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6 Planejamento do Desenho de

Ferramentas Manuais

O setor de máquinas e ferramentas manuais vem crescendo consideravelmente nos


últimos anos, mas, infelizmente, o seu planejamento e utilização em complexas
operações industriais, muitas vezes, não leva em conta sua adaptação às reações
naturais (físicas e mentais) do indivíduo que as manuseia. Gerentes e engenheiros
parecem se preocupar com a especificação e planejamento de sistemas de grande porte,
deixando os problemas das ferramentas manuais de lado, até o momento em que se
inicia a produção. Este atraso pode e, freqüentemente, significa que a ferramenta
apropriada não é sistematicamente escolhida ou planejada.

A prevenção desse problema é de particular importância na redução do estresse nas


mãos, braços e ombros do trabalhador. Com a utilização de ferramentas planejadas
adequadamente, aumenta-se a produtividade e qualidade de vida. [1]

6.1. A NECESSIDADE DOS CONCEITOS BIOMECÂNICOS NO


PLANEJAMENTO DE FERRAMENTAS

A mão do homem é um órgão maravilhosamente planejado, capaz de uma infinita


variedade de funções e configurações. Infelizmente nós freqüentemente necessitamos
usar de certos tipos de esforços manuais aos quais, quando repetitivos durante as
jornadas diárias trabalho, podem progressivamente causar deterioração dos tecidos de
sustentação e músculos, resultando em perda funcional e dores (traumas cumulativos).

Alguns conceitos biomecânicos importantes no planejamento de ferramentas


envolvem, basicamente, a força de apreensão da mão decorrente das forças de
contração dos músculos do antebraço, sendo essas transferidas aos ossos dos dedos
pelos tendões. O nível de esforço muscular e tensão nos tendões dependem em muito
da configuração da empunhadura e da mão durante o manuseio.
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A B

G
D
D

E
H

A) Camadas de membrana
B) Tendão
C) Veias
D) Membrana sinovial que envolve os tendões
E) Lado dorsal
F) Retináculo extensor
G) Retináculo flexor
H) Lado palmar

Figura 59: Visão da estrutura de polia dos flexores dos dedos (ARMSTRONG [em 1]).

Os estudos biomecânicos demonstram que o ângulo do punho, durante os esforços de


apreensão, afetam diretamente a quantidade de força de sustentação interna que atuam
perpendicularmente à direção dos tendões e da membrana sinovial dessa articulação. É
proposta, então, a manutenção do punho reto, para evitar que grandes forças internas
sejam desenvolvidas, pois as mesmas podem agredir a integridade da membrana
sinovial, resultando na inflamação dos tendões dessa membrana e no aumento do atrito
com o nervo medial dentro do túnel carpal, ocasionando, por exemplo, a síndrome do
túnel carpal. [1]
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6.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMA E TAMANHO DAS


FERRAMENTAS MANUAIS

A forma e o tamanho das ferramentas manuais têm efeito direto na capacidade do


indivíduo manuseá-la, assim como no aparecimento de sobrecarga biomecânica nos
membros superiores. Algumas considerações devem ser seguidas:

6.2.1. Forma da Ferramenta para Evitar Desvio do Punho

A forma deve permitir a manutenção do alinhamento da mão e do antebraço durante


esforços de manuseio manual.

Exemplos:

Figura 60: Martelo convencional (C) e experimental (E), usados nos estudos de KNOWTON &
GILBERT (1988) onde X é o centro de gravidade e LOA a linha de ação.
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Figura 61: Baseado em considerações biomecânicas. A empunhadura da furadeira de impacto, pode


ser em forma de pistola ou cilíndrica, dependendo da postura adotada, do tipo de
trabalho e da situação geral do trabalho.

Figura 62: A - ferro de solda tradicional e B - ferro de solda com a empunhadura para o antebraço
mais natural (CHAFFIN, 1973 [em 1]).

6.2.2. Tamanho da Ferramenta para Facilitar a Apreensão

A força de apreensão e o nível de estresse nos tendões dos flexores dos dedos variam
com o tamanho do objeto manuseado. Se a força de manuseio é aplicada nos segmentos
distais dos dedos, é o caso de manuseio de ferramentas grandes, a força nos tendões
pode ser duas ou três vezes maior do que quando a força é aplicada nos segmentos
proximais dos dedos. Inversamente, quando o objeto é muito pequeno, a capacidade de
desenvolvimento de força de apreensão fica prejudicada, pois os músculos flexores dos
dedos estão muito encurtados.
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G A

F
E
B

Legenda: A: Espaço suficiente de abertura


B: Empunhadura reversa
C: Empunhadura longa (maior que a palma da mão)
D: Lâminas de qualidade
E: Mola de retorno
F: Curvatura pequena
G: Empunhaduras acolchoadas

Figura 63: O esquema apresentado de BOB BROWIN [em 1] demonstra fatores ergonômicos
importantes a serem considerados na solução de ferramentas que requerem alta força de
apreensão.

A B
C

D G

E
F

Legenda: A) Área de empunhadura (contato com a palma da mão)


B) Sinovia
C) Artéria radial
D) Nervo medial
E) Artéria ulnar
F) Nervo ulnar
G) Empunhadura do alicate curta

Figura 64: O manuseio de ferramentas pequenas interagem com os tecidos do centro da palma da
mão. [1]
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6.2.3. Considerações sobre as dimensões dos dedos

É muito importante que se planeje ferramentas não só levando em conta sua forma e
dimensão, mas também as dimensões dos dedos e da mão do indivíduo que a manipula
(antropometria da mão).

Algumas dimensões lineares e circunferenciais da mão são apresentadas, na figura


abaixo.

Figura 65: Dimensões antropométricas da mão importantes para o design de ferramentas.

De acordo com HERTZBERG (1972 [em 1]), se uma pessoa está usando luvas de
couro ou lã, 0,75 cm deve se adicionado às dimensões acima mostradas. Estas medidas
devem ser acrescentadas ao design das alças de objetos a serem transportados. O raio
de empunhadura mínimo mostrado na figura 71 é apropriado para caixas deslocadas
por curta distância. Se estas forem deslocadas por distâncias maiores, o raio necessita
ser aumentado, entre 1,5 a 2,5 cm (HSIA DRURY, 1986 [em 1]), evitando, com isso,
isquemia induzida pelo desconforto nos dedos, causado pela concentração de
sobrecarga nessa região. O melhor posicionamento de alças e empunhaduras depende
das características do objeto manuseado e da distância a ser percorrida, devendo essa
tarefa ser avaliada antes que as empunhaduras sejam confeccionadas.
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A
D

E
F
G

Legenda: A) Espaço livre para inserção dos dedos


B) Espaço livre para aprofundar os dedos
C) Espaço livre para largura das mãos
D) Raio de empunhadura mínimo
E) Espaço livre para inserção dos dedos
F) Raio de empunhadura mínimo
G) Espaço livre para profundar os dedos

Figura 66: Parâmetros de forma e tamanho de empunhadura que asseguram apreensão adequada
pelas mãos com o sem o uso de luvas.

6.2.4. Luvas

O uso de luvas é recomendado na maioria de esforços realizados com as mãos. Sua


utilização pode apresentar certas desvantagens. Pode causar perda de 15 à 20% da
força de apreensão, mas, dependendo de outros fatores relacionados às luvas (tipo,
permite grande tração, adequação à configuração da mão, não interferência no seu
movimento, tamanho do objeto manuseado, orientação das forças na mão), alguns
autores descreveram um aumento de 20 à 30% da força com a sua utilização.

Na avaliação cuidadosa da tarefa manual a ser realizada e da antropometria da mão dos


trabalhadores, luvas adequadas podem ser indicadas. [1]
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6.3. PESO DAS FERRAMENTAS E CONSIDERAÇÕES DE USO

Na tentativa de reduzir as exigências nos esforços manuais, muitas ferramentas são


elétricas ou pneumáticas. Infelizmente, este tipo de suprimento de potência pode torná-
las muito pesadas. Reconhecemos que o efeito do peso, sozinho, pode ser agravado
pela ação muscular adicional, necessária para posicionar e estabilizar precisamente a
ferramenta durante sua operação.

Da discussão apresentada até aqui, não é possível predizer um limite de peso para
todas as situações. Dependerá do posicionamento das articulações envolvidas na
manipulação e manutenção da ferramenta em posição operacional e do tempo
dispendido na execução da tarefa. Quanto maior o tempo mais leve deve ser a
ferramenta, e, em alguns casos, pode ser utilizado equipamentos acessórios na
manipulação das ferramentas, por exemplo, elementos de sustentação, conforme
exemplifica a figura 73.

D
Furadeira

Legenda: A) Equipamento de equilíbrios


B) Braço retrátil
C) Contador de peso
D) Corrediça
E) Variedade de brocas

Figura 67: Esquema mostra fatores ergonômicos importantes a serem considerados para selecionar
ferramentas de potência sustentadas por elementos acessórios.
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CHAFFIN, D. B. & ANDERSSON, G. B. J. (1991). Occupational


Biomechanics. Ed. John Wiley & Sons, INC.

[2] FINOCCHIARO, J.; ASSAF, D. L.; FINICCHIARO, M. (1978). Manual de


Prevenção das Lombalgias. Lex Editora S. A.

[3] FUNDAÇÃO MAPFRE. 1993. Apostila de Biomecânica - Tomo 1.

[4] FUNDAÇÃO MAPFRE. 1993. Apostila de Biomecânica - Tomo 2.

[5] HALL, S. (1991). Biomecânica Básica. Ed. Guanabara Koogan.

[6] IIDA, I. (1990). Ergonomia, Projeto e Produção. Ed. Edgard Blücher Ltda.

[7] JACOBS, K. & BETTENCOURT, C. M. (1995). Ergonomics for Therapists.


Ed. Butterworth Heinemann.

[8] WINTER, D. A. (1979). Biomechanics of Human Movement. Ed. John Wiley


& Sons, INC.
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