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2 AS SOBRECARGAS AO APARELHO

LOCOMOTOR HUMANO

2.1. A ALAVANCA HUMANA

Quando os músculos desenvolvem tensão, tracionando os ossos para sustentar ou


mover uma resistência criada pelo peso do segmento ou segmentos corporais e
possivelmente o peso de uma carga adicional, o músculo, os ossos e as articulações
funcionam mecanicamente como uma alavanca.

No corpo humano, os ossos atuam como a haste rígida, as articulações como o fulcro e
os músculos aplicam as forças.

Figura 3: Tipos de alavancas - o posicionamento relativo da força aplicada, da resistência e do


fulcro ou eixo de rotação determina a classificação da alavanca. [5]

Figura 4: Tipos de alavancas existentes no corpo humano. [6]


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Figura 5: A - alavancas de primeira classe; B - alavancas de segunda classe; C - alavancas de terceira


classe. Observe que o remo e a pá só funcionam como alavancas de terceira classe se a mão
de cima não aplicar força, apenas fazendo o eixo de rotação. [5]

2.1.1. Os Ossos

O esqueleto humano é uma estrutura constituída por um conjunto de elementos


denominados ossos, unidos entre si mediante articulações, cujo resultado é obter uma
relação resistência/peso elevado. Funciona tanto para suporte e proteção aos órgãos,
como é a estrutura mecânica rígida que permite a locomoção e se caracteriza, também,
por ser a principal reserva de fósforo e cálcio do organismo.

Os ossos têm a função principal de transmitir solicitações de compressão e tração. Sua


estrutura está adaptada para sustentar resistências máximas das solicitações mecânicas,
com a menor quantidade de tecido ósseo possível.

Em termos de composição, o tecido ósseo pode ser classificado em osso compacto


(camada mais externa, massa sólida rígida de grande resistência) e osso esponjoso
(camada mais interna, constituída de uma rede trabecular onde se localiza a medula
óssea).
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Figura 6: Osso compacto e osso esponjoso - epífise e diáfise. [3]

2.1.2. Articulação

A união entre os ossos se realiza mediante estruturas denominadas articulações, que


podem ser classificadas segundo dois grupos funcionais:

• Articulações sinoviais: mobilidade ampla.

• Articulações não sinoviais: movimento limitado.

2.1.2.1. Articulações Sinoviais

Neste tipo de articulação existe uma grande mobilidade dos ossos nas superfícies
articulares. Estes se mantêm em sua posição com o auxílio da cápsula articular e dos
ligamentos.
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Elementos que compõe as articulações sinoviais:

• Cartilagem articular: constituída de cartilagem hialina que recobre as superfícies


de contato entre os ossos. Este tipo de cartilagem se caracteriza por sua elasticidade,
propriedade que lhe permite absorver esforços mecânicos e evitar o desgaste
prematuro dos ossos. Outra característica fundamental é sua pequena rugosidade
superficial, fator muito importante para que as perdas energéticas no movimento,
devido às forças de atrito, sejam pequenas. É avascular e se nutre por difusão, a
partir do líquido sinovial.

• Cápsula articular: é formada por um manguito fibroso, cuja função é manter as


superfícies articulares em contato estreito. Insere-se diretamente nos ossos que
compõe a articulação. Seu interior é recoberto por um tecido conectivo
especializado, denominado sinovia, que produz o líquido sinovial responsável pela
lubrificação e nutrição da cartilagem articular.

Figura 7: Estrutura óssea da articulação tíbio-femural. [5]

• Fibrocartilagens articulares: meniscos. Exemplo: joelho.

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Figura 8a: Os meniscos do joelho. [5]

• Burças. Exemplo: articulação gleno-umeral.

2.1.2.2. Articulações Não Sinoviais

Possuem movimento limitado; os ossos que compõem a articulação não apresentam


superfícies articulares livres, estando unidos por tecido conectivo denso. Segundo o
tipo de tecido encontrado são classificadas em:

• Sindesmoses - ossos do crânio, suturas etc.

• Sincondroses - articulações intercostais etc.

• Sínfises - articulação pubiana e discos intervertebrais etc.

Uma das mais interessantes para o estudo da biomecânica humana é a articulação entre
os corpos vertebrais de vértebras adjacentes, com a presença do disco intervertebral,
que é uma articulação tipo sínfise. O disco intervertebral é um disco fibrocartilaginoso
constituído de duas partes: a parte central (núcleo pulposo, gelatinoso, que apresenta
uma grande proporção de água e muito resistente à deformação) e a parte periférica
(anel fibroso, formado por sucessão de capas fibrosas concêntricas).

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Figura 8b: O segmento motor, unidade funcional da coluna, é composto por duas vértebras
adjacentes e pelas partes moles da articulação. [5]

Figura 8c: Discos intervertebrais. [3]

2.1.3. Tendões e Ligamentos

Sua função é transmitir esforços de tração entre os diferentes elementos do sistema


músculo-esquelético, quais sejam:
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• Tendões: são formados por feixes de fibras colágenas com disposição paralela,
tendo muito pouca distensibilidade, porém possuem grande flexibilidade.
Transmitem aos ossos as forças de tração originárias da contração muscular. Alguns
tendões estão rodeados por uma bainha de tecidos conectivos, denominados sinovia,
que produz o líquido sinovial, que diminui o atrito entre eles.

• Ligamentos: são bandas densas de tecido conectivo fibroso que reforçam as


cápsulas articulares e mantém os ossos na posição anatômica correta. Estão
encarregados de proporcionar a estabilidade às articulações, tornando-se uma
barreira ao movimento articular indesejável.

Figura 9: Os ligamentos do joelho. [5]

2.1.4. Músculos Estriados Esqueléticos

São elementos constituídos por tecido muscular; este pode ser liso ou apresentar
estriações transversais, como é o caso dos músculos estriados esqueléticos. Estes são
formados por fibras musculares estriadas (células musculares), de contração
voluntária, capazes de gerar tração nos ossos onde estão inseridos, a partir da energia
metabólica adquirida dos nutrientes.

A diminuição longitudinal no comprimento do músculo, ao final da contração,


depende da soma dos encurtamentos produzidos nas estruturas microscópicas que
compõe as fibras musculares e que são denominadas miofibrilas.

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O conhecimento das estruturas que compõe o músculo é fundamental para
compreender seu funcionamento. A nível microscópio, os músculos estão formados
por um número elevado de células denominadas fibras musculares. Na finalização dos
músculos estas células se fundem com as fibras tendinosas, formando os tendões.

Cada fibra muscular apresenta uma grande quantidade de miofibrilas; estas, por sua
vez, são constituídas de filamentos de proteínas polimerizadas, actina e miosina, onde
ocorre a contração muscular, por um mecanismo especial de atração e deslizamento
através das pontes cruzadas entre essas duas proteínas.

Figura 10: Estrutura e composição do músculo. [3]

Cada fibra muscular tem uma união neuromuscular denominada placa motora ou placa
mioneural, onde é liberado o impulso nervoso para a contração do músculo, através de
um neurotransmissor denominado acetilcolina. Este despolariza a membrana da fibra
muscular, liberando o cálcio armazenado nos retículos sarcoplasmáticos, que irá
liberar os pontos ativos para formação das pontes cruzadas.

2.2. ESFORÇOS DINÂMICOS E ESTÁTICOS

Em uma postura relaxada (como exemplo podemos citar um braço estendido ao longo
do corpo), o esforço muscular é mínimo e as contrações musculares são

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escassas. Nesta situação, o aporte de sangue necessário não é relevante, nem existe
impedimento para que o sistema circulatório proporcione e elimine os catabólitos
produzidos pelo metabolismo.
2.2.1. Esforço Dinâmico

Se realizamos um trabalho de forma rítmica, em que se alternam contrações e


relaxamentos musculares, como pode acontecer no acionamento de uma manivela,
duas situações opostas podem ocorrer:

• Fase de contração é a fase em que o braço flexiona, os músculos flexores se


contraem, e maior será a força de contração quanto maior for a resistência oposta à
manivela. Por outro lado, a circulação sangüínea se encontra prejudicada devido à
própria contração muscular, que comprime as artérias. Quanto maior o esforço
muscular de contração, maior será a compressão aos vasos e a dificuldade
circulatória.

• Fase de extensão: quando o braço se estende, contraem-se os músculos extensores


e se produz para estes músculos uma situação análoga à anterior, mas, com o
alongamento da musculatura flexora, se cria uma situação que elimina a dificuldade
circulatória, facilitando-a mais do que se o braço estivesse relaxado, pois produz
um bombeamento forçado de sangue. Este aporte sangüíneo superior ao normal,
compensa a deficiência anteriormente mencionada.

2.2.2. Esforço Estático (ou Isométrico)

Se sustentamos um peso em uma posição estacionária, por exemplo em uma postura de


braço flexionado, ocorre o descrito na fase de contração do parágrafo anterior, mas
sem a fase de extensão. Como conseqüência, exerce-se força em condições precárias
de aporte energético e de oxigênio para o perfeito funcionamento do músculo, assim
como ocorre uma deficiência na eliminação dos catabólitos do metabolismo muscular.

Outra particularidade deste tipo de esforço é que ele não se traduz em trabalho
mecânico, já que não há movimento.

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Os esforços estáticos estão permanentemente presentes no movimento do corpo


humano, não se fazendo necessário sustentar uma carga externa, como exemplificamos
no parágrafo anterior. Já que a própria postura supõe uma carga estática, os músculos
têm de exercer força de forma sustentada para que o corpo não perca o equilíbrio.

Posturas diferentes supõe gastos energéticos distintos e, na medida que estas posturas
se afastam das posições onde o equilíbrio é mantido de forma confortável, o gasto
energético se torna maior.
Figura 11: O músculo opera em condições desfavoráveis de irrigação sangüínea durante o trabalho
estático, com a demanda superando o suprimento, enquanto há equilíbrio entre a demanda
e o suprimento durante o repouso e o trabalho dinâmico. [6]

Naturalmente que uma carga externa aumentará o gasto e a própria distribuição


espacial da carga tem uma grande influência. Estes incrementos estão a cargo dos
músculos que sustentam o equilíbrio; se estes são pouco potentes, as conseqüências
negativas de fadiga e dor aparecerão mais cedo.

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