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Falar em Línguas: Por Que a Prática Moderna Não Tem Base Bíblica e É Potencialmente

Prejudicial?
Autor: Jeremy James, 29/2/2016.

Introdução

Este estudo examina o dom do Espírito Santo conhecido como "falar em línguas", com referência particular ao seu propósito e se ele ainda continua sendo distribuído aos fiéis cristãos.

A Bíblia tem regras rígidas para falar em línguas, porém poucos cristãos parecem conhecê-las. Como o Espírito Santo nunca age de forma contrária a qualquer coisa nas Escrituras,
essas regras precisam ser observadas sempre que alguém fala em línguas, ou presume fazer isso. Qualquer manifestação de línguas que deixe de seguir essas regras — regras
definidas pelo Espírito Santo — é, portanto, uma falsificação.

Lidaremos somente com as línguas como um fenômeno público e observável. O papel das línguas na oração privada, se é que existe algum, não será discutido. Embora alguns cristãos
afirmem falar em línguas ocasionalmente durante seus momentos de oração a sós com Deus, não trataremos dessa afirmação e não apresentaremos comentários sobre a validade
disso.

Pano de Fundo

Inicialmente, devo reconhecer que falar em línguas — ou glossolalia, como algumas vezes é chamado — é um assunto muito delicado entre os cristãos professos, especialmente os
pentecostais/carismáticos. Os praticantes ficam grandemente ofendidos com qualquer crítica que seja feita a essa prática, enquanto que muitos que não são praticantes a considerem
uma atividade tola e, possivelmente, até prejudicial para o indivíduo. Este é certamente um tópico que dá margem à visões muito polarizadas. Como resultado, há uma nítida relutância
entre os praticantes de examinarem a questão da forma como deveriam — atenta e sistematicamente — a partir de uma perspectiva bíblica.

Antes de minha conversão, sempre chamou minha atenção a similiaridade entre as "línguas" cristãs e as várias práticas religiosas pagãs e xamânicas em que os cantos rítmicos e a
vocalização em transes são utilizados. Isto permitia muitas questões. Por exemplo, como alguém deveria distinguir entre o estado "cheio do espírito" de um cristão que falava em
línguas e as palavras proferidas em êxtase por um médium em transe?

A prática moderna das línguas ocorre geralmente de forma espontânea quando os praticantes, tanto homens quanto mulheres, se reúnem em grupos para oração comunitária. Aqueles
que são movidos a fazer isso repetem uma série de sílabas em um fluxo sonoro contínuo, o significado do qual é desconhecido para a própria pessoa que fala, ou para os ouvintes. Os
praticantes normalmente afirmam que as sílabas são parte de uma linguagem espiritual, ou angelical, cujo significado é conhecido somente por Deus. Além disso, eles afirmam que orar
em línguas deve ser especialmente agradável a Deus, pois as próprias sílabas são produzidas pela ação do Espírito Santo.

Um Ministro Batista Soou o Alerta

No curso de minha pesquisa, encontrei um artigo muito revelador, escrito por um ministro batista australiano que, a partir de uma longa experiência, achou apropriado fazer as
seguintes observações surpreendentes:

"Entre as grandes ilusões que estão se propagando hoje, não existe nada que seja mais sutil ou perigoso do que o moderno movimento das línguas. Em minha experiência
ao longo dos muitos anos, observei que, das massas de pessoas que caem sob a influência do fenômeno das línguas, pouquíssimas escapam sem prejuízos emocionais e
espirituais para si mesmas e para suas famílias..."

"Eu e outros estamos testando as línguas na Austrália há alguns anos. Na verdade, existem alguns homens que conheço que estão testando há mais de vinte anos e
nenhum de nós já encontrou um genuíno dom bíblico das línguas. Quando o espírito que usa a língua é forçado a se identificar, em 95% dos casos, um demônio responde...
Os outros 5% provam ser psicossomáticos." [Bryce Hartin, Today’s Tongues, 1987, terceira edição, 1993].

Se o pastor Hartin estiver correto, então essa afirmação dele a respeito do fenômeno das línguas deve causar calafrios e ser de grande preocupação para todos os cristãos bíblicos.

Antes da minha conversão, passei 33 anos no Movimento de Nova Era, onde os espíritos enganadores atuam de forma desmedida. Mais tarde, depois de conhecer e conversar com
muitos cristãos pela primeira vez, fiquei chocado ao ver o quão ignorantes eles eram a respeito da atividade — e até da existência — de espíritos enganadores. A avaliação do pastor
Hartin pode entristecer muitos cristãos, mas suas palavras são verdadeiras.

As Palavras Grega e Hebraica para Línguas

Qualquer um que acredite que exerça o dom das línguas precisa olhar com muita atenção para o propósito bíblico desse dom. Como alguém pode exercer um dom sem primeiro saber
qual é seu propósito e o papel que ele exerce — ou exercia — no plano de Deus para a redenção da humanidade?

É deprimente observar que a maioria dos cristãos deriva sua compreensão desse fenômeno totalmente a partir do Novo Testamento e deixa de levar em conta algumas referências
fundamentais no Velho Testamento.

Antes de examinarmos essas referências, precisamos ver a própria palavra "língua". Ela é traduzida para o português a partir da palavra hebraica lâshôwn e das palavras gregas
diálektos e glõssa. Todas as três significam "linguagem" — uma língua humana compreensível, não apenas sons e sílabas arbitrárias. Os seguintes exemplo mostram claramente como
cada uma dessas palavras denota uma linguagem humana existente:

Hebraico: lâshôwn:

"Estes são os filhos de Cão segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas nações." [Gênesis 10:20].

"... e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus." [Daniel 1:4].

Grego: diálektos:

"... de maneira que na sua própria língua esse campo se chama Aceldama, isto é, Campo de Sangue." [Atos 1:19].

"E, havendo-lho permitido, Paulo, pondo-se em pé nas escadas, fez sinal com a mão ao povo; e, feito grande silêncio, falou-lhes em língua hebraica, dizendo." [Atos
21:40].

Grego: glõssa:

"Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade." [1 João 3:18].

"E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis." [Apocalipse 10:11].

É óbvio que esses termos indicam uma língua falada. Não podemos forçar o significado aceito das palavras em hebraico ou grego para se adequarem ao nosso propósito. Se elas
claramente denotam um conceito padrão, então não se pode e nem se deve fazer com que signifiquem alguma coisa diferente.

Alguns pentecostais tentam contornar isso, citando 1 Coríntios 13:1 como evidência que línguas (glõssa] também pode significar uma língua que não é normalmente inteligível para a
humanidade, isto é, a língua falada pelos anjos:

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine." [1 Coríntios 13:1].

Os pentecostais consideram que esse verso signifique (a) que existe uma língua angélica e (b) que Paulo estava afirmando poder falar essa língua (por meio sobrenatural). Mas, esta é
uma interpretação totalmente errônea daquilo que o verso está realmente dizendo. Mesmo que os anjos falem um língua própria deles, Paulo não está afirmando ser capaz de falar essa
língua. Ao contrário, ele está usando um recurso literário comum conhecido como hipérbole, em que um aspecto é exagerado ou postulado para o propósito de ênfase.

Este verso abre o famoso capítulo sobre o amor (ágape) em 1 Coríntios. Nele, Paulo salienta a centralidade do amor na vida cristã e mostra como até os dons mais exaltados não são
nada se o amor não estiver presente. Ele não está falando de si mesmo, mas sobre qualquer pessoa que tenha entregue seu coração a Cristo. Aqui está como dois comentaristas
cristãos expuseram o texto. Ambos viveram antes da prática moderna de falar em línguas se estabelecer, de modo que não estavam enviesados para interpretar o verso de um modo
ou de outro:

"Um homem poderia falar todas línguas no mundo e com a máxima propriedade, elegância e fluência; ele poderia falar como um anjo. Porém, sem amor, isto tudo seria
ruído vazio, um som sem harmonia e inútil, que não seria proveitoso nem agradável. Não é falar livremente, elegantemente, ou doutamente das coisas de Deus, que nos
salvará ou que trará proveito aos outros, se estivermos destituídos do santo amor." — Matthew Henry (nasceu em 1662), comentário sobre 1 Coríntios 13:1.

"Mesmo que eu possa me expressar, ou comunicar meus pensamentos aos outros, de forma mais excelente possível, ou com a maior variedade de expressão, se eu não
tiver ágape, que traduzimos como amor, caridade... Sou apenas um sino que tine, um címbalo que soa, isto é, eu somente produzo um som, mas isto não contribui em
nada para minha salvação, isto não terá uso algum para mim." — Matthew Poole (nasceu em 1624), comentário sobre 1 Coríntios 13:1.

Em resumo, Paulo está nos dizendo que, mesmo que alguém fale a língua dos anjos, se não tiver amor, não soará melhor do que um instrumento metálico de percussão.

Quando lemos o verso no contexto, o significado é claro. É somente quando o tiramos do contexto e modificamos o significado da palavra glõssa é que ela pode ser interpretada para
significar alguma outra coisa.

Os pentecostais também gostam de citar 1 Coríntios 14:2 em suporte à sua teoria da "língua dos anjos": "Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a
Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios." [1 Coríntios 14:2].

A interpretação deles neste caso também é errônea. Primeiro, a palavra "desconhecida" não aparece no texto grego original, mas foi acrescentada pelos tradutores da Bíblia para tornar
o sentido um pouco mais claro. Por "língua desconhecida", eles queriam dizer uma "língua estrangeira", não uma língua cujo significado fosse desconhecido por qualquer povo na Terra,
ou conhecida unicamente por Deus.

A palavra glõssa tem exatamente o mesmo significado neste verso que tinha nos outros versos já citados. Paulo não está se referindo a uma linguagem angélica ou celestial que
somente Deus pode compreender. Ao revés, ele está dizendo que um fiel cristão que fala em uma língua estrangeira será compreendido somente por Deus, se não houver alguém
presente na assembleia para interpretar aquilo que está sendo dito, mesmo que ele esteja compartilhando verdades espirituais profundas. A interpretação das línguas poderia ser dada
para alguém que conhece a língua estrangeira em questão, ou que seja sobrenaturalmente capacitado pelo Espírito Santo naquele momento para interpretar ou expor aquilo que foi
dito. Em resumo, sem interpretação, ninguém será edificado, nem mesmo a pessoa que fala em línguas.

O Propósito Espiritual das Línguas

Os pontos que apresentamos até aqui são uma forte indicação que a prática moderna de falar em línguas é uma falsificação. Uma torrente de sílabas sem significado repetidas ad
nauseaum não é um idioma, mas meramente um ruído.

Se nos dermos ao trabalho de examinar o propósito espiritual das línguas, usando a totalidade da Palavra de Deus para nos guiar — como devemos fazer — veremos o milagre do
Pentecostes sob uma luz totalmente nova. Os três versos fundamentais são:

"O SENHOR levantará contra ti uma nação de longe, da extremidade da terra, que voa como a águia, nação cuja língua [lâshôwn] não entenderás." [Deuteronômio 28:49].

"Assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará a este povo." [Isaías 28:11].

"Não verás mais aquele povo atrevido, povo de fala [sâphâh] obscura, que não se pode compreender e de língua [lâshôwn] tão estranha que não se pode entender." [Isaías
33:19].

Em Deuteronômio 28 e Isaías 33 o Senhor está se referindo à conquista de Israel por um exército estrangeiro, um povo pagão
cujo idioma os hebreus não compreenderiam. Se continuassem em sua desobediência, então eles caíriam sob o julgamento de
Deus e seriam expulsos de sua terra natal.

O verso de Isaías 28 é tão importante que Paulo o cita no capítulo sobre línguas em 1 Coríntios:

"Está escrito na lei: Por gente de outras línguas [heteroglõssos], e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me
não ouvirão, diz o SENHOR." [1 Coríntios 14:21].

O significado aqui é muito claro. Deus tinha falado muitas vezes ao povo escolhido por meio de Seus profetas, na língua hebraica,
e registrado Sua mensagem para eles nas Escrituras, também no idioma hebraico, mas eles não deram ouvidos. Isaías está
dizendo ao povo que viria um tempo em que eles ouviriam suas próprias Escrituras citadas por gentios, falando em idiomas
estrangeiros ("outros lábios", "língua estranha"), mas mesmo assim, eles não dariam ouvidos à mensagem!

Os eventos profetizados neste verso (Isaías 28:11) tinham se cumprido, como Paulo confirmou, com o advento do dom espiritual
das línguas. Esse dom foi dado pela primeira vez no dia de Pentecostes, quando os apóstolos recitaram de forma sobrenatural "as
obras maravilhosas de Deus" em línguas estrangeiras faladas, ou conhecidas, pelos muitos milhares de judeus que estavam
visitando Jerusalém por ocasião da festa."

"Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua [diálektos] em que somos nascidos?" [Atos 2:8].

Para avaliar corretamente o significado disso a partir de um ponto de vista judaico, precisamos ver como isto estava conectado
nas mentes deles. Ambos os versos, em Deuteronômio 28 e Isaías 33, associaram as línguas estranhas com a severidade do julgamento de Deus. Até mesmo a criação das línguas foi
originalmente um resultado do julgamento decisivo do Senhor sobre os rebeldes em Babel. Os judeus que estavam presentes em Jerusalém no dia de Pentecostes e ouviram os
apóstolos recitarem "as obras maravilhosas de Deus" (que provavelmente consistiam principalmente de porções das Escrituras) teriam ficado surpresos pelo significado profético daquilo
que estavam testemunhando. Eles teriam sabido que os judeus que rejeitaram a mensagem — especialmente à luz de Isaías 28:11 — colheriam o julgamento de Deus.

Em conjunção com o sermão de Pedro, isto teve um impacto poderoso sobre eles, de forma que 3.000 almas foram adicionadas à igreja naquele mesmo dia. Se considerarmos que a
igreja naquele tempo provavelmente consistia de pouco mais de 500 almas, essas poucas horas viram um aumento impressionante de cinco vezes no número de membros.

As Línguas São um Sinal para os Judeus Descrentes

O Pentecostes foi um grande ponto de virada na história para os judeus que creram. Da mesma forma, foi também um dia altamente significativo para os judeus descrentes. O mesmo
Evangelho que trouxe salvação àqueles que creram traria julgamento contra aqueles que não creram.

É por isto que Paulo declara especificamente que Deus quis que o dom das línguas fosse um sinal para os judeus descrentes:

"De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis." [1 Coríntios 14:22].

As línguas serviram como um testemunho, ou sinal, para os judeus que eles estavam sendo julgados como uma nação. Até então, eles eram
um povo escolhido, um povo separado. O Deus deles, o Senhor Deus de Israel, era profundamente diferente dos deuses das outras nações.
Todos os estrangeiros, sem exceção, eram pagãos idólatras e impuros que viviam sob uma maldição. Os judeus sabiam que eles eram
especiais de um modo que o restante da humanidade não podia compreender. Por esta razão, eles assumiram — erradamente — que os
gentios nunca seriam aceitos pelo Senhor Deus de Israel. Além disso, eles achavam que um gentio somente poderia ser salvo convertendo-se
para o Judaísmo e perdendo sua identidade gentia.

Esta atitude, que permeava a cultura judaica e todo o raciocínio tradicional rabínico, é demonstrado de um modo admirável na história do
profeta Jonas. O Senhor chamou Jonas para advertir uma nação pagã — o povo de Nínive — a respeito de uma calamidade iminente. A não
ser que eles se arrependessem de seus maus caminhos, a cidade deles seria destruída. Jonas ficou extremamente triste com essa ordem de
Deus e tentou evadir-se. Para ele, era simplesmente impensável que o Deus de Israel demonstrasse algum interesse pelo bem-estar de um
povo pagão, especialmente os cruéis e rapaces habitantes de Nínive (uma cidade fundada por Ninrode).

Mesmo após o Senhor o forçar a ir a Nínive para entregar a mensagem, Jonas sentou-se fora da cidade, aguardando diariamente pela sua
destruição — algo que ele desejava ver. Mas, quando a destruição não ocorreu, ele ficou muito irado!

Isto pode parecer como uma atitude incomumente dura para nós hoje, mas salienta o direito exclusivo de posse que o povo judeu acreditava
que exercia sobre o Senhor Deus de Israel. Ele era o Deus deles, somente deles.

Isto se revelou ser um grande problema quando os apóstolos começaram a pregar o Evangelho para os judeus. Os membros iniciais da igreja
primitiva eram todos judeus e muitos demonstravam exatamente a mesma atitude com relação aos gentios que seus antepassados
mantiveram durante séculos. Na visão deles, a igreja deveria permanecer exclusivamente judaica. A ideia que os gentios — pagãos,
estrangeiros — deveriam participar em pé de igualdade era repulsiva para muitos deles. Até mesmo os apóstolos lutaram com isto e, como o
livro de Atos dos Apóstolos revela, eles teriam restringido a igreja aos circuncisos (aos judeus somente) se Paulo de Tarso não tivesse
aparecido e os convencido que Cristo morreu pelo mundo todo, não apenas pelos judeus.

Devemos lembrar que Paulo precisou publicamente repreender Pedro, talvez o decano entre os apóstolos, porque ele ainda se prendia às
práticas que distinguiam os judeus dos gentios: "E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível." [Gálatas 2:11].

Paulo teve muito trabalho para convencer os judeus. Ele teria feito um progresso muito lento se, quando apresentou sua posição, os cristãos primitivos (todos os quais eram judeus)
não tivessem ainda observado algo que os tinha surpreendido, isto é, o dom espiritual das línguas — o mesmo sinal que Moisés e Isaías tinham profetizado. Eles tinham testemunhado
o Espírito Santo proferir a Palavra de Deus na língua das nações estrangeiras. Isto somente poderia significar que Deus estava convidando os gentios para virem ao Seu aprisco.

Os judeus precisavam de um sinal (1 Coríntios 1:22) — as línguas foram esse sinal.

Referências Específicas às Línguas no Novo Testamento

As referências no Velho Testamento às "línguas" nos dizem (a) que elas eram consideradas pelos judeus como línguas reais e (b) que elas estavam associadas de perto com o
julgamento de Israel por Deus.

Examinaremos agora cada uma das cinco referências às línguas no Novo Testamento:

Marcos 16:17
Atos 10:46
Atos 19:6
Atos 2:1-12
1 Coríntios 12-14.

1. Marcos 16:15-17:

"E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão
aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas." [Marcos 16:15-17].

Observe que Cristo, como Paulo, faz referência às línguas como um sinal.

Cristo nunca falou em línguas, mas aqui está dizendo que aqueles que "crerem" (seus discípulos) irão por todo o mundo e falarão novas
línguas. Isso sugere fortemente que as "línguas" em questão eram os idiomas falados em cada parte do mundo. A palavra grega original
para "línguas" é glõssa, que significa idiomas. Essas são línguas reais, não línguas inventadas, línguas celestiais, os línguas místicas. O
contexto torna bem claro que Cristo quis que seus discípulos pregassem o Evangelho para as outras nações e garantissem que ele fosse
compreendido. É impossível dar um novo significado à palavra glõssa neste contexto e fazer com que ela signifique balbuciar palavras sem
sentido, como se vê entre os praticantes modernos das línguas.

2. Atos 10:46-47:

"E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão,
todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios.
Porque os ouviam falar línguas [glõssa], e magnificar a Deus. Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para
que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?" [Atos 10:44-47].

Esta é a maravilhosa ocasião quando o primeiro gentio — Cornélio — foi batizado. Os cristãos judeus que estavam presentes ficaram
"maravilhados", pois nunca tinham imaginado que o Espírito Santo entraria nos gentios. Isso significa que o Deus de Israel estava se
declarando o Deus de todas as nações, não apenas o Deus dos judeus. E como eles souberam com certeza que o Espírito Santo tinha entrado
naqueles gentios? Porque os ouviram falar em línguas. Falar em línguas era um sinal para os judeus que o Deus de Israel estava aceitando
indivíduos de todas as etnias, tribos, povos e línguas.

É vital compreender o significado desse evento. Por quase 2.000 anos os judeus como uma nação tinham sido os representantes exclusivos
do único Deus verdadeiro. Agora, uma mudança realmente dramática tinha acontecido, algo que os judeus nunca esperaram (embora
devessem ter discernido a possibilidade a partir de suas Escrituras). Daquele dia em diante o Senhor Deus ativamente escolheria
representantes dentre todas as nações.

A nação de Israel tinha temporariamente cessado de representar Deus. Agora, Deus estava representado exclusivamente por um novo corpo,
a igreja, que consistia de (a) judeus que criam em Cristo, (b) gentios que criam em Cristo, (c) samaritanos que criam em Cristo (os
samaritanos eram um grupo racialmente misto, com antepassados judeus e gentios), e (4) os grupos mencionados em Atos 19:6 (veja
abaixo).

Muitas escrituras, como Zacarias 12-14, confirmam que o remanescente justo entre os judeus será restaurado, como uma nação, à sua posição sacerdotal quando Cristo retornar, no
início do Milênio, para reinar em Jerusalém.

As Línguas Como um Sinal de Julgamento

Os judeus necessitavam de um sinal. Neste caso — onde Israel tinha cessado temporariamente de ser a nação representante de Deus na Terra — eles necessitavam de uma evidência
irrefutável que essa transição dramática, até traumática, tinha ocorrido. A evidência eram as línguas. Quando eles ouviram suas próprias Escrituras faladas e interpretadas de forma
sobrenatural pelos gentios, eles souberam que Deus estava agora trabalhando com gentios individuais que criam, exatamente como Ele estava trabalhando com judeus individuais que
criam — mas não com a nação de Israel.

O julgamento implicado por esse sinal veio de forma devastadora sobre a nação de Israel no ano 70, quando o Templo foi destruído.

Atos 19:6:

"Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que
ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas [glõssa], e profetizavam. E estes
eram, ao todo, uns doze homens." [Atos 19:4-7].

Esta foi a ocasião em que, em uma visita a Éfeso, Paulo encontrou cerca de 12 homens, possivelmente gentios, que tinham sido batizados muitos anos antes por João Batista. Como
aquele não era o batismo cristão, Paulo os batizou outra vez. Quando o Espírito Santo veio sobre eles, eles também começaram a falar em línguas. Os judeus que estavam presentes
(ou que ouviram relatos desse evento) foram novamente deixados com a certeza que o Espírito Santo tinha entrado naqueles homens. Além disso, eles podiam ouvir aqueles conversos
falarem palavras inspiradas de verdade (eles "profetizavam") em uma língua estrangeira. Esta era uma clara confirmação que o Senhor Deus de Israel estava dizendo ao mundo que Ele
não era apenas o Deus dos judeus, mas o Deus de todas as etnias, povos e nações.

Atos 2:1-12:

"E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e
encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram
cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens
religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua
própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos,
cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto e Ásia, e Frígia e Panfília,
Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar
das grandezas de Deus. E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer? E outros, zombando, diziam: Estão cheios de
mosto."

Examinaremos agora a ocorrência das línguas durante a Festa de Pentecostes.

Considere os seguintes fatos: todos os que ouviram aquelas línguas sobrenaturais eram judeus que tinham vindo a Jerusalém de
diferentes partes do Império para participarem do Festival de Pentecostes (também chamado de Festa das Semanas, ou Shavuot).
Como judeus, eles falavam um dos idiomas comuns entre os judeus daquele tempo — aramaico, grego ou hebraico. Assim, é correto
dizer que os apóstolos não precisariam falar em "línguas" para se comunicarem com a maioria deles. Apesar disso, o Espírito Santo
falou palavras de verdade pela boca dos apóstolos, na língua da província ou região geográfica de onde cada visitante tinha vindo.
Aqueles judeus estavam ouvindo louvores ao Senhor Deus de Israel, nas línguas dos povos pagãos. Nada similar a isto tinha
acontecido antes.

A Bíblia lista as regiões envolvidas de modo a enfatizar a diversidade das línguas e a natureza admirável daquilo que estava
acontecendo. Elas incluíam regiões que hoje estão na Turquia, Grécia, Irã, Iraque, Itália, Egito, Líbia, Creta e Arábia. Experimente
imaginar a cena. Minutos após o Espírito Santo vir ao mundo para habitar nos corações dos homens, Ele estava falando aos judeus,
não na língua hebraica, mas nas línguas dos povos gentios. Todavia, tudo que Ele disse se referia os judeus e às santas Escrituras de
Israel.

Este foi o sinal sobre o qual Paulo falou em Atos, que ele confirmou como o sinal exato que o profeta Isaías tinha predito mais de 700
anos antes (Isaías 28:11). Este também foi um dos sinais que Jesus citou em Marcos 16.

Pano de Fundo para 1 Coríntios

Antes de continuarmos a examinar a doutrina das línguas, conforme explicada por Paulo em 1 Coríntios, vamos resumir o que descobrimos até aqui:

Falar em línguas é um sinal para os judeus descrentes.


O sinal tinha sido predito por Moisés e por Isaías.
O sinal estava associado com o julgamento de Deus.
As línguas faladas eram linguagens humanas reais.

De modo a compreender os comentários de Paulo sobre línguas em 1 Coríntios, precisamos compreender o propósito geral dele ao escrever a carta. Ele tinha sido informado que os
cristãos em Corinto tinham se afastado em muitos aspectos dos preceitos que ele lhes tinha ensinado e queria fazer com que voltassem para o caminho correto. É claro, a partir dos
vários comentários de Paulo, que a igreja em Corinto estava longe de um padrão satisfatório no modo como realizava suas atividades. Os membros da igreja estavam abusando de seus
dons espirituais, toleravam práticas imorais e havia entre eles "invejas, contendas e dissensões" (3:3). Assim, os comentários de Paulo em relação às línguas tinham o objetivo de
corrigir mal-entendidos entre eles com relação às línguas (entre outras coisas) e garantir que dali para frente eles exercessem o dom das línguas somente de acordo com o código
estrito definido na carta.

Passaremos agora a examinar as passagens relevantes, verso por verso, e ver exatamente o que Paulo estava ensinando aos coríntios. Isto deve permitir que estabeçamos a doutrina
bíblica das línguas.

Observação 1:

"Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo... Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência..."
[1 Coríntios 12:4,8].

No capítulo 12, Paulo explica que existe uma diversidade de dons espirituais e que eles são distribuídos dentro da igreja conforme a necessidade. Assim, precisamos concluir que
somente alguns membros da igreja possuíam o dom de falar em línguas.

Observação 2:

O capítulo 12 também menciona a interpretação de línguas como um dom espiritual: "E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os
espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas." [1 Coríntios 12:10].

É difícil dizer se quem falava em línguas necessariamente compreendia em todas as ocasiões o significado literal daquilo que
estava dizendo. Entretanto, se uma pessoa tinha dominado um idioma por estudo paciente, ela obviamente compreendia o
significado das palavras faladas naquele idioma. Da mesma forma, se falar em línguas de forma sobrenatural é realmente
um dom do Espírito Santo, então podemos esperar que o dom tenha as mesmas características e, assim, seja inteligível a
quem fala.

Há muito tempo que é assumido que quem falava em línguas estranhas não compreendia o significado real daquilo que dizia,
porque Paulo fala de outro dom espiritual relacionado, isto é, o dom de interpretar línguas. A palavra grega é diermeneuõ, o
que significa interpretar, ou expor. Os pentecostais (e outros) consideram que esse dom envolve a tradução das palavras
proferidas por aquele que fala em línguas sobrenaturais, presumivelmente para a edificação dos membros da assembleia que
não compreendiam o idioma estrangeiro que estava sendo falado. Entretanto, isso pode não ter sido o caso. A palavra
diermeneuõ também significa "expor". Por exemplo, quando Jesus encontrou os dois discípulos no caminho para Emaús, Ele
expôs para eles as Escrituras (diermeneuõ) para o benefício deles. Como as línguas sobrenaturais transmitiam mistérios
("Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito
fala mistérios." [1 Coríntios 14:2]), o conteúdo espiritual daquilo que estava sendo dito pode não ter sido plenamente
compreendido, até por aquele que falava. Assim, de modo a ser edificada, a assembleia precisaria de outra pessoa com o
dom de interpretar línguas, para explicar o que as palavras inspiradas proferidas significavam em um sentido espiritual ou
teológico.

Independente se diermeneuõ significa "traduzir" ou "expor" neste contexto, é claro que Paulo está falando de um dom
espiritual que era separado e distinto do dom das línguas. Além disso, como veremos quando examinarmos o capítulo 14, uma pessoa com esse dom precisa estar presente na
assembleia se aquele que fala em línguas não for capaz de interpretar suas próprias palavras inspiradas.

Observação 3:

"O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos, e em parte
profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado." [1 Coríntios 13:8-10].

Em 1 Coríntios 12, Paulo lista nove dons do Espírito Santo — sabedoria, conhecimento, fé, curas, operação de milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas e a interpretação
de línguas. Mas, nos versos 8-9 ele revela que três deles passarão quando "vier o que é perfeito".

Muitos eruditos bíblicos acreditam que Paulo estava se referindo à finalização da Bíblia. No tempo em que ele estava escrevendo, a Bíblia ainda estava incompleta. Os três dons
revelatórios que ele diz que passarão são os três que eram necessários para completar a Bíblia — conhecimento e profecia divinamente revelados e as revelações dadas por meio do
dom das línguas.

Mesmo se alguém não estiver convencido que Paulo estava se referindo à finalização da Bíblia no verso 13:10, ele estava claramente definindo uma estrutura de tempo para o uso
continuado de três dos nove dons espirituais — profecias, línguas e a palavra revelada de conhecimento. Dado que os registros deixados pelos cristãos da era pós-apostólica não fazem
praticamente referência à manifestação continuada das línguas após o ano 96, quando João escreveu o último livro da Bíblia, na ilha de Patmos, é razoável concluir que o Espírito Santo
não estava mais concedendo esse dom. De fato, o dom provavelmente cessou no ano 70, com a culminação do julgamento implicado pelo sinal das línguas, isto é, a queda de
Jerusalém e a destruição do templo.

Observação 4:

"Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em língua desconhecida não
fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para
edificação, exortação e consolação. O que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja." [1
Coríntios 14:1-4].

Já discutimos esta passagem. Devemos nos lembrar que Paulo estava escrevendo para os coríntios para corrigir diversos erros e mal-entendidos
que havia entre eles. Um desses erros estava relacionado com a prática que eles faziam das línguas, sem ter alguém presente para expor ou
interpretar aquilo que estava sendo dito. A passagem se refere, não a uma língua angelical, que somente Deus pode compreender, mas a uma
língua humana estrangeira, que aparentemente nenhum dos presentes poderia compreender. Assim, enquanto o membro da igreja estava falando
em línguas, compartilhando conhecimento divino em uma língua estrangeira, ele não estava realmente fazendo coisa alguma que pudesse
beneficiar os presentes. Os demais membros presentes não recebiam edificação, nem exortação, nem consolação alguma.

Observação 5:

"E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a
não ser que também interprete para que a igreja receba edificação. E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, que vos
aproveitaria, se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina? Da mesma sorte, se as coisas
inanimadas, que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a
cítara? Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? Assim também vós, se com a língua não pronunciardes
palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? porque estareis como que falando ao ar. Há, por exemplo, tanta espécie de vozes
no mundo, e nenhuma delas é sem significação. Mas, se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será
bárbaro para mim. Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja." [1 Coríntios 14:5-
12].

O Dicionário Webster (1828), que catalogou rigorosamente a linguagem usada na tradução Autorizada do Rei Jaime (KJV), definiu o verbo "edificar" como segue:

"Instruir ou aprimorar a mente em conhecimentos gerais e, particularmente, em conhecimento moral e religioso, em fé e santidade."

Os versos 1-12 transmitiram uma forte mensagem aos coríntios. Paulo estava tentando inculcar neles que toda palavra falada na igreja deve ter o objetivo de edificar os presentes. Elas
devem promover conhecimento, fé e santidade. Elas devem exortar, consolar e fortalecer os fiéis em suas vidas cristãs. Os coríntios estavam violando esse princípio, ao usarem o dom
das línguas para falar verdades que ninguém podia compreender. Aquilo tinha de parar.

Observação 6:

Os cinco versos seguintes desenvolvem um pouco mais a doutrina das línguas:

"Por isso, o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar. Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu
entendimento fica sem fruto. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o
entendimento. De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto, o Amém, sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o
que dizes? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado." [1 Coríntios 14:13-17].

Por que uma pessoa que está falando em uma língua estranha tem de orar "para que a possa interpretar"? Isto é facilmente explicado se compreendermos que a "língua desconhecida"
é desconhecida somente para a audiência e não para aquele que está falando. O desafio para quem fala é encontrar as palavras certas no idioma local para que ele possa ser
compreendido pelos seus ouvintes. Paulo está orientando que, nesses casos, ele deveria orar (talvez antecipadamente) e pedir que o Espírito Santo lhe dê a capacidade de encontrar
essas palavras.

Esses versos chamam a atenção para a diversidade das línguas que eram faladas em Corinto, uma agitada cidade cosmopolita com residentes e visitantes de muitas partes do Império
Romano. Dentro do espaço de alguns poucos quilômetros quadrados, era possível encontrar de dez a quinze idiomas sendo falados, cada um dos quais era um "idioma estrangeiro" para
qualquer um que não o compreendesse. Assim, em uma igreja formada por membros de origem judaica e gentia, com níveis mistos de educação formal, era absolutamente vital que
qualquer um recebesse exatamente a mesma instrução religiosa. Paulo estava perfeitamente ciente que a confusão apareceria se a igreja em Corinto não solucionasse esse problema.

O conselho dele foi tipicamente prático — seja por dons espirituais ou por estudo convencional, seja por meio de recursos próprios ou com a ajuda de terceiros, eles sempre deveriam
garantir que tudo o que dissessem fosse compreendido por todos os presentes na assembleia.

Isto é consistente com a epístola como um todo, em que o objetivo principal de Paulo era o de solucionar os problemas práticos entre os coríntios e edificar a igreja.

"Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa
também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no
entendimento." [1 Coríntios 14:18-20].

Ele continua na mesma veia nos versos 18-20, onde exorta os coríntios a abrir mão do hábito infantil de pregar em uma língua que a assembleia não poderia compreender.

Observação 7:

"Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas são um sinal,
não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis." [1 Coríntios 14:21-22].

Paulo está se referindo aqui a Isaías 28:11-12, que já discutimos. Ele está confirmando que falar em línguas (de forma sobrenatural) é um sinal aos judeus ("este povo"). Como Isaías
refere-se especificamente aos descrentes do povo judeu ("e ainda assim não ouvirão"), esta é a descrença sobre a qual Paulo está falando.

Um judeu não convertido poderia ficar impressionado por um pronunciamento (ou profecia) inspirado, mas testemunhar alguém falando de forma sobrenatural sobre o Senhor Deus de
Israel na língua de um povo gentio seria bastante surpreendente para ele. Estes versos confirmam que Paulo sabia que os coríntios estavam falando em línguas mesmo quando judeus
não estavam presentes. Eles estavam fazendo isso simplesmente para impressionar uns aos outros e não pela razão expressa dada nas Escrituras. Paulo não estava dizendo que eles
estavam usando uma forma falsa de linguagem (embora alguns deles possam ter feito isso), mas que estavam usando o dom bíblico de uma forma imprópria.

Observação 8:

"Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos? Mas, se todos
profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar, de todos é convencido, de todos é julgado. Portanto, os segredos do seu coração ficarão manifestos, e assim, lançando-se
sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós." [1 Coríntios 14:22-25].

Esta passagem conecta os "infiéis com os "indoutos". Paulo diz que quando esses indivíduos compareciam a um serviço da igreja e ouviam os membros da congregação falar em
línguas, eles naturalmente pensariam que os "cristãos estão loucos". Os coríntios estavam fazendo mau uso do dom das línguas e causando confusão. Os incrédulos, sejam judeus ou
gentios, doutos ou indoutos, vinham à igreja para ouvir o Evangelho e queriam ser edificados por uma pregação sólida. Como eles seriam convencidos pela verdade daquilo que ouviam
se as palavras não fossem inteligíveis?

Observação 9:

"Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. E, se
alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e
fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro.
Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados." [1 Coríntios 14:26-31].

Paulo censura os coríntios por serem tão ansiosos em expressarem suas aptidões evangélicas que negligenciavam aquilo que era realmente importante — a edificação dos ouvintes. Ele
pede que eles limitem o número dos que falam ou pregam a dois ou três. Se um deles estiver falando em uma língua que parte da audiência não compreende, então que outra pessoa
interprete aquilo que está sendo dito, para que todos os presentes sejam edificados. Se não houver alguém que possa interpretar, então aquele indivíduo deve permanecer calado e
orar a Deus.

Ele os faz lembrar também que, se o Espírito Santo motivar outra pessoa a falar, pode fazer isso para o benefício de todos, mas não de forma a criar confusão. Cada um deve falar, um
de cada vez, de forma ordeira.

Observação 10:

"E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos." [1 Coríntios 14:32-33].

Paulo insiste que as faculdades mentais dos santos ou profetas (aqueles que estão falando) devem estar o tempo todo sob o controle
deles mesmos. A palavra traduzida como "espírito" é pneuma (Strong, item 4151), o que significa alma racional ou disposição mental.
Em hipótese alguma deve um cristão falar na igreja sem ter pleno controle de si mesmo, ou sem compreender suas palavras e ações,
pois Deus não é o autor de confusão.

A ideia que uma pessoa tinha de entrar em um estado alterado de consciência, ou em um transe de algum tipo, de modo a falar em
línguas, foi rejeitada com firmeza. Compare isto com a prática moderna, em que os participantes parecem perder o controle parcial de si
mesmos.

Observação 11:

"As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena
a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres
falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou
espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que ignore.
Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem." [1
Coríntios 14:34-41].

Paulo está impondo uma disciplina rígida aqui. Ele diz que, independente do que alguém em Corinto possa pensar — não importa quem seja — aquilo que ele, Paulo, diz aqui é para ser
seguido por todos, exatamente como definido. Ele não os proíbe de falar em línguas, mas somente podem fazer isso da forma como ele os instruiu. A palavra traduzida como
"decentemente" (euschemonos) também significa "honestamente". Ele deseja que eles ajam de forma honesta nesta questão e que mantenham os preceitos de ordem que ele definiu.

Para que ninguém seja inclinado a contestar esses requisitos, ele acrescenta: "Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos
do Senhor."

A Nova Reforma Apostólica, fundada por homens como C. Peter Wagner, Bill Hamon e Bill Johnson, é uma das
influências mais corruptoras na igreja atualmente. Muitas pessoas sinceras estão sendo desviadas pela ênfase
desse movimento em sinais e maravilhas, sua doutrina herética do apostolado e muitas outras distorções da
verdade bíblica.

Não surpreende, então, saber que falar em línguas é enfatizado por um de seus principais fundadores, Bill
Hamon. Ele até chama as línguas de "nosso próprio dínamo espiritual interno".

Veja nosso estudo intitulado "A Nova Reforma Apostólica É uma Seita Pseudocristã".

A Doutrina Bíblica das Línguas

Após o exame que fizemos em 1 Coríntios, bem como outras passagens relevantes das Escrituras, estamos agora em condições de compilar uma declaração bíblica sobre as línguas.

Antes de fazermos isso, precisamos reconhecer que ninguém que esteja vivo hoje testemunhou as línguas bíblicas, mas somente uma manifestação daquilo que eles assumem ser
línguas bíblicas. Esta é uma distinção importante. Qualquer coisa que afirmamos saber sobre as línguas deve estar baseada inteiramente naquilo que a Bíblia realmente diz. As
inferências baseadas na prática moderna não podem e não devem ser usadas para amplificar ou expor uma referência bíblica para as línguas.

Existem diversas questões sobre as línguas que não podemos responder com certeza a partir do relato bíblico. Por exemplo, falar em línguas foi alguma vez usado para contornar a
barreira do idioma ao pregar o Evangelho? Talvez sim, mas este não foi o propósito para o qual o Senhor concedeu o dom. Todos os que falavam em línguas compreendiam o significado
literal das palavras que proferiam? Algumas passagens parecem sugerir que esse pode não ter sido o caso, especialmente quando o dom estava sendo usado de forma imprópria. Que
fatores determinavam o idioma gentio que era usado por aquele que falava? Quem falava usava somente um idioma, ou falava vários idiomas e, neste último caso, o indivíduo podia
escolher entre eles? O intérprete traduzia de um idioma para outro, ou somente — ou adicionalmente — expunha a mensagem espiritual transmitida por aquele que falava em línguas?

Sem dúvidas, muitas outras questões desse tipo poderiam ser feitas. O simples fato que esse fenômeno dê origem a tantas questões sem resposta é uma forte evidência que a prática
tenha desaparecido antes mesmo de a Bíblia ser finalizada. Aquele dom não precisaria ser totalmente compreendido pelas gerações seguintes de cristãos.

Vamos agora fazer um resumo daquilo que já aprendemos:

1. Falar em línguas foi um sinal para os judeus descrentes. Este era o propósito.
2. O sinal estava associado com o julgamento de Deus sobre Israel.
3. As línguas faladas eram línguas humanas reais.
4. As línguas nunca foram descritas como uma linguagem mística ou angelical.
5. As línguas foram exclusivamente um dom do Espírito Santo e não podiam ser "aprendidas".
6. O dom das línguas para a igreja foi temporário e, muito provavelmente, entrou em desuso antes mesmo de a Bíblia ser finalizada.
7. Falar em línguas ocorria na presença de judeus descrentes, ou em um contexto em que as notícias do fenômeno alcançariam os ouvidos dos judeus descrentes.
8. Falar em línguas ocorria em público, em um foro aprovado pela igreja.
9. Somente um número pequeno de membros de uma igreja possuíam o dom.
10. Após o mau uso das línguas em Corinto, o Espírito Santo introduziu um conjunto rígido de regras referentes ao uso das línguas. (Essas regras podiam já existir, mas não eram
claramente compreendidas pela igreja em Corinto):

a. Falar em línguas precisa ser o tempo todo edificante; portanto, a língua sempre precisa ser interpretada ou exposta para o benefício de toda a congregação.
b. Somente uma pessoa de cada vez pode falar em línguas.
c. Não mais do que três pessoas podem falar em línguas em uma reunião da igreja.
d. As mulheres não estão autorizadas a falar em línguas.

Implicações para a Igreja Moderna

Se falar em línguas for abordado estritamente com base bíblica — como precisa ser — então nossas descobertas têm implicações muito óbvias para a igreja moderna.

A prática moderna das línguas viola os requisitos das Escrituras em pelo menos sete modos:

Mulheres falam em línguas;


Muitas pessoas falam em línguas ao mesmo tempo;
Ninguém interpreta ou expõe aquilo que é falado em línguas;
As palavras proferidas não fazem sentido em uma linguagem humana;
Mais de três pessoas falam em línguas em uma mesma reunião das igrejas;
Frequentemente, quem fala em línguas não está em pleno controle de si mesmo;
O propósito para o sinal das línguas é ignorado.

Faça a si mesmo uma pergunta: por que o Espírito Santo concederia o dom das línguas sob essas circunstâncias? Dado que Ele nunca age de forma contrária a algo que esteja
registrado em Sua Santa Palavra, sabemos com certeza que o verdadeiro dom das línguas não está sendo exercido em público na igreja moderna.

Outra questão de preocupação é a popular crença pentecostal que os católicos-romanos (da variedade "carismática") também sejam capazes de falar em línguas. Os católicos-romanos
não são cristãos bíblicos, mas veem o papa como um representante de Cristo na Terra. Eles oram em favor dos mortos (ou dirigem rezas para pessoas mortas), ajoelham-se diante de
imagens de santos, veneram a assim chamada Rainha dos Céus, praticam o sacrifício repetido de Cristo e creem que estão comendo sua carne real na hóstia da comunhão (entre
muitas outras práticas e crenças de origem pagã). Como este é o caso, como então podem católicos romanos exercer o dom bíblico das línguas? Obviamente eles não podem. Assim,
quando os pentecostais se juntam com os católicos romanos e falam em "línguas", sabemos que eles estão seriamente enganados.

O "dom" das línguas em sua forma moderna pode ser psicossomático em muitos casos, ou induzidos por auto-hipnose. Precisamos nos preocupar, em particular, que o mesmo
fenômeno seja comum entre religiões tribais, bem como certas seitas do Hinduísmo e que, nesses casos, ele é muito provavelmente de origem demoníaca.

A Vindoura Religião do Mundo Unificado

Quando os cristãos rejeitam a única base de sua salvação — "O justo viverá pela fé." [Romanos 1:17, Gálatas 3:11, Hebreus 10:38) — e buscam confirmação adicional em sinais e
maravilhas, incluindo sinais falsos e maravilhas falsas, eles estão fazendo algo espiritualmente prejudicial para si mesmos.

Podemos esperar que falar em línguas exerça um papel na vindoura religião do mundo unificado. Apesar do fato de estar em conflito com as Escrituras, isto é aceito por que é
"emocionante" e experimental; é profundamente ecumênico, fazendo os pentecostais considerar os católicos romanos carismáticos como irmãos na fé; falar em línguas substitui a
mensagem clara do Evangelho e a pregação sólida por palavras incompreensíveis proferidas em êxtase e que não têm significado algum; falar em línguas atua como uma porta para
outras formas aberrantes de adoração, incluindo a contemplação monástica e Lectio Divina; induz muitos praticantes a crerem que eles são profetas e que têm uma "mensagem" para a
humanidade; substitui doutrina por emoção, compreensão por experiência, e a Palavra de Deus por revelação pessoal. Em resumo, falar em línguas é exatamente o tipo de fenômeno
carismático que podemos esperar que o Maligno explore ao trabalhar para a criação de uma religião do mundo unificado.

Os pentecostais irão abandonar a prática de falar em línguas? Duvido muito. Basta observar os títulos de dezenas de livros que estão no mercado, que ensinam os "benefícios" de falar
em línguas. Os autores desses livros estão tão convencidos que a prática moderna de falar em línguas tem base bíblica que eles, na verdade, afirmam que Satanás é quem desencoraja
o uso das línguas.

O discernimento está muito escasso na igreja hoje. Por exemplo, a Bíblia diz claramente que as mulheres não devem falar em línguas, porém os pentecostais simplesmente ignoram
essa restrição, da mesma forma como ignoram as outras restrições que o Espírito Santo impôs sobre o uso das línguas. A partir disso, podemos ver que o problema básico com as
línguas na igreja moderna deve-se mais à desobediência, do que à ignorância ou à enganação.

Em junho de 2014, o papa Francisco se encontrou publicamente com Carol e John Arnott (no lado esquerdo
da foto), dois dos mais ativos divulgadores da "Bênção" de Toronto. À direita do papa está Kenneth
Copeland, outro televangelista que frequentemente fala em línguas em suas apresentações. Brian Stiller (ao
lado de Copeland) é o "Embaixador Global" da Aliança Evangélica Mundial, com sede em Nova York, EUA,
uma influente organização que está trabalhando de perto com Roma para fazer avançar a causa do
ecumenismo.

A "Bênção" de Toronto

De que outra forma algo como a "Bênção" de Toronto poderia ser tolerado? Essa enganação é endossada por pregadores de muitas denominações, incluindo o clero anglicano que criou
o Curso Alfa, porém é uma das mais perturbadoras perversões da verdade bíblica que existem atualmente no mundo. A Igreja Católica Romana patrocina o Curso Alfa e, por implicação,
aprova a Bênção de Toronto, pois ela exerce um papel fundamental em sua agenda ecumênica. De acordo com o Catecismo Católico Romano (parágrafo 2003: "Seja qual for seu
caráter, às vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas se ordenam à graça santificante e têm como meta o bem comum da Igreja." Isto é clara
evidência que a Igreja Católica continuará a promover o dom das línguas e a usá-lo para solapar a verdade bíblica.

A prática das línguas pode levar diretamente a muitos dos fenômenos vistos em Toronto — chacoalhar o corpo, tremores, latidos, uivos, repetição de palavras incompreensíveis,
desmaios prolongados, risos histéricos, choro, rastejar no chão, paralisia involuntária, quedas, convulsões e comportamento característico de uma pessoa embriagada. Existem vídeos
na Internet de igrejas afetadas pela Bênção de Toronto que mostram, em detalhes horríveis, o que acontece quando pessoas aparentemente sinceras rejeitam a Palavra de Deus e
correm atrás de experiências carismáticas e que produzem êxtase.

Existe claramente um espírito em operação na chamada Bênção de Toronto, porém NÃO É o Espírito Santo. O espírito de Toronto zomba de tudo o que é santo, de tudo o que é bíblico e
tudo o que é edificante na vida cristã justa. Ele engana os cristãos ingênuos e desobedientes (se a palavra "cristão" realmente se aplica a esssas pessoas) e os leva a uma conduta
histérica e agitada que beira a loucura. Satanás reina na Bênção de Toronto, exatamente como faz em todos os locais onde esse tipo de comportamento é considerado espiritual.

Hipnose e Auto-Hipnose

Para que ninguém conclua que a Bênção de Toronto seja apenas uma aberração, gostaríamos de observar que grande parte dos mesmos tipos de fenômenos há muito tempo são
reportados entre grupos de cristãos professos que praticavam as línguas. Em seu livro Speaking in Tongues: A Cross-Cultural Study of Glossolalia [Falar em Línguas: Um Estudo
Transcultural da Glossolalia], Felicitas Goodman — que examinou o fenômeno da glossolalia em diversas igrejas — refere-se às inúmeras ocorrências de dissociação, transe, possessão e
estranhos comportamentos cinéticos entre aqueles que falam em línguas e afirmam serem cristãos. Ela comenta também sobre a natureza altamente repetitiva das línguas faladas:

"... o indivíduo diz continuamente a mesma coisa, as palavras proferidas não variam de uma ocasião para a próxima. Em vez de dizer que as palavras proferidas são
estereotipadas, poderíamos dizer que elas são lembradas. No estado consciente, porém, o glossolalista frequentemente não se lembra o que disse; ele não consegue se
lembrar, quando está fora do estado de dissociação, o que disse, e nenhum indivíduo que entrevistei conseguia repetir, no estado consciente, as palavras que disse quando
estava em transe." [pág. 97].

Em resumo, falar em línguas envolve entrar em um estado alterado de consciência, um tipo de transe, em que o indivíduo não tem mais controle completo de si mesmo. Uma vez neste
estado de "dissociação", como Goodman o chama, o indivíduo pode exibir cada vez mais comportamento bizarro, sobre o qual ele tem pouco ou nenhum controle, e também não tem
memória clara do que aconteceu após o evento terminar.

Se o mesmo comportamento bizarro e não edificante pode ser induzido em indivíduos sugestionáveis por um hipnotizador experiente, como pode um cristão sincero achar que isto seja
bíblico?

Comentários Finais

Vou encerrar com uma severa advertência feita pelo pastor Bryce Hartin:

"Até tempos recentes, o Espiritismo era em geral desacreditado. Seus alegados fenômenos eram ridicularizados e seus médiuns eram rejeitados como impostores. Tudo isto
agora mudou. A prática do Espiritismo de uma forma ou de outra agora se tornou aceitável na sociedade, mas até mais, sua emergência na seção da igreja que fala em
línguas na verdade o tornou respeitável. O caminho está assim sendo preparado para novas esferas, cada vez mais amplas, de atividade demoníaca e para o suprimento de
novos e mais eficientes canais humanos, por meio dos quais esses espíritos enganadores possam operar. Alguém já disse muito bem que a separação entre o natural e o
sobrenatural está se tornando muito fina em alguns pontos. Isto realmente é verdade. Com o aparecimento neste século do movimento das línguas, com seu poderoso
apelo emocional e suas curas psíquicas, Satanás criou agora para si mesmo uma nova fonte de autoridade e esses ensinos, ganhando agora respeitabilidade, escancaram as
portas para outras 'doutrinas de demônios'." — [Today's Tongues, 1987, pág. 12].

Bibliografia Selecionada:

Chantry, Walter, Signs of the Apostles.


Cloud, David, The Pentecostal-Charismatic Movements.
Dillon, Joseph, Speaking in Tongues.
Fitton, Paul, The Alpha Course: Is it Bible-based or Hell-inspired?.
Goodman, Felicitas, Speaking in Tongues: A Cross-Cultural Study of Glossolalia
Hartin, Bryce, Satan Wants Your Mind — Today's Tongues.
Legrand, Fernand, All About Speaking in Tongues
Masters, P & Whitcomb, J., The Charismatic Phenomenon.
Nelte, Frank, Should You Speak in Tongues?
Strauss, L & Niland, B., Is Speaking in Tongues Demonic?
Unger, Merrill, Biblical Demonology.
Unger, Merrill, What Demons Can Do to Saints.
Younce, Max, Face to Face with Tongues.
Zeller, George, God's Gift of Tongues.

Autor: Jeremy James, http://www.zephaniah.eu


Data da publicação: 19/3/2016
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/glossolalia.asp

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