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A fé morta – Tiago 2:14-16

A doutrina bíblica da fé é uma das mais importantes e


significativas para a vida do cristão. Sem fé é impossível
agradar a Deus (Hb 11.6). Sem fé é impossível receber a
salvação e ser justificado por Deus (Ef 2.8,9). Sem fé é
impossível viver a vida cristã, pois, o justo viverá pela fé (Rm
1.16,17). Tudo que fazemos sem fé é pecado (Rm 14.23). Sem
fé, jamais receberemos alguma coisa de Deus (Tg 1.6,7).
Mas, o que é a fé? A Bíblia fala que a fé é um presente de Deus,
recebido no ato da conversão. É chamada de fé salvadora,
produzida por Deus no coração do pecador, no momento da sua
regeneração, por meio da pregação da Palavra de Deus (1Ts
2.13; Rm 10.17). L. Berkhof define a fé salvadora como uma certa
convicção, produzida pelo Espírito Santo no coração, quanto à
veracidade do Evangelho, e uma segurança(confiança) nas
promessas de Deus em Cristo.

A fé possui três elementos: elemento intelectual, elemento


emocional e elemento volitivo. Por exemplo, o texto de Atos 2.37:
Ouvindo eles estas coisas, (intelecto) compungiu-se-lhes o
coração (emoções) e perguntaram a Pedro e aos demais
apóstolos: Que faremos irmãos? (vontade).
Tiago combate a fé morta ou falsa que existia na sua época. A fé
morta é aquela que reside apenas na mente. Trata-se de uma fé
falsa que reside meramente no intelecto. Trata-se de uma confissão
vazia: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no
reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que
está nos céus” (Mt 7.21). Observamos seis características desta fé
morta:

1.Ela é Ineficiente Para Salvação


Tiago diz: Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem
fé, mas não tem obras. Pode acaso, semelhante fé salvá-lo? (Tg
2.14). A fé morta não vem acompanhada de obras. Este tipo de fé
não é suficiente para salvar o pecador. Enquanto Paulo ensina o
lado passivo da fé, em que o homem é justificado sem obras (Rm
4.5; 5.1; Gl 2.16), Tiago explica o lado ativo da fé, em que o
verdadeiro crente coloca a sua fé em prática (1Ts 2.1-5;2Pe 1.5-11).
Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de
Deus não tem a vida (1 Jo 5.12).
A fé morta não é uma fé salvadora. Calvino afirma: “Só a fé justifica,
mas, a fé que justifica não anda sozinha”. A verdadeira fé salvadora
vem acompanhada de frutos espirituais. João Batista fala dos frutos
do arrependimento verdadeiro (Mt 3.8). Paulo fala da operosidade
da fé salvadora (1Ts 1.3) e das boas obras que Deus preparou para
que andemos nelas (Ef 2.10).

2. Ela é Improdutiva
Tiago declara: Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de
roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós
lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo,
lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim,
também a fé, se não tiver obras, por si só está morta (Tg 2.15-17).
Trata-se de uma ilustração simples e objetiva. Um irmão pobre pre-
cisando de roupas e alimentos. A pessoa com a fé morta olha para
esse irmão, faz um discurso piedoso, mas, não resolve o seu
problema.
João declara: Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir
a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração,
como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não
amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e verdade (1 Jo
3.17,18). Como cristãos temos a obrigação de suprir as
necessidades do próximo, principalmente, dos irmãos na fé (Gl
6.10). Ajudar ao necessitado é uma expressão de amor, e a
verdadeira fé opera pelo amor (Gl 5.6). Quando ajudamos ao irmão
carente, estamos fazendo para Cristo (Mt 25.40).

3. Ela é Imperceptível
Tiago fala: Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-
me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a
minha fé (Tg 2.18). Ele se recusa a aceitar a divisão entre fé e
obras. A verdadeira fé não pode existir separada das obras, e obras
agradáveis a Deus não podem ser realizadas sem a verdadeira fé.
O conceito de obras na Bíblia está estritamente ligado à salvação.
Nenhuma obra praticada pela natureza humana sem conversão é
vista por Deus como boa obra (2 Rs 10.30; Mt 23.23). Ainda que
sejam atos bondosos, elas não são feitas para a glória de Deus
(1Co 10.31). As obras da carne ou da natureza não regenerada não
têm valor nenhum diante de Deus (Is 64.6).
Boas obras são apenas aquelas que Deus ordena em sua Palavra
(Mq 6.8; Cl 2.20-23). Elas são evidências de uma fé viva e
verdadeira (SI 116.12,13 e Mt 5.16). O poder de produzir boas
obras não está no crente, mas provém do Espírito Santo que habita
no coração do fiel (Jo 15.4-6; Lc 11.13).

4. Ela é Demoníaca
A fé morta é demoníaca ou a mesma que os demônios possuem:
Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem e
tremem (Tg 2.19). Observe que a fé demoníaca envolve o intelecto
e as emoções: eles creem e tremem. Os demônios não são ateus
ou agnósticos. Todas as vezes que se encontraram com Cristo aqui
na terra, eles deram aula de cristologia. Eles sabiam quem era
Jesus e confessaram o nome de Cristo (Mc 1.24; 3.11,12; 5.7; Lc
4.34). Eles criam na existência de um lugar de castigo (Lc 8.31) e
reconheceram a Jesus como o Juiz (Mc 5.1-13). O Diabo, quando
tentou a Jesus, deu provas também de conhecimento bíblico (Mt
4.1-11). Todavia, a fé e o tremor dos demônios não produz a
salvação dos mesmos.
A lógica do pensamento de Tiago é que se uma pessoa tem apenas
conhecimento intelectual de Deus, está numa condição pior do que
a dos demônios que creem e tremem.

5. Ela é Inoperante
Tiago diz: Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé
sem as obras é inoperante? (Tg 2.20). A palavra traduzida por
inoperante é a palavra grega agros, que significa “ocioso ou
desocupado” (Mt 20.3,6). Este verso reafirma o ponto principal do
ensino de Tiago, que a fé sem obras não salva (v.14), não tem
proveito (v.16), está morta (w. 17 e 26), é inútil.
A fé sem obras é inútil, pois, é incapaz de justificar o homem diante
de Deus. Como provar isto? Tiago vai para o Antigo Testamento e
cita dois exemplos de fé operosa: Abraão e Raabe. Warren Wiersbe
diz: “Tiago ilustra a sua doutrina na vida de duas figuras bíblicas
conhecidas: Abraão e Raabe. Não seria possível encontrar dois
indivíduos mais diferentes um do outro! Abraão deu origem ao povo
de Israel; Raabe pertencia a uma nação pagã. Abraão era um
homem piedoso; Raabe era uma mulher corrompida, uma meretriz.
Abraão era amigo de Deus, enquanto Raabe pertencia a um povo
inimigo de Deus”. Mas, o que os dois tinham em comum? Os dois
creram e obedeceram, os dois exercitaram a fé salvadora.
Tiago escreve: Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi
justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?
Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito,
foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a
qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para
justiça; e: Foi chamado amigo de Deus (Tg 2.21 -23).

6.  Ela é Incompleta
Tiago diz: Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim
também a fé sem obras é morta (Tg 2.26). Éle usa a figura do ser
humano que somente é completo ou vivo, quando o corpo está
unido ao espírito (Gn 2.7). A verdadeira fé somente é completa
quando une confissão com produção, fé com obras.
A fé verdadeira é completa. Envolve conhecimento, emoção e
vontade. Ela produz a justificação e uma vida cristã frutífera. É
necessário que cada crente examine o  seu coração e sua vida e se
certifique de que possui a fé operosa: Examinai-vos a vós mesmos
se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos (2 Co 13.5).

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