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O Islamismo como a Quarta Teoria

Política
§ I. Além da esquerda e da direita, mas absolutamente
contra o centro
Primeiramente, acho válido rejeitar termos advindos da revolução francesa. Tendo isso
em mente, vejo que a melhor forma é analisar o projeto político das diferentes doutrinas
minuciosamente, independentemente da inclinação. Segundo o professor doutor
Aleksandr Dugin, a modernidade possui 3 teorias políticas principais[1]: a primeira,
sendo o liberalismo, a segunda, sendo o marxismo e a terceira, sendo o fascismo e suas
diversas vertentes históricas. Ele afirma, com razão, que o liberalismo derrotou as outras
duas durante a batalha das ideologias no século XX, as enterrando pós guerra fria. Porém
o liberalismo também é uma teoria fracassada, e, segundo a análise do professor, está aos
poucos destruindo a noção de política (holista), para, no lugar, forçar a narrativa de que
tudo é, no fim, uma ação individual e que não precisamos de política, aos poucos saindo
de cena e se tornando um inimigo incombatível. Vale ressaltar que liberalismo também é
fruto da revolução francesa, que mencionei na primeira frase desse texto, portanto, da
mesma forma, parece razoável rejeitá-lo. A origem dos termos "direita" e "esquerda" se
dá pela posição que os diferentes grupos anti-monarquistas ocupavam na assembleia
nacional constituinte. O grupo que se assentava à direita, denominado "girondinos",
adotavam uma postura reformista e conciliadora, enquando o que se assentava à
esquerda, os "jacobinos", adotavam postura revolucionária. Dada essa clarificação, parece
justo definir a direita como quem se adequa ao status quo ou apenas pretende aperfeiçoá-
lo por meio de reformas, como os liberais ou conservadores. Já a esquerda se enquadra no
grupo que se opõe ao regime, buscando não aperfeçoá-lo através de pequenas mudanças,
mas mudá-lo completamente. São normalmente associados com progressistas e anti-
capitalistas, como os marxistas. Podemos associar os dois grupos (direita e esquerda)
com Vishnu (o sustentador, representando a direita) e Shiva (o destruidor/renovador,
representando a esquerda). Se analisarmos ambas as posições, assim como os próprios
grupos da revolução francesa, veremos que o objetivo final não muda em absolutamente
nada, tanto girondinos quanto jacobinos queriam o fim da monarquia e a instituição da
república, os dois tinham os mesmos valores de "liberdade, igualdade, fraternidade",
lembre-se, é impossível negociar se não há intersecção. O que dizer sobre conservadores
e progressistas? A única diferença é a velocidade das mudanças. Um conservador hoje
tem as mesmas ideias de um progressista do passado. Algum conservador é contra a
instituição do divórcio[2]? A maioria deles são divorciados, e muitas vezes eles próprios
o fazem porque são fornicadores. Algum conservador é a favor do casamento arranjado
dotal ou contra o "casamento homossexual"? Não é uma pauta que se vê hoje, inclusive o
que se observa é o oposto, com movimentos como "gays for Trump" ou a cópia barata
brasileira, "gays com Bolsonaro". Algum conservador vai te deixar ter uma esposa de 12
anos? Porque em todas as sociedades tradicionais, o casamento se dava após a menarca.
Algum conservador vai ser contrário à miscigenação? Não falo pela perspectiva moderna
cientificista darwinista, que influenciou ideologias como o nazismo, mas falo pelo senso
tradicional de autopreservação do próprio povo, como visto pelos hebreus em várias
partes da Bíblia, onde se recusam a deixar seus filhos se casarem com cananitas[3],
hititas[4] ou filisteus[5]. Similarmente, o objetivo tanto de liberais quanto marxistas é o
materialismo. No liberalismo isso se dá pelo conceito de liberdades individuais, que
pressupõem que todos os comportamentos possuem mesmo valor moral ou são
igualmente aceitáveis. Sem contar pela própria estrutura capitalista de produção, que
aliena o trabalhador do fruto do seu trabalho, já que a maioria das pessoas hoje trabalha
em ambientes artificiais, realizando funções mecânicas e sem contato com a natureza ou
qualquer tipo de valor transcendente. Belloc analisa que até mesmo em sociedades
feudais havia maior liberdade e melhor qualidade de vida do que em uma sociedade
capitalista[6]. Uma análise igualmente negativa do capitalismo e do industrialismo é
encontrada em Kaczynski[7]. Outros problemas inerentes ao capitalismo também
poderiam ser mencionados, como a obsolescência programada, consumismo,
concentração de propriedade e a existência de uma aristocracia corporativa, que controla
o Estado e subverte a tradição em nome do capital. Como afirma Marx[8]: "o poder
executivo do Estado moderno não passa de um comitê para gerenciar os assuntos comuns
de toda a burguesia". Não sendo um eu marxista, estou, no entanto, seguro de que essa
afirmação está correta. Tal proposta seria o equivalente a trocar a casta Kshatriya
(guerreiros e líderes) pela Vaishya (comerciantes e proprietários de terras). Da mesma
forma, no marxismo o materialismo também é evidente (ao começar pelo próprio método
de análise histórica), portanto acredito não precisar estender esse ponto. Além das
diversas falácias e erros de análise do próprio autor, que considera um Estado livre de
classes sociais. Assim como no liberalismo, ele quer a substituição dos Kshatriyas, mas
dessa vez pelos Shudras. Em suma, são duas ideologias não hierárquicas igualitaristas
que buscam subverter a transcendência da existência humana em dicotomias materialistas
irreais. Com essa análise, o único caminho lógico é afirmar que um Estado tradicional
precisa transcender o conceito de esquerda e direita, não somente porque são termos
posteriores à tradição, mas porque ambos são contrários a qualquer tipo de valor
tradicional. Cito Krishnamurti: "não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade
doente".

§ II. Anti-liberal e anti-marxista, mas absolutamente


anti-fascista
Alguns podem interpretar o texto anterior como uma apologia ao fascismo, dado o teor
anti-liberal e anti-marxista, mas eu descarto a terceira teoria política não somente porque
foi derrotada na batalha das ideologias do século XX, mas por conta dos erros
intrínsecos:

• Nacionalismo: as bordas que delimitam regiões geográficas são, de fato, isentas de


significado. Em muitos países, o multiculturalismo é a regra, então de que adianta
as separações? Uma melhor alternativa seria autodeterminação étnica e cultural,
como vemos no Afeganistão Taliban, por exemplo: um nacionalismo pashtun
islâmico, onde as leis são exclusivamente as encontradas na Sharia.

• Idolatria ao estado: "não há divindade senão Deus" é a primeira parte da Shahada, a


professão da fé islâmica. Similarmente, na Bíblia, o primeiro dos 10
mandamentos[9] é: "não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti
imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem
em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as
servirás". O papel do Estado é, por meio da casta Kshatriya, impor a lei natural e
defender a cultura e tradição, sempre seguindo a interpretação (Tafsir) discutida e
tomada como consenso pela casta Brahmin.

• Populismo: não é surpresa para ninguém que tanto o regime fascista quando suas
derivações em outros países (nazismo, salazarismo, franquismo) foram regimes
estritamente populistas. Mussolini tentava agradar a Itália católica com concessões
à igreja (como a própria criação do Estado soberano do Vaticano), mas ele mesmo
não era católico[10] e era, além de divorciado[11], um fornicador, possuindo
diversas amantes.

• Hegelianismo: assim como os marxistas, eles possuem visão limitada da realidade


(dicotômica), dado seu método de análise. São "hegelianos de direita", em oposição
aos marxistas "hegelianos de esquerda". E como já demonstrado, esquerda e direita
são iguais.

• Cientificismo: como citado brevemente, os nazistas possuem uma visão


cientificista e materialista no que tange à raça. Muito influenciados por teosofistas,
que são, em essência, materialistas e deturpadores das doutrinas do oriente, como
já demonstrado por René Guénon[12]. "Raça ariana" é uma falsificação histórica
baseada no termo "Aria" (significando "nobre" em sânscrito), que os orientalistas
usaram para descrever uma suposta raça que invadiu a Índia, mas na realidade o
termo apenas serve como epíteto para descrever os membros das 3 primeiras
castas[13].

§ III. Sociedade Islâmica contra o anti-tradicionalismo


ocidental
A sociedade védica há 4000 anos já sabia exatamente a estruturação de uma sociedade
sadia: o sistema Varna. Trata-se da divisão dos indivíduos pelas suas capacidades e
vocação: Brahmins, sendo a casta dos clérigos e intelectuais, Kshatriya, sendo a casta dos
líderes e guerreiros, Vaishyas, os comerciantes e proprietários de terras e por fim os
Shudras, trabalhadores braçais e força motriz da sociedade como um todo. Não temos
nada parecido com isso em sociedades ocidentais. Democracia é dar poder político para
Shudras, que não deveriam tê-lo (além de outras críticas que omitirei, mas que estão
presentes principalmente em autores libertários como Hans-Hermann Hoppe), Estado
republicano é dar poder para Vaishyas, já que esses comprariam o parlamento (esse é o
sistema em que estamos). Alguns outros sistemas de governo que não envolvem dar
poder para castas que não deveriam possuí-lo, são, entretanto, materialistas, como por
exemplo as ditaduras militares tanto do Brasil quanto de Myanmar, pois ignoram que as
decisões devem ser tomadas pela classe clerical (Brahmin) e apenas aplicadas por meio
de poderio militar (Kshatriya). Coincidentemente ou não, as sociedades islâmicas
possuem a exata organização ideal da sociedade: Brahmins (Shaykhs), Kshatriyas
(soldados jihadistas), Vaishyas (o comércio sempre foi a principal atividade dos árabes. O
próprio profeta Muhammad SAW era um comerciante) e por fim, Shudras. Além disso, o
Islã como doutrina também é um grande opositor das ideologias modernas, proibindo
riba (usura), seja se posicionando contra juros ou lucros abusivos (e até certo ponto,
contra a moeda fiduciária, já que oficialmente moeda no Islã é o ouro), contra as drogas e
entorpecentes no geral (o Taliban acabou com o ópio no Afeganistão), contra
degeneração e imoralidade sexual (ao ponto do Taliban banir todo tipo de mídias,
especialmente ocidentais, por serem "porta de entrada para a pornografia").
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1. Aleksandr Dugin, A Quarta Teoria Política


2. Mateus 5:31-32
3. Gênesis 24:3-4
4. Gênesis 26:34-35
5. Juízes 14:3
6. Hillaire Belloc, O Estado Servil
7. Theodore Kaczynski, A Sociedade Industrial e o seu Futuro
8. Marx, Engels, O Manifesto Do Partido Comunista, p.12
9. Êxodo 20:3-5
10. https://www.history.com/news/9-things-you-may-not-know-about-mussolini
11. http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/article411675.ece
12. René Guénon, Teosofismo: História de uma Pseudoreligião
13. René Guénon, Introdução ao Estudo das Doutrinas Hindu, p.84

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