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INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
ANÁLISE MUSICAL IV
APOSTILA
ANÁLISE MUSICAL IV
APOSTILA
1. Análise Estatística
2. Análise Articulatória
Este campo da análise se refere a como determinada obra está secionada no tempo. No
momento da análise articulatória não importam as funções estruturais de cada segmento, o
que deve ser determinado é onde inicia e termina cada unidade formal.
Os segmentos existentes na primeira articulação chamam-se unidades formais de
primeiro grau; os segmentos existentes na segunda articulação são chamados de unidades
formais de segundo grau, e, assim, sucessivamente.
A classificação das unidades é dada pela sua extensão; não se pode colocar unidades
de extensões diferentes no mesmo nível. O que deve ser levado em consideração nesta área
analítica é a duração real das unidades.
3. Análise Paramétrica
4. Análise Comparativa
Neste campo, se realiza a comparação entre as diversas unidades. O que deve ser
investigado é o conteúdo de cada segmento. Para que a análise comparativa seja aplicada,
devem ser considerados os seguintes modos de comparação:
• identidade – ocorre quando um segmento é totalmente igual a outro;
• semelhança – ocorre quando existe pouca diferença entre os elementos que formam as
unidades;
1
Compositor argentino, natural de Rosário, professor de Composição, Orquestração, Acústica Musical e Análise
na Escola de Música da Faculdade de Humanidades e Artes da Universidade Nacional de Rosário e no Instituto
Superior de Música da Universidade Nacional do Litoral.
2
Deste modo, a análise harmônica funcional é uma análise paramétrica.
2
• diferença – ocorre quando há duas unidades que, aparentemente, não têm nada em comum
entre si;
• oposição – ocorre quando um segmento é oposto a outro, ou seja, quando interagem, de
um lado, por relação de semelhança e, por outro lado, por relação de diferença. Para que duas
unidades se relacionem por oposição, é necessário que pertençam à mesma categoria. Por
exemplo, movimento melódico ascendente e movimento melódico descendente são opostos; o
aspecto horizontal da música é oposto ao seu aspecto vertical. Não se pode, porém, afirmar
que uma tercina é oposta a um movimento por graus conjuntos, visto que estes elementos não
pertencem à mesma categoria.
5. Análise Funcional
6. Análise de Inter-relações
Após ser realizada a análise nas outras áreas, deve-se inter-relacionar todos os campos
estudados para descobrir as relações internas à obra, ou seja, quais os seus elementos
principais, como se articulam e como interagem para formar a totalidade da peça analisada.
Esta é a área mais importante e difícil da análise musical.
3
Segundo o Novo Dicionário Aurélio, interjeição é uma palavra ou locução com que se exprime um sentimento
de dor, de alegria, de admiração, de aplauso, de irritação, etc. (1986, p. 958).
3
Características Gerais:
EXPOSIÇÃO4
I. Primeiro Grupo
A. Tema I (c. 1-2) 4/4/4
B. Episódio (c. 3-9) 4/4/4
C. Retorno modificado do Tema I (c. 10-11) 4/4/4
D. Transição 9c. (12-13) 4/4/4
II. Segundo Grupo
A. Tema II (c. 14-18) 6/6
B. Episódio (c. 19-20) 6/4
C. Retorno modificado do Tema II (c. 21-23) /6
D. Codetta e transição (c. 23-27) 3/3/3/3
DESENVOLVIMENTO
I. (c. 27-29) vários tipos de segmentos
II. (c. 29-32) 4/4/4
REEXPOSIÇÃO
I. Retorno modificado do Tema I (c. 32-34) 4/4/4
II. Retorno modificado do Tema II (c. 35-36) 6/6
CODA
I. (c. 37-38) 4/4/4
II. (c. 39-40) 4/4/4
____________________________________________________
4
In: Perle (1981, p. 113). As figuras na coluna da direita representam o número de notas de cada segmento.
5
In: Romano e Zulueta (1965, p. 89).
4
Conforme Perle (1981, p. 111-116), a peça para piano p. 33a de Schoenberg apresenta
as seguintes características:
• Importante papel do intervalo de 5ªJ: a série inicia com dois intervalos de 5ªJ; a
omissão da 5ªJ na apresentação da série nos c. 19-23 dá um peso especial ao
intervalo em sua apresentação nos c. 23-24; visto que o início e final das frases
geralmente coincide com o início e conclusão de uma forma da série ou de um par
de formas seriais, a posição da 5ªJ na série a estabelece como o intervalo
predominante na peça; este intervalo determina os níveis de transposição das
apresentações da série; os dois pares combinatórios (P-0 e I-5 / R-0 e RI-5)
permanecem sem transposição na seção de Exposição; na seção de
Desenvolvimento, todo o grupo é transposto à 5ªJ superior; a Recapitulação inicia-
se com outra 5ªJ descendente, restabelecendo a “tonalidade” original que é
mantida até o final; desta forma, o plano de transposições de toda a peça é uma
expansão do grupo inicial de três notas da série; a importância compositiva do
intervalo de 5ªJ no Op. 33a é conseqüente da estrutura da série e não de qualquer
qualidade inerente do próprio intervalo.
• As notas inicial e final da série encontram-se à distância de trítono.
• Procedimentos rítmicos: ocorre elaboração progressiva do movimento rítmico da
peça, por meio de subdivisões do pulso (unidade de tempo) em valores menores,
nas três exposições do Tema I (A, B e C – no esquema formal de Perle); há,
também, um crescimento gradativo da força cinética dos compassos que se
encontram entre a apresentação original do Tema I e o poco rit. que conduz ao seu
estabelecimento, alcançado inicialmente por meio de um crescimento progressivo
do número de ataques em cada segmento de frase, e, posteriormente, da mudança
para notas de menor duração (c. 3-8); também ocorre um interrupção do padrão de
semicolcheias nas passagens de transição (c. 8-9; 12-13; 26 e seção de
Desenvolvimento) que contrasta com o padrão regular em colcheias do Tema II.
• O contorno melódico e o conteúdo harmônico são elementos unificadores ainda
mais significativos: a estrutura geral do movimento está contida, como um
microcosmo, no arco melódico dos dois primeiros compassos, que é repetido em
tempo expandido nos compassos 3-7 e restabelecido em sua duração inicial, porém
expandido espacialmente, nos compassos 10-11, ambos expandidos temporal e
espacialmente no início da Recapitulação. Os seis acordes da figura inicial,
derivados da sucessão direta das formas da série P-0 e RI-5 são a exposição do
material harmônico principal da obra.
• Organização serial: existe uma organização semi-combinatória com relação à
totalidade da série, com a relação combinatória principal ocorrendo entre P-0 e I-5
– a nota inicial de P-5 encontra-se à distância de 5ªJ abaixo de P-0. Para Romano
e Zulueta (1965, p. 90), a série do Op. 33a está dividida em três tetracordes
(segmentos de quatro sons): P-0: A-B-C; RI-5: c-b-a.
Segmentos da série (cf. Romano e Zulueta):
A (sib, fá, dó, si)
B (lá, fá#, dó#, ré#)
C (sol, láb, ré, mi)
c (lá, si, fá, fá#)
b (sib, dó, sol, mi)
a (ré, dó#, sol#, ré#)
5
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
6 primeiros graus seis últimos graus 6 u.g.
c b a →
a →
b →
c
← ← →
C B A A B →
C
*
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
6 u.g. [Láb] 6 p.g. 6 p.g. 6 u.g. 6 u.g. 6 u.g. 6 g. 6g. A’ B’
C’ a” b’ c” c” a”
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
b” c” 2C” B” A” 6 u.g. 6 p.g.
→ →
A B →
C ←
c ←
b ←
a ←
a←a ←
a →
A →
B →
C
→→→←←←
ABC c b a →→→←←←
a b c CBA
→
a →
b →
C ←
C B ←
A →
a →
b →
c
B” C” c” b” a”
6 u.g. 6 p.g.
[Sib]
Segundo Cook (1987, p. 322-333), o material serial da peça para piano Op. 33a de
Schoenberg está organizado com base nos seguintes princípios:
6
No quadro, os numerais dispostos à esquerda superior das colunas indicam o número de compasso; as cifras colocadas na
parte superior representam a mão direita, na inferior, a mão esquerda; a direção das setas indica a ordem direta ou retrógrada
da série (quando não há seta, os graus da série estão dispostos em forma cordal); os retângulos tracejados que envolvem as
cifras (nos compassos 6-7 e 37-38) indicam que a série está disposta em ambas as mãos; os colchetes horizontais tracejados
delimitam o segmento serial indicado; as indicações 6 primeiros graus (6 p. g. – primeiro hexacorde) ou 6 últimos graus (6
u.g. – segundo hexacorde) em itálico indicam notas de P-0, em tipo normal indicam notas de I-5; notas entre colchetes
correspondem à repetição ou omissão de um grau da série, ou um ‘erro’ indicado pelo próprio compositor; cifras com linhas
(A’, B’, C’, etc.) indicam transposições dos tetracordes originais de P-0 e I-5;
*
No compasso 28, a indicação 6 g. (seis graus) significa que há um tropo com combinação de partes diferentes de
tetracordes – na mão direita: 6 g. (em itálico) indica que ocorre a combinação de quatro sons de A’ com dois sons de B’, 6 g.
(em tipo normal) indica que ocorre a combinação de quatro sons de a” com dois sons de b”; na mão esquerda 6 g. indica a
combinação de dois sons de B’ com quatro sons de C’, 6 g. indica a combinação de dois sons de b” com quatro sons de c”
(note-se que na combinação simultânea das duas mãos a série aparece completa, inicialmente em A’ B’ C’, posteriormente
em a” b” c”). Assim, tem-se:
6 g. 6 g. A’ B’
A’ (4 g.) + B’ (2 g.) a” (4 g.) + b” (2 g.)
6 g. 6 g. a’ b’
7
relações combinatórias – definição: terminologia cunhada por Milton Babbitt, segundo a qual uma série é
considerada como sendo combinatória hexacordal quando os hexacordes de duas formas distintas da série
formam um conjunto de doze sons, mesmo ocorrendo transformações internas em cada um dos hexacordes, ou
transformações do outro hexacorde; quando há múltiplas inter-relações deste tipo, a série é chamada de
totalmente combinatória; podem haver séries com possibilidades de combinação de três células de quatro sons
(série combinatória tetracordal) ou de quatro grupos de três sons (combinatória tricordal); as séries de doze
sons subsidiárias que resultam de relações combinatórias são chamadas de séries derivadas quando são
construídas a partir de um único segmento sob várias transformações; as séries secundárias são aquelas
derivadas a partir de vários segmentos.
8
partição é uma propriedade formal que pertence à série, enquanto segmentação é um meio pelo qual o
compositor escolhe dividir a série arbitrariamente em algum ponto; o que entra em jogo neste ponto é a
totalidade de intervalos entre as notas de uma determinada parte da série tomada como uma unidade harmônica –
quando se divide a série em hexacordes, cada hexacorde possui o mesmo vetor intervalar pelo fato de que são
equivalentes, sendo que cada hexacorde possui todas as classes de intervalos em uma distribuição equilibrada.
7
Classe de intervalos 1 2 3 4 5 6
Série completa 2 3 1 1 3 1
Hexacorde (1) 4 2 2 2 3 2
Hexacorde (2) 4 2 2 2 3 2
Tetracorde (1) 2 1 0 0 2 1
Tetracorde (2) 0 1 2 1 1 1
Tetracorde (3) 1 1 1 1 1 1
Tricorde (1) 0 1 0 0 2 0
Tricorde (2) 0 1 1 0 1 0
Tricorde (2) 0 1 0 1 0 1
Tricorde (2) 0 1 0 1 0 1
c.: 26 27 28
A figura abaixo demonstra como que cada tricorde aparece uma e somente uma vez:
Db Ab Eb Bb F C G D
I-5 P-0
I-7 P-2
I-0 P-7
A análise demonstra que aos intervalos de 4ª têm diferentes funções cada vez que
aparecem, sendo que estas funções dependem das outras notas que ocorrem juntamente em
cada hexacorde. Estes hexacordes variam em transformações e servem para identificar a
transformação em uso (este é aproximadamente o mesmo papel da inflexão cromática no
círculo de quintas). O exemplo mais interessante desta técnica ocorre na mão direita, no c. 27,
ou seja, imediatamente antes da ‘modulação’ que caracteriza o desenvolvimento. Este é o
único momento em que são exploradas relações peculiares existentes entre os tricordes de P-
0 e I-5; estas relações podem ser percebidas quando se coloca uma forma da série superposta
à outra: os dois primeiros tricordes de I-5 são os mesmo que os dois tricordes finais de P-0
(que são eles próprios relacionados por transposição), exceto pelo fato de que as notas Sol e
Sol# trocam de posição. Schoenberg enfatiza esta relação no c. 27 ao deixar cada nota em um
único registro em toda a passagem.
• Fatores harmônicos enfatizados na série: um aspecto importante do serialismo
combinatório é que permite enfatizar determinadas características intervalares de
um determinado segmento da série, enquanto mantém todas as doze notas em
circulação, pela utilização simultânea do mesmo segmento na exposição de duas
formas da série relacionadas combinatoriamente; isto ocorre nos compassos 5-6 e
27, no Op. 33a, onde acordes por quartas e harmonias de tons inteiros alcançam
seus respectivos ápices; em outras palavras, pode-se dizer que o serialismo
combinatório enfatiza os aspectos harmônicos mais do que os lineares da série.
• Série composta por todas as classes de intervalos: na série do Op. 33a todas as
classes intervalares aparecem na relação entre notas adjacentes; este fato faz com
9
que a série apresente um equilíbrio intervalar; por esta razão, o que marca o caráter
específico da peça é a forma como os intervalos estão organizados em segmentos,
dentro da série.
• Palíndromo9: os compassos finais da peça Op. 33a apresentam uma estrutura serial
palindrômica, ou seja, o conseqüente tem a mesma estrutura que o antecedente em
movimento retrógrado.
• Estrutura frasal e estrutura serial: as frases são mais ou menos transformadas de
acordo com o plano serial somente no desenvolvimento (em torno do c. 28), sendo
modeladas conforme a elaboração em seqüência dos desenvolvimentos da música
tonal. De qualquer forma, o início e final das exposições seriais geralmente
coincidem com o início e final de frases, não havendo associações definidas entre
elementos formais específicos com transformações específicas da série, porém o
início de pontos estruturalmente importantes geralmente coincidem com a
apresentação novas formas da série.
• Elementos não seriais definidores da estrutura frásica e formal: em geral são os
elementos não serializados que possuem importância crucial na articulação das
frases: o mesmo contorno em forma de arco existente nas frases pode ser notado
no registro, na dinâmica e no tempo (andamento). Há, inclusive, padrões
cadenciais (o c.13 rima com c. 8, p. ex.). O caráter robusto do primeiro tema, o
caráter lírico do segundo tema e o caráter tempestuoso do desenvolvimento
ilustram, juntamente com os outros fatores, a importância de elementos não seriais
na definição não somente da estrutura serial em si, como também na clarificação
da estrutura formal da peça.
• Textura e harmonia com relação à série: a textura é outro elemento que se
relaciona com a série, sendo, porém, independente dela. A série está planejada de
forma que diferentes texturas – grupos de três, quatro ou seis notas, p. ex. –
resultam em diferentes formações harmônicas, assim como a formação
proeminente de díades (ou grupos de duas notas) formadas por intervalo de 7ªm é
derivada diretamente da série10. Em muitos aspectos, o manuseio de acordes é
bastante tradicional, sendo perceptível o fato de que Schoenberg tende a utilizar
cada um dos acordes mais importantes da peça em formações consistentes, ou seja,
com as diferentes notas posicionadas da mesma forma, umas em relação às outras,
em diferentes passagens – este fato auxilia a delimitar e estruturar o vocabulário
harmônico da peça, que de outra maneira seria bastante difuso (neste sentido, os
acordes encontrados estão organizados de modo bastante similar àquela encontrada
na música pré-serial de Schoenberg). Há momentos, inclusive, em que a peça Op.
33a é claramente tonal, não somente pelo fato de que aparecem formações cordais
do vocabulário tonal, mas também pelo fato de que existem movimentos
harmônicos que desapareceriam se a peça fosse tocada ‘de cabeça para baixo’
(sendo esta uma operação neutra do ponto de vista estritamente serial). Os
momentos mais claros neste sentido são propiciados pelo acorde de VI9 de Láb nos
compassos nos compassos 17, 18 e 34. O primeiro tema, por sua vez, apresenta
9
palíndromo ocorre quando um trecho pode ser lido da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita sem
modificar a sua estrutura, ou seja, quando o conseqüente é um retrógrado exato do antecedente, como ocorre nas
seguintes frases: amor a Roma, orava o avaro, socorram o Marrocos.
10
Porque a utilização proeminente de sétimas menores? Porque elas são parte da harmonia quartal, do acorde
formado com base em tons inteiros, tanto quanto de acordes de sétima de dominante ou de acordes secundários
de sétima do vocabulário tonal. Todas estas são importantes formações harmônicas existentes no Op. 33a – a
utilização de sétimas menores, não somente como díades, mas como notas externas de acordes de três sons
auxiliam na integridade harmônica da peça.
10
uma forte coloração tonal nos c. 10-11, em que a mesma série de acordes é
utilizada, simultaneamente, para frente e para trás, soando claramente bitonal.
Estas colorações tonais funcionam como as quartas e os tons inteiros: como um
jogo de luz e sombra e, também, como uma sonoridade para enfatizar importantes
pontos estruturais, porém sem conexões mais profundas com relação à estrutura
musical. Pode-se, de fato, dizer que Schoenberg reverte a prática tonal no sentido
em que a estrutura harmônica cumpre um papel puramente superficial em sua
sonata, sendo a estrutura frasal e a textura os meios mais importantes para a
articulação da forma – este fato enfatiza a importância dos aspectos
composicionais, que é muito maior do que dos fatores pré-composicionais, na
música serial.
2.2.1. Permutação
Dó – Fá# – Si
Dó – Si – Fá#
Fá# – Dó – Si
Fá# – Si – Dó
Si – Dó – Fá#
Si – Fá# – Dó
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
11
In: BRINDLE, Reginald Smith. Serial composition, London: Oxford University, 1980, p. 154-160.
11
1 3 5 7 9 11 2 4 6 8 10 12
1 5 9 2 6 10 3 7 11 4 8 12
1 9 6 3 11 8 5 2 10 7 4 12
1 6 11 5 10 4 9 3 8 2 7 12
1 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 12
1 10 8 6 4 2 11 9 7 5 3 12
1 8 4 11 7 3 10 6 2 9 5 12
1 4 7 10 2 5 8 11 3 6 9 12
1 7 2 8 3 9 4 10 5 11 6 12
1 7 2 8 3 9 4 10 5 11 6 12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Isto significa que este processo de permutação permite um número limitado de nove
derivações da série original. O mesmo princípio pode ser aplicado com outras combinações
lógicas. Em vez de realizar o processo com o método ‘uma nota sim, uma nota não’ (como foi
o exemplo anterior), pode-se utilizar como princípio de derivação: ‘a cada duas notas’, ‘a
cada três notas’, a ‘cada quatro notas’, etc. Obviamente, algumas derivações por meio de
determinado processo coincidem com outras, reduzindo consideravelmente o número de
séries derivadas por permutação através de processos lógicos.
Outra forma importante de ordenar as doze notas do total cromático são os ‘tropos’ de
Joseph Mathias Hauer, os quais, embora similares às séries de Schoenberg em alguns
aspectos, são bastante diferentes em outros. Em sua publicação Vom Wesen der
Musikalischen (Viena, 1920), Hauer escreve sobre a melodia atonal;: “sua lei, seu nomos
consiste de uma repetição perpétua de todas as doze notas da escala temperada”. Porém, ao
12
invés de observar este princípio com suas totais implicações de repetição livre e desordenada,
tanto Hauer quanto Schoenberg estabeleceram restrições ao princípio em nome da ordem, do
método, da unidade e de outros fatores. A verdade é que possivelmente ambos se sentissem
perdidos quando confrontados com a tarefa de lidar com a recorrência desordenada das doze
notas, sendo assim, os dois compositores buscaram princípios de ordenação, algum modo de
facilitação do problema perpétuo de escolha (da ordem das notas) com o qual se
confrontaram. Schoenberg escolheu estabelecer uma ordem fixa de notas (a série). Ele
colocou uma camisa de força na livre escolha do compositor. Hauer, por sua vez, escolheu
preservar uma possibilidade razoável de seleção.
Os ‘tropos’ de Hauer ainda incluem todas as doze notas cromáticas, mas são divididos
em dois segmentos de seis notas, ou ‘hexacordes’. Nenhuma nota é repetida em cada
segmento e nenhuma nota é comum a ambos os segmentos. Portanto, a divisão das doze notas
em duas metades é o único fator restritivo. As notas em cada hexacorde não são colocadas em
nenhuma ordem rígida e o compositor tem, assim, livre escolha na ordenação de cada grupo
de seis notas. Sua única obrigação, naturalmente, é utilizar cada hexacorde alternadamente de
forma a manter a ‘repetição perpétua de todas as doze notas da escala temperada’.
Este sistema parecia ter muitas vantagens, embora pudesse perder a ‘força unificadora’
das séries de Schoenberg. Liberdade de escolha, no mínimo em cada hexacorde, significa que
o compositor está menos restrito naquilo que escreve tanto vertical, quanto horizontalmente.
Sua melodia e harmonia estão, assim, liberadas da ordenação estrita das notas, conforme o
método de Schoenberg, e estão consideravelmente sujeitas ao acaso. ‘Livre fantasia’ e
‘inspiração’ estão colocadas dentro da dimensão das seis notas que, sendo quase tão ampla
quanto a dimensão da escala diatônica de sete notas, é uma área de atuação razoavelmente
generosa.
Na realidade, muitos compositores que utilizam as séries de doze notas de
Schoenberg, geralmente tendem a quebrá-las em dois hexacordes e utilizam livremente o
conteúdo de cada segmento. Os sistemas de Schoenberg e Hauer podem ser utilizados em
alternância. Mesmo em passagens breves, ambos podem coexistir lado a lado e, assim
unificados, podem proporcionar a consistência de um método e a liberdade do outro. O
‘método’ resultante tem muito a ser recomendado se a aspiração do compositor é escrever
música que tenha ambas as qualidades ideais: construção lógica e livre fantasia.
Na prática, o ‘tropo’ é geralmente escrito de forma que em cada hexacorde as notas
sejam arranjadas em padrões escalares como ‘material’ compositivo, sem influência prévia na
ordenação das notas. Por exemplo, a série do Op. 23 de Webern está representada abaixo em
sua disposição original (serial) e em forma de ‘tropo’:
2.2.3. Segmentação
Uma extensão do sistema do ‘tropo’ de Hauer é a divisão de uma série de doze sons
em vários segmentos, cada segmento contendo duas, três ou quatro notas (ninguém parece ter
considerado o uso de segmentos desiguais – p. ex.: 2+3+2+3+2, embora não haja nenhuma
objeção razoável para isto). O conteúdo de cada segmento pode, então, ser livremente
ordenado. Também a ordem dos segmentos pode variar. Especialmente se os segmentos são
menores (somente duas ou três notas), o conteúdo de alguns segmentos será o mesmo em uma
ou mais formas transpostas da série. Tal segmento torna-se um pivô entre estas formas
transpostas da série, e como o conteúdo de outros segmentos estarão em diferentes
combinações, e não na forma original, permite uma grande variedade de padrões de
combinação de notas a serem utilizadas.
14
2.3. Glossário
trop(o)12 - elem. comp., do gr. trópos ‘volta, giro’, que se documenta em alguns compostos
formados do prórpio grego (como tropologia) e em alguns outros introduzidos a partir do séc.
XIX, na linguagem erudita ⇒ tropismo sm. ‘(Biol.) reação de aproximação ou de
afastamento do organismo em relação à fonte de estímulo’ XX. Do ing. tropism, deriv. do lat.
cisnt. tropismus || tropo sm. ‘(Gram.) emprego de palavra ou expressão em sentido figurado’’
ext. (Mús.) canto, melodia’| tropos XVII, topus, deriv. do gr. trópos || Do lat. tard. tropus, der.
do gr. trópos || tropolog-ia 1813. Do fr. tropologie, deriv. do lat. tard. topologia e, este, do
gr. tropológia || tropológ-ico XV || troponôm-ico 1899 || troposfera XX. Do fr. troposphère.
tropo 13(ó). [Do gr. trópos, ‘desvio’, pelo lat. tropu.]. S.m. 1. Gram. Emprego de palavra ou
expressão em sentido figurado. 2. Mús. Tom (11). 3. Mús. Na música medieval, ampliação de
um canto litúrgico de formação melismática, mediante acréscimos ou substituições. 4. Teat. A
primeira manifestação dramática da Idade Média, a qual se constituía de pequeno recitativo
ou diálogo inserido na liturgia da missa, de onde se originaram os dramas litúrgicos.
troponômico. [De trop(o)- + -nom(o)- + -ico]. Adj. Diz-se das mudanças que um dado
objeto sofre segundo os diversos tempos e lugares.
tropo14. [Canto Gregoriano] O tropo é um complemento do canto cuja forma não está
previamente fixada, e que se interpola nele mesmo ou se acrescenta como apêndice. Formas
de tropos:
- Aplicação de texto a melisma: o tropo é um texto novo que se submete
silabicamente a um melisma preexistente no canto gregoriano;
- Texto novo com nova melodia: neste procedimento, ambos se guiam pelo texto e
melodias originais;
- Interpolação puramente melódica: no canto gregoriano se interpola, com fins
ornamentais, um melisma em uma determinada passagem.
12
In: CUNHA. Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico Nova Fornteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1982.
13
In: HOLANDA FERREIRA. Aurélio Buarque de. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986.
14
In: MICHELS, Ulrich. Atlas de música, 1. Madrid: Alianza, 1987.
15
BARRAUD, Henry. Para compreender as músicas de hoje. São Paulo: Perspectiva, 1968.
BENT, Ian. Analysis. New York: Norton, 1987.
BOULEZ, Pierre. A música hoje. São Paulo: Perspectiva, 1986.
_____________. Apontamentos de aprendiz. São Paulo: Perspectiva, 1995.
BRINDLE, Reginald Smith. Serial composition, London: Oxford University, 1980.
COOK, Nicholas. A guide to musical analysis. New York: Norton, 1987.
DUNSBY, Jonathan; WITTALL, Arnold. Music analysis in theory and practice. New Haven:
Yale University, 1988.
EIMERT, Herbert. Qué es la musica dodecafónica? Buenos Aires: Nueva Visión, 1973.
LEIBOWITZ, René. Introduction à la musique de douze sons. Paris: L’Arche, s.d.
_______________. Schoenberg and his school. New York: Philosophical Library, 1949.
_______________. Schoenberg. São Paulo: Perspectiva, 1981.
MICHELS, Ulrich. Atlas de música, 2. Madrid: Alianza, 1996.
PERLE, George. Serial composition and atonality. Berkeley, University of California, 1981.
POUSSEUR, Henri. Música, semántica y sociedad. Madrid: Alianza, 1984.
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Madrid: Editorial Presencia, 1965.
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SCHOENBERG, Arnold. Style and idea. Berkeley: University of California, 1975.
WEBERN, Anton. O caminho para a música nova. São Paulo: Novas Metas, 1984.
16
Alguns dos princípios da Psicologia da Gestalt utilizados por Meyer são (cf.
Koellreutter, 1987, p. 27-28):
• Lei da Semelhança – a igualdade de aparência desperta a tendência de construir
unidades estruturais;
• Lei da Proximidade – elementos próximos tendem a ser percebidos juntos, ou seja,
como uma única unidade estrutural;
• Lei da Experiência – elementos tendem a construir unidades estruturais na mente
de acordo com a experiência;
• Lei da Conclusão – a percepção dirige-se espontaneamente para uma ordem que
tende para a unidade de todos concluídos;
• Lei da Seqüência ou Boa Continuação – toda a unidade linear (sucessão) tende a
se prolongar psicologicamente na mesma direção, mesma ordem e com o mesmo
processo de desenvolvimento.
Lei da Pregnância16 – postula que toda a organização psicológica será sempre tão boa
quanto as condições permitam, incluindo propriedades como regularidade, simetria,
simplicidade e outras. Um sistema deixado por si mesmo na memória, tende a tornar-se mais
simples, simétrico e regular com o passar do tempo. Há uma tendência da mente em
aperfeiçoar a organização psicológica, a discriminar entre padrões satisfatórios e escolher
qual deles requer aperfeiçoamento. Um objeto é sempre compreendido como uma parte bem
integrada de um todo, quanto maior a integração, maiores as forças que os mantém juntos e
mais constantes permanecerão em relação a estímulos de mudança.
15
In: MEYER, Leonard. Emotion and meaning in music, Chicago: University of Chicago Press, p. 83 –127,
1956.
16
Pregnânica: qualidade que tem uma forma de impregnar o espírito do indivíduo e ser por ele percebida no
processo de grupação de elementos; a força da forma. In: HOLANDA FERREIRA (1986).
17
formam a base para a percepção em classes, para a distinção dos eventos em normais e
inusuais.
A Normalização desempenha um papel importante na facilitação da re-audição de
composições musicais. Cada audição da mesma obra é uma nova audição, com novos
interesses e enfoques, com os desvios tornando-se mais regulares ou sendo esquecidos. Desta
forma, outros elementos tendem a causar novas surpresas, a permanecer como desvios mesmo
depois de várias audições da mesma peça musical. Embora a organização psicológica tenha a
tendência a tornar os estímulos percebidos tão bons quanto possível, nem sempre estes são
organizados de maneira satisfatória tanto quanto a mente possa desejar. Esta insatisfação em
relação à organização psicológica permite que se desenvolvam a expectativa e a percepção de
desvios. A boa continuação e a boa formação são fatores poderosos que condicionam a
percepção de estímulos e sua memorização posterior.
A mente tem a tendência a perceber e organizar os estímulos nas figuras mais simples,
satisfatórias e completas possíveis. Musicalmente, cada estilo em particular tende a formar
figuras de maneiras específicas (e diferente dos outros estilos), dependendo dos materiais
melódicos, da organização rítmica, da textura, entre outros parâmetros, tanto quanto das inter-
relações dos parâmetros entre si. Por outro lado, "o número, a interdependência e a sutileza de
variáveis envolvidas na percepção musical torna impossível o estabelecimento de um sistema
de regras analíticas absolutas" (Meyer, 1956, p. 86). A habilidade e as formas de percepção
dependem das respostas sensíveis dos ouvintes e estas dependem da sua própria experiência
pessoal, que é apreendida culturalmente.
Lei da Boa Continuação – Entre outras coisas, o princípio da boa continuação permite
que a mente organize estímulos sonoros (musicais) separados como sendo configurações e
movimentos contínuos. O processo de continuidade é percebido como sendo a norma na
progressão musical, assim como distúrbios na continuação são considerados como desvios.
Estes distúrbios podem ser de dois tipos: (a) lacunas no processo, nas quais este é
temporariamente estagnado para depois continuar novamente; (b) modificações no processo,
nas quais há geralmente uma quebra na linha de continuidade, onde uma forma de progressão
toma o lugar de outra. Ambas as formas de distúrbio podem ocorrer conjuntamente, como
acontece quando uma mudança de processo ocorre após uma parada no movimento musical.
O movimento pelo qual um processo se modifica, transformando-se em outro, chama-se
reversão. A continuação deve ser diferenciada da repetição, pois a primeira sempre implica
em mudança no interior de um processo contínuo e não simples repetição. A continuação é
esperada somente enquanto é significativa, ou seja, no sentido de que pode ser compreendida
como movimento em direção a um objetivo. Quando o significado é obscurecido, a mudança
é esperada. A continuidade sempre ocorre no interior de um contexto cultural e estilístico
particular.
Com base nestes princípios perceptivos gerais, Meyer (1967, p. 22-41) realiza uma
análise comparativa entre uma melodia retirada do Op. 3 n.º 3 de Geminiani e de um Prelúdio
e Fuga de Bach para órgão. O problema básico que Meyer busca resolver é responder à
questão:
- O que faz uma grande obra musical?
Em síntese, a resposta estaria nas habilidades do compositor em projetar padrões de
continuidade e lacunas a serem preenchidas, reconhecendo o momento preciso de realizar,
retardar, ou frustrar as expectações projetadas criando estruturas lógicas e bem delineadas.
Na comparação entre as linhas melódicas de Bach e Geminiani, Meyer afirma que o que
diferencia a melodia de cada um destes compositores é, principalmente, o fato de que
Geminiani realiza todas as expectativas imediatamente, sem dar tempo para que o ouvinte se
relacione afetivamente com a música. Bach, por sua vez, cria uma série de desvios
(retardando ou frustrando a expectativa do ouvinte), tornando sua melodia extremamente rica
e tocante. Abaixo, a análise gráfica de Meyer, que apresenta no exemplo ‘a’ a melodia de
Geminiani e no exemplo ‘b’ a melodia de Bach (Note-se que ambas tem por base a mesma
estrutura fundamental):
Exemplo 4-1: a) Geminiani, Op. 3, n.º 3; b) Bach, Prelúdio e Fuga para órgão.
20
17
In: MEYER, Leonard. The rhythmic structure of music. Chicago: University of Chicago, 1960.
21
3.2.3.Continuidade métrica
Ex.: 4/4 q q q q \ e e e e e e e e \ x x x x x x x x x x x x x x x x ||
Os níveis nos quais o nível primário se encontra no seu interior são chamados de
níveis métricos superiores e designados como nível secundário, nível terciário, etc., em
ordem de valores cada vez maiores.
Ex.: 4/4 q q q q \ h h \ w ||
Exemplo 4-4: a) transcrição do tema da Fuga XIV do Cravo Bem Tempreado (livro II) de J. S. Bach evitando a
escrita sincopada; b) J. S. Bach, Cravo Bem Tempreado, Fuga em Fá# menor (livro II), exposição
É possível analisar a organização métrica de uma obra com referência aos diversos
níveis de estruturação métrica, da mesma forma como é possível analisar os diversos níveis
rítmicos e suas relações no decorrer de uma obra musical.
A lei da Boa Continuação, que foi aplicada aqui para o entendimento da estrutura
rítmica e métrica, pode ser aplicada a outros processos musicais como a harmonia, a
instrumentação, a textura, a forma, ou qualquer aspecto do desenvolvimento musical
governado por relações de probabilidade. Perturbações na continuidade musical podem ser
causadas por reversão de um processo musical estabelecido, pelo retardamento do processo,
por ambos simultaneamente ou através de antecipação (a síncope é uma simples antecipação
rítmica e métrica onde um acento ocorre antes do esperado). Estes vários processos de
continuação não são separados na mente do compositor, do intérprete ou do ouvinte, fazem
parte de uma realidade única e indissociável chamada música.
25
4. SEMIÓTICA MUSICAL
Trabant (1976), e Nöth (1995; 1996) dedicam-se ao estudo de várias teorias semióticas
ao longo da história, desde Platão ao século XX. A seguir será apresentada uma síntese das
pesquisas desenvolvidas por estes dois autores, separando-se entre aqueles pensadores que
desenvolveram teorias diádicas do signo (dividido-o em dois elementos) daqueles que
desenvolveram teorias triádicas (dividindo o signo em três elementos).
As teorias diádicas do signo são aquelas que consideram que o signo é uma coisa que está
por outra coisa.
As teorias triádicas dividem o signo em três elementos: 1) o significante – aquilo que
substitui algo (a palavra cavalo, por exemplo); 2) o significado – a idéia gerada pelo
significante (a imagem mental gerada pela palavra cavalo); 3) o referente – aquilo que é
representado pelo significante (o cavalo real representado pela palavra).
As teorias diádicas dividem-se entre
26
Para Aurélio Agostinho (345-430), que definiu (com base nos epicuristas) o signo como
um fato perceptivo que representa alguma coisa atualmente não perceptível, “o signo é uma
coisa que, além da impressão que produz nos sentidos, faz com que outra coisa venha à mente
como conseqüência de si mesma” (AGOSTINHO apud NÖTH, 1995, p. 34).
Os processos elaborados pelas teorias diádicas do signo poderiam ser sintetizados pelo
esquema abaixo: :
As teorias tríadicas do signo acrescentam, ao sistema diádico anterior, uma distinção entre
a “coisa” designada e o “conceito” (ou “idéia” ) gerado no interregno entre a “coisa que
18
O empirista britânico John Locke é considerado como o primeiro pensador a utilizar o termo semiótica com o
sentido que esta palavra possui atualmente.
27
representa” (Coisa 1) e a “coisa representada” (Coisa 2). Desta forma, têm-se as teorias que
dividem o signo em três partes: 1) o significante (Coisa 1, aquilo que designa outra coisa); 2)
o significado (conceito ou idéia gerado pelo significante); 3) o referente (objeto, evento ou
conceito representado pelo significante).
Conforme Trabant:
se bem que muitos teóricos estejam de acordo em que se deve estabelecer uma
distinção entre a coisa designada, por um lado, e o “conceito” ou “idéia”, por outro,
a maneira como se deve conceber a relação entre ‘signos’, ‘conceitos’ e a ‘coisa
designada’ constitui um dos problemas mais controversos da filosofia (1976, p.
31).
O modelo platônico:
• Nómos - o nome
• Eîdos ou Lógos – a noção ou idéia
• Prágma - a coisa à qual o signo se refere
O modelo aristotélico:
• Symbolon – o símbolo lingüístico, definido como um signo convencional
• Pathémata – as afeições da alma provocadas pelo signo
• Prágmata – os retratos das coisas representadas pelo signo
O modelo estóico:
• Semaínon – entidade percebida como signo (significante)
• Semainómenon – o conceito gerado pelo signo (significado)
• Tygchánon – o evento ou objeto ao qual o signo se refere (referente)
grandezas espirituais independentes das coisas reais, que mantêm uma relação
convencional com as palavras (signos). Estabelece-se, portanto, uma distinção
entre o signo e o conceito, por um lado, e a relação do signo e do conceito com a
coisa designada, por outro (TRABANT, 1976, p. 31-32).
Desta forma, os conceitos são interpretados como sendo independentes dos processos
psicológicos individuais de cada sujeito, isto é, como sendo entidades que existem em um
plano ideal independente do sujeito. Este plano ideal poderia ser o resultado de uma estrutura
superior ou das relações sociais que se desenvolvem em cada grupo humano.
Este sistema poderia ser representado genericamente pelo seguinte esquema:
Animal Cavalo
como representações individuais, que estão pelas coisas reais, e as palavras como
os signos destas representações. Para o nominalismo somente são reais as coisas e
os nomes, e não os conceitos gerais. Os signos são os meios que conferem
realidade às idéias, os nomes são as realidades das idéias, que de outra maneira
permaneceriam ocultas no íntimo do sujeito (daí ‘nominalismo’) (ibid., p. 33).
20
Anagogia é a elevação da alma na contemplação das coisas divinas, também é a interpretação das Escrituras
Sagradas, ou de outros textos (Virgílio, Dante, etc.) que permite passar do sentido literal ao sentido místico
(NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 112).
29
Para o nominalismo somente são reais as coisa e os nomes, e não os conceitos gerais,
sendo, assim, uma teoria da utilização dos signos, considerando-os como sendo dependentes
dos sujeitos que os utilizam e dos objetos designados. A teoria nominalista poderia ser
sistematizada da seguinte forma:
Trabant (ibid., p. 55) realiza, para fins de entendimento e expansão dos conceitos
realista e nominalista sobre o signo, uma projeção da teoria realista sobre a teoria nominalista,
esquematizando da seguinte maneira:
Idéia
Plano do indivíduo
e da matéria
Exemplar de Significante Referente
Representação
do Conceito de Cavalo Plano do indivíduo
e da matéria
21
Neste sentido, o exemplar de significante é uma imagem material perceptível através dos sentidos (p. ex.: o
som concreto da palavra cavalo), enquanto que o referente não é necessariamente perceptível (p. ex.: um cavalo
real, individual).
30
Tricotomias I II III
Relação ao Relação ao
Categorias REPRESENTAMEN em si OBJETO INTERPRETANTE
PRIMEIRIDADE QUALI-SIGNO ÍCONE REMA
SECUNDIDADE SIN-SIGNO ÍNDICE DICENTE
TERCEIRIDADE LEGI-SIGNO SÍMBOLO ARGUMENTO
Em seu modelo, Peirce realiza uma divisão do signo, no processo de semiose23, em três
categorias (primeiridade, secundidade e terceiridade) que apresentam três correlatos do signo
22
Fenomenologia é o estudo descritivo de um fenômeno ou de um conjunto de fenômenos em que estes se
definem quer por oposição às leis abstratas e fixas que os ordenam, quer às realidades de que seriam a
manifestação (NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p. 769). Este termo foi cunhado por J. H. Lambert
(1728-1777), com o sentido de uma doutrina das aparências. Os principais pensadores que desenvolveram
teorias fenomenológicas são Hegel, Peirce, Husserl, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty e Paul Ricoeur. A mais
difundida é a fenomenologia de Husserl, que consiste em um retorno à essência das coisas mesmas, como
negação da ciência e como uma nova forma de significação do mundo com base nos dados originários da
experiência.
23
Semiose é o processo total de ação do signo sobre o intérprete deste signo (o receptor, na terminologia da
Teoria da Comunicação). Os lingüistas franceses também chamam de semiose os diferentes códigos de
comunicação não verbais, tais como a linguagem dos gestos, a música, a matemática, etc. Para estes lingüistas,
em especial Barthes (1992), para que um código de comunicação possa receber o estatuto de linguagem, deve
preencher certos requisitos, como ter uma sintaxe formalmente elaborada (gramática) e uma semântica com base
31
(representamen, objeto e interpretante) que, por sua vez, se dividem, cada um, em três classes
(o representamen divide-se em: quali-signo, sin-signo e legi-signo; o objeto divide-se em:
ícone, índice e símbolo; o interpretante divide-se em: rema, dicente e argumento). Abaixo,
será apresentada uma explicação sintética desta terminologia.
Na terminologia peirceana, o representamen é a parte perceptível do signo, ou seja, aquilo
que chega ao receptor através dos sentidos (o som da palavra cavalo, por exemplo24). A
divisão do representamen em três classes, com base nas categorias primeiridade, secundidade
e terceiridade, é a seguinte (chamada de primeira tricotomia):
1. quali-signo – é a qualidade do signo, o signo em si mesmo, que participa da categoria de
primeiridade do representamen;
2. sin-signo – é a existência singular do signo como algo concreto no mundo, participa da
categoria de secundidade do representamen;
3. legi-signo – é a lei geral que permite a comunicabilidade, ou seja, que haja a comunicação
por meio deste signo, o legi-signo participa da categoria de terceiridade do
representamen.
Desta forma, cada palavra de determinada língua humana (a palavra cavalo em português,
por exemplo) é um legi-signo (uma lei geral), enquanto que a utilização concreta desta
palavra em uma frase singular, formulada por um emissor específico, é um sin-signo. O quali-
signo é apenas uma “qualidade que é um signo, que não pode atuar como um signo enquanto
não se corporificar” (ibid., p. 78).
Aquela parte do signo à qual Peirce denomina objeto corresponde ao referente em outras
teorias semióticas. Este objeto, pode ser tanto algo material, um objeto concreto do mundo
(uma mesa, por exemplo), como pode ser uma entidade mental ou emocional (o sentimento de
gratidão, por exemplo), ou, ainda, algo “inimaginável em um certo sentido” (o exemplo de
Peirce é a palavra estrela, que não é imaginável por si mesma, mas somente no sentido em
que significa: 1. um astro luminoso, 2. um artista famoso ou 3. a boa sorte – estrela da sorte).
O objeto é composto pelos seguintes elementos (segunda tricotomia):
1. ícone – é o elemento do signo que faz parte do objeto, em que há similaridade entre o
representamen e o objeto. Desta forma, o ícone participa da categoria de primeiridade do
objeto. Um ícone de um cavalo poderia ser uma pintura ou uma fotografia do cavalo;
2. índice – participante da categoria de secundidade de um objeto, o índice está “fisicamente
conectado com seu objeto; formam, ambos, um par orgânico. Porém a mente interpretativa
não tem nada a ver com essa conexão, exceto pelo fato de registrá-la depois de
estabelecida” (ibid., p. 84). Um índice de um cavalo poderia ser o seu relinchar ou o som
de seus cascos;
3. símbolo – é um signo arbitrário, que faz parte de um código e depende de convenções
sociais – estas podem ser geradas tanto pelo hábito, quanto por leis, regras ou memória
coletiva. Participa da terceiridade do objeto. A palavra ‘cavalo’, falada ou escrita, é um
símbolo de um cavalo.
O interpretante, para Peirce, é aquilo que é gerado pelo signo na mente do intérprete. Para
Peirce
em um léxico (dicionário). Somente as línguas preenchem estes requisitos. Por esta razão, os outros códigos de
comunicação são chamados de semiologias, ou semioses.
24
Neste sentido, o representamen de Peirce é o mesmo que o significante de Saussure, ou o semaínon dos
estóicos.
32
Com base nas tricotomias apresentadas acima, Nöth (1995, p. 93-94) apresenta uma lista
com as dez principais classes de signos de Peirce:
1. o quali-signo remático icônico é uma qualidade que é um signo, tal como a sensação de
vermelho;
2. o sin-signo icônico remático é um objeto particular e real que, pelas suas próprias
qualidades, evoca a idéia de um outro objeto, tal como o diagrama dos circuitos
eletrônicos em determinada máquina;
3. o sin-signo indicial remático dirige a atenção a um objeto determinado pela sua própria
presença, tal como um grito de dor;
4. o sin-signo indicial dicente é também um signo afetado diretamente por seu objeto, mas
além disso é capaz de dar informações sobre esse objeto, assim como um cata-vento;
5. o legi-signo icônico remático é um ícone interpretado como lei, tal como um diagrama – à
parte sua individualidade fática – em um manual de eletrônica;
6. o legi-signo indicial remático é uma lei geral “que requer que cada um de seus casos seja
realmente afetado por seu objeto, de tal modo que simplesmente atraia a atenção para esse
objeto” (PEIRCE apud NÖTH, 1995, p. 94), como o pronome demonstrativo ‘aquele’;
7. o legi-signo indicial dicente é uma lei geral afetada por um objeto real, de tal modo que
forneça informação definida a respeito desse objeto, tal como uma placa de trânsito;
8. o legi-signo símbolo remático é um signo convencional que ainda não tem o caráter de
uma proposição, tal como um dicionário;
25
Em lógica, proposição é a unidade mínima com significado, pois é a expressão de idéias completas
(combinação de, pelo menos, um sujeito e um predicado) que permite a verificação da propriedade de falso ou
verdadeiro. Assim, a palavra ‘cavalo’ isolada não pode ser uma proposição, enquanto que a sentença ‘todo o
cavalo voa’ é uma proposição falsa e ‘o cavalo é um mamífero’ é uma proposição verdadeira.
26
Silogismo é um argumento formado por três proposições: a premissa maior, a premissa menor e a conclusão,
que é deduzida pela concatenação da premissa maior com a menor. Por exemplo: Se A é B, ora B é C, logo A é
C (cf. exemplo acima).
33
A influência da obra Curso de Lingüística Geral (1916), uma compilação dos cursos
oferecidos por Saussure em Genebra realizada por Charles Bally, foi de grande influência no
desenvolvimento subseqüente da lingüística. Saussure define o signo lingüístico como sendo
arbitrário (convencional), apresentado como a combinação de uma ‘imagem acústica’ (o
significante, a Coisa 1) com um significado (o conceito gerado pelo significante). Outra
importante contribuição de Saussure foi a distinção entre a tradicional análise diacrônica
(evolução histórica da língua) e a análise sincrônica (funcionamento da língua em um dado
momento histórico).
Saussure
sublinha que o signo une ‘não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma
imagem acústica’. O significado de cavalo não é, pois, nem um cavalo, nem o
conjunto dos cavalos, mas o conceito ‘cavalo’. (...) No significado de um signo
encontram-se apenas os traços distintivos que o caracterizam relativamente aos
outros signos da língua e não uma descrição completa dos objetos que ele designa
(TODOROV, 19, p. 229-230).
Assim, as signos são definidos negativamente, isto é, em comparação àquilo que não
significam em um determinado sistema lingüístico, e não por seu conteúdo implícito. Trabant
esquematiza a teoria de Saussure da seguinte forma:
27
Conforme já foi visto, costuma-se distinguir a semiótica, de origem norte-americana com base na filosofia de
Peirce, da semiologia, de origem francesa e fundamentada na lingüística de Saussure.
28
A língua (langue), para Saussure, é o sistema lingüístico geral através do qual determinados grupos humanos
se comunicam, por exemplo: a língua portuguesa. A fala (parole) seria a utilização prática deste sistema
lingüístico geral e abstrato em cada situação específica, por exemplo: o português falado em Angola, em Timor
Leste ou no Sul do Brasil (cf. Barthes, 1992, p. 17-18).
34
29
Nöth (1995, p. 42) considera que o modelo semiótico de Saussure seria diádico, pois, para Saussure, o
significante seria uma ‘imagem acústica’, ou seja, mental e não um estímulo externo.
35
noção de designatum30, que não tem o significado de uma grandeza conceptual, mas sim
de uma ‘classe de referentes’.
Sistema: Interpretante
30
Por designatum, Morris entende a relação estabelecida em determinada classe de coisas (p. ex.: classe de
coisas ‘cavalo’).
31
Morris busca em Peirce o conceito de interpretante, porém o utiliza em um sentido comportamentalista. Para
Morris os interpretantes são as disposições gerais para determinado comportamento, ou seja, são disposições
orgânicas dos seres vivos para responder a um determinado signo-estímulo. Desta maneira, o conceito de
interpretante substitui a idéia da teoria nominalista, porém não como grandeza mental, mas como disposição
comportamental.
32
Para Morris, denotatum é o referente observável em todos os comportamentos sígnicos (p. ex.: a palavra
‘cavalo’).
36
Os princípios nos quais repousa o modelo tripartido são os seguintes (cf. NATTIEZ,
1990b, p. 54):
33
Por fato musical, os semioticistas entendem a totalidade da experiência musical, em todas as suas nuanças e
características, desde a primeira idéia construtiva do compositor até a audição por parte do público, passando por
aspectos socioculturais, econômicos, históricos, estéticos, interpretativos, éticos, antropológicos, psicológicos,
etc.
34
Os aspectos concernentes à interpretação e execução por parte de instrumentistas fazem parte dos processos
poiéticos da interpretação e execução musicais.
37
Compreende-se, então, que, por um lado, as análises dos processo poiéticos e dos
processos estésicos, diversamente do que afirma a teoria clássica da comunicação,
não coincidem necessariamente e que, por outro lado, as estruturas que o
musicólogo ressalta na obra têm uma realidade distinta dessas duas famílias de
processos (ibid., p. 55).
35
As teorias analíticas tradicionais, mesmo aquelas desenvolvidas no século XX, como a análise schenkeriana
ou a análise motívico-temática, postulam que ao descobrir elementos existentes em determinada obra, o analista
está desvelando as intenções do compositor ao compô-la. Schenker, por exemplo, afirmava que a análise
segmentada em níveis estruturais, desde o plano imediato (Hintergrund) em direção ao plano de fundo
(Vordergurnd) e sua estrutura básica (Ursatz), desvendaria o plano de composição de uma obra por percorrer o
processo composicional desde o produto final (a obra) até sua estrutura básica originária (seu ponto de partida).
38
(I) x
Análise Imanente
(II) x x
Análise Poiética Indutiva
(III) x x
Análise Poiética Externa
(IV) x x
Análise Estésica Indutiva
(V) x x
Análise Estésica Externa
(VI) x = x = x
Comunicação entre os três níveis
Análise Holista
a) Análise Imanente – esta é uma família de análise que, trabalhando com uma metodologia
explícita ou implícita, aborda somente as configuração imanentes da obra, sem tomar
parte na pertinência poiética ou estésica das estruturas assim discernidas. Em outras
palavras, são as análises que somente consideram o texto musical e não os processos e
condições de criação, execução ou recepção. Nattiez exemplifica esta família com a
análise rítmica de Boulez da Sagração da Primavera (1966), a análise da música atonal
com base na Teoria dos Conjuntos de Allen Forte, ou as análises com base na informática.
b) Análise Poiética Indutiva – nesta família analítica procede a partir da observação da peça
(o traço, ou nível neutro) chegando a conclusões sobre o processo compositivo. Esta é,
segundo Nattiez, uma das situações mais freqüentemente encontradas na análise musical.
O analista observa diversos procedimentos recorrentes em uma obra, ou conjunto de
obras, e chega à conclusão: “é difícil de crer que o compositor não tenha pensado sobre
isto”. Esta família é exemplificada com a análise motívico-temática de Schoenberg e Réti.
c) Análise Poiética Externa – neste caso, a situação é o reverso da anterior, o musicólogo
toma documentos deixados pelo compositor – cartas, projetos, esboços – como ponto de
partida e analisa a obra com base nestas informações. O caso mais destacado deste tipo de
análise é a obra de Paul Mies (1929) em que são descobertas características estilísticas da
obra de Beethoven com base nos seus esboços.
d) Análise Estésica Indutiva – pratica-se uma análise estésica indutiva quando se procura
predizer como a obra será percebida pelo ouvinte com base nas estruturas musicais
observadas pela análise no nível neutro (partitura). Esta projeção da audição pode ser
tanto por meio da ampliação da própria experiência pessoal do analista (hipostasiada em
consciência universal), quanto tendo em conta as leis perceptivas gerais desenvolvidas por
39
pesquisas no campo da psicologia. Para Nattiez, este é o caso mais comum na análise
musical, em primeiro lugar porque diversas análises desejam se colocar como sendo
relevantes do ponto de vista da audição e, em segundo lugar, porque muitos analistas
colocam a si mesmos como uma espécie de consciência coletiva de ouvintes, chegando à
dedução “é isto o que se ouve”, porque é desta maneira que eles próprios ouvem.
e) Análise Estésica Externa – esta família procede de pesquisas experimentais em que
grupos de ouvintes são incentivados a dar respostas sobre aquilo que estão ouvindo. Desta
forma, a análise fundamenta-se não sobre as obras, mas sobre as respostas de sujeitos que
as percebem em situações experimentais. Assim, o processo analítico principia com as
informações coletadas dos ouvintes dirigindo-se, posteriormente, à compreensão de como
a obra (ou conjunto de obras) é percebida. Esta família é amplamente estudada nas
pesquisas em psicologia da música, tendo ganhado considerável impulso nos últimos anos
com as pesquisas cognitivas.
f) Análise Holista – esta é a situação analítica mais complexa, na qual a análise imanente (do
nível neutro) é tomada como sendo igualmente relevante tanto para o entendimento dos
processos poiéticos quanto para os processos estésicos. Em outras palavras, o analista
considera que as observações realizadas no campo da análise imanente correspondem
tanto aos processos de composição e execução, quanto aos processos de recepção da obra
(em todas as peculiaridades possíveis). A análise schenkeriana seria o exemplo mais
conhecido desta família analítica, pois Schenker acreditava que o seu procedimento
analítico iria revelar, por um lado, os passos da composição e, por outro lado, as estruturas
que deveriam ser explicitadas pelo intérprete, pois, assim, seriam percebidas pelo ouvinte.
Uma anacruse, uma frase inicial em Ré maior. A figura marcada com (a) é
imediatamente repetida, descendo uma terça e sendo empregada no decorrer
de toda a peça. Esta frase é imediatamente elidida com seu conseqüente, que
modula de Ré maior para Lá maior. A figura (a) é utilizada novamente duas
vezes, em um registro mais agudo em cada vez; esta seção é repetida
(WARBURTON apud NATTIEZ, 1990a, p. 162).
c) Leitura Hermenêutica: esta é a análise verbal mais rica e interessante, pois não apenas
apresenta impressões pessoais ou descreve um texto musical, mas também acrescenta ao
texto um grau de profundidade hermenêutica e fenomenológica que, “em mãos de um
escritor talentoso, pode resultar em genuínas obras primas interpretativas” (NATTIEZ,
1990a, p. 162). As leituras hermenêuticas são aquelas que acrescentam algo de significativo
ao entendimento da estrutura musical, seguindo o caminho da análise estilística,
estrutural, fenomenológica ou especulativa.
A transição do primeiro para o segundo tema é sempre uma peça difícil da arte
criar estruturas musicais; e nas raras vezes em que Schubert alcança isto com
suavidade, o esforço o conduz às raias da imbecilidade (como ocorre no
movimento lento do Quarteto em Lá menor, que em outros aspectos é genial).
Assim, em suas obras mais inspiradas, a transição é alcançada por um abrupto
coup de théatre; e de todos estes coups, sem dúvida o mais rude é aquele que
ocorre na Sinfonia Inacabada. Muito bem, então, há, aqui, algo de novo na
história da sinfonia, não mais novo, não mais simples do que as coisas novas
que foram reveladas, uma a uma, na Nona Sinfonia de Beethoven. Não
importa sua origem histórica, este fato tem seus méritos. Este não seria um dos
momentos mais impressionantes? (TOVEY apud NATTIEZ, 1990a, p. 162)
2. Análises Formalizadas – este não é o caso de ‘falar sobre música’, mas de ‘simular’ a
música com exatidão suficiente de forma que seria possível (em princípio) utilizar um
modelo para reproduzir as configurações naturais do objeto original. Para Nattiez, as
modelizações (conforme Nattiez denomina estas analises) têm uma vantagem sobre as
análises não-formalizadas (descrições verbais).
ordem de sua sucessão real no tempo (como seqüência de eventos musicais). Estes
modelos distinguem-se em:
• análise de traços característicos: é a análise realizada mais freqüentemente na
etnomusicologia, na qual o pesquisador identifica a presença ou ausência de uma variável
particular e realiza uma imagem coletiva da melodia, do gênero ou do estilo estudado
através de quadros e tabelas.
• análise classificatória: esta análise distingue os fenômenos observados em classes com
base em critérios retirados do próprio conjunto de obras estudado.
b) Modelos Lineares – estes modelos descrevem um grupo de obras através de um sistema de
regras que abarca não somente a organização hierárquica da estrutura musical, mas
também a distribuição, o ambiente e o contexto em que ocorrem os eventos.
O processo analítico em seu todo é sistematizado por Nattiez com o seguinte esquema:
Princípios analíticos
metodologia
objeto de
análise
variáveis selecionadas
36
Também chamado de quadro de segmentação.
43
Ex. 3: William Byrd, Variações sobre a canção John come kiss me now, Var. 1
44
Ex. 4: E. Morin, análise paradigmática melódica da Var. I de Byrd sobre John come kiss me now
45
Ex. 5: E. Morin, análise paradigmática rítmica da Var. I de Byrd sobre John come kiss me now
3. Tipo – pertencem ao mesmo tipo sintagmático aquelas unidades que possuem a mesma
relação entre o sentido da seqüência total e o de seus componentes, como, por exemplo, o
prefixo ‘des’ pertence ao mesmo tipo sintagmático quando acrescentado ao verbo ‘fazer’
ou ao verbo ‘colar’, pois as palavras ‘desfazer’ e ‘descolar’ pertencem à mesma categoria;
porém o mesmo prefixo combinado à palavra ‘continuo’, gerando a expressão
‘descontínuo’ pertence a outro tipo sintagmático, pois ‘contínuo’ não é um verbo, mas um
adjetivo. O mesmo serve para as sentenças e frases: as sentenças ‘Menuhin é um grande
músico’ e ‘Pollini é um excelente intérprete’ pertencem ao mesmo tipo sintagmático, pois
são formadas pela combinação sucessiva de: substantivo próprio + verbo + artigo +
adjetivo + substantivo comum.
4. Sentido – as duas frases citadas anteriormente pertencem à mesma categoria de sentido,
pois ambas apresentam juízo de valor sobre determinado músico. Já a frase ‘Estrelas
configuram a beleza do céu’ apresenta outro sentido, mesmo pertencendo ao mesmo tipo
sintagmático (substantivo próprio + verbo + artigo + adjetivo + substantivo comum).
5. Nível – o nível sintagmático corresponde à camada estrutural à qual determinada unidade
pertence: as palavras que formam uma sentença pertencem ao mesmo nível sintagmático;
as sentenças que formam cada frase pertencem ao mesmo nível de estrutura; frases que
formam um parágrafo pertencem ao mesmo nível sintagmático; os parágrafos que formam
um capítulo de um livro pertencem ao mesmo nível de estrutura; os capítulos que formam
um livro pertencem ao mesmo nível sintagmático. Assim, “para descrever um sintagma
particular, dever-se-á dizer não só quais unidades o constituem, mas dentro de qual
unidade se encontra” (ibid., p. 109).
Ex. 6: E. Morin, lista fisionômica das variações de Byrd sobre John come kiss me now
48
Abaixo, uma síntese da análise da peça para flauta solo Syrinx de Debussy, por Nattiez
(in: COOK, 1987, p. 161-164; 180-171; 176).
A narratividade em música
Conforme afirma Nöth (1996, p.165), a Semântica Estrutural (1966) de Greimas foi
considerada pela Escola de Paris como a primeira elaboração de uma semiótica lingüística. A
teoria de Greimas não se coloca como uma ‘teoria sobre o signo’, mas pretende ser uma
‘teoria sobre a significação’, que “somente se torna operacional quando se situa tanto acima
quanto abaixo do signo” (GREIMAS apud NÖTH, 1996, p. 165). Nas pesquisas que se
desenvolvem ‘abaixo do signo’, ou ‘nível inferior’, realiza-se a divisão do signo em seus
componentes semânticos que são ‘menos do que signos’. No ‘nível superior’, ou ‘acima do
signo’, desenvolvem-se pesquisas relativas às unidades textuais que produzem estruturas ou
entidades semânticas que são ‘mais do que signos’. Com este projeto, busca-se explicar o
funcionamento estrutural de qualquer sistema lingüístico ou semiótico37. Para isto, são
distintas três áreas de análise semiótica:
1. estruturas sêmio-narrativas – são aquelas que ocorrem pela combinação de estruturas
semânticas e sintáticas;
2. estruturas discursivas – têm por função trazer as estruturas superficiais ao discurso, ou
seja, são as estruturas que localizam os atores narrativos no tempo e no espaço;
3. estruturas textuais – são estruturas da substância de expressão que ocorrem, no texto
falado, pela seqüência linear (justaposição) fonética e, no texto escrito, pelo espaço visual
do campo de escritura.
Asserção Negação
37
Note-se aqui a semelhança com a análise paradigmática – unidades paradigmáticas básicas (como a coleção de
notas de determinada obra): menos que signos, segmentação da obra em unidades paradigmáticas específicas
(como motivos): signos; e com a análise sintagmática – inter-relações de unidades paradigmáticas (como a
organização frásica de determinada obra): mais que signos.
52
(VIDA) (MORTE)
contrariedade
S1 S2
c e
o d
m a
p d
l i
e r
m contra- a
e t
n n
t e
a dição m
r e
i l
d p
a m
d o
e c
__ __
S2 S1
Não-asserção Não-negação
(NÃO-MORTE) (NÃO-VIDA)
38
De modo simplificado, pode-se dizer que o sema seria qualquer relação fonética de determinada língua. Sendo
assim, a combinação dos semas (fonemas) 'f' e 'a' gera o semema (monema) 'fa'; a combinação do semema ‘fa’
com o semema ‘do’ forma o lexema (palavra) ‘fado’, que não tem um sentido determinado antes de sua
atualização em um discurso específico como um semema (frase). Por exemplo, na frase ‘todo o homem carrega
seu fado’, o lexema ‘fado’ adquire o sentido de ‘destino’, tornando-se assim, um semema, pois passa a ser uma
unidade semântica. A atualização do lexema ‘fado’ na frase ‘o fado é a típica canção portuguesa’ constitui-se
em outro semema, com sentido de ‘canção popular portuguesa, melancólica e fatalista, usualmente com
acompanhamento de guitarra’ (DICIONÁRIO DE MÚSICA ZAHAR, 1985, p. 120).
53
1. Contradição: é a relação existente entre dois termos de uma relação binária, como
asserção/negação. Esta relação é descrita como a oposição entre a presença e a ausência
de um sema. Assim um sema S1 (‘vida’) é oposto ao seu não-S1 (‘não-vida’) no qual a
vida está ausente.
2. Contrariedade: é a relação entre dois semas quando um deles implica o contrário do
outro. Neste caso, o contrário de S1 (‘vida’) é S2 (‘morte’). Na relação de contrariedade é
necessário que um termo exista para pressupor o outro, ou seja, sem o conceito de ‘vida’
não pode haver o conceito de ‘morte’.
3. Implicação (ou Complementaridade): que ocorre entre os termos S1 (‘vida’) e não-S2
(‘não-morte’), ou seja, ‘vida’ implica ‘não-morte’.
4. Implicação (ou Complementaridade): a mesma relação de complementaridade ocorre
entre os termos S2 (‘morte’) e não-S1 (‘não-vida’), ou seja, ‘morte’ implica ‘não-vida’.
I. Aspectualização do Discurso39
39
Aspectualização é, na gramática verbal, a categoria que indica as relações entre processo e tempo.
40
Tarasti define debreagem espacial como o movimento para fora de alguma norma de locação de algum texto –
seu ‘aqui’; debreagem temporal é definida como um acontecimento no passado ou no futuro em relação a um
‘agora’ textual; debreagem atorial ocorre quando se focaliza a atenção para fora de um ‘eu’ central, ao dirigir a
atenção para outro atores. Embreagem seria o movimento oposto ao de debreagem, ou seja, o retorno a um
‘aqui’, a um ‘agora’ ou a um ‘eu’ central de um texto.
54
centro/periferia “no sentido de que alguma coisa em música pode ser envolvida por outra
coisa” (ibid., p. 79), como ocorre quando um tema (actante musical) impulsiona a si mesmo
para frente, enquanto o restante da textura o ‘envolve’ ou ‘circunda’.
Para Tarasti, o espaço musical relaciona-se sempre com o movimento, ou seja, com
sua qualidade cinética, que é classificada em:
• Espaços pontuais: posições de sons e alturas separadas entre si, isto é, a coleção de alturas
(o meio sonoro) pelo qual é constituída uma peça musical e as relações existentes entre
estas alturas (intervalos). A primeira tarefa do analista é realizar um quadro topológico
destes pontos, porém deve também determinar quais os pontos que funcionam como
centro(s) em relação ao(s) qual(is) qualquer movimento pode ser considerado como sendo
embreagem ou debreagem. Há uma hierarquia de pontos no espaço musical, de tal forma
que eles têm diferentes valores, aos quais Tarasti denomina modalidades, tomando o
termo da Semântica Estrutural de Greimas.
• Campos sonoros completos: acrescentando algo aos pontos e às transições entre estes
pontos, Tarasti reconhece que o espaço musical pode consistir de campos completos, “que
não são percebidos como conglomerados de pontos tonais salientes mas como massas
sonoras ou tímbricas mais ou menos articuladas” (ibid., p. 85). Este conceito não é
aplicado somente às obras que lidam com o conceito de ‘massa sonora’, como as obras de
Penderecki ou Ligeti, mas também a peças tonais, como ocorre no Scherzo em Dó# menor
de Chopin, em que os campos sonoros ou as superfícies sonoras não são entidades neutras,
tornando-se modalizadas quando ocorre algum movimento em direção, ou a partir, de um
ponto ou centro fixo do espaço musical.
este é um espaço para atuações (nos mitos há lugares que são geralmente
subterrâneos ou celestiais). Em adição, há um espaço paratópico, no qual as
competências são adquiridas. Em música, o espaço paratópico é o lugar onde a
substância musical revela sua própria competência (‘saber’) e atuação (‘estar apto a
55
1. 3.
irreversível reversível
imprevisível previsível
3. 4.
irreversível reversível
previsível imprevisível
um sujeito narrativo (...) deseja e procura um objeto (...). O sujeito e o objeto fazem
parte de duas redes semânticas mais desenvolvidas: o sujeito, por um lado, é
assistido por um adjuvante mas, do outro lado, tem de lutar contra um opositor (...).
Ambos possuem o poder de auxiliar ou prejudicar (...) [o sujeito]. O objeto se
encontra entre um destinador que dá o objeto (...) e um destinatário que o recebe
(...). O destinador e o destinatário possuem um ‘saber’ situacional e representam
um eixo de comunicação. Entre o destinador e o destinatário, Greimas vê uma
relação de implicação, entre o sujeito e o objeto, uma relação de projeção e entre
adjuvante e opositor, uma relação de contradição (NÖTH, 1996, p. 178-179).
são unidades sintáticas, na forma de oposições binárias que têm precedência sobre
o investimento semântico. Desenvolvidos temporalmente como pares actanciais, os
actantes transformam-se em uma ‘história’. O papéis (ou funções) actanciais são
definidos em termos de seu conteúdo e função modais na narrativa. Vários atores
podem incorporar um único actante, ou um ator pode preencher uma variedade de
funções actanciais. Atores emergem através de semas de individualização e, assim,
tornam-se pontos de convergência entre a sintática e a semântica (TARASTI, 1994,
p. 303).
O objeto
é a metade do par actancial sujeito/objeto. Muitas narrativas centram-se em
relações sujeito/objeto básicas nas quais um sujeito é separado do objeto
(disjunção) e luta por unir-se a ele (conjunção) em uma busca pelo objeto (ibid., p.
304).
Para distinguir entre sujeito e objeto em uma peça de música é necessário reconhecer o
‘ser’ da peça, ou seja, seu ‘estado de consonância’: neste estado de consonância, sujeito e
objeto formam uma entidade sincrética, ou seja, na modalidade ‘ser’ não percebemos a
música como um estágio em que o sujeito está se movimentando para alcançar o objeto. Na
57
categoria ‘fazer’ ocorre o inverso: sentimos um estado de ‘dissonância’ no qual falta algo, em
que a energia nos deixa insatisfeitos. O que falta pode ser tomado como uma disjunção, uma
procura pelo objeto; quando este objeto é alcançado ocorre, finalmente a conjunção (cf.
Um bom exemplo desta atorialização seria a relação entre primeiro e segundo tema em
desenvolvimento atuam como disjunção e como luta pela conjunção, enquanto que a
reexposição do segundo tema na tônica seria a conjunção final. Esta disputa entre conjunção e
de ‘atorialidade’ em música.
II. Modalidades
(desejo)
Morris (apud TARASTI, 1994, p. 85) fala de três tipos de movimento: 1. Movimento
em direção a algum ponto; 2. Movimento contra algum ponto; 3. Movimento a partir de
algum ponto. Tarasti utiliza estas categorias para explicar as modalizações de micro-espaços e
registros musicais, aplicando a elas as modalidades de Greimas, na busca de um programa de
análise do espaço musical.
Ao conceito de ‘espaço musical’, Tarasti aplica a modalidade ‘ser’, a estase (algo que
simplesmente ‘é’), ou seja, cada momento da música em um sentido estático do espaço
musical, como cada um dos dois temas de um movimento em forma sonata – o primeiro tema
seria um ‘ser 1’, o segundo tema seria um ‘ser 2’. A modalidade ‘fazer’ relaciona-se ao
‘tempo musical’ e representa o dinamismo (algo que ‘faz’ ou torna possível que algo
aconteça), geralmente diz respeito aos pontos de transição, como a transição do primeiro para
o segundo tema na forma sonata, ou: “o acorde de sétima diminuta, no qual qualquer nota
pode servir como sensível, é uma harmonia que facilmente nos move de um espaço musical a
outro” (TARASTI, 1994, p. 86).
As modalidades adicionais são: o ‘querer’, que se relaciona à energia cinética, isto é,
ao movimento em direção a determinado objetivo, como ocorre na resolução de um acorde de
dominante na tônica; o ‘dever’, que ocorre quando a estrutura musical exige determinado
procedimento compositivo, como acontece na música serial em que determinada nota deve
seguir outra na estrutura da série, para Tarasti há vários graus de ‘dever’ – “em alguns casos
algo é fortemente obrigatório, em outros casos é menos obrigatório” (ibid., p. 90); o ‘poder’,
que se relaciona à reprodução, virtuosidade, poder e eficiência de recursos técnicos, como,
por exemplo, o finale de uma obra sinfônica extremamente afirmativo com efeitos de tutti em
fortíssimo; o ‘saber’, que se relaciona à informação contida em cada novo segmento da peça –
“por exemplo, uma progressão diatônica em quintas não projeta a modalidade ‘saber fazer’,
porém uma modulação habilidosa e dramática através da re-interpretação de alguma
tonalidade exibe esta modalidade (como ocorre na canção Erlkönig de Schubert)” (ibid., p.
92) .
41
Teleologia, em filosofia é o estudo da finalidade; teleológico é aquele argumento que relaciona um fato à sua
causa final.
42
Etologia é a ciência que estuda o comportamento e os costumes, humanos ou animais.
59
algum ‘querer’ energético interno, então este clímax certamente não é sentido
como uma solução eficiente ou acreditável (ibid., p. 92).
Espaço Musical
Tempo Musical
Esta combinação entre as modalidades básicas e adicionais pode ser entendida com
dois exemplos:
1. combinação entre ‘ser’ e ‘querer’ – (a) a modalidade ‘querer ser’ significa que algum
ponto do espaço musical é o resultado de algum esforço particular, como a tônica no
espaço interno de uma peça musical; (b) a modalidade ‘querer não-ser’ significa que se
quer evitar determinado registro, como, por exemplo, a proibição de Berlioz quanto à
utilização de certas notas graves dos instrumentos de madeira, em seu Traité
d’Instrumentation et d’Orchestration; (c) a modalidade ‘não-querer ser’ significa que
algum registro (ou ponto) em um espaço musical, embora tenha sido utilizado, produz um
efeito desagradável ou indesejável, como ocorre na Sinfonia Fantástica de Berlioz com a
transformação grotesca da idée fixe no último movimento; (d) a modalidade ‘não-querer
não-ser’ realiza-se quando se parte do princípio de que nenhuma lacuna pode ficar sem ser
preenchida, pois não preencher as lacunas poderia representar um desequilíbrio no espaço
musical.
60
2. combinação entre ‘fazer’43 e ‘querer’ – (a) a modalidade ‘querer fazer’ significa que um
texto musical se esforça para aumentar o grau de tensão por meio de uma forte tendência
em direção a determinado objetivo, ocorre quando o processo musical tem uma
direcionalidade fortemente definida; (b) a modalidade ‘querer não-fazer’ ocorre quando a
música tende ao decréscimo de tensão a se movimenta para fora do campo de
dissonâncias, como, por exemplo, quando
Outra situação desta modalidade ocorre quando o ‘querer’ musical aponta para um
determinado rumo, porém este é evitado, como acontece no final de várias danças de J. S.
Bach, em que a frase se dirige para a conclusão final, porém chega a uma cadência
deceptiva, exigindo uma quebra na quadratura pelo acréscimo de mais uma frase
necessária para concluir o movimento; (c) a modalidade ‘não-querer fazer’ “significa que
a energia cinética da música tende para a dissonância e busca a continuação de ‘ser’,
como em um caso de sotto voce, deslize de detenção entre dois espaços modalizados
diferentemente” (ibid., p. 91); (d) a modalidade ‘não-querer não-fazer’ realiza-se quando a
música não luta por se dirigir a um espaço de menor tensão, ou seja, permite que a tensão
(o ‘fazer’) permaneça no nível atual.
III. Isotopia
Este termo foi tomado de empréstimo da física nuclear, sendo que na Semântica
Estrutural de Greimas significa a coerência e a homogeneidade que apresenta o texto, sendo o
“princípio que permite a concatenação semântica de declarações” (GREIMAS apud NÖTH,
1996, p. 175). A isotopia é “entendida basicamente como traço redundante de significação (do
plano de conteúdo e do plano de expressão) que garante certa uniformidade de leitura de um
texto” (MITIDIERI, 1997, p. 119). Em música, os exemplos de isotopia apresentados por
Tarasti são, entre outros:
• a organização profunda das alturas de determinada obra – seu meio sonoro (coleção de
notas), as relações entre os sons que fazem parte deste meio sonoro e o esquema básico de
organização das alturas.
• a organização motívico-temática da obra – a recorrência, variação, desenvolvimento e
transformação de temas e motivos.
• as características de gêneros e estilos – aqueles elementos que permitem distinguir um
gênero de outro (uma fuga de uma suíte barroca), ou um estilo de outro (o style galant
francês do stile sensitivo italiano, ambos da primeira metade do séc. XVIII).
O conceito de isotopia permite, por um lado, o entendimento e compreensão da música
como discurso ou linguagem, pois são os elementos isotópicos (de repetição) que possibilitam
o sentido e a coerência musicais. Por outro lado, os elementos recorrentes permitem a
classificação, por parte da musicologia, de obras musicais distintas, em gêneros, estilos ou
escolas de acordo com suas características regionais, históricas, sociais, etc.
43
A modalidade ‘fazer’ pressupõe a existência de tensão e seu crescimento; a modalidade ‘não-fazer’ significa o
decréscimo de tensão, um direcionamento à consonância rítmica ou harmônica.
61
44
Ver nota 21.
45
Espaços heterotópicos são aqueles que envolvem o espaço tópico, isto é, o espaço inicial. V. seção sobre
espacialidade fictícia.
62
46
Indicial, de índice. V. nas categorias de Peirce, os elementos que compõem o objeto: ícone, índice e símbolo.
47
Espaço tópico é o espaço zero, ou seja, o espaço inicial. V. seção sobre espacialidade fictícia.
63
48
Este princípio faz com que uma peça musical ritmicamente muito complexa – como o Estudo n.º 21 para
pianola de Nancarrow, que apresenta diferentes andamentos simultaneamente – tenha sua complexidade
‘disfarçada’ por se tornar entrópica, ou seja, tornar-se recorrente. É este fato que faz com que esta peça seja
inteligível, pois se não houvesse nenhum tipo de entropia, seria incomunicável.
66
Ex. 11: E. Tarasti, análise paradigmática rítmica da Promenade I, de Quadros de uma Exposição de
Mussorgsky.
67
Cada uma das seis seções apresenta um princípio de formação levemente variado, o
que gera uma diferença no nível atorial. Desta forma, o movimento inteiro é dominado por um
único ator, o que gera uma impressão de identidade fenomênica. Este ator consiste de vinte e
quatro elementos diferentes (unidades paradigmáticas), sendo que quatro deles são
especialmente pertinentes.
A análise modal (das modalidades) revela que, quanto à modalidade ‘querer’, os dois
primeiros compassos manifestam duas implicações: um movimento ascendente e um
movimento descendente, que são fragmentários devido às notas que estão faltando para
completar a coleção de notas da escala diatônica (Lá e Mib) – o que gera, por sua vez, uma
escala pentatônica. O ‘querer’ é equilibrado, pois os actantes (movimento ascendente e
descendente) são fechados em si mesmos – manifestam simultaneamente uma vontade e a
negação desta vontade, sem a criação de tensão em razão disto.
Quanto à modalidade ‘saber’, há um grau elevado de informação espaço-temporal (a
primeira Promenade é o legi-signo49 de todas as promenades ulteriores).
Quanto à modalidade ‘querer’, a primeira promenade apresenta um valor negativo,
pois segue princípios convencionais de maneira redundante: há somente harmonização em
estilo coral e oposição entre solo e tutti. Existe um grau neutro da modalidade ‘dever’, pois o
primeiro movimento segue somente normas convencionais – isto irá ser modificado no
decorrer da obra, pois o fato de esta promenade servir como legi-signo para a formação dos
outros movimentos a torna extremamente importante do ponto de vista do ‘dever’ na estrutura
global da peça.
Por representar um espectador/narrador imaginário que percorre a exposição, realiza a
leitura das mensagens apresentadas pelos quadros e as comunica ao ouvinte, as promenades
representam modalizações (avaliações e interpretações) dos ‘quadros’ da exposição. São estes
quadros que devem convencer o ouvinte de sua ‘verdade’. Em outras palavras, o valor
epistemológico da obra somente é revelado com base na relação entre as promenades e os
quadros, visto que as primeiras, embora sejam as protagonistas, não podem afirmar nada
49
Isto significa que esta promenade é a lei geral que rege as relações de continuidade entre todos os
movimentos, em especial, entre as promenades. V. nas categorias de Peirce, os elementos do representamen:
quali-signo, sin-signo e legi-signo.
68
sobre os quadros sem a existência destes, enquanto que estes não passam de objetos e, assim,
somente têm seu sentido desvendado quando postos em frente a um observador (a promenade,
o ator principal). Desta forma,
50
Entonações são manifestações fônicas que correspondem ao mundo fenomênico. Entonações musicais são o
resultado da transmutação de sons advindos das experiências da vida, que incluem experiências psíquicas
interiores, em elementos e processos musicais, como uma melodia ou o crescimento de determinada frase
musical (TARASTI, 1994, p. 304).
69
Retórica é definida como sendo a arte de bem falar ou escrever com o propósito de
persuadir, ou como o conjunto de teorias relativas à eloqüência51.
a) Figuras Verbais
a) Elipse – Gram. Omissão de palavras que se podem subentender. Ex.: “Onde pode, põe a
mão. Onde não pode, os olhos”.
b) Silepse – Ret. Emprego de uma palavra no sentido próprio e figurado a um só tempo.
Gram. Figura pela qual a concordância se faz de acordo com o sentido e não conforme as
regras da sintaxe. A silepse pode ser: a) de gênero. Ex.: “Admitindo a idéia de que eu
fosse capaz de semelhante vilania, S. M. foi cruelmente injusto para comigo”; b) de
número. Ex. “O resto do exército realista evacua neste momento Santarém; vão em fuga
para o Alentejo”; c) de gênero e número. Ex.: “Eis que começa a gente do mar a queixar-
se e dar culpas a quem os fizera navegar”; d) de pessoa. Ex.: “Quanto à pátria de origem,
todos os homens somos do céu”.
c) Inversão (ou anástrofe) – Gram. e Ret. Inversão, mais ou menos forte, da ordem natural
das palavras ou das orações. Ex.: “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas / De um povo
heróico o brado retumbante”, i. e., Às margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado
retumbante de um povo heróico.
d) Hipálage – Ret. Figura pela qual se atribui a certas palavras de uma frase o que convém
logicamente a outras da mesma frase, claras ou subentendidas. Ex.: “O raspar espavorido
de fósforos” (espavorido refere-se , logicamente, não ao substantivo virtual raspar, mas ao
agente da ação de raspar); “Em cada olho, um grito castanho de ódio”.
e) Pleonasmo – Gram. Redundância de termos que, em certos casos, têm emprego legítimo,
para conferir à expressão mais vigor ou clareza. Ex.: “Vi com estes olhos que a terra há de
comer; vi claramente visto o lume vivo / Que a marítima gente tem por santo” (Camões,
Os Lusíadas, V. 18).
f) Metáfora – Tropo que consiste na transferência de uma palavra para um âmbito semântico
que não é o do objeto que ela designa, e que se fundamenta numa relação de semelhança
subentendida entre o sentido próprio e o figurado. Por ex., chama-se de raposa a uma
pessoa astuta: “L. B. é uma raposa na arte de fazer política”.
51
As definições apresentadas a seguir foram consultadas no NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO (1986) e na
GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE (1993).
70
b) Figuras de Pensamento
a) Antítese – Figura pela qual se salienta a oposição entre duas palavras ou idéias. Ex.: “A
Liberdade – em face à Escravidão” (Castro Alves, Obra Completa, p. 154). [Sin.:
enantiose]
b) Apóstrofe – Ret. 1. Figura que consiste em dirigir-se o orador ou o escritor, em geral (e
não sempre) fazendo uma interrupção, a uma pessoa ou coisa real ou fictícia. 2.
Interpelação direta e inopinada. Ex.: “Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?”
(Castro Alves, Obra Completa, p. 290). [Sin.: Catilinária].
c) Exclamação – Ato de exclamar; voz, grito ou brado de prazer, alegria, raiva, tristeza, dor.
Exclamar: Pronunciar em voz muito alta; bradar, gritar, vociferar, clamar.
d) Interrogação – Ato ou efeito de interrogar-se. Interrogar: 1. Fazer perguntas, inquirir,
perguntar; 2. Dirigir-se a alguém com um gesto, um olhar, como a perguntar-lhe alguma
coisa.
e) Enumeração – 1. Indicação de coisas, uma por uma; 2. Exposição ou relação metódica.
Enumerar: 1. Relacionar metodicamente; 2. Contar, especificar.
71
Os estudos sobre Retórica Musical, tal como é entendida hoje, surgiram durante o
século XVI, nas cameratas, círculos de humanistas que se reuniam para estudar, discutir e
apresentar recitais de poesia, música e dança com patrocínio de nobres de Florença, Nápoles e
Veneza. Destas cameratas, aquela que teve maior importância para a origem do stile moderno,
e para o nascimento da ópera, foi a chamada Camerata Fiorentina, que exerceu grande
influência sobre Monteverdi. Os principais participantes desta camerata foram os músicos
Jacopo Peri, Giulio Cacccini e Vicenzo Galilei (pai de Galileu), além do poeta Rinuccini.
Estes eram compositores e cantores que se dedicavam à musica reservata e ao madrigalismo.
Partindo do conhecimento de retórica clássica, ou seja, a retórica greco-latina, os
músicos e poetas passaram a buscar meios de representação musical do sentido emocional dos
textos que escolhiam para pôr em música (em especial, poesias de Petrarca e Boccacio). A
expressão musical do poema por parte dos madrigalistas era localizada, ou seja, eram
representadas musicalmente palavras ou expressões isoladas e não o pathos geral da poesia.
Deste modo, partiram das figuras conhecidas da retórica clássica e as aplicaram à estruturação
musical. Este procedimento foi-se desenvolvendo até o século XVIII, gerando as seguintes
categorias ligadas à retórica, especialmente retiradas das figuras de pensamento:
72
1. Fraseologia Musical
Cadências com sentido de pontuação frásica:
a) cadência perfeita – paralelo musical à pontuação final; quando utilizada enfaticamente
(tutti em fortíssimo, p. ex.), torna-se representativa da exclamação.
b) cadência à dominante – representação musical da interrogação, da enumeração ou da
reticência.
c) cadência interrompida – paralelo musical à figura de reticência.
d) cadência deceptiva – relativa à lítotes.
3. Simbolismo Sonoro
b) Augenmusik (alemão, ‘música para os olhos’), disposição visual das notas na partitura de
maneira a representar imagens, como a representação da cruz pela disposição das notas
em cruz na História da Ressurreição de Schütz.
d) gêneros e formas musicais que representam situações como ocorre quando uma fuga é
utilizada para expressar a perseguição, ou uma cena de caçada é representada pela dança
chamada caccia (caça, em italiano).
representação, que foram organizadas em cerca de 150 tipos diferentes, com nomes gregos e
latinos, e foram agrupadas segundo seu caráter e meio de representação de textos.
Alguns dos tipos de figuras de representação mais usuais são os seguintes:
a) imitação (hyperbole) – figura que possibilitaria a ‘imitação’ de seres, objetos, situações ou
estados de alma por meio de elementos sonoros; uma nota aguda poderia ‘imitar’ a altura,
o céu ou o cume de uma montanha, uma nota grave poderia ‘imitar’ um vale profundo ou
o inferno.
b) melodia (pathopoeia) – a pathopoeia permite que determinados movimentos melódicos
possam representar situações ou afetos específicos, como, por exemplo, o semitom pode
representar a dor, a terça maior, a alegria, a terça menor, a melancolia.
c) pausa (apócope) – a utilização de pausas poderia representar a morte, ou a irrupção de um
silêncio repentino em uma situação cênica.
d) repetição (repetitio) – a repetição imediata poderia ser utilizada com sentido de eco ou
para representar pensamentos e vozes de espíritos.
e) movimento (heterolepsis) – saltos melódicos (especialmente, intervalos ascendentes do
tempo forte para o tempo fraco) poderiam ser realizados para representar sentimentos de
culpa e pecado.
f) suspensão (mora) – utilização de suspensão e retardo com sentido de dúvida ou espera.
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Pathos (do grego, sofrimento, paixão) é, para os antigos gregos, a utilização de figuras de retórica com a
finalidade de provocar emoções intensas. Atualmente, a expressão designa os movimentos passionais
(suavização ou intensificação da expressão das emoções) de uma obra de arte. Daí vem a expressão ‘patético’
com o sentido de algo que revela forte emoção, que comove por ser trágico, sinistro ou, mesmo, cruel.
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53
As famílias de instrumentos eram divididas em: família das violas (instrumentos de arco), família das flautas
(sopros de madeira, em especial a família das flautas doces) e família dos trombones (instrumentos de sopro de
metal); havia, ainda, o broken consort (conjunto misto formado por instrumentos de diversas famílias).
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Os quatro humores são disposições afetivas básicas que passam por vários estágios, desde uma sensação
agradável (pólo de prazer) até sensações desagradáveis (pólo de dor). Para as teorias humorais mais antigas,
desde a Idade Média (fundadas por Galeno), há correlação entre as disposições anímicas e os humores mórbidos,
geradores de doenças. Os quatro humores mórbidos (chamados também de maléficos) são o sangue, a bile
amarela, a bile negra e o linfa. Estes humores ‘físicos’ correspondem aos humores de estados anímicos, os quais
são: cólera, melancolia, alegria e apatia. Diversas teorias de expressão da música recorreram à teoria humoral
como ponto de partida para a representação de estados de alma. Desta forma, os quatro humores básicos, ao
serem misturados, gerariam todas as paixões, e suas gradações, experimentadas pelos seres humanos.
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Ratner (1980) realizou um estudo extensivo das características da música clássica com
base em sua ‘expressão’ (a partir dos tipos e estilos clássicos), em sua ‘retórica’ (a partir de
sistemas de periodicidade, harmonia, ritmo, melodia, textura e interpretação) e na sua ‘forma’
(em especial, a forma sonata).
Estilística
b) Marchas – as marchas tinham dois sentidos fundamentais no século XVIII, poderiam ter o
mesmo sentido das danças ou ter um caráter mais cerimonial. Este último era utilizado
para as entrées, ou seja, para abrir ocasiões cerimoniosas, como abertura de apresentações
dramáticas (teatro e ópera) ou de espetáculos de dança, ou para introduzir cenas de dança
nas óperas. Muitos movimentos iniciais de sinfonias e concertos apresentam as
características próprias da marcha, como ocorre na Sinfonia Júpiter de Mozart.
a) Stile Ecclesiastico (ou musica da chiesa) – cujas características principais são: serenidade,
razão de ser, prece, contrição.
b) Stile Cammerali – que tem por características o estilo galante, a representação do prazer e
um caráter artificioso e inventivo. Na França, este estilo se expressa principalmente
através do:
Style Galant (associado tanto ao teatro quanto à música de câmara) – Características:
elaboração melódica abundante, articulação formal clara e direta por meio de pausas e
cesuras, divisão das tonalidades por modulações e transições, utilização de elementos
rítmicos diferenciados, evita relações complexas na estrutura, harmonia mais simples,
destaque para a linha melódica principal, com as vozes inferiores servindo somente como
acompanhamento (melodia acompanhada). Utilizado especialmente em obras vocais (ária,
coro), música de dança, introduções (aberturas), estilo concertante, sonatas e sonatinas.
c) Stile Theatrali – oriundo da ópera, este estilo utiliza todos os ‘tópicos de expressão’ para
representar musicalmente as diversas situações cênicas exigidas pelos libretos.
dubitatio (incerteza, movimento inesperado), ellipsis (pausa no lugar de uma nota), epiphora
(repetição de uma frase após material intermediário como um final de uma linha – rima),
epistrophe (repetição de uma idéia), exordium (introdução), gradatio (clímax, seqüência),
narratio (apresentação, exposição), parenthesis (inserção, interpolação), periphrasis
(circunlocução, utilização de várias notas em pontos em que somente uma seria necessária),
peroratio (conclusão), propositio (exposição ou reexposição), repercussio (reexposição ou
contra-exposição – não repetição), repetitio (repetição), variatio (variação), versetzung
(reexposição de uma figura em outro grau – transposição), Wiederschlag (contra-exposição
ou reexposição), wiederkehr (reexposição), zergliederung (interrupção de uma figura ou
idéia).
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55
Conceitos retirados especialmente de: KRAUSE, Christian Gottfried. Von der musikalischen poesie, 1752.
56
Conceitos retirados especialmente de: KIRNBERGER, Johann Philipp. Die kunst der Reien Satzes, 1771.
81
Ex. 16: L. Ratner, análise da parte I da introdução do primeiro movimento da Sinfonia de Praga de Mozart
83
Ex. 17: L. Ratner, análise da parte II da introdução do primeiro movimento da Sinfonia de Praga de Mozart
Tópico Compassos
1. Estilo cantante, alla breve 37-40
1. Estilo Brilhante, culto 41-42
2. Fanfarra I 43-44
3. Estilo cantante, culto 45-48
4. Alla breve, estilo brilhante 49-50
5. Estilo brilhante, culto 51-54
6. Estilo brilhante, stile legato modificado 55-62
7. Fanfarra II 53-65
8. Estilo brilhante 66-68
9. Floreio cadencial (novo material) 69-70
10. Estilo cantante 71-74
11. Alla breve, estilo brilhante 75-76
12. Estilo culto, brilhante, alla breve 77-87
13. Sturm und Drang 88-94
14. Estilo cantante, depois um trecho em estilo culto 95-120
84
6. BIBLIOGRAFIA
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