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MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DE MORRO NA

CIDADE DE ORLEANS/SC

Fernanda Martins Preve*

RESUMO
As áreas de preservação permanente (APPs) exercem um papel fundamental no meio
ambiente, por isso o objetivo deste trabalho foi delimitar as APPs de morro através dos
sistemas de informação geográfica (SIG). O estudo foi desenvolvido na cidade de Orleans,
estado de Santa Catarina e a metodologia para realizar o mapeamento baseou-se na Lei Nº
12651 de 2012. A partir das ferramentas disponíveis no software Qgis, foram identificados os
terços superiores dos morros que apresentaram altura igual ou superior a cem metros e
declividade média maior que vinte e cinco graus. Os resultados da análise e mapeamento das
APPs demonstraram-se ínfimos quando comparados à área total do município e sujeitos a
variação por conta da subjetividade da lei. Diante do exposto, conclui-se que o ambiente SIG
é essencial para auxílio do planejamento urbano e controle ambiental e foi primordial para a
realização do estudo. Também foi constatado que se faz necessário discutir a falta de clareza
da legislação vigente.
Palavras-chave: APP de morro; Topos de morro; SIG.

ABSTRACT
Permanent preservation areas (APPs) play a fundamental role in the environment, so the
objective of this work was to delimit the hill APPs through geographic information systems
(GIS). The study was carried out in the city of Orleans, state of Santa Catarina and the
methodology to carry out the mapping was based on Law No. 12651 of 2012. Using the tools
available in the Qgis software, the upper thirds of the hills with equal heights or greater than
one hundred meters and an average slope greater than twenty-five degrees were identified.
The results of the analysis and mapping of the APPs proved to be negligible when compared
to the total area of the municipality and subject to variation due to the subjectivity of the law.
Given the above, it was concluded that the GIS environment is essential to aid urban planning
and environmental control and was essential for carrying out the study. It was also found that
it is necessary to discuss the lack of clarity in the current legislation.
Keywords: Hill APP; Hill tops; SIG.

1 INTRODUÇÃO

As áreas de preservação permanente são denominadas como áreas protegidas, cobertas


por vegetação nativa ou não. A função ambiental dessas áreas é de manter os recursos
hídricos, paisagem, estabilidade geológica e a biodiversidade, favorecer o fluxo gênico da
fauna e flora, proteger o solo e garantir o bem-estar das populações humanas (BRASIL,
2012).
Para delimitar essas áreas protegidas utiliza-se o sistema de informação geográfica
(SIG), o qual é definido por Aronoff (1989) como um sistema de captação, armazenamento,
manipulação, análise e apresentação de dados georreferenciados.
Os dados espaciais utilizados no SIG podem ser classificados em duas formas, uma
delas como dados matriciais (raster), formato constituído de uma matriz de células (pixels)
**
Acadêmica da disciplina O deslocamento Urbano: Aspectos de Planejamento e Sustentabilidade.
Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: femartinspreve@hotmail.com. Artigo apresentado como
requisito parcial para conclusão da disciplina. 2021.
associadas a valores, os quais permitem reconhecer os objetos sob a forma de imagem digital.
E a outra forma como dados vetoriais, estes estruturam-se como pontos, linhas e polígonos.
(ROCHA, 2002). Tal sistema também é essencial para gestão e monitoramento dos recursos
do meio ambiente, visto que proporciona maior agilidade na elaboração de mapas e dados
georreferenciados. As técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto são
fundamentais para auxiliar no planejamento e no controle ambiental. (OLIVEIRA;
FERNANDES FILHO, 2013).
Ainda de acordo com os mesmos autores, a delimitação das Áreas de Preservação
Permanente (APPs) de morros é bastante complexa, diferente dos demais tipos de APPs. Em
consequência, frequentemente a análise espacial dessas áreas é desconsiderada. Além disso,
conforme Almeida e Paula (2018), a redação da Lei Federal Nº 12651 de 2012 em vigor
possibilita diversas interpretações, as quais podem gerar diferentes resultados no trabalho de
verificação das APPs de morro.
A delimitação das áreas de preservação permanente, com base na topografia existente,
exige o envolvimento de profissionais especializados e de informações detalhadas na unidade
espacial em análise. Por isso, o monitoramento das APPs tem sido um grande desafio sob
aspecto técnico e econômico. No entanto, através do desenvolvimento de sofisticados
algoritmos e sua junção ao conjunto de funções dos Sistemas de Informações Geográficas, se
tornou possível o processamento eficiente dos dados necessários para a delimitação dessas
áreas (OLIVEIRA, 2002).
A partir disso, o objetivo deste estudo será executar o mapeamento das áreas de
preservação ambiental de morro, localizadas no município de Orleans/SC, através dos
Sistemas de Informação Geográfica (SIG).

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 ÁREA DE ESTUDO

Conforme IBGE (2020), a cidade de Orleans/SC, escolhida para o estudo, possui área
territorial de 549.859 km². A população estimada do município é de 23.161 mil habitantes
(IBGE, 2021). Em relação à economia, as principais atividades são agricultura, indústria e
comércio. (PREFEITURA DE ORLEANS, 2021)
Considerando os aspectos físicos, o município situa-se na depressão da zona
carbonífera catarinense, possuindo um relevo com grandes ondulações e colinoso com vales
encaixados e encostas íngremes (CASCAES et. al, 2015). Por conta da configuração deste
relevo ondulado, a cidade de Orleans foi escolhida neste estudo para a análise das APPs de
morro.

Figura 1 – Mapa de Localização da cidade de Orleans/SC


Fonte: IBGE. Disponível em https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/sc/orleans.html.
2.2 ELABORAÇÃO DO MAPA DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APPs)
DE MORRO

2.2.1 Materiais utilizados

Para iniciar o mapeamento foram utilizadas imagens raster de altitude fornecidas pelo
topodata, que disponibiliza um banco de dados geomorfométricos do Brasil. O projeto
topodata oferece o Modelo Digital de Elevação (MDE) e suas derivações locais básicas em
cobertura nacional, elaborados a partir dos dados SRTM disponibilizados pelo USGS na rede
mundial de computadores. Os dados estão todos estruturados em quadrículas compatíveis com
a articulação 1:250.000 (TOPODATA, 2011). Os arquivos utilizados no trabalho possuem
formato Tiff e são constituídos pelas folhas 28S495 e 28S51, que abrangem o município
estudado. Foi também inserida a camada vetorial shapefile do limite do município de
Orleans/SC, disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

2.2.2 Delimitação das APPs com base na Lei Nº 12651 de 2012

O mapeamento das áreas foi realizado em ambiente SIG, a partir do software Qgis,
uma ferramenta profissional livre e de código aberto. A metodologia utilizada para geração do
mapa foi baseada na Lei Nº 12651 de 2012, a qual estabelece normas gerais sobre as áreas de
Preservação Permanente. Conforme a lei citada, o Art. 4º, inciso IX define APPs de morro da
seguinte maneira:

No topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 metros e
inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a 2/3 da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo
esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d'água
adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da
elevação (BRASIL, 2012).

O trabalho foi realizado a partir das seguintes etapas: identificação das bases de colina
e dos topos, caracterização dos morros com base na legislação vigente e mapeamento das
áreas de preservação permanente. As operações realizadas no SIG foram organizadas através
de camadas raster e vetoriais com o objetivo de facilitar a aplicação da metodologia.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Análise do relevo

Como o limite do município contempla duas imagens raster, foi realizado o processo
de miscelânia, ferramenta disponibilizada pelo programa Qgis para mesclar as imagens. Em
seguida, a imagem foi recortada a partir da camada de máscara do polígono shapefile dos
limites da cidade. A partir disso, foi gerado um mapa hipsométrico, através da imagem de
satélite utilizada, sendo executada a extração de curvas de nível com equidistância de 20 em
20 metros e em alguns casos de 1 em 1 metro, para que fosse possível a análise mais
detalhada do relevo da área. Foi analisado também o entorno das cidades limítrofes, pois
poderiam influenciar no cadastro das APPs do município.

Figura 2 – Mapa hipsométrico do Município de Orleans

Fonte: Autora, 2021.

3.2 Identificação dos pontos de sela e topos de Morro

A lei em vigor não define de forma clara a referência para delimitar os pontos de base
das colinas. Então, o estudo presente utilizou como referência de base dos morros uma das
interpretações da legislação, que seria o ponto de sela horizontal mais próximo em relação ao
topo do morro, dos relevos ondulados. Segundo Almeida e Paula (2018), o ponto de sela é
definido como o ponto central de uma concavidade negativa entre duas elevações, o que
significa que é o ponto mais baixo de um leve ou moderado rebaixamento entre essas
elevações. Foram identificados no mapa os pontos de topo de morro e pontos de sela, não
apenas dentro dos limites do município, mas também dos seus arredores, pois estes pontos
mesmo estando fora do município podem influenciar no resultado final das áreas obtidas. Este
processo ocorreu através da identificação das feições da camada raster importada, além da
representação da vista 3D do mapa a partir da geração do modelo digital de elevação do
terreno, para análise mais detalhada do relevo.

Figura 3 – Identificação do ponto de sela e do topo de morro

Fonte : Autora, 2021.

3.3 Identificação da altura mínima dos morros

A partir dos pontos de sela encontrados foi delimitada a base dos morros para verificar
a altura mínina desses. Um dos critérios utilizados para constatar que um morro tenha APP é a
sua altura, a qual deve ser igual ou superior a 100 metros de altitude. Em seguida, foram
calculadas diferenças de altitude entre os topos de morro e os pontos de sela horizontais mais
próximos.

3.4 Cálculo da inclinação média das colinas

Conforme a legislação vigente, a inclinação média dos morros deve ser maior que 25
graus. A lei não define os critérios a serem utilizados para calcular a inclinação média.
Considerando que existem diversos métodos para obtê-la, cria-se um grande espaço para
subjetividade dos resultados. Para acelerar o processo de mapeamento, foi realizada a análise
da camada raster e gerado o seu respectivo declive. Em seguida, foi utilizada a calculadora
raster para identificar as áreas com inclinação maior que 25 graus e excluir as demais,
inferiores a este valor. No próximo passo, a camada raster de declividade foi recortada a partir
da camada de máscara do polígono shapefile dos limites de cada morro. A partir disso, o
resultado da declividade média foi obtido através da média dos pixels do modelo gradiente de
declive, presente na área delimitada pela base da colina.

3.5 Delimitação das áreas de APP

Uma vez mapeados os morros que atendem os critérios de altura mínima de 100
metros e inclinação média maior que 25 graus, foram delimitadas as áreas de preservação
permanente. Embora um morro atenda os critérios de altura mínima e inclinação média
conforme a lei, a extensão de APP compreende apenas o terço superior dele. Então, nesta
identificação foi considerada apenas a proporção equivalente ao terço superior de cada morro.
A partir da identificação da curva de nível base da APP, foi gerado o polígono referente a esta
área. Na tabela 1, pode-se observar a quantificação de cada APP devidamente mapeada.

Tabela 1 – Dados das áreas de APPs de morro


COTA TOPO COTA PONTO ALTURA Cota base DECLIVIDADE MÉDIA
IDENTIFICAÇÃO ÁREA (m²)
(m) DE SELA (m) MORRO (m) App (m) MORRO (GRAUS)
APP 1 1049 900 149 999,33 43,89 20329,004
APP 2 962 805 157 909,67 32,73 17462,906
APP 3 1087 956 131 1043,33 33,84 48349,519
APP 4 894 779 115 855,67 25,50 44633,03
Fonte: Autora, 2021.

Na figura 4, mostra-se a delimitação de apenas quatro APPs de topo de morro no


município. Isso porque a utilização do ponto de sela como delimitação da base do morro
reduziu drasticamente o enquadramento dos topos de morro em APPs. Visto que, a altura
mínima dos morros se encontrou muito menor que cem metros quando comparada a uma base
de colina referenciada a partir da planície ou espelho d'água adjacente, ao invés do ponto de
sela mais próximo. Fica como sugestão para um próximo estudo, a utilização desta outra
hipótese de referência de base de morro, para cálculo das APPs de morro em Orleans e
comparação dos resultados obtidos.

Figura 4 – Mapa APPs de Morro da Cidade de Orleans/SC

Fonte : Autora, 2021.


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o processo de delimitação das áreas, constatou-se que foi essencial executar o
estudo em ambiente SIG, através das ferramentas disponíveis pelo software Qgis. Essas
ferramentas são fundamentais para o auxílio do planejamento urbano e controle ambiental e
foram necessárias para uma análise mais ágil do relevo, identificação dos elementos e
características dos morros, e mapeamento das APPs. Além disso, foi indispensável realizar as
análises através do modelo digital de elevação (MDE) na área estudada e também fora dos
limites municipais, visto que as altitudes de topo de morro e de ponto de sela podem se
encontrar próximo a região limítrofe e alterar os resultados obtidos, caso não forem
consideradas.
A partir do estudo realizado pode-se chegar à conclusão de que o município de
Orleans apresenta um total de 130.774,459m² de áreas de preservação permanente de morro.
O resultado da quantidade de APPs de morro foi irrisório quando comparado com a área total
do município e pode variar de forma significante. A espacialização da categoria de APP
apresentada é subjetiva, visto que a lei em vigor não define de forma clara a escala para
mapeá-la, o banco de dados que deve ser oficialmente utilizado, a referência para delimitar os
pontos de base das colinas e os critérios para cálculo da inclinação média. Portanto,
recomenda-se aos especialistas que seja revisada a legislação para definir seus critérios de
forma objetiva, com intuito de eliminar qualquer tipo de ambiguidade em relação à
interpretação da lei.

5. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Amanda; PAULA, Eduardo. Áreas de preservação permanente de topos: das


alterações na legislação brasileira às suas diferentes interpretações, Revista Franco-Brasileira
de Geografia, n.37, 2018.

ARONOFF, Stanley. Geographical Information Systems: a management perspective.


Otawa: WDI Publications, 1989.

BRASIL. Lei Federal n° 12.651, de 25 de maio de 2012. Diário Oficial da União. Brasília,


DF. Congresso Nacional, 2012.

CASCAES, Marco Antonio. et al. Plano Municipal de Educação Orleans. Orleans, 2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades e estados. Rio de


Janeiro: IBGE, 1993. Disponível em
https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/sc/orleans.html. Acesso em: 06 dez. 2021.

OLIVEIRA, Guilherme; FERNANDES FILHO, Elpidio. Mapeamento automatizado de áreas


de preservação permanente em topo de morros, Cerne, Lavras, v.22, n.1, p. 111-120, 2016.

OLIVEIRA, Marcelo Jorge. Proposta Metodológica para Delimitação Automática de


Áreas de Preservação Permanente em Topos de Morro e em Linha de Cumeada. Viçosa:
UFV, 2002. 53p. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de
Viçosa.

PREFEITURA MUNICIPAL DE ORLEANS/SC. Características. Disponível em


https://www.pmo.sc.gov.br/inicio/caracteristicas. Acesso em: 06 dez. 2021.
ROCHA, Cézar Henrique. Geoprocessamento: Tecnologia Transdisciplinar. 2 ed. Juiz de
Fora, 2002.

TOPODATA: Banco de Dados Geomorfométricos do Brasil. Disponível em:


http://www.dsr.inpe.br/topodata/index.php. Acesso em 06 dez. 2021.

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