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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3

1 PERSONALIDADE ........................................................................................... 4

1.1 O desenvolvimento da personalidade ............................................................... 5

1.2 Um breve conceito da teoria da personalidade do ponto de vista teórico ......... 9

2 PERSONALIDADE NORMAL ......................................................................... 11

2.1 Mudança da personalidade............................................................................. 12

2.2 A Personalidade e sua mudança em psicoterapia .......................................... 18

2.3 Estudos no âmbito das mudanças nos sintomas e na estrutura ..................... 20

3 NOTA HISTÓRICA SOBRE AS PERTURBAÇÕES DE PERSONALIDADE NO


DSM............................................................................................................................24

3.1 Integração dos Modelos Dimensionais ........................................................... 27

4 A ABORDAGEM COGNITIVA-COMPORTAMENTAL E TRANSTORNOS DE


PERSONALIDADE .................................................................................................... 31

4.1 Transtorno da personalidade .......................................................................... 31

4.2 Teoria de personalidade de Aaron Beck ......................................................... 35

4.3 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade ............................. 37

4.4 Terapia Cognitivo Comportamental (TCC)...................................................... 38

4.5 A terapia cognitiva .......................................................................................... 40

4.6 Terapia focada no esquema ........................................................................... 42

4.6.1 Esquemas Iniciais Desadaptativos ................................................................. 44

5 REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS ............................................................... 49

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INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da


sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta,
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta.
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa


disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser


seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1 PERSONALIDADE

Em geral, uma concepção errônea envolvendo o conceito de personalidade tem


sido difundida entre as pessoas, de que a personalidade é um termo usado para
descrever características marcantes de alguém. Nesse sentido, quando as pessoas
falam sobre personalidade, elas não percebem que estão falando de variedade de
fatores relacionados à pessoa e não somente de um único traço. Personalidade se
refere aos padrões característicos de pensamentos, sentimentos e comportamentos
que surgem dentro do indivíduo que o tornam uma pessoa única e tendem a ser
consistentes para o resto da vida. (SILVA; NAKANO, 2011 apud SILVA L; et al., 2018)

O conceito de personalidade é polissêmico, ou seja, é amplo, pois abrange


aspectos como traços, estados, qualidades e atributos, todos diferindo em constância
ou mudanças de comportamento. Estes se relacionam, por exemplo, a motivações,
estilos de atenção, manifestações emocionais ou eficácia (AUWEELE; CUYPER;
MELE; RZEWNICKL, 1993. apud SILVA; et al., 2018), englobando a interação,
organização e individualidade, fazendo com que nos conheçamos através do convívio
com os outros. Tudo isso faz com que o indivíduo seja quem ele é: um ser que pode
mudar, se aprimorar e se respeitar constantemente.

De acordo com SILVA; et al. (2018), a personalidade é desenvolvida através


de uma estrutura de componentes hereditários, pessoais e ambientais. Forma-se até
a adolescência, por meio de experiências familiares, escolares, culturais, religiosas e
sociais, que resultam nos detalhes do acabamento pessoal. Fomentar a personalidade
irá permitir ao indivíduo se desenvolver enquanto ser humano e compreender sua
existência através de opiniões, valores e sentimentos.

Nenhum ser humano mostrará características que já não estejam presentes em


outros indivíduos como um tipo de “herança humana”, isto é, todos os indivíduos da
mesma espécie recebem os traços característicos dessa espécie. A combinação
individual dessas características em diferentes proporções em uma determinada

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pessoa irá caracterizar sua personalidade ou sua maneira de ser. (AUWEELE,
CUYPER; MELE; RZEWNICKL, 1993 apud SILVA; et al., 2018)

Os traços de personalidade não agem independentemente uns dos outros.


Uma pessoa é a combinação e interação de muitas características e traços, cujo
número ainda não é determinado. O conceito de traço é a peça fundamental da
construção da personalidade de um indivíduo, tendo em vista que os traços
psicológicos podem ser definidos como estruturas internas estáveis que servem como
comportamento predisponente e, consequentemente, podem ser "indicadores" de
futuros comportamentos. (AUWEELE; CUYPER; MELE; RZEWNICKL, 1993. apud
SILVA; et al., 2018)

Segundo Silva e Nakano (2011. apud SILVA; et al., 2018), os traços de


personalidade podem ser usados para resumir, prever e explicar o comportamento de
uma pessoa. Ao avaliar essas características, as respostas e motivações de uma
pessoa para certos comportamentos, seriam encontradas em sua personalidade, mas,
assim como existem vários conceitos para o assunto, também existem várias teorias
analíticas, e a avaliação da personalidade depende da teoria que o pesquisador adota.

1.1 O desenvolvimento da personalidade

Para Nascimento (2012) o homem-macaco aprendeu desde cedo que certos


membros são bons ou maus, estúpidos ou espertos, insensíveis ou reagem
rapidamente diante as emoções. Definir o que é personalidade pode criar um
problema que é o de delimitar um aspecto tão individual, porém tão imenso. Talvez
possa ser uma série em conjunto, organizada de processos e estados psicológicos do
indivíduo, mas nesta definição algumas influências e / ou fenômenos, naturais e / ou
físicos, são ignorados. Vários autores tentam explicar o que podemos entender por
personalidade.

Para Vallaldon (1988. apud NASCIMENTO, 2012), a personalidade requer,


antes de mais nada, a compreensão do próprio conceito como um elemento que

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distingue ou se assemelha ao ser humano, por antropomorfismo, mas também há um
sentido positivamente qualificado em dizer que um indivíduo pode ou não ter uma
personalidade. Ao mesmo tempo, a palavra é usada para denotar o núcleo central e
profundo do ser.

A personalidade é uma estrutura dinâmica integrativa e integrante, que


assegura uma unidade relativa e a continuidade no tempo do conjunto dos
sistemas que explicam as particularidades próprias de um indivíduo, de sua
maneira de sentir, de pensar, de agir e reagir em situações concretas.
(VALLADON, 1988. apud NASCIMENTO, 2012)

Jung (1981. apud NASCIMENTO, 2012) afirma que uma personalidade implica
em uma totalidade psicológica dotada de determinação, perseverança, resistência e
força. Sem determinação, integridade e maturidade, não há personalidade que não
possa e não deva ser exigida da criança, uma vez que isso faria com que perdesse
sua infantilidade, que lhe é própria. Mas se a criança puder ver isso em um adulto que
a está criando e a eduque, ela crescerá estimulada por suas realizações.

Quando o indivíduo atinge a personalidade, significa que o mesmo irá construir


o melhor desenvolvimento possível em sua totalidade. Não é possível calcular o
número de condições que devem ser atendidas para isso, pois se trata do
desenvolvimento de aspectos, bio, psico, sociais e espirituais (JUNG. 1981 apud
NASCIMENTO, 2012). A personalidade é a obra que se faz com a máxima coragem
para enfrentar a vida, através da afirmação absoluta do ser individual e da melhor
adaptação possível a tudo que existe em geral, e tudo isso junto com a máxima
liberdade de escolha.

A personalidade se desenvolve no curso da vida e é apenas por meio de nossas


ações e da maneira como agimos que podemos descobri-la. A princípio, não sabemos
o que está escondido dentro de nós, que fatos sublimes ou que crimes existem em
nós, que é uma espécie do que é bom ou mal. Ninguém desenvolve sua personalidade
porque alguém disse que isso era certo ou pelo o que precisa ser feito, a natureza não
se deixa impressionar por conversas e falatórios. (JUNG, 1981. apud NASCIMENTO,
2012)

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Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) trata do tema da personalidade a
partir dos processos psicológicos de cada indivíduo. A autora lembra que o reflexo
psicológico:

Desenvolve-se com a complexificação estrutural dos organismos por meio da


atividade que a sustenta. [...] parte da tese do materialismo da existência dos
fenômenos fora e independentemente da consciência humana, pressupondo
a apreensão criativa da realidade objetiva que é então, refletida, isto é, (re)
construída no plano da subjetividade. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO,
2012)

A unidade entre o real e o ideal é garantida pela atividade vital humana, que ao
mesmo tempo é mediatizada e mediatizadora do reflexo psicológico. Essa discussão
se baseia na produção da psicologia cultural histórica desenvolvida por um grupo de
pesquisadores russos no século XX. Leontiev (1978. apud NASCIMENTO, 2012)
afirma que a atividade em seus estágios iniciais de desenvolvimento “assume a forma
de processos externos pelos quais a imagem psíquica aparece como produto desse
processo.” No entanto, atividade é uma manifestação em ações pelas quais o homem
se fixa na realidade objetiva e a transforma em realidade subjetiva.

Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) traz de Rubinstein (1960. apud


NASCIMENTO, 2012) três teses básicas para a caracterização da consciência no
contexto da concepção histórico-social. A primeira é: “A consciência é a forma
específica de reflexão sobre a realidade objetiva que existe fora e independentemente
da consciência.“ A autora afirma que tal tese assume:

Que a consciência não se determina unilateralmente no contato imediato com


o objetivo, mas, sim, na relação sujeito-objeto, sendo, portanto, expressão do
sujeito na construção dos reflexos do objeto e expressão do objeto na
construção da consciência. A consciência revela-se como manifestação do
sujeito e do objeto. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012)

A segunda tese é: “A experiência psíquica é algo dado imediatamente, mas é


reconhecido e valorizado através da relação com o objeto. O fenômeno psíquico é a
unidade do imediato e do mediado” (RUBINSTEIN, 1960. MARTINS, 2011. apud
NASCIMENTO, 2012). Ou seja:

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Os processos psíquicos embora dados diretamente à consciência, incluem
conexões para além do mundo interno da consciência. A vivência psíquica, a
experiência configuradora da vida do indivíduo, é produzida pela relação com
o mundo objetivo externo e só pode ser determinada com base nessa relação.
A consciência como componente derivado e ao mesmo tempo confirmação
da existência social e real do homem, evidencia todo o seu ser, constituindo-
se pela contextura de sua vida, pelos seus atos e realizações. (MARTINS,
2011. apud NASCIMENTO, 2012)

E a terceira tese consiste em:

A consciência do homem não é um mundo interno e isolado em si, no seu


estudo interior propriamente dito, pois, determina-se pela sua relação com o
mundo objetivo. A consciência do indivíduo não é redutível a uma
subjetividade pura, isto é, abstrata, que se defronte externamente com tudo
o que seja objetivo. (RUBINSTEIN, 1960. MARTINS, 2011. apud
NASCIMENTO, 2012)

Portanto,

A consciência não pode ser identificada exclusivamente com o mundo das


vivências internas, mas, sim, aprendida com o ato psíquico experienciado
pelo indivíduo e ao mesmo tempo expressão de suas relações com os outros
homens e com o mundo. (MARTINS, 2011. apud NASCIMENTO, 2012)

Para Leontiev (1978. apud NASCIMENTO, 2012), a consciência é a expressão


de uma forma superior da psique que surge como resultado da transformação
evolutiva, a complexificação e humanização do cérebro humano, e o trabalho e o
desenvolvimento da linguagem, desempenham um papel decisivo neste processo de
transformação histórica.

Martins (2011. apud NASCIMENTO, 2012) assevera que, para Vásquez (1977.
apud NASCIMENTO, 2012),

Podem-se distinguir duas formas de expressão da atividade consciente. Uma,


abarcando a produção de conhecimentos, isso é, elaboração de conceitos,
hipóteses, leis, teorias pelas quais o homem conhece a realidade, a outra
forma de expressão se revela na produção de finalidades, dos objetivos que
procedem e orientam as ações humanas. (MARTINS, 2011. apud
NASCIMENTO, 2012)

A partir das definições desses autores, Martins (2011. apud NASCIMENTO,


2012) define consciência como um sistema de conhecimento que se desenvolve no
homem "enquanto ele aprende a realidade, relacionando suas impressões diretas a

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significados socialmente elaborados, articulados e vinculados pela linguagem,
expressando as primeiras através das segundas.”

Por essa relação em que a atividade de transformação da realidade é um fator


objetivo, o indivíduo estabelece uma conexão com o universo, firmando-o como dado
de sua subjetividade ao desenvolver consciência. Este processo é acompanhado de
reações emocionais e sentimentos. (NASCIMENTO, 2012)

1.2 Um breve conceito da teoria da personalidade do ponto de vista teórico

As teorias da personalidade buscam compreender a pessoa como um todo,


para tanto, consideram os diversos fatores que compõem o funcionamento de um
indivíduo como estando constantemente inter-relacionados, avaliando de que maneira
estas relações ocorrem e geram um funcionamento total, isto é, os teóricos da
personalidade estão interessados em saber quais são os aspectos constituintes do
funcionamento das pessoas e como se dá a interação entre os processos que geram
este funcionamento de forma integral. Isto requer mais do que o estudo de cada fator
ou de cada processo separado, exige um estudo da complexidade que surge de suas
inter-relações e a organização dessa rede enquanto um todo organizado e em
funcionamento. Afinal, é desta forma que as pessoas realizam, na vida real, suas
tarefas cotidianas. (PERVIN; JOHN, 2004. apud ROCHA, 2013)

O teórico da personalidade aceitou uma responsabilidade pelo menos parcial


de reunir e organizar os diversos achados dos especialistas. O experimentalista
poderia saber muito sobre habilidades motoras, audição, percepção ou visão, mas em
geral sabia relativamente pouco sobre como essas funções especiais se relacionavam
umas com as outras. O psicólogo da personalidade estava, nesse sentido, mais
preocupado com reconstrução ou integração do que com análise ou estudo segmental
do comportamento. (HALL; et al., 2000. apud ROCHA, 2013)

De acordo com os teóricos da personalidade, as teorias da personalidade


servem para juntar e sistematizar uma gama de observações e achados além de

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sugerir o caminho para novas descobertas. Assim sendo, uma teoria da personalidade
está em constante busca de explicar o que, como e por que os indivíduos são e agem
de determinada maneira. Refere-se às características da pessoa, ou como diz respeito
aos determinantes da personalidade, por exemplo: qual grau de influência e de
interação entre fatores genéticos e ambientais no comportamento das pessoas. Já o
porquê está relacionado às razões ou aos aspectos motivacionais que conduzem ou
geram determinado comportamento e não outro. (PERVIN; JOHN, 2004. apud
ROCHA, 2013)

As teorias da personalidade diferem quanto aos tipos de unidades ou


conceitos estruturais que utilizam, elas também diferem na forma como
conceitualizam a organização dessas unidades. Algumas teorias envolvem
um sistema estrutural complexo, segundo o qual muitos componentes estão
ligados entre si de diversas maneiras. Outras teorias envolvem um sistema
estrutural simples, segundo o qual alguns componentes apresentam poucas
conexões entre si. [...] de maneira semelhante, as teorias da personalidade
diferem em relação aos números e tipos de unidades estruturais que
enfatizam, e em que medida enfatizam a complexidade ou a organização
dentro do sistema. (PERVIN; JOHN. 2004. apud ROCHA, 2013)

O que é possível afirmar é que, assim como outras teorias da personalidade,


Beck buscava explicitar os aspectos em que deveriam conter um conceito atual de
personalidade para atingir princípios básicos como o de unificação e organização,
requisitos de uma teoria abrangente e geral de personalidade. Tal teoria abrangente
deveria, segundo o autor, descrever o funcionamento da personalidade de forma
integral, ou seja, deveria explicar como os sistemas interrelacionam-se, como
evoluíram para adaptar-se ao ambiente, como operam os mecanismos de estabilidade
e mudança, entre outros aspectos.

Dessa forma, torna-se como uma condição básica dentro da teoria da


personalidade as seguintes formas de análises:

a) os critérios de uma teoria científica geral, pois como busca ser uma teoria científica,
as teorias da personalidade precisam se submeter às mesmas exigências de clareza,
abrangência, utilidade e parcimônia;

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b) critérios básicos que constituem uma teoria da personalidade, quais sejam:
estrutura, processo, crescimento e desenvolvimento, psicopatologia e mudança;

c) requisitos que uma teoria da personalidade completa deve apresentar seu parecer,
ou seja, sua perspectiva quanto à concepção de homem, motivação humana, aos
determinantes internos e externos, os processos conscientes e inconscientes e a
relação entre cognição, afeto e comportamento. (BECK; ALFORD, 2000. apud
ROCHA, 2013)

2 PERSONALIDADE NORMAL

Segundo Kernberg (2006. apud SÁ, 2010), a personalidade normal é baseada


em quatro aspectos estruturais. Em primeiro lugar, é caracterizado por um conceito
integrado de si mesmo, o self, em conjunto com outros significativos, que se refletem
"na consciência interna e na aparência externa da coerência do eu (self) e constituem
um pré-requisito como forma de condição básica para uma autoestima normal,
levando ao prazer a sensação de alegria em si mesmo e gosto pela vida".

Para Sá (2010), essa sensação de integração possibilita um investimento


emocional no outro, o que requer uma dependência que irá permitir a maturidade
associada a uma consciência sólida sobre a autonomia.

Em segundo lugar, deriva da identidade e força do self (ego), especificamente


mostra a capacidade de sentir afeto e controlar impulsos, confiar, construir
relacionamentos mútuos, o que é determinado pelas funções superegóicas.

Terceiro, uma personalidade normalmente requer um superego maduro e


integrado que se manifesta numa consciência de responsabilidade, habilidade para
uma autocrítica realista, flexibilidade na tomada de decisões e compromisso com
normas, valores e ideias.

Quarto, torna-se necessária a condução adequada dos impulsos libidinais e


agressivos, o que requer a plena expressão das necessidades sexuais e a sublimação

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dos impulsos agressivos com assertividade, resistindo aos ataques sem exagero de
uma reação excessiva e sem voltar-se a agressividade contra si mesmo (self)
(KERNBERG, 2006. apud SÁ, 2010). Para Coleman (2005. apud SÁ, 2010), a
normalidade baseia-se na flexibilidade no uso de mecanismos de defesa, a maioria
de forma madura, apesar da possibilidade (reduzida) de usar mecanismos de defesa
de forma imatura.

Para Bergeret (2004. apud SÁ, 2010), a personalidade normal “corresponde a


uma estrutura profunda, neurótica ou psicótica, não descompensada (e que talvez
nunca o venham a estar), estruturas estáveis e definitivas em si que se defendem
contra a descompensarão por uma adaptação à sua originalidade.”

2.1 Mudança da personalidade

A mudança de personalidade é atualmente definida no contexto terapêutico


(ROGERS, 2007. apud SÁ, 2010) como uma mudança em nível estrutural, tanto
superficial quanto profundo, em direção a uma estrutura mais madura, com maior
integração de si e menos conflito interno.

Rogers continua, no seu artigo original de 1957 e que continua a ser relevante
nos paradigmas psicoterapêuticos de hoje, certificando que essa mudança só ocorre
no contexto relacional da psicoterapia e posteriormente se estende às relações
externas. (SILBERSCHATZ, 2007. apud SÁ, 2010)

Como caracteriza Sá (2010), no debate sobre esta questão, surge uma


questão que divide os teóricos em dois grupos: se é possível ou não mudar a
personalidade de um paciente, dentro do contexto psicoterapêutico, existem aqueles
que argumentam que é possível mudar a personalidade básica de um sujeito e
aqueles que argumentam que tal mudança não é possível. Para esclarecer este
problema, tentaremos responder a duas questões que parecem essenciais na
abordagem deste tema.

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A personalidade está sujeita a mudanças? Em caso afirmativo, quais são os
efeitos dessa mudança? Uma pesquisa recente sugere que os tratamentos
psicodinâmicos e cognitivos, comportamental e farmacológico, promovem mudanças
de personalidade (PIPER; JOYCE, 2001; PARIS, 2005. apud SÁ, 2010). De acordo
com um estudo de Coleman (2005. apud SÁ, 2010), a terapia psicanalítica e cognitiva-
comportamental, tem efeitos sobre as mudanças nas cognições e defesas.

Carl Rogers (2007. apud SÁ, 2010) sugere seis condições necessárias e
suficientes para o processo de mudança de personalidade no contexto da
Psicoterapia:

I. É imprescindível que a relação seja estabelecida, no sentido de que seus


dois intervenientes estarem em contato psicológico (sem relação, não há
mudança);
II. É preciso que o paciente esteja a vivenciar um estado de incongruência,
sentindo-se vulnerável ou ansioso (ou seja, há uma discrepância entre a
experiência atual e a forma como o indivíduo representa essa experiência).
III. Apenas o terapeuta deve mostrar-se congruente, genuíno e integrado no
contexto relacional;
IV. O terapeuta deve aceitar os aspectos do paciente de forma incondicional,
implicando em uma disposição para cuidar do outro, como uma pessoa
separada, não possessiva ou como satisfação própria.
V. O terapeuta deve experimentar uma compreensão empática do quadro de
referência interno do paciente e encorajar a comunicação dessa experiência
com o ele. Ou seja, o terapeuta deve ser capaz de sentir o mundo de seu
paciente como se fosse seu, sem perder sua identidade. Somente se o
terapeuta puder acessar livremente este mundo e percebê-lo genuinamente
e empaticamente, é que ele consegue comunicar com o paciente estes
aspectos, partilhando a linguagem e compreensão do mesmo;
VI. A comunicação da compreensão empática do terapeuta e da aceitação
incondicional ao paciente deve ocorrer em um nível mínimo, uma vez que

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está presente no comportamento, palavras e atitude do terapeuta e é
entendida, quando de uma boa relação, pelo paciente.

Como aponta Sá (2010) nesta proposta, o autor sublinha que é necessária


alguma persistência temporária desta relação e coloca as possibilidades de mudança
nos fatores dessa relação em detrimento das técnicas utilizadas pelos diferentes
modelos. Silberschatz critica Rogers no sentido da convicção de que com alguns
pacientes é necessário concentrar-se nas técnicas utilizadas e que a mudança de
personalidade em psicoterapia depende também das próprias características do
paciente, seja diretamente pela motivação para a mudança, por exemplo, ou pelo que
essas características pessoais sejam reativadas no terapeuta (processos
contratransferenciais).

Alguns estudos relacionados a mudança de personalidade (ROBERTS;


MROCZEK, 2008. apud SÁ, 2010) têm mostrado que isso acontece de forma única e
pessoal em diferentes fases da vida e combinada com diferentes experiências vividas.
Quando comparados em estudos cross-sectional e longitudinais, adultos de meia-
idade apresentam valores mais altos de amabilidade e conscienciosidade do que
adultos mais jovens e têm valores mais baixos na Extroversão, Neuroticismo e
Abertura.

Num outro estudo (ROBERTS; WALTON; VIECHBAUER, 2006. cit in


ROBERTS & MROCZEK, 2008; ASENDORPF, 2008 apud SÁ, 2010), que utilizou o
modelo dos Big Five, verificou-se que nos jovens adultos (20-40 anos) aumentou a
extroversão (na sua dimensão de domínio social), a conscienciosidade e a
estabilidade emocional, diminuindo o neuroticismo; a amabilidade aumenta
significativamente entre os 50 e 60 anos e a abertura à experiência aumenta depois
dos 22 anos, diminuindo aos 60 anos. A maior variação dos traços ocorre entre os 18
e os 30 anos, estabilizando entre os 40 e os 50 e voltando a mudar entre os 50 e os
60.

A maioria dos estudos relatados pelos autores descobriu que as mudanças


foram positivas. Para McWilliams (2005. apud SÁ, 2010) do ponto de vista

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psicanalítico, a personalidade pode ser significativamente alterada pela terapia, mas
não pode ser transformada. As pessoas retêm seus roteiros e guias principais,
conflitos, expectativas e defesas internas, embora mantenham a oportunidade de
expandir sua autonomia e autoestima quando os componentes de sua personalidade
básica são esclarecidos, independentemente de o contrato terapêutico conter ou não
um acordo para mudar a personalidade, a consideração de sua natureza por ambas
as partes facilitará o trabalho do relacionamento terapêutico.

Segundo Debray e Nollet (2004. apud SÁ, 2010), os esquemas de transtorno


de personalidade, ou seja, as perturbações existentes da personalidade são muito
difíceis de mudar, sugerindo que a personalidade de um paciente não pode ser
mudada. De acordo com estes autores, o que é possível fazer é reforçar um esquema
alternativo ou orientar para uma perspectiva socialmente proveitosa para o cliente.

Como tentativa para responder à nossa segunda pergunta, em relação a


personalidade, se a mesma mudar, qual seria o aspecto que iria incidir nessa
mudança? Livesley (2007. apud SÁ, 2010) compreendendo a personalidade como
um sistema organizado de componentes e subsistemas, confirma que cada um dá
origem a diferentes áreas da psicopatologia. Ele reconhece seis áreas de
personalidade alterada/perturbada, como o componente sintomático (por exemplo,
medo, ansiedade, depressão, impulsividade), mecanismos de controle que regulam
emoções e impulsos, predisposições genéticas e o sistema interpessoal (que
consistem em representações do outro, crenças, expectativas e estratégias
comportamentais que influenciam o relacionamento), sistema do self (conjunto de
esquemas utilizados para organizar a autoconsciência e autoconhecimento de forma
coerente, o que confere estabilidade e direcionamento à experiência e direção à
ação).

Conforme a base desses dois últimos domínios interconectados é


desencadeada a compreensão das regras que governam o comportamento humano
(como a teoria da mente, o que irá sugerir um trabalho de mentalização).

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Por fim, a última área está relacionada ao meio ambiente, pois o indivíduo
seleciona, projeta e estrutura seu contexto para apoiar sua personalidade. Portanto, é
necessário que o autor leve esses aspectos em consideração ao tentar intervir no
contexto terapêutico dos transtornos de personalidade. Livesley (2007. apud SÁ,
2010) define cinco fases que compõem o processo de mudança:

Segurança: Ocorre no início do tratamento e respeita o momento de crise (perda do


controle emocional, comportamento desorganizado, agressão a si mesmo, ou seja,
virando-se para o self ou a para o outro), oferecendo uma estrutura de apoio e suporte.

Contenção: Em conjunto com o anterior, visa conter impulsos e afetos e restaurar a


capacidade de controlar o comportamento, o que requer forte aliança, afirmação,
validação e compreensão empática.

Controle e regulação: Essa fase continua após a superação da crise com o objetivo
de reduzir os sintomas, a violência e os ataques ao self por meio da aquisição de
habilidades e competências de autocontrole que compensem os déficits nos
mecanismos reguladores do self.

Exploração e mudança: O tratamento leva à exploração e modificação dos processos


cognitivos, afetivos e motivacionais que estão por trás do problema do paciente.

Integração e síntese: Quando se chega ao fim do tratamento, o mesmo irá exigir a


integração de fragmentos da personalidade e a síntese de uma nova estrutura,
nomeadamente dos limites interpessoais, de um Eu/self mais coerente e de uma
representação mais integrada do outro.

Para Livesley (2007. apud SÁ, 2010), por um lado, trabalhar no tratamento de
personalidades perturbadas envolve construir uma relação de colaboração, manter
um processo de tratamento consistente, promover a validação e construir a motivação
e o compromisso com a mudança. Estas intervenções gerais permitem ao paciente a
experiência a uma vivência de um self estável em sua relação (com o terapeuta), o
que contribui para a construção de um self mais coerente.

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Como descrito por Sá (2010), em relação a intervenções mais específicas,
reitera-se a importância de aumentar a autoconsciência para levar ao
autoconhecimento (ampliando a visão dos pacientes sobre seus problemas e
aspectos de si mesmos (self), especialmente aqueles com transtornos de
personalidade, em que o conhecimento de si mesmo é limitado, desorganizado e
compartilhado ou suprimido), proporcionar novas experiências (dentro e fora do
contexto terapêutico, ou seja, experiências emocionais corretivas com o terapeuta que
podem ser assimiladas e estendidas a outros contextos) e também novas
aprendizagens.

Para o autor, é impensável esperar que os pacientes façam mudanças


profundas sem ajuda na criação de um novo roteiro de vida que os capacitará a
entender o que está acontecendo com eles. Por outro lado, também é importante
trabalhar com o paciente a questão da manipulação que leve a mudança em seu
ambiente. A intervenção cognitiva desempenha um papel importante na modulação
de padrões e esquemas de modos e pensamentos mal adaptativos. As intervenções
psicodinâmicas são úteis na modificação de padrões cíclicos de comportamentos
interpessoais e na manipulação do evitamento e outras estratégias que criam
resistências ao tratamento. (LIVESLEY, 2008. apud SÁ, 2010)

Como alega Sá (2010), dois níveis importantes de mecanismos de mudança


são aqueles que envolvem o paciente e os que envolvem o processo terapêutico,
incluindo as técnicas utilizadas pelo terapeuta. O nível dos mecanismos cognitivos e
de defesa do paciente é um aspecto importante: na terapia cognitivo-comportamental,
a incidência de intervenções para alcançar mudanças está em cognições distorcidas.
Na terapia psicanalítica, a intervenção passa por mecanismos de defesa. Do ponto de
vista cognitivo-comportamental, os sintomas são causados por pensamentos
automáticos desadaptativos o que chamamos de mal adaptativos que refletem a
estrutura cognitiva.

Este modelo teórico utiliza como técnicas o questionamento socrático, a


psicoeducação e o coaching para observar e modificar padrões de pensamento, afeto

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e comportamento. Do ponto de vista psicanalítico, a intervenção nos mecanismos de
mudança é feita através das defesas, do tornar consciente o inconsciente ou da
relação objetal, pela internalização do self e do outro. Neste modelo teórico, a relação
é por si só uma ferramenta que estimula o uso de defesas mais maduras e promove
o insight, através de técnicas interpretativas. (COLEMAN, 2005. apud SÁ, 2010)

2.2 A Personalidade e sua mudança em psicoterapia

O estudo da personalidade sempre despertou um interesse especial na área


social e humana, o que levou a vários conceitos de personalidade que sofreram
mudanças significativas desde a sua introdução. A complexidade desse tema levou a
múltiplas definições, mas parece consensual que haja algo característico que torna
cada indivíduo único. A personalidade, portanto, parece representar uma unidade
integradora da pessoa, o que implica uma organização dinâmica dos aspectos
cognitivos, afetivos, fisiológicos e morfológicos do indivíduo. (DIAS, 2004. apud
GOMES, 2014)

Assim, pode ser entendido como uma série de padrões rígidos de sentimentos,
pensamentos e comportamentos em cada indivíduo. Na mesma linha Pervin e John
(2004; cit in MARTINS; LOPES, 2010. apud GOMES, 2014) propõem uma definição
centralizadora na qual assumem e consideram que a personalidade são as
características da pessoa que explicam padrões consistentes de sentimentos,
pensamentos e comportamentos. É de particular interesse como esses pensamentos,
sentimentos e comportamentos se relacionam entre si para formar o indivíduo único e
peculiar. Em outras palavras, são as características psicológicas que determinam a
singularidade pessoal e social de cada indivíduo. (McMARTIN, 1995. apud GOMES,
2014)

Já Eysenck (1976; cit. in Dias, 2004 apud SILVA ANA; 2014) definiu
personalidade como “a organização mais ou menos estável e persistente do
carácter, temperamento, intelecto e físico do indivíduo, que permite o seu
ajustamento único ao meio”. Deste modo, a personalidade assume uma linha
de padrões básicos de comportamento, que vão sofrendo alterações ao longo
do seu processo evolutivo através da aprendizagem, desenvolvimento e meio
ambiente. (SAVASTANO, 1980. apud GOMES, 2014)

18
Todas as teorias da personalidade surgiram da tentativa de descrever e explicar
como os indivíduos diferem em seu comportamento, em sua personalidade (JOHN,
1999. apud GOMES, 2014). Do ponto de vista de um dos conceitos, a personalidade
é vista como a integração dinâmica dos padrões de comportamento do sujeito com
base no temperamento, caráter, sistema de valores internalizados e habilidades
cognitivas (KERNBERG, 2006. apud GOMES, 2014). Existem vários modelos teóricos
com base psicanalítica, mas todos eles se relacionam com processos dinâmicos, em
contraste com os traços de personalidade, que neste caso são vistos como atributos
estáticos.

Assim, “as pessoas se organizam em dimensões que são significativas para si


mesmas e apresentam características emblemáticas que expressam ambas as
polaridades de uma dimensão proeminente e saliente” (McWILLIAMS, 2005. apud
GOMES, 2014). Em contraste com as teorias psicológicas e cognitivas, a
personalidade é percebida como uma série de padrões que permanecem estáveis ao
longo do tempo, resultante de uma combinação de influências genéticas e do meio ao
longo do desenvolvimento. Assim, a personalidade é percebida como uma série de
características específicas que proporcionam um perfil individual estável.
(ASENDORPF, 2008. apud GOMES, 2014)

Portanto, faz sentido distinguir o conceito de personalidade de traços de


personalidade, em que os últimos são definidos como uma unidade de análise
comportamental, no entanto, a forma como eles estão relacionados não é semelhante.
Assim, o caráter único e distinto que a personalidade confere a cada indivíduo inclui
traços gerais semelhantes aos de outras pessoas. Portanto, duas pessoas com
personalidades diferentes podem se comportar de forma semelhante. Dessa forma, o
paradigma de traços é baseado na identificação das características de personalidade
que são responsáveis pela consistência comportamental. (PAIM, 2002. apud SILVA,
2014)

Atendendo às várias definições de Personalidade, é indiscutível de que se


trata de uma construção complexa, individual, que apresenta um
desenvolvimento gradual. É assim entendida como um conjunto de traços que
permitem diferenciar as pessoas entre si, no modo como agem e se

19
relacionam com a sociedade e com elas mesmas. (DORON; PAROT, 2001.
apud SILVA, 2014)

Quando se trata de mudanças de personalidade, Rogers (2007. apud SILVA,


2014) a definiu como uma mudança que pode ser estrutural, superficial ou profunda,
no sentido de que se pretende uma estrutura mais madura, com maior integração do
eu/self, e isso significa menos conflito interno. No entanto, a mudança de
personalidade no processo psicoterapêutico é um tema controverso, na medida em
que alguns autores defendem essa possibilidade, outros consideram tal mudança
impossível. Mas hoje sabemos que há estudos que mostram que tanto a terapia
psicanalítica quanto a cognitivo-comportamental causam mudanças na
personalidade. (LIVESLEY, 2008. apud SILVA, 2014)

2.3 Estudos no âmbito das mudanças nos sintomas e na estrutura

Para Silva (2014), por meio dos estudos do processo psicoterapêutico, é


possível compreender como ocorrem as mudanças durante o tratamento e possibilitar
identificar os mecanismos de ação terapêutica, bem como as variáveis que dependem
da eficácia da psicoterapia. Estudos experimentais possibilitam estratégias de
mudança terapêutica, nesse sentido, são apresentados alguns estudos que utilizaram
instrumentos de avaliação para poder comparar a mudança em termos de sintomas e
estrutura, no decorrer do processo terapêutico.

Lingiardi e colaboradores (2010. apud SILVA,; 2014) conduziram um estudo de


caso que descreve o curso de uma análise usando algumas ferramentas de
instrumentos de avaliação, Shedler-Westen Assessment Procedure-200 - SWAP-200
(SHEDLER; WESTEN, 2006. apud SILVA, 2014), a Defense Mechanism Rating Scale
- DMRS (PERRY, 1990. apud SILVA, 2014) e a Analytic Process Scales - APS
(WALDRON; SCHARF; CROUSE; FIRESTEIN; BURTON, 2004. e WALDRON;
SCHARF; HURST; et al., 2004. apud SILVA, 2014) para estudar transcrições integrais
de sessões. Essa avaliação foi realizada tanto pelo terapeuta, como por avaliadores
independentes.

20
Como caracteriza Silva (2014), as transcrições foram avaliadas por dois anos,
com a DMRS e a APS no início da análise e a cada seis meses, e com o SWAP-200
a cada doze meses, porque não há mudanças na avaliação da personalidade antes
do primeiro ano de terapia. No início, a paciente evidenciava traços obsessivos,
paranoides e hostis, e de externalização. No que se refere à avaliação da capacidade
funcional, ela se apresentou em um nível médio em comparação a uma amostra de
pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade. No nível de defesa, estava
localizado no nível neurótico e enfatizava a defesa contra a intelectualização e
deslocamento. Ao fim do primeiro ano, assistiu-se a uma elevação na personalidade
saudável, pela avaliação do SWAP-200, não apresentando critérios para um
diagnóstico de perturbação de personalidade.

Conforme Silva (2014), ao mesmo tempo houve um aumento na função geral


de defesa avaliada com a DMRS. Do ponto de vista analítico, a produtividade geral da
contribuição do paciente para a terapia melhorou em aproximadamente 12,5%. No
final do segundo ano, obteve um ganho adicional de 2,9 pontos na classificação de
alto desempenho do SWAP-200, resultando em um aumento geral de 49,34 para
60,81, valores muito diferentes dos valores originais comparando com os nos iniciais.
No nível de defesa, não houve mudança em seu estilo de defesa no domínio neurótico,
mas houve diminuição na defesa neurótica e obsessiva e um aumento na defesa
madura, com o desempenho geral da defesa sendo ligeiramente maior do que no final
do primeiro ano de psicoterapia.

Hersoug e colaboradores (2002. apud SILVA, 2014) conduziram um estudo


com o objetivo de compreender se as mudanças observadas nos mecanismos de
defesa predizem os resultados durante a psicoterapia psicodinâmica breve. Assim,
eles compararam a mudança nos sintomas e nas defesas, sendo esta última avaliada
por meio da escala DMRS e do questionário DSQ sobre estilo defensivo em uma
amostra de 43 pacientes. Os autores deste estudo concluíram que o funcionamento
geral defensivo teve melhorias só a partir da 16ª sessão, ao passo que os sintomas
apresentaram uma melhoria logo no início da terapia.

21
Moreno e colaboradores (2005. apud SILVA, 2014) apresentaram um estudo
de caso de 2 anos em psicoterapia psicodinâmica para avaliar o diagnóstico
psicodinâmico e sua evolução. Para tal, os teóricos utilizaram material nas sessões
de supervisão com as seguintes técnicas e instrumentos empíricos: o tema central da
relação de conflito, ou seja, núcleo do relacionamento conflituoso (Core Conflitual
Relationship Theme) (Luborsky; Crits-Christoph, 1990. apud SILVA, 2014), a
Symptom Checklist-90-Revised (DEROGATIS, 1983. apud SILVA, 2014), e Elementos
Diferenciais para um Diagnóstico Psicodinâmico (MORENO; et al., 1998. apud SILVA,
2014). Assim, foi possível o reconhecimento de alguns fatores responsáveis pela
mudança psíquica ao longo do processo psicoterapêutico, mostrando os benefícios
da utilização de vários instrumentos de avaliação possibilitando uma análise mais
completa acerca da evolução do paciente durante o tratamento.

Por Malheiro (2012. apud SILVA, 2014), a personalidade e o mecanismos de


defesa foram avaliados por meio de gravações de áudio de reuniões a cada seis
meses com Shedler-Westen Assessment Procedure (SWAP-200) e o Defense
Mechanism Rating Scales (DMRS), respetivamente, e o Symptom Checklist-90-
Revised (SCL-90-R) aplicado em três momentos distintos ao longo do processo
psicoterapêutico. Com este estudo, a intenção era investigar as ligações entre as
alterações da personalidade, o uso de determinados mecanismos de defesa e a
redução dos sintomas em dois pacientes, seguido de psicoterapia pelo mesmo
terapeuta durante um período de 2 anos. Dos resultados obtidos concluiu que em
ambos os casos analisados, a mudança sintomática ocorreu de uma forma mais
rápida do que ao nível estrutural, isto é, ao nível da personalidade e dos mecanismos
de defesa.

Loureiro (2012. apud SILVA, 2014) também realizou um estudo que teve como
objetivo, observar a relação entre mudanças nos mecanismos de defesa e traços de
personalidade durante todo o processo terapêutico em dois pacientes com
personalidades diferentes. Para a avaliação dos mecanismos de defesa foi utilizada a
escala Defense Mechanisms Rating Scales (DMRS) e, na avaliação das
características de personalidade, o The Shedler-Westen Assessment Procedure

22
(SWAP-200). Foram analisadas 33 gravações áudio de sessões de duas pacientes do
mesmo terapeuta sob psicoterapia de inspiração psicanalítica.

De acordo com Silva (2014), os resultados mostraram que diferentes pacientes


e grupos de patologia levaram a uma taxa característica de mudança nos mecanismos
de defesa. Os níveis globais de funcionamento defensivo na DMRS e os indicadores
de saúde mental do SWAP-200 variaram no mesmo sentido em ambas as pacientes.
A partir disso, concluiu-se que as flutuações na personalidade do paciente e na função
de defesa estão relacionadas, o que é um forte indicador das mudanças estruturais
encontradas ao longo do processo terapêutico.

O estudo realizado por Marques (2012. apud SILVA, 2014) consistia em


observar como as atitudes, comportamentos e interações do terapeuta mudam
quando influenciados pelos traços de personalidade de seus pacientes. Para tal,
analisou gravações áudio de sessões de duas pacientes em psicoterapia psicanalítica
com o mesmo terapeuta durante dois anos e avaliadas utilizando o Psychotherapy
Process Q-Set - PQS no início, 6, 12, 18 e 24 meses de terapia.

A personalidade dos pacientes foi avaliada através do ShedlerWesten


Assessment Procedure - SWAP-200 (SHEDLER; WESTEN, 1998. apud SILVA, 2014)
e os resultados das terapias foram obtidos através do SCL-90-R (DEROGATIS;
SAVITZ, 2000. apud SILVA, 2014). Dos resultados obtidos, foi constatado que o
terapeuta foi mais claro, seguro e paternalista, com a paciente neurótica obsessiva,
aderindo mais fortemente ao protótipo psicodinâmico com a paciente borderline e
dependente, com quem foi adaptando mais a sua adesão a diferentes técnicas ao
longo do tempo.

23
3 NOTA HISTÓRICA SOBRE AS PERTURBAÇÕES DE PERSONALIDADE NO
DSM

Conforme Gomes (2013), os transtornos de personalidade foram descritos pela


primeira vez em uma publicação oficial como entidades diagnósticas separadas e
distintas na primeira edição do DSM em 1952, e são definidas como defeitos de
desenvolvimento ou tendências patológicas na estrutura da personalidade e foram
divididas em três grupos: perturbações de padrão de personalidade, perturbações de
traço de personalidade e perturbações de personalidade sociopática, seção que
incluía diagnósticos de desvio sexual e abuso de substâncias. Cada um dos grupos
referidos continha quatro categorias diagnósticas.

Como destaca Gomes (2013), os principais pontos de crítica a este primeiro


sistema de classificação foram a falta de critérios de diagnósticos essenciais e a falta
de evidências empíricas. A descrição geral das perturbações de personalidade no
DSM-II, publicado em 1968, quase não apresentou alterações em relação a
publicação anterior e apenas acrescentou que essas patologias são muitas vezes
identificáveis na adolescência ou até mesmo antes. Neste volume eram consagradas
10 perturbações de personalidade específicas, bem como as categorias de
diagnóstico “Outras perturbações de personalidade especificadas” e “Perturbação de
personalidade não especificada”.

De acordo com Gomes (2013), a publicação da 3ª edição do DSM, em 1980,


introduziu o sistema multiaxial de organização da psicopatologia, estando as
perturbações de personalidade incluídas no Eixo II, considerando-as em entidades
nosológicas distintas das principais síndromes clínicas em Psiquiatria, podendo
coexistir com estes mesmos. A definição geral de transtorno de personalidade
esclareceu a distinção entre traços e transtornos de personalidade, enfatizando a
necessidade de inflexibilidade, desajustamento e interrupção do funcionamento do
indivíduo para que o diagnóstico do transtorno de perturbação fosse aplicado.

24
De acordo com Gomes (2013), este volume forneceu uma descrição mais
abrangente de cada uma dessas patologias, para as quais os critérios diagnósticos
politéticos foram estabelecidos pela primeira vez e 11 diagnósticos específicos foram
definidos, organizados em 3 grupos ou “clusters”, bem como uma categoria residual
reservada para perturbações de personalidade atípicas, mistas ou outras, conforme
tabela:

Fonte: eg.uc.pt

Essas mudanças levaram a uma melhoria significativa na validade e


confiabilidade dos diagnósticos em patologia de personalidade. A versão revista do
DSM-III, publicada em 1987, foi publicada e orientada por uma maior estabilidade na
seção de transtornos de personalidade em relação as perturbações fazendo uma
comparação com as edições anteriores. Bem como algumas mudanças de nome,
incluindo a atribuição das letras A B e C aos diferentes “clusters/ aglomerados”, certos
critérios diagnósticos, baseados na literatura e pesquisas empíricas disponíveis até o

25
momento, também foram modificados para alcançar maior objetividade e validade
científica.

Como relata Gomes (2013), no apêndice A foram adicionados dois novos


diagnósticos em relação aos transtornos de personalidade sobre a questão das
perturbações como por exemplo a personalidade sádica e autodestrutiva, tendo em
vista que foram incluídos no apêndice A, tornando-se assim alvos para investigação
futura no sentido de esclarecer a sua validade e utilidade clínica. No DSM-IV,
publicado em 1994, a definição geral de transtornos de personalidade das
perturbações foi expandida e os pré-requisitos para diagnosticar esses transtornos
são apresentados na forma dos seguintes critérios diagnósticos gerais.

A - Padrões persistentes de experiências e comportamentos internos que diferem


significativamente do que é esperado na cultura do indivíduo em pelo menos duas das
seguintes áreas: cognição, afetividade, funcionamento interpessoal e controle de
impulsos.
B - A rigidez desse padrão global se manifesta em uma ampla gama de situações
pessoais e sociais.
C - Estresse e sofrimento clinicamente significativo ou deficiência em áreas sociais,
ocupacionais ou outras áreas funcionais importantes que podem ser atribuídas a este
padrão.
D - Estabilidade, longa duração e início da adolescência ou também início da idade
adulta.
E - O padrão não pode ser melhor explicado como uma manifestação ou consequência
de outro transtorno de personalidade das perturbações.
F - O padrão não se deve ao efeito fisiológico direto de uma substância ou de uma
doença geral.

Gomes (2013) aduz que nesta publicação apenas 10 diagnósticos específicos


de transtornos de personalidade no eixo II foram definidos. Tendo a perturbação de
personalidade passivo-agressiva sido transferida para o Apêndice B com a nova
designação de perturbação de personalidade negativista, por não cumprir requisitos

26
de validade e utilidade clínica. O Apêndice B contou ainda com a inclusão da
perturbação de personalidade depressiva. Transtornos de personalidade sádicos e
autodestrutivos foram excluídos desta publicação. Os demais transtornos de
personalidade permaneceram conceitualmente idênticos às suas versões na
publicação anterior, sem prejuízo da inclusão de um maior número de informações
empíricas relativas a cada categoria diagnóstica e mudanças nos critérios
diagnósticos.

Ainda de acordo com Gomes, também digno de nota é a inclusão de uma


referência à possibilidade de conceituar a personalidade de um ponto de vista
dimensional na nota introdutória à seção sobre patologia da personalidade,
descrevendo brevemente alguns dos modelos mais importantes. Da revisão do DSM-
IV, publicada em 2000, resultaram apenas alterações pontuais ao texto de alguns dos
diagnósticos específicos de perturbações de personalidade, bem como uma
atualização da nota referente aos modelos dimensionais.

3.1 Integração dos Modelos Dimensionais

A tarefa de fornecer uma integração entre a nomenclatura no campo da


psiquiatria relacionada aos transtornos de personalidade e os modelos dimensionais
é algo que sofre uma considerável resistência. Como resultado dessa tentativa, uma
série de problemas podem surgir como grandes preocupações. São elas: consenso,
em termos estruturais, implementação e aplicabilidade/utilidade clínica. (WIDIGER,
2007. apud GOMES, 2019)

Existem, ao todo, 18 propostas de modelos dimensionais para os transtornos


de personalidade. Esses modelos são bem diferentes entre si, ao ponto de
dificultar o surgimento de um consenso para definições estruturais
(WIDIGER, 2007 apud GOMES A; 2019). Uma alternativa proposta foi a de
fornecer uma conversão de cada categoria diagnóstica em uma escala de 5
pontos/domínios, possibilitando seu uso para a descrição dos perfis de
personalidade. Porém, isso teria uma grande limitação: grande sobreposição
diagnóstica de várias categorias diagnósticas.

27
No entanto, parece que implementar um modelo hierárquico unificado é
possível, uma vez que os modelos têm objetivos comuns. A solução ideal seria não
escolher entre um ou outro, mas obter um modelo que represente de forma integrativa
as propostas existentes e que combine as contribuições e vantagens de cada um.
(WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019)

O principal objetivo da introdução de uma nomenclatura oficial é criar uma


linguagem comum e facilitar o desenvolvimento de um sistema de diagnóstico
universal. Este seria um passo importante para uma maior integração da psicologia e
da psiquiatria (WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019). Além disso, outro sistema de
avaliação do comprometimento e funcionamento da personalidade é necessário para
obter os vários graus de possíveis gravidades. (FEW, 2013. apud GOMES, 2019)

Para Gomes (2019), a forma como ocorreria a implementação de um modelo


dimensional na prática clínica é motivo de grande preocupação. Um benefício
importante do uso de uma classificação dimensional seria a inclusão de vários valores
limites que poderiam orientar as decisões na prática clínica (por exemplo, fornecer
uma medicação particular, hospitalizar um paciente). Essa mudança na nomenclatura
psiquiátrica ainda é considerada radical. No entanto, já existe um precedente no DSM-
IV-TR, no diagnóstico de retardo mental.

A inteligência é um domínio que, como a personalidade, se distribui em uma


gradação hierárquica e multifatorial, uma vez que os níveis de inteligência são
derivados de uma interação complexa de vários fatores (genéticos, fetais, do
desenvolvimento, do ambiente). O ponto de definição do diagnóstico é um QI de 70
ou menor, que é associado a um comprometimento significativo. O principal
argumento contrário a uma classificação dimensional dos transtornos de
personalidade é sua utilidade clínica, constituindo o obstáculo mais importante no
caminho de sua implementação. (WIDIGER, 2007. apud GOMES, 2019)

A proposta dimensional não foi aceita como um sistema de diagnóstico oficial,


tendo sido incluída na seção III (emerging measures and models - medidas e modelos
emergentes) para encorajar estudos futuros, esta decisão foi tomada devido ao apoio

28
limitado à pesquisa e a uma mudança muito repentina na prática clínica, no entanto,
os componentes do modelo alternativo para transtornos de personalidade
provavelmente desempenharão um papel importante nas novas versões do DSM.
(FEW, 2013. apud GOMES, 2019)

O termo personalidade traz diversas controvérsias em sua definição. O teórico


Gordon Alport sugeriu que a personalidade pode ser entendida simplesmente como
“O que a pessoa realmente é”. De acordo com o DSM-5, o transtorno de personalidade
é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia
fortemente das expectativas da cultura de um indivíduo, sendo este difuso e inflexível,
começa na adolescência ou no início da idade adulta, permanece estável ao longo do
tempo e leva a um considerável sofrimento e / ou restrições de prejuízos funcionais.
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014. apud GOMES, 2019)

Os seguintes transtornos de personalidade estão incluídos no DSM-5:

- Transtorno de personalidade paranoide: Esse tipo de transtorno de personalidade


leva à desconfiança ou grande suspeita que as motivações dos outros são
interpretadas como maliciosas. (GOMES, 2019)

- Transtorno de personalidade esquizoide: São padrões que fazem com que o


indivíduo se distancie das relações sociais e também adquira uma faixa restrita de
prejuízo da expressão emocional. (GOMES, 2019)

- Transtorno da personalidade esquizotípica: Padrões de estresse e desconforto


agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou perceptivas e
excentricidades comportamentais. (GOMES, 2019)

- Transtorno de personalidade antissocial: Diz respeito a comportamentos divergentes


com outras pessoas, incluindo um sentimento exagerado da própria importância, bem
como antipatia insensível em relação aos outros, englobando os traços de
manipulação, insensibilidade, desonestidade e hostilidade. (JESUÍNO, 2019)

29
- Transtornos de personalidade borderline: O transtorno da personalidade borderline
(TPB) pode ser caracterizado pela notável instabilidade em muitos, se não em todos,
os aspectos do funcionamento da pessoa, incluindo relacionamentos, autoimagem,
afeto e comportamento. (BECK; FREEMAN; DAVIS; et al., 2005. apud SILVA, 2018)

- Transtorno de personalidade histriônica (TPH): Padrão predominante de procura por


atenção e emocionalidade em excesso. As principais características são a
necessidade de ser o centro das atenções, sentindo desconforto quando não o é, o
uso de atributos físicos e vestimenta para chamar a atenção, os comportamentos
excessivamente dramáticos e de teatralidade, a mudança rápida e superficial das
emoções, e o estilo impressionista e carente de detalhes no discurso. (APA, 2013
apud SETTE, 2019)

- Transtorno de personalidade narcisista (TPN): Padrão invasivo de grandiosidade,


necessidade de admiração e falta de empatia. Outras características presentes no
diagnóstico são fantasias de sucesso ilimitado e poder, senso inflado de auto
importância, crença de ser especial e merecedor de privilégios e de tratamento
especial, comportamentos de manipulação para ganho próprio, e arrogância. Pessoas
diagnosticadas com TPN também podem apresentar autoestima vulnerável,
sentimento de vazio e sentimentos de angustia e tédio. (APA, 2013. CALIGOR; LEVY;
YEOMANS, 2015. apud SETTE, 2019)

- Transtorno de personalidade evitativa: É caracterizada sobretudo por uma evitação


comportamental, emocional e cognitiva generalizada, que se explica por um medo
intenso da avaliação negativa dos outros. (FONTES, 1997)

- Transtorno de personalidade dependente: Se caracteriza, sobretudo, por uma


excessiva necessidade de cuidado e proteção, que, pelo medo da separação, leva à
submissão e a um intenso vínculo com o outro. (FONTES, 1997)

- Transtorno de personalidade obsessivo–compulsivo (TPOC): Possui como principais


características a preocupação com a organização e o perfeccionismo. Pessoas
diagnosticadas com esse transtorno de personalidade dedicam-se excessivamente ao

30
trabalho, são conscienciosas, escrupulosas e inflexíveis com questões morais, éticas
ou de valores; a dificuldade em descartar objetos também pode se fazer presente. O
TPOC é um dos transtornos de personalidades mais prevalentes de todos, afetando
aproximadamente de 2,1% a 7,9% da população; sendo que, nos homens, é duas
vezes mais comum. (APA, 2013. apud MELCA, 2015)

- Mudança de personalidade devido a outra condição médica: É uma perturbação


persistente da personalidade entendida como decorrente dos efeitos fisiológicos
diretos de uma condição médica (ex: lesão do lobo frontal). (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014. apud GOMES, 2019)

4 A ABORDAGEM COGNITIVA-COMPORTAMENTAL E TRANSTORNOS DE


PERSONALIDADE

4.1 Transtorno da personalidade

A possibilidade de tratamentos de transtornos de personalidade através da


terapia cognitiva remonta desde Beck. A terapia cognitiva comportamental considera
que os afetos desorganizados e a frequência de comportamentos e pensamentos
autodepreciativos advêm de esquemas de pensamento disfuncionais, buscando
alterá-los através de modificações na consciência do sujeito. (BECK, 2004. apud
COSTA; VALÉRIO, 2008. apud PEREIRA, 2020)

A personalidade é um dos construtos cognitivos de maior complexidade devido


ao seu caráter tão multifacetado. Ressalta-se que a teoria cognitiva indicou uma
importante direção no desenvolvimento adicional e abrangente da teoria da
personalidade. Em Beck e Alford (2000. apud FIORAVANTE, 2014), encontra-se a
seguinte definição de personalidade:

[...] personalidade é o termo que aplicamos a padrões específicos de


processos sociais, motivacionais e cognitivo-afetivos, cujos estudos
individuais consistem as diferentes áreas de especialização de pesquisa
psicológica [...] a formulação acima expressa uma visão um tanto nova de
quais elementos devem ser incluídos em uma conceitualização científica

31
contemporânea de personalidade como um constructo unificador ou
organizador para o comportamento humano complexo. (apud FIORAVANTE,
2014)

De acordo com Beck (2004. apud PEREIRA, 2020), as pessoas constroem


esquemas cognitivos a partir da sua experiência de vida, essas estruturas são
adaptáveis conforme o valor que tiveram para o sujeito ao longo da sua vida.
Entretanto, suas estruturas cognitivas não são verdades absolutas para lidar com o
cotidiano, e podem na verdade se tornar disfuncionais ao longo das suas novas
possibilidades de vivência. É através dos esquemas que o sujeito se comporta, sente
e interpreta novas realidades.

Beck; et al. (2012. apud FIORAVANTE, 2014) sugeriram que os processos


cognitivos, afetivos e motivacionais são determinados pelos esquemas
idiossincrásicos que constituem os elementos básicos da personalidade.

Em geral, pacientes apresentam transtornos cujas apresentações clínicas


podem ser um pouco enganosas em virtude da prática de insistir em fixar um
diagnóstico único ou principal. Porém, muitas pesquisas indicam que a maioria das
pessoas apresentam, pelo menos, duas ou três comorbidades mentais associadas,
categorizando-se em múltiplos diagnósticos (BECK, 1992. apud FIORAVANTE,
2014). O tratamento de cada transtorno necessita de competências diferenciadas, o
que implica em dizer que as estratégias e técnicas cognitivas utilizadas em transtornos
clínicos leves e moderados não podem ser empregadas de maneira semelhante nos
casos graves (BECK, 2000. apud FIORAVANTE, 2014). Um número crescente de
diferentes transtornos e transtornos mais graves são tratados, atualmente, com
terapia cognitiva. (BUTLER; BROWN; BECK & GRISHAM, 2002. BUTLER; et al.,
2006. BECK, 2000. BECK, 1997-1998. STUART; et al., 1997. apud FIORAVANTE,
2014)

Quando a pessoa passa constantemente por traumas ou eventos de muita


agressividade, é possível que ocorra distorções nas estruturas, as chamadas
distorções cognitivas, que consequente irão modificar sua forma de agir diante das

32
situações cotidianas, podendo ser, inclusive, mais prejudiciais para os outros e para
si. (BECK, 1997. FORATO; BELUCO, 2019. apud PEREIRA, 2020)

Grande parte do interesse renovado nos transtornos de personalidade decorre


de pesquisas que demonstram que um diagnóstico de transtorno de personalidade é
um bom preditor de má resposta ao tratamento psicológico e farmacológico por parte
de pacientes com transtornos de ansiedade (BECK, 1994). Diversos estudos têm
encontrado altas taxas de diagnóstico de transtorno de personalidade entre os
pacientes com transtornos do Eixo I (transtorno de pânico, transtorno obsessivo-
compulsivo, ansiedade generalizada). (BECK, 1994. BECK, et al., 2001. apud
FIORAVANTE, 2014)

A teoria cognitiva propõe que as crenças relacionadas aos transtornos de


personalidade perpetuam os comportamentos desses transtornos. (BECK; et al., 2001
apud FIORAVANTE, 2014)

Esses são explicados por esquemas negativos e disfuncionais que se


desenvolvem cedo como estratégias de adaptação à vida e produzem julgamentos
tendenciosos e erros cognitivos de forma consistente e em todos os aspectos da vida
do indivíduo (BECK, 1998. apud FIORAVANTE, 2014). A combinação dessas
estratégias promovidas pelo processamento de informações disfuncional e crenças
negativas sobre o self, os outros e as relações interpessoais gera afetos e influências
motivacionais que estreitam os tipos de resposta do indivíduo diante das situações
vivenciadas por ele. (BECK; FREEMAN, 1990; BECK,1998. apud FIORAVANTE,
2014)

As estruturas que estariam na base da personalidade têm características como


amplitude (estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação),
densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são
energizados) (MARTINS, 2010. BUTLER; et al., 2002). Pode-se afirmar que os
esquemas nos transtornos de personalidade seriam amplos, rígidos, densos e
hipervalentes. Uma vez hipervalentes, os esquemas são facilmente ativados, mesmo
que o estímulo seja inócuo. Esses esquemas inibem outros esquemas mais

33
adaptativos ou mais apropriados e introduzem um viés sistemático no processamento
da informação. (BECK; DAVIS, 2005. apud FIORAVANTE, 2014)

No livro “Terapia Cognitiva para os Transtornos de Personalidade”, Beck et al.


(2012 apud FIORAVANTE, 2014) publicou uma lista de crenças disfuncionais as que
foram associadas a transtornos de personalidade específicos. Essas crenças foram
derivadas de conceituações individualizadas dos problemas do paciente e na geração,
implementação e avaliação de estratégias de tratamento baseadas em conceituações
de caso. A avaliação de crenças é um componente importante da terapia cognitiva
dos transtornos de personalidade. Crenças disfuncionais formam o componente
central das conceituações cognitivas, sendo o principal alvo de intervenção. Quando
identificadas corretamente, as principais crenças disfuncionais refletem um ou mais
temas conceituais que ligam o paciente à sua história de desenvolvimento, estratégias
compensatórias e reações disfuncionais à atual situação de vida do paciente (BHAR;
BECK; BUTLER, 2012. BUTLER; BROWN; DAHLSGAARD; NEWMAN; BECK, 2001.
apud FIORAVANTE, 2014). Além disso, a avaliação de tais crenças também pode ter
uma função diagnóstica.

De acordo com Breschi (2013), a terapia cognitiva comportamental observa e


percebe o transtorno de personalidade a partir do momento em que entra em contato
com a história de vida do indivíduo e dessa maneira começa a conhecer como este
estabeleceu os seus padrões de pensamentos, sentimentos e comportamentos. A
TCC se relaciona com os esquemas, pois é a partir deles que o indivíduo estrutura as
suas crenças e vão servir como base para interpretação das experiências vivenciadas
por ele. Contudo, as crenças do indivíduo interferem principalmente nos pensamentos,
afetos e comportamentos. As percepções das aprendizagens podem ser modificadas
a depender dos esquemas da pessoa quando estes se tornam rígidos, ou seja, são
pouco afetados pelas experiências vividas e podem afirmar e até sustentar a
manifestação e surgimento de transtornos de personalidade ou esquemas
disfuncionais.

34
4.2 Teoria de personalidade de Aaron Beck

De acordo com Martins (2010), no campo da terapia cognitiva procuramos


compreender a relação entre o que chamamos de personalidade e a adaptação do
indivíduo ao meio em que está inserido. Neste sentido, a compreensão da
personalidade não pode prescindir das teorias da herança filogenética. Claramente,
como acontece em todas as espécies, as estratégias que favoreciam a sobrevivência
e a reprodução foram mantidas pela seleção natural. Em relação a tais estratégias,
quando pensamos na espécie humana, podemos dizer que nos ajudaram a chegar a
este ponto, que podemos controlar razoavelmente a natureza e manipulá-la até certo
ponto a nosso favor. Sabemos que quando relacionamos a questão das estratégias
que favorecem a sobrevivência e a reprodução, as mesmas devem ser a base do que
chamamos de personalidade.

A discussão sobre personalidade dentro da Teoria Cognitiva avança desde


estratégias baseadas na evolução, até uma consideração de como o
processamento da informação, incluindo processos afetivos, antecede a
operação destas estratégias. (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS,
2010)

Uma vez que o requisito e a demanda ambiental ocorrem, o indivíduo avalia as


necessidades específicas para atender a esse requisito e ativa automaticamente uma
estratégia que pode ou não ser adaptada ao contexto. Dessa forma, para Beck, Shaw,
Rush e Emery (2005. apud MARTINS, 2010) como uma situação é avaliada depende,
pelo menos em parte, das crenças subjacentes relevantes que são integradas em
estruturas mais ou menos estáveis, os chamados “esquemas”, que selecionam e
sintetizam informações.

Para Martins (2010), portanto, a sequência psicológica vai da avaliação ao


estímulo afetivo e motivacional e, finalmente, à seleção e implementação da estratégia
adequada. Os esquemas são considerados para a abordagem cognitiva, como sendo
partes fundamentais da personalidade. E ele a define como uma organização
relativamente estável de sistemas e padrões que são compostas por moldes. O
sistema de estrutura interconectada (esquemas), responde por uma sequência que se

35
alonga a recepção do determinado estímulo ao ponto final de resposta
comportamental.

Segundo Beck; et al. (2005. apud MARTINS, 2010), traços de personalidade


identificados por adjetivos como “dependente”, “isolado”, “arrogante” ou “extrovertido”
são conceituados como uma expressão óbvia dessas estruturas subjacentes. Por sua
vez, atribuímos os padrões de comportamento a traços (honesto, tímido,
comunicativo), e que representa uma estratégia de relacionamento interpessoal
desenvolvida a partir da interação entre os padrões genéticos e ao meio em que o
indivíduo está inserido.

Todos os perfis de personalidade têm suas raízes na história evolutiva de nossa


espécie, e assim como todas as outras sofreram os efeitos da seleção natural,
permanecendo no ambiente os representantes de cada uma delas que fossem mais
aptos a se manter vivos e reproduzir. Portanto, o que chamamos de perfis de
personalidade são o produto de estratégias mais eficazes que favoreceram a evolução
da espécie humana. (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS, 2010)

O comportamento dramático que atrai a atenção da personalidade histriônica


pode ter suas raízes em rituais de exibição em animais não humanos; em todo o reino
animal são observados o comportamento predatório e dependente, essa observação
acontece pelo comportamento de apego (BECK; FREEMAN, 1993. apud MARTINS,
2010). Todos os outros perfis estão de acordo no que diz respeito a comportamentos
que foram e muitas vezes continuam a ser extremamente importantes para a
adaptação do indivíduo.

Para Beck; et al. (2005. apud MARTINS, 2010) embora os organismos não
tenham consciência do objetivo final dessas estratégias biológicas, eles conhecem os
estados subjetivos que refletem seu funcionamento de operação: fome, medo,
estimulação sexual e recompensas ou punições. Todas elas orientadas para garantir
a sobrevivência e a reprodução, ou seja, contribuindo para a adaptação do organismo.

36
4.3 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade

Conforme Martins (2010), quando se parte da ideia de que os perfis de


personalidade são o resultado de estratégias que foram importantes na adaptação da
espécie ao meio ambiente, resta responder como pode ocorrer os transtornos de
personalidade. As estratégias que colaboram para a adaptação do sujeito também
são o foco das psicopatologias. Mais especificamente, neste caso de transtornos de
personalidade.

Uma vez que os esquemas, essas estruturas que estariam na base da


personalidade de cada um de nós, têm características estruturais como amplitude
(estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação), e
densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são
energizados), pode-se afirmar que os esquemas nos transtornos de personalidade,
seriam amplos, rígidos, densos e hipervalentes. Uma vez hipervalentes, os esquemas
são facilmente ativados, mesmo que o estímulo seja inócuo, esses esquemas inibem
outros esquemas mais adaptativos ou mais apropriados e introduzem um viés
sistemático no processamento da informação (BECK; DAVIS 2005. apud MARTINS,
2010). Apesar da semelhança entre os esquemas dos transtornos de personalidade e
os das síndromes sintomáticas, os primeiros operam sobre o processamento de
informação em uma base mais contínua.

Um esquema no transtorno de personalidade será ativado quase sempre e será


parte do processamento da informação, normal e cotidiano, do indivíduo. A partir de
semelhanças descritivas, os transtornos de personalidade são divididos em três
grupos:

- Grupo A: Transtornos de Personalidade Paranoide, Esquizoide e Esquizotípica.

- Grupo B: Transtornos Antissocial, Borderline, Histriônico e Narcisista.

- Grupo C: Transtornos de Personalidade Esquiva, Dependente e Obsessivo-


compulsiva. (APA, 2002. apud MARTINS, 2010)

37
Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002. apud MARTINS, 2010) o traço de
personalidade é um padrão persistente de perceber, relacionar-se com e pensar sobre
o ambiente e sobre si mesmo, que se manifesta em vários contextos sociais e
pessoais. Esses traços, quando inflexíveis e desadaptativos, causam mal-estar
subjetivo e prejuízo funcional significativo, caracterizando assim um transtorno de
personalidade.

4.4 Terapia Cognitivo Comportamental (TCC)

Com o desenvolvimento de uma terapia cognitiva para o tratamento da


depressão em meados da década de 1960, Aaron Beck deu uma importante
contribuição para a compreensão e o tratamento de doenças psiquiátricas; no entanto,
seu plano sempre foi que o modelo cognitivo se adaptasse a outros transtornos e, ao
fazer isso, provou ser bem-sucedido, principalmente no tratamento de transtornos de
humor, ansiedade e abuso de substâncias e dependência. (KNAPP; BECK, 2008.
apud CAVALCANTI; et al., 2016)

A TC identifica e trabalha três níveis de cognição: pensamentos automáticos


(PA), pressupostos subjacentes ou crenças intermediárias e crenças nucleares ou
crenças centrais. É importante enfatizar que, todos nós temos crenças, pressupostos
e PA tanto positivos quanto negativos, e o trabalho se refere aos disfuncionais.
(KNAPP; BECK, 2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016)

Pensamentos automáticos, pressupostos subjacentes, crenças nucleares e o


impacto do humor na cognição combinam-se para configurar um ciclo auto
perpetuador observável em todos os transtornos. Um indivíduo pode ter
crenças disfuncionais que o predispõem para a psicopatologia mesmo sem
ter algum efeito perceptível, até que surge uma situação relevante que ativa
essas crenças. Estas, por sua vez, ativam os PA, evocando um humor
correspondente, cuja natureza depende deles. Esse humor, então, leva o
indivíduo a tendenciar as memórias de tal forma que ele experiência mais PA
disfuncionais, intensificando seu humor disfuncional. (KANAP; et al., 2004.
CAVALCANTI; et al., 2016)

Beck enfatiza a importância em estabelecer o empirismo colaborativo com o


paciente, onde paciente e terapeuta irão trabalhar juntos para avaliar as crenças,

38
verificando se estão corretas ou não, e modificando-as de acordo com a realidade.
Sendo também uma terapia psicoeducativa no sentido de fornecer conhecimento ao
paciente para:

1) monitorar e identificar pensamentos automáticos;

2) reconhecer as relações entre cognição, afeto e comportamento;

3) testar a validade de pensamentos automáticos e crenças nucleares;

4) corrigir conceitualizações tendenciosas, substituindo pensamentos distorcidos por


cognições mais realistas;

5) identificar e alterar crenças, pressupostos ou esquemas subjacentes a padrões


disfuncionais de pensamento. (KNAPP; BECK, 2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016)

Para Cavalcanti; et al. (2016), a terapia cognitiva (que consiste em avaliação,


diagnóstico e plano de terapia) foi revolucionária, pois deu ao paciente autonomia para
praticar a terapia fora das sessões. Com base na hipótese de que a cognição tem um
grande impacto nas emoções e no comportamento, a TCC busca a reestruturação a
partir de uma conceituação cognitiva do paciente e seus problemas. Inicialmente visa
restaurar a flexibilidade, intervindo em suas cognições para encorajar mudanças nas
emoções e comportamentos associados.

Porém, ao longo do processo terapêutico, atua diretamente sobre os esquemas


e crenças do paciente para estimular sua reestruturação. O terapeuta cognitivo
também usa a resolução de problemas em paralelo à reestruturação cognitiva (BECK
1964. apud BECK, 2013. apud CAVALCANTI; et al., 2016). De acordo com Beck
(2013. apud CAVALCANTI; et al., 2016) a conceituação cognitiva é a formulação do
caso com base na concepção dos transtornos emocionais do paciente. É a ferramenta
mais importante que o terapeuta deve dominar, sendo este fundamental para um
planejamento terapêutico adequado e eficaz, uma boa compreensão dos vieses
cognitivos e dos consequentes comportamentos desajustados ou seja, mal
adaptativos resultantes do paciente.

39
De acordo com Knapp e Beck (2008. apud CAVALCANTI; et al., 2016), o
princípio básico do TC de Aaron Beck é pautado em como as pessoas percebem e
processam a realidade, já que nossas cognições têm uma influência controladora
sobre nossas emoções e nosso comportamento, bem como agimos e nos
comportamos. A terapia cognitiva é uma abordagem ativa, diretiva e estruturada que
se concentra no aqui e agora, mas reverte ao passado quando se torna necessário
examinar, concentra seu trabalho em reconhecer e corrigir crenças e padrões de
pensamento disfuncionais e ajuda com soluções formais para trazer melhorias e
mudanças no indivíduo.

4.5 A terapia cognitiva

Conforme Tavares (2005), o termo ´cognição’ é polissêmico e pode ser


relacionado ao conteúdo do pensamento do ser humano, que leva ao
desenvolvimento do mesmo e que é compreendido no ato de pensar. Dessa forma,
é referência para a cognição os aspectos das maneiras de perceber e processar
as informações, os mecanismos e conteúdo de memórias e lembranças,
estratégicas e atitudes na resolução de problemas. A origem da terapia cognitiva
é baseada em corretes filosóficas e em religiões antigas como o estoicismo grego,
taoísmo e budismo que suplicavam a influência dos pensamentos onde formava
as ideias sobre as emoções que eram geradas pelo mesmo. Contudo, a terapia
Cognitiva é baseada na estimativa teórica de que os afetos e os comportamentos
de um sujeito podem ser determinados em grande medida pelo seu modo de
estruturar o mundo. Isso significa que a perspectiva sobre a visão do mundo
dominada por uma pessoa, influencia a maneira como pensa, sente e age.

Rangé (2001. apud TAVARES, 2005) frisa o fato de que, historicamente a


Terapia Cognitiva teve como precursora a terapia racional-emotiva de Ellis, mas foi
justamente Aaron T. Beck que lhe deu os contornos atuais.

Nossos pensamentos agem diretamente na forma como nos sentimos e


agimos, sendo assim, uma das formas de melhorarmos nosso estado de humor é

40
controlarmos nossos pensamentos, no sentido de que exerçam um efeito realista
sobre a forma como nos sentimentos perante nós mesmos, ao mundo e a nosso futuro
(tríade cognitiva). A forma como percebemos e avaliamos os acontecimentos externos
e internos a nós irá determinar a forma como iremos nos sentir e consequentemente
agir perante esses acontecimentos. Observando e descrevendo as emoções que
sentimos, e fazendo uma conexão entre elas e o que vem previamente a esses
sentimentos, podemos buscar fazer uma avaliação realística de nossos pensamentos,
para que assim confrontemos os distorcidos e os sentimentos desagradáveis
gratuitos, substituindo-os por pensamentos condizentes com a realidade. (BECK; et
al., 1997 apud TAVARES, 2005)

A maneira como observamos o mundo e formamos uma ideia concreta sobre


ele é o que irá determinar a forma em que nós sentimos e agimos, isso contribui para
o desenvolvimento da formação de nossa personalidade. Dessa maneira, quando se
tem pensamentos distorcidos, estes devem ser corrigidos e controlados, e
pensamentos realistas que acarretam em sentimentos desagradáveis devem ser
submetidos a uma busca por solução de problemas.

Nossas crenças, principais sistemas de avaliação da tríade cognitiva, e mais


profundamente arraigadas e previamente estabelecidas mediante aprendizado,
determinam nossos pensamentos automáticos, pensamentos estes a quais não
fazemos nenhum tipo de avaliação realista, simplesmente os sentindo quando nos
remetemos a algum estímulo que, de algum modo, faça parte do modelo que
aprendemos previamente e estabelecemos a crença.

Não nos apercebemos dos pensamentos que direcionam nosso


comportamento, porque nossas ações tornaram-se rotina. Entretanto,
quando decidimos mudar ou aprender um novo comportamento, os
pensamentos podem determinar se e como essa mudança ocorrerá e ajudará
no autoconhecimento e na busca da personalidade. (GREENBERGER;
PADESKY, 1999. apud TAVARES, 2005)

As técnicas psicoterápicas da Terapia Cognitiva auxiliam a identificar, avaliar,


controlar e a modificar as crenças que comandam a visão de mundo e que podem ser
disfuncionais. Crenças são "certezas" que o indivíduo constrói através da experiência

41
e algumas podem condicionar sua vida, como, por exemplo: Tenho que ser perfeito;
sou um incapaz; O mundo é perigoso. "A forma como compreendemos nossos
problemas tem um efeito em como lidamos com eles". (GREENBERGER; PADESKY,
1999. apud TAVARES, 2005)

A Terapia cognitiva, conforme bem coloca Rangé (2001. apud TAVARES,


2005), é uma abordagem ativa, diretiva e estruturada, de prazo limitado, orientada
para o problema, caracterizada pela aplicação de uma variedade de procedimentos
clínicos, como introspecção, insight, teste de realidade e aprendizagem visando
aperfeiçoar discriminações e corrigir concepções equivocadas que se supõe
basearem comportamentos, sentimentos e atitudes perturbadas. Na terapia
cognitiva, terapeuta e paciente conjuntamente estabelecem os objetivos da terapia,
os sintomas-alvo a serem atacados, etc.

Ainda para Greenberger e Padesky (1999. apud TAVARES, 2005), o terapeuta


cognitivo deve fazer perguntas a respeito de cinco aspectos da vida do paciente:
pensamentos (crenças, imagens, lembranças), estados de humor, comportamentos,
reações físicas e ambiente (passado e presente), visto que as cinco áreas estão
interligadas, onde cada aspecto diferente da vida de uma pessoa influencia todos os
outros. Pequenas mudanças em qualquer área podem acarretar mudanças nas
demais.

4.6 Terapia focada no esquema

A terapia do esquema é um tipo de terapia que estende a TCC clássica,


enfatizando a "exploração das origens dos problemas psicológicos na infância e
adolescência, relacionando as técnicas emocionais, a relação terapeuta-paciente e
estilos de enfrentamento mal adaptativos, ou seja, desadaptativos" (YOUNG;
KLOSKO; WEISHAAR, 2008. apud ISOPPO, 2012). Contudo, a terapia do esquema
foi desenvolvida com foco no tratamento de pacientes com problemas
caracterológicos crônicos que não foram tratados com sucesso com a terapia

42
cognitiva comportamental. (TRINDADE; MOSSATI; MAZZONI, 2009. apud ISOPPO,
2012)

Nas colocações feitas por Young (2003. apud ISOPPO, 2012), este mencionou
algumas limitações da terapia cognitiva tradicional para o tratamento de pacientes
com Transtornos de Personalidade ou àqueles com transtornos mais severos e
arraigados. Tendo em vista que esses pacientes não conseguiam e não tinham a
capacidade de responder a algumas suposições básicas sobre terapia cognitiva.
(CAZASSA; OLIVEIRA, 2008. apud ISOPPO, 2012)

Conforme destacado por Cazassa e Oliveira (2008), tais limitações estariam


ligadas a:

- Ter acesso a sentimentos, pensamentos e imagens a partir de treinamentos curtos;

- Motivação para tarefas de aprendizagem e estratégias de autocontrole;

- Construção de uma relação colaborativa com o terapeuta, entre outros.

A terapia do Esquema proposta por Young integra elementos da abordagem


cognitivo-comportamental, aliando Gestalt, relações objetais, construtivismo e escolas
psicanalíticas, em uma rica e unificada conceituação e modelo de tratamento
(YOUNG, 2003. apud ISOPPO, 2012). O modelo desenvolvido por Young enfatiza a
confrontação e a discussão de experiências inicias de vida; caracteriza-se ainda por
ser mais longa do que a terapia cognitiva, dedicando muito tempo a superar a evitação
cognitiva, afetiva e comportamental. (CALLEGARO, 2005. apud ISOPPO, 2012)

O esquema em si, funciona como um filtro, selecionando informações,


assimilando, priorizando e organizando aqueles estímulos que sejam consistentes
com a estrutura do esquema, e evitando todo o estímulo que não seja consistente com
essa estruturação (DUARTE; NUNES; KRISTENSEN, 2008. apud ISOPPO, 2012). O
entendimento do sujeito com base em seus esquemas é a base da teoria formulada
por Jeffrey Young.

43
Behary (2011. apud ISOPPO, 2012) apontou o modelo proposto por Young
como a abordagem mais eficaz para tratar problemas relacionados ao transtorno de
personalidade narcisista. Ele valida a ideia de Young de que a terapia do esquema é
uma evolução do modelo cognitivo de Aaron Beck para o tratamento de transtornos
de personalidade, tendo em vista que enfatiza um nível mais aprofundado de cognição
ao qual denominou de Esquema Inicial Desadaptativo (EID). (CAZASSA; OLIVEIRA,
2008. apud ISOPPO, 2012)

4.6.1 Esquemas Iniciais Desadaptativos


Os EIDs são caracterizados por padrões emocionais e cognitivos
desadaptativos que tendem a reverberar ao longo da vida, configurando assim os
processos da função da personalidade que permitem ao indivíduo interagir com a
realidade (SANTOS, 2005. apud RIBAS, 2016). Onde, na maioria das vezes, eles são
desencadeados principalmente pela vivencia de experiências desagradáveis que
tornam impossível satisfazer suas necessidades emocionais essenciais para a
pessoa. Embora nem todos os esquemas denotam traumas em suas origens, esses
padrões funcionais são destrutivos e causam sofrimento. (CAZASSA; OLIVEIRA,
2008. apud RIBAS, 2016)

A psicoterapia cognitiva determina que os indivíduos atribuem significados a


eventos, pessoas, sentimentos e outros aspectos de sua vida e com base nisso o
comportamento determina a maneira em que agem sobre eles, construindo várias
hipóteses sobre o futuro e sobre suas próprias identidades (MACHADO; et al., 2005.
apud RIBAS, 2016). Portanto, as pessoas reagem de maneira diferente a uma
determinada situação e chegam a conclusões diferentes. (POWELL; et al., 2008. apud
RIBAS, 2016)

Segundo Judith Beck (BECK, 2007. apud RIBAS K; 2016), a psicopatologia é


resultado de significados mal adaptativos que o sujeito constrói em relação a si
mesmo, ao contexto ambiental (experiência) e ao futuro (objetivos), que juntos formam
a tríade cognitiva. Aaron Beck verificou então que alguns tipos de pensamentos

44
automáticos distorcidos ou disfuncionais tinham uma associação específica com
determinados transtornos psiquiátricos.

Conforme as distorções dos vieses cognitivos ou erros cognitivos que


produzem pensamentos disfuncionais podem aparecer sobre o domínio das crenças
ou esquemas e se manifestar principalmente por meio de pensamentos automáticos
distorcidos (OLIVEIRA, 2011. apud RIBAS, 2016). Dessa forma, o processamento da
informação realizado no mundo é estruturado de maneira progressiva e representa
uma instância maior de crenças ou esquemas que orientam os demais
processamentos subsequentes. (GONÇALVES; PEREIRA, 2009. apud RIBAS, 2016)

As crenças centrais (CC) ou nucleares (CN) são concepções fundamentais


acerca de si, dos outros e futuro, têm caráter inflexível e diz respeito a um
determinado conteúdo. Já as crenças intermediárias (CI) são regras de
comportamento e pressupostos sobre a forma de se comportar, baseados na
existência dos conteúdos das crenças nucleares. (DUARTE; et al., 2008.
MATOS; DE OLIVEIRA, 2014. apud RIBAS, 2016)

Os esquemas são estruturas internas permanentes destinadas a armazenar e


organizar ideias, experiências, para que ganhem sentido e determinem a percepção
e o conceito dos fenômenos. (LOURENÇO; PADOVANI, 2013. apud RIBAS, 2016). O
termo esquema não está reservado apenas para as ciências cognitivas.

No decorrer do estoicismo, os filósofos usaram essa nomenclatura para


denotar um dos princípios da lógica, o esquema de inferência (MÁRSICO, 2003. apud
RIBAS, 2016). Também usaram essa palavra, bem como a geometria, educação,
analise literária, programas de computador, entre outros, em relação a uma estrutura,
moldura ou conformação.

A noção de esquema como um constructo cognitivo passou a ser difundida por


Bartlett há mais de 80 anos, foi utilizada por Piaget na década de 30, no século
passado, continuou a ser utilizada extensamente durante 1970 pela psicologia
cognitiva e social e também foi restabelecida ao uso por Beck a partir de 1964
(OLIVEIRA; et al., 2013. apud RIBAS, 2016).

45
Segundo Beck (1967. apud RIBAS, 2016), um esquema é uma estrutura
cognitiva que filtra, codifica e avalia os estímulos, aos quais, o organismo é submetido,
com base na matriz de esquemas, o indivíduo consegue orientar-se em relação ao
tempo e espaço e categorizar e interpretar experiências de maneira significativa.

Contudo, os esquemas são representações únicas baseados na interação do


indivíduo com o meio ambiente, podendo assim conter conjuntos sobrepostos, o que
pode levar a impulsionar a ativação de vários esquemas a partir do input de um único
esquema. Além disso, a ativação de uma parte do esquema irá implicar em
manifestação de sua totalidade. (DUARTE; et al., 2008. apud RIBAS, 2016)

Há estudo na literatura (YOUNG; et al., 2003. apud RIBAS, 2016), que denota
que tais implicações podem afetar a estrutura de vida de um indivíduo, principalmente
no que diz respeito aos esquemas iniciais que podem ser estabelecidos na infância,
ou até mesmo em ocasiões subsequentes da vida, podendo ser descrito como
adaptativo ou desadaptativo. (DUARTE; et al., 2008. apud RIBAS, 2016)

Entretanto, é através de ocorrências e enfrentamentos dos problemas que


surgem as formas iniciais desadaptativas. Como exemplo disso, podemos citar:
repressão doméstica em função de uma educação rígida e repressora, na qual não
houve possibilidade de expressar suas emoções de maneira livre, onde os sujeitos
são geralmente tristes e introvertidos, com regras internalizadas excessivamente
rígidas, autocontrole e pessimismos exagerados e uma hipervigilância para possíveis
eventos negativos, podendo levar o sujeito a sofrimento emocional, psicológico,
evoluir para depressão e ansiedade. (PERES, 2008. apud RIBAS, 2016)

No entanto, as pessoas que apresentam esquemas iniciais desadaptativos,


provavelmente tiveram uma vida de sofrimento durante a infância ou mesmo
na fase adulta, derivado de desamparo, abandono, renúncia, negligência,
rejeição, agressões verbais e físicas. No qual, muitos dos casos a
consequência seja o sofrimento, que parece ser repetida, proporcionando que
os indivíduos se sintam atraídos pelos episódios e ativem os esquemas
iniciais desadaptativos. (BOSCARDIN; KRISTENSEN, 2011. apud RIBAS,
2016)

Dessa forma, quando se tem estruturas internas duráveis e que a função é se


destinar a armazenar e organizar ideias e experiências, os teóricos alegam que são

46
esquemas iniciais desadaptativos, e a partir disso começam a ter significado,
determinando assim a percepção e conceito dos fenômenos (BECK, 1964-2011. apud
RIBAS, 2016). Neste sentindo, observa-se que os esquemas fazem parte de
representações que são únicas e construídas na interação do sujeito com o meio
ambiente, são capazes de conter conjuntos sobrepostos, podendo ocasionar a
ativação de vários esquemas a partir do input de um único esquema, ainda mais, pode
levar a ativação de uma parte do esquema, implicando na manifestação de toda a sua
totalidade. (EYSENCK; et al., 1994. apud RIBAS, 2016)

Os EIDs caracterizam por representar as crenças incondicionais em relação a


si mesmo (autoconhecimento/autoconceito), são resistentes a mudança, também são
disfuncionais e recorrentes, e em geral são ativados por acontecimentos ambientais
emocionalmente relevantes. (YOUNG; et al., 2003. apud RIBAS, 2016)

 Young identificou 18 EIDs organizados em 5 domínios de esquemas associados:


O primeiro domínio denominado de Desconexão e Rejeição está relacionado aos
esquemas de abandono, desconfiança, privação emocional, vergonha e
isolamento, ou seja, a falta de ambiente seguro, carinho, aceitação e respeito.
(BAKHSHI BOJED; NIKMANESH, 2013. apud RIBAS, 2016)

 O segundo domínio se refere a Autonomia e Desempenho Prejudicados, no qual


está relacionado aos esquemas de dependência, vulnerabilidade,
emaranhamento e fracasso, assim como associados à falta de capacidade de se
separar, sobreviver, ser independente e abalo da confiança em si. (SHOREY; et
al., 2015. apud RIBAS, 2016)

 O terceiro domínio são os Limites Prejudicados, onde são apresentados


vinculados aos esquemas de merecimento e grandiosidade, autocontrole e
autodisciplina insuficiente, ou seja, a falta de direção, disciplina, limites e metas.
(TRINCAS; et al., 2014. apud RIBAS, 2016)

47
 O quarto domínio, Orientação para o Outro, no qual se constitui como sendo
esquema de subjugação, auto sacrifício, onde o indivíduo vai em busca de
aprovação e reconhecimento, surgindo, desta forma, quando há um foco
excessivo nos desejos e sentimentos dos outros. (LAVERGNE; et al., 2015. apud
RIBAS, 2016)

 Já o quinto domínio é o de Supervigilância e Inibição são os esquemas de


negativismo e pessimismo, inibição emocional, padrões inflexíveis e caráter
punitivo, os quais são caracterizados pela necessidade de seguir regras, esconder
emoções, relaxar, estabelecer relacionamentos íntimos e evitar erros. (HAWKE;
et al., 2011. LAVERGNE; et al., 2015. apud RIBAS, 2016)

Para Souza; et al. (2019), Young ressalta que quando se trabalha com a terapia
do esquema é sobretudo uma abordagem em que ativa o lado sensível e humano, em
comparação com outras abordagens existentes. A terapia do esquema faz com que a
situação normalize, ao contrário de patologizar, os transtornos psicológicos, pois,
sabemos que todos nós temos esquemas, pois são experiências vivenciadas e que
podem comprometer as emoções ruins, ou até mesmo traumáticas, que são
enraizadas em nossa personalidade, entretanto existem modos e estilos de
enfrentamentos diferenciados, onde o indivíduo passa a encontrar uma maneira de
lidar com os problemas eventuais que provavelmente surgiram ao longo de sua vida.
(YOUNG; et al., 2008. apud SOUZA; et al., 2019)

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