens mantêm uma congregação.

Símbolo
O símbolo da Ordem é o de uma magnífica figura feminina metade mulher metade peixe,
amamentando um recém nascido delicadamente acomodado em seus aconchegantes braços. O símbolo
da Ordem não poderia ser mais explícito quanto à forma que esses Sacerdotes enxergam sua Deusa,
pode vir a existir algumas pequenas variações desse símbolo dependendo da raça em questão que está
exercendo a fé na Deusa.

Objetivo
O objetivo da Ordem da grande Mãe não é diferente das outras, e dedicas-se a levar a palavra de Ganis
e espalhar a fé na Deusa ao longo das terras de Tagmar. O grande diferencial é como isso é feito, na
qual ela busca levar ajuda aos necessitados por prezarem a vida e a paz, e esta por levar o aconchego
materno aos filhos mais necessitados. Estes ideais se parecem um pouco com a Ordem de Selimom,
mas a guerra não é temida quando os domínios da Deusa são invadidos. A ordem tem se espalhado em
locais ligados ao mar, rios ou lagos, pois é muito mais fácil levar a palavra da Deusa ao coração dos
futuros fiéis e fixar um representante dessa fé para aqueles que vivem a Deusa em seu cotidiano. Mas
em verdade todos os povos não poderiam sobreviver sem este contato com as águas. Logo, a Deusa é
comumente lembrada nas grandes cidades em pequenas homenagens nos poços. Portanto o objetivo
maior da Ordem talvez seja conscientizar a todas as raças quanto ao dom da vida e a nutrição da mesma
concedida por Ganis, e que todos nós devemos a Ela nosso amor, agradecimento e devoção.
Relatos recentes chegados a sede da Ordem em Conti relatam a existência de uma possível Ordem de
Ganis fundada em Porto Livre, onde os Portinenses (inimigos declarados de Conti) adorariam uma
faceta um tanto mais violenta da Deusa das Águas, funcionando então como uma Ordem Militar
Náutica com objetivo de formar grandes combatentes marítimos. Aparentemente essa Ordem seria
controlada por homens e não por mulheres. Os boatos relatam que essa segunda Ordem seria
simbolizada por uma sereia de olhar furioso e dentes pontudos, segurando um tridente em uma das
mãos.

As Filhas e Filhos de Ganis


Devido à herança cultural do início do culto a Deusa, a Ordem de Ganis é composta quase que
totalmente de Sacerdotisas. No entanto, a presença masculina começou a se fazer significativamente
representativa nos últimos tempos. Este fato tem agradado a alguns, mas têm desagradado as mais
tradicionalistas. Esse “movimento” masculino acabou por alterar o nome original com que os devotos se
referiam de “As Filhas de Ganis” para “As Filhas e Filhos de Ganis”.
Etnicamente a Ordem também é composta em sua grande maioria por representantes do antigo reino
da Moldânia, mas esse fato também vem se alterando nos tempos atuais. Por natureza, as Filhas e Filhos
de Ganis normalmente são pessoas calmas, serenas e benevolentes sempre dispostas a ajudar e a se
compadecer do sofrimento alheio, mas que a exemplo da Deusa podem assumir uma postura
extremamente firme e até colérica dependendo da ocasião ou do que estiver em jogo. Todos os seus
pertences, de armas a vestimenta, tem como única restrição resistirem e se comportarem de maneira ágil
na água. Os mantos e jóias fabricados pela ordem são, por definição, peças feitas para respeitar essa
necessidade, mas dificilmente estes sacerdotes encontrarão armaduras que possam sê-lo. Quanto às

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armas, são preferidas as armas pequenas e leves como punhais, ou longas e retas, como lanças ou
tridentes.

Peculiaridades
As Filhas e Filhos de Ganis vestem belíssimas túnicas que variam de um azul bem claro (piscina) para as
mulheres, até um azul bem forte (marinho) para os homens. Esses se utilizam de belíssimas jóias e
adornos, normalmente de gosto mais delicado e discreto, ouro, pérolas e pedras preciosas
aparentemente são os preferidos, tal como anéis, brincos, colares e braceletes de braço e pulso. Todo
tipo de adorno proveniente das águas é sempre bem vindo, sendo os mais comuns corais, ouro fluvial,
pérolas e, para as facções mais masculinas, presas de animais marinhos. As mulheres trazem ao pescoço
belíssimos e delicadíssimos cordões de ouro com o pingente também de ouro do símbolo da Ordem,
mas a preferência entre os homens parece ser o bom e velho grande medalhão que varia de material de
acordo com as possibilidades do Sacerdote. Ao ingressar na Ordem as mulheres ganham o referido
cordão e os homens um medalhão de ferro. A hierarquia dentro da Ordem é feita através das tiaras
tanto para os homens quanto para as mulheres, e a Sumo Sacerdotisa (nunca houve um Sumo
Sacerdote) carrega sempre a mão um magnífico cetro símbolo de sua autoridade e responsabilidade
como a Portadora da Vontade na confraria.

Votos específicos
Amarás e respeitarás a Deusa das Águas e seu reino: Seu reino e suas criaturas são vistos como súditos
de sua Mãe. Não que eles não se alimentem de organismos aquáticos, muito pelo contrário. Há uma
preferência, pois entendem que estes são vindos diretamente da Deusa. Porém fazem uso destes com
extremo respeito e devoção. Uma pesca predatória, por exemplo, seria certamente considerada uma
grande afronta.
Acolherás todos aqueles que buscarem aconchego da Deusa: As Sacerdotisas de Ganis são conhecidas
por sua postura maternal de amparo e ajuda para os necessitados que buscam socorro e refúgio das
agruras da vida nos Templos da Deusa. No entanto, como ocorre com os organismos aquáticos, é
comum que a Deusa ensine aos acólitos o momento certo de aproveitar a liberdade e deter o poder
para explorar o mundo. Neste momento, os seguidores deixam a postura de filhos, nutridos e
protegidos, e assumem a postura de acolhedores e nutrientes.
Reconhecerás como teus inimigos todos aqueles que afrontarem a Deusa ou seu reino : Com a chegada
do reforço masculino, essa faceta da Ordem está ganhando mais e mais força. A pregação, que outrora
fora baseada exclusivamente nas virtudes da Deusa, agora se tornara mais ativa, principalmente depois
da criação por parte da ordem de várias galeras e navios de guerra. Aqueles mais inclinados a essa
realidade marcial justificam a iniciante guinada da atuação da Ordem pela ameaça vinda de Portis e
Porto Livre e a necessidade iminente de uma estratégia de defesa da Ordem.
Protegeis o que há de mais secreto e valioso, cedendo apenas àqueles merecedores: Tal como o mar,
misteriosos são as Filhas e Filhos de Ganis. Muitos são repositórios de conhecimentos praticamente
esquecidos e tesouros lendários. A comparação segue no que concerne a quem será merecedor destes
prêmios. Os acólitos desta ordem nunca retém estes conhecimentos para uso próprio, mas se colocam
no papel de guardiões e juízes, na seleção dos merecedores de tais fabulosos prêmios.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Clericais, mas caso os Sacerdotes comecem a ganhar muita força dentro da
Ordem pode haver um cisma de gênero e a criação de uma estrutura Militar por parte destes. Alguns
defendem que essa mudança radical talvez seja uma vontade da Deusa. A líder espiritual da ordem é
chamada de a “A Portadora da Vontade”, mas começam a surgir idéias sobre o futuro surgimento de
um “Almirante”.

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Líder em atividade
A atual Portadora da Vontade, por mais incrível que possa parecer, é uma belíssima jovem de pouco
mais de vinte anos de idade de nome Misandra, que subiu ao posto há apenas três anos. O caráter
inédito dessa nomeação aparentemente veio de uma intervenção da Deusa na figura de suas videntes,
para anunciar que seria Misandra que deveria suceder a recém falecida Portadora Ilsa. Misandra
sucedeu a uma tradicionalista ferrenha que regeu a Ordem por longos 40 anos. Os reais motivos da
Deusa por trás dessa intervenção permanecem um mistério, sendo alvo das mais acaloradas discussões
por parte das Sacerdotisas mais velhas. O certo é que os Sacerdotes vêem esta renovação com muito
bons olhos na tentativa de se conseguir apoio para mudar algumas tradições mais antigas.

Juramento
Uma peculiaridade da Ordem é não ter um juramento, mas sim um “rito de passagem”. Este rito é feito
através de uma belíssima cerimônia de “renascimento”. A pessoa candidata se apresenta na Ordem e
seu pedido é levado a Portadora da Vontade da Deusa, que solicita a intervenção das videntes. Estas,
por sua vez, consultam as águas do “Lago Sagrado da Deusa” onde estas verificam a resolução da Deusa
sobre o pedido de admissão. Caso esta seja negativa, o indivíduo rejeitado é informado e nunca mais
poderá solicitar admissão, mas caso seja positiva segue o encaminhamento à um período de purificação
de um ciclo lunar. Neste período ele deve-se isolar de todo o contato externo (em uma ilha, por
exemplo) e se manter em sintonia com a Deusa, alimentando-se apenas de frutas e gêneros marinhos.
Ao fim desse ciclo é checada novamente a vontade da Deusa por intermédio das videntes. Algumas
vezes pode ocorrer a necessidade de mais tempo no período de purificação, mas caso esteja tudo bem, é
marcada a data da cerimônia onde a pessoa aceita, é banhada em água perfumada, vestida
ritualisticamente com um imaculado robe branco e encaminhada ao “Lago Sagrado da Deusa”, onde a
Portadora da Vontade abençoa o membro recém chegado proferindo cânticos ritualísticos. Enquanto a
Portadora da Vontade prefere o ritual, as outras Sacerdotisas e Sacerdotes entoam cânticos sagrados e
queimam incensos aromáticos. Ao fim da cerimônia, a pessoa detém total compreensão do dom dado
pela Deusa através de seu nascimento, e é reconhecida como capaz de passar esta iluminação adiante.
Recebe então seu manto de Filha ou Filho da Deusa (agora azul), passando a ser reconhecida entre seus
pares.

Saudação
A saudação da Ordem é feita dando-se um beijo na testa de quem se deseja cumprimentar (saudação
muito utilizada pelas Sacerdotisas) e proferindo as palavras: “Que a Deusa te guarde em teu seio”.

Relíquias
As histórias a cerca dos itens mágicos possuídos pela Ordem são inúmeros e os mais variados possíveis,
principalmente no que tange a itens de curas e conforto espiritual. Porém contam as lendas que a
Ordem possui o conhecimento de magias muito antigas que permitem que seus beneficiários respirem
debaixo d´agua por horas, ou até mesmo dias. Há muitos boatos sobre imensos tesouros. Um destes
boatos conta sobre uma série de objetos mágicos que receberam o nome de Cajados dos Mares. O que
eles fazem exatamente ninguém sabe. Outro boato fala que a Ordem possui mapas muito antigos que
revela a existência e a localização de cidades submersas da época do cataclismo.

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Ordem de Lena

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3.7 A Ordem de Lena - Os Primorosos
Cariel contemplou-se novamente no brilhante Lago da Espuma. Seu reflexo tremulava conforme as
pequenas ondas, causadas pelo vento oeste que descia pelas montanhas, esbarravam na margem
fatigante do lago.
Seus pés, brancos e finos, sentiam a frieza da água tão cedo naquela manhã. O cascalho estava molhado,
frio e, o que era mais espantoso, macio.
Seus cabelos, bem-feitos cachos dourados, devolviam os raios do sol, permitindo uma áurea brilhante
em torno de sua cabeça. Seus olhos, pequenos pedaços do céu azul, enxergavam com carinho o
esplendor criado pelos deuses; O Jovem Cariel.
Esperou contente o término das ondas, para que mais uma vez fitasse a beleza de sua face. Cabelos
dourados, brilhantes, olhos azuis, simples, face afilada, macia, com nariz pequeno, suave, e lábios
vermelhos, finos, Cariel era uma jóia no mar de imperfeições.
Ainda com os pés no cascalho, mãos úmidas e um sorriso na face, Cariel escutou uma voz leve,
delicada, um sussurro de sol nascente.
— Venha Cariel.
Cariel a viu.
Seu cabelo era vermelho, espalhado pelos ombros, despencando pelas costas. Seus braços estendidos
permitiam o leve ondular do cetim lilás, tão transparente nas curvas desejadas. Uma tiara esbanjava
beleza logo acima dos brilhantes olhos verdes. Seus lábios eram finos, delicados, bochechas-rosadas
gracejavam a face; a jovem mulher aproximava-se magicamente.
Cariel sentiu-se quente. Fagulhas de amor explodiam em seu interior. Sua respiração perdia-se nos
ângulos dos desejos carnais. Seus pensamentos não mais lhe pertenciam. Seu coração batia
maquinalmente. Levantou-se; mas não reparou.
A jovem mulher derreteu, com encanto, à distância entre eles; seus lábios estavam a poucos centímetros
um do outro. Seu busto, volumoso e róseo, inflava a cada respiração, alimentando os pensamentos de
seu admirador.
O vento matutino, calmo e sereno, envolveu o casal na margem do lago. O sol coroava suas cabeças,
enquanto á água cobria os dedos dos pés ainda descalços.
Enquanto o calor do desejo combatia o frio da água, Cariel encostou suas mãos na cintura da mulher
que, na sua frente, esperava apenas pelo prazer.
Logo sentiu ásperas às mãos, como se mergulhadas em filetes de ferro. O leve cetim lilás criava vida
conforme o vento soprava, cobrindo Cariel com sua cor macia.
O frio da água em seus pés, como ondas lançadas contra paredões, quebraram o feitiço da ilusão.
Seus lábios romperam o silêncio mágico do encontro forçado. Suas palavras saíram rápidas e fortes,
vibrando o ar matutino do lugar.
— Em nome de Lena, rainha das rosas, afasta-te desse sacerdote, terrível demônio.
Uma áurea dourada, canalizada do sol brilhante, emanava do Jovem Cariel. O vento criava força ao
redor do casal, enquanto espalhava o granizo molhado. Espumas brancas, borbulhas da fúria do lago,
escondiam os pés do sacerdote de Lena, formado por uma bolha de ar.
Cariel olhava ávido o alvo de sua prece, que a retrocessos de passos distanciava de sua presença.
— Criatura nefasta, criadora de devassidão, afasta-te.
Assim fugia Tamira, uma Súcubus enviada para tentar o sacerdote de Lena, cuja beleza era seu dom
mais precioso.

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Cariel olhou, atento, os últimos passos de sua inimiga, antes que a dádiva de Lena a esconjurasse,
consumindo o cascalho do chão e deixando cinzas de seu extermínio.
Por algum tempo esperou; sua tranqüilidade retornando. As ondas do Lago da Espuma enfileiravam-se
na margem e Cariel, mais uma vez naquela manhã, contemplou sua beleza.
— Os demônios são facilmente destruídos pelo amor de Lena, pois eles acreditam que a luxúria é igual
ao amor e que a devassidão possa suplantar a paixão que emana do espírito da senhora das rosas.
Seus lábios sorriram.

História
“— Prazer, prazer e prazer, de que vale viver se eu não tiver prazer em viver? Essa pergunta ao menos
uma vez na vida já passou pela cabeça de cada pessoa vivente em Tagmar e certamente essa pergunta
paira sobre a cabeça de todos os seguidores da Deusa do amor, do prazer das coisas bem feitas e do
perfeccionismo. Uns tolos buscam coisas sem sentido como guerras, destruição, honra, comunhão com
a natureza… tolos… todos eles morrerão e todos esses valores se perderão com suas vidas sem sentido,
todas essas coisas secundárias só possuem real importância se eles puderem lhe proporcionar prazer, o
dinheiro é grande exemplo dessa verdade, de que adianta um cofre cheio de moedas de ouro se com
isso você não puder obter prazer. A perfeição é o caminho, o belo o que se pode querer de melhor e o
mínimo que se deve aceitar, e o prazer é o que realmente importa na vida. Seja o melhor, seja o mais
belo, só aceite o melhor, cerque-se somente do belo e goze a vida da melhor forma que lhe for possível,
a vida é curta (se você não for um Elfo) e deve ser vivida intensamente como uma perpétua festa onde
tudo é válido na busca do êxtase e do gozo maior.’
Conta a lenda que este era o discurso que Lena sempre repetia aos seus pares de panteão. Mas estes
sempre lhe pareciam entediantes e limitados, presos as suas visões e anseios. Quando em uma dessas
crises de completo enfado Lena resolveu caminhar novamente sobre a terra de Tagmar. Dizem que isto
aconteceu logo após a queda da seita. Neta época, Tagmar ainda tentava se recuperar do enorme
holocausto causado pela invasão demoníaca. Diante de tanto sofrimento Lena decidiu que era a hora de
todos se rejubilarem com os prazeres da vida. Para executar seu plano, ela se arriscou a passear como
uma mera mortal ao assumir o corpo de uma bela jovem que havia perdido sua alma para os demônios.
Partindo incógnita numa peregrinação ela buscou os talentos em potencial de que ela precisava para
começar seu intento. De fato ela buscou apenas o tipo de pessoas que sempre lhe interessaram: ricos,
artistas e beldades. Nesse tempo as orgias foram uma constante e o vinho correu solto nos encontros
desses “talentos”, a diversão era sempre a pauta de discussão, os excessos a ritualística das cerimônias e
o prazer a ordem do dia.
Esses foram dias de fogo para aqueles que tiveram a sorte, a honra e o prazer de participar desse seleto
círculo de expoentes. As festas e orgias foram a tônica da vida desses seres durante esse tempo de glória;
quando a própria Lena ensinava as mulheres como serem fogosas, lépidas e provocantes, e aos homens
como evocar toda a sua volúpia, virilidade e insaciabilidade; para aqueles que tiveram contato com a
Deusa ficou muito claro que Ela era o próprio prazer encarnado. Quando Lena achou que já havia
satisfeito sua vontade apenas disse para uma de suas melhores seguidoras: - Por hora eu me vou, mas de
continuidade a obra de Lena minha bela rosa, e leve o êxtase supremo a todos os primorosos. Somente
após sua partida que seus seguidores descobriram quem ele era de verdade.
Essas poucas palavras tiveram um grande impacto sobre a vida desses escolhidos ou “primorosos” como
a própria Lena se referiu a estes. A escolhida da Deusa para dar continuidade a sua “obra” foi uma
jovem mulher de apenas 22 anos de idade de nome Alina, dona de uma beleza divina e de um
magnetismo sexual capaz de desvirtuar um disciplinado celibatário. Alina face de anjo como era
conhecida devido ao seu rosto angelical, com boa parte dos ricos e poderosos da região nas “mãos” não
teve qualquer dificuldade de construir em um relativamente curto espaço de tempo talvez o mais
magnífico, idílico e exótico complexo religioso para um Deus de Tagmar, uma construção que ela
mesma chamou de “O Jardim das Rosas”.

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Localização
A sede da Ordem se localiza onde hoje é o espaço territorial conhecido como Porto Livre, por ironia
trágica ou justiça poética Porto Livre é realmente o local com a maior presença de degenerados de toda
Tagmar. Especificamente a Ordem se situa na área mais intocada e inexplorada de Porto Livre, a
Ordem foi erguida em meio a floresta e é um deslumbrante complexo de dimensões extremamente
grandes constituída de vários ambientes completamente diferentes, para aqueles poucos que tiverem a
sorte e a felicidade de serem aceitos dentro dos limites da Ordem se encontrarão em um verdadeiro
paraíso terrestre, construído para dar inveja aos padrões Élficos, só que com uma toque muito mais
apelativo e sensual. Algumas partes da Ordem se destacam por sua exuberante beleza tal como os
jardins temáticos, as casas de banho e relaxamento e as salas de reunião. Sua localização exata é
desconhecida e extremamente bem guardada por mercenários muito bem mandados e pagos para
“apagar” eventuais curiosos, cortesia dos líderes de Porto Livre visto que os Barões são assíduos
freqüentadores do Jardim das delícias de Lena, sendo inclusive seus maiores mantenedores e
benfeitores.

Símbolo
O símbolo da Ordem é uma rosa rubra. a rosa é um dos símbolos máximos da própria Lena e serve
para enfatizar bem a Ordem e também sua Deusa uma vez que se você for sábio o suficiente poderá se
fartar em seu perfume e se deleitar com o toque macio de suas pétalas. Mas se você não for assim tão
esperto... pode ter um encontro inesquecível e extremamente desagradável com os espinhos.

Objetivo
O objetivo da Ordem é bem simples, levar o êxtase a todos os primorosos, ou seja, todos os
merecedores, aqueles que merecem a revelação devem ser agraciados e introduzidos a essa nova
realidade, a vida é um prazer que deve ser vivido. De fato a Ordem possui pelo menos um grande
templo em cada capital dos reinos de Tagmar, a única exceção talvez seja Azanti, seja pelo caráter de
seus moradores, fervorosos seguidores de Crizagom, seja por Azanti não ser um reino, mas sim um
pequeno Ducado. Mas a verdade é que todo viajante ou até mesmo um morador local que deseje uma
boa noite ao lado uma ou várias companhias agradáveis certamente será sempre bem acolhido em um
dos templos da Ordem desde que possa pagar pelos prazeres a desfrutar.

Os Primorosos

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Os Sacerdotes de Lena assim como a grande maioria de seus fiéis são abastados, beldades ou exímios
artistas, bem como pessoas advindas desse meio, essas pessoas excêntricas e brilhantes que vivem em
sua própria realidade muitas vezes considerada chocante para o resto do mundo e que parecem estar
sempre décadas a frente do restante dos “pobres” mortais. O nome deixa bem claro que a preferência
da Deusa se dá apenas ao primor, a nata, ao que há de melhor. Não existe, portanto uma
homogeneidade étnica uma vez que um único país não seria capaz de produzir tantos sujeitos
primorosos. Em verdade seus Sacerdotes estão entre as criaturas mais belas e magníficas de toda
Tagmar, e não raro estes possuem um ou mais dotes artísticos seja para pintura, escultura, ourivesaria,
forjaria, canto, dança, música, poesia… ou seja, arte de uma forma geral e tudo aquilo que exige
perfeição. Para os Primorosos não existem falsos moralismos ou falsos preceitos, todas as formas de
prazer são válidas e bem vindas desde que levem ao prazer seja ele carnal ou espiritual. Os Primorosos
são verdadeiros cultistas do êxtase e da perfeição, em suas orgias cerimoniais o vinho é o Rei, o prazer é
a Lei e Lena é a Rainha.

Os Sedutores e Guardiões do prazer


Fora do santuário localizado em Porto Livre, os
Primorosos vagam pelo mundo em missões
sacerdotais. Eles são os “Sedutores” - membros
sedutores e manipuladores que têm a missão de
selecionar e atrair novos fiéis à Lena; e os
“Guardiões do prazer” - membros
responsáveis por defender a fé de Lena pelo
mundo, combatendo ameaças e
proporcionando proteção para que o povo
sofrido tenha chances de usufruir dos
prazeres da vida.

Peculiaridades
Todos os primorosos se vestem com os
modelos mais belos e extravagantes
possíveis, sendo que
principalmente as mulheres são
vistas quase sempre em roupas
provocantes seja pela
ausência dela ou pela
transparência da mesma.
O luxo e as jóias são uma
constante e estão sempre
presentes tanto para os
homens quanto para as
mulheres bem como a
maquiagem que é amplamente
utilizada tanto pelas mulheres
como também pelos homens, os
Sacerdotes (homens) de Lena são
facilmente identificáveis por
estarem sempre com pelo menos
sombras e batom. Todos os
iniciados são tatuados com o símbolo da
Ordem que também aparece em pingentes e jóias em geral, a onde
será a tatuagem e o tamanho da mesma fica totalmente a cargo do
iniciante, alguns fazem tatuagens discretas outros de corpo inteiro, nas
mulheres o pescoço e as partes íntimas são a preferência.
Aparentemente não há qualquer distinção hierárquica.

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Votos específicos
Goze a vida com intensidade e busque o prazer e a perfeição em todas as suas formas: Para os
Primorosos a vida é uma arte e os merecedores de a viverem na sua melhor forma são os verdadeiros
artistas. Para esses devotos a vida é para ser vivida, e vivida sempre com prazer.
Aceite apenas o que há de melhor, conviva apenas com o que há de melhor, isso te fará um dos
melhores: Os Primorosos são conhecidos por seu luxo e extravagância, em sua busca pelo prazer eles
não aceitam nada menos que o melhor, e o fato de você estar dentre os melhores certamente significará
que você é um dos melhores senão você não estaria onde está.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Clericais. A Ordem tem uma forma muito peculiar de gestão onde um
homem e uma mulher ocupam o cargo de Sumo Sacerdote e Sumo Sacerdotisa da Deusa, esses
comandam a Ordem em uníssono e são conhecidos como “Os amantes”.

Líder em atividade
A líder espiritual da Ordem das Rosas é uma belíssima ruiva de olhos azuis como o céu em um dia
ensolarado que dizem ter raízes em Filanti, dona de um corpo escultural dotado de curvas capazes de
perder um observador de tão sinuosas e provocantes. Com apenas 31 anos , Alexia é um esplendor em
forma de mulher, dizem que só o som da sua deliciosa voz é capaz de fazer um mortal se contorcer de
prazer. O líder espiritual da Ordem é o belo Jarek, de físico avantajado e definido, de 42 anos, tez
extremamente negra e de magníficos olhos verdes como uma pedra de jade. Jarek é um espécime tão
exótico quanto a sua própria Deusa. Jarek e Alexia estão a frente da Ordem a mais de 5 anos.

Juramento
Qualquer um desejoso de adentrar as fileiras da Ordem e que seja primoroso em algo, é levado a frente
dos Amantes que o levam a uma maratona de averiguação de potenciais, caso os amantes julguem que
ele é realmente primoroso e que possui inclinação para se tornar um digno representante da Deusa, é
marcada uma cerimônia de iniciação e boas vindas que consiste de uma fantástica orgia regada a muito,
muito vinho.

Saudação
O cumprimento da Ordem é feito dando-se um rápido beijo apenas com os lábios (selinho) e
proferindo as palavras: “Amor, êxtase e prazer”.

Relíquias
As especulações a cerca de itens mágicos por parte da Ordem são os mais variados possíveis, entre os
comentários mais comuns figuram toda sorte de utensílios que visam facilitar a vida desses devotos,
poções do amor, tônicos fortificantes, e até mesmo poções rejuvenescedoras. Caso a Ordem possua
realmente esse elixir da longa vida, ela detém um poder oculto muito grande uma vez que as raças que
vivem menos como os humanos dariam tudo para conseguir sua fórmula. A veracidade a cerca desses
itens é um mistério.

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Ordem de Maira

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3.8 A Ordem de Maira - Os Runcaim
Ainda estava escuro quando me levantei... O meu corpo estava dolorido pela sagaz luta do dia passado.
O sol permanecia escondido por entre as Montanhas Xarar e o frio recuava enquanto eu ascendia uma
tocha. Senti novamente a dor da minha mão esquerda, enfaixada com tecidos e avermelhada com meu
sangue. Lembrei do combate contra os orcos comandados por dois necromânticos. Nada mais do que
jovens irmãos ambiciosos... Sorri diante da dor!
Não foi uma luta difícil, e sinto que não será como os trovadores, cantores e poetas viajantes, irão dizer
dessa luta. Haverá louvores, júbilos e mais inimigos do que a verdade permitiria dizer. Na verdade, foi
fácil! Os irmãos necromânticos, jovens e sem talento, eram mais chatos do que perigosos, e os orcos
nada mais do que lixo.
Ainda me lembro como os surpreendi, emboscando-os no seu próprio acampamento. Mas só depois
que um dos orcos, talvez o único que representasse perigo verdadeiro, atingiu minha mão esquerda com
sua foice, eu usei o anel. E ele funcionou! Cobrindo meu corpo com bronze puro. Unindo carne a
malha, refletindo a luz bruxuleante do acampamento. E a luta ficou mais fácil ainda!
Mas isso tudo agora é passado...
Segurei firme e senti o peso reconfortante de minha espada. A dor na mão esquerda aumentou quando
terminei de colocar a cota de malha. Peguei aquele intrigante pergaminho debaixo do travesseiro e reli
seu texto:
“Grande Senhor, Âmiem está em luto pela morte de Ugrim, Fúria da Floresta, rogamos para que este
pergaminho chegue a suas mãos e que atenda ao nosso chamado, retornando as suas raízes e
consagrando-se Mestre da Ordem.”
Cordialmente, Conselho de Runcaim.
Senti o cheiro de fumaça e o fogo da tocha aumentou quando coloquei o pergaminho em seu topo. E
segui viagem rumo à Floresta de Brindel.
Duas semanas levantando poeira da estrada, dormindo ao pôr do sol e levantando antes que ele
nascesse. Frio e medo me acompanhavam, aumentando ainda mais a astúcia de minha imaginação.
As verdes copas das árvores de Brindel foram as primeiras sentinelas que me viram. Eu as saudei!
Minha entrada na cidade foi ocultada pelos eventos comuns e não me esforcei para que fosse o
contrário. Mas os Runcaim, guiados de preparação e sabedoria, souberam me recepcionar. Foram ditas
palavras, feitos juramentos, foram servidos vinho e pão, e logo ficou decidido que somente no outro dia,
nas sombras e charnecas da Floresta de Lauris, eu seria testado. De modo que tive um dia de folga.
Aproveitei para andar... Visitei velhos amigos, revi alguns parentes, disse os nomes dos que não mais
viviam e aprendi os dos jovens que corriam soltos ao redor da velha casa na qual fui criado. Foi nesse
dia que fiz meu primeiro vaso, sentindo a argila entre meus dedos e vibrando o pé na roda de giro. Não
valia nem uma caneca de boa cerveja!
No dia seguinte, os raios do sol iluminavam a procissão silenciosa, vigiada pelos olhares atentos dos
animais silvestres. Papa-capins e codornas sobrevoavam livres no céu azul, enquanto lebres festejavam-se
nos arbustos de amoras. Fechei a mão esquerda já curada do ferimento.
Já na clareira senti amor e orgulho, e um círculo de homens e mulheres encapuzados entoou um cântico
celestial, invocando a benção de Maira nesse dia benigno. Uma grande e majestosa árvore, com caule e
folhas douradas, emanava simpatia aos presentes, sendo guardada por homens montados em
imponentes grifos, todos resplandecentes em sua glória já conquistada.
Fiquei admirando-os! Eles andavam calmamente, como se o tempo fosse irrelevante. Seus mantos
ornamentados cobriam de verde a terra macia. No alto, o orvalho parecia cristal iluminando toda a
clareira.
Juntos, Senhor dos Runcaim e Senhora da Ordem, me entregaram a famosa Corneta Prateada.

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— Muito obrigado Mulinarti e Enora — ouvindo minha voz percebi o tremor em seu sentido.
Meus lábios grossos tremeram no contato frio da corneta, e meus pulmões sopraram o ar dentro deles,
e preencheram o local com um revigorante trovejar.
Rápido... Rápido e brilhante, rapidamente eu vi a silhueta de um ser se aproximando vindo do sul.
Suas asas eram grandes e douradas, seu bico era longo e afiado, suas patas eram verdadeiras armas
letais, e sua sabedoria era medida pelos seus grandes olhos expressivos.
Calmamente me aproximei daquele magnífico grifo que seria meu parceiro, minha respiração estava
inaudível pelo cântico dos membros. Juntos, como se fosse por encanto, curvamo-nos um ao outro,
olhos fixos.
Tomei as rédeas e montei em sua sela, senti todo o calor do seu corpo e a aspereza de suas penas. Seus
músculos se contraíram e logo estávamos voando, senti o vento passar fino em meu rosto.
Eu estava muito feliz!
E o meu destino finalmente se revelou...

História
A Ordem de Maira surgiu no ano de 685. Um dia enquanto cavalgava pelas florestas de seu reino, o
nobre rei élfico Gáltilo foi tocado por uma suave voz vinda da Floresta de Lauris. Por horas cavalgou
dentro da Floresta seguindo aquele clamor... Até que descobriu de onde saía aquele som encantador...
Alcançou a Grande Árvore. A sua frente se encontrava uma das grandes árvores douradas, sagradas em
toda Tagmar, consideradas como a “mãe” de todas as árvores. De suas folhas e tronco saiam raios de
luz como o nascer do sol.
Os grifos que a sobrevoavam, desceram e se ajoelharam quando o rei se colocou diante dela. Os
grandes Protetores da árvore se colocavam a serviço daquele que foi escolhido pela própria deusa.
Grandes grifos se encontravam a sua volta venerando e protegendo a árvore dourada.
Uma voz suave, porém imponente, o convocava para proteger as belezas da terra e honrar seu povo. Ao
retornar a sua cidade, Gáltilo por muito tempo teve sob seu corpo uma leve aura dourada, e de seus
olhos somente saía uma expressão de bondade.
Nos anos que se seguiram não somente elfos, mas outras raças foram convocadas para ingressar na
Ordem de Maira, apesar de a grande maioria ser composta de elfos.
Os anos da Ordem de Maira foram difíceis. A luta contra a Seita, a perda de seu líder, e a custa de
muitas vidas de valorosos companheiros amargaram os corações de seus membros. Contudo, foi no ano
de 1402 D.C., que a Ordem obteve sua maior vitória.
Aprisionando o príncipe demônio Morrigalti um grande golpe foi desferido contra o inimigo. A Ordem
então teve que decidir o que deveria ser feito. Incapaz de destruir tal criatura foi necessário construir
uma prisão que a guardasse para todo o sempre ou até que se descobrisse uma forma de se desfazer
daquele terrível prisioneiro.
Foi criado então um grupo composto por valorosos soldados que dedicariam suas vidas a proteger e
guardar este “prêmio”. Foram escolhidos para esta tarefa os membros das famílias de Âmiem mais fiéis
à Ordem. Seria passada através dos anos a função de pai para filho até que seu último serviço a Ordem
fosse a Última Jornada.
Por quatro anos foi escavada na montanha a prisão. Auxiliados pelos mestres anões de Acordo, a prisão
foi construída mais profundamente possível e protegida contra todo o tipo de magia. Das mil e
quinhentas famílias que foram selecionadas para a função e que receberam o título de Protetores de
Maira, restam pouco mais de oitocentas. A cada ano o número de primogênitos vem diminuindo pelos
rigores da função que levam muito cedo a vida de jovens Protetores (estes não morrem, mas pela
influência demoníaca ficam impossibilitados de ingressarem em Âmiem novamente).

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Aos demais Mestres da Ordem de Maira, fica a incumbência de lutar por sua deusa, proteger suas
obras, patrulhar as fronteiras de Âmiem, e levar a justiça e a paz para todos os povos e servos da deusa
mãe.
Após a guerra contra a Seita, grandes grupos, mestres e, ainda, outros que ainda buscam formar seu
próprio grupo partem de Âmiem com a função de fundar novos templos pelo continente de Tagmar, e
levar a beleza da deusa a todos os cantos tocados pela Seita.

Localização
Não existe mistério acerca da localização da Ordem. Todos sabem que ela se encontra em Âmiem, na
capital deste reino, que se encontra na Floresta de Brindel.
A única localização secreta da Ordem por motivos de segurança é a prisão de Morrigalti. Escavada na
Xarar sua entrada fica na base da montanha e é guarnecida pelos Protetores, por ilusões e toda a sorte
de camuflagens. Uma descida com extensão de dois mil metros, com passagem por três antecâmaras. A
câmara principal de 180 metros quadrados se encontra a 720 metros abaixo do nível da terra. No centro
existe o cristal que aprisiona o demônio. Runas de proteção e aprisionamento se espalham por todo o
ambiente. Nove plataformas são destinadas aos carcereiros, que se revessam em turnos de seis horas.
A influência demoníaca se faz sentir durante toda a região. A floresta de Edelnur deixou de ser um lugar
seguro e agradável. Uma aura de medo e opressão afastou as belas criaturas da floresta e atrai seres de
intenções maléficas, em especial, magos necromânticos e orcos.

Símbolo
São dois os símbolos da Ordem. Para os Mestres de Maira é a cabeça do grifo exposta em seu escudo e
estandarte. Aos Protetores de Maira e os demais Mestres da Ordem o desenho da árvore dourada deve
aparecer ou na armadura, ou no escudo ou no cabo da espada.

Objetivo
O Objetivo da Ordem é levar a palavra de Maira para os povos e a proteção das belezas do mundo de
Tagmar. Ao longo de sua existência duas responsabilidades foram adotadas pela Ordem. A primeira e
mais importante é o aprisionamento e, se possível, a destruição dos príncipes demoníacos, em especial
Morrigalti. A segunda responsabilidade é combater a seita em todas as suas formas.

Senhor dos Runcaim


Título dado ao líder do Conselho dos Runcaim e segundo líder da Ordem. Cabe a ele presidir o
Conselho dos Runcaim e a convocação destes a qualquer momento.
Mais do que o líder da Ordem, cabe-lhe a difícil tarefa de administrá-la e a seus Mestres. Usa sempre
um grande colar contendo um triângulo feita em ouro e com três diamantes em cada ponta,
representando as três faces de Maira.

Runcaim
É o mais alto posto da Ordem dos Mestres de Maira. A vinte grandes Mestres de Maira é dado o
privilégio de usar uma das vinte cornetas prateadas da Ordem. Com tais cornetas podem convocar os
grandes grifos que servem de montaria e carregam com eles armas da Ordem feitas com o mais nobre
metal.
Estes Mestres andantes estão sempre vagando pelo mundo de Tagmar para levar a ordem e a paz aos
reinos mais distantes. Auxiliam todos aqueles que necessitam de sua ajuda.
Sua armadura é prateada e bem polida, usam espadas afiadas, capas verdes e arcos longos. Sobre a sua
armadura usam o grande manto da Ordem de Maira com o seu símbolo e de cor verde escura. Têm em
sua posse sempre um animal de estimação que são seus companheiros de viajem, uma corneta prateada
e um anel de Josar.

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Mestres da Ordem de Maira
É o segundo maior posto da Ordem. A eles fica d
estinado o treinamento de cinco aprendizes e a
escolha de um Pupilo. Os Mestres mais
fortes e destemidos recebem o direito de
usar o anel de Josar. Como já dito, é um
anel mágico criado pelo nobre alquimista
Josar exilado das terras distantes do reino
de Runa. Têm, ainda, um animal de estimação que fica aos
seus cuidados.
São mais encontrados no reino de Âmiem. Nestes tempos,
muitos vagam por terras distantes levando a justiça e a paz aos
locais mais distantes de Tagmar. Partem sempre em grupos de 5 a 7 indivíduos.
Após a guerra contra a Seita muitos partiram para regiões mais distantes com a missão de fundar novos
templos e angariar novos integrantes para a Ordem. Muitos mestres, após anos cumprindo o seu
juramento e servindo a Ordem, por algum tempo, passam suas vidas sem ter a obrigação de auxiliar nos
ensinamentos de novatos, não tendo por isso, pupilo ou aprendizes.
Caberá ao mestre escolher o melhor momento para se fazer essa escolha. Contudo, em algum momento
deve responder ao chamado da Ordem e formar o seu próprio grupo. Alguns Mestres optam por
formar grupos menores, ou mesmo formá-los somente após algumas aventuras por Tagmar, quando
finalmente se sentem maduros o suficiente para assumir tal responsabilidade.
Por fim, sua armadura é prateada e o símbolo da árvore dourada é mantido na capa ou no peito da
armadura.

Pupilo
Encontram-se logo abaixo dos Mestres da Ordem. São os sucessores de seus mestres e estão sempre
junto a eles. Nunca um mestre será visto sem o seu Pupilo. Mais do que um auxiliar, são companheiros
de batalha e irmãos da Ordem. O mestre tem a obrigação de proteger e ensinar aquele que um dia
honrará a Ordem e a ele próprio.
Quando ascender na hierarquia da Ordem, deve buscar entre os aprendizes do seu próprio mestre
aquele que será o seu Pupilo. Assim como buscar, entre os novos membros, aqueles que serão seus
aprendizes.
Deve escolher um animal de estimação que será seu companheiro por toda a vida.

Aprendiz
São os mais baixos membros da hierarquia. São simples estudantes da Ordem com conhecimentos
básicos. Estes são “adotados” pelos mestres que se tornam responsáveis pela sua educação e pela sua
ascensão na Ordem. Nem todos os aprendizes se tornarão Pupilos. Somente é possível ascender se o
atual pupilo se transformar em Mestre. Para conseguir ser aceito por um Mestre de Maira, faz-se
necessário não somente capacidade e coragem, mas, sobretudo persistência. Tais membros vivem a
serviço da Ordem e à medida que ganham importância e renome passam a ser procurados por
membros mais experientes que lhes oferecem seus ensinamentos.
Cabendo, assim, não somente ao Mestre oferecer seus ensinamentos, mas também ao aprendiz aceitar o
seu convite.
Possuem armaduras simples e usam somente espada e escudo com o símbolo da Ordem.

Protetores de Maira
Um cargo vitalício e hereditário. O primogênito de cada família devota de Maira foi escolhido muitos
anos atrás para guardar a prisão do demônio Morrigalti. Um cargo muito importante e respeitado por

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toda a Ordem. São homens e mulheres que se sacrificam para manter aprisionado e seguro um dos
responsáveis pela destruição de sua floresta, e pela tentativa de escravizar os povos livre de Tagmar.
Dotados de escudos com o símbolo da árvore dourada, um grande martelo de guerra e arcos são os
grandes carcereiros e defensores da montanha Maira. A influência demoníaca leva alguns guerreiros a
serem dispensados muito cedo de suas atribuições principais, ficando encarregados de patrulhar a
montanha e a floresta de Edelnur, caçando criaturas malignas. Esses nobres guerreiros com o tempo de
exposição da aura demoníaca se tornam muito violentos e cruéis em combate, sendo então direcionados
à luta contra orcos e os magos necromânticos atraídos à região pela aura malígna de Morrigalti
Muitos vagam para terras distantes buscando cumprir os desígnios de Maira. No entanto, não acredite
que tenham se tornado irracionais ou malignos, são guerreiros mais velhos e experientes, que
conheceram o mal de perto e são atraídos até ele.
Poucos são aqueles que acabam por integrar grupos de aventureiros, contudo buscam sempre auxiliar
aqueles que necessitam, formando até alianças quando necessário. Entretanto, raro são os Protetores de
Maira que se unem e partem juntos pelo mundo combatendo o mal.

Alquimistas
Servem a Ordem com a produção de objetos mágicos que auxiliam no aprisionamento de Morrigalti, e
na destruição dos demônios e membros da Seita. Estes não são sacerdotes, mas magos que se
associaram a Ordem para ajudar a combater os demônios e todo o mal que assola Tagmar.

Peculiaridades
Os Runcaim quando morrem têm seu corpo recolhido pelos Grifos que lhes “serviram” em batalha.
São trazidos junto como a sua corneta prateada à Floresta de Laudis, onde seu corpo é cremado.
Os grifos da Ordem são treinados desde novos e obedecem ao chamado de uma das vinte réplicas das
cornetas prateadas usadas pelos treinadores. Quando um Mestre se torna um Runcaim, ele é levado até
a Floresta de Lauris e apresentado à sua montaria. Durante alguns meses irão viver juntos e,
principalmente, atuarão juntos no árduo treinamento do jovem Runcaim, na arte de montar o seu grifo.
Os anéis de Josar são presentes ofertados pelo próprio Josar, o grande alquimista da Ordem. São
usados somente pelos seus donos e após a sua morte, tornam-se simples anéis. O anel tem a capacidade
de dar ao seu portador a resistência de uma estátua de bronze, permitindo-lhe resistir a ferimentos, calor
e não necessitando respirar. O tempo de duração é de no máximo vinte e quatro horas, porém existe
um efeito colateral. O uso indiscriminado do anel pode levar o portador a se tornar muito violento e,
posteriormente, até à loucura. Contudo, esses efeitos não estão totalmente comprovados, e o próprio
Josar não fala abertamente sobre o assunto.
A Ordem conta com vários alquimistas, entre eles, um jovem que há alguns anos adentrou nos limites
das florestas de Âmiem em busca de asilo. Logo se mostrou de grande ajuda e seus anéis foram usados
por poucos e nobres Mestres. Histórias sobre este jovem alquimista humano que aparentemente não
envelhece são motivos de especulação e curiosidade por toda a região.
Última Jornada é o nome dado à despedida do companheiro Protetor de Maira que finalmente é
dispensado de suas funções de carcereiro. Neste caso, já dominado pela influência maligna de
Morrigalti, é enviado à floresta de Edelnur, para lutar contra o mal que nela reside.
Muitos Protetores de Maira que patrulham a região testemunham alguns antigos amigos andando ainda
pela floresta como a alma tomada pela selvageria. Relatos de massacres a orcos e atos cruéis contra
inimigos vencidos são muito comuns. Muitos não são capazes de reconhecer seus pais que
transformados pela irá e maldade são tão perigosos quanto os que combatem. Contudo, isso não é o
final de todos os que lutam contra o mal externo e interno. Existem aqueles que, mesmo tocados pelo
mal, ainda mantém sua sanidade e utilizam esta maldição para caçar o mal que existe no mundo de
Tagmar. Apesar de tudo ainda parecem ter em seu interior um respeito muito grande por Maira e suas
obras, zelando com grande cuidado pela floresta e a vida que há nela.

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Votos Espesíficos
Defesa da vida: Todo o servo de Maira deve prezar a vida de todos os seres que habitam Tagmar.
Somente quando estritamente necessário, utilizam o uso da força para sua defesa e de outros.
Luta contra o mal: A Seita deve ser combatida sempre, e a todos os seus membros somente a morte
deve ser reservada. Jamais deixar que membros e demônios andem e maculem a terra de Tagmar e
desonrem a beleza de Maira.
Silêncio: Jamais revelar a existência de Morrigalti ou sua localização (no caso dos Protetores de Maira).

Estrutura
A estrutura da Ordem de Maira se difere das demais ordens de Tagmar e pode ser vista no diagrama
abaixo.

Líderes em atividade
O líder da Ordem atual é Enora, a regente de Âmiem. Mais do que um cargo simbólico é também a
manifestação da integralidade dos princípios que norteiam Âmiem e a própria Ordem, aproximando
seus membros. Têm a incumbência de presidir as reuniões principais e de maior importância.
Foi somente com a morte do Rei Gáltico I, que Enora assumiu o antigo posto de seu marido ao receber
pelas mãos do O Mais Sábio o Cetro Dourado de Maira. Com sua ascensão a líder da Ordem, o cargo
de Guardião da Ponte foi entregue, conforme a tradição, a seu descendente, o Príncipe Gáltico II.
O cargo de Senhor dos Runcaim é ocupado por Mulinarti Grindaim, e Marcos Callisto é responsável
pelo controle dos Protetores de Maira e dos Alquimistas, reporta-se somente a Mulinarti.

Juramento
O juramento é feito em etapas. Quando ainda é um simples aprendiz e antes de ingressar entre os
Pupilos deve jurar perante o líder dos Runcaim e na presença de pelo menos um dos vinte existentes:
“Juro proteger e zelar pela Deusa Maira e suas obras”.
Quando alcançam o grau de Runcaim é saudado pelos seus pares e levado até a Floresta de Lauris. Lá
sob a Grande Árvore Dourada e na presença do líder da Ordem, do Senhor dos Runcaim, e dos seus
companheiros Runcaim tem o privilégio de tocar pela primeira vez a corneta prateada.
O grifo que será sua montaria por todo a sua vida aparece e ambos são apresentados. Uma aliança de
força e lealdade é formada naquele dia. Mestre e montaria zelarão um pelo outro e, quando o mestre
morrer, sua montaria o trará para ser cremado. O juramento é:
“Juro jamais permitir o mal e honrar a deusa até o fim dos meus dias”.

Saudação
A saudação comum da Ordem é o aperto de mão entre seus membros e o dizer “Salve irmão da
Ordem de Maira”.

Relíquias
A Ordem conta com uma das grandes relíquias de Tagmar. A primeira delas é um dos três últimos
exemplares das árvores sagradas de Maira, conhecidas como as Árvores da Vida. O exemplar que se
encontra sob seus cuidados está na floresta de Edelnur. Suas sementes vêm sendo usadas para replantar
parte da floresta destruída pelos ataques da seita. Há quem diga a Ordem possui uma fórmula especial
criada com as sementes e raízes da arvore, pela qual é possível se criar um elixir da vida eterna, e esta
seria a explicação para excessiva longevidade de Enora e de seu filho Galtico.
Outra grande relíquia é o Cetro Dourado de Maira, cujos fabulosos poderes são um dos segredos mais
bem guardados de Tagmar.

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Ordem de Palier

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3.9 A Ordem de Palier - A Luz
Uma pequena chama branca tremeluzia na palma de Grindór, lançando sombras inquietas em todas as
direções. A elfa Arallim caminhava a seu lado, serena, a roçar a parede fria do corredor com as pontas
dos dedos – uma prece velada brincando em seus lábios. Logo atrás trotava o velho Sagius,
nervosamente abraçado à sua mochila repleta de livros, notas e documentos. Haviam superado
inúmeros percalços até aquele ponto, mas somente através de um bom e coordenado trabalho em
equipe: Grindór, o mago, obtivera o mapa; Sagius o traduzira, interpretando suas instruções; e Arallim
rezara pela segurança do grupo. Agora, o fim da jornada prometia estar próximo.
Arallim, na realidade, fizera bem mais do que rezar – reconhecia e sondava intimamente o mago,
enquanto os caminhos subterrâneos se desdobravam infinitamente diante do trio. Fora ela quem
praticamente trouxera Sagius dos mortos após o infeliz episódio com o lagarto do gelo. Fora ela quem
decifrara as runas que permitiram acesso ao labirinto; e apenas Arallim parecia capaz de apontar com
precisão a presença de armadilhas mágicas nesse lugar onde os princípios arcanos pareciam subvertidos
por alguma força desconhecida. “Bravo, minha utilíssima sacerdotisa de Palier”, pensou Grindór
enquanto com sua mão livre estendia o mapa para mais uma consulta. Outro cruzamento adiante. Uma
ligeira troca de olhares e Arallim assentiu com um meio-sorriso. “Sim, mago, é seguro por ali”, lia ele
nas feições da elfa, com um misto de alívio e inveja.
Após o que pareceu uma eternidade perambulando pelo emaranhado ambíguo de túneis, chegaram os
três finalmente a um salão amplo, circular, de cuja abóbada emanava uma claridade sobrenatural. Ao
centro, sobre um sepulcro de mármore rubro, flutuava um volumoso tomo cuja encadernação de metal
refletia sinistramente a luminosidade difusa do recinto. Sagius prendeu a respiração, trêmulo. Grindór,
com um sorriso estranho nos lábios, fez menção de avançar para o centro do aposento, mas teve o
braço seguro por Arallim, que meneava negativamente a cabeça. O mago percebeu, naquele instante,
que a sacerdotisa salvara sua vida. “Faça o que é necessário, irmã”, sussurrou então Grindór
amargamente, recuando dois passos e descansando sobre o piso empoeirado.
Arallim estendeu lentamente as mãos espalmadas na direção do monumento fúnebre e começou a
murmurar um cântico baixinho. Avançava pé ante pé, de olhos fechados. Com cada passo, o ar à sua
volta parecia se contorcer e crepitar, enquanto uma profusão de faíscas e espirais de vapores coloridos
emanava do assoalho – vestígios inofensivos do volume magnífico de energia mágica sendo sublimado.
Em pouco tempo, alcançou o vértice do salão, deitando as mãos suavemente sobre o livro. Houve
alguns segundos de silêncio, durante os quais o rosto da elfa expressou curiosidade, sobressalto e
apreensão.
Tratava-se, genuinamente, do lendário Tomo de Arminus!
Aturdida pelas revelações do volume, voltou-se para Grindór, em tempo de acompanhar o último gesto
do encantamento do mago, que a atingiu com força total. Arallim sentiu o corpo enrijecer e viu-se
incapaz de realizar qualquer movimento. Divisou o contorno inerte de Sagius junto à entrada do
aposento e seguiu os passos de Grindór com os olhos quando este se dirigiu ao sepulcro e tomou o livro
para si.
“Lamento que tenha de terminar assim, irmã”, sussurrou o mago, com um brilho estranho nos olhos,
“O segredo de Arminus deve ser meu, e meu apenas!”. Mas quando Grindór sacou a adaga para
assassinar Arallim, ouviu-se um rugido: “QUEM OUSA PROFANAR MEU JÁZIGO?”. Em pânico, o
mago girou nos calcanhares e disparou rumo ao labirinto, deixando para trás seus ex-companheiros.
No instante seguinte, Sagius erguia-se do chão com um sorriso maroto. Poucos sabiam que aquele
intelectual tímido e franzino havia, em sua juventude, dedicado alguns anos ao estudo do ilusionismo.
Além disso, a distorcida natureza mágica daquele lugar parecia ter afetado a eficácia dos feitiços
paralisantes de Grindór – Arallim já recobrava seus movimentos.
“Perdoe-me, Arallim”, suspirou Sagius, afagando o rosto no lugar onde atingira o chão, “Distraí-me por
um instante que poderia ter nos custado as vidas. Tinhas razão, Grindór ficou maluco, não parece o
mesmo que iniciou a jornada conosco”.

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“Não te aflijas, Sagius”, retrucou Arallim, com um sorriso triste, “Eu já tinha previsto que a sanidade de
nosso companheiro sucumbiria às provações da viagem. De qualquer forma, ele não irá longe. Creio
que sei exatamente onde encontraremos o seu cadáver”.
“Mas como?!”, engasgou o velho, perplexo.
“A magia deste lugar é poderosa”, explicou a elfa, “Eu jamais poderia dissolver todas as armadilhas do
caminho. Limitei-me a suspendê-las, proporcionando uma segurança efêmera – porém suficiente para
nossa passagem. Pretendia fazer o mesmo no caminho de volta, e vejo que fiz bem em não divulgar tal
detalhe”.
“Mas... o Tomo de Arminus, Arallim!”, interrompeu Sagius, com um acento de pânico na voz, “Ele
pode ser danificado, ou pior, destruído!”.
“Tens razão, bom Sagius. Rezemos para que não seja o caso”, respondeu a elfa, tomando a dianteira.
Na verdade, Arallim contava com isso. Os restos arruinados do tomo poderiam ser levados ao Templo
da Luz e restaurados. Seriam então estudados pelos sábios – e seu conteúdo, protegido de um mundo
ainda despreparado para certas revelações. Sentiu apenas pelo fiel e velho amigo, para quem teria que
mentir mais uma vez ainda. “Que se há de fazer?”, racionalizou Arallim, “Sagius não entenderia...”.

História
Um dos grandes e principais objetivos da vida de um ser racional, além de ter suprida suas necessidades
básicas de vida, é a busca por conhecimento e sabedoria. É o conhecimento quem permite aos mortais
superarem os obstáculos impostos pela natureza e a sabedoria é quem lhes abre a visão para usarem este
conhecimento de maneira prudente e correta. E esta busca, mais cedo ou mais tarde acaba levando este
ser a Palier...
Para aqueles que pensam que caminhar em sabedoria é algo fácil, se esquecem que, na verdade, não
estão caminhando amparados em sua própria sabedoria, mas sim na de outros, uma vez que alguém já
teve que cruzar esses caminhos, antes desconhecidos, e torná-los sábios para que muitos possam passar.
Para esses sábios que se comprometem em ser “a luz do mundo”, o caminho, sem dúvida, é árduo e
sombrio. As trevas sempre tentarão barrar-lhes a passagem, pois que, para os instrumentos dos mundos
inferiores, a ignorância é a maior arma para manter os seres cativos. Mas, como que lavradores da
mente, esses caminhantes ocultos pelo manto do segredo vão tornando o conhecimento mais assimilável
às pessoas comuns, a fim de que o mundo vá, gradativamente, se tornando um lugar mais sábio. Para
esses sábios o secreto vai se revelando a cada passo de sua caminhada, e cabe a eles construir estradas
firmes para que pés vacilantes possam, no tempo certo, lhes acompanhar a marcha a caminho da
sabedoria.
Muito pouco ou quase nada se sabe ao certo sobre a história do surgimento da Ordem. Existem várias
versões e a maioria delas, ou todas, poderiam não passar de mera especulação. Das poucas certezas que
se tem a respeito da Ordem da Luz, leva-se a crer que a versão mais próxima da verdade relata da
existência da Ordem já no período da fragmentação dos reinos da Moldânia, conhecido na Ordem
como o “Período dos Lordes”. A mesma versão parece afirmar que a própria guerra civil foi obra da
Ordem da Luz e de seus sábios.
Outra versão diz que consta dos arquivos secretos da Ordem, na ata “oficial” de fundação da mesma em
Calco, que essa ocorreu logo após a unificação dos reinos, ao término da Guerra da Seita. Consta,
também, que seus fundadores foram dois elfos dourados, já bem idosos, para os padrões de sua raça, de
nomes Ketalel e Silsanlam , que, especula-se, foram grandes sacerdotes, talvez os maiores sacerdotes de
Palier dentro da Ordem.
A história da Ordem nesse ponto volta a se ocultar nas brumas, acidentalmente ou não, e ainda assim
deixa a impressão de que durante todo o tempo esteve sempre entrelaçada com a história do País.
Especula-se que, tudo quanto Calco é hoje, se deve graças a Ordem e a seus membros que, ao longo da
história, vieram manobrando o leme dos acontecimentos.

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Localização
Mais uma vez as informações são confusas e conflitantes (até pelo que a Ordem se propõe como
objetivo, estas informações conflituosas garantem a segurança de seus membros e de seus segredos), mas
acredita-se que a sede da Ordem esteja localizada na magnífica Saravossa, em algum lugar onde ela
possa passar completamente despercebida pelos “não conhecedores”. Especula-se ainda que em
Saravossa resida apenas o líder máximo da Ordem, Ilustríssimo Mestre, e que seu braço se estenda ao
longo do mapa chegando a Runa, em Portis, e a Efrim, em Eredra, onde residiriam seus Vigilantes.
Apesar disso, mais rumores dizem ainda que a Ordem já estendeu seus braços a todos ou quase todos
os países de Tagmar, possuindo em todos os cantos ao menos uma congregação cuidando para que os
interesses da Ordem sejam alcançados.

Símbolo
O símbolo da Ordem é representado por um livro preto fechado, trazendo na capa um pentagrama de
7 pontas douradas. Possivelmente o significado desse símbolo só seja conhecido por aqueles versados
nas artes ocultas ou membros da Ordem.

Objetivos
Ao contrário da maioria das Ordens, a Ordem da Luz não se dedica a propagar a fé em Palier de forma
pública, mas sim a buscar, desvendar, conhecer e levar a verdade e o conhecimento a todas as pessoas
(embora nem todo o conhecimento seja “compreensível” a todas as pessoas). Para aqueles que tenham
o privilégio de olhar para dentro da Ordem e para ela como um todo se pode ter a impressão de que ela
tem dois grandes objetivos: desvendar todas as verdades e mistérios do mundo e promover uma reforma
geral no mesmo. Talvez seja mesmo esse o objetivo da Ordem, mas, o que se sabe com certeza, é que
seus sacerdotes membros são sábios ocultistas, pesquisadores ávidos de conhecimento, que parecem
estarem infiltrados em quase todos os aspectos da vida, pública ou não. Desde os aspectos mais
importantes de uma sociedade, aos que poderiam ser considerados menos importantes ou até mesmo
não importantes, para aqueles que saibam como conhecê-los, verão que lá eles estão. E que tudo quanto
esteja acontecendo, em maior ou menor grau de envolvimento parece ter o dedo deles.

Os sábios
Estes sacerdotes, que vagueiam pelas sombras da sociedade, podem ser qualquer um, e normalmente
são pessoas importantes e cultas de um lugar, seja de uma cidade ou um reino. A lista de membros da
Ordem talvez não exista, e caso exista, certamente está guardada a “sete runas”. Mas os rumores
apontam que pessoas muito importantes fazem parte das fileiras da Ordem. Acredita-se inclusive que a
biblioteca de Saravossa seja tão somente uma extensão visível do alcance da Ordem e de sua força.
Os sacerdotes da Ordem da Luz são sábios de raças e classes sociais diversas, devotados à busca,
compreensão e repasse de conhecimentos por todo Tagmar. Apesar de a Ordem ser sempre de
sacerdotes de Palier, um grande número de não-sacerdotes (inclusive magos) atua como colaboradores.
Porém, para que sejam merecedores de tal distinção faz-se necessário que sejam totalmente devotados
aos preceitos da Ordem.

Os vigilantes
Os sacerdotes da Ordem da Luz, em sua esmagadora maioria, são adeptos do não-combate.
Dificilmente se verá um sacerdote da Ordem envolver-se em alguma querela ou em algum embate que
exija o manuseio de armas, exceto em raríssimas situações (como proteger uma vila de um bando de
orcos, por exemplo). Para eles, o conhecimento serve justamente para se evitar o emprego da força
bruta, preferindo o uso da magia em detrimento da primeira.
Entretanto, existem segredos que precisam ser guardados e situações em que o mero apelo intelectual,
semântico e mágico não consegue resolução. Neste ponto entra o “braço armado” da Ordem: Os
vigilantes. Os membros de suas fileiras são recrutados dentre os sacerdotes de Palier mais confiáveis e
com mais habilidades no manejo das armas. Como o próprio nome sugere, estes sacerdotes atuam

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como vigias dos templos da Ordem, protegendo santuários (e seus segredos) e executam missões onde a
força mais bruta seja necessária.

Peculiaridades
Os Sábios são “sacerdotes comuns”, que durante o dia se vestem e agem de maneira perfeitamente
normal à sua posição social, racial e profissional. Sua indumentária preferida é um grande robe de
coloração verde e dourada, que lhes cobre todo o corpo, inclusive os braços e mãos, deixando a mostra
apenas a cabeça. Porém, quando se reúnem para os ritos sagrados, os sábios vestem roupas próprias,
cujo significado é compreendido apenas pelos membros da Ordem. A título de reconhecimento os
Sábios possuem palavras e códigos secretos que podem certificar quanto à autenticidade de qualquer
um. Estes, também, ao ingressarem na Ordem, ganham um anel de ouro com o símbolo da Ordem.
Esse anel eles carregam sempre consigo, mas nem sempre à mostra.
Os vigilantes envergam couraças parciais muito bem trabalhadas, nas cores verde e dourado. Também
carregam um grande escudo quadrado, de corpo inteiro, com o símbolo da Ordem estampado no
mesmo. Em suas cabeças, um elmo, adornado com detalhes em alto relevo, completa o seu
equipamento de defesa. Em toda a sua armadura encontram-se inscritas runas, cujo significado é
conhecido somente dos artesãos da Ordem. Não existem restrições quanto ao uso de armas pelos
componentes dos vigilantes, mas acredita-se que elas sejam encantadas com milagres e encantamentos
poderosos, tanto que, se alguma delas for perdida ou roubada, os vigilantes empreenderão missões para
recuperá-las, utilizando todos os meios necessários para chegarem a tal fim (exceto aqueles que
envolvam atos indignos diante dos deuses, óbvio).

Votos específicos
Reconhecerás a todos os sábios como irmãos e prestarás sempre auxílio aos teus: Devido à dificuldade
de se adentrar para as fileiras da Ordem, e das certificações constantes quanto à lealdade de seus
membros, os mesmos confiam bastante em seus irmãos de Ordem. Esse voto certifica ainda que um
Sábio deve, sempre que se faça necessário, prestar auxílio a um outro sábio, quer seja compartilhando
seus conhecimentos, quer seja emprestando algum tomo ou objeto para seu confrade.
Nunca, jamais, sobre quaisquer circunstâncias revelarás os segredos de nossa Ordem: Esse voto, levado
muito a sério entre os sacerdotes da Ordem, é de natureza vital para a sobrevivência da mesma e para
que ela consiga alcançar seus objetivos. Para tal os membros possuem magias poderosíssimas de
bloqueio mental que impossibilitam que suas mentes sejam vasculhadas. Qualquer um que desrespeite
esse voto pode aguardar por uma terrível punição.
Sempre procurarás pela verdade e a fará conhecida por todos os teus pares: Um sacerdote da Ordem
da Luz é um perpétuo investigador em busca da verdade e do conhecimento, disposto a procurar e
desvendar os mistérios envolvidos nas névoas da história do Mundo Conhecido. Ele não se permite
deixar que a ignorância impere. Segundo este voto, um membro da Ordem sempre deve compartilhar
seus conhecimentos com os outros membros (embora nem sempre isso aconteça fora dos círculos da
Ordem, pois a maioria das pessoas de Tagmar não compreenderia a totalidade e a utilidade de tal
conhecimento adquirido, ou poderia fazer mal uso do mesmo).
Nunca permitirás que o conhecimento e a magia dos demônios prosperem: Esse voto singular relaciona-
se ao uso da magia e da sabedoria para fins demoníacos. Palier abomina a magia advinda dos planos
inferiores, bem como a tudo que àquele local se relacione. Seus seguidores devem fazer de tudo para
eliminar ou impedir que tais conhecimentos e magias sejam usados. Os sacerdotes de Palier encaram os
magos e os demonistas com um ódio pouco visto entre as Ordens.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Ocultistas. Os Sábios da Ordem da Luz possuem uma rígida hierarquia e a
mantém atuante, utilizando a disciplina e a sabedoria adquirida ao longo de sua história. O Venerável
Mestre da Ordem também é conhecido como “O Divino Guia”.

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Líder em atividade
Até onde é possível se saber pelos manuscritos da Ordem, esta é, atualmente, liderada por Martom
Amaatri, um elfo dourado que, ao que parece, veio a muito, muito tempo de Léom, em Dantsem, e que
parece ter conhecido Ketalel e Silsanlam, os fundadores da Ordem da Luz. Para variar, não se possui
muitas informações a respeito de Martom. Especula-se que ele estivesse presente desde o início da
Ordem. Aqueles que o conheceram e ou o conhecem o descrevem como “a mente”, enfatizando
sempre o brilhantismo de sua inteligência “desumanamente” perspicaz. Diz-se, ainda, que ele é dotado
de extrema beleza e de um grande carisma. De qualquer forma, Martom Amaatri parece não gostar
muito de popularidade e ele já não é visto a mais de duas gerações dos homens, e muitos alegam até que
ele já não reside entre os vivos. Outros, dizem que ele se foi para Portis e nunca mais regressou. Mas,
para aqueles que sabem da verdade, Martom ainda é considerado o sacerdote de Palier vivo mais
poderoso de toda Tagmar.

Juramento
Eu [nome completo] juro solenemente diante de meu deus e seus representantes aqui presentes minha
lealdade eterna e incondicional a Palier, à ordem da Luz e, a todos os seus.
Juro que buscarei sempre o conhecimento e sabedoria onde quer que eles estejam; que guardarei com
sabedoria os meus votos;
Que despenderei qualquer esforço e empreenderei qualquer jornada, que vise o engrandecimento da
ordem e a busca de conhecimentos;
Que jamais revelarei qualquer segredo da ordem ou a identidade de seus membros.
Juro que considerarei como meus irmãos de ordem todos àqueles que proferirem este juramento;
Que trabalharei no máximo de minhas forças para que a ordem possa alcançar seus objetivos;
E que se eu quebrar este juramento eu seja privado de todo meu intelecto.
Que todos aqueles que prezam a ignorância e o conhecimento demoníaco sejam banidos para as trevas.
Eu faço este juramento no [dia corrente] e que Palier ilumine meus caminhos e minha mente, para que
eu nunca me perca nas trevas da ignorância e do abuso.

Saudação
O cumprimento da Ordem é feito levando-se a mão esquerda espalmada até a parte frontal da cabeça
tocando-a com a ponta dos dedos, e terminando por estender-se à frente do corpo como a desejar uma
boa viagem, proferindo as palavras: “Que a verdade esteja sempre com você(s)”.

Relíquias
A cerca desse ponto às informações são ainda mais improváveis e fantásticas. Diz-se que a Ordem
possui, em seus subterrâneos, salas imensas destinadas somente à guarda de itens mágicos dos mais
poderosos de Tagmar. Itens que, se caíssem em mãos erradas, poderiam mudar totalmente o rumo da
história. Diz-se também que a coleção de manuscritos fantásticos da biblioteca de Saravossa é tão
somente uma mera cópia dos textos originais guardados pela Ordem. Os boatos mais absurdos relatam
que a Ordem possuía relação direta com o Grande Sábio...

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Ordem de Parom

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3.10 A Ordem de Parom - O Sacro Ofício
Seus olhos focaram mais uma vez a contínua chama amarelada. Trêmula como sino batido, quente
brilho de lava.
No silêncio perdido da sala, Eberc buscava o fim de seu sofrimento. O alvorecer brilhou entre as fileiras
desiguais no teto elevado, conduzindo luz pelas finas teias de aranha e iluminando o pequeno aposento.
Sentado no banco por ele mesmo criado, desfrutava de um momento único, só seu. A mesa de lei
estava ferida, uma laceração marcada às unhas rígidas. Já não mais falava, nem o gosto d’água sentia.
Oprimia sua respiração para que a pequena chama a sua frente não morresse. Apenas contemplava.
Sabia que em poucos minutos seria afastado desse solene descanso, onde seu pensamento já não o
confundia. Era uma questão de tempo.
Seus braços desceram velozmente, chocando-se contra a rigidez incólume da madeira. O pó ali contido
encheu o ar de pequenos pontos brilhantes. E mais uma vez ele atormentou-se.
Porque eu? Porque agora? Porque não penso? Essas três frases rondavam a mente de Eberc desde que
fora escolhido pelo Mestre artífice há uma semana atrás. As palavras continuam marcadas como uma
canção melodiosa: “Eberc, martele desejo, traga a força, congele o medo e dê vida a música”. Eberc
sabia no que se resumia essa frase: criar um item que exultasse o divinismo.
Como? Como podia criar tal item? Três vezes o Sol coroou o céu e por três vezes a lua lançou sua
brancura na terra, mas todo esse tempo fora desperdiçado, sem nem um projeto ter sido concluído.
Estava no fim para agradar seu mestre, seu rei, seu deus.
As teias de aranha, no teto esbranquiçado, balançaram ao sinal da leve brisa matutina que descia pelas
fileiras logo acima. Rodopiante, a brisa dançou solta até chegar à mesa. A chama da vela vibrou uma vez.
Eberc piscou timidamente, sentindo a frieza da brisa desse novo dia.
A chama da vela vibrou outra vez.
Os braços juntaram-se, entrelaçaram-se como se casados. A boca seca soprou um “haaa”.
A chama da vela apagou-se. A brisa cessou.
O silêncio fora cortado com as palavras rapidamente expelidas por Eberc.
-Martele... quente... música.
Colocando-se de pé, Eberc procurou seus instrumentos. Era hora de trabalhar.
E ele trabalhou.
Chegaram os ajudantes, ávidos para auxiliar Eberc, mas encontraram apenas avisos de que já não era
preciso ajuda, pois o item que tanto ansiavam já fora criado.
Eberc, cercado por velas douradas, segurava na mão direita um sino de igreja. O sino era brilhante,
perolado e ornamentado com um mosaico de chamas, também havia notas e melodias, canções de
júbilos e louvores.
Quando teve a certeza que todos os ajudantes o olhavam, Eberc sorriu, e sua felicidade foi tamanha que
ergueu o sino até os lábios e, como antes ensaiado, soprou uma melodia no sino enfeitado.
A melodia, invisível aos olhos, podia ser sentida na exaltação do momento. O sino tocou, vibrou sua
nota mais encantada no glorioso amanhecer, e logo as velas, antes apagadas, encheram-se de vida e
calor, lançando ternura no coração dos presentes.
Havia terminado um item divino de qualidades humanas, para um mestre, um rei, um deus.

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História
A arte é a forma mais sublime existente de um ser externar aquilo que há de maior e melhor em si
mesmo, nenhuma outra forma de expressão das faculdades artístico intelectuais jamais se igualou ou se
igualará à arte expressada manualmente pelos artífices e artesões. No processo de criação o artífice
realiza um dos maiores milagres da criação, o milagre da permutação, da transformação de algo inferior
em algo infinitamente superior, tal como acontece com os seres no processo de aprendizagem ao longo
da vida. O artífice nesse momento passa de simples artista a criador e coloca todo o melhor de si. Todos
os seus sentimentos, todo o seu talento na obra que está sendo gerada e após todo o processo de
gestação da obra eis que surge um novo ser até então inexistente, e o mais importante de tudo, único,
tão único quanto seu criador. Um homem da ciência poderia definir o processo de criação da arte do
artífice como a fusão de duas individualidades distintas que se fundem e se completam na busca da
criação de uma nova individualidade completamente nova, gerando um terceiro personagem chamado
criatura, que é nada mais que o resultado da união dos dois primeiros seres. Assim na sua essência mais
pura, todo artífice é ao mesmo tempo idealizador e criador.
Está escrito no livro das crônicas da criação do mundo que Blator criou os anões a sua imagem e
semelhança, e a exemplo de Blator, Palier criou os Elfos também a sua imagem e semelhança. Consta
também nas escrituras que ao perceber a inegável inferioridade dos anões de Blator frente aos elfos
Palier, Parom filho legítimo do Deus da sabedoria resolveu ensinar aos “pobres” filhos de Blator as artes
que lhe valiam o título de Grande Artífice dentre os Imortais. Consta ainda que os anões aceitaram de
muito bom grado essa dádiva divina advinda do Deus dos artífices e passaram a dedicar-se com tanto
afinco que até os elfos tiveram que se curvar frente ao talento dos anões. Fato esse que exasperou Palier
e aparentemente desagradou até a Blator que teve que assistir seus belicosos filhos se dedicarem às artes
dos artífices em detrimento das artes da guerra, adorando muitas vezes Parom no lugar Dele mesmo.
Histórias à parte, o que se sabe ao certo é que os anões são grandes artífices e que essa herança vinda de
Parom passou ao longo das eras de anão para anão, de pai para filho, de mestre para pupilo, nas suas
terras ancestrais.
Não se sabe ao certo porque os anões começaram a emigrar de suas terras, mas o que consta nos
escritos da Ordem do Sacro Ofício é que aqueles anões que primeiro chegaram às terras desconhecidas
vieram juntos com os comerciantes de Plana. Estes traziam viva essa herança e ensinamento e quando
estes começaram a se estabelecer em definitivo, logo criaram uma intrincada sociedade de artífices
estruturada em torno dos anciões e Sacerdotes. Guiados por um ancião Sacerdote de nome Votram,
esses anões silenciosamente começaram a construir as bases da nova Ordem bem no coração da
montanha e assim lentamente nasceu a Ordem do Sacro Ofício, escavada na rocha a fim de demonstrar
seus laços com os antepassados deixados para trás nas terras dos anões.

Localização
Olhando-se os mapas mais atuais a sede da Ordem está situada ao norte do reino caído de Abadom, no
pequeno reino conhecido hoje como Acordo, mais especificamente em algum lugar da Cordilheira de
Sotopor. A Ordem foi escavada totalmente dentro da rocha no melhor dos padrões anões, inclusive por
que foi construída por anões recém chegados de sua terra natal. Aqueles que se encontrem dentro de
seus magníficos corredores se sentirão como que dentro de um reino anão ancião e os anões que ali
estiverem se sentirão completamente em casa. Para os anões mais jovens o simples fato de poder
caminhar por seus monumentais corredores esculpidos a moda antiga de sua terra natal já é a realização
máxima e pode levá-los a uma extrema emoção e às vezes até as lágrimas, tamanha a sensação de
comunhão com os antepassados. A localização exata da Ordem é desconhecida e muito bem guardada
por seus membros extremamente ciumentos de seus segredos, e que a pesar de não serem Sacerdotes
de Blator são ainda assim extremamente perigosos uma vez que não é nada sadio mexer com um anão
enfurecido.
Existem diversas outras congregações que abrigam membros da Ordem. Estas respondem, em situações
mais complexas, diretamente ao Templo Principal da Cordilheira de Sotopor, mas funcionam quase
independentes ao que se refere a maior parte das suas ações, inclusive ordenando novos membros. No
entanto não se deve confundir as congregações da Ordem com os demais templos de Parom, e

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principalmente por que elas não são muitas e se encontram normalmente apenas nas capitais dos reinos
mais desenvolvidos e excepcionalmente em Saravossa, onde todas as ordens mantém uma congregação.

Símbolo
O símbolo da Ordem é um M acompanhado de um A invertido significando Mestre Artífice.
Essa simbologia é uma clara demonstração do gosto desses artífices por intricadas formas de arte
que resultam muitas vezes em codificações completamente incompreensíveis para aqueles de
fora da Ordem. Fato interessante é que algum tipo de vazamento de segredos resultou na prática até
certo ponto comum nos dias de hoje de chamar um anão de Mestre Anão, referendo-se a sua
habilidade como artífice.

Objetivo
O objetivo da Ordem não é somente o de levar a palavra de Parom aos fiéis e aos não fiéis ou de levar a
arte aos artistas e aos não artistas, mas considerando-se os mais profundos anseios da Ordem poder-se-ia
chegar à conclusão que eles querem reconstruir o mundo segundo suas visões. Seus princípios de
igualdade, justiça e lealdade os levam a buscar, reconstruir e remodelar não só as formas sólidas, mas
também as mentes das pessoas. De fato todos os Mestres Artífices são o que seu nome sugere, Mestres
Artífices, sem exceções, mas seu modo de vida contrasta com os costumes de vida atuais da maioria dos
povos, e os leva a ter que modificar também o meio ambiente em que vivem.

Os Mestres Artífices
Durante uma boa parte da história da Ordem esta foi composta somente de anões e, diga-se de
passagem, estava muito bem assim, porém com o passar dos anos e com a convivência dos anões com
os humanos e até com alguns pequenos lentamente os levaram a ir derrubando ou aceitando melhor
algumas barreiras raciais. Esse fato ou miscigenação, até os dias de hoje desagrada aos Mestres Artífices
mais antigos (todos anões), e também mais radicais, mas de fato hoje podem ser encontrados membros
dentre a raça dos humanos, pequeninos e sacrilégio dizem que até alguns elfos! Porém em termos de
porcentagem os anões ainda são a grande maioria. Especula-se que os governantes atuais de Acordo
sejam Mestres Artífices bem como algumas figuras importantes do reino, coincidência ou não todos os
governantes de Acordo parecem ter algum tipo de ligação com a Ordem.

Peculiaridades
Os Mestres Artífices em seu dia a dia são pessoas perfeitamente comuns, exceto por seus dias secretos
de reunião com os outros membros da Ordem que ocorrem sempre noite adentro, e por seus toques e
palavras secretos utilizados quase que sempre como forma de identificação. A única forma que
denuncia um Mestre Artífice talvez seja somente o próprio símbolo da Ordem, comumente utilizado
em sólidos anéis de ouro; cordões também são muito utilizados e os bons e velhos medalhões também
podem ser encontrados sem dificuldade. Todos os Mestres Artífices ao iniciarem ganham um anel de
ouro que os distingue como membros da Ordem.

Votos específicos
Reconhecerás todos os Mestres Artífices como irmãos independente de sua raça: Esse adendo de
independentemente de sua raça é um dos fruto dos novos tempos que teve de ser alterado para
acompanhar a nova realidade da Ordem. Mas em verdade todos os membros levam muito a sério a
relação inter-Ordem que muitas vezes pode ser mais forte que uma relação racial, por mais inimaginável
que seja um Mestre Artífice anão confiará muito mais em outro Mestre Artífice que um anão que não
seja membro da Ordem. Lembrando sempre que os anões enquanto raça são criaturas desconfiadas por
natureza.
Nunca revelarás os segredos de nossa Ordem: Esse voto levado extremamente a sério por parte dos
membros da Ordem, visto que se um anão jura fidelidade a alguma coisa ele quase que com certeza vai
manter seu juramente e sua fidelidade para com aquela coisa. Os traidores são extremamente mal vistos

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e certamente são alvos das mais engenhosas punições que possam passar pela mente de um anão, de
fato mais uma vez não deve ser nada sadio enfurecer um anão.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Ocultistas.

Líder em atividade
O líder dos Mestres Artífices é um antigo anão de mais de 400 anos de idade de nome Forje. Forje é
um anão típico, sempre carrancudo e taciturno, de fala alta e voz forte como quem sempre esta a brigar
ou a dar ordens enérgicas. Para aqueles que já granjearam a amizade desse poço de delicadeza um belo
e largo sorriso está sempre nos lábios, principalmente quando o motivo do encontro seja alguma
comemoração ou qualquer coisa que envolva uma boa cerveja e ou uma boa mesa. Forje é um
Sacerdote poderosíssimo e um artífice brilhante em sua área de preferência que são metais. Ele guia a
Ordem no melhor estilo mão de ferro e todos aqueles que forem contra a Ordem e seus propósitos
podem considerar nele um grande inimigo. Forje está à frente da Ordem a mais de 100 anos e até hoje
não ouve nenhum Grão Mestre que não fosse da raça anã.

Juramento
“uE [eMoN oTelPmOc] oRuJ eTnAiD eD uEm sUeD e sUeS sEtNaTnEsErPeR iUqA sEtNeSeRp:
aHnIm eDaDlAeL aNrEtE e lAnOiCiDnOcNi a mOrAp, à mEdRo oD oRcAs oIcÍfO e A sOdOt sO
sUeS sOrBmEm;
eUq iErAdRaUg mOc eDaDiLiBaSnOpSeR sO sUeM sOtOv;
eUq iErEdNeRpSeD sOdOt sO sUeM aRaP o oTnEmIcEdNaRgNe aD mEdRo;
eUq sIaMaJ iErAlEvEr rEuQlAuQ oDeRgEs aD mEdRo uO a eDaDiTnEdI eD sUeS sOrBmEm;
oRuJ eUq iErArEdIsNoC oMoC sUeM sOãMrI eD mEdRo sOdOt sElEuQà eUq mErIrEfOrP eTsE
oTnEmArUj;
eUq iErAdRaUg sO sOtOv eD eDaDlAeL, aÇiTsUj e eDaDlAuGi eRpMeS mE uEm oÃçArOc;
eUq iErAhLaBaRt oN oMiXáM eD sAhNiM sAçRoF aRaP eUq a mEdRo aSsOp rAÇnaClA sUeS
sOvItEjbO;
eUq uEs rArBeUq eTsE oTnEmArUj uE aJeS oDiNaB aD aIcNêViVnOc sOd sUEM;
oRuJ eUq iErAcSuB eRpMeS rIuRtSnOcEr, rAlEdOmEr e rInIfEdEr o oDaRrE oLeP oTeRrOc
oDnAtUmSnArT o oTuRb aN eTrA;
eU oÇaF eTsE oTnEmArUj oM [aId eTnErRoC] e eUq mOrAp eNiMuLi sUeM sOhNiMaC e
aHnIm eTnEm aRaP eUq uE aCnUn eM aCrEp rOp sOhNiMaC sOdArRe”.

Saudação
O cumprimento da Ordem é feito dando-se as mãos em um cumprimento aparentemente comum e
proferindo as palavras: “Parom mantenha a sua arte”.

Relíquias
As especulações a cerca de itens mágicos por parte da Ordem são os mais variados possíveis, porém
dentre os comentários mais comuns figura toda sorte itens alquímicos capazes das mais variadas
maravilhas que se pode imaginar em termos de transmutação de materiais. Algumas especulações talvez
mais absurdas atestam para a existência de um item em poder da Ordem que permite transmutar certos
materiais em ouro. A veracidade a cerca da existência desses itens é completamente discutível e um
grande mistério.

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Ordem de Plandes

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3.11 A Ordem de Plandes - A Divina Demência
Uma lufada de vento congela minhas mãos e meus pés. Estou seguindo esta trilha há quase cinco dias e
nada do templo aparecer. Onde eu estava com a cabeça quando aceitei vir a este lugar inóspito, perigoso
e gelado das cordilheiras de Sotopor? Louco?
Sorrio deste pensamento incoerente... ou não? Desde aquele dia fatídico quando eu vislumbrei este
outro mundo, o mundo do lado negro do homem, um lugar de insanidades, incoerências e
previsibilidade, que optei por admitir que piada de mau gosto era este mundo. Admiti que não ia mais
fingir que a vida fazia sentido. Admiti que não seria igual a todas as pessoas. Desde aquele dia...
Aquele dia... minha mente teima em divagar e lá vou eu retornar ao passado, cavalgando minhas
recordações... aprendi, como sacerdote de Plandis, que recordações são perigosas, traiçoeiras... elas,
num momento, nos levam a um lugar cheio de prazeres, delícias, alegrias... e, num segundo depois, lhe
tragam para a escuridão e o frio, trazendo a tona coisas que você gostaria de esquecer. As memórias
podem ser vis, brutais, repulsivas...imprevisíveis. Eu gosto delas!
Aquele dia do meu renascimento neste mundo de sinais insondáveis, de símbolos misteriosos, de magia
e terror, de presságios desconhecidos... de loucuras, foi, como direi...predestinação? Não, previsível
demais. Minha mãe havia ficado doente, insana e paralítica numa cama. O casarão onde morávamos
passou a ser o meu mundo, a minha vida, o meu futuro. Com o passar dos anos ele começou a me
parecer mais vasto, mais real, mais “vivo”, que eu me sentia como um espírito assombrando seus
corredores. Vagamente eu tentava me conscientizar de que algo melhor existia no mundo além daquelas
melancólicas e frias paredes. Mas a casa teimava em reter-me ali... Minha mãe teimava em reter-me ali.
Mas, então, não sei de onde, foi-me mostrado o caminho. Eu segui aonde ele me levava. Eu iria
confrontar o que me prendia àquela vida monótona e previsível... eu iria penetrar sozinho na torre negra
... sem olhar para trás... e encarar o dragão que havia lá dentro. Eu só tinha um medo. De não ser forte
o bastante para derrotá-lo. Mas eu fui, assim mesmo...
Talvez eu tenha feito a coisa errada, talvez a coisa certa... quem sabe? Esta parte é um borrão, imagens
sem nexo. Recordo-me apenas de dizer: “Mãe, eu te amo!”. O corpo dela estendido lá embaixo, na
soleira da porta do casarão, cheio de sangue, o mundo explodindo ao meu redor, sem ter nada em que
me apoiar... nem orar eu podia, pois não tinha um deus (ou tinha?) é disto que me lembro. Tomado
pelo pânico, eu fugi. Corri cegamente para longe daquele lugar... para minha liberdade. Tornara-me o
matador do dragão. O viúvo da mãe... Eu me sentia vivo!
Nisto, vislumbro uma edificação por entre as névoas gélidas. Sua base firmemente presa no granito
perene das montanhas. Seria o templo?. Caminho até lá, pensando no que já passara para chegar até
aquele local. Aproximo-me do grande portão e bato fortemente no mesmo.
Ouço passos que se arrastam, aumentando de intensidade. Um baque surdo e um ruído de grossas
correntes e polias sendo destravadas. O portão se abre lentamente...Um senhor de meia idade, envolto
em um grande casaco branco e preto que lhe cobria todo o corpo, saiu da pequena abertura.
“Seja bem vindo, jovem acólito... Sua jornada chegou ao fim. Um novo mundo se abre para você. Bem
vindo ao mundo da insanidade, da imprevisibilidade e da inconseqüência. Bem vindo à Ordem de
Plandis!”.
Aspirei fortemente o ar. Havia conseguido... “Estou em casa” – murmurei.
O senhor parecia não ter me ouvido: “Sabe, não é preciso ser louco para se morar aqui...mas isso
ajuda!”.
“Mas... eu não vim aqui para me encontrar e viver com gente louca” – Disse-lhe.
“Você não pode evitar isso, meu jovem. Todos nós aqui somos loucos... Eu sou louco, você é louco.”
Ele deu uma risadinha... começamos a entrar na construção. Os portões se fechavam para meu antigo
mundo.
“Como tem tanta certeza de que sou louco?” – Indaguei-lhe.

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“Deve ser” – Disse-me o senhor – “Ou não teria vindo aqui.”
O baque surdo do portão abafou meu último comentário: “Vou gostar deste lugar!”

História
O povo simplesmente não consegue entender que o mundo é uma loucura. Não existe ordem, não
existem leis, não existe previsibilidade, apenas palavras desconexas, perdidas e sem sentido há muito
tempo. A aparente desordem do universo é só uma ordem mais elevada... uma intrincada ordem além
de nossa compreensão. Caos gerando ordem e ordem gerando caos. As decisões não devem ser
pensadas, mas tomadas de imediato por que assim você não afunda e se perde em seus próprios
pensamentos. Somos apenas pobres sombras confinadas na prisão que é a sanidade e a previsibilidade
das coisas. O mais estranho é que os mortais com suas frágeis e inúteis noções de ordem e sanidade,
quando submetidos a muita pressão deste mundo irracional e cruel (uma boa dose de realidade), eles se
quebram, partem-se, e tomam consciência de que a existência humana é louca, casual e sem finalidade.
Neste momento eles encontram a saída de emergência... a loucura, a inconseqüência, as ações cegas...
eles encontram Plandis.
Os homens santos de Plandis compreendem muito bem e acreditam piamente nessa filosofia, mas a
maioria das pessoas comuns se assusta e simplesmente não as entende e passa a temer essas palavras
estranhas e indaga-se sobre o estranho poder que esses homens e mulheres devem possuir para
compreender o estranho deus chamado Plandis.
O culto a Plandis não é muito grande, talvez devido à natureza quase caótica e inconstante da divindade,
mas isso não diminui seu poder. Existem muitos que rezam para ele, não com o intuito de adoração,
mas para que o deus nunca os toque com a sua loucura, incoerência e inconseqüência. Esta talvez seja
uma das grandes razões para que a Ordem de Plandis não tenha tantos sacerdotes quanto às demais.
A ordem não possui muitos escritos relacionados à sua origem (coisa muito previsível, afirmam) e o que
se sabe sobre os primórdios de sua gênese vem de relatos orais oriundo do guia mais antigo
(personagem central dos mesmos) e que são passados de geração em geração de sacerdotes. Segundo
estes relatos, na época da guerra de Abadom contra a Seita, um elfo dourado, de nome Ialas, único ser
desta raça a fazer parte da Guarda da Lança do exército abadrim, teve diversos, estranhos e repetidos
sonhos com um sacerdote de meia-idade, que se identificava como sendo o próprio Plandis. Este
sacerdote dizia que Ialas deveria levar um aviso aos reis de Abadom sobre uma conspiração que se
engendrava para destruir o reino. Uma conspiração que culminaria durante uma grande celebração.
Durante várias semanas Ialas foi assolado por este enigmático sonho, mas sempre o ignorava, dizendo
que, se provinha do deus da loucura, só poderia ser uma loucura... Então, no dia que ficou conhecido
como “A Grande Traição” (1.287 D.C.), Ialas foi escalado para a guarda do salão real, onde o
comandante supremo da frota imperial Abadrim apresentaria a cabeça do comandante da frota bankdi,
numa grande celebração. Momentos antes do início das celebrações, altas horas da noite, ocorreu um
pequeno tumulto do lado de fora do palácio real. Este incidente envolveu um homem de meia-idade,
aparentemente louco, dizendo frases sem nexo e querendo entrar força, inclusive utilizando uma arma.
Isto obrigou Ialas a intervir, nocautear e prendendo o homem. Ialas então levou-o para a prisão, distante
alguns quilômetros do palácio, sob suspeita do mesmo ser um espião da Seita. No interior da prisão,
algumas horas depois, o homem recobrou a consciência e dizendo que precisava avisar o rei sobre “a
conspiração”, avançou contra os guardas. Como que possuído de uma força sobrenatural, o lunático
derrubou vários soldados, roubando a arma de um deles. Ialas não teve opção e feriu mortalmente o
pobre e demente humano. Antes de morrer, o homem, em meio a delírios, disse ao elfo que ele era um
sacerdote e que deveria cumprir a missão que Plandis lhe encarregara: de avisar o rei sobre a
conspiração e a morte que se abateriam no palácio naquela noite, pois o encarregado anterior de fazê-lo
ignorara o aviso. O elfo dourado lembrou-se imediatamente de seus sonhos. Tomado de um pânico
sem precedentes, Ialas viajou o restante da madrugada até chegar à capital, onde viu seus temores sendo
confirmados no amanhecer: O palácio real fora completa e misteriosamente destruído, não restando
sequer as cinzas do mesmo. Todos os nobres e a família real estavam mortos. O elfo ficou fora de si,
tomado de inúmeros remorsos. Quando veio a saber que o homem que matara era um antigo sacerdote
do deus da loucura, sua sanidade se foi completamente. Perseguido por sentimentos de culpa, Ialas
abandonou a Guarda da Lança. No dia seguinte, Plandis visitou-o novamente em sonho e disse-lhe que

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ele fora poupado, perdoado e convocado para erguer uma Ordem de sacerdotes que levassem a sua
palavra a toda a Tagmar e que ele seria o seu oráculo. Em meio a delírios e alucinações Ialas rumou
para o sul de Abadom, fugindo de si mesmo e do seu ato inconseqüente. Quando chegou ao local atual
da sede da Ordem, ele já possuía muitos seguidores e juntos ergueram as fundações da edificação que se
chamaria “O Templo dos Delírios”.

Localização
O Templo dos Delírios, sede da Ordem, encontra-se localizado num platô rochoso, de dificílimo
acesso, nas cordilheiras de Sotopor, no extremo sul de Abadom, muito próximo às fronteiras de Dartel,
com suas perigosas brumas arrebatadoras, e da Levânia. A construção se ergue, majestosa e imponente
para os pouquíssimos sacerdotes que conseguem chegar até ela (atravessar um país dominado por
Dragões e bestas e confrontar as brumas de Dartel é uma tarefa para loucos mesmo!). Sua localização
não é mantida em segredo devido ao fato de que: Primeiro, somente sacerdotes da Ordem a conhecem
e a transmitem, também, somente aos neófitos em potencial para que para lá se dirijam; Segundo, ao
próprio desinteresse da população em geral quando o assunto diz respeito ao deus da loucura e, por
último, aos próprios perigos inerentes ao trajeto para se chegar até o templo, que desencorajam
qualquer um menos louco do que os sacerdotes de Plandis.

Símbolo
O símbolo da Ordem de Plandis é representado por duas serpentes, uma branca e outra negra,
devorando-se pela cauda, representando a dualidade contraditória da vida que tentam se destruir:
Ordem versus Caos; Racionalidade versus Loucura; Lógica versus Inconseqüência.

Objetivo
O objetivo da Ordem é parecido com o da maioria das outras ordens: espalhar os ensinamentos de
Plandis por entre os descrentes, supersticiosos e não-convertidos. A loucura e a inconseqüência, em si
mesmas, não são um mal, pois não existe cláusula de sanidade e previsibilidade no contrato da vida.
Ninguém nos obriga a sermos racionais, lógicos e coerentes a vida inteira. Apesar de a vida poder ser
um mar de rosas, você pode cair nos espinhos e aí a loucura, a contradição e o inesperado são à saída
de emergência.
Para os membros da Ordem de Plandis não existe o desespero ou a impossibilidade, existe apenas o
pouco se sujeitar à sorte ou o não se expor aos riscos e perigos.
Além do Templo dos Delírios existem poucas capelas dispersas pelo Mundo Conhecido, localizadas,
freqüentemente, nas grandes capitais de Tagmar.
A Ordem pode ser ramificada em três categorias de atuação, mas todos os sacerdotes são portadores
dos dons concedidos por Plandis, exercendo-os conforme a ocasião e propósitos divinos.

Os Oráculos
Os profetas da Ordem são raros, mas também são os mais ativos de todo o Mundo Conhecido. Suas
profecias, augúrios e presságios são poderosos e temidos porque simplesmente, se eles não estiverem se
concretizando, os sacerdotes da Ordem que tiverem conhecimento dos mesmos farão de tudo para que
eles se concretizem. Às vezes, reis e nobres procuram os oráculos atrás de suas profecias.

Os Pesquisadores da Mente
Esta pouco conhecida ramificação da ordem atua nos locais onde existem asilos, retiros e instituições
que abrigam pessoas mentalmente perturbadas. Aqui, os sacerdotes utilizam seus milagres e
conhecimentos da insanidade para ajudar seus semelhantes, não para curar seu estado (para os
sacerdotes, loucura não é doença), mas ensinando-os a viver e conviver com ele, mostrando que isto não
é um grande mal.

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Os Guerreiros Perdidos
A mais conhecida faceta da Ordem. Suas fileiras costumam ser formadas por sacerdotes e guerreiros
convertidos a acólitos. Eles costumam aparecer do nada, cavalgando seus corcéis malhados de branco e
preto, para ajudar exércitos e pessoas necessitadas, em combates suicidas. São pessoas que se arriscam
ao extremo, se entregando às causas que escolhem, e podem ser bem sucedidas porque simplesmente
não ligam para as suas vidas e menos ainda para a racionalidade e conseqüência de seus atos, ajudando
pessoas em situações desesperadas, apesar de também poderem atrapalhar um pouco a situação.

Peculiaridades
A indumentária dos sacerdotes da Ordem de Plandis varia de acordo com o tipo de atuação do dom
que se está exercendo. A única coisa em comum entre elas são as cores: Branco de um lado e Preto de
outro, tanto na parte frontal quanto dorsal, representando a dualidade contraditória de sua mentalidade
e personalidade.
Os sacerdotes exercendo o dom da profecia vestem-se de grandes mantos com capuzes que encobrem
seus rostos e seus membros.
Os Pesquisadores usam túnicas simples, comuns. Alguns sacerdotes mais excêntricos, costumam
adornar-se com enfeites exóticos e extravagantes como medalhões, tiaras, braceletes e anéis, pouco
relacionados à estética.
Os Guerreiros Perdidos envergam couraças parciais rústicas e sem detalhes elegantes (beleza? Para
quê?), mas bem trabalhadas. Acompanha a armadura um escudo redondo, grande, adornado com o
símbolo da ordem e um elmo fechado, também rústico e sem adornos. Eles cavalgam somente corcéis
malhados de branco e preto, fortes e bem cuidados, apesar dos rigores climáticos do local onde se
localiza a sede da Ordem. Segundo comenta-se pelo Mundo Conhecido, somente são suplantados pelas
montarias dos paladinos de Crizagom.
Qualquer tipo de arma é permitida aos guerreiros perdidos. Aos sacerdotes mais valorosos e que
sobrevivem às causas por eles empenhadas, é oferecido um broche de coloração acinzentada: A
“Benção de Plandis”, que permite ao sacerdote aumentar o poder de suas magias através de sua vontade
cega.

Votos específicos
Nunca penses duas vezes antes de agir: O membro da Ordem deve agir por impulso, com rapidez,
sempre tomando a primeira escolha que surgir em sua mente, a qual é tomada por verdade e propósito
divinos. Isto torna os sacerdotes inconseqüentes, impulsivos, imprevisíveis e intempestivos.
Nunca esmoreças ou perca as esperanças: Uma causa na qual o sacerdote da Ordem se empenha
NUNCA pode ser renunciada. Se entrar em um combate, só sairá dele se estiver morto ou vitorioso.
Um plano idealizado nunca pode ser desperdiçado. Ir até o fim em tudo que se empenhar. Neste caso,
os sacerdotes da Ordem se tornam pessoas totalmente obsessivas.
As profecias de Plandis sempre se cumprem: Qualquer profecia que saia da boca de um membro da
Ordem deve ser concretizada. Qualquer outro sacerdote da Ordem que venha a tomar conhecimento
da profecia deve se empenhar ao máximo para que esta possa se realizar.
A loucura é uma benção e não uma maldição: Para os sacerdotes da Ordem às vezes é só a loucura que
nos faz ser aquilo que somos. Às vezes é preciso demolir para reconstruir. Assim, todo e qualquer ato
ou comportamento que fuja dos padrões previsíveis, coerentes e lógicos deste mundo “normal” é visto
como uma benção de Plandis e deve ser entendido, respeitado, compartilhado e aceito como “normal”.

Estrutura
Vide Estrutura das Ordens Clericais. Os sacerdotes da Ordem de Plandis não costumam seguir padrões
rígidos e definidos de hierarquia, pois isto é visto como a ordem se sobrepujando ao caos; contudo, em
algumas ocasiões, até mesmo na loucura devem existir momentos de lucidez e organização. Assim, os

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homens santos do deus da insanidade seguem as ordens ditadas pelo Sumo Sacerdote como se fosse a
vontade do próprio Plandis.
Apesar dos Guerreiros Perdidos serem o braço militar da ordem, eles não seguem padrões hierárquicos
e costumam atuar isoladamente, quando muito em pares.
O sumo sacerdote da Ordem é conhecido como “O Grande Insano” ou também como “O Lorde
Demente”.

Líder em atividade
O “Lorde Demente” da Ordem continua sendo o seu fundador, o elfo Ialas. Atualmente com mais de
500 anos, sua longeva vitalidade e insanidade estão longe de se esgotar. Esse elfo dourado de cabelos
brancos e olhos brilhantes, que já viram muitas loucuras por todo o Tagmar, sempre está em
peregrinação. Atualmente, especula-se que se encontre nas terras assoladas entre Dantsem e Verrogar,
angariando devotos para Plandis e para a Ordem, em decorrência dos últimos embates sangrentos
ocorridos entre os dois países.

Juramento
O juramento é realizado durante um cerimonial denominado de “Batismo de Plandis”, onde o neófito é
mergulhado em um líquido de coloração branca e a seguir em outro de coloração escura.
“Eu, (nome do acólito), juro solenemente diante de meu deus e de meus confrades,
não ser lógico, não ser coerente,
não ter reflexão, não ser sensato,
não ser previsível, não ser equilibrado,
não ser ponderado, não ser responsável,
não ter bom senso, não ter julgamentos e não ser racional.
Eu sou e sempre serei... louco.”

Saudação
A saudação da Ordem é a mais imprevisível e inesperada de todas, dependendo do humor e da
insanidade dos sacerdotes que se cumprimentam. Pode variar desde um simples aperto de mãos até
bofetadas e socos. Ao final dos “cumprimentos” eles proferem as palavras: “Loucos por Plandis”.

Relíquias
Muitos boatos correm por todo o Tagmar dos artefatos e tesouros mágicos encontrados no Templo dos
Delírios. Os mais freqüentes dizem respeito a talismãs mágicos que poderiam transformar qualquer
pessoa sã em um louco completo, passando pelos estágios de depressão, paranóia e alucinação;
Também ocorrem rumores quanto à existência de tomos mágicos contendo magias de controle mental
poderosíssimas (especulam-se que até as divindades poderiam ser afetadas! O que seria uma loucura...
ou não?) e objetos mágicos que desfazem ou criam quaisquer ilusões e magias de controle da mente de
níveis mais elevados.

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3.12 A Ordem de Selimom - O Alvorecer
Jânus fechou os olhos e a escuridão chegou.
A chuva escorria pelo seu corpo envergado em reverência ao nascer do sol distante. Seus cabelos
longos, enegrecidos pela vivacidade e juventude, permitiam que a água deslizasse para o soluto solo aos
seus pés. A dourada Couraça de proteção, ornamentada com jóias e ouro, dificultava a respiração
fatigante. Uma lança, ornada com ferro enfeitiçado, escondia seu cabo entre a lama provocada pela
chuva. De sua ponta escorria sangue.
As nuvens altas escondiam a luz revigorante do Sol, tornando o frio um inimigo inesperado. O vento
soprava fulgurante, trazendo a sinfonia das gotas ao tocarem o chão. Jânus sentiu o vento rasgá-lhe o
corpo, abrangendo cada laceração de seu abdômen.
— Minha... capa! Disse em uma voz de piedade, lembrando de um momento passado, onde se viu com
todo o traje de batalha, ornamentações e acessórios. Estava em pé, com o elmo no braço e a suntuosa
capa douradadjante ao vento sulista, tão pacífico naquele tempo.
A imagem apagou-se enquanto cuspia uma massa de sangue e muco, tingindo a terra molhada de um
vermelho latente. Levantou a cabeça e sentiu as gotas geladas escorrerem pela face, tocarem os lábios e
juntarem-se ao sangue expelido. Seu corpo empertigou-se quando uma onda de dor estremeceu por
dentro. Levou os braços ao torso, tentando impedir o sofrimento desejado. Levantou. Suas pernas
fraquejaram. Caiu. Estava deitado, contorcendo-se enquanto mais sangue escorria-lhe pela boca úmida.
Seus olhos tremiam, suas pernas agitavam-se suspensas no ar molhado. Era o que queria.
Lembrava pouco da rápida batalha. Sua lança usada para proteção fora puxada pelo inimigo, suas mãos
escorregando em contato com a água. O brilho da lâmina atingindo a coxa esquerda. A dor. Um minuto
depois, uma perfuração no abdômen. Sangue escorrendo pela fissura do corte. Usava a força. Sua lança
novamente nas mãos. O inimigo caído. Jânus caindo. A chuva caindo.
Reuniu sua pouca força restante e girou o pescoço na direção da lança ensangüentada. Observou as
gotas espatifarem-se no cabo, formando poçinhas de água no terreno enlameado. Aguçou os olhos e
divisou o vermelho. Estava molhado, atingido pelas incontáveis gotas da chuva. Parecia pesada, grossa.
Sua capa de batalha agora protegia o inimigo; o mesmo inimigo que há poucos minutos atrás tentara
matá-lo, e que agora conseguira. Jânus observava o homem com ar de preocupação, esquecendo-se por
pouco tempo de suas próprias dores.
Era estranho pensar assim. Era estranho pensar que Jânus protegera o inimigo que o envenenara, que
agora descansava inconsciente protegido da chuva com a capa de Jânus, enquanto seu salvador ardia em
tormentos e dores.
Jânus morria lentamente.
Ele era um Pacificador de corpo; um Mártir de alma.
— Minha... capa! Repetiu, mas ninguém podia escutá-lo.
Ainda sentia felicidade. E amor.

História
Para aqueles que carregam a bandeira da paz tomando para si o manto da caridade e da compreensão
para com o semelhante, o caminho é mais penoso do que se poderia imaginar à primeira vista. Para
aqueles a quem a paz cala fundo na alma e os preceitos mais elevados do espírito são a rotina do dia a
dia, os dias muitas vezes se transformam em terríveis pesadelos. E esses seres de atitudes nobres,
sinceros operários do bem, tão falíveis e mortais quanto qualquer um de nós, não raro se encontra
muitas vezes em um beco sem saída numa batalha pela vida em um campo dominado pela morte.
Muitas vezes sentimentos de perda, derrota e até impotência frente aos acontecimentos que só são
recompensados pela satisfação íntima do dever cumprido e da paz consciêncial e espiritual de servir a
um Deus tão benevolente quanto o é o Deus da Paz. Para estes filhos de Selimom o mundo de Tagmar

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é um desafio a ser vencido, um desafio que muitos não ousam abraçar tamanhos os esforços a serem
desprendidos, pois onde a guerra se faz soberana e muitos apenas ousam ansiar e aspirar pela paz, são
esses devotos da vida os verdadeiros responsáveis para que ela finalmente se torne realidade.
Nos séculos que se sucederam ao cataclismo o mundo entrou em uma luta desesperada para recobrar a
sanidade, foi nesse cenário que os Deuses vencedores começaram a se estabelecer em definitivo,
demarcar seus territórios, áreas de influência e seus fiéis. Foi nesse momento que um dentre tantos se
fez grande aos olhos de Selimom, um ser de puro de uma bondade contagiante, um ancião de cabelos
encanecidos e palavras doces, de membros já cansados, mas de mente aguçada, de caminhar lento, mas
de sábios ensinamentos, um velho humano chamado Berengar. A história retratada em textos antigos
bem guardados nas bibliotecas da Ordem, conta que Berengar recebeu uma visita de Selimom em
sonho, onde o Deus dizia que ele seria o fundador da maior Ordem do Deus em Tagmar, e que ele
havia sido reconhecido dentre tantos devido à sua devoção e elevação espiritual. Os textos ainda contam
que Berengar tomado de extrema emoção indagou a Selimom sobre onde seria edificada essa magnífica
construção e como ele sendo apenas um o faria. As escrituras dizem que Selimom sorriu e respondeu:
“Caminha para o sul o tanto quanto puderes que quando tu te encontrares no local certo teu coração
lho revelará que encontrastes aquilo que buscavas, quanto ao demais tende fé que tudo o mais lho será
acrescentado”. Em verdade quando Berengar chegou finalmente ao seu destino às terras que hoje são
conhecidas como Ludigrim, ele já contava com mais de uma centena de seguidores arrebanhados pelo
caminho, homens de várias nações de costumes e origens diversas, mas guiados por um mesmo ideal de
pureza, amor e paz.

Localização
Muito tempo se passou desde a chegada de Berengar a Ludigrim, porém a sede da Ordem continua
exatamente no mesmo lugar de onde foi edificada, ainda que várias ramificações tenham se espalhado
por toda Tagmar. Ao se consultar os mapas de hoje a sede da Ordem do Alvorecer, também conhecida
como a Ordem do Sol Nascente, pode ser encontrada a sudoeste de Donatar, a famosa capital do reino
de Ludgrim, imerso em uma densa floresta de Siltam conhecida por seus moradores como a “Floresta
da Paz”. A localização exata da Ordem é secreta e essa informação reside apenas na mente e no coração
daqueles que a conhecem, para aqueles viajantes que se aventuram na floresta os membros da Ordem
fazem todo o possível para ocultar-lhe a localização, se valendo de todos os artifícios para enviarem os
curiosos em direção diversa. Por esse motivo um número grande de Pacificadores Guardiões guarda o
perímetro da Ordem no intuito de manter intacto esse segredo. Um grande número de Guardiões,
salvos pela benevolência de Selimom e pelos préstimos da Ordem, colaboram para que essa permaneça
oculta. Esta localização secreta foi primordial para a resistência que se formou durante a longa ocupação
do reino pelos Bankdis, que tentaram de tudo para penetrar na floresta, mas não tiveram sucesso.

Símbolo
A Ordem é simbolizada pelo símbolo mais comum atribuído a Selimom, os mais antigos da Ordem
afirmam que a popularidade do símbolo se deve à Ordem que é representado por um belíssimo escudo
branco ricamente adornado com detalhes dourados levando em meio um magnífico sol também em
dourado.

Objetivo
A Ordem do Alvorecer é a maior Ordem dedicada ao Deus da Paz, Selimom, em toda Tagmar, e tem
como objetivo formar os noviços da fé para enfrentar as batalhas do dia a dia, assim como propagar e
expandir a fé para os quatro cantos do mundo conhecido. Como não poderia deixar de ser a Ordem
segue rigidamente todos os ensinamentos e determinações de Selimom, seus membros são
exaustivamente treinados para que não fraquejem frente às dificuldades da doutrina.
A Ordem se divide em duas vertentes: uma Clerical, onde se encontram os Mártires, e uma Militar,
composta quase que em sua totalidade por combatentes devotados a causa de Deus da paz, os
Pacificadores.

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Os Mártires
Aqui está reunida o grosso da Ordem do Alvorecer, praticamente 80% dos membros da Ordem fazem
parte das colunas dos Mártires. Esses Sacerdotes se voltaram para o caminho espiritual e se tornaram
mestres nas artes da cura e da vida, devotando toda a sua vida na descoberta e aprimoramento destas. A
eles não é dado o direito de portar armas de qualquer natureza que não seja um cajado, e tão pouco
envergar armaduras, seus alvos robes são toda a proteção que seus esguios corpos necessitam para que
se cumpra à vontade de seu Deus. Aos Mártires cabe a cura dos males do corpo e da alma.

Peculiaridades
Os Mártires trajam belíssimas e alvas túnicas bordadas com detalhes dourados em suas extremidades, o
símbolo da Ordem é carregado bordado nos hábitos dos monges na altura do peito tomando todo o
tronco. Alguns se utilizam também de medalhões e toda sorte de adereços religiosos. Todos os
Membros ao serem ordenados ganham um anel de ouro que os distingue como Mártires e como
membros da Ordem do Alvorecer. Tiaras feitas com cobre, ouro e prata são utilizadas para demonstrar
a ascensão hierárquica.

Votos específicos
Não atacarás um semelhante sob qualquer pretexto que não seja salvar uma vida ou a manutenção da
paz: Ainda que aos Mártires não seja permitido o porte de armas, caso ele se encontre nessa situação lhe
é permitido tentar defender-se e a outrem. De qualquer forma o carisma, a liderança e até mesmo os
milagres são suas melhores armas. Caso um Mártir esteja em companhia de profanos que não tenham o
mesmo respeito pela vida ou pela paz eles devem tentar dissuadi-los a todo custo e evitar que a paz e a
vida sejam desrespeitadas.
Nunca se utilizará dos instrumentos da morte: Esses sacerdotes não podem se utilizar de nenhum tipo
de armas com exceção do cajado.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Clericais. Os 3 cargos mais altos da Ordem do Alvorecer são conhecidos
respectivamente como: O grande Sol, o Sol nascente e o Sol poente.

Líder em atividade
Pelo menos a duas gerações de homens a direção da Ordem se encontra nas mãos da mesma pessoa,
um Meio-Elfo de nome Selros, Selrosde Galatel. Um ser que todos descrevem como sendo dotado de
uma bondade e beleza invulgar, de uma mente astuta e um carisma contagiante. Rumores quanto à
sucessão de Selros aparentemente são inexistentes, e é sabido que Selros mantém um ótimo
relacionamento com Darniar, visto que um bom número de Pacificadores fazem a defesa noite e dia da
Catedral de Selimom em Donatar.

Os Pacificadores
Existem momentos em que até para que a paz seja mantida se faz necessário pegar em armas, ainda que
o combate seja o último recurso aceito e utilizado pela Ordem às vezes ele é inevitável. Porém os
Pacificadores jamais serão vistos iniciando um combate ou mesmo matando seus oponentes a não ser
que não haja realmente outra saída. Alguns relatos contam de Pacificadores que quando apenas suas
vidas estavam em jogo, para não matarem seus algozes se deixaram prender ou até mesmo matar! Os
Pacificadores são versados nas artes da guerra com o intuito único de defesa, eles são treinados para
defender a Ordem, os Templos de Selimom e garantir a segurança dos fiéis sempre que se faça
necessário. Aos pacificadores é permitido o uso de Lanças leves e Maças.

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Peculiaridades
Os Pacificadores envergam belíssimas Couraças Parciais brancas ricamente adornadas com detalhes em
dourado. Acompanha a couraça um magnífico escudo de corpo inteiro, branco, com sol da Ordem em
meio. A placa peitoral da couraça ostenta o sol da Ordem que toma todo o tronco do Pacificador. Um
belo Elmo fechado também branco adornado de dourado protege as cabeças dos monges.
Completando a fantástica indumentária os Pacificadores envergam uma belíssima capa em dourado vivo
anexa à couraça por presilhas em formato de sol, há quem diga que a beleza de uma marcha de
Pacificadores não é superada por nenhum outro exército ou Ordem existente em toda Tagmar,
tamanha a beleza de suas vestimentas. Alguns Pacificadores se utilizam de medalhões e toda sorte de
adereços religiosos ou bélicos. Todos os Membros ao serem ordenados ganham um anel de ouro que
os distingue como Pacificadores e como membros da Ordem do Alvorecer. Não há distinção
hierárquica aparente.

Votos específicos
Não atacarás um semelhante sob qualquer pretexto que não seja salvar uma vida ou a manutenção da
paz: Aos Pacificadores cabe a proteção dos fiéis, porém o voto de não atacar lhe é tão válido quanto
para um Mártir, o Pacificador deve defender, ele é um defensor, nada mais. De qualquer forma a
imponência, o carisma, a liderança e até mesmo os milagres são as melhores armas dos Pacificadores
para evitar o pior. Caso um Pacificador esteja em companhia de profanos que não tenham o mesmo
respeito pela vida ou pela paz eles devem tentar dissuadi-los a todo custo e evitar que a paz e a vida
sejam desrespeitadas.
Se utilizará somente das armas permitidas pela Ordem: A Ordem concede aos Pacificadores o direito
de portarem e se valerem de lanças leves e Maças de Armas, para o cumprimento de suas funções, mas
ainda que armados os Pacificadores devem evitar a todo custo levar um combate até a morte. O respeito
pela vida até dos inimigos é a tônica da Ordem.

Estrutura
A Ordem do Alvorecer é muito mais clerical do qualquer coisa, logo a estrutura hierárquica dos
Pacificadores é muito simples se comparada à complexidade hierárquica de uma Ordem essencialmente
militar. Ainda assim a hierarquia existente deve ser respeitada.
Capitão: Um cargo mediano em uma Ordem militar, porém é o cargo mais alto dentre os Pacificadores.
Cabe a ele rege a “máquina de guerra” junto aos Tenentes.
Tenentes: Imediato do Capitão é responsável pelas tropas a seus comandos.
Soldados: Imediato dos Tenentes, aqui se encontram a maioria dos membros da Ordem.
Noviços: Imediato dos Soldados, o posto inicial para aqueles novatos na Ordem.
Os três primeiros graus da Ordem são conferidos mediante solene juramento com a presença de todos
os de mesmo grau e superior, sempre renovando os votos antigos e professando novos. A ascensão à
Capitão é conferida em uma solenidade com a presença votante apenas dos Tenentes.

Líder em atividade
O homem forte dos Pacificadores nas últimas três décadas tem sido um humano de aproximadamente
50 anos conhecido como Capitão Farastal. Farastal aparenta ser um homem bem sério que a pesar de
agradável e cortês para com aqueles que o procuram, parece não ignorar as dificuldades da sua missão
frente aos Pacificadores. Farastal é visto quase todo o em que fica acordado trabalhando, quando não
está dando ordens, checando as defesas da Ordem, o treinamento dos Pacificadores, ou qualquer outro
assunto pertinente a sua pessoa, é quase sempre encontrado conversando com Selros a quem aparenta
ter grande devoção.

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Votos Específicos
Nunca negará socorro aos teus semelhantes: Estes sacerdotes nunca devem negar socorro a um
semelhante independente da situação. Entende-se por semelhante, Humanos, Elfos, Anões e
Pequeninos.
Guardará teu corpo e tua mente de todos os excessos: Aos Mártires é imposta a disciplina Sacerdotal de
não aos excessos. Comida, bebida, diversão e outros mais só são benéficos se utilizados com sabedoria,
os excessos embotam os sentidos impedindo o sacerdote de ser um bom instrumento de seu Deus.
Guardarás voto de pobreza pessoal: Tudo quanto for dado ao Sacerdote por outrem é pertencente à
Ordem, tudo quanto a Ordem forneça para o uso pessoal do Sacerdote, é do Sacerdote, mas esse deve
se guardar de acumular riquezas pessoais.

Juramento
“Eu [nome completo] juro solenemente diante de meu Deus e seus representantes aqui presentes:
Minha lealdade eterna a Selimom, à Ordem do Alvorecer e a todos os seus membros;
Que socorrerei a todos os indefesos e necessitados independente de credo ou classe social;
Que guardarei com fervor todos os meus votos religiosos;
Que propagarei a fé em meu Deus por onde quer que eu passe;
Que guardarei e zelarei sempre pela paz e pela vida;
Que realizarei de bom grado tudo quanto me for solicitado pela Ordem e meus superiores;
Que defenderei até a morte qualquer pessoa ou objeto pertencente à Ordem;
Que mostrarei coragem e resignação diante da morte certa;
Que honrarei e respeitarei todos os seres;
Que escolherei a morte à quebra do meu juramento;
Que considerarei como irmãos de Ordem somente àqueles que proferirem esse juramento;
Que velarei por todos os fiéis de meu Deus como se fossem meus filhos;
Que nunca revelarei, nem sob tortura, os segredos da Ordem a indivíduos não iniciados;
Que todos os inimigos da paz, da vida e da Ordem são a partir de agora meus inimigos;
Que trabalharei incansavelmente para que a Ordem cresça forte e próspera;
Que seu eu quebrar esse juramento eu seja justiçado e expulso da Ordem;
Eu faço esse juramento no [dia corrente] e que a Selimom me abençoe e me dê forças para que eu
suporte a todas as adversidades e nunca fraqueje em minha caminhada”.

Saudação
O cumprimento da Ordem é feito levando-se a mão esquerda espalmada por de sobre o coração e
proferindo as palavras: “Que a paz esteja com você(s)”.

Relíquias
Caso as lendas sejam verdadeiras, talvez a maior relíquia da Ordem do Alvorecer seja uma pedra
misteriosa não maior do que a cabeça de um humano adulto, capaz de emanar grande luminosidade e
calor, e segundo os fiéis de realizar também toda sorte de milagres. Para aqueles que crêem na
existência da relíquia ela é conhecida como “A Pedra da Luz”.

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Ordem de Sevides,
Liris e Quiris

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3.13 A Ordem de Sevides, Liris e Quiris - Os Filhos da Terra
Haoz correu os olhos pelos campos de trigo uma última vez. As plantas refletiam o brilho dourado dos
primeiros raios de sol do alvorecer e moviam-se como ondas do oceano batidas pelo vento. A plantação
parecia se agitar, fremindo em espasmos, como que tomada por profunda alegria e impaciência pelo
que em breve iria acontecer.
O sacerdote sorriu: “Elas parecem adivinhar o que o senhor das plantações irá fazer” – murmurou.
Com um suspiro, ele levantou-se e começou a caminhar por entre as casas da vila. A reconstrução havia
começado. A destruição causada pelo ataque dos bárbaros no dia anterior fora considerável, mas nada
que estes bravos aldeões não pudessem remediar. Pelo menos as plantações puderam ser poupadas.
Ele cruzou a rua e parou defronte ao único edifício intacto na vila: o templo de Sevides, seu senhor. Ele
fora salvo do saque pelas vidas de alguns bravos jovens, que se sacrificaram, defendendo-o, dando ao
grupo de Haoz o tempo necessário para chegar e intervir, mudando o destino da batalha.
Vidas que seriam honradas no dia de hoje...uma delas muito especial para o sacerdote.
Ele continuou a caminhar por entre os casebres semidestruídos, cumprimentando um e outro aldeão.
Seu destino estava logo ali à frente, alguns metros fora do perímetro da vila.
Várias covas recepcionaram, emudecidas, a chegada do homem santo. Ele dirigiu-se para a direita, na
direção das mais recentes. Algum aldeão piedoso havia depositado flores nos montes de terra...uma
última homenagem para aqueles que agora estavam no reino de Cruine.
Haoz aproximou-se especificamente da última, onde um nome se encontrava gravado numa plaquinha
de madeira: Ruaz.
Ele se ajoelhou defronte a mesma...e começou seu monólogo:
“Eu vim me despedir. Estou de partida. Nosso grupo precisa voltar para a sede de nossa ordem. Mas
antes de ir quero que saibas que o senhor das plantações comoveu-se com o seu sacrifício e o de seus
confrades, quando defenderam tão bravamente o seu santuário. Graças a vocês, as plantações de sua
aldeia produzirão o dobro do normal. Graças a vocês, os seus amigos e vizinhos não padecerão de
enfermidades por algum tempo e graças ao seu sacrifício, a semente que plantaste no ventre de Hiane,
sua esposa, nascerá e crescerá saudável, assim como toda aquela que for conceber a partir deste
momento. A descendência da família está preservada. Eu te prometo que quando a criança crescer, se
eu ainda estiver entre os vivos, saberá de minha boca quem foi o seu pai, e ela recitará os nomes de sua
linhagem quando for apresentada ao conselho de anciãos. Esta graça divina será concedida porque você
e seus amigos não fugiram quando todos os outros abandonaram o senhor das plantações. Orgulho-me
de ser o portador e o realizador deste milagre, em nome de Sevides “.
O sacerdote levantou-se e acenou para a lápide dizendo: “Ainda voltaremos a nos encontrar... um dia!
Adeus... meu filho!”
Virou-se. Uma lágrima... uma única, escorreu de sua face enrugada e queimada pelo sol. Ele ergueu os
braços, olhou para os céus e começou a orar...

História
Acima de qualquer coisa, para todos aqueles que vivem no campo e do campo, Sevides é
invariavelmente o grande deus das colheitas e plantações. É aquele que leva alimento e fartura às mesas
de todos os seres, e isso é inegável. Todos aqueles que desejam uma colheita farta pedem as bênçãos de
Sevides. Todas as vezes que as colheitas vão bem os festejos são em homenagem a Sevides e quando as
coisas vão mal, oferendas e pedidos de desculpa e piedade também são feitos a ele. Por isso, Sevides
talvez seja o deus mais popular de todo o panteão, uma vez que cada camponês leva com grande fervor
esse deus normalmente generoso no coração. Além disso, Sevides é a divindade responsável pela
fertilidade das raças, pela manutenção das espécies. Todas as pessoas que tiveram a graça divina de
poder gerar descendentes e tiveram suas criações aumentadas em número, entoam cânticos e preces de
agradecimentos a ele. Apesar de não terem o mesmo status que seu pai, os irmãos Quiris e Liris

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também são cultuados pelos camponeses, pois deles decorre, ainda que indiretamente, o sucesso do
plantio e da colheita das bênçãos concedidas por Sevides.
No início da era dos homens muito, muito antes das guerras, dos reinos e das grandes capitais, as
pessoas começaram lentamente a deixar a vida nômade e a se aglomerarem em pequenas comunidades
que logo se tornaram comunidades rurais, com isso um dos primeiros grandes ofícios que os povos
aprenderam foi efetivamente o do plantio e da colheita. A partir desse momento, então, Sevides (com
maior importância) e seus filhos, Liris e Quiris, entraram na vida dessas pessoas simples para nunca
mais sair, pois com a dependência das práticas agrícolas veio a evidente necessidade de pedir e receber
as bênçãos do alto. Com isso os primeiros sacerdotes a surgirem nas terras do mundo conhecido muito
provavelmente tenham sido os sacerdotes da tríade agrária. Esses passaram a andar entre aos
camponeses, vila após vila ouvindo, aconselhando, abençoando os plantios e agradecendo as colheitas.
Esses homens santos, saídos dessas humildes famílias de camponeses, como não podia ser diferente,
eram também pessoas simples e humildes que logo ganharam a simpatia, a admiração e o coração não
só dos fiéis, mas também dos próprios deuses que passaram a se orgulhar muito do bom serviço
prodigalizado por seus representantes. Muitas vilas cresceram e se tornaram grandes cidades; muitos
humildes camponeses tornaram-se, através das gerações, grandes donos de terras. E assim, como
aumentava as práticas agrícolas, também aumentava a fé e a necessidade de representantes dessa.
Fatalmente as melhores áreas para o plantio foram sendo identificadas e logo estas se tornaram o maior
foco de influência desses sacerdotes e conseqüentemente da fé.
Muito antes de o reino Eredra vir efetivamente a se chamar Eredra e até mesmo ser um reino, o mais
velho dentre os sacerdotes de Sevides, talvez por inspiração divina, chamou para si a responsabilidade
de fundar uma Ordem em homenagem a seu deus; seu nome era Sorvares. Com toda humildade que
esses clérigos sempre demonstraram, eles arregaçaram as mangas e puseram-se a trabalhar. Contando
sempre com a maciça colaboração dos camponeses, que viviam nas vilas ao redor, e com muito suor e
boa vontade, em pouco mais de dez anos, Sorvares, com a ajuda dos seus e de uns poucos outros
sacerdotes devotos de Liris e Quiris já havia erguido uma estrutura digna do deus Sevides e seus filhos:
O Templo da fartura.

Localização
A Ordem dos Filhos da Terra é uma das poucas Ordens do mundo conhecido que possui uma
localização conhecida por todos. Ao se consultar os mapas mais atuais, essa pode ser encontrada
especificamente ao sul de Efrim, capital do reino de Eredra, em uma extensão de terras compreendida
entre os rios Liris ao norte, Quiris ao sul e o Sevides a oeste. A construção em si, apesar de ser bem,
bem antiga, é sólida, assim como parece ser a fé de seus fiéis.
Construído basicamente em pedras e blocos de barro cozido, com acabamentos em madeira, o Templo
da Fartura, a sede da Ordem dos Filhos da Terra, é uma obra a se admirar, não pelo esplendor, mas
pela rusticidade e resistência. Para aqueles afeitos a esse tipo de observação, como anões, por exemplo,
poderão facilmente notar que o estilo arquitetônico utilizado como base é, há muito, perdido nas areias
do tempo. Muito da parte interna, e também da externa mais próxima da Ordem, é dedicada ao plantio
de culturas por parte de seus acólitos e sacerdotes, tanto para o aprendizado quanto para a subsistência
da própria Ordem. Em uma época de safra a visão da Ordem em meio àquele conjunto de plantações é
um espetáculo à parte. Os Templos de Sevides, Liris e Quiris, por sua vez estão espalhados por toda a
Tagmar e seus sacerdotes talvez sejam os mais comuns e mais fáceis de serem encontrados
principalmente em se tratando de áreas rurais, e muito provavelmente estes também sejam, de longe, os
sacerdotes mais numerosos.

Símbolo
O símbolo da Ordem é o de um homem de barro sentado, joelhos unidos e voltados de encontro ao
peito, braços cruzados estendidos ao longo das pernas, em uma das mãos, um feixe de trigo; em outra,
uma foice. O corpo arqueado por cima das pernas e cabeça voltada para baixo apoiando nos joelhos,
como que em uma posição fetal. Ao seu redor, envolvendo-o, um círculo de estrelas.

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A alegoria do símbolo da Ordem com as divindades não poderia ser mais claro. Estes fiéis reverenciam
a fertilidade da natureza, a semeadura e a colheita, acreditando realmente que seus três deuses regem
estes aspectos do panteão divino.

Objetivo
O objetivo da Ordem dos Filhos da Terra é igual ao de todas as Ordens Sagradas: o de levar as suas
crenças e a fé em seus deuses aos quatro cantos do mundo conhecido, e aparentemente de todos os
sacerdotes representantes do panteão estes são os que parecem estar obtendo mais sucesso (no tocante à
adoração a Sevides). A receita desse sucesso é tão clara quanto a Ordem em si: suas doutrinas são claras
e simples, seus representantes são pessoas também simples e humildes, falando praticamente a mesma
linguagem de seus fiéis, uma vez que possuem uma mesma origem e uma mesma paixão. A
exteriorização máxima de sua fé são as culturas e estas são imprescindíveis para a sobrevivência das
raças. Estes já conseguiram, com muito trabalho e as bênçãos de Sevides, colocar Eredra como o
“celeiro do mundo conhecido”, e uma vez que seus dogmas já alcançaram até as escaldantes areias da
Levânia parece que não existem limites para esses obstinados representantes de Sevides e seus filhos.

Os Filhos da Terra
A heterogeneidade parece sempre ter sido sinônimo dessa Ordem. Ainda que uma boa parte dela como
um todo seja, nos dias de hoje, originária de Eredra, Sevides possui e sempre possuiu seguidores dentre
todos os povos. Já Liris e Quiris tem seu culto restrito a alguns locais pontuais. A aceitabilidade dos
dogmas e doutrinas da Ordem parece ter facilitado e muito a penetração desta em todos os reinos
conhecidos e não há talvez alguém que possa afirmar com certeza que a fé nos deuses dos plantios ainda
não tenha chegado em qualquer lugar de Tagmar.
A humildade e a resignação talvez sejam as virtudes mais fortes e visíveis dos membros dessa Ordem.
Talvez, para muitos Sumo Sacerdotes de Tagmar, a visão do líder espiritual da Ordem dos Filhos da
Terra seja ,no mínimo, degradante para o cargo que ele ocupa. Na verdade, de todos os líderes
máximos de Ordens existentes no mundo o Sumo Sacerdote da Ordem dos Filhos da Terra talvez seja
o mais amigável e acessível de todos.
A despeito dos temperamentos individuais de cada um, esses sacerdotes são pessoas bem centradas
nesses valores (humildade, simplicidade e resignação), o que tem feito com que a Ordem tenha
sobrevivido aos séculos.
Um fator curioso, que tem ocorrido nos últimos tempos, tem sido o incremento de um antigo e, até
então, discreto clero nascido dentro do seio da Ordem dos Filhos da Terra: o clero de Liris e Quiris.
Estes ainda estão em número bem pequeno e necessitam do amparo e proteção do que eles chamam de
o Grande Pai, mas seu número tem, aos poucos, aumentado, principalmente junto às populações
ribeirinhas dos rios de mesmos nomes. No momento, a grande missão desses sacerdotes, é, sem dúvida,
a disseminação dos dogmas de seus deuses e a fundação de uma Ordem própria (inclusive tendo
conseguido as ordenações de dois sumos-sacerdotes de suas divindades). Entretanto, esta tem se
mostrado uma empresa ainda difícil.
A Ordem dos Filhos da Terra possui duas subdivisões mais ou menos definidas, respeitadas as
particularidades doutrinárias de cada sacerdote e a peculiaridade de cada situação em que se exige a
intervenção do clérigo:

Os Semeadores
É a face mais conhecida da Ordem. Aqui os sacerdotes dos três deuses envolvidos na temática agrária
de Tagmar cumprem seus papéis como homens santos de suas divindades. Eles exortam os agricultores,
ajudando-os a cuidar da terra, a lavrá-la, semeá-la, irrigá-la, adubá-la e coisas similares e relacionadas ao
cultivo das plantações. Também acompanham e auxiliam os camponeses na época da ceifa. Os
sacerdotes de Sevides, em particular, devido ao fato da divindade estar relacionada à fertilidade (tanto
humana, quanto animal), aconselham casais, realizam casamentos (alguns podem chegar a extremos de
realizar partos!), cuidam das gestantes, garantindo-lhes a fertilidade, bem como também ajudam na

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orientação e manejo das criações de animais (suínos, bovinos, caprinos, ovinos, aves, etc) no tocante à
parte de fertilidade dos mesmos.

Os Ceifadores
É até estranho mencionar esta ala da Ordem dos Filhos da Terra, sendo ela devotada a fins tão
pacíficos, mas, em determinadas situações (e elas não são tão escassas assim), os sacerdotes precisam
pegar em armas para defenderem seus fiéis e suas lavouras e criações (além de seus santuários), quando
nenhuma outra força se levanta para tal função. Este é o braço militar da Ordem. Aqui, os sacerdotes
empregam seus conhecimentos no manejo das armas para executarem missões de proteção/prevenção a
vilarejos ameaçados de terem suas plantações arrasadas por ataques de bárbaros, orcos e outras
ameaças.

Peculiaridades
Os Filhos da Terra se vestem com extrema austeridade se comparado com seus “irmãos” de outras
Ordens. Estes trajam pesados mantos com capuz marrom terroso amarrados a cintura por uma corda
cerimonial que simboliza seu voto de comprometimento com a Ordem, também em marrom terroso.
Medalhões de madeira ou metal podem ser encontrados, mas outros adereços mais rebuscados são
raros. O próprio Sumo Sacerdote utiliza um medalhão de ferro com o símbolo da Ordem, e não raro
você verá um desses sacerdotes, ao invés de impecavelmente trajado, se encontrar sujo, suado,
trabalhando a terra com mãos rudes e calejadas, mas quase sempre com palavras doces.
Entretanto, quando atuam na função de ceifadores, os sacerdotes da Ordem ostentam couraças parciais
bem trabalhadas, mas não tão rebuscadas e cheias de adereços, também na coloração marrom terroso.
Envergam grandes escudos redondos, de metal e madeira, com o símbolo da Ordem gravado a ferro
nos mesmos e usam elmos de metal, sem enfeites, também nas cores da Ordem. As armas preferidas
dos sacerdotes são as espadas curvas (muito similares às cimitarras e foices).

Votos Específicos
Reconhecerás a terra como a origem do sustento da criação dos deuses: Os Filhos da Terra acreditam
fielmente que o solo é a maior dádiva dos deuses aos seus filhos, garantindo-lhes o sustento. E como
toda dádiva, deve ser bem cuidada e protegida. Os sacerdotes, inclusive tem o hábito de enterrar seus
mortos não colocando-os dentro de caixões (que visa conservar o corpo), mas apenas envoltos em
mantas ritualísticas, o que facilita a absorção dos restos mortais pela terra, fertilizando-a.
Reconhecerás todos os Filhos da Terra como seus legítimos irmãos: Esse voto é quase que
desnecessário para estes que devido ao seu caráter já agem dessa forma naturalmente considerando a
todos os seus irmãos de fé como verdadeiros irmãos e quase sempre estes também verão seus fiéis
senão como irmãos, certamente como filhos e filhas.
Dará de comer aos que tem fome e de beber aos que tem sede: A miséria é repugnada pelos filhos da
terra que jamais deixarão qualquer um morrer de fome ou sede, não raro a Ordem acolhe os miseráveis
e os leva para as lavouras afim de que esses aprendam o ofício e nunca mais passem necessidade.
Guardar-te-ás do acumulo irracional de riquezas: Para esses clérigos o dinheiro em si não representa
quase nada, ninguém come ou bebe ouro e prata e na verdade não existe a menor necessidade de se
acumular riquezas para que se viva bem. A ganância desmedida natural da raça dos homens parece
realmente não afetar esses fiéis.

Estrutura
Vide estrutura das Ordens Clericais. Por se tratar de uma Ordem dedicada a três divindades, a mesma
possui em sua estrutura de liderança um triunvirato: um sumo-sacerdote para Sevides, um para Líris e
outro para Quiris. Entretanto, o grande líder da Ordem, por possuir mais adeptos e acólitos, sempre foi
o sumo-sacerdote de Sevides.

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Aparentemente não há qualquer diferenciação hierárquica ou marca que os distingam como membros
da Ordem além de suas vestes. Vale lembrar que a Ordem não é pobre, seus caixas possuem tanto
dinheiro quanto seja necessário para sua confortável manutenção. O mais importante, que é o alimento,
a Ordem possui tanto em fartura quanto em variedade, distribuindo-os aos mais necessitados em épocas
de grandes secas, enchentes ou catástrofes.A Ordem possui, inclusive, seus próprios vinhedos que são
de ótima qualidade. O fato é que, o acúmulo desmedido de riquezas não é o foco desses devotos, e a
Ordem, ao contrário da maioria das outras Ordens, não é nada ostensiva.
O Sumo-Sacerdote da Ordem dos Filhos da Terra costuma ser chamado de "O Grande Lavrador".

Líder em atividade
O grande líder espiritual ("Grande Lavrador") dessa Ordem é um venerável ancião de cabelos
encanecidos de nome Marcus Columbano (ou simplesmente Columbano, como é conhecido), sumo-
sacerdote de Sevides em Eredra, que apesar de seus mais de 70 anos demonstra uma energia
sobrenatural ao continuar suas atividades eclesiásticas, levando sempre a palavra e as bênçãos de sua
divindade. Principalmente para os camponeses de Eredra a simples benção de Columbano por suas
vilas já é um ótimo presságio de uma boa colheita.
Columbano já está à frente da Ordem a mais de 30 anos e é quase uma lenda viva sendo venerado por
todos, inclusive por seus próprios sacerdotes (em alguns casos até mesmo os que são devotos de Liris e
Quiris) a quem ele faz questão de chamar de filhos. Columbano é uma pessoa doce e calma que parece
ter alcançado uma “paciência élfica” ao longo de sua vida. Apesar de sua posição de líder, a sua
humildade parece só ter aumentado com o passar dos anos e ele mesmo diz que quando se é velho
aprende-se a dar o devido valor para cada coisa. Apesar de sua idade já avançada para os padrões
humanos o idoso sumo-sacerdote vende saúde e seu grande carisma e adoração por parte de todos
destrói qualquer especulação de sucessão.
Devem ser mencionados, além de Columbano, os demais sumos-sacerdotes componentes do triunvirato
da Ordem dos Filhos da Terra: Ariberto Zugoz, sumo-sacerdote de Quiris e Imiliatânis Therudrim,
sumo-sacerdotisa de Líris, ambos de Eredra.

Juramento
Qualquer sacerdote desejoso de tomar os votos, que possua em seu coração a vontade de abraçar os
dogmas da Ordem e trabalhar em prol da fé na tríade divina é sempre bem vindo para engrossar as
fileiras destes. Há sim, uma cerimônia de iniciação simples e pública, podendo ter a presença dos fiéis,
onde o sacerdote que profere a cerimônia “apresenta” o candidato a Sevides, Líris e Quiris e fala a eles
da vontade do acólito de tomar os votos sacerdotais. O candidato apenas jura manter a guarda de seus
votos e de sua crença. A cerimônia sempre termina com uma explanação sobre a fé e a missão de um
representante da Ordem e um pequeno banquete para os presentes, onde as pessoas comem bem e são
bem tratadas.

O Juramento
"Eu, (nome do acólito), juro, perante a Tríade divina e diante dos meus companheiros, que somente
ferirei a terra para dela tirar meu sustento; que zelarei e darei a ela e aos animais a minha proteção; que
respeitarei as suas riquezas; que serei justo e nutrirei todo aquele que tiver necessidade; que auxiliarei na
semeadura e na colheita todo aquele que de meus préstimos necessitar; que encorajarei o matrimônio e
a fecundidade dos povos; que cuidarei das grávidas e nutrizes e darei a elas os meus conhecimentos e
atenção; que zelarei pela observância dos meus votos e pela união da Ordem.”

Saudação
A saudação da Ordem é feita erguendo-se ambos os braços com as mãos espalmadas para cima como
que em súplica aos céus e proferindo as palavras: “Que os deuses mantenham sua mesa farta”.

100
Relíquias
A posse de itens mágicos poderosos por parte da Ordem é discutível. Apesar de não haver grandes
especulações quanto a isso e aparentemente a Ordem possuir apenas pequenos amuletos e coisas dessa
natureza, alguns bardos e contadores de histórias divagam afirmando que nos sótãos da biblioteca da
Ordem existem artefatos e tomos de magia com encantamentos poderosos. Estes seriam capazes de
trazer a ruína às plantações de todo o continente, bem como permitir que uma área totalmente
improdutiva se transforme num verdadeiro celeiro, onde tudo que se planta, viceja e dá frutos. Os mais
ousados juram que a Ordem possui um artefato antiqüíssimo que pode causar a esterilidade de todas (!!)
as fêmeas vivas do Mundo Conhecido, desde animais, monstros e similares até as raças civilizadas de
Tagmar, impedindo a sua procriação e, conseqüentemente, levando a extinção total desta espécie.

101
Epílogo

102
4 Epílogo
Chats estava em chamas...
A horda bankdi penetrara a última linha de defesa da cidade e se esparramava pelas ruas, praças e
vielas. Morte, destruição e sangue acompanhavam seu rastro.
A unidade onde me encontrava fora incumbida de defender a praça de acesso à entrada principal do
Palácio Imperial. Teríamos de barrar o avanço da turba assassina até a comitiva real conseguir escapar
do cerco.
Estávamos condenados... sabíamos disso.
Mas eu sentia paz. Após tantos anos combatendo a seita, entregando-me de corpo e alma a isso,
finalmente eu poderia ter paz...
A multidão de guerreiros inimigos surgiu na praça que nossa unidade iria defender. Eles eram tantos
que cheguei a temer que muitos de nossos combatentes debandassem.
Não titubeei. Com um grito em minha garganta lancei-me em direção dos monstros. Um coro de
centenas de vozes acompanhou-me e a carnificina começou.
A matança foi terrível. Perdi a noção de quanto tempo passara, de quantas bestas derrubara. Um frenesi
assassino tomara conta de mim. Nada mais existia no mundo exceto a fúria de exterminar aqueles
malditos adoradores de demônios. Nada mais valia a pena. Nada mais importava...
“Kerdal”
A voz.... de novo aquela voz....
“Kerdal, que estás fazendo?”
Olhei ao meu redor, procurando quem falara comigo. Não vi ninguém. Estaria ficando insano?
“Kerdal, você se esqueceu do que você é?”
Foi quando o vi. Um guerreiro, no meio do caos, da fúria da matança, da loucura... ele caminhava em
minha direção, lentamente, calmamente. Parecia ignorar o que acontecia ao seu derredor...
“Kerdal, você se esqueceu de quem você é?”
Sua armadura brilhava numa luz sobrenatural, seu escudo emitia lampejos cegantes, sua espada pendia
majestosa da bainha...
Fiquei parado. Não conseguia me mover.
Ele se aproximou de mim. Uma aura poderosa de nobreza, sinceridade, honradez e justiça emanava de
sua pessoa. Sua voz era firme, porém afável.
“Kerdal, você se esqueceu de mim...meu valoroso servo?”
Crizagom?!
O ruído da batalha perdeu o sentido para mim. As mortes, os golpes, o sangue derramado, o caos, as
chamas... tudo parecia distante...
“Meu Senhor...” –Curvei-me diante dele.
“Você se esqueceu, Kerdal. Você se esqueceu do que representa, do que você simboliza... a essência
dos preceitos que jurou um dia servir...”
Mas, como? Eu dedicara toda a minha estada em Filanti a... combater a seita e destruí-la! Do que eu
havia me esquecido?
Ele estendeu sua mão para mim.
“Venha comigo, Kerdal. Sua luta não é mais aqui. Eu lhe mostrarei a sua nova missão. Este pedaço de
terra está perdido. Você precisa sair daqui e ir para outro lugar”

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Não entendi. Como assim sair do meio da luta e ir para outro lugar? Eu devia fugir? Como um
covarde?
“Eu o levarei a novas paragens e a novos conhecimentos. Eu o guiarei até o seu destino”
Eu queria resistir, dizer-lhe que aquilo não fazia sentido... um sacerdote de Crizagom não fugia como
um covarde de uma batalha, que meu lugar era ali, junto de meus companheiros. Mas alguma coisa
naquelas palavras, naquele semblante, arrastava-me para longe de tudo aquilo...da morte de mais um
reino... de mais um fracasso...
Lágrimas começaram a cair de meus olhos...
“Venha, seu destino o aguarda...”
Ergui-lhe minha mão banhada em sangue bankdi...
***
Em algum lugar próximo a Fétor. Nordeste de Filanti. 1380 D.C.
O ribombar dos trovões arrancou-me da cama. Acordei banhado em suor, apesar da ventania que
entrava pela abertura de minha tenda.
Tivera aquele estranho sonho mais uma vez. O sonho que atormentava o meu espírito há quase três
meses. Era a mesma coisa sempre... Chats em chamas, a luta insana, o aparecimento do guerreiro
divino, que eu teimava em achar ser Crizagom e suas palavras enigmáticas sobre esquecimento, derrota,
destino e fuga para outro local...
Aquilo não fazia sentido. Um sacerdote do deus da honra e da justiça não fugia de uma luta como um
covarde... e do que eu havia me esquecido?
Balancei a cabeça e afastei aqueles pensamentos. Levantei-me e fui até a bacia de água lavar meu rosto.
Respirei fundo.
Aquela maldita guerra sem fim já devia estar afetando as minhas faculdades mentais.
Noventa anos!...
Já fazia noventa anos desde que eu chegara a Filanti, vindo de Abadom. Noventa anos em que eu nada
mais fizera do que combater demonistas e demônios por toda a extensão da fronteira deste país...
O preço da longevidade, às vezes, era duro de se pagar. Ver morrer e enterrar cada uma das pessoas
queridas que haviam chegado comigo a este pedaço de Tagmar era um desses fardos que um meio-elfo
teria que carregar...
Leimar, Arctus, Clarn, Imlad, Harim...
Eu era o único sobrevivente...
Quanta coisa acontecera neste período.
O Norte estava sendo dominado pela Seita. A Aliança não conseguia derrotar os invasores.
Um após o outro eles caíram... Primeiro Luna. Depois, Abadom finalmente sucumbira. A seguir, o
reino da cidade de Runa...
Nem os poderosos magos daquela região puderam resistir. Correram boatos, naqueles dias, que os
demônios haviam lançado sobre eles uma terrível criatura que não era atingida por seus sortilégios.
Todos temíamos que a mesma fosse lançada contra nós, naquela ocasião... ou ainda o será.
Depois de Runa, Plana fora a próxima a ser invadida.
E, por fim, Filanti...
Já fazia trinta e dois anos que os combates passaram a ser travados dentro do território do país.
Havíamos resistido bravamente a uma invasão antes desta época, mas as sombras, no fim, alcançaram
esta região.

104
O Sul, na fronteira até perto da floresta de Gironde, já pertencia aos exércitos das Trevas. Esperava-se
um ataque em larga escala contra Mutina, vindo do sul; contra Capela, vindo do Lago Denégrio; contra
Rapso, do outro lado da floresta de Gironde, vindo da dominada Luna e outro em Fétor, cruzando o rio
Lara, vindo de Runa. O local onde me encontrava neste momento.
Alguns espias haviam nos informado das tribos de orcos que habitavam as montanhas de Keiss, que nas
regiões circunjacentes à cidade estavam se agrupando, liderados por um bruxo bankdi que se infiltrara,
por sabe-se lá que meios, no local e planejavam organizar um exército para um ataque conjunto à
cidade, juntamente com as forças demonistas que marchariam do Leste do rio Lara.
A unidade de guerreiros na qual eu me encontrava fora designada para patrulhar a área próxima à
cordilheira, mas até aquele momento não havia sinal de atividades da seita ou dos orcos.
Não conseguindo conciliar o sono, saí de minha tenda. O vento cortante banhou minha face com seu
gélido toque. A alvorada que chegava ameaçava não se completar devido às feias nuvens negras que
rapidamente se formavam nos céus. Uma tempestade se avizinhava de nosso acampamento.
Uma tempestade... as trevas encobrindo a luz.
Parecerá ridículo e até profano pensar isto, mas algumas vezes a sensação de futilidade era esmagadora.
Agora, que a maior parte desta terra enegrecida pelo pavor da guerra pertencia aos malditos lordes
infernais e seus servos carniceiros, soa fácil ficar desencorajado. Algumas vezes eu sinto que agüentar
este fato, após uma centena de anos combatendo a seita, não significa mais nada. Que observar a lenta
morte deste mundo e de seus povos significa ainda menos. Nossos esforços pareciam não fazer a menor
diferença...
Estaria eu perdendo a fé? Será que era sobre isso que Crizagom me alertava?
Um novo trovão ecoou ao longe. Alheio a isto, voltei novamente meus pensamentos para o sonho que
teimava em não se retirar de minha mente. A idéia de sair de Filanti não passava pela minha cabeça.
Apesar de todos os meus pensamentos pessimistas, ainda a chama da honra queimava em meu coração.
Mas o sonho me afirmava que esta terra estava perdida. Que meu lugar não era mais aqui. Que meu
destino não pertencia mais a Filanti...
Não podia ser coincidência um mesmo sonho repetir-se durante tanto tempo. Meu senhor me avisava
de que algo aconteceria em breve...
Mas o quê?...
***
Mais uma vez Targo tivera um sonho que lhe perturbava não pelo seu conteúdo, mas pelo seu
significado...
Ele via, em meio a uma grande batalha, um leão. Um leão encurralado. Mas era um leão diferente dos
que ele já vira quando criança, nos espetáculos circenses em sua cidade natal.Ele portava o símbolo de
seu deus marcado em sua testa.
Dezenas de seres demoníacos cercavam este leão e tentavam derrubá-lo com suas garras, com suas
chamas, com suas armas. Mas a cada investida das criaturas, o felino rugia mais alto e lutava com muito
mais força.
E ele apenas observava o felino lutar. Ele não conseguia intervir. Seus braços estavam torpes.. seus pés
paralisados.
Mas algo dentro de si, um sussurro discreto, lhe dizia para ir até o felino e levá-lo consigo, tirá-lo
daquele local, cuidar dele, ensiná-lo e dirigi-lo no caminho certo...
Que aquilo era importante...
Ele não entendia como faria isso. Como ensinar um animal? Aliás, seria um animal?
Às vezes, ele pensava consigo mesmo, seu senhor lhe falava das maneiras mais estranhas.
Mas esta suplantava todas elas...

105
Mesmo no sonho, Targo sorriu.
***
A trovoada chegara e a chuva já durava dois dias. O acampamento se tornara um grande lamaçal e eu
me perguntava se algum dia o mundo acabaria em uma grande inundação.
Mas, no momento, minhas idéias de um apocalipse diluviano estavam eclipsadas pelas notícias que os
batedores havia me trazido – “Mestre Kerdal, os orcos se movimentaram! Vimos um grande grupo deles
se dirigindo para a vila de Leand, distante quase um dia e meio de viagem.” – Pensei... Se nos
apressássemos, poderíamos surpreender as criaturas e proteger o vilarejo de um ataque iminente. Não
se tinham notícias se os habitantes do vilarejo haviam sido avisados. Os batedores não souberam nos
informar...
Partimos ainda naquele dia, debaixo de uma chuva fina, que se sucedera à tempestade anterior, mas que
ainda enregelava os nossos corpos debaixo das armaduras. Nosso grupo era formado por cerca de
duzentos guerreiros, alguns arqueiros e uns poucos sacerdotes de Blator, Selimom e Crezir, estes
últimos vindos da Moldânia. Eu era o único sacerdote de Crizagom na minha unidade, pois a maior
parte de meus confrades lutava na resistência do sul, perto de Mutina.
Cavalgamos durante muitas horas avançando alguns quilômetros para dentro de Filanti. Os picos da
cordilheira de Keiss estavam bem visíveis para nós quando acampamos ao cair da noite. Estávamos mais
perto do vilarejo. Eu demorei a me deitar, temendo o que me aguardava em meus sonhos, mas acabei
cedendo ao cansaço e adormeci, orando a meu deus por uma noite mais tranqüila antes do início dos
embates no dia seguinte.
***
Targo havia recebido informes de que uma horda de orcos vindo das montanhas se precipitava sobre as
vilas espalhadas pelo vale. Os relatos, vindos de fontes que pareciam confiáveis, incluíram, também, que
um destacamento do exército filanti se dirigia para o local, mas eles não chegariam a tempo de proteger
os habitantes das bestas assassinas. Segundo os dados, as criaturas se dirigiam rapidamente para a vila de
Leand, que, por motivo ignorado, não pudera ser alcançada para ser alertada do grave perigo que
espreitava seus arredores.
Seguindo os preceitos que jurara defender desde que adentrara a ordem, Targo levantou acampamento
e conduziu seus oitenta acólitos em direção a Leand. Com as bênçãos divinas eles chegariam a tempo de
segurar a horda inimiga, mesmo à custa de suas vidas, até o destacamento filanti chegar e intervir.
Sempre fora assim. Sempre seria assim...
Mas não foi.
***
Na minha longa vida de meio elfo meio humano presenciei algumas coisas vis neste mundo
corrompido. Assassinatos, violência, injustiças, escravidão, fome, miséria, destruição, entre outras. Mas
uma das piores, que, particularmente, mais me enoja é a traição... Pois foi isso que quase vivenciamos,
naquele dia, no vilarejo de Leand.
Fôramos conduzidos a uma armadilha. Nunca soubemos se os batedores haviam se vendido aos
poderes das trevas ou já eram adoradores da seita que se infiltraram em nossas linhas. Fomos
conduzidos, inocentes e puerilmente, como ovelhas para um abatedouro. Confiáramos, cegamente, nas
informações que tínhamos recebido.
Tudo poderia ter sido diferente, se Crizagom, mais uma vez, não tivesse intervido...
Havíamos levantado bem cedo e puséramos nossos corcéis em marcha no primeiro raiar do dia.
Estávamos ansiosos para chegar até a vila, alertar seus aldeões e elaborar um plano de defesa da mesma,
que nos permitisse manobrar rapidamente, impedindo os orcos de fugirem para outros locais.
A vila de Leand ficava num vale muito bonito, cortado por alguns regatos de água límpida, bem próxima
aos contrafortes das grandes montanhas que formavam a cordilheira de Keiss, que atravessava grande

106
parte da extensão territorial de Filanti. Pequenas florestas de abetos e árvores de médio porte
quebravam a paisagem rústica do lugar.
Nos aproximamos do local onde estaria o vilarejo, atrás de um pequeno monte, quando ouvimos sons
de batalha...
Os orcos haviam chegado antes de nós!!
Tomados de um sentimento de profunda urgência, tiramos até a última força de nossos cavalos numa
cavalgada alucinada pela pequena elevação. A cena que se descortinou quando atingimos o topo fez-me
prender a respiração...
O vilarejo era composto de algumas dezenas de casas simples, construídas com madeira e espalhadas
aleatoriamente pela área urbana. Nenhuma moradia estava em chamas, mas também não vimos
nenhum aldeão... o que vimos foi um grupo pequeno de guerreiros acuados, no que parecia ser a praça
central da vila, defendendo-se de um grande número de criaturas. Conseguimos identificar alguns orcos
nas imediações do vilarejo, mas os demais atacantes não pudemos reconhecer devido à distância.
O nosso grupo ficou paralisado por um breve instante... tudo não passara de uma cilada. Um embuste...
e quase caíramos nele. Se não fossem aqueles guerreiros lá embaixo, poderíamos ter sido nós os
emboscados.
Não sei o que deu em mim, mas alguma coisa me fez empurrar meu cavalo para frente, que saiu em
desabalada carreira, descendo a colina numa galopada espetacular. Atrás de mim, o grupo de sacerdotes
de Crezir e de Blator levou uma pequena fração de tempo a mais para ter a mesma reação... os
guerreiros vieram a seguir.
Saquei minha espada enquanto segurava as rédeas do corcel. Um grupo de orcos formava uma massa
pouco compacta numa das ruas laterais ao centro da vila. Era para onde o animal me levava. Eu teria de
atravessá-la para chegar até os defensores do outro lado.
O grupo de guerreiros defendia-se de maneira heróica. Uma pilha de cadáveres espalhava-se ao redor
de sua formação. Reparei que um homem enorme, de quase dois metros de altura, forte como um
touro, gritava ordens para seus companheiros... Parecia ser o líder deles.
Aproximei-me pela retaguarda da formação dos orcos. Eles viraram-se para mim. Alguns pareciam estar
surpresos, outros se assustaram...
"Por Crizagom" – gritei a pelos pulmões – e arremeti contra eles.
Atravessamos, eu e minha montaria, as primeiras fileiras das criaturas, que ou foram atropeladas ou
pisoteadas ou simplesmente saíram da frente. Minha lâmina girava de um lado para o outro, decepando,
cortando, expurgando o mundo da existência de tão cruéis seres.
Mas, súbito, meu corcel é atacado. Ele cai, se estatelando no chão, arrastando-se por alguns metros,
projetando-me à frente e esmagando alguns orcos neste processo.
Encontrei o solo, enlameado e encharcado de sangue viscoso, próximo do final da rua lateral. Alguns
corpos de guerreiros, orcos e seres que pareciam homens mutilados e desfigurados espalhavam-se pelo
local. Visualizei a vanguarda dos guerreiros. Mal consegui erguer-me e já tive de desviar de um orco que
atirava seu machado contra mim. A arma passou a centímetros de minha cabeça, mas não lhe dei tempo
de arrepender-se de seu arremesso falho... seu corpo caiu estrebuchando aos meus pés.
Avaliei rapidamente a situação. Meu grupo se aproximava pela retaguarda das formações inimigas, mas
eles seriam barrados pelos orcos que resistiriam um tempo precioso até que conseguissem chegar até
onde estava. Ali, sozinho, eu não teria chance de me defender. Portanto, sai em desabalada carreira até
o grupo que resistia no centro da vila. No caminho peguei um escudo de um deles que havia sido
derrubado. Observei o símbolo que incrustava o centro do mesmo...um magnífico martelo de guerra...
não o reconheci, a princípio.
Estava quase saindo da viela lateral quando um guincho gutural e estranho soou à minha esquerda. Um
movimento rápido e só tive tempo de levantar um pouco meu escudo. Um baque e um forte empurrão
de algo se chocando contra mim...

107
Caí no chão, embolado com meu atacante. Tentei erguer-me, mas não consegui. A criatura se voltou
para mim...
Um demônio?!...
Uma face distorcida de ódio encarava-me. Olhos vermelhos queimavam em suas órbitas. Dois chifres
longos e pontiagudos projetavam-se de seu crânio deformado. Sua língua sibilava coisas profanas e seu
odor sulfúreo entrou pelas minhas narinas, sufocando-me. Sua aparência grotesca e ameaçadora
somente era suplantada pela sua força e aspecto físico. Um corpo animalesco e musculoso dava-lhe um
ar de superioridade, que a criatura não fazia questão de esconder. Eu me encontrava diante de um
demônio guerreiro...
Sua rapidez era impressionante. Num instante ele se encontrava de pé e começou a me chutar com seus
pés de bode. Meu escudo retinia a cada golpe.
Rolei para o lado antes de outro ataque e pus-me de pé. Espada em punho, escudo em riste. Um grupo
de cinco orcos chegou e fizeram um movimento em minha direção, tentando cortar minhas rotas de
fuga. A besta infernal pareceu ignorá-los e guinchou alguma coisa numa linguagem gutural, exibindo
suas garras para mim.
Ao meu redor, uma verdadeira batalha se descortinava. Ela era travada, por homens, orcos, outros
demônios e também... zumbis? Mas como poderia haver desmortos naquele local? Um grupo deles
passou atrás de mim, cambaleando, garras à mostra, indo em direção do grupo de guerreiros que lutava
no centro da vila. Fui ignorado por completo. Mas, nesse ínterim, pude perceber que eles, apesar de seu
aspecto horrível e assustador, usavam vestes típicas de aldeões, em razoável estado de conservação...e
haviam alguns com aspecto feminino...!!
Uma idéia terrível atravessou minha mente...
Não pude completá-la. A criatura infernal soltou um berro medonho e avançou contra mim com suas
garras. Aparei seu golpe com meu escudo.Rodei meu corpo rapidamente, girando meu braço direito. A
lâmina zuniu, lampejando rapidamente contra a luz do sol, e... perdeu-se no vazio.
A criatura havia se esquivado de meu golpe preciso. Com um esgar que me pareceu um sorriso
zombeteiro, a besta avançou alguns passos, abriu a boca... e um mar de chamas partiu de seu hálito
vindo de encontro a minha face. Coloquei o escudo à minha frente, por puro reflexo, e joguei meu
corpo para o lado. O impacto arremessou-me alguns passos para trás, enquanto o calor fustigou-me a
pele dos braços. Rangi os dentes, agüentando a dor das queimaduras.
Não tive muito tempo para reagir. O monstro avançou e novamente atacou com suas garras. Seu golpe
foi tão potente que me arrancou o escudo, quase levando meu braço com ele. Eu estava me cansando
daquilo e resolvi dar um basta. Decidi agir de forma estratégica. Segurei o símbolo de Crizagom e entoei
uma oração rápida, dirigindo meu olhar para três dos orcos que me cercavam. Um leve zumbido em
minhas têmporas... um enrijecer de braços e pernas... e o efeito do milagre estava completo. Eu havia
conseguido três aliados inesperados...
Levantei minha voz e dei-lhes uma ordem: "Ataquem-no!" – e apontei para a criatura infernal.
Como movidos por uma mola, os orcos avançaram contra o demônio, empunhando suas espadas
curvas. Seus companheiros gritaram alguma coisa que não consegui entender.
A criatura infernal foi pega parcialmente de surpresa. Os orcos atacaram aleatoriamente, tentando
acertar pontos vitais, mas não foram muito felizes nos seus golpes. O demônio voltou-se e contra-
golpeou impiedosamente. Os corpos desmembrados dos três caíram alguns metros atrás dele.
Mas eles haviam cumprido seu papel...
Deram-me o tempo necessário para chegar perto da criatura e golpeá-la certeiramente com minha
espada... a cabeça da besta das trevas foi separada de seu corpo, que pendeu molemente antes de cair ao
solo.
Voltei-me para o local onde os dois orcos restantes se encontravam e vi que estavam recebendo uma
dúzia de reforços que avançavam furiosamente contra mim.

108
Não podia enfrentar todos eles e corri para o centro da praça, para onde se encontrava o grupo dos
guerreiros.
Três desmortos atravessaram meu caminho, tentando me atingir com suas garras. Desviei-me de seus
golpes. Em minha mente imaginei que tipo de ser humano havia habitado aqueles corpos agora
deformados e degenerados e prometi a mim mesmo que destruiria o autor de tamanha monstruosidade.
Os orcos alcançaram-me. Estava encurralado entre eles e os zumbis...
***
Targo gritava ordens para seus acólitos. Nunca, em sua vida de guerreiro da ordem, passara por uma
situação daquelas.
Todo um vilarejo... dezenas, centenas de pessoas transformadas em criaturas amaldiçoadas. Suas almas
para sempre atormentadas nos planos infernais. Que mente insana poderia ter concebido tal sacrilégio?
Mas ele não poderia perder tempo pensando nisto agora. Seu grupo fora emboscado pelos desmortos
quando adentrava a vila. Eles foram pegos despreparados, ainda mais quando os orcos desceram das
colinas adjacentes, cercando o vilarejo e impedindo que seu grupo enfrentasse a ameaça em campo
aberto.
A luta, desde o início, havia sido desigual, mas eles estavam se saindo bem, quando os malditos seres do
inferno chegaram...
Os demônios guerreiros desequilibraram a balança de forças e, agora, tudo o que eles podiam fazer era
lutarem por uma morte honrosa em combate, levando o máximo de inimigos que conseguissem junto
com eles...
Ou que Crizagom operasse um milagre...
Targo não viu o grupo de guerreiros chegar, pois no fragor da batalha, mal tinha tempo de olhar para os
lados. Naquele exato instante ele defendia-se do ataque de um demônio, que tentava feri-lo com seu
hálito flamejante. Ele protegeu-se atrás de seu escudo e, contrariando o que seu oponente previa,
avançou contra ele. Seu martelo de guerra rodopiou no ar e acertou em cheio o crânio da besta-fera que
foi atirada para trás e caiu morta.
Nisto, um barulho à sua esquerda chamou-lhe a atenção. Um guerreiro isolado apareceu de uma viela
lateral e envolveu-se em uma luta contra um demônio guerreiro. De onde ele aparecera? Não havia
sinais de reforços...
Por um instante ele se permitiu ser o expectador da luta daquele guerreiro e viu, com espanto, como ele
utilizou um encantamento para ordenar que três orcos atacassem o demônio dando-lhe tempo para
decapitar a criatura.
Um sacerdote...com um senso de estratégia...
Interessante...
Ele observou como o homem passou a correr na direção de seu grupo, sendo seguido por cerca de uma
dúzia de orcos. Viu quando três zumbis cercaram-no, impedindo-o de chegar até suas fileiras.
Foi quando decidiu ajudar o sacerdote, segundo os preceitos que sempre defendera.
Gritou pela ajuda de Andis, um de seus acólitos, com o qual abandonou a formação e foi ao encontro
do sacerdote.
***
Eu estava cercado. Os zumbis caminharam pesada e lentamente em minha direção, garras à mostra. Os
orcos empunharam suas espadas curvas e avançaram, prontos para o massacre.
Não me recordo muito bem do que vivencei naquele instante, mas lembro-me de ter pensado de que se
deveria morrer, que se aquele fosse o meu momento de encontrar-me com Cruine, eu não iria sozinho
em meu trajeto.

109
Gritei a plenos pulmões o nome de Crizagom e atirei-me contra os orcos.
Uma nuvem escarlate cobriu meus olhos. Num instante, todos os anos de intensos combates travados
contra a seita irromperam de meus membros... um ódio insano, uma fúria sanguinária, uma loucura
arrebatadora apossou-se de meus sentidos...
Eu já não era Kerdal... Eu não sabia quem eu era... o que eu era... só via o sangue das bestas respingar
em meu rosto, os gritos roucos de dor, os movimentos rítmicos dos meus braços e pernas, minha
lâmina cortando, mutilando, decepando, eviscerando... imagens lampejavam...o frenesi assassino de
meus sonhos tomava conta de meu ser... e eu começava a gostar de sentir aquilo. Era inebriante,
cegante, apaixonante... eu caía...
“Mestre Targo, cuidado!!”
O grito atirou-me de volta à realidade, arrancando-me das garras daquele sonho aterrador.
Minha visão descortinou uma cena dantesca...
Um jovem guerreiro atirava-se à frente do homem robusto, que ele chamara de Targo e que eu julgava
ser o comandante do grupo que se defendia no centro da vila, o qual se encontrava estendido no solo,
com seu braço direito ensangüentado, no momento em que um imenso demônio desferia um golpe
com um enorme machado de guerra em chamas.
O jovem guerreiro recebeu todo o impacto do golpe! Seu grito de dor ecoou no campo de batalha, e
seu corpo desmoronou, agonizante, sobre seu companheiro.
“Andis!!” – ele gritou.
O ser infernal urrou de ódio e ergueu novamente sua arma de chamas para um novo golpe. Desta vez
ele completaria o serviço...
Atirei meu corpo para frente. As duas mãos segurando o cabo de minha arma. Girei meus braços num
movimento de arco e aparei o golpe da criatura. O impacto percorreu todo o meu corpo e fez meus
membros tremerem. A espada retiniu tão alto que temi que ela se partiria num instante...
A besta recuou, um pouco surpresa... Seus olhos dourados emitiram um brilho diferente de tudo que
eu já vira antes.
Aliás, aquele demônio era diferente de todos os que eu conhecia... Sua aparência era semelhante à de
um guerreiro humano forte, muito forte, envolto por chamas baixas. Sua pele avermelhada e brilhante
era coberta em quase sua totalidade por uma cota de malha parcial incandescente. Chifres protuberantes
saiam de sua cabeça.
Que tipo de coisa era aquela?
Nisto ouvi um sussurro atrás de mim:
“Por Crizagom... justiça, honra e força...”
O jovem guerreiro, que se sacrificara por seu mestre, expirava. Seu punho direito cerrado foi levado
lentamente de encontro ao seu peito esquerdo, aberto e ensangüentado. Suas últimas palavras, ditas em
meio a um golfar de sangue haviam sido...
Justiça, honra e força...
Os ideais que eu jurara defender... mesmo à custa de minha vida!
Meus olhos encheram-se de lágrimas. Sem saber, aquele jovem que partia, não salvara somente seu
mestre... mas também a mim...
***
Targo correu, juntamente com Andis, por entre os corpos de zumbis, orcos e guerreiros da ordem
tombados. Estavam próximos do combatente encurralado e se preparavam para auxiliá-lo.
Então ele viu que o homem, não era um humano, mas um meio-elfo...

110
E ele ouviu...
“Crizagom” — O sacerdote gritou.
E uma máquina de guerra foi despertada. Targo viu como aquele meio-elfo adepto de seu deus se
transformou.
Ele parou e seu acólito, estranhando o comportamento de seu mestre também estacou.
“Mestre, não vamos ajudá-lo?”
Targo gesticulou para esperarem. O meio elfo desferia golpe atrás de golpe. Corpos e corpos de orcos
caiam aos seus pés. Ele defendia-se com sua espada e atacava tão rapidamente que seus atacantes
tentavam de todas as maneiras furar seu bloqueio, mas não conseguiam. Os zumbis chegaram e
tentaram acertá-lo com suas garras, mas ele se esquivou e cortou-os em pedaços...
Ele lutava como um... como um...
“Leão?!!” – Um sussurro fez Targo estremecer em seu íntimo.
O sonho... o sonho que lhe perturbava. Targo não conseguiu se mexer. Seus braços estavam torpes..
seus pés paralisados.
Era ele quem Targo deveria levar dali, cuidar, ensinar e dirigir no caminho certo
Mas seu devaneio foi interrompido por uma criatura que apareceu do nada, bem a sua frente...Um
imenso demônio envolto em chamas, com olhos dourados, armadura flamejante e um enorme
machado de guerra que liberava fogo infernal.
Pegos totalmente de surpresa, Targo e Andis não puderam reagir em tempo... Com uma mão a criatura
infernal desferiu um potente soco no acólito que o fez cambalear, enquanto descia, com toda a sua
monstruosa força, o machado de encontro a Targo.
Ele mal teve tempo de erguer seu escudo. O golpe foi parcialmente aparado, mas a arma atravessou o
topo do escudo e acertou em cheio seu ombro direito... sangue quente respingou em seus olhos... o seu
sangue.
Uma dor lancinante percorreu o corpo do sacerdote. Sua mão não segurou mais o cabo de seu martelo
de guerra que caiu retinindo.
Targo desabou. A dor ameaçava tirar-lhe a consciência. Tudo começou a ficar borrado, escuro. Ele
apenas conseguiu ver, em meio às névoas da dor, o demônio erguer novamente sua arma, com uma
frieza horripilante naqueles malditos olhos dourados.
Estava tudo terminando?
“Mestre Targo, cuidado!!”
O golpe fatal encontrou outro destino. O corpo de Andis, seu querido acólito, se interpôs entre ele e o
destino funesto.
“Andis” – foi tudo o que Targo conseguiu gritar...
O jovem sacerdote foi atirado de encontro a Targo pela violência do impacto. Seu tórax estava
literalmente destroçado.
O demônio soltou um urro de frustração e ódio e preparou uma nova investida. Targo, com um
profundo sentimento de frustração, fúria e dor em seu coração, tentava se erguer a todo custo.
Mas de novo o destino da morte não alcançou o cavaleiro da ordem. O golpe fora aparado pelo
sacerdote meio homem, meio elfo. Targo se voltou para Andis, que procurava sua mão...
O jovem acólito, com os olhos injetados de sangue, a boca cerrada, dentes sujos de saliva
ensangüentada, fez o cumprimento da ordem e expirou dizendo:
“Por Crizagom...justiça, honra e força”.

111
Targo nunca fora um homem de expressar seus sentimentos. Já vira tombar em batalha uma centena de
vidas. Mas naquele instante seus olhos marejaram.
Ergueu sua visão para o sacerdote meio elfo. Ele chorava!!
***
Voltei-me para o enorme demônio que se preparava para um novo ataque. Meus olhos percorreram o
local em busca de um escudo, mas não encontrei nenhum.
O ser infernal projetou seu corpo para frente numa velocidade impressionante enquanto girava seu
machado tentando cortar-me ao meio. Recuei dois passos e tentei aparar seu golpe com minha espada.
A força que a besta empregou foi tamanha que a arma foi atirada longe de minhas mãos, perdendo-se
no meio da multidão que entrava pela rua lateral...
Os primeiros sacerdotes e guerreiros de Filanti irrompiam na praça central, trazendo o caos às hostes
inimigas.
Mas não pude desfrutar daquela visão nem mais um segundo que fosse. Encontrava-me desarmado
frente a um demônio que nunca confrontara antes. Busquei uma nova arma. Meu olhar caiu sobre um
grande martelo de guerra jogado perto do guerreiro ferido.
Aquilo deveria bastar...
Corri até o local , abaixei-me e segurei a arma, erguendo-a. O ferido, que parecia surpreso, pegou em
meu pulso e disse-me:
“Por Crizagom...Honra e justiça”.
“Honra e justiça” – respondi-lhe. Uma onda de vigor, renovo, coragem e refrigério me invadiram. Eu
me sentia completamente restaurado para o embate. Olhei para o sacerdote ferido, e ele apenas sorriu...
Eu recebera uma ajuda divina... eu tinha certeza disso... Era algo que nunca havia sentido em toda a
minha existência.
Peguei o escudo do ferido que pendia inútil ao lado dele e fiquei ali parado, em posição de combate,
com o firme desejo de defendê-lo, custasse o que custasse...
O demônio bafejou uma onda de chamas contra mim. Ela perdeu-se no escudo. Ele manejou seu
machado de guerra, mas consegui bloquear-lhe o golpe com o martelo. Aquela arma era incrível...
Passei a desferir golpes e mais golpes contra aquela aberração dos infernos, até que um deles penetrou
suas defesas e atingiu seu flanco.
Confesso que senti um imenso prazer em ver aquilo urrar de dor...
Seu machado de guerra desapareceu instantaneamente de sua mão. O ser afastou-se, um ódio insano e
quase palpável saia de seus olhos dourados. Ele ergueu uma de suas mãos e algo atingiu minha cabeça
com a força de um rochedo...
Uma terrível sensação de horror começou a querer invadir-me, minhas mãos tremeram. Um suor frio
brotava de minha testa... meu coração disparava, ameaçando explodir... antigos temores, coisas íntimas,
guardadas a sete chaves dentro de minha mente começaram a aflorar.
Estava sendo vítima de um sortilégio maligno, mas não conseguia resistir a ele...
Recuei.... Queria fugir dali...
Nisto, senti um toque em meus tornozelos. O ferido recitava uma oração. Um intenso calor percorreu
meu corpo. Era algo purificante, que me enchia de coragem, bravura e destemor. O medo desapareceu
instantaneamente. Não tive tempo de agradecer...
Avancei, decidido a acabar logo com aquela besta...
Percebendo que seu encanto nefasto não funcionava mais comigo, o demônio fungou, irado e conjurou
uma enorme bola chamejante em sua mão, atirando-a contra... o homem caído!!

112
Horrorizado, joguei-me na direção do projétil flamejante, tentando interceptar-lhe a trajetória.
Felizmente, meu impulso foi suficiente para colocar-me à frente do sacerdote e protegê-lo com a maior
parte do escudo.
Mas meu dorso e pernas ficaram expostos e foram duramente castigadas pelo calor infernal. Tentei
conter um grito de dor... cerrei meus dentes,enquanto sentia minha carne arder. Lágrimas correram de
meus olhos, mas, por Crizagom, nenhum murmúrio saiu de meus lábios...

O efeito da bola de fogo do demônio passou. Eu não conseguia mover-me. Meus membros foram
parcialmente postos fora de ação. A dor das queimaduras martirizava-me. Mesmo assim tentei colocar-
me de pé...
O demônio caminhou em nossa direção.
Nisto, o sacerdote murmurou: "Por Crizagom, isso tem de acabar agora..."
Fechou os olhos e começou a orar fervorosamente...
Consegui me erguer a duras penas. As dores ameaçavam derrubar-me. Minhas pernas teimavam em
querer falhar. Brandi meu escudo, enegrecido pela esfera chamejante e segurei firmemente o cabo do
martelo. Olhei ao redor... nenhuma ajuda viria. O grupo de sacerdotes no centro da vila se encontrava
em número reduzidíssimo e eles lutavam por suas vidas. As tropas de Filanti combatiam os orcos e um
grupo de zumbis que saíra de dentro das residências. Os sacerdotes de Crezir e Blator envolveram-se
em uma luta suicida com um grupo numeroso de demônios guerreiros.
Éramos só eu, o sacerdote e aquela coisa...
O ser das profundezas fez reaparecer seu machado de guerra e, claudicando devido ao seu ferimento
preparou-se para o golpe...
Segurei com mais firmeza o escudo...
Um lampejo de luz cegante... e mais outro... e outro...
O demônio soltou um grito... correntes de pura luz surgiam do chão, dos lados e do alto, prendendo-o.
Ele não conseguia mover-se. Seus braços, pernas, tronco, pescoço e cabeça estavam imobilizados pelas
cadeias luminosas...
Olhei para o sacerdote. Ele intervira novamente.
"Termine logo com isso, mas não o ataque enquanto estiver preso. Os deuses não o permitem... É um
ato de extrema covardia atacar uma criatura indefesa... mesmo um demônio. Lembre-se sempre disso" –
ele murmurou, tossindo.
Aproveitei o precioso tempo ganho e roguei a Crizagom pela recuperação de meus ferimentos. A graça
divina se manifestou e as queimaduras abrandaram sua dor e minhas pernas ficaram mais firmes.
Ele, então, liberou o demônio que se soltou brusca e atabalhoadamente... Manejei o martelo e o
direcionei com toda a minha fúria e energia restantes para o tórax da criatura, que não conseguiu se
desviar do golpe caindo morta, alguns passos atrás... seu equipamento virando pó após ser abatida e
sendo levado pelo vento que começou a varrer o local da batalha.
Desfaleci, ao lado do sacerdote. Ele perdera muito sangue devido ao seu ferimento e estava em péssimo
estado. Roguei novamente pela dádiva de cura, que remediaria seu estado até que pudesse receber
maior cuidado. Ele sorriu para mim...
“Muito prazer. Meu nome é Targo. Cavaleiro da Ordem da Justiça”.
"O prazer é todo meu, Targo. Me chamo Kerdal, fiel servo do deus da justiça!" –respondi-lhe – "o que
era aquilo que derrotamos?".
"Um maldito demônio guardião" – Disse-me— "Devia ser um dos defensores negros do bruxo bankdi
que transformou toda esta pobre vila em seres amaldiçoados... mas ainda daremos cabo dele. A mão de

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Crizagom o encontrará. A propósito, a arma que usou para derrotá-lo é minha.... e não deveria ter sido
utilizada por ninguém mais, exceto eu mesmo”.
Olhei para o martelo de guerra. Como pudera manejá-lo então?
“Somente alguém que tenha adquirido o direito divino de utilizá-lo poderia empunhar esta arma
sagrada”. – Respondeu Targo, parecendo adivinhar minha dúvida.
Ele suspirou fundo e como se tivesse algo importante e urgente a me dizer, tocou-me os ombros com
sua grande mão...
"Kerdal, preciso falar-lhe. Não sou dado a meias palavras por isso serei conciso... seu lugar não é mais
aqui. O seu destino repousa longe de Filanti."
Levei um tremendo susto ao ouvir aquelas palavras... elas me foram ditas em meus sonhos...
Targo continuou: "Eu devo ensiná-lo, educá-lo e dirigi-lo nos preceitos de nossa ordem. Isto é muito
importante..."
Então ele me disse aquelas palavras que marcaram minha vida para sempre...
"Eu o levarei a novas paragens e a novos conhecimentos. Eu o guiarei até o seu destino!"
Alguma coisa naquelas palavras, naquele semblante, dizia-me para acreditar e me arrastava para longe de
tudo aquilo...
Lágrimas começaram a cair de meus olhos...
"Venha, seu destino o aguarda..."
E eu... eu ergui-lhe minha mão banhada em meu próprio sangue...
***
Dois meses depois... Zanta, capital de Azanti, 1380 D.C.
“Que Palier te conserve a mente a fim de que a sabedoria nunca te falte. Que Cambu abençoe seus
negócios a fim de que o dinheiro nunca te falte. Que Blator te proteja do mal mantendo sua espada
sempre em prontidão. Que Crizagom te guarde o caminho reto para que nunca recaias na perversão e
na iniqüidade. Que Ganis te envolva em suas águas a fim de que elas te sejam sinônimo de vida e não
morte. Que Maira te guarde nas florestas e te proteja com seu manto nas adversidades. Que Lena te
abençoe o leito para que em sua casa nunca te falte amor ou descendência. Que Sevides abençoe teus
campos para que nunca te falte o alimento. Que Crezir destrua teus inimigos a fim de que estes não
atentem contra ti. Que Parom te inspires em tuas artes para que o sopro da criatividade nunca te falte.
Que Plandis te guarde das paixões para que as coisas do mundo não te percam. Que Selimom te
estenda a sua paz para que sua existência seja abençoada. E que Cruine te receba em seu seio para que
gozes dignamente do merecido descanso”.
Com estas palavras, o sacerdote supremo da Ordem dos cavaleiros da justiça encerrou seu
pronunciamento em nossa sagração.
Enquanto o sacerdote recitava as últimas palavras da benção final, minha mente divagou até aquele dia
na vila de Fétor...
A batalha não havia demorado muito para terminar. Os orcos foram afugentados, enquanto os
demônios guerreiros, desprovidos da liderança do demônio guardião, desapareceram em direção das
montanhas da cordilheira de Keiss. Os poucos desmortos restantes foram aniquilados rapidamente.
Eu e Targo recebemos cuidados médicos dos sacerdotes de Selimom que chegaram rapidamente ao
local. A unidade de Targo sofrera baixas pesadíssimas e até mesmo os sacerdotes de Crezir e Blator
elogiaram sua coragem em batalha. Vindo deles poder-se-ia considerar isto um elogio!
Assim que nos recuperamos de nossos ferimentos, Targo e eu viajamos até Zanta, capital do país
vizinho de Filanti, Azanti, onde fui apresentado aos membros da Ordem sacerdotal de Crizagom.

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Eu e Targo havíamos nos tornado grandes amigos e muitas conversas tivemos em nossa viagem até a
capital azanti.
Por insistência dele, os sacerdotes superiores haviam-me concedido a honra de tê-lo como tutor. Ele me
prometeu que eu seria o melhor de seus acólitos...
O sacerdote supremo acabou de proferir a benção final...
"Ergam-se cavaleiros da Justiça... Ergam-se paladinos de Crizagom!"
O salão central explodiu em inúmeras palmas e vivas. Eu e meus confrades nos erguemos diante dos
convivas. Para mim, eu me erguia para uma nova vida, um novo recomeço, uma nova chance de triunfar
sobre o mal que jurara destruir...
Pois como ouvira uma certa vez, há muitos anos atrás, ao redor de uma fogueira em Abadom...
"Esperança, tem de haver uma esperança. A justiça sempre triunfará no fim de tudo!".

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