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Mestre Maçom: Telmo Carvalho Barcelos

“PRIMEIRA INSTRUÇÃO PARA OS APRENDIZES”

Meus irmãos, este trabalho é dedicado principalmente aos irmãos


aprendizes, que iniciados recentemente nos nossos augustos mistérios,
estão freqüentando as sessões e ficam sem entender o que está
acontecendo.

Desde há muitos séculos existiram as fraternidades que transmitiram


seus conhecimentos herméticos a poucos escolhidos. A palavra
"esotérico" tem raiz grega e foi criada por Sócrates, quando dava
instruções filosóficas em sua casa, reservadas a um grupo seleto e
restrito de amigos que tinham a capacidade de compreender e entender
os seus propósitos metafísicos. Por isso "esotérico" tem o sentido de
hermético, fechado, escondido e reservado e estes também serão os de
nossa ordem maçônica. Ou seja, são poucos os escolhidos dentro de
nossa sociedade, homens aparentemente livres e de bons costumes, que
poderão ao longo do tempo desvendar e apreender o nosso simbolismo.

O símbolo e a alegoria surgiram com o ser humano, que também não


passa de um símbolo do universo. Toda a história da humanidade, com
todo o seu progresso nos é mostrada através de alegorias e símbolos,
entre os quais o homem sempre viveu.

Logicamente não serão os ícones, os símbolos, as alegorias ou o ritual


que mudarão nossa personalidade, mas sim, a interpretação e a
compreensão de suas verdades e a posterior prática das virtudes neles
incorporadas.

Agora que se tornaram maçons, participantes dessa nobre instituição que


há muitos anos vêm tentando mudar e melhorar o caráter do ser humano,
para que tenhamos uma sociedade mais justa, mais fraterna e solidária,
vocês terão alguns símbolos e palavras que os identificarão como
maçons, assim quando chegarem em uma loja maçônica de qualquer
potência e em qualquer lugar do mundo lhes serão exigidos a sua
identificação como maçons.

E dentre outras coisas lhe será perguntado:


O que vindes aqui fazer?
Ao que o irmão responde:
Vencer minhas paixões, submeter minha vontade e fazer novos
progressos na maçonaria.

Meus irmãos, tudo na vida é baseado em símbolos, alegorias, signos,


emblemas e rituais.
A escrita é um símbolo. A comunicação entre pessoas é feita através da
associação da fala aos símbolos que a pessoa associa para lembrar o que
é, expressando idéias e emoções para si mesmo ou para outros. Mesmo
na conversação metafísica existe um simbolismo por associação.

A nossa rotina diária, o nosso cotidiano, também é um ritual, cheio de


símbolos e alegorias,
Na Maçonaria também temos nossos símbolos, signos, emblemas e
nossas alegorias a serem entendidos e nosso ritual que deve ser seguido.

Dentro do próprio ritual existem vários símbolos filosóficos que ao longo


do tempo passarão a identificar e entendê-los plenamente.

Quando de suas iniciações, vocês pediram a Luz, e vos foi dada a Luz.
Foi-lhes dada a luz física. Ou seja, estavam vendados e viram a Luz.
Mas o que buscamos na Maçonaria é a Luz verdadeira, a Luz espiritual
que é a compreensão do mundo à nossa volta e dos seus antigos
mistérios. Mistérios estes, herdados de nossos antepassados que hoje
tentamos decifrar. As chaves destes enigmas foram perdidas no tempo,
na época da tradição e transmissão oral, quando não era registrado o
conhecimento senão através de ícones, gravuras, alegorias e símbolos.

Buscamos ver através e além da Luz. Buscamos ver adiante das coisas. É
olhar um símbolo e ver além dele o que nossos antepassados quiseram
nos transmitir, é o tirar o véu para que se veja claramente o que está atrás
do véu.

O que lhes pedimos é paciência, persistência e que estejam com o


coração e mente abertos para que, ao começarem a decodificar estes
símbolos eles possam mudar para melhor as suas personalidades.

Quase tudo na Maçonaria é baseado no número três.


Inicialmente temos o trilogismo máximo da Maçonaria que são:
Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Quando responderam: Vencer minhas paixões, submeter a minha vontade
e fazer novos progressos na Maçonaria. Aqui existe outro trilogismo.

No mundo profano somos considerados um pedra bruta, ou seja, uma jóia


rara da criação do Grande Arquiteto do Universo, mas, cheio de
agregados indesejáveis e de arestas imperfeitas e que devem ser
lapidadas para que se produza um quadrado ou retângulo perfeito. E, em
sendo perfeito encaixará perfeitamente na construção do edifício, não
deixando espaço nenhum, e nem será necessário alguma argamassa para
fazer o seu ajuntamento.
Vencer minhas paixões.

A Maçonaria Universal propõe edificar a "Cidade Humana", um mundo


ideologicamente perfeito, do qual o homem virtuoso será ao mesmo
tempo, o beneficiário e o organizador.

E este propósito também é nosso. O que estamos tentando construir é o


edifício perfeito dentro do ser humano, ou seja, é tirando e eliminando as
arestas de nossos vícios e lapidando as nossas paixões que poderemos
ser um ser humano melhor para nossos familiares, nossa sociedade e
para nós mesmos.

É mudando nossos hábitos, atos e comportamento que transformamos o


mundo em nossa volta. É à busca da perfeição e a prática das virtudes
que nos transformarão em seres humanos melhorados.

Quando alguém quer ter músculos fortes, pratica exercícios físicos até
conseguir o seu objetivo. Quando alguém deseja melhorar o seu caráter,
iluminar o seu espírito e a sua alma, deve praticar todas as virtudes
diariamente, e é isto que vindes aqui fazer. Não é só dentro da loja que
devemos ser perfeitos, devemos sim, ser perfeitos para o mundo, só
assim, mudando primeiro a nós mesmos é que conseguiremos dar o
primeiro passo para uma humanidade melhor: praticante da caridade,
mais fraterna, mais solidária e com mais amor entre todos os irmãos.

Porquê tirar e eliminar as arestas de nossos vícios e lapidar nossas


paixões?

Porque nossos vícios são hábitos desregrados que adquirimos ao longo


de nossas vidas e são perfeitamente descartáveis, pois, podemos viver
sem eles.

Porquê somente lapidar nossas paixões? Porque nossas paixões fazem


parte do ser humano. São emoções e sentimentos que estão escondidas
em nosso âmago. Vêm enraizadas dentro do humano e sem elas o ser
humano não é nada. Por isso devemos somente aplainá-las, desbastando
a parte podre; sufocando a parte má para que prevaleça a parte boa.

Sabemos que o bem e o mal estão dentro de cada ser humano. Ele faz
aflorar o que quiser. Nossas paixões são as nossas emoções mais
profundas que se levadas a um alto grau de intensidade sobrepõe à
lucidez e à razão. E o ser humano é um ser emocional, por isso devemos
controlar nossas emoções com uma disposição firme e constante para a
prática do bem e assim conseguiremos vencer nossas paixões.

Submeter a minha vontade.

Porquê submeter a minha vontade?


Já dissemos que o ser humano é emocional e racional, que pode ou não
praticar atos em obediência e a um impulso ou a motivos ditados pela
razão.

Entretanto, através do livre arbítrio o ser humano é livre para ser e fazer o
que quiser sem dar satisfações a ninguém e nem prestar contas a
ninguém a não ser a ele próprio. Lógico que devemos assumir as
responsabilidades pelos nossos atos e sofrer as conseqüências de
nossas más ações. Mas, somos livres, ou achamos que somos livres.

Esta pretensa liberdade é que devemos trabalhar. Na verdade não somos


livres, somos escravos de nossos vícios e de nossas paixões que
controlam a nossa vida. Somos escravos do nosso cotidiano, da rotina
estafante do dia-a-dia, de nosso trabalho, do relógio, de nossas famílias,
de nossos amigos e de nossos inimigos, de nossos sonhos, de nossas
falsas promessas, do Poder Constituído, das Leis e da nossa vontade.

Este submeter a minha vontade, não quer dizer submeter a minha vontade
a vontade de outros, mas, sim submeter a minha vontade à minha
vontade. É ter controle sobre minhas emoções e minha vontade de
praticá-las. É fazer minha razão subjugar minha vontade, sujeitando,
entregando e rendendo-se ao bom senso e à prudência, ponderando
minhas idéias, tendo um raciocínio lógico e juízo perfeito em minhas
ações. Ter emoções e vontade saudáveis aprimoram o seu
relacionamento consigo mesmo e irradia vida e felicidade ao seu redor

Então, devemos submeter a nossa vontade, nosso livre arbítrio


praticando boas ações, tendo bons pensamentos em relação a todos que
nos cercam e isto indiretamente a Maçonaria tentará colocar dentro de
cada um de vocês, através do desvendar do simbolismo filosófico de
nossa ordem. É submetendo, ou seja, controlando a nossa vontade é que
seremos livres dos vícios e das paixões desregradas.
Fazer novos progressos na Maçonaria.

A Maçonaria não é religião, não é Igreja e não é escola, é uma instituição


iniciática e eclética que conclama toda a humanidade a viver
fraternalmente, todos como irmãos.
Os progressos que vier a fazer dentro da Maçonaria só dependerão dos
próprios irmãos, como já disse Jesus Cristo "é buscando que
encontrarão" "é batendo que se abrirão", cabe a cada irmão buscar a
perfeição maçônica e por conseguinte a perfeição humana, através de
muito estudo e trabalho é que poderão fazer novos progressos na
maçonaria, ou ficarão como muitos, batendo martelos por muitos anos
sem entenderem porque estão na Maçonaria.
Cabe aqui uma pequena história que reflete o teor de nossas palavras:

Conta-se que certo funcionário de uma empresa ferroviária, estando


prestes a se aposentar, acertou sua substituição, colocando seu filho em
seu lugar. Seu serviço e sua responsabilidade era caminhar diariamente
ao longo dos trilhos e na ida e na volta ia batendo nos trilhos com uma
marreta de cinco quilos, verificando assim se os trilhos estavam bem
presos aos dormentes. Ele, pessoa simplória havia passado trinta anos
fazendo aquele trabalho e o conhecia muito bem. No primeiro dia de
trabalho de seu filho, saiu todo feliz a explicar-lhe o que era o seu ofício.
Saíram então, marretando os trilhos, e o pai explicava ao filho como
deveria ser a pancada no vergalhão do trilho, passaram-se as horas, em
dado momento o filho pergunta ao pai:
- Pai, porquê e para quê é feito este tipo de trabalho?
O pai em sua simplicidade respondeu-lhe:
- Não sei, eu recebi ordens de bater nos trilhos e fiz isso durante todos os
dias nestes trinta anos de trabalho e agora me aposento e passo a ti o
meu trabalho.

Meus irmãos, na Maçonaria é a mesma coisa, se não procurares as


respostas para as suas inquietações e seus anseios mais profundos
ficarão toda a vida batendo marreta nos trilhos sem saber o porquê.
Cabe a cada um procurar e questionar, estudar e refletir sobre toda a
nossa filosofia, procurando tirar de cada símbolo uma lição de vida, de
cada dia em loja um aprendizado, de cada bater de martelo um novo som,
pois, não existem dias iguais como não há ser humano igual, cada dia em
Loja é diferente do último, à medida que forem participando das sessões,
aparentemente simples, suas mentes irão alargando para receber o
conhecimento implícito no simbolismo e na filosofia maçônica.

FIM

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