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Ezequias Amancio Marins

Caos na família: toda


desobediência será
castigada!
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
CIP – Brasil – Catalogação na Fonte
___________________________________________________________

Marins, Ezequias Amancio


Caos na familia: Toda desobediência será castigada/ Ezequias Amancio
Marins - 1. ed. - Belo Horizonte, MG: Ed. Koinonia, 2015.
73 p.; 10x15 cm.

Inclui índice
1. Leitura Devocional. 2. Religião. I. Marins, Ezequias Amancio II.
Título.

CDD: 242

ISBN 978-85-68029-97-8

Caos na família: Toda desobediências será castigada


© 2016 de Ezequias Amancio Marins

1ª Edição: Abril de 2016

Todos os direitos reservados por;

EDITORA KOINONIA
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SOBRE O AUTOR
Ezequias Amancio Marins, casado com Débora
Fritz Santos Marins, pai de João Marcos Fritz Marins,
Pastor Titular da Igreja Batista Central em Japuíba,
Angra dos Reis, Rio de Janeiro, e Diretor Geral do Se-
minário Teológico Interdenominacional em Angra
dos Reis. Bacharel em Teologia pelo Seminário Teo-
lógico Batista do Sul do Brasil (1996), Mestre em Di-
vindade pelo Seminário Teológico da Fé Reformada
(2010), Graduando em História pela Universidade
Estácio de Sá, Graduado Nacional do Instituto de
Liderança Internacional (ILI) (2011) e do Instituto
Haggai (2014).
DEDICATÓRIA
Aos membros e congregados de nossa Igreja em
Angra.
Como este livro é a íntegra de três mensagens que
preguei na Igreja em 2013, entendo que essa é a for-
ma de o conteúdo firmar consciências e estabelecer
valores na luta por uma família saudável e centrada
no evangelho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pois a Palavra é dele e procuro não expor
minhas opiniões, mas as que eu vislumbro da reve-
lação divina. Creio que “quando a Bíblia fala, é Deus
quem fala”.
À equipe de pastores e líderes da nossa Igreja em
Angra que não mede esforços em fazer valer nosso
slogan: “marcando vidas com a vida de Deus”.
À minha família, laboratório onde as ideias deste
livro são testadas e contestadas todos os dias, em todo
o tempo. Obrigado, Débora e João Marcos!
PREFÁCIO
Sempre estamos envolvidos com problemas rela-
cionados à família. Às vezes com a nossa, outras vezes
com a daqueles que estão mais próximos a nós. Sem
falar naqueles que vemos nos telejornais envolvendo
famílias, assassinatos, roubos, pedofilia, entre outros.
Se pararmos para pensar no fundamento de tudo isso,
chegaremos à conclusão que o pecado é a fonte de to-
dos esses males. É interessante pensar que o pecado
se estabeleceu em um contexto onde a família foi a
primeira a ser afetada. Começando pelo casal, Adão e
Eva, alcançou a sua descendência, pois o primeiro ho-
micídio da história humana foi justamente dentro da
família. Os seus filhos protagonizaram um dos piores
casos provenientes do pecado registrados na Bíblia, o
assassinato. Ciúmes, invejas, rejeição, abandono, são
reflexos do pecado que estão envolvendo as nossas fa-
mílias e trazendo consequências desastrosas no ceio
familiar.
Pastor Ezequias propõe uma reflexão ao falar, nes-
ta obra, sobre a problemática que envolve uma famí-
lia onde escolhas erradas proporcionaram traumas,
danos e, consequentemente, castigos decorrentes de
atitudes que não são observadas à luz da vontade de
Deus. Toda desobediência será castigada e a Bíblia
não esconde a desobediência de homens e mulheres,
inclusive daqueles que foram influentes da constru-
ção da fé do povo. O caos familiar retratado nesta
obra é sobre a família de Isaque e Rebeca, e seus fi-
lhos, Jacó e Esaú.
O drama que Isaque e Rebeca viveram com Esaú
quando este escolheu para si esposas que não estavam
dentro da aliança com Deus foi, sem dúvidas, uma
das piores experiências que eles tiveram trazendo
profunda mágoa. Ao criarmos, nossos filhos deseja-
mos que eles se relacionem com pessoas que também
amam a Deus. O jugo desigual traz transtornos que
não poderão ser revistos depois do casamento.
Porém o problema não acaba por aqui. O partida-
rismo de Rebeca, amando mais a Jacó e o partidaris-
mo de Isaque, amando mais a Esaú, trouxe um racha
na família e, porque não dizer, uma má formação no
caráter de seus filhos, trazendo consequências desas-
trosas como mentiras, rivalidade e rompimento no
relacionamento dos irmãos. Não existe nada pior do
que criar filhos preferindo um em prejuízo do outro.
A rejeição dentro da família é cada vez mais frequen-
te e os pais são responsáveis por não plantarem essa
divisão dentro de casa.
A falta de sabedoria de Rebeca ao lidar com sua
casa desonrando seu esposo e sendo pivô daquela
cena trágica onde Jacó se passa por Esaú para ganhar
a bênção no lugar do irmão, sem dúvidas foi a pior
escolha que ela fez, trazendo-lhe consequências ir-
reversíveis e você, ao ler este livro, saberá sobre essa
consequência. Rebeca representa aquelas mulheres
que estão mais preocupadas em estabelecerem suas
vontades, ao invés de se submeterem à liderança de
seu esposo, honrando-o em todo o tempo.
Sua família não precisa passar por problemas pa-
recidos com os ressaltados neste livro. Deus instituiu
a família para viver num ambiente seguro, onde a
aliança estabelecida nessa união terá desdobramen-
tos na criação de seus filhos de forma saudável e suas
escolhas serão feitas à luz da vontade de Deus.
Não importa como você foi criado, a partir da lei-
tura desta obra, aprenda que você pode fazer diferen-
te sendo obediente a Deus. Assim, sua família estará
segura!

Boa leitura!

Pr. Leonardo Alves de Almeida, Pastor Auxiliar


na Igreja Batista Central em Japuiba, Angra dos Reis,
RJ. Bacharel em Teologia pelo  Seminário Teológico
Interdenominacional em Angra dos Reis (2009), Pós
Graduado em Teologia Prática pelo Centro de Pós
Graduação Andrew Jumper.
APRESENTAÇÃO
Uma trama bem contada. Uma mentira muito
bem arquitetada e assim está instaurado o caos. Tudo
começa com uma pequena decisão de fazer prevalecer
a vontade própria. Neste livro veremos como aconte-
ceu uma das mentiras mais bem contadas, encenadas
e consumadas na história dos patriarcas do povo de
Israel. Jacó usurpando a bênção da primogenitura de
Esaú. Rebeca, levada pela preferência por Jacó, resol-
ve dar uma “mãozinha” nos propósitos de Deus e aca-
ba dando brecha para o pecado em sua família.
Ezequias nos leva a pensar, através do relato da
história de Jacó, como a influência dos pais (princi-
palmente, neste caso da mãe) pode ser crucial para
a formação do caráter do filho. Vivemos hoje numa
geração de casamentos líquidos, onde não há mais
espaço para uma união duradoura e os conflitos ga-
nham espaço em nossa casa, tornando o ambiente
familiar um campo de batalha. Filhos contra si, pais
contra filhos, esposas contra maridos. Nessa história
que parece estar distante, está mais presente em nosso
lar do que imaginamos.
“Rebeca e Isaque conseguiram fazer o que é de
mais negativo em uma família: cada um nutria de
amor apenas um filho, deixando o outro órfão! Re-
beca era mãe de Jacó apenas e tratava Esaú como um
ninguém. Isaque era pai apenas de Esaú e Jacó era
deixado de lado.”
Ezequias também analisa as reações de cada fi-
lho de acordo com suas circunstâncias: tanto de Jacó
com a indagação do seu pai “És tu meu filho Esaú?” e
de Esaú diante da bênção perdida e da ira levantada
contra Jacó. Sem dúvida este livro, numa leitura cur-
ta, profunda e eletrizante, mexerá com a sua mente,
fazendo você refletir sobre o relacionamento familiar.

Pr. José Carlos Macário de Barros Júnior, Pastor


Auxiliar na Igreja Batista Central em Japuiba, Angra
dos Reis, RJ. Bacharel em Teologia pelo  Seminário
Bíblico Palavra da Vida (2015).
SUMÁRIO

Introdução.....................................................................17

A desobediência custa caro...................................21


A desobediência magoa o coração.............................23
A predileção é desastrosa............................................26
A mentira cobra um alto preço...................................29
Aplicações......................................................................35

A amargura corrói o coração................................41


A bênção perdida por causa do passado...................43
Bênção recuperada, mas sem alegria.........................48
O ódio como alimento diário.....................................49
Aplicações......................................................................51

O reforço da identidade histórica pelo vínculo fa-


miliar.....................................................................57
Rompimento do vínculo pelo temor implícito.........59
Rompimento do vínculo pela rebeldia explícita.......63
Aplicações......................................................................66

Conclusão......................................................................71
INTRODUÇÃO
Este livro é o resultado de mensagens que preguei
em setembro de 2013 em nossa igreja, aqui em Angra
dos Reis, RJ. Tenho pregado séries em livros inteiros
desde 2007, e tem sido um dos fatores de crescimen-
to espiritual de nosso povo nesse tempo. A Palavra
de Deus tem de retornar ao centro da nossa vida em
todas as suas abrangências. Por essa razão prezo pela
pregação expositiva.
As porções que serão tratadas nos capítulos deste
livro estão em Genesis 26.35- 28.9, e compõem um
quadro muito comum no contexto familiar. O tema
gerador é a desobediência como elemento de desagre-
gação familiar. Se eu fosse definir em uma frase essa
porção como um todo, extrairia a seguinte ideia: A sua
desobediência traz consequências terríveis para você
mesmo e para todos que estão em seu entorno.
Essa grande ideia viria em uma forma de apelo, a
fim de que houvesse um cuidado para com o seu co-
ração, que pode vir a ser seduzido pelo lado obscuro
da vida, isso por conta da rebelião e do desassossego
da sua alma.
Os personagens nessa trama familiar poderiam
ser identificados claramente: são pais com corações
divididos pelos filhos, e irmãos que competem entre
si pelas migalhas de amor de seus pais. Tudo isso em
um ambiente com elementos de casamento fora do
favor do Senhor, bênçãos trocadas e quebra de um
vinculo familiar que era necessário, mas que não pre-
cisava ser tão tumultuado.
17
Toda desobediência tem uma etiqueta de preço.
Em resumo ela sempre vai custar algo para a pessoa
envolvida por ela. Quando penso no contexto fami-
liar me assusto pelo fato de que o preço a ser pago,
na maioria das vezes, está muito além da capacidade
de se mensurar! Há jovens, hoje, sofrendo horrores
por conta de decisões que foram tomadas ao calor dos
sentimentos e não com a razoabilidade da cabeça! E,
por conta disso, hoje choram!
Tenho assistido alguns episódios da série “guer-
ra nas estrelas” e me espanta ao traçar um perfil do
personagem Anakin Skywalker. Desde jovem, com
uma infância bastante sofrida, ele se deparou com um
conflito interno muito grande, de um lado ele pendia
para um aguçado senso de justiça e por outro ele in-
clinava para uma intolerância em relação ao diferen-
te. Essa relação dúbia de interesses, digamos assim,
pode ser identificada nos personagens principais da
trama que é exposta neste livro: Jacó e Esaú.
Ao mesmo tempo em que ambos desejam arden-
temente a bênção do pai, cada um, a seu jeito, rejeita o
pai da bênção. Pense comigo: Esaú não honrava a seu
pai, pois havia desprezado o direito da primogenitura
em um delírio provocado pela fome e Jacó não o hon-
rava ao enganá-lo com a roupa com o cheiro de Esaú.
De qualquer modo, ambos não amavam de verdade a
Isaque, o pai deles.
E para encerrar, a fim de que você entre imediata-
mente na trama principal, uma palavra sobre o com-
portamento dos pais que poderá ser visto nos filhos.
É claro e notório que os filhos reproduzem tendências
18
dos próprios pais. Isaque e Rebeca foram protótipos
das desventuras de seus filhos. Se não, veja: Isaque
com certo distanciamento das questões familiares e
Rebeca com uma astuta manipulação dos fatos em
sua volta para privilegiar seus próprios sentimentos.
É triste, mas é verdade o que o puritano Cotton
Matten disse no passado: “Será impossível a você ins-
pirar qualquer bem em seus filhos, se você mesmo
está vazio do bem. Se um caranguejo velho anda para
trás, não faz sentido que o jovem ande para frente:
Senhores, os jovens seguirão os velhos”.

19
1
A DESOBEDIÊNCIA
CUSTA CARO
A desobediência impõe um rito macabro: Toda
desobediência tem uma etiqueta de preço.

Ora, sendo Esaú da idade de quarenta anos, tomou


por mulher a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basema-
te, filha de Elom, heteu. E estas foram para Isaque e
Rebeca uma amargura de espírito. (Gênesis 26:34-35)
E ACONTECEU que, como Isaque envelheceu, e os
seus olhos se escureceram, de maneira que não podia ver,
chamou a Esaú, seu filho mais velho, e disse-lhe: Meu
filho. E ele lhe disse: Eis-me aqui. E ele disse: Eis que já
agora estou velho, e não sei o dia da minha morte; Agora,
pois, toma as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, e sai
ao campo, e apanha para mim alguma caça. E faze-me
um guisado saboroso, como eu gosto, e traze-mo, para
que eu coma; para que minha alma te abençoe, antes
que morra. E Rebeca escutou quando Isaque falava ao
seu filho Esaú. E foi Esaú ao campo para apanhar a caça
que havia de trazer. Então falou Rebeca a Jacó seu filho,
dizendo: Eis que tenho ouvido o teu pai que falava com
Esaú teu irmão, dizendo: Traze-me caça, e faze-me um
guisado saboroso, para que eu coma, e te abençoe diante
da face do SENHOR, antes da minha morte. Agora, pois,
filho meu, ouve a minha voz naquilo que eu te mando:
Vai agora ao rebanho, e traze-me de lá dois bons cabri-
21
tos, e eu farei deles um guisado saboroso para teu pai,
como ele gosta; E levá-lo-ás a teu pai, para que o coma;
para que te abençoe antes da sua morte. Então disse Jacó
a Rebeca, sua mãe: Eis que Esaú meu irmão é homem
cabeludo, e eu homem liso; porventura me apalpará o
meu pai, e serei aos seus olhos como enganador; assim
trarei eu sobre mim maldição, e não bênção. E disse-lhe
sua mãe: Meu filho, sobre mim seja a tua maldição; so-
mente obedece à minha voz, e vai, traze-mos. E foi, e to-
mou-os, e trouxe-os a sua mãe; e sua mãe fez um guisa-
do saboroso, como seu pai gostava. Depois tomou Rebeca
os vestidos de gala de Esaú, seu filho mais velho, que ti-
nha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho menor; E
com as peles dos cabritos cobriu as suas mãos e a lisura
do seu pescoço; E deu o guisado saboroso e o pão que
tinha preparado, na mão de Jacó seu filho. E foi ele a seu
pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui; quem és tu,
meu filho? E Jacó disse a seu pai: Eu sou Esaú, teu pri-
mogênito; tenho feito como me disseste; levanta-te agora,
assenta-te e come da minha caça, para que a tua alma
me abençoe. Então disse Isaque a seu filho: Como é isto,
que tão cedo a achaste, filho meu? E ele disse: Porque o
SENHOR teu Deus a mandou ao meu encontro. E disse
Isaque a Jacó: Chega-te agora, para que te apalpe, meu
filho, se és meu filho Esaú mesmo, ou não. Então se che-
gou Jacó a Isaque seu pai, que o apalpou, e disse: A voz é
a voz de Jacó, porém as mãos são as mãos de Esaú. E não
o conheceu, porquanto as suas mãos estavam cabeludas,
como as mãos de Esaú seu irmão; e abençoou-o. E disse:
És tu meu filho Esaú mesmo? E ele disse: Eu sou. Então
disse: Faze chegar isso perto de mim, para que coma da
22
caça de meu filho; para que a minha alma te abençoe. E
chegou-lhe, e comeu; trouxe-lhe também vinho, e bebeu.
E disse-lhe Isaque seu pai: Ora chega-te, e beija-me, fi-
lho meu. E chegou-se, e beijou-o; então sentindo o cheiro
das suas vestes, abençoou-o, e disse: Eis que o cheiro do
meu filho é como o cheiro do campo, que o SENHOR
abençoou; Assim, pois, te dê Deus do orvalho dos céus, e
das gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto.
Sirvam-te povos, e nações se encurvem a ti; sê senhor de
teus irmãos, e os filhos da tua mãe se encurvem a ti; mal-
ditos sejam os que te amaldiçoarem, e benditos sejam os
que te abençoarem. (Gênesis 27:1-29)
Se existe um texto da Bíblia triste é esse, a trama é
“bem bolada” e o pior é que acontece tudo na família.
Até ouso a dizer que as intrigas mais “bem boladas”
acontecem justamente dentro da nossa casa! Os fi-
lhos são os que, vez por outra, se mostram especia-
listas em enganarem os seus pais, as mulheres em en-
ganarem aos seus esposos, e esposos em enganarem
suas esposas, além de mães a enganarem seus filhos, e
por ai vai. Isso acontece!

1) A desobediência magoa o coração.

A desobediência de um filho magoa


profundamente o coração de um pai que ama.
No texto vemos que tudo aconteceu pela desobe-
diência de um filho, Esaú, e quando ele tinha quaren-
ta anos! E para quem gosta de curiosidade bíblica, em
23
Genesis 24, quando Isaque, o pai de Esaú tinha qua-
renta anos, Abraão seu pai, enviou um de seus servos,
Eliézer, à sua terra natal para conseguir uma esposa
para ele. E tudo foi em um contexto regado a muita
oração e dependência de Deus. Foi tudo fruto de uma
providência de Deus para que Rebeca chegasse a ser
esposa de Isaque.
Agora, Esaú também está com quarenta anos, se
casa, mas já não ora mais, não busca mais a Deus
para essa importante decisão, e toma uma mulher,
opa, não apenas uma, mas duas, a saber: Judite e Ba-
semate. E o diferencial em relação à sua mãe, Rebe-
ca, é que essas duas mulheres, eram filhas de Heteu,
estrangeiras, cananeias, mulheres que não conheciam
ao Senhor Deus.
É muito triste e penoso quando acontecessem
casamentos fora da vontade de Deus, quando as
pessoas se casam colocando em questão a beleza
física, a possibilidade financeira real, ou quaisquer
outros critérios que não o mais importante: se a mu-
lher ou homem com quem vai se casar, de fato é servo
ou serva do Deus altíssimo!
Eu não me preocupo em ser politicamente corre-
to, pois a Bíblia nos mostra que os “casamentos mis-
tos”, falo de crentes com não crentes, sempre foram
problemáticos! Esaú errou duas vezes: casou-se com
duas mulheres ao mesmo tempo, e ainda casou-se
com mulheres alheias à bênção de Abraão. O texto
bíblico fala que essas mulheres foram para os pais de
Esaú “uma amargura de espírito”. O original diz, “eles
ficaram aflitos”. Quantos pais estão aflitos porque seus
24
filhos insistem em se relacionar com pessoas fora da
aliança, pessoas que não são convertidas a Jesus! Mes-
mo porque, até dentro da igreja existem pessoas fora
da aliança; estou falando de gente dentro da igreja
que ainda não se converteu a Jesus!
Mattew Henry reforça esse argumento destacan-
do: “Esaú foi néscio ao casar com duas esposas juntas,
e pior ainda, ao casar com cananeias, alheias à bên-
ção de Abraão e sujeitas à maldição de Noé. Doeu a
seus pais que casasse sem o conselho nem o consen-
timento. Os filhos que causam preocupações a seus
pais bons têm poucas razões para esperar a bênção
de Deus”.
Isaque e Rebeca choravam todos os dias, e houve
aqui uma frustração de expectativas, porque nenhum
pai e nenhuma mãe criam um (a) filho (a) para, na
idade do casamento, entregá-lo (a) a uma pessoa que
não conhece a Deus! O drama desses pais é intenso!
Imagine você investindo no seu filho com tanta dedi-
cação e empenho em caminhar para a casa do Senhor,
e de repente essa pessoa preciosa se envolve com al-
guém que não caminha com Deus! Isso é trágico!
Insisto que todo desobediente é amargura para a
alma de seus pais! O mais interessante é que na narra-
tiva bíblica não houve repreensão, mas houve aflição de
espírito! Não importa a idade de seu (sua) filho (a), a de-
sobediência dele (a) sempre vai causar um espírito aflito
em seu coração como pai (e mãe)! Mãe e pai não têm
escolha, eles só existem para duas coisas: se alegrarem
quando o filho (a) é obediente ou para se entristecerem
até à morte quando ele (a) só faz besteira na vida!
25
2) A predileção é desastrosa.

A predileção de uma mãe por um filho


é desastroso para a formação do caráter
desse filho.
Mas o meu foco aqui é a relação tensa entre Esaú
e Jacó, que é fruto de um partidarismo diabólico que
havia dentro da casa de Isaque e Rebeca. Logo tudo
isso vai desembocar em ódio mortal.
No site http://www.opusculo.com/pt/a-biblia-
-10-jaco-e-esau-dois-gemeos-muito-diferentes/
encontramos que “apesar de serem gêmeos, os dois
irmãos eram muito diferentes. O mais velho foi cha-
mado de Esaú, devido ao seu aspecto peludo logo à
nascença. Ele era selvagem e irrequieto. Quanto ao
mais novo, ele quase não tinha pelos. O seu nome,
Jacó, significa agarrador de calcanhar e ele era muito
quieto e manso. Quando cresceram, Esaú, levado pelo
seu espírito selvagem, tornou-se caçador. O seu pai,
Isaque, gostava muito dele porque lhe trazia refeições
muito saborosas. Mas, Jacó tornou-se pastor. Ele era o
preferido de Rebeca por ser assim tão calmo”.
Quando os irmãos eram jovens, houve um episó-
dio, registrado em Genesis 25.29-34, onde Jacó sor-
rateiramente aproveitou um tempo de fragilidade de
Esaú que havia chegado de uma caça mal sucedida
para lhe fazer uma “proposta indecente”: ele queria
o “direito de primogenitura”. Jacó estava obcecado
em ser o “primeiro” no coração de seu pai. Jacó havia
26
crescido com o sentimento de que ele era o número
dois de seu pai. E o amor do pai reforça a identidade
do filho homem.
Muita coisa está envolvida nesse princípio do “di-
reito da primogenitura”.

• O filho primogênito de sexo masculino (e


de todos os animais assim nascidos) era con-
sagrado a Deus e recebia dupla porção da he-
rança paterna.

Mas ao filho da desprezada reconhecerá por pri-


mogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto
tiver; porquanto aquele é o princípio da sua força, o
direito da primogenitura é dele. (Deuteronômio 21:17)

• Antes da instituição formal do sacerdócio


em Israel, o filho primogênito era o sacerdo-
te da família, cuidando do culto e das práticas
espirituais da família.

• Presumivelmente, o filho primogênito era


dotado de superioridade política, social e mo-
ral e de autoridade sobre a família, depois da
morte do pai.

Rúben, tu és meu primogênito, minha força e o


princípio de meu vigor, o mais excelente em alteza e o
mais excelente em poder. (Gênesis 49:3)

27
Além disso tudo, o filho primogênito recebia uma
bênção superior de seu pai, o que, segundo se conce-
bia, tinha o poder de moldar os eventos futuros em
favor desse filho.
Não se sabe se Isaque soube dessa troca! E saber que
tudo isso aconteceu por um prato de carne moída! Pelas
leis da época se podia trocar ou vender o direito de pri-
mogenitura. Mas Esaú vendeu por muito pouco! Ele era
o tipo de sujeito que só pensava no seu estômago!
E, por incrível que pareça, seu pai Isaque era as-
sim também! Em Genesis 27, o texto bíblico nos fala
de que Isaque estava velho e cego e pede então um
guisado ao seu filho. Ele também só pensava em seu
estômago! Alguém sugeriu que Isaque é cego em mais
de uma maneira. Ele devia ter visto que o casamento
de Esaú com as hititas comprometia o plano de Deus
de que Abraão e sua semente formem uma nação
separada. Ele devia ter percebido que Esaú não era
digno de representar o povo especial de Deus. Mas
Isaque leva a sua cegueira adiante. Ele, assim como
Esaú, é controlado pelos próprios apetites. Em Gêne-
sis 27, o narrador repete a palavra “caça” oito vezes, e
“comida saborosa” seis vezes.
Depois de saborear o guisado, Isaque estaria aben-
çoando a Esaú em seu “direito de primogenitura”.
Antes é preciso deixar bem claro que Deus já havia
definido acerca da superioridade de Jacó em relação a
Esaú (isto porque Deus já sabia de antemão do caráter
profano de Esaú):
E Isaque orou insistentemente ao SENHOR por sua
mulher, porquanto era estéril; e o SENHOR ouviu as
28
suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu. E os filhos
lutavam dentro dela; então disse: Se assim é, por que
sou eu assim? E foi perguntar ao SENHOR. E o SE-
NHOR lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois
povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será
mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao
menor. (Gênesis 25:21-23)
Isaque, que já sabia do fato de que Jacó seria o her-
deiro da bênção da primogenitura, resolve aqui fazer
uma “pressão” ao Senhor, pois preferia Esaú, e não a
Jacó! Nessa direção, Ron Crisp fez um comentário
muito pertinente dizendo que atualmente muitas pes-
soas sentem que, porquanto tentam fazer a vontade
de Deus, todos os meios são válidos. Mas devemos
aprender que a obra de Deus deve ser feita da Sua ma-
neira. O propósito de Deus poderia ser realizado sem
o comportamento pecaminoso de Rebeca e Jacó. Eles
feriram a eles mesmos e a outros inutilmente.

3) A mentira cobra um alto preço.

Quando a mentira entra na porta da famí-


lia, paga-se um alto preço por isso.
Agora, cá para nós: como é feio uma mulher in-
discreta! Rebeca está ouvindo a conversa entre Isaque
e Esaú! Penso que, infelizmente, a beleza exterior de
Rebeca não se refletia no seu interior. Ela olhou, ob-
servou tudo, saiu, chamou Jacó e começou a sugerir
uma estratégia para o que tinha em mente. Gênesis
29
27.8 destaca que, antes de enunciar a proposta, Rebe-
ca diz a seu filho, Jacó: “Portanto, meu filho, dá ou-
vidos agora a minha voz naquilo que eu te ordeno”.
Ela explicita os detalhes de sua sórdida ideia: “Vai
agora ao rebanho, e traze-me de lá dois bons cabri-
tos, e eu farei deles um guisado saboroso para teu
pai, como ele gosta; E levá-lo-ás a teu pai, para que o
coma; para que te abençoe antes da sua morte.” (Gê-
nesis 27:9-10)
Repare que Rebeca incentivou Jacó a fazer algo
que não precisava ser feito, pois a bênção seria dele,
mais cedo ou mais tarde. Quero destacar a frase de
Watchman Nee sobre o caráter de Jacó: “Jacó foi uma
pessoa que usou sua própria força para ganhar o que
Deus queria dar a ele.” Seria dele de um jeito ou de
outro. Rebeca não precisa armar seus ardis! Ela in-
centivou seu filho a não ouvir a voz de Deus, mas a
sua voz!
Jacó, preocupado se irá dar certo ou não, demons-
tra sua preocupação sobre sua pele lisa, bem distinta
da pele cabeluda de seu irmão, e no texto há um deta-
lhe interessante: “Porventura me apalpará o meu pai,
e serei aos seus olhos como enganador; assim trarei eu
sobre mim maldição, e não bênção.” (Gênesis 27:12)
E a palavra “enganador” vem da raiz do nome do
próprio Jacó! É como se Jacó dissesse: “Eu vou ser
Jacó para ele”! e vou trazer ainda uma maldição, ele
completa. E Rebeca então fala em um tom desafiador:
“E disse-lhe sua mãe: Meu filho, sobre mim seja a tua
maldição; somente obedece à minha voz, e vai, traze-
-mos.” (Gênesis 27:13)
30
Rebeca assume todos os riscos de uma empreita-
da maldosa. Rebeca é exemplo de uma mulher que
trabalha contra a sua própria casa! É exemplo de uma
mulher tola que com suas próprias mãos derruba a
sua casa! Ela, que havia ouvido do Senhor que Jacó
seria abençoado, não precisava fazer absolutamente
nada! Mas ela é ardilosa, intriguenta, mentirosa e
permitiu que o amor ao seu filho fosse maior do que
o amor a Deus! Cuidado, mulheres, não amem mais
aos seus filhos do que a Deus!
Rebeca ficou cega de amor, não quis saber o que
Deus queria fazer. Existem muitos casais hoje que es-
tão em crise, porque as mulheres não querem viver
em função do papel que lhes é dado pelas Escrituras,
de serem “auxiliadoras”. A mulher não foi criada para
mandar no marido. A mulher não foi criada para co-
locar os filhos contra o marido! Há essa tendência
muito forte das mulheres tramarem de modo ardiloso
para colocar os filhos contra os seus pais! Rebeca era
desse jeito!
Frederick W. Robertson comenta algo perturba-
dor: “Vemos aqui a idolatria da mulher: ela sacrifi-
cou seu marido, seu filho mais velho, todo principio
superior, sua própria alma, e tudo por uma pessoa
idolatrada... Não nos enganemos. Ninguém jamais
amou demais a filho, irmão ou irmã. O que compõe
a idolatria não é a intensidade da afeição, mas sua in-
terferência na verdade e no dever. Rebeca amou a seu
filho mais do que à verdade...mais do que a Deus...O
único afeto verdadeiro é aquele que se subordina a
um afeto maior...”
31
Tem muita gente frustrada no casamento por con-
ta da falta de um amor leal e respeitoso no contexto
familiar.
Olha que dados assustadores! Os censos indicam
que milhares de maridos e esposas vivem separados
um do outro. Acrescente-se que milhões de casais
vivem sob o mesmo teto, mas separados no espírito.
Muitos desses lares são verdadeiros campos de bata-
lha. Os cônjuges permanecem juntos apenas por cau-
sa dos filhos.
Depois de entrevistar cerca de dois mil casais ca-
sados, um proeminente conselheiro matrimonial re-
gistrou que 70% das mulheres e 60% dos homens, se
pudessem voltar atrás, não se casariam outra vez com
a mesma pessoa. Muitos disseram que não se casa-
riam outra vez com ninguém.
Estamos diante aqui de uma crise na família de
Isaque. Rebeca é exemplo de uma mulher idólatra,
que sacrifica seu marido e seu filho mais velho. Em
nenhum momento ela pensa em Esaú! Ela é desalma-
da, amou demais apenas a um dos seus filhos. O úni-
co afeto verdadeiro era Jacó e não o Senhor.
Jacó seguiu todo o procedimento sugerido, e Re-
beca preparou o saboroso guisado. Depois, Jacó foi
vestido com cachecol com cheiro de campo, cheiro de
Esaú, e o texto seguinte fala desse encontro enganoso
e por que não dizer, engenhoso: “E foi ele a seu pai, e
disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui; quem és tu,
meu filho?” (Gênesis 27:18)
Deus deu uma chance para Jacó não fazer essa
besteira! Deus sempre vai dar uma chance para você
32
mudar o seu caminho em seu processo de queda.
Quando Isaque pergunta “quem és tu, meu filho?”, ele
reconheceu pela voz que não se parecia como Jacó,
que era um jovem pacato, do lar, seu andar era dife-
rente de Esaú. Mas imediatamente Jacó mente a seu
próprio respeito quando diz: “Eu sou Esaú”. A pior
mentira que o ser humano pode pregar é a que diz
respeito a si mesmo. Ele disse: “eu sou Esaú”. Ele men-
te, esconde sua identidade.
Deus dá uma segunda chance quando Isaque per-
gunta sobre a rapidez com que o guisado foi prepa-
rado, mas Jacó mente de novo, e mente a respeito do
próprio Deus, pois ele diz: “Pois o Senhor teu Deus a
mandou ao meu encontro” (Genesis 27:20). Chega a
ser patético isso! Agora outro detalhe, é sincero, pois
ele diz que foi o Senhor “teu” Deus! Ele está dizendo
que houve limites em sua mentira!
Agora, Isaque pede para que Jacó se aproxime,
pois estava desconfiado, mas as roupas de Esaú con-
fundem a Isaque que diz mais tarde, “a voz é a voz de
Jacó, porém as mãos são as mãos de Esaú” (Gênesis
27:22). Quem você é? Talvez esteja fingindo ser uma
pessoa que você não é em sua casa, pensando estar
enganando a seus pais! Essa fala de Isaque tem se re-
petido em nossos dias, porque mais cedo ou mais tar-
de você será descoberto. Tem filho que pensa que está
enganando seu pai, pensando que ele está cego, mas o
pai sabe quem é “Jacó” e quem é “Esaú”, e se você está
fingindo ser quem você não é, um dia a máscara cairá
e a sua imagem de bonzinho vai acabar! É melhor fa-
lar a verdade agora do que amanhã ser descoberto. E
33
ser descoberto implica em punição. Você sempre terá
de arcar com as consequências! Pare de fingir que é
santinho! Pare de vir à igreja apenas para agradar a
seus pais e ficar aprontando durante a semana. Há um
livro de Bill Hybels que pergunta: “quem você é quan-
do ninguém está vendo?”. Na internet você tem per-
fil doido, você é “Jacó”, mas quer dar uma de “Esaú”,
só para chamar a atenção da galera. Quantos “Jacós”
hoje que insistem em serem “Esaús”! Gente pacata,
gente do bem, mas que quer dar uma de “bad boy”,
para ter cartaz! Um dia a máscara cairá!
Isaque não reconheceu a Jacó, e o abençoou. Mas
uma curiosidade aqui é que Isaque ainda viveu qua-
renta e três anos depois desse episódio! Ele pensava
com o estômago e não com a cabeça! Ele comeu a
refeição, e nem reparou que não era carne de caça,
mas de cabrito! Ele não reconheceu! Aí depois, beija
a Jacó! Olha que interessante: assim como Judas que
traiu a Jesus com um beijo, Jacó faz o mesmo com
o seu velho Pai. Quantos filhos têm traído seus pais
com um beijo! Eles aprontam tudo, mas declaram
amor com beijos sebosos e enganosos! Quantas filhas
têm enganado seus pais com beijos! Cuidado para
que, com um beijo você não esteja causando amargu-
ra ao coração do seu pai, ou da sua mãe!
Na versão “A mensagem”, a bênção de Isaque foi
traduzida assim:

“Ah! O cheiro de meu filho


é como o cheiro do campo
abençoado pelo Eterno.
34
Que Deus dê a você
do orvalho do céu
e fartura de grãos e de vinho da terra.
Que os povos sirvam a você
e as nações o respeitem.
Você dominará sobre seus irmãos,
e os filhos de sua mãe haverão de honrá- lo.
Os que amaldiçoarem você serão amaldiçoados,
e os que abençoarem você serão abençoados”.

Um comentário cabe aqui: “A bênção patriarcal


era uma forma de última vontade e testamento. Bên-
çãos orais eram consideradas tão irrevogáveis para
todas as partes como um contrato escrito”. Jacó rece-
beu essa bênção, repito que não precisava ser por en-
gano e mentira. Houve certamente um erro horrível,
mas a bênção foi dada!

4) Aplicando mais um pouco:

a) O casamento entre crentes e incrédulos traz


amargura ao coração dos pais que desejam o
melhor para seus filhos.

Temos um texto no NT precioso sobre esse as-


sunto: “Não vos prendais a um jugo desigual com
os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a
injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?”
(2 Coríntios 6:14)
Estou persuadido no Senhor que casamento de
crente tem que ser com outro crente! E casamento
35
não é “campo missionário” para ninguém! Por conta
da desobediência a esse princípio, muitos choram em
nossos dias. É bíblico, o crente se relaciona com cren-
te, o incrédulo com incrédulo.

b) Muitas vezes tomamos decisões impensa-


das no presente que apresentarão um alto pre-
ço a ser pago no futuro.

Há muitos anos atrás Esaú tinha vendido o “di-


reito de primogenitura” e agora fica sem a bênção
também. Eram duas coisas distintas. Tudo por uma
decisão tomada no passado. Olha, se você tomou al-
guma decisão no passado, vai pagar no futuro, quer
você queira quer não. A vida não costuma dar segun-
da chance para ninguém. A vida não é generosa. Por
decisões tomadas no passado, a conta vem, quer você
queira quer não, o boleto vem, e você terá de pagar.
Não se pode ter pena de Esaú aqui, pois ele fez essa
decisão em seu passado! Na vida tudo é uma questão
de causa e efeito. Se o homem semeia, ele colhe!

c) Você tem honrado o seu esposo respeitando


as suas decisões ou, como Rebeca, você sem-
pre está “escutando” suas conversas para en-
ganá-lo?

Tem mulher que pretende ajudar o marido inter-


ferindo em decisões que ele pretende tomar, sem o
devido acordo e consideração. Se o seu marido esti-

36
ver perto de “quebrar a cara”, a sua decisão deve ser a
de estar do lado dele para apoiá-lo; não tem que dar
“jeitinho”. A atitude de Rebeca foi de maldade, falta
de caráter. Não se fica escutando conversa, intercep-
tando e-mails ou coisa desse tipo. Não se preste a esse
papel. Se desconfiar de seu marido, não vá à casa da
“outra” fazer confusão. Deus sabe o seu endereço! Ele
vai mostrar a você! E, quando mostrar, aí sim, tome a
decisão que deve ser tomada! Não se rebaixe! Não seja
prostituta de seu próprio marido! A mulher precisa
aprender a se valorizar, e isso acontece quando fica
no seu lugar. Rebeca foi terrível, e pagou um preço
alto por isso: seu nome foi silenciado nas Escrituras e
só aparece quando é relatado o seu sepultamento na
cova de Macpela (Genesis 49.31). Por conta desse ato
aqui, Rebeca nunca mais viu ao seu filho Jacó! Foram
vinte anos que ela ficou longe de seu filho, ela morreu
e não viu o seu filho de volta. A Bíblia não registra
detalhes de sua morte.

d) Você ama os seus filhos por igual, ou tem os


seus prediletos?

Cuidado com essa história de filho predileto. A


meu ver a origem desses problemas aqui era justa-
mente isso: Isaque gostava de Esaú e Rebeca de Jacó!
Os filhos têm de ser tratados de modo igualitário. Há
pais que são responsáveis por terem filhos brigando,
por que dão para um e não para o outro. Tem pais que
são injustos! Por que Isaque não chamou Jacó e Esaú

37
para deixar clara a divisão das bênçãos, sem deixar
que esse processo de engano se estabelecesse? Mas
Isaque era do tipo que não estava disposto a conver-
sar, ele tinha seu filho predileto e ponto. Rebeca por
sua vez, ignorava a Esaú.
A pior desgraça é um filho não ser amado por sua
mãe! E tenho para mim que Esaú foi o vigarista com
muitas mazelas em sua alma porque ele sabia que não
era amado por sua mãe. Assim como eu creio que
muito da pilantragem de Jacó era porque ele sabia
que nunca foi amado por seu pai! E que, do ponto
de vista puramente humano, ele só recebeu a bênção
porque vestiu a roupa de Esaú, engrossou a voz como
Esaú, porque senão ele continuaria sendo um “nada”
para seu pai.

e) A honra a pai e a mãe (nessa ordem) é man-


damento bíblico, tanto no Antigo quanto no
Novo Testamento.

Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolon-


guem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te
dá. (Êxodo 20:12)
VÓS, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor,
porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é
o primeiro mandamento com promessa; para que te vá
bem, e vivas muito tempo sobre a terra. (Efésios 6:1-3).
Não se trata de honrar pai “bom” e mãe “boa”, mas
simplesmente “honrar a pai e a mãe”. Eu repito, e nes-
sa ordem: primeiro pai, depois a mãe. Sejam eles o

38
que forem. Eu pergunto: “Jacó honrou a seu pai?”. De
modo algum.
Mais do que trazer presentes no “dia dos pais” e
no “dia das mães”, os pais e mães querem, com certe-
za, ter o coração dos seus filhos!
Uma menina teve uma experiência interessante.
Seu pai era um dos Puritanos inflexíveis da Nova
Inglaterra, na América do Norte; inflexível, porém,
sábio e amoroso, A família foi para o Oeste e fixou
residência perto de um lago muito belo. Julgou-se
imprudente que a criança andasse sozinha à beira
do mesmo, por isso eles a proibiram de andar pela
vizinhança do lago. Mas a beleza fascinante do
lençol d›água era demais para a alma poética da
criança. Assim, passeando pelos limites que lhe
foram circunscritos, sentiu-se tentada, e deu um belo
passeio sozinha à beira do lago. Procurou acalmar a
consciência evitando cuidadosamente o perigo, pois
julgou que se dissesse isso a seu pai ele reconheceria
ser justo seu ponto de vista. Porém, para agradá-lo,
trouxe-lhe a mão cheia de belas conchas. Quando as
colocou na mão de seu pai, ele as arremessou tão longe
quanto possível e disse-lhe laconicamente: «Minha
filha, obedecer é melhor que o sacrifício». A lição
jamais foi esquecida. Penetrou-lhe a personalidade e
conseguiu fazê-la mulher e mãe extraordinária.
Quero terminar com essa frase: nenhuma deso-
bediência pode ser compensada com um sorrisinho
nos lábios e um “eu te amo” falso. A desobediência
nada vai compensar. Eu, como pai, não quero que
meu filho me diga que me ama se ele não estiver vi-
39
vendo uma vida que agrade a Deus. É a mesma coisa
que Deus espera da gente também, não adianta vir na
igreja oferecer um culto que não tenha esse princípio
em destaque: “obediência é melhor que sacrifício”.

40
2
A AMARGURA CORRÓI O
CORAÇÃO
A desobediência dissolve uma bênção: A
amargura desencadeia um processo corro-
sivo no coração.

E aconteceu que, acabando Isaque de abençoar a


Jacó, apenas Jacó acabava de sair da presença de Isa-
que seu pai, veio Esaú, seu irmão, da sua caça; e fez
também ele um guisado saboroso, e trouxe-o a seu pai;
e disse a seu pai: Levanta-te, meu pai, e come da caça
de teu filho, para que me abençoe a tua alma. E disse-
-lhe Isaque seu pai: Quem és tu? E ele disse: Eu sou teu
filho, o teu primogênito Esaú. Então estremeceu Isaque
de um estremecimento muito grande, e disse: Quem,
pois, é aquele que apanhou a caça, e ma trouxe? E comi
de tudo, antes que tu viesses, e abençoei-o, e ele será
bendito. Esaú, ouvindo as palavras de seu pai, bradou
com grande e mui amargo brado, e disse a seu pai:
Abençoa-me também a mim, meu pai. E ele disse: Veio
teu irmão com sutileza, e tomou a tua bênção. Então
disse ele: Não é o seu nome justamente Jacó, tanto que
já duas vezes me enganou? A minha primogenitura me
tomou, e eis que agora me tomou a minha bênção. E
perguntou: Não reservaste, pois, para mim nenhuma
bênção? Então respondeu Isaque a Esaú dizendo: Eis
41
que o tenho posto por senhor sobre ti, e todos os seus
irmãos lhe tenho dado por servos; e de trigo e de mosto
o tenho fortalecido; que te farei, pois, agora, meu filho?
E disse Esaú a seu pai: Tens uma só bênção, meu pai?
Abençoa-me também a mim, meu pai. E levantou Esaú
a sua voz, e chorou. Então respondeu Isaque, seu pai, e
disse-lhe: Eis que a tua habitação será nas gorduras da
terra e o orvalho dos altos céus. E pela tua espada vi-
verás, e ao teu irmão servirás. Acontecerá, porém, que
quando te assenhoreares, então sacudirás o seu jugo
do teu pescoço. E Esaú odiou a Jacó por causa daquela
bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e Esaú dis-
se no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto de meu
pai; e matarei a Jacó meu irmão. E foram denunciadas
a Rebeca estas palavras de Esaú, seu filho mais velho;
e ela mandou chamar a Jacó, seu filho menor, e disse-
-lhe: Eis que Esaú teu irmão se consola a teu respeito,
propondo matar-te. Agora, pois, meu filho, ouve a mi-
nha voz, e levanta-te; acolhe-te a Labão meu irmão, em
Harã, e mora com ele alguns dias, até que passe o furor
de teu irmão; até que se desvie de ti a ira de teu irmão, e
se esqueça do que lhe fizeste; então mandarei trazer-te
de lá; por que seria eu desfilhada também de vós ambos
num mesmo dia? (Gênesis 27:30-45)
Estamos diante de um enredo sórdido, de uma
história trágica, analisando juntos a um processo in-
fernal que dividiu uma família ao meio. Uma família
com quatro componentes, um homem, uma mulher e
dois filhos gêmeos, mas que por conta dessa situação,
encontra-se dividida, ficando o pai e o filho mais ve-
lho de um lado, e a mãe e o filho mais novo do outro.
42
Watchman Nee disse que Jacó foi o homem que quis
receber por esforço próprio, aquilo que o Senhor já ha-
via lhe dado. Mais cedo ou mais tarde Jacó seria o aben-
çoado, não Esaú. Mas ele não precisava mentir, ser tão
desonesto e sempre em conluio com sua mãe Rebeca.

1) A bênção perdida por causa do passado.

A bênção paterna foi perdida por conta de


uma combinação sórdida do passado.

Vamos analisar o lado de Esaú. Ele é exemplo de


um homem que permitiu que a amargura desenvol-
vesse um processo corrosivo em seu coração, porque
ele descobre-se em busca de uma bênção paterna
perdida. Então ele agasalha em seu coração um plano
sórdido, matar seu irmão Jacó. Essa bênção paterna
perdida foi por conta de uma decisão infeliz do pas-
sado.
Esaú, depois de fazer o seu apetitoso prato, leva-o
ao seu pai, Isaque, desejoso de receber a sua bênção,
mesmo já tendo consciência de que há muitos anos
atrás havia aberto mão do “direito da primogenitura”,
mas ele acreditava que ao menos a bênção ele poderia
receber. Ele não estava levando a sério de que de fato,
naquele seu ato impensado no passado, ele havia co-
locado em risco não apenas o seu “direito de primo-
genitura”, mas também a bênção do seu pai.
Eu não sei do que você abriu mão em seu passado.
Mas eu quero, de antemão, reiterar que o passado não
43
costuma perdoar as contas que temos com ele, a fatu-
ra sempre chega ao seu endereço, custe o que custar!
Passaram-se décadas, mas Esaú agora está pagando
o que ele plantou. Hoje você está colhendo em sua
família aquilo que você plantou em seu passado! E cá
para nós, Paulo vai escrever aos gálatas: “Não erreis:
Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o
homem semear, isso também ceifará. Porque o que
semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção;
mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a
vida eterna.” (Gálatas 6:7-8)
Esaú está colhendo frutos da sua atitude impen-
sada e irresponsável do passado. E Isaque está pagan-
do um preço muito alto por ter ignorado o que Deus
lhe havia dito no nascimento dos filhos: “o filho mais
velho estaria servindo ao mais moço”. As rodas do
destino tinham ido longe demais. Esaú havia aberto
mão do seu “direito de primogenitura” em um mo-
mento crítico, por sua própria escolha, e agora Jacó
está triunfando!
Walter Russel Bowie vai dizer que “as rodas do
destino tinham ido longe demais! Esaú havia despre-
zado o seu direito de primogênito em um momento
crítico, por sua própria escolha, e isso possibilitou
o triunfo de Jacó. Havia sido pesado na balança do
julgamento divino e fora achado em falta... ele nunca
fora um homem mau, mas mostrava-se indiferente e
desprezador quanto aos valores invisíveis”. O autor
aos Hebreus vai dizer que Esaú era “impuro e profa-
no”, ele pensava só no presente. Muita gente é assim
em nossos dias.
44
Esaú, quando chega para receber a bênção, per-
cebe seu pai de “barriga cheia”. E Isaque pergunta:
“Quem és tu?”. E Esaú responde: “Sou teu filho primo-
gênito”. Ora, mas ele não havia vendido o seu direito
de primogenitura? Nisso, Isaque teve um estremeci-
mento muito grande. No hebraico vai dizer que ele
“tremeu excessivamente”. A expressão é muito forte
no hebraico: Isaque quase enfartou! S. Lewis John-
son diz que Isaque tremeu com um grande tremor,
tremendo excessivamente ou tremeu excessivamente.
Ele perguntou, então, sobre quem era aquele que
lhe havia oferecido o guisado ainda há pouco. Diante
disso, Esaú, “bradou com grande e mui amargo bra-
do” e disse: “abençoa-me a mim também, meu pai”.
(Genesis 27.34)
Um detalhe importante é que estamos falando de
uma cultura fortemente oral, de modo que uma bên-
ção pronunciada, não poderia ser revogada. O aben-
çoado não poderia ser “desabençoado”. O que acon-
teceu? Esaú chorou, mas o texto nos dá a entender
que esse choro não foi de arrependimento, mas sim
de remorso. S. Lewis Johson diz que “há uma diferen-
ça entre remorso e arrependimento. Esaú tinha uma
grande quantidade de remorso, chorando com gritos
amargos. Mas, para o arrependimento, Esaú não sabia
o significado de arrependimento.”
Esaú não sabia o que era arrependimento porque
agia de modo devasso. “E ninguém seja devasso, ou
profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o
seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que,
querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeita-
45
do, porque não achou lugar de arrependimento, ainda
que com lágrimas o buscou.” (Hebreus 12:16-17)
A Bíblia explica detalhadamente que Esaú não se
arrependeu! Quantos filhos hoje em dia também cho-
ram por aquilo que fizeram aos seus pais, mas não
por arrependimento, e sim por remorso! Filhos que
choram por medo de serem punidos, e não por pre-
tenderem mudar de vida. A palavra “arrependimen-
to”, do grego metanoia, é “mudança de mente”. Não fi-
que cheio de lágrimas, arrependa-se verdadeiramente
para não ser como Esaú, “um mendigo de bênçãos”,
que padeceu justamente porque ele nunca mudou de
atitude, de vida!
Eu fico pensando, e o meu coração entristece ao
saber, que tem muita gente em nosso meio choran-
do amargamente, mas sem nenhum compromisso de
mudança de vida! Quantos pais queriam que seus fi-
lhos fossem o minimamente obedientes, mas não o
são! Filhos que só pensam em seu próprio estômago,
como Esaú. Filhos que não se importam em agradar
o coração do pai, da mãe. Querem satisfazer-se a si
mesmos! São como Esaú, choram, mas não mudam
de vida!
Se Esaú tivesse mudado de vida reconheceria que
o que ele estava colhendo era de sua própria respon-
sabilidade, somente culpa dele. Eu não defendo Jacó,
mas Esaú foi enganado porque desprezou a seu pai,
por estar interessado naquela refeição ao fim de uma
tarde. O que ele estava colhendo era fruto de seu me-
recimento. Muita coisa que você está vivendo hoje é
porque você foi um péssimo filho! Você desonrou seu
46
pai, sua mãe, e hoje, mesmo convertido, você pagará
por isso. É o alto preço da desobediência!
Deus perdoa o pecado, mas não alivia as conse-
quências! Eu não seria honesto se falasse em termos
de prosperidade, ou de uma forma divina de apagar
instantaneamente todas as nossas rebeldias do passa-
do, mas não tem outro jeito. Tenho de afirmar que
filho desobediente, que desonra a pai e a mãe, como
a Palavra de Deus diz, não terá vida longa na terra. E
“vida longa” não é a quantidade de anos, mas a quali-
dade de anos que se vive na terra. O filho desobedien-
te é a tristeza da sua mãe, é a desonra de seu pai. Eu
não quero que meu filho seja rico, mas quero que ele
honre os valores que eu lhe tenho ensinado.
Atente para os versos citados, na integra: “VÓS,
filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, por-
que isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o
primeiro mandamento com promessa; para que te vá
bem, e vivas muito tempo sobre a terra.” (Efésios 6:1-
3). “O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensa-
to é a tristeza de sua mãe.” (Provérbios 10:1).
Tem filhos que são como Esaú, reclamarão o tem-
po todo da vida que tiveram, verão seus irmãos e pri-
mos prosperarem, e permanecerão choramingando
pelos cantos a própria (falta de) sorte. Acorde! Esaú
fez aquilo que muitos ainda hoje fazem, se fazem de
“enganados”, e exclamam, com síndrome de vítima,
“tirou-me o direito de primogenitura e agora me tirou
a bênção.” A Psicanálise é que explora bem essa ques-
tão de se ser vítima das circunstâncias do passado e
47
de outras pessoas, mas Esaú não é vítima em espécie
alguma! Esaú pede então por uma bênção! E Isaque
fica “numa sinuca de bico”, ele lembra certamente do
que Deus lhe havia dito: “o mais velho servirá ao me-
nor”.

2) Bênção recuperada, mas sem alegria.

Esaú ainda está em busca da bênção


paterna perdida, e a recupera, embora não
do modo como sua alma se agradaria.
Esaú chora por uma bênção! Mas ele não estava
querendo a bênção pela honra a seu pai, ele queria
as vantagens que isso lhe iria proporcionar. A bênção
dele vem, e uso aqui a versão “A mensagem”: “Então,
Isaque pronunciou esta bênção: ‘Você viverá longe da
fartura da terra, afastado do orvalho do céu. Viverá
pela espada, que sempre estará em sua mão, e servirá
a seu irmão. Mas, quando não puder mais suportar,
você se libertará e correrá livre’.”
Comparando com a bênção de Jacó, tudo fica mais
claro que haveria uma relação de servilismo de Esaú.
Durante toda a história do povo de Deus, os hebreus e
os edomitas (Esaú) nunca se deram. Houve períodos
em que os edomitas foram dominados. Mas ocorreu
aqui o que Isaque disse: “mas quando não puder mais
suportar, você se libertará e correrá livre”. Herodes, o
rei dos judeus, que mandou matar os meninos abaixo
de dois anos quando Jesus nasceu, era descedente de
48
Esaú: era edomita. Isso é confirmado pela informação
do site http://pralexaraujo.blogspot.com.br/2012/02/
maldicao-dos-herodes-edomitas.html: “Este é Hero-
des, o Grande. Não era Judeu, mas não chegava a ser
algo muito diferente. Era edomita ou idumeu. Sua
descendência era prima da descendência judaica. Era
um descendente de Esaú ou Edom, irmão de Jacó. Na
verdade, Herodes, o Grande, era meio idumeu, meio
judeu. Em sua própria natureza havia uma guerra en-
tre os amigos e os inimigos de Deus. Foi ele que re-
construiu o templo em Jerusalém a partir de 19 AC”.

3) O ódio como alimento diário.

O ódio torna-se alimento diário de quem


vive a sua vida pensando em matar seu
irmão.
Considere essa verdade comigo: durante toda a
história o povo de Deus padeceu por conta de uma
decisão infeliz de um filho que, de modo irresponsá-
vel, desonrou a seu pai. Esaú odiava a Jacó por conta
da bênção com a qual seu pai lhe tinha abençoado
e agora ele pretendia matá-lo. No hebraico a palavra
“odiar” vem do verbo satan. Isso mesmo, Esaú foi
“Satanás” em relação a Jacó. Guardou ressentimento,
nutriu animosidade. Esaú desejava matar seu irmão.
O dicionário Strong ajuda na análise desse radi-
cal para a palavra “ódio”: “Esaú odiava a seu irmão
(palavra forte no hebraico, satam satam, uma raiz pri-
49
mitiva; DITAT- 2251; v. 1) odiar, opor-se a, guardar
rancor, guardar ressentimento contra, nutrir animo-
sidade contra 1a) (Qal) nutrir animosidade contra).”
Esaú pensava que seu pai iria morrer logo, mas a
história nos diz que ele viveu ainda mais quarenta e
três anos! Esaú seguiu o caminho de Caim, aquele que
havia matado o seu irmão. Esaú se propôs a impedir
que Jacó e a sua descendência tivessem a bênção de
Deus, tirando-lhe a vida. O clima estava armado! Era
difícil! Imagine comigo: na hora das refeições, todos
sentando à mesa, trocando olhares, olhares de ódio!
Esaú esperava matar seu irmão logo depois da morte
de seu pai. Essa sede de vingança fazia parte de seu
cotidiano.
Quantas famílias temos assim em nossos dias: ir-
mãos que se odeiam. Que se dispõem a matar um ao
outro por conta do ódio, da falta de perdão. Graças a
Deus conhecemos a história e chegaremos a um pon-
to de nosso texto em que Esaú perdoou a seu irmão e
sepulta todo esse ódio. Mas isso demorou vinte anos
para acontecer! Você sabe o que é alguém cozinhar
amargura e ressentimento por longos vinte anos!
Esaú, todos os dias acordava dizendo: “assim que pa-
pai morrer, eu vou matar meu irmão”.
De alguma fonte que não sabemos, Rebeca é avi-
sada das intenções de Esaú e logo chama Jacó e diz
para ele fugir para a casa de seu tio Labão, irmão de
sua mãe: “Agora, pois, meu filho, ouve a minha voz, e
levanta-te; acolhe-te a Labão meu irmão, em Harã, e
mora com ele alguns dias, até que passe o furor de teu
irmão.” (Gênesis 27:43-44).
50
Tenho para mim que Rebeca pensou que essa situa-
ção seria passageira! Por isso deu a sugestão para Jacó
ficar um tempo fora, até que as coisas fossem esfriadas
e resolvidas! Vinte anos se passaram e Rebeca nunca
mais viu seu filho Jacó. Nunca mais. Sua morte não foi
registrada, sua vida seguiu o exemplo negativo de uma
mulher que preferia um filho e abandonou o outro.

4) Aplicando mais um pouco:

a) Era plano de Deus que Jacó fosse abençoado.

Paulo escreveu: “E não somente esta, mas também


Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso
pai; porque, não tendo eles ainda nascido, nem ten-
do feito bem ou mal (para que o propósito de Deus,
segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das
obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela:
O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a
Jacó, e odiei a Esaú.” (Romanos 9:10-13)
Era plano de Deus que isso fosse acontecer, mas
o triste da história é que está todo mundo tentando
subverter a vontade de Deus. Estão todos querendo
concretizar os fins por meios de pecados. Por isso, em
relação a essa história, todos são culpados, pois Deus
não precisa da ajuda de ninguém. Jacó seria abençoa-
do de uma maneira muito mais calma e tranquila,
mas todo esse drama familiar acontece porque Esaú
era profano e porque Rebeca e Isaque tinham uma
questão séria: seus filhos eram disputados.
51
Rebeca e Isaque conseguiram fazer o que é de
mais negativo em uma família: cada um nutria de
amor apenas um filho, deixando o outro órfão! Re-
beca era mãe de Jacó apenas e tratava Esaú como um
ninguém. Isaque era pai apenas de Esaú e Jacó era
deixado de lado. Pais, se vocês continuarem deixando
órfão um filho seu, ou uma filha sua, prestem atenção:
um dia vocês irão pagar caro por isso! Os seus filhos
precisam ser tratados, amados e considerados como
iguais. Quando você ama um em detrimento do ou-
tro, está criando um monstro! E Deus vai colocar isso
na sua conta!
Mas é fato que Esaú nunca foi um abençoado.
No site http://gigliologia.blogspot.com.br/2013/07/
genesis-esau-e-jaco_4.html lemos que “Esaú, embora
primogênito, não era merecedor da herança. O texto
bíblico simpatiza por Jacó. Ele é digno de herdar a seu
pai. Ele carregará honradamente a pira da verdade
de Abraão. É ele o merecedor das bênçãos que Isa-
que herdou de seu pai, e não Esaú, o “perito caçador,
homem do campo” (Gn 25:27). Pois lá, nos campos
onde Esaú vivia, reinavam outras leis, diferentes das
leis herdadas de Abraão”.

b) Pense bem antes de tomar determinadas atitu-


des: porque quando a cabeça não pensa, o corpo
todo padece.

Esaú não pensou no futuro e depois correu atrás


da bênção que já havia perdido. Esaú era indigno da

52
bênção de seu pai. E você? Tem desprezado ao seu
pai? Sua mãe? Tem feito pouco caso daquilo que eles
têm ensinado? Já pensa ser “dono do seu próprio na-
riz”? Ficará como Esaú, choramingando pelos cantos,
com remorso, mas sem mudança de vida? Será um
mendigo pedindo uma bênção que já foi embora? Vi-
verá servindo aos outros, sem nunca ter nada na vida?

c) Cuidado com o ódio guardado no coração. Porque


o ódio embrutece a alma, e torna o espírito raquítico.

Esaú durante vinte anos, não viveu, porque ele es-


tava tramando a morte de seu irmão! Só existe uma
forma de você ser liberto do ódio, e Esaú aprendeu
isso depois de vinte anos. Sabe como? Perdoando.
Vamos antecipar um pouco do que aconteceu vin-
te anos depois. Jacó, depois de ser tocado pelo anjo,
fica manco e, antes de se encontrar com Esaú, ajoe-
lha-se por sete vezes. Esaú olha para Jacó, um maltra-
pilho e ouve Jacó dizer: “vejo o rosto como rosto de
Deus”. A surra que Jacó recebeu do anjo foi o preço
que ele precisou pagar para ter o coração de seu ir-
mão quebrantado.

d) Todos perderam algo nessa história.

Uma família destruída! Todos enfrentaram longo


tempo de separação. Houve despedidas dolorosas,
choros incontidos, desilusão. Jacó viveu 20 anos lon-
ge de sua família. Cuidado com as palavras que não
53
têm sido pronunciadas em sua casa, sobretudo no que
diz respeito às pendências. Como está a sua família
hoje? Tem brigas que não valem a pena levar adiante!
Chegue e peça pedrdão! A vida é muito curta! Apro-
veite o tempo de hoje com seu filho. Nada compensa!
Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso em
casa. Pare de brigar em casa, aproveite para perdoar!
Vamos resolver as nossas pendências. Tem muitos
que são excelentes para os de fora, mas são endiabra-
dos para os de dentro! Não se pode fazer qualquer
favor para os de fora, mas ser péssimo em atender aos
parentes! Tem gente que é amigo dos de fora e inimi-
go para os de sua própria família!
Tudo por conta de algo que a Bíblia condena cla-
ramente: a mentira. A mentira nunca é bem sucedida,
ela sempre cede à verdade, pode demorar o tempo que
for. Você tem sido sério em seu compromisso de nunca
ceder aos encantos da doce mentira para ocultar uma
verdade dura? Uma pergunta que precisa ser conside-
rada seriamente por você. Não se esqueça de que: “Sua-
ve é ao homem o pão da mentira, mas depois a sua
boca se encherá de cascalho.” (Provérbios 20:17).

e) Aproveite agora, pare a sua leitura e considere:


sua família merece o seu melhor!

Chegue para o seu filho e perdoe! Aproxime-se


de seu pai e o perdoe. Perdoe a quem lhe ofendeu!
Não adianta depois chorar no caixão do seu familiar
desejando dizer algo. Você precisa aproveitar agora!

54
Fale com ele, fale com ela, beija o seu irmão, sua irmã.
Aproveite o tempo, agora, para reconciliar-se com sua
família!
Ouvi dizer que num túmulo, na Europa Central,
há esta inscrição: “Ele morreu por causa de algumas
palavras não pronunciadas”.
Este túmulo pertence a um rapaz que havia trazi-
do vergonha e tristeza a seus pais. Ele continuou vi-
vendo miseravelmente, a despeito de suas promessas
de reconciliação e da tolerância de seus pais. Por fim,
a paciência de seu pai acabou.
Numa noite, quando o jovem chegou em casa bê-
bado, seu pai, irritado, lhe disse: “Vá embora, e não
volte nunca mais”.
Ao sair pela porta, o filho voltou-se e disse: “O se-
nhor está falando sério, papai? Não é para eu voltar
nunca mais?” “Estou”, respondeu o pai, “Não quero
mais este escândalo em casa”.
O moço foi embora, e suicidou-se.
O pai, triste, nunca perdoou a si mesmo por ter
dito aquilo. Ao invés de pronunciar as palavras que
seu filho suplicou para ouvir, o pai endureceu seu co-
ração.
Vamos fazer um pacto: nunca amaldiçoar nos-
so filho! Por pior que ele faça qualquer coisa, nunca
amaldiçoe seu filho! Vamos fazer isso em relação aos
nossos irmãos. Nunca diga a seu irmão: “eu te odeio,
eu vou te matar!” Pois Satanás, uma vez ouvindo aten-
tamente, criará uma oportunidade para isso aconte-
cer. Pode não acontecer fisicamente, mas você pode
acabar matando a alma dele.
55
Aos casais digo que nunca citem a palavra “divór-
cio” dentro de casa! Vamos resolver as nossas pendên-
cias em amor e espírito perdoador! Apelo especifica-
mente para você que tem algum problema familiar,
iremos orar e você suplicará a bênção do Senhor, para
que você não vá para o inferno levando junto o seu ir-
mão. Quem carrega ódio no coração, vai para o infer-
no. Tome uma decisão em sua vida pela reconciliação
com seu parente, antes de ficar com o coração embru-
tecido pelo ódio. Diga: “eu não quero ser Esaú”! Você
não nasceu para carregar amargura em seu coração!
Senhor, dá-me um coração igual ao teu!

56
3
O REFORÇO DA
IDENTIDADE HISTÓRICA
PELO VÍNCULO FAMILIAR
A desobediência leva ao rompimento de
vínculos: O vinculo familiar reforça nossa
identidade histórica.

E disse Rebeca a Isaque: Enfadada estou da minha


vida, por causa das filhas de Hete; se Jacó tomar mu-
lher das filhas de Hete, como estas são, das filhas desta
terra, para que me servirá a vida? (Gênesis 27:46)
E ISAQUE chamou a Jacó, e abençoou-o, e orde-
nou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre as fi-
lhas de Canaã; Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de
Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das
filhas de Labão, irmão de tua mãe; e Deus Todo-Po-
deroso te abençoe, e te faça frutificar, e te multiplique,
para que sejas uma multidão de povos; e te dê a bênção
de Abraão, a ti e à tua descendência contigo, para que
em herança possuas a terra de tuas peregrinações, que
Deus deu a Abraão. Assim despediu Isaque a Jacó, o
qual se foi a Padã-Arã, a Labão, filho de Betuel, ara-
meu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú. Vendo,
pois, Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e o enviara a
Padã-Arã, para tomar mulher dali para si, e que, aben-
çoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher
57
das filhas de Canaã; e que Jacó obedecera a seu pai e
a sua mãe, e se fora a Padã-Arã; vendo também Esaú
que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque
seu pai, foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher,
além das suas mulheres, a Maalate filha de Ismael, fi-
lho de Abraão, irmã de Nebaiote. (Gênesis 28:1-9)
Uma lamúria muito recorrente entre os pais é que
quando os filhos são pequenos, onde eles estão indo
eles levam seus filhos juntos, mas quando crescem
cada um escolhe o seu caminho. Já na adolescência,
muitos acham que é “mico” andar com o papai e a
mamãe. Às vezes, chovendo, os pais levam seus filhos
na escola e eles pedem: “me deixe em uma esquina
antes”. Às vezes pai e mãe querem fazer um programa
em família e chamam os “galalãozinhos” e eles res-
pondem: “ah, pai, eu tenho compromisso com meus
amigos”.
Mesmo isso sendo triste e recorrente, como já dis-
se, trata-se de um processo natural: os filhos crescem!
E por isso devemos aproveitar muito o tempo quando
eles são pequenos, pois eles crescem muito rápido!
Quero descrever aqui um rompimento de vínculos
familiares abrupto, violento, e lembrando que tudo
aconteceu por conta de um ódio que foi armazena-
do no coração de Esaú em relação ao seu irmão Jacó.
Vou trabalhar com vocês sobre esse processo de saída,
de rompimento desses vínculos familiares, refletindo
também sobre a minha e a sua vida, porque os vín-
culos familiares são a nossa identidade. Eu quero que
você pense sobre a sua família, principalmente você
que tem pendências a resolver!
58
1) Rompimento do vínculo pelo temor implícito.

Os vínculos de Jacó com a sua família


são rompidos, com base em um temor
implícito.
Embora a ameaça tenha sido explicita, pois Esaú
odiou Jacó e queria matá-lo, Jacó certamente tinha a
consciência de que seus dias estavam contados en-
quanto permanecesse em casa. Rebeca então usa um
meio de esperteza para providenciar uma fuga para
Jacó.
Ela se mostra desgostosa da vida e diz a Isaque: “E
disse Rebeca a Isaque: Enfadada estou da minha vida,
por causa das filhas de Hete; se Jacó tomar mulher das
filhas de Hete, como estas são, das filhas desta terra,
para que me servirá a vida?” (Gênesis 27:46)
Parece-me que ela usa essa preocupação, pois li-
teralmente diz: “minha vida tornou-se repugnante”
para providenciar uma saída menos desonrosa de
seu filho predileto, Jacó. Sabemos biblicamente que
Deus é contra os chamados “casamentos mistos”, a
saber, entre homens de Deus e mulheres do mundo,
ou mulheres de Deus com homens do mundo, com
valores distorcidos, diferentes, e a Bíblia é clara em
vários textos.
Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis;
porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E
que comunhão tem a luz com as trevas? (2 Coríntios
6:14)
59
Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em
santificação e honra; não na paixão da concupiscência,
como os gentios, que não conhecem a Deus. (1 Tessalo-
nicenses 4:4-5)
Parece-me que a preocupação de Rebeca ainda
não está relacionada com essa possibilidade de um
casamento misto, mas sim numa forma de persuadir
seu marido a providenciar uma saída para Jacó. Ela,
então, expõe o relacionamento conflituoso que ela ti-
nha com as noras, as esposas de Esaú. Não havia um
relacionamento prazeroso entre sogra e noras. Daí
Rebeca expõe: “Olha, se eu tiver outras noras como
essas, terei mais problemas ainda, estou desgostosa de
vida”; o hebraico diz, “estou me sentindo repugnante”,
estou me sentindo mal.
Isaque então chama a Jacó e o abençoa, e diz cla-
ramente: “E ISAQUE chamou a Jacó, e abençoou-o, e
ordenou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre
as filhas de Canaã.” (Gênesis 28:1).
Em outras palavras, Isaque está dizendo: “eu já er-
rei com relação a Esaú, ele se casou com mulheres ca-
naneias, isso trouxe dor de cabeça para mim e eu não
quero que você se case com as filhas de Canaã”. Daí a
sugestão de Isaque para que Jacó fosse para a casa dos
parentes de sua mãe, em Padã-Arã, para lá conseguir
uma esposa dentre a sua parentela, uma prima sua, e a
bênção de Deus estaria indo junto com Jacó.
E Deus Todo-Poderoso te abençoe, e te faça frutifi-
car, e te multiplique, para que sejas uma multidão de
povos; e te dê a bênção de Abraão, a ti e à tua descen-
dência contigo, para que em herança possuas a terra de
60
tuas peregrinações, que Deus deu a Abraão. (Gênesis
28:3-4)
Isaque faz questão do nome “El Shaday”, o “Deus
Todo-Poderoso” para o Senhor, dizendo assim: “Que
o Deus onipotente, que supre todas as nossas necessi-
dades, que faz o impossível acontecer, que é suficiente
em poder, esteja com você e vá até a casa do seu tio,
às suas origens, e lá você conseguirá alguém para se
casar”.
Alguém já disse que EL SHADAY é o Deus oni-
potente, aquele que realiza o impossível, é quem nos
satisfaz e é suficiente para nós. O nome de EL SHA-
DAY está ligado a EL (ELOIM) com relação ao poder,
mas EL-SHADAY é mais abrangente no sentido de
que Deus tem tudo o que precisamos e não há impos-
síveis para Ele.
Foi uma rememoração do que aconteceu com o
próprio Isaque! Quando Abraão se preocupou com
Isaque que já estava em tempo de se casar, com qua-
renta anos, e não era plano dele também que Isaque se
casasse com alguém de sua região, ele pediu que seu
servo Eliézer fosse justamente para Padã-Arã. Houve
então oração, e Deus mostrou a Eliézer qual seria a es-
posa de seu senhor. Esse episódio está em Genesis 24.
Parece-me que Jacó está tendo a chance de fazer
o mesmo caminho que o servo de Isaque havia feito,
em uma tentativa de voltar às origens. Toda família
tem carência de ir em busca de origens. De onde você
veio? Qual a sua história familiar? Nós temos um mau
hábito no Ocidente de desprezar as nossas histórias.
Os jovens colocam seus perfis no facebook, mas di-
61
ficilmente, ou quase que impossível, se ver fotos de
filhos com seus pais. Isso porque há um desprezo em
relação às origens, à família.
Isaque está preocupado e pede para Jacó voltar
ao lugar de onde tudo havia começado, a sua família.
Há uma independência muito perigosa no coração
dos nossos mais jovens, e talvez você tenha por conta
própria cortado seus vínculos familiares muito cedo,
principalmente você que saiu muito cedo de casa para
trabalhar ou você, que se casou muito cedo. Minha
mãe, por exemplo casou-se com dezesseis anos! Ago-
ra, que experiência uma menina de dezesseis anos
tem para se casar? Ela precisou aprender a viver vi-
vendo, dando conta de uma casa.
Eu quero dizer que você precisa voltar à sua casa
de origem, não para morar novamente com seus pais,
mas voltar com o seu coração interessado em saber de
onde você veio para aprender a valorizar os elos que
você tem com a sua família enquanto eles estão vivos.
Pois a sua história familiar compreende sua identida-
de como gente. Isaque foi muito inteligente nesse sen-
tido, pois pediu para Jacó a bênção de Abraão! Onde
tudo começou, Padã Arã.
Foi lá que o Senhor falou a Abraão essas palavras:
“ORA, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua ter-
ra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra
que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e
abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás
uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão
benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:1-3)
62
“Volta ao lugar onde Deus falou com a nossa fa-
mília”, foi o eco incontido no coração de Isaque. En-
tão Jacó estava tendo uma oportunidade de refazer
a sua história. Itamir Neves de Souza diz que aqui
constatamos o princípio da herança repassada aos
herdeiros. E mais, “quando transferimos uma heran-
ça a nossos filhos, ela não é somente de posses, mas,
principalmente do nosso relacionamento com Deus.
Abraão teve experiências especiais com Deus. Isaque
também. Agora, ele encaminhava seu filho Jacó a essa
mesma vida de experiências com Deus”.
Jacó passa vinte anos longe de casa e volta com
nome novo, “Israel”, “príncipe de Deus”. Ele sai de
casa como “aquele que leva vantagem em tudo” (sig-
nificado do seu nome) e volta mancando com nome
diferente. Deus quer mudar a sua vida também! Deus
quer mudar a sua história!
Não existe pau que nasce torto e que morre torto
para Deus! Deus muda a nossa história! Agora os vín-
culos de Jacó com a sua família foram rompidos por
conta de uma rebeldia explícita.

2) Rompimento do vínculo pela rebeldia explícita.

Os vínculos de Esaú com a sua família são


rompidos por uma rebeldia explícita.
Agora a história de Esaú é bem triste. Olha o que
ele faz assim que seu irmão sai de casa: “Vendo, pois,
Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e o enviara a Pa-
63
dã-Arã, para tomar mulher dali para si, e que, aben-
çoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher
das filhas de Canaã; e que Jacó obedecera a seu pai e
a sua mãe, e se fora a Padã-Arã; vendo também Esaú
que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque
seu pai, foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher,
além das suas mulheres, a Maalate filha de Ismael, fi-
lho de Abraão, irmã de Nebaiote.” (Gênesis 28:6-9).
Fica difícil saber o que Esaú tinha em sua cabeça!
Eu tenho algumas suposições. Esaú tem em sua cabe-
ça um desejo inveterado de conquistar a atenção de
seu pai e de sua mãe. Ele é um “órfão de pais vivos”.
Esaú pensa o seguinte: “se Jacó se deu bem na vida,
por obedecer, eu vou tentar também”. Mas ele faz isso
de modo errado, o texto é explícito ao dizer que ele
não se casou com uma cananéia, e sim com uma is-
maelita! Esaú casou com uma parente, por parte de
pai, pois Ismael era irmão de Isaque!
Mas a questão não era essa: casar-se com uma
parente! O que faltou foi um quebrantamento por
parte de Esaú para reconhecer que tudo o que havia
acontecido foi resultado de um erro de seu passado!
Foi ele quem vendeu o direito de primogenitura. É
triste, mas pode-se pensar em Esaú como “mendigo
espiritual”, estava sempre em busca da bênção, era
um hedonista, queria apenas satisfazer seus próprios
prazeres! Quando ele viu que seu pai recomendou a
Jacó casar-se com uma mulher temente a Deus, rea-
giu com ressentimento e, ao invés de se quebrantar
aos planos de Deus, de tão inseguro que era em sua
posição na família, decide agradar aos seus pais, mas
64
de forma errada. Ele que já tinha casado com duas
mulheres! Elas já eram “amargura de espírito” para
Isaque e Rebeca!
Bruce Waltke diz que “Esaú é uma figura de ironia
trágica, como diz Roop, ‘um membro marginalizado da
família que queria profundamente pertencer’. A despeito
de seus desejos de pertencer e de agradar a seu pai, lhe
falta a perspicácia espiritual que o conectaria com sua
família. Incrédulo, somente agora ele reconhece que ca-
sar-se com mulheres cananitas não é apropriado em sua
família. Brueggemann descreve Esaú como o membro
da família sempre fora do ponto.”
Talvez você seja assim em sua casa. Você já sentiu
que nasceu na família errada? Que a cegonha quando
foi entregar você, errou de casa? Já se sentiu, como
o pr. Marcos Lopes disse em uma mensagem, “um
Adão no dia das mães”. Já se sentiu alguém fora de
ambiente? Fora de casa, mesmo dentro de casa? Fora
da família, mesmo dentro da família? Você já olhou
para os seus irmãos e se viu diferente de todos eles?
Você já se sentiu menos amado pelo seu pai e sua mãe
do que o outro irmão ou irmã? Era o que Esaú sen-
tia, pois só que, infelizmente, ele não se quebrantou
em nenhum momento. Ele vai mudar depois de vinte
anos quando corre para o seu irmão e quebranta o seu
coração. Mas ele demorou muito! Quantos aniversá-
rios Esaú passou sozinho? Quantos anos ele desejou
matar o seu irmão, mas ao mesmo tempo sentia a fal-
ta dele, em um misto de sentimentos?
Talvez você tenha saído de sua casa assim tam-
bém. Foi estudar fora, foi desfrutar sua vida, seus
65
sonhos e, por orgulho, insiste em fazer o contrário
de tudo aquilo que seu pai e sua mãe lhe ensinaram.
Você se sente deslocado da família e vai se afastando
de todos, se descolando e começa a priorizar mais a
família da sua namorada do que a sua própria família.
Isso acontece por fuga, porque toda família tem seus
problemas. A família dos outros é sempre melhor.
Sabe por quê? Porque você não tem para com ela os
compromissos que você tem com a sua família de
origem. Falando francamente: é burrice você pensar
que existe família perfeita. Todas as famílias têm pro-
blemas! Se Deus lhe colocou em sua família, Ele não
erra, tem um propósito!
É triste saber que alguns aqui são como “Esaú”,
estão sempre “fora do ponto”, mas conecte seu coração
nesta mensagem, pois você não precisa continuar
assim.

3) Aplicando mais um pouco:

a) A pior coisa que pode acontecer a um pai


ou a uma mãe é ter filhos que são inclinados à
desobediência.

Havia uma mágoa no coração de Isaque. Havia


uma mágoa no coração de Rebeca. Eles se pergunta-
vam: “Por que Esaú insistia tanto em ser desobedien-
te”? “Por que ele se casou com pessoas tão diferen-
tes de nós?”. Se você não tem a bênção dos seus pais
em relação ao namoro que você almeja, não insista,
66
termine! Vale a pena obedecer, mesmo que você não
compreenda hoje! Pai e mãe têm um radar espiritual,
eles veem longe! Pare, repense, não insista! Se não
você terminará como Esaú, com três mulheres e se
sentindo sozinho.

b) Casamento é mais do que um contrato so-


cial, é uma aliança.

Isaque e Rebeca não queriam que Jacó se casasse


com uma mulher cananeia porque sabiam que a bên-
ção de Deus estaria rompida ali, pois teria de ser um
casamento com base na aliança. Casamento pode ser
um canal de bênçãos ou pode ser a interrupção do
favor do Senhor sobre sua vida! Rostinho bonito não
traz o favor do Senhor para ninguém. Tem que casar
com base na promessa, na aliança, e quem é de Deus
casa com uma pessoa de Deus! Se a pessoa não quer
Deus, não queira nada com ele. Se a menina não quer
Deus, não queira nada com ela.

c) Vez por outra é importante que você man-


de seus filhos para fora para que eles tenham
as suas próprias experiências de vida.

Isaque e Rebeca precisaram dizer, “Jacó, vá em-


bora meu filho”, “vá em busca de sua história, de sua
vida”. É doído, mas tem hora que você precisa deixar
seu filho ir. Muitas vezes o nosso ninho se rompe,
para que aprendamos a voar! F. B. Meyer disse “era
67
necessário que fosse afastado da influência de sua
mãe e levado a um mundo mais amplo, onde, através
da dor e das frustrações, ele se tornasse um príncipe
de Deus.”
Passarinho foi feito para voar! Seu filho não vai
ficar com você a vida toda! Por isso eu sou contra
“puxadinho”, pois os filhos não podem ficar moran-
do perto dos seus pais! Dinheiro do pai não é para
sustentar filho crescido. As conquistas dos filhos têm
de ser resultado dos seus próprios esforços e traba-
lho! Olha só, “um pai cuida de dez filhos, mas dez fi-
lhos não cuidam de um pai”! Filhos brigam na justiça
por aquilo que o pai deixa, são insatisfeitos e sempre
querem “mais”. São como aquele texto bíblico: “A san-
guessuga tem duas filhas: Dá e Dá. Estas três coisas
nunca se fartam; e com a quarta, nunca dizem: Bas-
ta!” (Provérbios 30:15).
Deixa o seu filho sair de casa e ter as suas pró-
prias experiências! Se a minha experiência puder
encorajar: Saí de casa com quinze anos de idade, na
cidade onde meus pais moravam não tinha o curso
que eu queria fazer, eu me formei em contabilida-
de. Com quinze anos de idade, eu disse: “pai eu vou
sair de casa para estudar”. Saí para construir a minha
vida, morei sozinho, depois fui morar na casa do pr.
Marcos e Dora, e de lá fui para o Seminário no Rio
de Janeiro. Com 18 anos chego ao Rio de Janeiro e
só sabia que tinha de pegar o ônibus 606 e descer na
Rua José Higino, na Tijuca. Cheguei com duas malas
e um sonho, de vencer na vida. Dizia: “vou escrever
a minha história”. Meu pai, no inicio, quis me desen-
68
corajar a ir para o Rio, queria que estivesse com ele,
mas eu dizia “eu preciso escrever a minha história”.
Com dezenove anos cheguei aqui na Japuíba e tomei
posse como pastor em maio de 1994, cheio de sonhos
e crendo que Deus iria honrar a minha história. Em
outubro de 1995 casei-me com vinte anos de idade!
Mas se eu ficasse em casa, onde eu estaria? Talvez até
hoje dependente dos meus pais!
Pai, mãe, deixem o seu filho sair de casa!

d) Às vezes sair de casa, para uns como Jacó,


significa crescimento, para outros como Esaú
representa sofrimento e consciência pesada.

Por isso quero fazer um apelo aos jovens: o maior


de todos os nossos mestres é a nossa consciência,
tente calá-la e vocês conhecerão a morte de perto! A
consciência, os valores que vocês aprenderam dentro
de casa, lhe manterão firmes onde quer que vocês es-
tejam indo morar! Vocês não têm de fugir para tentar
viver a vida, pois maus elementos existem em qual-
quer lugar! Creiam que a consciência é “como um
cavalo galopando, perseguido por vespas e abelhas”,
disse alguém, mas acrescentou: “Frustra curris”, que
significa “Você corre em vão”. Não conseguimos fugir
da nossa consciência.
A consciência, segundo os puritanos, é “a presença de
Deus na nossa mente”. Não conseguimos fugir de Deus.
Li há algum tempo atrás acerca do seguinte diário
de um jovem:
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• Segunda-feira, 8:00 horas. Chego na escola
e os caras já estão lá. “E aí, ainda nessa onda
de crente?” A minha cabeça gira, minha cons-
ciência me incomoda. Eu reúno todas as mi-
nhas forças e respondo “Sim!”.

• Terça-feira, 8:00 horas: Chego na escola e


eles já estão lá. “E aí, ainda nessa onda de cren-
te?” A minha cabeça gira, minha consciência
me incomoda. Eu baixo os olhos e digo “Tal-
vez!”.

• Quarta à noite, 19:00 horas. Chego em casa.


Minha família vai à igreja. “Você vem conosco?”
Minha cabeça gira, minha consciência me inco-
moda, mas eu mordo os lábios e digo: “Não!”.

• Domingo de manhã, 10:00 horas. Estou


sentado em meu quarto, sozinho com minha
consciência. Oro e clamo a Deus: “Senhor, Tu
me aceitas outra vez?” E Ele responde “Sim!”.

Você não pode fugir de sua consciência! Tem gente


que conheço que até para pecar é incompetente! Porque
Deus, por misericórdia, implantou uma consciência que
o acusa, que o persegue que não o deixa em paz!
E a pergunta é: até quando você fugirá de sua
consciência?
Quem nasceu para ser Jacó, pode até se comportar
como Esaú, mas vai morrer como Jacó! Não adianta fugir!

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CONCLUSÃO
Terminei o último capítulo falando sobre o drama
da consciência. Agora chegando ao final do livro, en-
tendo ainda mais contundentemente que nossa cons-
ciência diante de Deus precisa ser levada em conside-
ração antes de tomarmos as decisões relacionadas à
nossa vida pessoal e familiar.
Tenho ouvido ultimamente com uma triste repe-
tição a frase: “eu sei que é errado, mas eu vou pagar
pra ver”. Tudo porque as pessoas querem ouvir os des-
varios do coração. A Bíblia adverte sobre o engano do
coração: “Enganoso é o coração, mais do que todas as
coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9)
E ainda, temos a orientação de Paulo para que a
paz de Deus seja o mediador entre o nosso coração e
a nossa razão: “E a paz de Deus, para a qual também
fostes chamados em um corpo, domine em vossos co-
rações; e sede agradecidos.” (Colossenses 3:15).
Quando as decisões são tomadas tendo como foco
apenas a satisfação imediata de nossas necessidades e
não os valores que recebemos da Palavra de Deus o
resultado é sempre o mesmo: desgosto e morte.
Ed Cole, em seu livro Homem ao máximo, fala
algo interessante: “Deus conhece nosso coração e
tornou possível termos um coração novo, de onde
fluem o amor, a consagração, a graça, a misericórdia,
a compaixão e toda boa obra. A questão é sempre no
coração em primeiro lugar”.
Por isso, a pergunta que não quer calar é: “onde
está o seu coração?”.
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O de Jacó estava na bênção que ele havia compra-
do! Esaú tinha a predileção de seu pai como trunfo
para ser bem sucedido! Isaque tinha o coração na sua
satisfação de morrer tendo cumprido o que desejava.
Rebeca tinha no seu desejo insaciável de burlar as re-
gras para ser saciada em sua sede pessoal de justiça!
E você? Tudo isso me faz lembrar uma história, e
com ela eu encerro este livro, desejando que o mesmo
tenha sido uma bênção e um estímulo para a sua vida
em família.
Um menino negro de oito anos estava em um
parque de diversões, olhando um homem que vendia
balões com gás hélio. O menino percebeu que havia
balões de todas as cores.
Existiam balões vermelhos, verdes, azuis, laranjas,
brancos, amarelos e outras cores mais.
Por ser negro, uma pergunta surgiu na cabeça
desse pequeno menino, Ele foi ao encontro do ho-
mem que vendia os balões e perguntou: “Moço, você
não tem balão preto. Balões pretos também voam?”
O rapaz que vendia os balões abaixou-se para ficar
na altura do jovenzinho e respondeu: “Não importa a
cor do balão, é o que está dentro dele que o faz voar.”
Atente para o que Jesus disse: “O homem bom, do
bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem
mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, por-
que da abundância do seu coração fala a boca.” (Lucas
6:45).
Que assim seja na sua família, para que a despei-
to das aflições externas, dos ventos contrários e das
inquietações das circunstâncias que assolam nossas
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vidas, você possa ter certeza que quem controla a sua
história é um Deus que não se cansa de investir em
seu coração. Não se esqueça: o problema do coração
do homem é o coração do seu problema!

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