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Mestrado em Relações Interculturais

Paradigmas Teóricos: Migrações e Multiculturalidades (42001)

Docente: Professora Doutora Ana Paula Beja Horta

Ano letivo: 2020/2021

Aluna: Nidia Maria Carreira Ponte

N.º: 802627

Tema: Mobilidade Humana e Dinâmicas Transnacionais. O que há de novo?


A globalização veio alterar o contexto das migrações. As novas tecnologias e os
transportes (Castles, 2005, p. 43) “permitem fluxos mais frequentes e multidirecionais de
pessoas, de ideias e de símbolos culturais.” De uma forma geral, a mobilidade populacional
transfronteiriça está de entrelaçada a outros fluxos que compõem a globalização. Também,
uma das principais forças de transformação social do mundo contemporâneo são as
migrações. Estes dois fatores fazem da globalização (Castles, 2005, p. 44) “um elemento
vital para a compreensão das causas e das características das migrações internacionais, bem
como os processos de instalação e de transformação social a que dão origem.
Para se compreender o papel sistémico das migrações nas sociedades modernas, é
necessário compreender e analisar as características específicas das migrações no contexto
da globalização. Esta não é apenas um fenómeno económico, também, diz respeito aos
fluxos de ideias, de produtos culturais e de pessoas. Exemplos deste são as organizações
intergovernamentais, as empresas transnacionais e as organizações não governamentais.
Nos finais do século XX havia dois modelos primordiais de migração: o da instalação
definitiva ao qual se associava assimilação do imigrante na sociedade de acolhimento; e da
migração temporária, na qual o trabalhador permanece por um período limitado e mantém
as suas relações afetivas com o seu país de origem. Estas duas formas tinham em comum a
perspetiva de que nas sociedades de acolhimento não houvesse grandes transformações
significativas. No entanto, em contexto de globalização essas expectativas deixam de ter a
sua validade.
Atualmente, existe uma grande percentagem de migrações e devido aos novos
desenvolvimentos nas tecnologias de informação e transportes, permitem que os migrantes
se movam mais facilmente, se organizem tendo por referência duas ou mais sociedades, e
desenvolvem comunidades e consciências transnacionais. Ainda, devido ao aumento do
volume das migrações, torna-se difícil, para os Estados de distinguir a migrante com elevada
qualificação e que, por isso têm interesse, dos migrantes “indesejáveis” ao Estado, por não
terem qualificações Por último torna-se numa tarefa árdua controlar as migrações, pois são
processos sociais dinâmicos, sustentados por redes sociais desenvolvidas pelos próprios de
forma a humanizar e a lidar com a experiência migratória.
A possibilidade da reunião familiar, a permanência definitiva e os direitos sociais que
os estados democráticos oferecem aos seus imigrantes, são fatos decisivos para que estes se
estabeleçam, criando associais culturais, locais de culto, lojas especializadas e até escolas

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(ex. Colégio Islâmico de Palmela). Neste sentido a entidade nacional deixa de poder ser
pensada como englobante e homogénea, passado a ter um caráter multicultural. Necessita de
uma identificação dos principais grupos humanos que contribuíram para formá-la e
sobretudo um reconhecimento das relações de força que entre eles teceram-se ao longo do
tempo.
Mas o multiculturalismo não é o único sinal de mudança, a par surge o
transnacionalismo e as comunidades transnacionais. O primeiro pode-se definir como um
processo pelo qual os imigrantes constroem campos sociais que conectam o seu país de
origem ao seu país de acolhimento. As comunidades transnacionais (Castles, 2005, p. 68)
“são grupos baseados em dois ou mais países, envolvidos em atividades transfronteiriças
significativas, recorrentes e duradouras, que podem ser de natureza económica, política,
social ou cultura”. As migrações transnacionais dão lugar a relações multilocalizadas que
atravessam fronteiras dos Estados, dando origem a formas sociais particulares e
diversificadas. Consequentemente o transmigrante é uma pessoa que cruzando fronteiras,
estabelece ligações sociais, familiares, políticas, económicas e religiosas em dois ou mais
estados.
As comunidades transnacionais podem-se organizar de duas formas. A primeira é
fechada, não estabelecem relações com a comunidade em que estão inseridos e em vez disso
estreitam laços transnacionais, poderá dizer que têm um caráter discriminativo. A segunda é
a cosmopolita que tem a característica de multiculturalismo e como tal criam laços locais e
transnacionais, obtendo (Castles, 2005, p. 89) “benefícios em termos de abertura cultural e
de oportunidades económicas.”
Para Levitt & Schiller (2010) relaciona as migrações transnacionais com a conceção
de “campo social”. E migrante relaciona-se não numa comunidade transnacional, mas num
campo social. Este é delimitado não por fronteiras das nações, mas pelos países com os quais
ele se relaciona. Assim, “definimos campo social como um conjunto encadeado de múltiplas
redes de relações sociais através das quais se trocam, organizam e transformam, de forma
desigual, ideias, práticas e recursos”.
As formas como os indivíduos se relacionam nesse campo social pode ser como
“pertença”, ou seja, ele pratica ou aciona “uma identidade que acusa uma ligação consciente
a um grupo particular”, por exemplo, usar um “hijab” demonstra especificamente a sua
religião. A outra forma é de “existência”, implica práticas sociais efetivas. Diferente da

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anterior, por exemplo, um indivíduo inserido numa “comunidade muçulmana”, mas por
viver nela não significa que se identifique com a cultura ou a política. Se a comunidade for
maioritariamente de origem indiana e o indivíduo for marroquino, haverá de certeza muitas
diferenças e o único elo será a religião. Por isto ele não terá o sentimento de pertença, mas
apenas de existência.
Em suma a globalização trouxe muitas mudanças na migração. A mobilidade humana
é feita de uma forma mais rápida, devido aos novos meios de transportes e comunicações,
possibilitando os fluxos mais dinâmicos. Surgem novas modalidades de migração e o
ressurgimento de outras. Os processos de assimilação que existiam nos países recetores já
não fazem sentido, perante os novos transmigrantes. É necessário repensar em novas
políticas de migração, as quais tragam vantagens para ambas as partem e promovam a
multiculturalidade.

Castles, S. (2005). Globalização, Transnacionalismo e Novos Fluxos Migratórios. (F.


Ágoas, Trad.) Lisboa: Fim de Século.
Levitt, P., & Schiller, N. G. (2010). Conceptualizar a simultaneidade: uma visão da
sociedade assente no conceito de campo social transnacional. Em M. M. (Coord.), Estado-
Nação e Migrações Internacionais (pp. 28-61). Lisboa: Livros Horizonte.

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