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O Crepúsculo da Folha: uma defesa consistente do

austro-libertarianismo como a anarquia verdadeira!


Por Diversos Autores -20/08/2019
[Artigo-resposta à matéria da Folha de S. Paulo “Anarquismo ultraliberal é só uma moda, dizem
pesquisadores“, 2019.]

INTRODUÇÃO

É deveras curioso que muitas vezes a intenção dos nossos atos não se confirma na realidade.
Muitas vezes ao performarmos determinadas ações temos como resultantes os efeitos que
visamos eliminar com a própria ação. A Folha de São Paulo ao vociferar que anarcocapitalismo
é apenas uma moda passageira, e que não tem nada de anarquista em um texto com pretensões
acadêmicas abriu passagem para um artigo como esse ser possível. E isso é tão emblemático
justamente pela dificuldade do acesso anarcocapitalista na mídia, na academia e no discurso em
geral.

O anarcocapitalismo é a filosofia política do século XXI, e mais ainda é o próprio Zeitgeist do


século. A luta pela liberdade é a luta que vale a pena ser lutada, o conflito de ideias é uma
dialética entre conceitos libertários extremamente objetivos contra conceitos extremamente
subjetivos e relativos em si mesmos. E essa é uma guerra que começa justamente em textos
como esse aqui.

QUE NOS PERDOE O PAN-ANARQUISMO

Um dos maiores homens que já viveu foi Karl Hess. A opção por começar o texto com ele foi
complicada tendo em vista que temos nomes mais representativos do libertarianismo do que
ele como Murray Rothbard e Hans-Hermann Hoppe. O motivo pelo qual optamos por tal foi
justamente o fato de que foi um dos primeiros colegas de Rothbard e foi co-editor no Left and
Right durante toda a sua publicação e se destacou pelo seu incrível conhecimento em
anarquismo. Vamos ver o que Karl Hess tem a dizer sobre o Anarquismo em seu texto
Anarquismo sem Hífens:
O anarquismo não é normativo. Ele não diz como ser livre. Ele apenas diz que a liberdade, como
tal, pode existir (1980).

Ademais, foi completado pelo autor:

Mas o anarquismo não é um movimento ideológico. É uma afirmação ideológica. Ele diz que as
pessoas possuem a capacidade de serem livres. Ele diz que todos os anarquistas querem
liberdade. E depois ele se cala. Após a pausa desse silêncio, os anarquistas armam o palco de
suas próprias comunidades e história e proclamam a sua ideologia, e não a anarquista – eles
dizem de que forma, como anarquistas, irão realizar acordos, descrever eventos, celebrar a vida,
trabalhar. O anarquismo é uma ideia-martelo, destruindo as correntes. A liberdade é o que
resulta e, em liberdade, o restante cabe às pessoas e suas ideologias. Não cabe à ideologia. O
anarquismo diz, com efeito, que não há uma ideologia dominante, com letras maiúsculas. Ele
diz que as pessoas que vivem em liberdade tomam suas próprias decisões e realizam seus
próprios negócios nela e através dela (HESS, 1980).

E suas conclusões são simplesmente encantadoras:

A liberdade, finalmente, não é uma caixa dentro da qual as pessoas devem caber. A liberdade é
um espaço dentro do qual elas podem viver. Ela não diz como elas irão viver. Ela diz,
eternamente, apenas que nós podemos (HESS, 1980).

Karl Hess quer traçar aqui a linha simples e linear de que o mundo em si mesmo assume um
dualismo entre liberdade e coerção e recupera o forte sentido de voluntarismo atrelado à
liberdade consistente na própria concepção das vias anarquistas. Vamos revisitar a história
anarquista e ver se de fato assiste razão ao alegado por Hess. E quem vai nos levar nessa viagem
será justamente Murray Rothbard em seu famigerado “Libertários são anarquistas?”:

Em primeiro lugar, não existe um significado totalmente consensual para o termo “anarquismo”.
O cidadão comum pode achar que sabe o que ele significa, principalmente que é algo ruim, mas
na verdade ele não sabe. Nesse sentido, o termo se tornou algo parecido com a deflorada
palavra “liberal”, exceto pelo fato de que esta última traz “boas” conotações para as emoções
do cidadão comum. As praticamente insuperáveis distorções e confusões sobre o termo vieram
tantos dos oponentes como dos aderentes do anarquismo. Os oponentes distorceram
completamente as doutrinas anarquistas e fizeram várias acusações falaciosas; os aderentes se
dividiram em inúmeros campos de batalha, seguindo filosofias políticas que são literalmente tão
díspares quanto comunismo e individualismo. A situação se tornou ainda mais confusa pelo fato
de que, frequentemente, os vários grupos anarquistas não percebiam os enormes conflitos
ideológicos entre eles (2008).

Temos aqui então a constatação clara de Rothbard de que essa será uma tarefa difícil, que a
origem etimológica do argumento foi deturpada ao longo dos séculos e que isso foi fruto tanto
de uma conotação ideológica cada vez maior de uma afirmação ideológica direta.

A grande dificuldade em qualquer análise sobre o anarquismo é que o termo abrange doutrinas
totalmente conflitantes. A raiz da palavra é o termo anarche, que significa oposição à autoridade
ou a ordens. Essa definição é suficientemente ampla para abranger um conjunto de diferentes
doutrinas políticas. No geral, essas doutrinas foram amontoadas em conjunto e definidas como
“anarquistas” por causa de sua hostilidade conjunta à existência do estado, esse ente que tem
o monopólio coercitivo da força e da autoridade. O anarquismo surgiu no século XIX e, desde
então, a mais ativa e dominante doutrina anarquista tem sido o “anarquismo comunista”. Essa
é apenas uma das definições de uma doutrina que também já foi denominada de “anarquismo
coletivista”, “anarco-sindicalismo”, e “comunismo libertário”. Podemos chamar esse conjunto
de doutrinas associadas de “anarquismo de esquerda”. O comunismo anarquista é
primordialmente de origem russa, forjada pelo príncipe Peter Kropotkin e por Mikhail Bakunin,
e é essa forma que deu as conotações do “anarquismo” por todo o continente europeu
(ROTHBARD, 2008).

Agora reconhece-se o anarquismo tal como mensurado pelos autores da Folha, um anarquismo
mais à esquerda, voltado para o coletivo. Vou entretanto dar uma pausa na elucidação de
Rothbard para defender Bakunin. Diferente do que se pode imaginar, Bakunin era um grande
admirador do lado livre mercadista de Proudhon:

Proudhon: filho de um camponês e por natureza e instinto cem vezes mais revolucionário que
os socialistas doutrinados e burgueses, se armou de uma crítica tão profunda e penetrante como
implacável, para destruir todos os sistemas deles. Impondo à liberdade à autoridade contra
esses socialistas de estado, se proclamou atrevidamente anarquista, e, na essência do seu
deísmo e panteísmo, teve a coragem de se declarar simplesmente ateu. Seu socialismo, fundado
na liberdade tanto individual como coletiva, na ação espontânea das livres associações, não
obedecendo a outras leis gerais da economia social, descobertas ou a descobrir pela ciência, a
margem de toda regulamentação governamental e de toda proteção do estado, subordinando,
por outro lado, a política aos interesses econômicos, intelectuais e morais da sociedade, deveria
mais tarde, e por uma consequência necessária, chegar ao federalismo (BAKUNIN, 2011).

Deve-se deixar claro que a ruptura com princípios de livre mercado acontece apenas após
Kropotkin, um fato que passou despercebido até mesmo para Rothbard. Ainda assim, o
fenômeno da unidade coletiva é conhecida em Bakunin e há quem diga que dá origem a
considerações ainda mais coletivistas depois. Ainda assim, tudo o que se quis salientar aqui é a
prevalência de um termo anarquista mais neutro até mesmo em Bakunin.

A principal característica do anarquismo comunista é que ele ataca a propriedade privada tão
vigorosamente quanto ataca o estado. O capitalismo é considerado, “no campo econômico”,
uma tirania tão perversa quanto o estado, no campo político. O anarquista de esquerda odeia o
capitalismo e a propriedade privada com um fervor que talvez seja maior até do que o do
socialista ou comunista. Assim como os marxistas, o anarquista de esquerda está convencido de
que os capitalistas exploram e controlam os trabalhadores, e que os latifundiários estão
invariavelmente explorando os camponeses. A concepção econômica dos anarquistas os coloca
frente a um dilema crucial, o pons asinorum da anarquia esquerdista: como que o capitalismo e
a propriedade privada podem ser abolidos, enquanto o estado é abolido ao mesmo tempo
(ROTHBARD, 2008)?

Após essa consideração e especificação acerca de um tipo específico de anarquista, Rothbard


constata que há sim a superação ideológica mas não sem antes demonstrar de que forma o
próprio significado da palavra anarquia é totalmente deturpado pela superação da doutrina anti-
propriedade:

Os principais anarquistas, particularmente na Europa, sempre foram da variedade esquerdista,


e hoje os anarquistas estão todos exclusivamente na esquerda. Adicione a isso a tradição de
violência revolucionária gerada na Europa, e não haverá surpresa alguma no fato de o
anarquismo ter má reputação. O anarquismo foi politicamente muito poderoso na Espanha, e
durante a Guerra Civil espanhola os anarquistas criaram comunas e organizações coletivistas
que exerciam uma autoridade coerciva. Uma de suas primeiras medidas foi abolir o uso do
dinheiro, sendo que quem desobedecesse seria punido com a morte. Parece que o suposto ódio
anarquista à coerção foi bem distorcido. E a razão era a insolúvel contradição entre as doutrinas
anti-estado e anti-propriedade do anarquismo de esquerda (ROTHBARD, 2008).
Rothbard reconhece que isso não poderia estar mais longe do austro libertarianismo e aponta
então que se isso é anarquismo, as consequências só poderiam ser essas:

Logo, considerando que esses anarquistas são os tipos predominantes, é óbvio que a pergunta
“os libertários são anarquistas?” deve ser respondida com um não resoluto. Estamos em pólos
completamente opostos. (ROTHBARD, 2008).

E então levanta a existência de uma parcela significativa de anarquistas que não partilha dessas
contradições lógicas, individualistas em si mesmos:

Entretanto, a confusão ocorre por causa da existência, no passado, particularmente nos EUA, de
um pequeno, porém brilhante, grupo de “anarquistas individualistas” liderados por Benjamin R.
Tucker. Agora estamos falando de uma classe diferente. Os anarquistas individualistas fizeram
grandes contribuições para o pensamento libertário. Eles forneceram algumas das melhores
declarações sobre o individualismo e o anti-estatismo já escritas. Na esfera política, os
anarquistas individualistas eram, em geral, sólidos libertários. Eles defendiam a propriedade
privada, louvavam a livre concorrência, e se opunham à todas as formas de intervenção
governamental (ROTHBARD, 2008).

Rothbard então passa a tratar com afinco sobre os erros e acertos da teoria anarcoindividualista,
primeiro na área política:

Já politicamente, esses anarquistas ao estilo Tucker tinham dois defeitos fundamentais: (1) eles
não defenderam a posse privada da terra além daquela parte que o proprietário usava
pessoalmente; (2) eles confiavam muito nos júris e, assim, foram incapazes de perceber a
necessidade de um corpo de leis constitucionais libertárias as quais os tribunais privados teriam
que defender (ROTHBARD, 2008).

Depois na área econômica:

A ironia dessa situação é que, enquanto os anarquistas individualistas davam grande ênfase às
suas teorias ilógicas sobre o sistema bancário, a ordem política que eles defendiam iria gerar
resultados econômicos diretamente contrários aos que eles queriam. Eles pensavam que um
sistema bancário totalmente desregulamentado levaria a uma expansão indefinida da oferta
monetária, sendo que a verdade é precisamente o oposto: levaria a um hard money e à ausência
de inflação. As falácias econômicas dos seguidores de Tucker, no entanto, são de uma ordem
completamente diferente daquela dos anarquistas coletivistas. Os erros dos coletivistas os
levaram a praticamente advogar o comunismo, ao passo que os erros econômicos dos
individualistas ainda os permitiram advogar um sistema quase libertário. Uma análise mais
superficial pode facilmente levar a uma confusão entre os dois sistemas, porque os
individualistas foram levados a atacar os “capitalistas”, os quais eles pensaram estar explorando
os trabalhadores através da restrição da oferta monetária praticada pelo estado. Esses
anarquistas “de direita” não caíram na bobagem de dizer que o crime iria desaparecer em uma
sociedade anarquista. Entretanto, eles realmente tendiam a subestimar o problema da
criminalidade e, como resultado, nunca reconheceram a necessidade de uma constituição
libertária permanente. Sem uma constituição desse tipo, o processo judiciário privado poderia
se tornar realmente “anárquico”, no sentido popular do termo (ROTHBARD, 2008).

E então segue demonstrando como a deturpação histórica fez liberais mais radicais rejeitarem
a própria adoção da palavra anarquista, ainda que não fossem liberais propriamente ditos:

A ala anarquista que era seguidora de Tucker prosperou no século XIX, mas foi desaparecendo
até a Primeira Guerra Mundial. Muitos pensadores daquela Era Dourada do liberalismo estavam
trabalhando em doutrinas que eram similares em muitos aspectos. Esses libertários genuínos,
no entanto, nunca se referiram a si próprios como anarquistas; a razão principal disso
provavelmente era o fato de que todos os grupos anarquistas da época, mesmo os de direita,
tinham doutrinas econômicas socialistas em comum (ROTHBARD, 2008).

Então Rothbard se presta a responder se afinal somos ou não somos anarquistas levando em
consideração a formatação atual do termo:

Devemos então concluir que a pergunta “os libertários são anarquistas?” simplesmente não
pode ser respondida em bases etimológicas. A imprecisão do termo é tal que o sistema libertário
seria considerado anarquista por algumas pessoas e arquista por outras. Por isso, devemos
recorrer à história em busca de iluminação; e aí descobriremos que nenhum dos declarados
grupos anarquistas corresponde a uma posição libertária, e que mesmo os melhores deles têm
elementos irrealistas e socialistas em suas doutrinas. Além disso, descobriremos que todos os
atuais anarquistas são coletivistas irracionais, estando portanto em pólos opostos aos nossos.
Assim, devemos concluir que nós não somos anarquistas, e que aqueles que nos chamam de
anarquistas não se baseiam em uma etimologia séria, e estão historicamente errados. Por outro
lado, fica claro que também não somos arquistas: não defendemos a criação de uma autoridade
central tirânica que irá coagir tanto os não-agressores como os agressores. Talvez, então,
devemos nos classificar com um termo novo: não-arquistas. E, então, quando estivermos no
combate e o inevitável desafio “você é um anarquista?” surgir, poderemos, talvez pela primeira
e última vez, nos darmos ao luxo de “ficar em cima do muro” e dizer: “Senhor, eu não sou nem
anarquista e nem arquista; estou me equilibrando em cima de um muro não-arquista
(ROTHBARD, 2008).

O conflito então poderia ser resolvido e esse artigo respondido afirmando que de fato não
somos anarquistas se anarquismo significar comunismo libertário, mas tampouco somos
estatistas e estaríamos no meio do muro. Essa seria uma solução simples e direta do problema,
mas seria desistir de um termo representativo em si mesmo quando, na verdade possuímos a
melhor requisição quanto ao termo, para entender de que forma isso se dá precisaremos
investigar a raiz da luta que se inicia em Proudhon.

A primeira coisa a entender é: de que forma o mesmo homem que diz que propriedade é roubo
seria ele mesmo conectado a um regime que se apoia em propriedade? A resposta está no seu
caráter altamente dialético, ao não perceber que seus conceitos dizem e escutam, muitos
anarquistas se perderam numa cartilha fechada e vazia (VASCONCELLOS, 2017).

Uma das maiores perdas históricas de sentido é a que acredita-se que Proudhon estaria
descrevendo um regime contrário à propriedade privada em si mesma. Devemos entender que
a luta de Proudhon é contra o caráter formalista da propriedade, que seria (como os liberais
intentam) definida pelas normas do estado e faria com que aqueles que têm a propriedade
material de um bem pudessem não ter a propriedade normativamente. Nesse contexto, a
demarcação da propriedade é algo ilícito e que afasta os verdadeiros donos das terras do seu
direito material.

Nos meus primeiros livros, atacando de frente a ordem estabelecida, eu dizia, por exemplo: A
propriedade, é o roubo! Tratava-se de protestar, de por assim dizer colocar em relevo a
deficiência de nossas instituições. Era a única coisa a me ocupar no momento. Além disso, no
livro onde eu demonstrava, por A mais B, essa espantosa proposição, também tinha o cuidado
de protestar contra qualquer conclusão comunista. No livro Sistema de Contradições
Econômicas, após ter lembrado e confirmado minha primeira definição, adicionei uma outra
completamente contrária, porém fundada sobre considerações de outra ordem, que não
podiam nem destruir a primeira argumentação nem ser destruída por ela: A propriedade, é a
liberdade. A propriedade, é o roubo; a propriedade, é a liberdade: essas duas proposições são
igualmente demonstradas e subsistem uma ao lado da outra no [livro] Sistema de Contradições
(PROUDHON, 1849, p.122).

E ainda sobre a propriedade ser liberdade:

Para que o cidadão seja qualquer coisa dentro do Estado, não basta que seja livre em sua pessoa;
é preciso que sua personalidade se apoie, como a do Estado, sobre uma porção de matéria que
ele possui em toda soberania, como o Estado possui a soberania do domínio público. Esta
condição é preenchida pela propriedade. Servir de contra-peso ao poder público, equilibrar com
o Estado, por esse meio assegurar a liberdade individual: essa é então, no sistema político, a
função principal da propriedade. Elimine esta função ou, o que dá no mesmo, retire da
propriedade o caráter absolutista na qual a conhecemos e que a distingue; impunha a ela
condições, declare-a intransferível e indivisível: imediatamente ela perde sua força; ela não pesa
mais nada; ela torna a ser um simples benefício autorizado; uma dependência do governo, sem
ação contra ele (PROUDHON, 1866, p.168).

E sobre a defesa absoluta à propriedade como conceito material ser a única forma correta de se
mensurar qualquer conceito de resistência ao estado:

“Do princípio que a propriedade, irreverente quanto ao príncipe, rebelde à autoridade,


anárquica enfim, é a única força que poderia servir de contra-peso ao Estado, advém este
corolário: que a propriedade, absolutismo dentro de um outro absolutismo, é ainda para o
Estado um elemento de divisão. O poder do Estado é um poder de concentração; dê-lhe a vazão,
e toda a individualidade logo desaparecerá, absorvida na coletividade; a sociedade tomba no
comunismo; a propriedade, ao contrário, é um poder de descentralização, porque ela mesma é
absoluta, ela é anti-despótica, anti-unitária; nela está o princípio de toda federação: e é por isso
que a propriedade, autocrática por essência, transportada a uma sociedade política, ela se torna
republicana (PROUDHON, 1866, pg 144).

E por último, mas não mesmo importante:


O que eu buscava, em 1840, definindo a propriedade, o que eu quero hoje, não é a destruição,
eu o disse à exaustão: teria sido cair com Rousseau, Platão, Louis Blanc ele mesmo e todos os
adversários da propriedade, no comunismo, contra o qual eu protesto de todas as minhas forças;
o que eu exijo para a propriedade é uma balança. Não é à toa que o espírito dos povos armou a
Justiça com este instrumento de precisão. A Justiça, com efeito, aplicada à economia, não é
outra coisa que uma balança perpétua; ou, para me exprimir de uma maneira ainda mais exata,
a Justiça, no que concerne à repartição dos bens, não é outra coisa que a obrigação imposta a
todo cidadão e à todo Estado, nas suas relações de interesses, de se conformar à lei de equilíbrio
que se manifesta em toda a economia, e cuja violação, acidental ou voluntária, é o princípio da
miséria. Os economistas fazem supor que não é prerrogativa da razão humana intervir na
determinação deste equilíbrio, que deve-se deixar os braços da balança oscilar sem ajuda, e
seguí-los passo a passo nas nossas operações. Eu sustento que é lá uma ideia absurda; que tanto
valeria oferecer uma reprimenda à Convenção Nacional de ter reformado os pesos e medidas,
pela razão que, não conhecendo o metro usado por Deus para organizar o mundo, o mais seguro
seria deixar cada um escolher uma medida arbitrária. Liberdade de pesos e medidas! é a
consequência do livre comércio. Este precioso corolário escapou à apreciação de Bastiat
(PROUDHON, 1868).

Amparado em dois gigantes, Vasconcellos e Proudhon, afirmo claramente que a propriedade


em termos austro libertários é propriedade material legítima tal como afirmava Proudhon e mais
ainda, a bússola de um mundo de liberdade. Sendo assim, a própria visão do anarcocapitalismo
como liberdade se perfaz e será exposta ao longo do artigo, daqui se espera provar que somos
os verdadeiros herdeiros desse termo.

A QUESTÃO DAS DEFINIÇÕES

Para este ponto, teremos de adentrar nas relações entre os conceitos de capitalismo e estado
[2]. Mas entenda: o que será inicialmente feito aqui não será uma exposição especificamente
quanto ao conteúdo (a compreensão) dos dois conceitos (isso seria um encargo da economia),
mas, sim, estritamente quanto às relações entre eles (que, por sua vez, é tarefa da lógica e da
matemática). Para tal propósito, nos será conveniente representar essas relações formalmente
através da lógica simbólica e ilustrativamente através de diagramas de Venn. Até o fim dessa
breve exposição, espero clarificar as condições suficientes para que a posição defendida pelos
autores do artigo (que será apresentada no próximo parágrafo) seja falseada, assim abrindo
espaço para que os argumentos econômicos austro-libertários satisfaçam tais disposições.
A ser exposto inicialmente, a tese dos autores da Folha, em suas próprias palavras, é que “estado
e capitalismo estão intimamente relacionados e se mantêm mutuamente”. Como explicado,
caso haja capitalismo, então haverá estado; reciprocamente (pois, se mantêm “mutuamente”),
caso haja estado, haverá capitalismo. Para eles, a abolição do estado viria em conjunto da
abolição do capitalismo. Ora, para aqueles familiarizados com lógica fica claro que isso se trata
de uma relação necessária de bicondicionalidade entre os conceitos, sendo formalmente
expresso por ◻∀x(Cx↔Ex) (com Cx sendo “x é capitalista” e Ex algo como “x tem um estado”).
Assim, torna-se igualmente claro que a extensão (isto é, o conjunto de objetos ao qual o conceito
se aplica) de “capitalismo” (o conjunto C) seria necessariamente a mesma extensão de “estado”
(conjunto E); em outras palavras, que esses dois conjuntos têm sempre os mesmos elementos,
e são iguais (isto é, C=E, vide axioma da extensão).

Evidentemente, tal posição é contraditória com o núcleo do anarcocapitalismo a partir do


momento que afirma a impossibilidade da existência de um indivíduo que pertença a C
(“capitalismo”), mas não a E (“estado”), expresso por ¬⋄∃x(Cx∧¬Ex). Pelo contrário, o austro-
libertarianismo defende que é plenamente possível que o conjunto que diz a respeito do estado
(o conjunto E) seja apenas um subconjunto contido no conjunto maior do capitalismo (o
conjunto C), e, para além disso, que futuramente talvez o próprio subconjunto E seja vazio (E=∅),
viz, que não haja mais estado, mas apenas capitalismo. Ilustrativamente, essas duas posições
contraditórias seriam representadas por:

Na esquerda, a tese do artigo da Folha; na direita, a posição austro-libertária.

Como dito anteriormente, o que quero deixar claro neste texto são as condições para que a
posição defendida pelos autores da Folha sejam falseadas. Aqui, haveria dois caminhos, mas
apenas um deles é defendido pelos austro-libertários. O primeiro deles seria demonstrar a
possibilidade de um estado não-capitalista, que é o que diversas ideologias, como o socialismo
aos moldes marxista (que difere do socialismo libertário), defendem. Este iremos descartar;
acreditamos que sem um arranjo baseado na propriedade privada não há a possibilidade de
qualquer realidade econômica, o que inevitavelmente culminaria na ruína do estado. Pois bem,
esse argumento será melhor desenvolvido nos próximos pontos.

Já o segundo seria demonstrar a possibilidade de um capitalismo sem estado ou, negativamente,


ratificar que não existe necessidade, seja ela econômica, social ou cultural, entre o capitalismo
e o estado. Que os dois conceitos, apesar de poderem aparecer juntos, não necessariamente o
fazem. Na diagramação acima, da direita, isso seria expresso por um elemento fora do conjunto
vermelho E e dentro do conjunto azul C. E, com isso, finda-se a tarefa puramente da lógica
(MORTARI, 2016). Doravante, será um empreendimento principalmente econômico demonstrar
que a existência de tal elemento é possível e que “defender o primado do capital” (nas palavras
dos autores) não implica aceitar qualquer forma de estado. É o que será feito ao longo deste
artigo.

A POSSIBILIDADE E A SINGULARIDADE DE UM ANARQUISMO CAPITALISTA

O ponto central do artigo publicado na revista Folha é que a junção de dois termos, anarquismo
e capitalismo, é errada, e por isto o conjunto de ideias dos anarcocapitalistas é inconsistente
com a própria ideia e história do anarquismo.

Nas palavras do próprio autor: “A associação entre anarquia e capitalismo, ausência de Estado
e manutenção da propriedade —privada ou estatal— só pode ser defendida por má-fé ou por
incompreensão dos conceitos de Estado e de capitalismo”

Para chegar a esse raciocínio é necessário se ater aos termos citados durante o discorrer do
artigo:

Capitalismo: regime da propriedade.


Estado: é a propriedade de um território que substitui a comunidade deste, substitui ao
mesmo tempo que a coloca sob seu jugo.
Anarquia: ausência de governo (Estado).
Desta forma ao se declarar anarquista não é possível se dizer capitalista, pois ao rejeitar um
necessariamente irá rejeitar outro. Além disto, os autores ainda escreveram:
Eis que, mais uma vez, forças políticas se interpõem, agora não para desqualificar os anarquistas,
mas num esforço de se apropriar de parte de suas ideias e palavras. A associação dos
anarquismos com o ultraliberalismo é uma apropriação arbitrária de elementos deslocados de
contexto; é, na verdade, uma confusão deliberada, que desconsidera características próprias
das práticas anarquistas

Partindo destes termos e do parágrafo citado acima, irei sintetizar o pensamento em uma forma
de polissilogismo:

Todo aquele que defende o capitalismo defende a existência do estado.

Anarcocapitalistas defendem o capitalismo.

Logo, anarcocapitalistas defendem a existência do estado.

Anarcocapitalistas defendem a existência do estado.

Anarquistas não defendem a existência do estado.

Logo, anarcocapitalistas não são anarquistas.

Previamente é necessário classificarmos e explicitar os conceitos verdadeiros por trás da teoria


austro-libertária. É uma lástima que os autores do artigo da Folha sequer tenham comentado
sobre os fundamentos da teoria anarcocapitalista, nem sequer traçaram parâmetros que
pudessem levar o debate mais adiante, apenas nos atacaram com conceitos que não são
defendidos por nós, basicamente iniciaram um debate semântico acerca destes termos,
tentaremos elucidar posteriormente os conceitos que abrangem a nossa teoria e em
contraparte atacar e determinar de uma vez por todas, o porquê de o anarcocapitalismo ser a
verdadeira anarquia.

Algo recorrente aos anarquistas modernos e clássicos é a ideia de que anarquismo


necessariamente implica na inexistência do estado e da propriedade privada. Ao rejeitar a
propriedade privada estes anarquistas entram em contradição, pois como poderia um coletivo
comandar a propriedade comunal sem que este mesmo se torne um grande estado? O
capitalismo sendo o sistema de livre mercado, onde os indivíduos podem alocar seus recursos
da maneira que acharem melhor, trocar entre si, se apropriar e criar novos recursos, ele passa
a ser o único sistema realmente compatível com a ideia de liberdade, neste sentido o capitalismo
se torna a expressão mais completa do anarquismo e vice-e-versa.

Entretanto o ponto do anarcocapitalismo é a existência da propriedade privada sem a existência


de um estado sendo justificado primariamente com o Princípio de Não Agressão (PNA) feito pelo
autor Murray Newton Rothbard em sua obra “A Ética da Liberdade” e posteriormente este
argumento será aprimorado pelo autor Hans-Hermann Hoppe em seus diversos tratados sobre
a Ética Argumentativa Hoppeana onde se existe propriedade privada é possível a existência de
um regime baseado nisto, nominalmente, capitalismo.

A liberdade, para o anarcocapitalista, pode ser descrita como o direito do indivíduo colocar sua
vontade em prática, o direito de agir e de alocar seus próprios recursos e seu corpo da maneira
que o mesmo achar que maximize sua satisfação, desde que não interfira ou agrida a
propriedade de outrem. O direito à livre associação e secessão, o respeito mútuo a propriedade
alheia, em poucas palavras a liberdade é o direito do indivíduo fazer o que bem entender desde
que não cause externalidades a terceiros. O estado, a instituição mais perversa já criada, é a
própria antítese da ideia de liberdade, como diria Murray Rothbard:

O estado é uma organização que possui uma ou ambas (na realidade, via de regra ambas) das
seguintes características: (a) adquire seus rendimentos através de coerção física (impostos); e
(b) exerce um monopólio compulsório do uso da força e do poder de tomada de decisões finais
em uma determinada extensão territorial. Estas duas atividades essenciais do estado
necessariamente constituem agressão criminosa e devastação dos justos direitos de
propriedade privada de seus súditos (incluindo a autopropriedade). Pois a primeira institui e
organiza roubo em uma enorme escala; enquanto a segunda proíbe a livre competição de defesa
e de agências de tomadas de decisões dentro de uma determinada extensão territorial –
proibindo a compra e venda voluntária de serviços judiciais e de defesa (ROTHBARD, 2009, p.
244).

Portanto, não se segue que o anarcocapitalismo não é anarquista por defender o capitalismo.
Todo o argumento que leva a nossa teoria ao anarquismo vem do fato da rejeição ao estado,
pois sua mera existência implica na agressão sistemática a propriedade privada alheia, por meio
de impostos e do monopólio compulsório da defesa e do uso da força sobre determinado
território.

DEFINIÇÕES DE CAPITAL

Foi citado no artigo que “defender o primado do capital implica aceitar uma forma de estado”.
Para este contrapor este ponto, é preciso elucidar o que é “capital”. John Hicks, um dos grandes
economistas do século XX (embora seja da tradição keynesiana), agrupou os diversos pontos de
vista sobre o capital em duas amplas correntes.

De um lado, há os materialistas, que veem o estoque de capital como um conjunto de bens


físicos, como máquinas, equipamentos, construções, etc. De acordo com esta visão, duas
economias que possuam estoques de capital idênticos em termos físicos, têm também o mesmo
“volume de capital”. Trata-se, como podemos perceber, de uma concepção de capital holística
sob o ponto de vista filosófico que, aplicada à economia, resulta em uma abordagem
essencialmente macroeconômica. De outro lado, há os fundistas, como Irving Fisher, que
definem capital como todos os ativos que têm capacidade de gerar fluxos de rendimentos para
os seus proprietários ao longo do tempo e valor do capital como o valor atual, ou fundo,
associado a esses fluxos. (Hicks, 1939)

Já a Teoria Austríaca do Capital (TAC), seguida pelos libertários, não pode ser enquadrada nem
como materialista, nem como fundista: ela rejeita a visão física do capital que caracteriza os
materialistas com base na tese de que, sendo heterogêneo o capital, não é possível somar suas
unidades e, embora seja mais receptiva à abordagem fundista, pelo fato desta reconhecer que
a natureza dos bens de capital está intimamente demarcada pela valoração – isto é, pelas
expectativas quanto aos futuros planos de produção – nega a possibilidade de somar
conjuntamente as correntes de produção futura, de modo a obter-se uma medida do estoque
de capital de uma economia.

Para Böhm-Bawerk, principal autor quando se trata da TAC, o processo produtivo envolve a
passagem do tempo, em que o capital circulante é transformado, estágio após estágio, na
estrutura de produção, até transformar-se em bens de consumo final (bens de primeira ordem,
na nomenclatura mengeriana). Cada bem de capital (etapas intermediárias do processo
produtivo), dentro da estrutura de produção, difere dos demais no que diz respeito ao tempo
em que entra no processo produtivo para a elaboração do bem final. E a taxa de juros é explicada
pelas preferências intertemporais. (Bawerk, 1884)

Como contraponto à crítica levantada pela Folha – de que o “capital” é dependente de um


estado – e, também, para exemplificar a visão austríaca, tomaremos a construção imaginária de
uma economia autística, ou seja, a economia de um indivíduo isolado.

Suponha que Robinson Crusoé pescava três peixes por dia mergulhando para pegá-los com as
próprias mãos e que sua alimentação consistia exclusivamente do pescado que “produzia”. ou
seja, sua “renda real”. Ao final do dia, assava-os e os comia. Suponha agora que ele tivesse
tomado a decisão de, ao invés de comer os três peixes que pescava diariamente, consumir
apenas dois, economizando, portanto, um peixe por dia. Ao cabo de dois dias, teria acumulado
dois peixes, o que lhe garantiria consumo para um dia. Admita que ele gastasse esse dia não
para pescar, mas para construir uma rede tosca, que lhe permitiria pegar, ao invés dos três a
que estava acostumado, uma dúzia de peixes por dia; um resultado superior ao inicial. A
abstinência (ou poupança) seria dada por aqueles dois peixes que deixou de comer durante os
dois dias para que pudesse ter uma reserva de peixes que lhe permitisse passar um dia inteiro
investindo, ou seja, construindo o bem de capital (a rede).

Crusoé consegue genuinamente viver abaixo de suas posses — consumir menos que sua renda
— e consequentemente direciona recursos para a produção de mais bens de capital. Isso
aumenta a sua produtividade futura, levando a uma renda maior (consequentemente, mais
consumo) no futuro. Sim, essa é uma história simples, mas ilustra bem o conceito básico sobre
renda, consumo, poupança, investimento e crescimento econômico. Nela, não é necessária a
existência de nenhum estado para que a história “funcione”.

Talvez seja necessário que os autores do artigo publicado pela Folha revisem os conceitos de
capital que possuem.

LEGITIMIDADE DA PROPRIEDADE X MANUTENÇÃO DA PROPRIEDADE

Propriedade, tal como concebida pelos austro-libertários, é comumente dita como


intrinsecamente dependente do estado, porque o mesmo, segundo os correntes críticos, é
responsável por defendê-la e mantê-la a todos os que a possuem.
Porém, isso não é uma verdade, pois, antes de mais nada, o estado, propriamente dito, não a
garante, não sem espoliar outrem para tal. A propriedade, como dita pelos austro-libertários, é
produto de um vínculo objetivo para com o meio. Vínculo esse que se cria ao misturar o trabalho
ao mesmo (meio esse que não possui proprietário, ou seja, quando se mistura o trabalho a
algum recurso escasso, você está criando uma ligação objetivamente definível com o
instrumento relacionado). Além disso, é imprescindível que a propriedade em questão seja
objetivamente delimitada, ou seja, o trabalho aplicado nesse âmbito delimita a propriedade
apenas ao meio em questão, nas áreas objetivas sob o qual o trabalho ocorreu. Mais ainda, o
vínculo apenas se mantém enquanto for objetivamente possível demonstrar a existência do
mesmo, ou seja, não é algo limitado, ou que, uma vez apropriado, perdura por toda a existência
do universo (ou da vida da pessoa em questão), mas sim enquanto for possível, como dito
anteriormente, demonstrar esse vínculo de forma clara e objetiva para com o meio.

Esse vínculo, após estabelecido, também pode ser transferido para outrem através de contratos
de transferência de propriedade, desde que o contrato em questão, em uma situação ideal,
esteja sendo acordado sem nenhuma pendência jurídica ou penal (como no caso de uma
restituição punitiva). (Kinsella, 2006)

A propriedade também pode ser transferida em casos onde exista uma necessidade de
restituição, como quando uma pessoa X viola a propriedade de uma pessoa Y, e precisa restituir
a mesma de seus danos. Tome, por exemplo, um indivíduo que tenha batido no carro de outro,
este precisaria restituir o outro cidadão que teve a propriedade violada pela batida, seja com
dinheiro, seja com o conserto do carro.

Por final, a propriedade precisa ser defendida, ou seja, representa como necessário a detentora
da propriedade defendê-la, importando-se com qualquer possível violação, e que venha cobrar
(mesmo por meio de algum serviço externo) a seus violadores seu dote. Tome como exemplo o
caso onde uma criança rouba um pedaço de pão. Se o possuinte desejar deixar que a criança em
questão fique com a peça, a propriedade desse pão se tornaria dela até ser contestado (aí entra
o papel do dono do pão em não interferir e defender seu direito de controle exclusivo sobre o
meio).(Kinsella, 2006)

Podemos concluir, com esse resumo, que a propriedade, para que seja legítima, deve ser:
Apropriada em seu estado natural (processo denominado homesteading) ou ser transferida de
algum modo considerado legítimo (veja os pontos anteriormente apresentados);
Defendida pelo seu proprietário (no sentido em que o vínculo objetivo deve ser mantido, e em
casos de expropriação, a legitimidade da mesma deva ser proclamada).
Agora irei discorrer sobre alguns poucos tipos de mecanismo de proteção de propriedade, que
não sejam o estado, e que possam existir eficientemente em um modelo de sociedade sem
estado. São eles:

Proteção feita pelo dono da propriedade em questão, seja através de armamento, ora por meio
de argumentação sobre a legitimidade da mesma em casos de conflitos.
Proteção por intermédio de um serviço terceirizado. Por exemplo, onde em casos de conflitos
sobre a propriedade, alguma espécie de polícia privada possa vir intervir para que este seja
solucionado, claro, sem que a mesma cometa violações a propriedades legítimas em situações
onde a necessidade disso seja inexistente.
Proteção através de associação livre e voluntária entre indivíduos de um mesmo grupo, como,
por exemplo, uma situação onde determinados moradores de uma vila decidem fazer a
manutenção e defesa de uma rua, tomada por eles para si de modo legítimo.
E, por fim, irei discorrer sobre o porquê a manutenção de propriedade diferir da legitimidade da
mesma.

Quando uma determinada propriedade possui os critérios para ser legítima (ser apropriada,
transferida e proclamada), a mesma não depende de critério algum de manutenção, a
conservação em si, é apenas algo necessário para que a mesma se mantenha como legítima ao
longo do tempo (por exemplo, quando um terreno se mantém há décadas sem ser trabalhado
por seu proprietário, o vínculo em questão é perdido). Porém, fora dessa necessidade, quando
existe uma violação e expropriação da propriedade, ela não se torna ilegítima, pois, até mesmo
um domínio completamente legal pode ser alienado. Por exemplo, quando um ladrão rouba o
celular de alguém, esse objeto não se torna propriedade do autor do furto, ele não perde seu
vínculo com o proprietário, pois, não foi transferido por vias legítimas, ele foi tomado dele, e
portanto, cabe a seu possuidor, ou qualquer serviço de segurança e manutenção com esse
objetivo, recuperá-lo. (Kinsella, 2006)

SOCIALISMO DEPENDE DO ESTADO


Mais além, o artigo argumenta que o controle da economia e a planificação dela não tem relação
com o anarquismo de esquerda, sendo apenas uma interpretação do marxismo que foi utilizada
na URSS. Entretanto, isso apenas demonstra um desconhecimento dos argumentos liberais e
libertários sobre a impossibilidade do cálculo econômico sob o socialismo e sobre o
funcionamento do mercado (MISES, 2012).

A primeira coisa que precisamos entender é que o capitalismo, sendo o sistema econômico e
social baseado na propriedade privada (não apenas dos meios de produção, mas de todos os
bens escassos), é incompatível com qualquer modo de coerção, uma vez que o cerceamento
viola os princípios básicos da apropriação original (homesteading) e de trocas voluntárias. De
maneira mais simples: se você é obrigado a utilizar a sua propriedade de uma forma específica
ou se é forçado a fazer uma troca de um jeito diferente do que você desejava, então aquela
comutação não é voluntária de verdade.

Assim, o problema da planificação da economia não se dá pela aplicação “de uma certa leitura
de Karl Marx e da experiência da URSS”, mas simplesmente pelo que significa não adotar um
livre mercado, isto é, trocas voluntárias.

Sendo o capitalismo laissez-faire (o defendido pelos libertários anarcocapitalistas) um sistema


de trocas voluntárias, sem coerção, qualquer desvio dele, como os anarquistas socialistas
defendem, necessita obrigatoriamente de uma coerção (MISES, 2012). Quem vai realizar essa
coerção? Não sendo algo natural do ser humano, não sendo um desejo e uma necessidade das
pessoas, apenas um estado pode colocá-lo em vigor.

As inúmeras experiências socialistas ao longo do século XX não resultaram em regimes


autoritários porque os seus líderes “se desvirtuaram e foram corrompidos pelo poder”, mas
simplesmente porque os ideais socialistas, não prevendo as trocas voluntárias (que por sua vez
só são possíveis em um regime de propriedade privada), não podem ser adotados
voluntariamente por definição.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL, DISCURSO E UTOPIA

A instância principal da compreensão de qualquer sociedade é entender de que forma ela se


sustenta. A sociedade é uma extensão natural da ação social conquanto unificadora dos
processos mais singelos de percepção dos agentes e como tal busca alcançar fins, mais
especificamente procura atingir finalidades que digam respeito a como os homens se veem e
como interagem na sociedade antes mesmo de entenderem propósitos maiores que suas
necessidades fisiológicas.

Quando percebemos isso, entendemos que a sociedade deve refletir elementos contidos na
própria compreensão do sujeito acerca do mundo. Para mim, para o próximo, para nós. Essas
são as instâncias lógicas que são percebidas no próprio pensar das percepções de forma anterior
à experiência.

Somos seres para si, eis que enxergamos o mundo através de diversas lentes que descrevem
gostos, necessidades e preferências. Somos seres para o próximo eis que ao enxergar o próprio
como membro de uma mesma classe para conosco, evidenciamos as diferenças entre nós
mesmos e os outros e salientamos nossas semelhanças e somos seres para conosco eis que
identificamos as relações anteriores e agimos em função dela, de forma a encontrar meios
termos possíveis entre as nossas vontades e as nossas considerações sobre terceiros.

Essa percepção levou Zizek a definir o amor para com o próximo como amar um sujeito
dessubjetivado, em suas partes ocultas mais do que em suas partes presentes e a ir ainda mais
fundo em interpretar a própria política como em Lacan, onde o inconsciente é política pura.
Mais ainda, torna-se possível a partir daí pensar na própria estrutura do capitalismo nos moldes
socialistas como sendo a percepção do que há no a priori da razão instrumental, razão que
descreve um agir de uma guerra constante entre a vontade dos sujeitos de poder. Nesse sentido,
recupera-se o conceito acerca do valor trabalho como categoria social, onde o trabalho é o ato
social que descreve a vontade objetivamente no mundo e não como valor econômico, salto que
Marx em si jamais deu e seus sucessores entregaram constantemente (Zizek, 2012).

Capitalismo é nesse sentido guerra de vontades onde uma parcela de indivíduos domina
indevidamente por sobre outros através da supressão de vontade e o trabalho é em si mesmo
uma supressão de vontade quando não é uma expressão do sujeito. Só que a solução para esse
eterno conflito de vontades não é e nem pode ser a retomada do processo de luta, mas o fim da
própria guerra através da extinção da supressão de vontade alheia e isso vai se traduzir
justamente num livre mercado. O motivo para isso é simples e contundente, o processo de
superação do ser através da razão comunicativa proposta por Jurgen Habermas é um processo
que passará pela valorização dos seres conquanto autônomos de vontade e mais tarde em Hans
Hermann Hoppe como auto proprietários.
Desconsiderar a vontade dos sujeitos como fins em si mesmos é justamente aquilo que dará
origem à guerra de classes e não há manifestação mais sincera do sujeito do que o uso da
linguagem que nos significa e nos dá expressão. O que nos leva então à compreensão do espaço
das normas na construção social:

A aplicação da norma jurídica não significa, nessa concepção, subsunção de um caso particular
a uma hipótese geral, mas um salto para além do dualismo texto/norma, uma vez que ‘a norma
será sempre o resultado da interpretação do texto’. Uma hermenêutica jurídica com
características ontológico-existencialista implica, assim, uma postura de comprometimento do
intérprete, o que exige um novo olhar para o direito, que passa a ser compreendido a partir do
paradigma da linguagem. Isso significa dizer que a interpretação somente é possível se existir
compreensão, que, por sua vez, depende da pré-compreensão do intérprete, uma vez que este
já compreende antes mesmo que pergunte se compreendeu (BISSOLI FILHO, 2009, p.107).

Essa virada em torno da linguagem nos levanta ponderações interessantes. A primeira é acerca
do impacto da mesma em relação aos elementos que não envolvem conflitos em si, elementos
voluntários. Nessas situações, não há supressão de vontade e sobre essas situações um socialista
não deveria dizer nada, pois ações voluntárias são carregadas de vontades mutuamente não
excludentes e portanto, são expressões sinceras do ser. Outra coisa é a própria análise das ações
conflituosas, para essas, a solução é justamente a busca de consenso. Só que essa busca por
consenso nos entrega informações interessantes e que não podem ser ignoradas.

Ao entrar em uma argumentação sobre normas com alguém, o objeto da sua argumentação é
justamente a possibilidade do seu interlocutor, bem como você mesmo, possuírem direito.
Nesse sentido, o agir comunicativo no sentido de argumentar sobre normas demonstra uma
preferência no sentido de ver o próximo e a si mesmo como, pelo menos no campo da
possibilidade, um proponente ético validável. Alguém passível de exercer apropriação.

Mais ainda, ao definir que seu oponente é um proponente ético validável, você o reconhece (e
se reconhece) como não incluso na possibilidade de apropriação, eis que o define como
proprietário possível, categoria epistemológica e jurídica diversa do objeto apropriável. Mais
ainda, nessa preferência fica claro que, como não passível de apropriação, seu ex adverso é um
limite para a apropriação. Nesse sentido, aquele que possui a melhor alegação sobre a
propriedade de si mesmos porquanto limite necessário das argumentações de teor normativo
são os próprios proponentes da argumentação.

Assim, fica evidente que a única forma de não sufocar o ser e assim agir de forma a confirmar a
razão instrumental é reconhecermos o ser como dono de si e a partir do momento que o
reconhecemos como dono de si, precisamos reconhecer que ele precisa se apropriar de objetos
para sua sobrevivência tal como nós e que tem tanta legitimidade quanto qualquer auto-
proprietário para isso. A única forma de apropriação que não cairá em contradição será o
primeiro uso, homesteading, cujas características já foram descritas aqui e que são as que
realmente irão corresponder ao trabalho como categoria social de expressão da vontade do
agente no mundo de forma objetiva. Descobrimos aqui que, na verdade uma sociedade baseada
no livre mercado é justamente uma sociedade onde não existem hierarquias verticais em
essência, eis que a própria construção do discurso é horizontal e nos leva a conclusões
libertárias.

Agora quanto ao ponto da utopia, uma vez estabelecido que o livre mercado é sobre a ausência
de hierarquias verticais em prol de uma construção discursiva da propriedade, nós temos que o
“ancapistão” já existe. O estado é um ente que é incapaz de gerar riqueza ou de exercer
efetivamente uma função resolutiva de conflitos, como tal, ele jamais poderia ser um ente a ser
considerado na análise política como dimensionador positivo da estrutura social, a sociedade já
é baseada no livre mercado e somente ele pode significar as melhorias necessárias para a
sociedade.

“A morte do espírito é o preço do progresso” (VOEGELIN, 1982). Com essa frase, Voegelin nos
deixava um recado. Toda vez que olhamos para alguma situação, devemos pensar efetivamente
no que ficou pra trás em função do avanço. Ao pontuarmos as diferenças clássicas entre a
sociedade real e a sociedade ideal, obviamente enxergamos diferenças claras, mas que são
causadas justamente pela atuação do estado, já que todos os elementos primordiais sugeridos
pelos anarcocapitalistas já se encontram no seio da análise social e que são ignorados em prol
de uma tentativa de controlar de que forma esse avanço se dará.

EXEMPLO HISTÓRICO: O MILAGRE ISLANDÊS

Essa parte do artigo vai se ater à demonstração histórica de um sistema jurídico descentralizado.
De antemão é necessário explicitar que, comumente, caracteriza-se a Islândia medieval como
um país sem estado ou poder hegemônico central, valendo-se exclusivamente da execução legal
privada, inclusive de decisões criminais O sistema jurídico descentralizado islandês chamar-se-
á, de agora em diante, como O Milagre Islandês – em paralelo ao Milagre Grego [3]. Demonstra
que, apesar dessa peculiaridade, esse sistema manteve-se eficiente por séculos e atualmente
inspira o sistema jurídico baseado no Libertarianismo e no Anarcocapitalismo (FRIEDMAN,
2011).

O Milagre Islandês se dá como forma de rebelião ao governo monárquico e absolutista que foi
imposto por Harald. Como retaliação à imposição de um poder central, estima-se que cerca de
10% da população norueguesa, àquela altura, migrou rumo à oeste, começando assim a
colonização da Islândia. A figura central do sistema islandês era o chefe, no original Godi,
sacerdote; os primeiros chefes eram, aparentemente, empreiteiros que construíam templos
para seu uso, bem como de seus vizinhos, se tornando líderes locais. O grupo de Direitos de um
Godi era chamado Godord. O Godord era propriedade privada, podendo ser vendido,
emprestado, herdado. Se você quisesse ser um chefe, bastava encontrar alguém disposto a
vender seu Godord e comprá-lo. Godord também era o nome utilizado para aqueles que
seguiam um Godi.

Diferentemente do sistema jurídico atual, na Islândia Medieval toda lei era civil. A vítima era
responsável pela execução legal, sozinha ou com o auxílio de outras pessoas. No entanto,
certamente, caberia a indagação de que alguém mais poderoso (seja por networking, ou
dinheiro, ou fidelidade conquistada) poderia utilizar desse poder a seu favor, ficando, assim,
impune do crime cometido. Todavia, o sistema islandês tinha uma alternativa engenhosa e
elegante para essa problemática: Se você tivesse me causado algum dano, e eu me considerasse
fraco demais para forçá-lo a ressarcir-me, poderia eu vender ou simplesmente dar o poder de
cobrar o ressarcimento a alguém mais forte. A partir daí seria interesse dele cobrar o
ressarcimento, seja por seu valor econômico, seja pela possibilidade de estabelecer uma
reputação como “cobrador”. A vítima que aceitava repartir seu ressarcimento com alguém mais
poderoso para garantir que este fosse pago é como o indivíduo que divide os ganhos de um
processo com o advogado, ao invés de pagar-lhe honorários.

O sistema descrito neste artigo só entrou em colapso no século XIII, mais de trezentos anos
depois de seu estabelecimento. Este colapso foi precedido de um período de cinquenta anos no
qual houve um grande aumento da violência. Segundo um especialista no assunto, o número de
mortes decorrentes de atos violentos no período final do colapso (calculado a partir das sagas e
de outros achados arqueológicos) foi de 350 (BRYCE, 1901). Isso gera um total de sete mortes
por ano numa população de setenta mil pessoas, ou uma morte em dez mil habitantes por ano.

Não é clara a razão do colapso de um sistema tão funcional. Uma possibilidade é a instabilidade
causada pela crescente concentração de riqueza e de poder. Outra é o aparecimento na Islândia
de uma ideologia alienígena – a monarquia. Normalmente, os conflitos envolviam objetivos
limitados; cada partido tentava convencer o tribunal do quão justa era sua lide em detrimento
da do outro. Uma vez resolvida a situação, o inimigo de hoje podia se tornar o aliado de amanhã.
No período final do sistema, no entanto, parece que as lutas deixaram de ser sobre quem devia
quanto a quem e sim sobre quem detinha o controle da ilha. Uma terceira possível causa é a
pressão de governos estrangeiros. Desde o tempo de Harald, os reis da Noruega tinham um
interesse especial no pequeno país. No século XIII, depois de uma longa guerra civil, o Reino da
Noruega tinha uma monarquia rica e poderosa. O próprio Rei do país se envolvia em conflitos
na Islândia, apoiando um Godi ou outro, concedendo aos seus aliados poder e prestígio. Seu
objetivo, presume-se, era de que alguns de seus aliados tomassem a ilha em seu nome
eventualmente, o que nunca aconteceu. Mas no ano de 1262, após mais de 50 anos de conflito,
os islandeses se entregaram; três quartos da população votaram a favor de pedir ao monarca
norueguês que tomasse o controle da ilha. Em 1263, o quarto restante concordou com essa
decisão. Esse foi o fim da independência islandesa (BRYCE, 1901).

PODER POLÍTICO NÃO SE CONFUNDE COM PODER ECONÔMICO

Quando o artigo tenta definir ultraliberalismo, algo que não tem definição em nenhum estudo
ou artigo acadêmico liberal, ou libertário, uma invenção de seus críticos, as coisas começam a
ficar confusas. Os autores confundem anarcocapitalismo com minarquismo.

Para os libertários anarcocapitalistas, realmente o estado mínimo é uma utopia teórica: ao se


dar a possibilidade de coerção para um grupo, pelos próprios incentivos (colher os frutos sem
ter que arcar com os custos, quem não gostaria?), o estado tende apenas a aumentar
(ROTHBARD, 2012).

Entretanto, discordamos em outro ponto do artigo, na questão de que o poder econômico é a


mesma coisa que poder político. Rejeitando uma visão determinista e positivista do mundo e
que aceita o livre-arbítrio, o libertário é contra a coerção, independente de quem a faz, seja um
grupo de pessoas eleitas, seja um conjunto de indivíduos em uma corporação (ROTHBARD,
2009).

Assim, cai por terra o argumento do poder econômico tomar o estado. Se ele o fizer, estará
sendo apenas mais um estado, violando a ética libertária e, portanto, sujeito às punições
definidas pelas instituições.

Porém, os socialistas vão além, e utilizam o termo “coerção” com um significado mais amplo do
que simplesmente a agressão ou ameaça de agressão contra a propriedade privada. Por
exemplo, quando uma corporação demite um funcionário sem qualquer justificativa, muitos
argumentam que isso é um “abuso do poder econômico”, que é uma forma de coerção, de
“obrigar” o empregado a fazer ou não fazer algo que ele não queria. E é aqui que eles caem em
contradição, ou em um problema sem solução. Considere o caso do trabalhador: se ele tem o
“direito” a continuar trabalhando e recebendo, então o empregador é obrigado a seguir
pagando. Estamos trocando a “coerção” do trabalhador pela coerção ao empregador.
Claramente a troca não é mais voluntária, uma das partes não concorda com ela (ROTHBARD,
2009).

O socialista tem dificuldade de compreender isso porque enxerga o mundo como um conflito
entre oprimidos e opressores, de forma coletivista. Assim, o “opressor” não poderia ter seu
direito violado, porque seria opressor e oprimido ao mesmo tempo. O libertário por sua vez,
enxerga os participantes de uma troca como indivíduos que são (que revolucionário!) e os trata
como iguais desde o princípio (como humanos que são!). O libertário em sua visão individualista
metodologicamente, percebe que empregado e empregador podem ser opressores e oprimidos,
dependendo da situação, e não da “classe social” a qual pertencem (ROTHBARD, 2009).

NADA DE ERRADO COM O LIVRE MERCADO

Sendo as corporações entidades que, visando o lucro para seus acionistas, empenham-se em
satisfazer as demandas das pessoas fornecendo-as serviços privados, é lógico inferir que sua
relevância dentro da sociedade, é somente aquela que o público voluntariamente lhe concede,
uma vez que, não há qualquer clamor de licitude para sobrepujar a autonomia de um terceiro
no status de patrão ou investidor. Desde reconhecer seus produtos como necessidade, até
concordar com contratos, é sempre o indivíduo consumidor que dá o veredito final, ao não ser
impedido de decidir fazer negócios ou não com uma empresa, seja ela qual for.
Não há sentido, portanto, em atribuir a essas relações essencialmente livres, o uso ou
“inclinação” para o poder político, já que o poder político se dá no exercício da força, na
exigência de se admitir terceiros como soberanos, e aceitar deliberações arbitrárias unilaterais.
Uma atividade se torna um empreendimento capitalista justamente por estar em conformidade
com as leis naturais do mercado, e por essas, surge espontaneamente, sem necessidade de
violência ou ameaças, ganhando espaço no modo de vida das pessoas quando se é prestado um
bom serviço, cultivado notável reputação e práticas viáveis de gestão. Empresário nenhum pode
tributar compulsoriamente seus clientes, obrigá-los a consumir seus produtos, e muito menos
impedir a concorrência ou submetê-la a seus caprichos por meio de coerção. Como bem
pontuado por David Friedman: “Violência é caro” (1973), os custos de se viver em condição de
agressão, sendo autor e potencialmente vítima é extremamente contraproducente e
desvantajoso se comparados com uma carreira de conduta confiável. Lucra-se mais, negociando
do que agredindo, com honestidade do que desonestidade.

Me pergunto então, o que a autora do artigo entende por “sociedade mais horizontal”, e o
porquê da insistência de apontar a desigualdade como uma barreira para tal.

Veja, a desigualdade nunca foi um problema de fato, e nem teria o porquê de ser. Não há
qualquer prejuízo para um indivíduo no mero fato de que seu próximo obtenha sucesso, ao
contrário, dentro do sistema capitalista, obter lucro significa estar prestando um trabalho que
os demais consideram de tamanho valor, que estão dispostos a trocar tempo e energia uns com
os outros para adquiri-lo, beneficiando inclusive, quem possui menos, mas que graças ao
produto produzido, pode mais. Exemplo mais pertinente não há que o próprio mercado da
tecnologia, que inclusive está permitindo essa discussão de ideias, é verdade que os
responsáveis por essas corporações tenham seus donos nas listas de homens e mulheres mais
ricos do mundo, mas é verdade também que toda essa riqueza veio de cada um que achou
interessante adquirir essas mercadorias, que estão fazendo da era da informação possível.

As mazelas sociais por assim dizer, nada mais são que a distância entre o estado natural a qual
nós nos encontramos, e as perspectivas de bem-estar que nós consideramos elementares. O
“pulo do gato” aqui, é perceber que de nada adiantaria igualar as contas bancárias de cada
terráqueo, ou abolir a hierarquia entre os humanos, pois isso não só não geraria qualquer
riqueza, que surge da atividade produtiva e comercial, como também, interferir nessa dinâmica
de relações voluntárias é limitar o seu potencial de ação.
É até curiosa a “futurologia” daqueles que preveem um mundo anarcocapitalista onde
corporações tomam papel do estado, veja que, isso implicaria, primeiro, que o estado possua
algum papel, teoria essa já rejeitada pelos libertários, e segundo, que tal corporação deixasse
de ser, em essência, uma corporação. Perdendo inclusive, a legitimidade de existir dentro dessa
sociedade, que toma como normativo universal, a lei de propriedade privada.

Sobre os serviços de justiça e segurança, existe algo de especial nesses setores, o seu controle
por parte do estado é o que basicamente permite um governo impor a si mesmo, afinal de
contas, o que seria um político sem um corpo militar? Um maluco que roga ao vento suas
ordens? E sem um corpo jurídico? Um criminoso qualquer, muito provavelmente. De um ponto
de vista estratégico, faz mais sentido aos anarquistas priorizarem a descentralização de tais
segmentos, assim como para os defensores do atual regime, a continuidade do monopólio.
Constroe-se então, uma narrativa de disputa acirrada entre aqueles que querem o fim do estado
e aqueles que querem sua manutenção, mas eis um importante dado, para libertários, os fins
não justificam os meios, sendo as nossas práticas de resistências estritamente éticas dentro do
direito natural.

É até um pouco cômico que a revista Forbes (McCARTHY, 2017) tenha feito uma matéria
apontando que nos EUA, país esse famoso por seu estado extremamente ativo no segmento da
defesa, existem mais agentes de segurança privada, do que policiais a serviço do governo, sendo
essa diferença não somente gritante, mas também tendente ao crescimento. Inclusive, direção
essa que outros países também estão tomando, até mesmo o Brasil.

Não obstante, tribunais privados também estão se popularizando rapidamente, AAA-ICDR


Foundation, em tradução livre algo como “Associação Americana de Arbitragem”, ostenta em
seu site, o impressionante número de 195 mil casos resolvidos só entre janeiro desse ano e 13
de agosto, com a contabilidade de mais de 5 milhões de casos administrados desde 1926, além
de relatórios anuais a viabilidade econômica do empreendimento (AAA-ICDR FOUNDATION,
2019).

DAS PRÁTICAS LIBERTÁRIAS

Outra alegação é a alegação que nos equipara a leninistas, ao acreditarmos numa superação do
aparato jurídico e policial como estado último de desmonte do estado. Sobre isso, demonstra-
se um profundo desconhecimento sobre as táticas libertárias. Os métodos anarcocapitalistas
passam por várias instâncias práticas como:

Cultura: O levante de que para se alcançar uma emancipação para o discurso é necessária a
concepção cultural é investigado por muitos anarcocapitalistas há anos, dando origem aos
cultural libertarians que foram capitaneados por Bukhari e que são hoje uma das maiores
vertentes com centenas de teses diferentes, no Brasil temos o Localismo (BOTTI, 2019) que se
refere à troca de vínculos hegemônicos por vínculos contratuais.

Secessão Política Individual: Há a adoção das teses relacionadas à secessão política no que tange
a desobediência civil como proposta por Henry David Thoreau em seu livro A Desobediência
Civil:
Devemos ser homens, em primeiro lugar, e depois súditos. Não é desejável cultivar pela lei o
mesmo respeito que cultivamos pelo direito (THOREAU, 2012, p.9).

Essa vertente é amplamente aceita por uma vertente específica do movimento libertário, o
purismo conforme representada pela própria Folha em reportagem anterior. Além disso, temos
a própria concepção do agorismo como teoria de prática libertária proposta por Samuel Edward
Konkin III; em suas palavras em seu manifesto do novo libertário:

Sob todas as circunstâncias, o agorista recruta e educa. Se conhecidos considerarem atos contra-
econômicos, encoraje-os a compreendê-los. Se são inteligentes o suficiente e provavelmente
não dependerão de você, explique os riscos envolvidos e o retorno esperado. Acima de tudo,
eduque-os pelo seu exemplo, na medida que você pode deixá-los saber […] Assim, a organização
básica dos Novos Libertários é a Aliança dos Novos Libertários [N.T.: “New Libertarian Alliance”].
A organização da ANL (ou das ANLs) é simples e deve evitar se tornar um órgão político ou
mesmo uma organização autoritária. Em vez de oficiais, precisamos de táticos (coordenadores
locais com competência em planejamento tático) e estrategistas (coordenadores regionais com
competência em pensamento estratégico) (KONKIN, 1980, p.21).

Contra Economia: O meio de execução do agorismo e também uma prática independente em si


mesma. A contra economia é a prática de atos que garantam a secessão econômica imediata do
indivíduo do sistema, abrangendo desde evasões fiscais ao uso regular do mercado negro.
O artigo sintetiza então o estado como estado policial e tenta supor uma conexão entre esse
estado policial e o princípio da propriedade, mas como já vimos anteriormente, o princípio da
propriedade é justamente o princípio do discurso, estando a coerção reservada às ações que
suprimam os seres e os sufoquem e portanto é incompatível com a própria noção do estado
policial.

ESTADO X LIBERLAND

A ação estatal e a ação empreendedora tem processos diametralmente opostos. Enquanto a


ação estatal depende da sua viabilidade política e dos interesses dos burocratas, que podem (e
normalmente tem) interesses diferentes daqueles da população, o processo de mercado possui
um norte e uma referência de seu sucesso: o lucro (que não necessariamente é financeiro).

O empreendedor, em seu estado de alerta para oportunidades de mercado, isto é,


oportunidades de atender necessidades e desejos dos seus potenciais clientes, investe seus
recursos (seu capital) para aproveitar essas oportunidades.

Caso ele obtenha sucesso, ele saberá disso ao auferir seus lucros. Caso contrário, terá prejuízos
e perderá o seu capital investido.

Como não deseja perder seu capital – e aqui destaco a importância da propriedade privada, se
os recursos fossem de outros os incentivos para realizar os ajustes seria muito menor ou até
nulo -, ele precisa estar atento ao que outras pessoas desejam adquirir voluntariamente para
consertar seus rumos e voltar a ter lucros. (Kirzner, 2010)

Por outro lado, o estado é incapaz disso. Como seu objetivo não é o lucro e suas fontes de
recursos não são obtidos de forma voluntária, perde-se o seu guia. Assim, não recebe os sinais
necessários para arrumar os seus direcionamentos, apenas quando a situação já é grave demais
e insustentável para a população ou determinado grupo de interesse.

É por isso que todo empreendimento estatal é nivelado por baixo. Uma tentativa de melhor
qualidade significa mais custo e portanto uma necessidade maior de espoliação. Suas receitas
não estão correlacionadas com a qualidade do seu serviço, então qualquer custo adicional,
mesmo que benéfico, significa na verdade um prejuízo maior, dando sinais errados aos
responsáveis pelo “empreendimento”. (Kirzner, 2010)
CAPITAL, LIBERDADE, IGUALDADE E ESTADO

Os autores alegam de forma displicente que liberdade e igualdade são complementares, mas
isso cai em alguns problemas. Quando se trata de liberdade, falamos de escolha, de fazer uso da
sua propriedade da forma que lhe convém, por isso impor qualquer espécie de igualitarismo,
principalmente econômico, como obrigar um proprietário a ceder partes de sua propriedade
para que haja certa igualdade, violaria qualquer tipo de liberdade. O que existe é a igualdade de
direitos, todos os indivíduos são dotados do mesmo direito, o da propriedade privada.

Em seguida há um salto ofensivo, o autor alega que gerações de militantes demonstraram como
o capitalismo e o estado andam juntos, mas o mesmo não fez questão de provar isso, apenas
disse que aceitar o capitalismo significa assentir o estado, provavelmente fazendo uma confusão
entre capitalismo e corporativismo, erro bastante comum entre os igualitaristas, tanto
anarquistas coletivistas, quanto os próprios socialistas marxistas e afins. Ao afirmarem que é
impossível dissociar a concepção de capital e estado, claramente evocam o conceito fundista-
materialista de que, basicamente, o capital não é um todo heterogêneo, como afirmam os
austríacos, e sim reservas de valor ou até mesmo apenas bens de produção. Essa definição foi
refutada por Eugen von Böhm-Bawerk (Bawerk, 1884) e posteriormente por Friedrich Hayek
(Hayek, 1948). O ponto central da visão austríaca é que ela não vê o capital como um estoque
homogêneo, mas como uma estrutura interligada, composta por um número muito grande de
bens de capital. Por isso, pelo anarcocapitalismo adotar a escola austríaca de economia, a
concepção de capital não depende do estado, pois, a estrutura e a formação de capital necessita
inteiramente das funções empresariais dos indivíduos e do processo de mercado.

Insistente, o autor retorna no erro de que defender a liberdade necessariamente implica em


defender igualdade social. Como demonstrado anteriormente, isso cai em diversos problemas,
pois, em inúmeros casos, para que haja igualitarismo, há violação de propriedade, e logo, não
há liberdade. Não há qualquer incompreensão ou má-fé por parte dos libertários sobre os
conceitos de estado e de capitalismo, ambos são definidos de forma bastante precisa, sendo
“estado” definido como “monopólio coercitivo da força” e “capitalismo” como “sistema de
respeito à propriedade privada”.

DAS ACUSAÇÕES TERMINOLÓGICAS


Há uma atribuição frequente e totalmente infundada que é relacionar anarcocapitalistas com o
termo neoliberal, aliás, o próprio termo neoliberal (que é um tanto amorfo) é usado de forma
equivocada e atualmente é atribuído de forma pejorativa.

Mas o que é o neoliberalismo?

O neoliberalismo foi cunhado para se referir a uma terceira via que veio a surgir entre o
liberalismo (laissez-faire) e o socialismo, há evidências de que às raízes da ideologia neoliberal
se refere aos economistas da antiga Escola historicista alemã de economia que começaram a
advogar a favor de intervenções econômicas, com a premissa de que a concentração industrial
era prejudicial, historicamente, visivelmente essa visão começou a ser posta em prática com a
Lei de Sherman antitruste. Na Alemanha a “terceira via econômica” foi denominada de
“Sozialpolitik”, e foi defendida por Kaiser Wilhelm II, a França foi simpática ao modelo,
convocando o que foi chamado de “Tierce Solution”, e os Estados Unidos da América, o que foi
chamado de New Deal.

Na década de 30, o economista Henry Simons foi autor de uma monografia que tinha como
título “A Positive Program for Laissez Faire” onde “Positive” significava que o programa
advogava por ampla intervenção econômica e o laissez-faire como “negativo”, no sentido de
não possuir uma justificativa, o programa de Simons defendia que a oferta monetária fosse
coordenada pelo governo assim como o sistema bancário, impedir a formação de monopólios
através de intervenção e também advogou por programas de renda mínima universal.(Simons,
1934)

Essas ideias influenciaram muito grandes economistas como F.A. Hayek, Wilhelm Röpke, Fritz
Machlup, Milton Friedman, Michael Polanyi, Walter Eucken que haviam sido formados nesse
ambiente nas décadas de 20 e 30, reconhecendo às do liberalismo clássico mas advogando por
um nível de intervenção. (Hayek, 1948) Mas esse grupo veio a se separar internamente em
algumas correntes posteriormente, alguns se posicionando mais próximo a modelos próximo a
uma social democracia que defendia elementos de mercado, grupos que vieram a se posicionar
mais próximo ao laissez-faire, mas que ainda defendiam algum nível de intervenção estatal,
como foi o caso de F.A. Hayek. Houve também uma corrente que era pró-mercado mas que
criticava às ideais sociais e a noção da igualdade de direitos defendida pelos liberais, essa
corrente foi representada por economistas como Alexander Rüstow.
Em 1938 ocorreu o Colóquio de Lippmann, uma conferência que reuniu defensores do laissez-
faire (liberalismo clássico) que na época tinha como seu maior representante o economistas
Ludwig von Mises, a conferência envolveu estes e os defensores das correntes neoliberais. Mises
proferiu críticas aos economistas neoliberais, que apesar de reconhecerem a importância do
mercado, continuavam a advogar por intervenção, além de que Mises se sentiu incomodado
com a interpretação de alguns economistas neoliberais sobre seus argumentos em defesa do
laissez-faire.

Nota-se que termo neoliberalismo serviu para definir economistas que deixaram o socialismo,
mas que não foram advogar em prol do liberalismo clássico (laissez-faire). De resumo, essa
agenda advoga por intervenções econômicas, monopólio estatal da moeda, bancos centrais,
agências reguladoras, distribuição de renda, leis antitruste, concessões a empresas privadas ao
invés de desestatização, além de saúde e educação pública fornecidas pelo estado.

Além de ser evidentemente diferente do que era defendido pelos liberais clássicos ao estilo
Escola de Manchester como Ludwig von Mises, que advogada por um estado mínimo que só
teria o monopólio do aparato da justiça e segurança externa e interna (MISES, 1949). Ludwig
von Mises foi um grande opositor dos neoliberais, Mises batalhou contra os neoliberais da Mont
Pèlerin Society, esses defendiam elementos do liberalismo, mas apoiavam também forte
intervenção econômica.Ou seja, de um lado haviam os neoliberais apoiando intervenção no
mercado em diferentes níveis, mas se opondo ao socialismo e do outro os liberais clássicos que
eram contra qualquer intervenção econômica, mas que ainda defendiam a existência de um
estado.

Pode-se concluir que historicamente o neoliberalismo se refere a uma doutrina que advoga por
intervenção econômica e atribuí diversas funções ao estado econômicas, deixando-o como um
interventor, mas que não nega a importância do mercado, se posicionando em oposição aos
socialistas, e os liberais clássicos advogando por um estado mínimo, ou seja, a tentativa de
relacionar o anarcocapitalismo com neoliberalismo e até com o liberalismo clássico é totalmente
infundada, já que o anarcocapitalismo é totalmente contrário a existência de um estado
coercitivo que se imponha sobre indivíduos, advogando por uma sociedade de livre-associação.

Outra previsão carente de melhor explicação, é aquela que se diz o artigo, ser autoria dos
próprios “ultraliberais”, o que cabe aqui um problema de definição, já que minarquistas e
liberais clássicos não pregam o fim do estado, sendo posição essa atribuída aos libertários, que
não ousariam tentar prever a ação humana, muito menos de forma tão grosseira.

E por último, acerca da citação quanto à palavra libertário pertencer a verdadeiros anarquistas
que correm risco de morte em prol da liberdade, é necessário salientar primeiro que essa é uma
falácia do verdadeiro escocês e que ainda assim, temos exemplos notáveis de libertários como
Daniel Fraga que é perseguido pela receita federal há alguns anos e teve que se esconder e o
casal Cypriano que educa sua filha em homeschooling e que está sendo processada pelo estado.
Esse tipo de resistência ao estado é bem comum e representa como estamos realmente
dispostos a lutar a luta que vale a pena ser lutada, a luta pela liberdade.

CONCLUSÃO

Como Rothbard disse certa vez:

O caso a favor do otimismo libertário pode ser feito numa série do que podem ser chamados de
círculos concêntricos, começando com as considerações mais abrangentes e um prazo mais
longo e avançando para as de um foco mais específico em tendências de menor prazo. No
sentido mais amplo e de longo prazo, o libertarianismo acabará por vencer porque ele e apenas
ele é compatível com a natureza do homem e do mundo. Apenas a liberdade pode conquistar a
prosperidade, a satisfação e a felicidade do homem. Em suma, o libertarianismo será bem-
sucedido porque ele é verdadeiro, porque ele é a política correta para a humanidade, e por que
a verdade eventualmente vencerá. (ROTHBARD, 1973)

Afirmamos aqui e agora a todos e a qualquer momento que o movimento Austro Libertário
brasileiro vive. O Anarcocapitalismo vive e qualquer um que tentar atacar as suas bases será
prontamente respondido não importa quão numerosos e quão gabaritados sejam, afinal, temos
do nosso lado a verdade tal como ela é, livre.

SOBRE OS AUTORES

Daniel Miorim de Morais – Austro Libertário, Estudante de Direito (UNESA) e Sócio- Fundador
da Universidade Libertária;
Fabrício – Estudante autodidata em economia austríaca.

Junior Felipe – Austro-libertário; profissional de semi-jóias; estudante de filosofia nas horas


vagas;

Gustavo Poletti Kaesemodel – Formado na primeira turma da Pós-Graduação em Escola


Austríaca de Economia pelo Instituto Mises e em Administração de Empresas com Foco em
Marketing pela ESPM-SP, empreendedor e libertário. Sócio-Fundador da Universidade
Libertária;

Gustavo Vieira – Austro-libertário; autodidata; entusiasta da filosofia e sociologia;

Igor Reis – Austro-Libertário, estudante de Eng. de Computação pela UFRGS e entusiasta de


filosofia;

João Victor – Libertário; autodidata; Programador (Freelancer);

Juliana Novakoski – Anarcocapitalista; autodidata; entusiasta da arte moderna e sociologia.

Luis Eduardo – Libertário; Estudante de Engenharia Mecânica; entusiasta de economia austríaca


e filosofia;

Mateus Almeida – Austro-libertário; Graduando em Eng. Civil pela UFMG e Eng. Elétrica pela
PUC-MG.

Matheus Viana – Estudante de Geografia, Matemática e Filosofia nas horas vagas; Libertário e
Humanista.

Rodrigo Tavares. – Estudante de TI e economia nas horas vagas, de forma autodidata, e amante
de filosofia.

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NOTAS DOS AUTORES


[1] Alusão à obra Crepúsculo dos Ídolos, ou Como Filosofar com o Martelo, de Friedrich
Nietzsche.

[2] Optou-se pela grafia “estado” (com e minúsculo), embora a norma culta sugira a grafia
“Estado”. Neste sentido foi argumentado no livro Democracia, o deus que falhou, de Hans-
Hermann Hoppe que:

“A justificativa de que a maiúscula tem o objetivo de diferenciar a acepção em questão da


acepção de “condição” ou “situação” não convence. São raros os vocábulos que possuem
somente um único significado, e ainda assim o contexto permite a compreensão e a
diferenciação dos significados. […] o editor considera que grafar estado é uma pequena
contribuição para a demolição da noção disfuncional de que o estado é uma entidade que está
acima dos indivíduos (HOPPE, 2014, p. 9).”

As ideias supracitadas estão de acordo com as opiniões dos autores deste artigo.

[3] Denomina-se como milagre grego, a passagem do pensamento mítico para o pensamento
filosófico.

Em épocas muito remotas, a civilização grega utilizava apenas da mitologia para explicar os
fenômenos que acontecia tanto dentro da natureza, bem como no meio social. Nada era
questionado e tudo era desenvolvido com base no desejo dos deuses gregos.

O rompimento com esse pensamento mítico foi o surgimento da filosofia que trouxe novas
perspectivas para a sociedade permitindo assim, que tanto ela como os indivíduos
desenvolvessem novas formas de pensar (VERNANT, 2000).

Faz-se essa comparação entre O Milagre Grego e com a ruptura feita entre o sistema jurídico-
político islandês com atual sistema jurídico. Este tem uma divisão em dois sentidos – Civil e
Criminal. Geralmente as decisões das causas cíveis são executadas pelos próprios sujeitos,
enquanto as criminais, ou penais, são executadas exclusivamente pelo Estado.

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