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All content following this page was uploaded by Ary De Araujo Rodrigues Junior on 11 February 2014.
IRRADIADORES INDUSTRIAIS
E SUA RADIOPROTEÇÃO
1ª Edição
Maringá – PR
Brasil
Edição do Autor
2014
© 2014 Ary de Araújo Rodrigues Júnior
_______________________________________________
ISBN 978-85-916385-1-2
Sobre o autor V
Agradecimentos V
Pequeno glossário VI
Introdução IX
1. Um pouco de Física das radiações e de radioproteção 1
1.1. Grandezas e unidades da Física das radiações 1
1.1.1 O elétron volt (eV) 1
1.1.2 Exposição 1
1.1.3 Dose absorvida 2
1.1.4 Dose equivalente 3
1.1.5 Atividade 5
1.1.6 Meia-vida 5
1.1.7 Decaimento radioativo 7
1.2 Radioproteção 9
1.2.1 Irradiação e contaminação radioativa 9
1.2.1.1 Irradiação 9
1.2.1.2 Contaminação 10
1.2.2 Radiação de fundo 10
1.2.3 Limites de dose para Indivíduo Ocupacionalmente Exposto 12
(IOE) e para indivíduos do público
2. Irradiadores 15
2.1 Irradiadores gama 17
2.1.1 Irradiador gama de categoria I (autoblindado) 17
2.1.2 Irradiador gama de categoria II (panorâmico e com 20
armazenagem da fonte a seco)
2.1.3 Irradiador gama de categoria III (autoblindado com água) 24
2.1.4 Irradiador gama de categoria IV (panorâmico e de 26
armazenagem da fonte em água)
2.1.4.1 Fonte de irradiadores gama de categoria IV 28
2.1.4.2 Mecanismos de transporte dos materiais a serem 33
processados em irradiadores gama de categoria IV
2.1.4.3 Blindagem de irradiadores gama 39
2.2 Aceleradores 40
2.2.1. Aceleradores de categoria I (irradiador blindado) 41
2.2.2 Aceleradores de categoria II (irradiador dentro de uma sala 42
blindada)
3. Segurança 47
3.1 Responsabilidades 48
3.2 Defesa em Profundidade 49
i
3.3 Sistemas de segurança pela SSG-8 51
3.4 Conceito de Falha Segura (Fail Safe) 89
3.5 Como aprender estes conceitos 90
4 Manutenções 97
4.1 Semanalmente 97
4.2 Mensalmente 98
4.3 Semestralmente 100
4.4 Testes de vazamento das fontes radioativas 100
4.5 Modificações da instalação 100
4.6 Levantamento radiométrico (Shield survey) 101
4.7 Auditorias 102
5 Treinamento 103
5.1 Inicial 103
5.2 Periódico 104
5.2.1 Periódico para cargos abaixo do operador 105
5.2.2 Periódico para operadores 106
5.3 Formação de operadores 107
5.4 Registro dos treinamentos 109
5.5 Cultura de segurança 110
6 Acidentes 111
6.1 Stimos (Itália – maio de 1975) 113
6.1.1 O irradiador 113
6.1.2 Entrada no irradiador pelo procedimento regular 114
6.1.3 O acidente 115
6.1.4 Causas do acidente 115
6.1.5 Atualização do irradiador 116
6.2 San Salvador (El Salvador – 05 de fevereiro de 1989) 116
6.2.1 O irradiador 116
6.2.2 Situação em fevereiro de 1989 118
6.2.3 O acidente 122
6.2.4 Desdobramentos 126
6.2.5 Lições gerais aprendidas 128
6.3 Soreq (Israel – 21 de junho de 1990) 129
6.3.1 O irradiador 129
6.3.2 Operação supervisão e treinamento 133
6.3.3 O acidente 135
6.3.4 Lições e ações 138
6.3.4.1 Administração da planta 138
6.3.4.2 Fabricante 138
6.3.4.3 Autoridades competentes 139
6.3.4.4 Complementares 139
6.4 Nesvizh (Bielo Rússia – 26 de outubro de 1991) 139
ii
6.4.1 O irradiador 139
6.4.2 Sistema de transporte dos produtos 142
6.4.3 Sistema de segurança 145
6.4.4 Sequência de entrada no irradiador 146
6.4.5 Sequência para sair do irradiador 147
6.4.6 Operação e manutenção 148
6.4.7 Perfil do operador 149
6.4.8 O acidente 149
6.4.9. Lições aprendidas 151
6.5 Illinois (EUA – fevereiro de 1965) 152
6.5.1 O irradiador 152
6.5.2 O acidente 152
6.5.3 Causas do acidente 153
6.6 Maryland (EUA – 11 de dezembro de 1991) 153
6.6.1 O irradiador 153
6.6.2 Perfil do operador e do seu assistente 154
6.6.3 O acidente 154
6.6.4 Lições aprendidas ou causas do acidente 155
6.7 Hanói (Vietnam – 17 de novembro de 1992) 156
6.7.1 O irradiador 156
6.7.2 Sistemas de segurança e controle 157
6.7.3 O acidente 159
6.7.4 Lições aprendidas ou causas do acidente 162
6.8 Fleurus (Bélgica – 11 de março de 2006) 162
6.8.1 O irradiador 162
6.8.2 O acidente 163
6.8.3 Causas do acidente 164
6.8.4 Lições gerais 164
6.9 Considerações finais sobre acidentes 164
7. Transporte e carga do material radioativo 167
7.1 Licença de importação 167
7.2 Transporte 167
7.3 Carga 171
8. Reflexão final sobre segurança 181
9. Questões de exames específicos da CNEN 185
9.1 Questões 185
9.2 Sugestões de resposta 188
Referências 207
Seção de apêndices
Interação da radiação gama e X com a matéria
Exemplo de manual e de planilha da manutenção semanal
Exemplo de manual e de planilha da manutenção mensal
iii
Exemplo de manual e de planilha da manutenção trimestral, 88888
semestral e anual
Planilha para levantamento radiométrico de um irradiador JS
9600, fornecida pelo fabricante, a MDS Nordion (Canadá)
Exemplo de planilha de acompanhamento da água
Artigo: Adaptação de um jogo comercial de perguntas para o
auxílio no ensino de radioproteção
Artigo: Relembrando os conceitos de radioproteção por meio
de um jogo comercial adaptado
iv
Sobre o autor:
Bacharel em Física pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo
(IFUSP, 1991), é mestre e doutor em Ciências na área de Tecnologia Nuclear-
Aplicações, pela Universidade de São Paulo/ Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares (USP/IPEN), títulos adquiridos, respectivamente, em 2000 e 2005. Trabalhou
na iniciativa privada por 13 anos no setor de esterilização de materiais médicos por
radiação e irradiação de alimentos. Foi professor na Universidade Estadual de Maringá
– campus de Umuarama (2004-2005), na Universidade Estadual de Londrina (2005-
2006), na Unicentro – campus de Guarapuava (2009-2010) e desde 2010 é professor na
Universidade Estadual de Maringá – campus sede. É consultor de empresas na área de
irradiadores industriais, de dosimetria de alta dose e de radioproteção. Também é autor
dos livros: Um pouco do cotidiano dos cientistas (divulgação científica) e Small
ionization chamber for high dose measurements (técnico). Contatos para críticas,
sugestões ou esclarecimentos: aryarj@ig.com.br.
Agradecimentos
A todos os colegas que aceitaram o trabalho de analisar esta obra e forneceram
valiosos comentários, críticas e sugestões, em especial a:
Adaugoberto Soares de Pinho _ Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD)/
CNEN-RJ;
Gilberto Ribeiro Furlan _ Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA)/
USP;
Manoel Gomes _ REGAFF Assessoria em Vigilância Sanitária;
Nelson Minoru Omi _ Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)/
CNEN-SP.
v
Pequeno glossário
Área controlada: área sujeita a regras especiais de proteção e segurança, com a
finalidade de controlar as exposições normais, prevenir a disseminação de contaminação
radioativa e prevenir ou limitar a amplitude das exposições potenciais.
Área livre: qualquer área que não seja classificada como área controlada ou área
supervisionada.
Área supervisionada: área para a qual as condições de exposição ocupacional
são mantidas sob supervisão, mesmo que medidas de proteção e segurança específicas
não sejam normalmente necessárias.
Atividade (de uma quantidade de radionuclídeo em um determinado estado de
energia em um instante de tempo): grandeza definida por A=dN/dt, onde dN é o valor
esperado do número de transições nucleares espontâneas daquele estado de energia no
intervalo de tempo dt. A unidade no sistema internacional é o recíproco do segundo (s-
1
), denominada becquerel (Bq).
CNEN: Comissão Nacional de Energia Nuclear.
Dose: dose absorvida ou dose equivalente, dependendo do contexto.
Dose absorvida: grandeza dosimétrica fundamental expressa por D = dε /dm,
onde dε é a energia média depositada pela radiação em um volume elementar de matéria
de massa dm. A unidade no sistema internacional é o joule por quilograma (J/kg),
denominada gray (Gy).
Dose equivalente: HT - grandeza expressa por HT = DTwR, onde DT é a dose
absorvida média no órgão ou tecido e wR é o fator de ponderação da radiação. A
unidade no sistema internacional é o joule por quilograma (J/kg), denominada sievert
(Sv).
Efeito Cherenkov: quando uma partícula carregada eletricamente (como o
elétron) atravessa um meio isolante (como a água deionizada) a uma velocidade
superior à da luz nesse meio, ela emite radiação eletromagnética que vai do visível ao
ultravioleta, sendo que, no primeiro caso, será um brilho azulado porque a intensidade
será maior nas altas frequências.
Efeitos determinísticos: efeitos para os quais existe um limiar de dose
absorvida, necessário para sua ocorrência e cuja gravidade aumenta com o aumento da
dose.
vi
Efeitos estocásticos: efeitos para os quais não existe um limiar de dose para sua
ocorrência e cuja probabilidade de ocorrência é uma função da dose. A gravidade desses
efeitos é independente da dose.
Empregador: pessoa física ou jurídica com responsabilidades e deveres
reconhecidos com relação a seu empregado, estagiário, bolsista ou estudante, no seu
trabalho ou treinamento, devido a um contrato ou outro acordo formal. Um autônomo é
considerado empregador e empregado.
Exposição: ato ou condição de estar submetido à radiação ionizante.
Fonte: equipamento ou material que emite, ou é capaz de emitir, radiação
ionizante ou de liberar substâncias ou materiais radioativos.
Grade de fontes: contém módulos, que, por sua vez, contêm as fontes
individuais.
IAEA: Agência Internacional de Energia Atômica.
Instalação: estabelecimento ou parte de um estabelecimento ou local destinado à
realização de uma prática. A instalação pode ser classificada como instalação nuclear ou
instalação radiativa.
Instalação radiativa: estabelecimento ou instalação onde se produzem, utilizam,
transportam ou armazenam fontes de radiação. Excetuam-se dessa definição: as
instalações nucleares e os veículos transportadores de fontes de radiação, quando estas
não são partes integrantes dos mesmos.
IOE: Indivíduo Ocupacionalmente Exposto, ou seja, indivíduo sujeito à
exposição ocupacional.
Isótopo: elemento químico que possui o mesmo número de prótons e diferente
número de nêutrons.
Labirinto: corredor em formato tortuoso, que liga o meio externo à sala de
irradiação; sua finalidade é absorver a radiação espalhada, de forma a atenuá-la a
valores da radiação de fundo ou abaixo.
Processamento: ato de irradiar materiais em série.
Proteção radiológica ou Radioproteção: conjunto de medidas que visam a
proteger o ser humano e seus descendentes contra possíveis efeitos indesejados
causados pela radiação ionizante.
Radiação ionizante ou Radiação: qualquer partícula ou radiação
eletromagnética que, ao interagir com a matéria, ioniza seus átomos ou moléculas.
Radionuclídeo: núcleo de átomo que emite radiação.
vii
Radisótopo: isótopo instável de um elemento químico.
Shroud: placas de metal paralelas aos lados da fonte, quando ela se encontra na
posição de exposição, formando uma capa protetora.
Situação de Emergência: situação envolvendo exposição temporária de
pessoas, em decorrência de acidente, terrorismo ou sabotagem, que implique
intervenção.
SS-107: Safety Series 107 – Radiation safety of gamma and electron irradiation
facilities, publicação da IAEA de 1992; foi substituída pela SSG-8.
SSG-8: Specific Safety Guide No. 8 – Radiation safety of gamma, electron and X
ray irradiation facilities, publicação da IAEA de 2010, dentro da Safety Standards
Series.
Supervisor de proteção radiológica (SPR) ou supervisor de radioproteção
(SR): indivíduo com habilitação de qualificação emitida pela CNEN, no âmbito de sua
atuação, formalmente designado pelo titular da instalação para assumir a condução das
tarefas relativas às ações de proteção radiológica na instalação relacionada àquela
prática.
Passivação: cinética eletroquímica, que resulta da formação de películas
protetoras sobre a superfície de metais por imposição de correntes. A passivação presta-
se para assegurar a resistência à corrosão do componente ou peça e, consequentemente,
sua durabilidade.
Supervisor de proteção radiológica ou supervisor de radioproteção:
indivíduo com habilitação de qualificação emitida pela CNEN, no âmbito de sua
atuação, formalmente designado pelo titular da instalação para assumir a condução das
tarefas relativas às ações de proteção radiológica na instalação relacionada àquela
prática.
Switch (plural: switches): interruptor ou chave de energia elétrica, com formato
e forma de acionamento específico, para a função para a qual foi projetado.
Titular: responsável legal pela instituição, estabelecimento ou instalação para a
qual foi outorgada, pela CNEN, uma licença, autorização ou qualquer outro ato
administrativo de natureza semelhante.
viii
Introdução
Apesar do foco deste livro ser irradiadores gama, 90% do exposto aqui também
pode ser aplicado aos aceleradores de elétrons e aos de produção de raios X, pois todos
seguem a mesma recomendação internacional emitida pela IAEA (Agência
Internacional de Energia Atômica), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU),
ou seja, a SSG-8 (Specific Safety Guide – Radiation Safety of Gamma, Electron and X
Ray Irradiation Facilities) emitida em 2010, em substituição à SS-107 (Safety Series
107 - Radiation Safety of Gamma and Electron and Irradiation Facilities) de 1992.
Ambas estão disponíveis para serem copiadas gratuitamente no formato pdf no sítio da
IAEA. As normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) também estão
disponíveis gratuitamente no respectivo sítio (www.cnen.gov.br).
Aqui você poderá saber como funcionam os irradiadores gama e aceleradores
para fins industriais e de pesquisa e toda a parte de segurança radiológica que deve
acompanhar o trabalho com eles. O texto foi pensado, principalmente para os que
pretendem se tornar supervisores de radioproteção para irradiadores gama, mas também
é útil aos empresários que pensam em enveredar por essa área e aos que são
simplesmente curiosos. Aviso que este livro é apenas uma introdução ao assunto e está
longe de ser exaustivo.
Tanto faz o título: Supervisor de Radioproteção (SR) ou Supervisor de Proteção
Radiológica (SPR), ambos têm o mesmo significado e adotarei a primeira denominação.
O processo de certificação varia de país para país. No Brasil, a CNEN rege todo o
processo e um candidato a SR deve preencher alguns requisitos (Resolução CNEN-No
111 de 24 de agosto de 2011; Certificação da Qualificação de Supervisores de Proteção
Radiológica, publicada no Diário Oficial da União em 5 de setembro de 2011):
ix
A experiência operacional deve ter sido adquirida nos últimos cinco anos
anteriores à data de solicitação da certificação;
O tempo de experiência operacional deve ser comprovado mediante declaração
do supervisor de proteção radiológica da instalação na qual a experiência
operacional foi adquirida, do titular da instalação ou do chefe do serviço de
proteção radiológica.
Primeiro exame:
Sobre tópicos básicos de energia nuclear (que, há muitos anos, é de múltipla
escolha).
Observação: Este livro não cobre esta parte, mas há boa bibliografia
disponível nas livrarias, bibliotecas e na internet, além de cursos oferecidos por
instituições particulares. Apenas o capítulo 1 é dedicado à parte básica de física das
radiações, mas contém somente a informação necessária, para permitir uma melhor
compreensão do funcionamento dos irradiadores.
x
Terceiro e último exame:
Prático. Em geral, ele é realizado em um irradiador industrial de grande porte.
Atualmente, a CNEN não qualifica SR para cada uma das quatro categorias de
irradiador gama, mas ela foca na IV (no caso de aceleradores ela foca na II), que é a
mais completa (ver capítulo 2). Com essa certificação, a pessoa estará,
automaticamente, qualificada para todas as categorias. O fato de uma empresa possuir
outros tipos de irradiadores que não o gama de categoria IV não importa. Espera-se que,
no futuro, a CNEN qualifique SR para as diferentes categorias de irradiadores; nesse
meio tempo, o candidato deve ter conhecimento em todas elas e, principalmente, na IV.
O número de supervisores de radioproteção exigido pela CNEN, para autorizar o
funcionamento de uma instalação que possua um irradiador gama industrial, nunca é
inferior a dois. Se houver mais de um irradiador no mesmo local, certamente, esse
número será maior.
Como a ideia já pode ter ocorrido a alguém, vale ressaltar que, pelo
entendimento da CNEN, o titular da instalação (dono, acionista majoritário, presidente,
etc.) não pode acumular a função de supervisor de radioproteção. Isso não significa que
ele não possa obter a certificação, significa simplesmente que ele não pode exercê-la na
própria empresa.
Boa leitura!
*Caso você seja um empresário que pretende montar uma empresa de irradiação,
ao invés de treinar um funcionário da estaca zero, há a opção de procurar um supervisor
de radioproteção ou ex-supervisor de outras áreas (medicina nuclear, radioterapia,
medidores nucleares, perfilagem de poços de petróleo, radiografia industrial, traçadores
radioativos, etc.) que possua certificação válida. Esse profissional tem o direito de pedir
a dispensa do primeiro exame, o que é uma etapa a menos. Outra vantagem é que ele ou
ela já terá familiaridade com as aplicações da radiação, o que facilitará em muito o
treinamento específico.
xi
1. Um pouco de Física das radiações e de radioproteção
Neste capítulo, serão apresentadas algumas grandezas e unidades, bem como
conceitos básicos de radioproteção, necessários para o entendimento deste livro. Caso o leitor
já esteja familiarizado com esses tópicos, pode pular este capítulo sem nenhum prejuízo. No
sentido contrário, se houver necessidade de se aprofundar no tema, recomendo consultar as
referências utilizadas.
A energia da radiação emitida por uma fonte é fornecida nessa unidade. Por exemplo,
a luz visível tem energia da ordem de eV, o raio X diagnóstico da ordem de keV, o polônio-
214 emite partículas alfa da ordem de 7,8 MeV e o berílio-7 emite um fóton de 478 keV
[Biral, 2002; Dimenstein e Hornos, 2001; Okuno, 1998; Okuno e Yoshimura, 2010].
1.1.2 Exposição
Foi a primeira grandeza da área da Física das Radiações. A primeira tentativa de sua
definição ocorreu em 1928, mas somente em 1962 é que se chegou à atual. Ela é aplicada
apenas para caracterizar as radiações ionizantes eletromagnéticas (raios X e gama) em termos
da carga elétrica que estas produzem em uma massa de ar. É simbolizada pela letra "x"
maiúscula (X):
dQ
X = C / kg
dm
1
ao descobridor dos raios X, Wilhelm Röentgen. A equivalência de röentgens em C/kg
[McLaughlin et al., 1989; Okuno, 1998; Okuno e Yoshimura, 2010] é:
dĒ
D= ———
dm
1 Gy = 100 rad
A dose absorvida por unidade de tempo é expressa como a taxa de dose absorvida:
. dD
D = ———
dt
2
No Sistema Internacional, a unidade da taxa de dose absorvida é o gray por segundo
(Gy/s), mas ela também pode ser expressa em gray por minuto ou hora, dependendo da
conveniência.
H = D.Wr
H = dose equivalente
D = dose absorvida
Wr = coeficiente de peso, que dependerá do tipo de radiação
incidente
3
A Tabela 1.1 apresenta os valores aceitos de Wr para vários tipos de radiação. Por
meio dessa tabela, pode-se observar que a dose absorvida e a equivalente, no caso da radiação
eletromagnética (fótons), são numericamente iguais.
Tabela 1.1: Coeficientes de peso (Wr) para os vários tipos de radiação [CNEN, 2011]
A taxa de dose equivalente será expressa pela dose equivalente aplicada por unidade
de tempo (segundo, hora etc.) [Biral, 2002; Okuno, 1998]:
. Sv Sv
H = ; ; Etc.
S h
Como cada órgão do corpo humano apresenta uma sensibilidade diferente à radiação,
há outro fator que deve ser multiplicado à dose equivalente, cujo valor dependerá da parte do
corpo sob irradiação. No caso da irradiação de humanos (por exemplo, na radioterapia), essa
4
informação é relevante, mas no caso da irradiação de materiais, ela é desnecessária e,
portanto, não será abordada.
1.1.5 Atividade
É definida como o número de desintegrações nucleares dos átomos de uma amostra
radioativa, na unidade de tempo. Por sua vez a desintegração é definida como: o processo,
espontâneo ou provocado, em que um núcleo atômico emite uma partícula (dicionário
Aurélio, 1994). Cada vez que há uma desintegração, há emissão de radiação. No Sistema
Internacional, a unidade de medida dessa grandeza é o bequerel (Bq), cujo plural é bequerels.
A sua definição é:
1Bq = uma desintegração por segundo
Portanto, se uma amostra tem 1000 Bq, ela apresenta 1000 desintegrações por
segundo. A unidade anterior ao bequerel se chamava curie (Ci), em homenagem a Pierre e
Maria Sklodowska Curie (Mme. Curie), que desenvolveram trabalhos pioneiros com
materiais radioativos. Um curie é definido como o número de desintegrações por segundo
presente em um grama de rádio-226, que perfaz 3,7 x 1010 desintegrações por segundo.
Portanto, a correspondência entre a unidade antiga e a nova [Biral, 2002; Okuno, 1998;
Okuno e Yoshimura, 2010] é:
1 Ci = 3,7 x 1010 Bq
1.1.6 Meia-vida
Pelo princípio da conservação da energia, uma fonte de energia, seja ela qual for, não
a emite indefinidamente com a mesma intensidade. No caso dos materiais radioativos, a
emissão de energia, na forma de radiação, ocorre pela desintegração de átomos. Com o
tempo, o número de radionuclídeos disponíveis diminui, assim como a atividade do material
e, consequentemente, a emissão de energia1. Esse processo é totalmente aleatório, ou seja, há
átomos que se desintegrarão em poucos segundos, enquanto outros só o farão depois de
vários anos. Mas para uma amostra radioativa com um grande número de radionuclídeos
(átomos que emitem radiação) essa diminuição de atividade com o tempo pode ser prevista.
Esse parâmetro é característico para cada radionuclídeo e é chamado de meia-vida. Não há
dois radionuclídeos com a mesma meia-vida e, medindo-a, o radionuclídeo pode ser
1
Por haver uma grande emissão de energia sem perda aparente de massa, a radioatividade parecia violar as leis
da termodinâmica, mas isso não é verdade. Quando uma ligação nuclear é quebrada, a liberação de energia por
unidade de massa é por volta de centenas de vezes maior do que a de uma ligação química.
5
identificado [Biral, 2002; Okuno, 1998; Okuno e Yoshimura, 2010]. A meia-vida é definida
como:
O tempo necessário para que a atividade de uma fonte radioativa diminua para a metade do
valor anterior.
Atividade
A
T = tempo de meia vida
A/4
A/8
T 2T 3T Tempo
T 2T 3T
Figura 1.1: Curva característica da diminuição da atividade de uma fonte radioativa em
termos de meias-vidas. Também são mostradas as meias-vidas de alguns
radionuclídeos.
6
1.1.7 Decaimento radioativo
Quando o núcleo de um átomo se encontra em uma situação de excesso de energia, ele
está em um estado instável. Para chegar a um estado estável, o núcleo emite energia sob a
forma de radiação, resultando na sua desintegração, também chamada decaimento, em que o
átomo original deixa de existir e dá origem a outro em um estado mais estável. As Figuras 1.2
e 1.3 mostram, respectivamente, as curvas de decaimento dos elementos césio-137 e cobalto-
60, bem como os radionuclídeos mais utilizados em irradiadores gama, sendo o último
elemento o mais comum.
137
Cs55
β- (94,6%) 0,51 MeV
_____
β- (5,4%)
1,18 MeV γ (85%) 0,66 MeV
____
T1/2 = 137
Ba56
30 anos
60
Co27
β- (99,8%) 0,31 MeV
_____
β- (0,12%)
1,49 MeV γ (99,8%) 1,17 MeV
____
T1/2 = γ (100%) 1,33 MeV
5,27 anos ____
60
Ni28
7
• Energia da radiação gama emitida está na faixa do efeito Compton (para que a
dose dependa apenas da densidade do material e não de sua composição, ver a
seção de apêndices para entender em detalhes o que isso significa);
• Meia-vida relativamente longa (cobalto-60: 5,27 anos e césio-137: 30 anos);
• Ambos decaem para elementos estáveis: o césio-137 para o bário-137 (Figura
1.2) e o cobalto-60 para o níquel-60 (Figura 1.3).
A preferência pelo cobalto-60 não é só porque ele emite mais radiação gama por
desintegração, o motivo principal é por questão de segurança. O césio não possui existência
livre na natureza, isso quer dizer que ele está sempre ligado a outros elementos, ou seja, ele é
reativo. Ele reage facilmente com água, sendo que, na sua forma pura, essa reação é muito
violenta, reagindo explosivamente até com gelo a temperaturas extremamente baixas. Na área
de irradiação, é utilizado o cloreto de césio (CsCl), que por se apresentar na forma de pó,
deve ser misturado a um aglutinante [http://www.e-escola.pt/topico.asp?id=481&ordem=1;
http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9sio; Okuno, 1998]. Por sua vez, o cobalto não é
reativo e a exemplo do ferro e do níquel, pode formar ligas metálicas, o que torna a sua
utilização mais fácil e segura [http://pt.wikipedia.org/wiki/Cobalto;
http://www.cdcc.sc.usp.br/elementos/cobalto.html].
Muitos radionuclídeos decaem para outros radionuclídeos, como ocorre com as séries
naturais do urânio-238, do urânio-235 e do tório-232, mostradas na Figura 1.4, até atingirem
um elemento estável.
8
Figura 1.4: Séries do urânio-238, do urânio-235 e do tório-232, mostradas na apostila
educativa da CNEN, intitulada radioatividade, página: 13.
1.2 Radioproteção
1.2.1 Irradiação e contaminação radioativa [Biral, 2002; Okuno, 1998; Rodrigues
Júnior, 2007]
1.2.1.1 Irradiação
Quando um objeto ou um ser vivo está sendo irradiado, ele está recebendo radiação de
uma fonte emissora e sofrendo os efeitos que a radiação causa. À medida que ele se afasta da
fonte, a intensidade da irradiação vai diminuindo.
Esse efeito pode ser melhor visualizado pela analogia com uma fonte de luz, que é
uma forma de radiação eletromagnética visível. Suponhamos que estamos à noite em um
descampado no qual existe apenas um único poste de iluminação. Enquanto estivermos
9
próximos ao poste, conseguiremos ver tudo o que está ao nosso redor, mas à medida que nos
afastamos, a dificuldade em ver os objetos próximos vai aumentando até que a intensidade da
luz seja insuficiente para permitir a nossa visão.
É importante frisar que um objeto ou ser vivo não fica radioativo ou acumula radiação
por ter sido irradiado. Utilizando novamente a analogia com uma fonte luminosa, isso é tão
absurdo quanto dizer que, após a exposição a uma fonte de luz, um objeto ou ser vivo sairia
emitindo luminosidade ou que é possível guardar luz dentro de um recipiente qualquer, por
exemplo, um saco de papel.
1.2.1.2 Contaminação
Quando um objeto ou ser vivo está contaminado, ele contém material radioativo na
sua estrutura. Nesse caso, ele estará sendo continuamente irradiado, não importando o lugar
para onde ele se desloque, pois a fonte estará indo junto com ele. Para a remoção desse
material, é necessário um processo de descontaminação, ou seja, de retirada do contaminante
radioativo.
10
Como exemplos do primeiro caso, temos os raios X, a tomografia computadorizada, a
introdução em pacientes de materiais radioativos de meia-vida curta e emissores de radiação
gama de baixa energia, visando à obtenção de imagens específicas de órgãos do interior do
corpo. O exemplo para o segundo caso são as técnicas de radioterapia, que consistem no uso
de fontes intensas de radiação para matar tecidos doentes, irradiando-os externamente ou
internamente (por meio de implantes de fontes).
Outras fontes de radiação artificial são o material radioativo liberado no ambiente
pelos testes nucleares, pelo acidente de Chernobyl e pelas usinas nucleares. A média mundial
anual por habitante da contribuição da radiação artificial varia de essencialmente zero a
algumas dezenas de mSv, dependendo basicamente da qualidade do sistema de saúde vigente
no país ou de estar próximo de locais de testes ou de acidentes nucleares.
De acordo com o Comitê Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação
Atômica (UNSCEAR), a contribuição dos vários fatores pode ser visualizada na Tabela 1.2.
Tabela 1.2: Contribuição das fontes naturais e artificiais de radiação para a dose média
anual por habitante no ano de 2008 [UNSCEAR, 2010].
Como já foi dito, esse é o número médio; há lugares onde a dose anual é menor e
lugares onde ela é maior, como na cidade litorânea de Guaraparí, no estado do Espírito Santo,
11
onde a presença da areia monazítica, rica em urânio e tório, provoca níveis de radiação que
variam de 8 a 15 mSv/ano [Okuno, 1998].
Mesmo assim, os índices de incidência de câncer e outros problemas de saúde que
podem ser decorrentes de exposição à radiação estão dentro da média de incidência de
regiões onde o nível da radiação de fundo é considerado normal, como as cidades de São
Paulo e Rio de Janeiro.
Tabela 1.3: Limites de dose anuais (a) para Indivíduos Ocupacionalmente Expostos
(IOEs) e para indivíduos do público* [CNEN, 2011].
(a) Para fins de controle administrativo efetuado pela CNEN, o termo dose anual deve ser
considerado como dose no ano calendário, isto é, no período vigente de janeiro a dezembro
de cada ano.
(b) Média aritmética em 5 anos consecutivos, desde que não exceda 50 mSv em qualquer
ano.
12
(c) Em circunstâncias especiais, a CNEN poderá autorizar um valor de dose efetiva de até 5
mSv em um ano, desde que a dose efetiva média em um período de 5 anos consecutivos, não
exceda 1 mSv por ano.
(d) Valor médio em 1 cm2 de área, na região mais irradiada.
* Esses limites devem ser aplicados sem incluir a radiação de fundo, ou seja, somente deve
ser levado em conta o acréscimo de dose, devido às atividades que utilizam radiação, e ele
não pode ser superior aos valores mostrados nesta tabela.
** Para irradiação uniforme no corpo todo, que é o caso em irradiadores de grande porte.
Para medir a dose recebida pelos IOEs durante o trabalho, eles portam dosímetros
pessoais, que, em geral, são lidos mensalmente. Em caso de acidente radiológico, o dosímetro
do respectivo IOE deve ser enviado para o fornecedor o quanto antes para leitura.
Se o dosímetro pessoal de um IOE acusar uma dose, o seu histórico dosimétrico dos
últimos 12 meses, incluindo-se o atual, deve ser analisado, para verificar se a soma não
ultrapassa o limite de dose aplicável ao seu caso.
Os valores de dose efetiva se aplicam à soma das doses efetivas, causadas por
exposições externas, com as doses efetivas comprometidas (integradas em 50 anos para
adultos e até a idade de 70 anos para crianças), causadas por incorporações ocorridas no
mesmo ano.
Para mulheres grávidas ocupacionalmente expostas, suas tarefas devem ser
controladas, de maneira que seja improvável que, a partir da notificação da gravidez, o feto
receba dose efetiva superior a 1 mSv durante o resto do período de gestação.
Indivíduos com idade inferior a 18 anos não podem estar sujeitos a exposições
ocupacionais.
IMPORTANTE: Esses limites de dose NÃO devem ser tomados como “limites” a
serem tolerados. Quanto menor a dose recebida, melhor.
13
2. Irradiadores
O objetivo dos irradiadores é análogo ao fazer um churrasco (os colegas mais
ortodoxos que me desculpem). Você coloca uma fatia de carne na grelha para ser exposta a
uma fonte de energia, neste caso, o calor vindo do carvão em brasa logo abaixo. Devido à
espessura da carne, de vez em quando, há a necessidade de virá-la para assar o lado que não
estava voltado para o calor; desse modo, os dois lados assarão aproximadamente por igual.
Claro que, devido à propagação do calor, o meio da carne também estará assando, mas
mesmo que se chegue a deixá-la bem passada, sempre as partes externas estarão mais assadas
do que o meio. Pode-se chegar muito perto de deixá-la assada por igual, por exemplo,
utilizando-se fatias de carne bem finas, mas um exame minucioso mostrará que existe
diferença, apesar de pequena e, em termos práticos, pode ser desprezada.
Todas as configurações de irradiadores que vamos estudar foram projetadas para
expor os materiais à radiação, de modo que a dose absorvida seja a mais homogênea possível
e todos eles podem ser divididos em três partes principais:
1ª) Blindagem: Absorve a maior parte da radiação emitida, diminuindo o seu nível na parte
externa para níveis abaixo da radiação de fundo local.
2ª) Mecanismo de transporte: Conduz o material a ser irradiado para dentro do irradiador,
onde será exposto à radiação durante o tempo necessário para acumular a dose
desejada, e o retira sem a intervenção humana.
3ª) Fonte de radiação: No caso de irradiadores gama, trata-se de um material radioativo (em
geral, cobalto-60) e, no caso de aceleradores, um feixe de elétrons. Alguns modelos
realizam a conversão do feixe de elétrons em raios X (como ocorre nos equipamentos
de raios X hospitalares e de tomografia), mas devido à baixa eficiência dessa
conversão (o que implica alto custo), são pouco utilizados na área industrial.
15
A CNEN classifica as instalações radiativas em sua norma de licenciamento [CNEN,
2011a] pela finalidade desta e se a fonte é selada ou não selada. Para as fontes seladas, a
classificação em grupos e subgrupos é:
I - GRUPO 1: Instalações de grande porte que utilizam fontes seladas em processos
industriais induzidos por radiação, incluindo os irradiadores de grande porte utilizados para
esterilização de materiais, para preservação de alimentos ou para outras aplicações da
irradiação.
II - GRUPO 2: Instalações que utilizam fontes seladas em equipamentos,
subdividindo-se em:
a) SUBGRUPO 2A - Instalações que utilizam fontes seladas em equipamentos de
grande porte autoblindados, que não permitem acesso às fontes nem à câmara de irradiação, e
nos quais não há o deslocamento das fontes em operação rotineira;
b) SUBGRUPO 2B - Instalações que utilizam fontes seladas em equipamentos para
fins de radioterapia, nas modalidades de teleterapia e braquiterapia com altas taxas de dose,
radiografia industrial e de outras práticas que requeiram blindagem externa para a utilização
das fontes.
III - GRUPO 3 - Instalações, incluindo aquelas para fins de comércio e prestação de
serviços, nas quais se manipulam, utilizam ou armazenam fontes seladas que não se
enquadram nos GRUPOS 1 e 2.
As instalações radiativas que utilizam equipamentos geradores de radiação ionizante
estão classificadas no GRUPO 7, compreendendo as instalações que utilizam aceleradores de
partículas ou quaisquer outros aparelhos geradores de raios-X e são classificadas em um dos
seguintes subgrupos, conforme o nível de energia de feixe gerado:
I - SUBGRUPO 7A - Equipamentos geradores de radiação ionizante que produzem
feixe com energia menor ou igual a 0,10 MeV;
II - SUBGRUPO 7B - Equipamentos geradores de radiação ionizante que produzem
feixe com energia maior que 0,10 MeV e menor ou igual a 0,60 MeV;
III - SUBGRUPO 7C - Equipamentos geradores de radiação ionizante que produzem
feixe com energia maior que 0,60 MeV e menor ou igual a 50 MeV; ou
IV - SUBGRUPO 7D - Equipamentos geradores de radiação ionizante que produzem
feixe com energia maior que 50 MeV.
16
Series 107 [IAEA, 1992] e da sua substituta, a Specific Safety Guide [IAEA, 2010], classifica
os irradiadores pelas suas características, independentemente de sua finalidade. Os que
utilizam radiação gama são divididos nas categorias I (autoblindado), II (panorâmico e com
armazenagem da fonte a seco), III (autoblindado com água) e IV (panorâmico e de
armazenagem da fonte em água) e os aceleradores nas categorias I (irradiador blindado) e II
(irradiador dentro de uma sala blindada). Como o objetivo deste capítulo é apresentar os
diversos tipos de irradiadores, será adotada a classificação da IAEA.
17
Figura 2.2 Irradiador gama de categoria I adequado para irradiações de pesquisa e de
pequena escala. Um suporte com amostra está sendo colocado na câmara
de irradiação, quando ela está na posição de carga. Dependendo da taxa de
dose do dia, o marcador de tempo no painel de controle (embaixo à
direita) é ajustado para fornecer a dose desejada [IAEA, 2004].
Nos modelos mostrados nas Figuras 2.1 e 2.2, as fontes estão distribuídas na forma de
anel e a câmara de irradiação com o material a ser exposto desce no meio dele, como mostra
a Figura 2.3, o que fará com que tal material receba radiação de todas as direções, garantindo
uma boa homogeneidade de dose. Esse tipo de disposição das fontes impõe restrições sobre o
volume limite da amostra para algo em torno de 1 a 5 litros. Entretanto, esse volume é muito
adequado para pesquisa de irradiações em pequena escala [IAEA, 2004].
Figura 2.3: Esquema do arranjo de fontes dentro dos irradiadores mostrados nas Figuras
2.1 e 2.2
Embora esse modelo de irradiador compacto seja muito popular, a sua produção foi
descontinuada. Em seu lugar, foram introduzidos modelos cuja câmara de irradiação possui
uma única fonte e o material é girado em torno do próprio eixo em frente a ela, com o
objetivo de homogeneizar a dose [MacLaughlin et al., 1989]. Um esquema desse sistema é
mostrado na Figura 2.4. Como o custo do material radioativo é significativo no preço final
18
desses irradiadores, a grande vantagem é a diminuição do seu valor, com a obtenção do
mesmo efeito, embora haja um aumento do tempo de aplicação da dose.
Blindagens de chumbo
Fonte
Blindagem
giratória de
Nicho para chumbo Mesa
colocação giratória
da amostra
Muitos pensam que irradiadores gama de categoria I são pequenos, mas isso não é
verdade. Assim como qualquer equipamento, eles podem ser do tamanho necessário para
atender aos requisitos do processamento. Um exemplo disso pode ser visto na Figura 2.5.
Trata-se de um irradiador gama de categoria I de 17 toneladas e com 1,11 PBq (30 kCi)
instalado em um navio para a irradiação de pescado no ano de 1968. Nessa época havia três
navios pertencentes ao governo americano com esse tipo de irradiador instalado: o Delaware,
mostrado na Figura 2.5, o Oregon e o Miller Freeman [AEC, 1968].
19
b
a
c
Figura 2.5: 1968: Navio de pesquisa Delaware com um irradiador gama de categoria I de
grandes dimensões, para o processamento de pescado; a) desenho do
irradiador; b) foto do irradiador; c) navio Delaware, um dos três navios do
governo americano, em que esse tipo de irradiador foi instalado [AEC, 1968].
20
A Figura 2.6 mostra um irradiador gama de fluxo contínuo para a desinfestação de
grãos (embora, o emprego de um acelerador de elétrons fosse mais apropriado). Os grãos são
transportados por meio de dutos pneumáticos até a entrada do irradiador, onde eles são
despejados em dutos, que envolvem uma fonte de cobalto-60, quando ela está na posição de
exposição. Durante a queda, os grãos são irradiados.
Figura 2.6: Irradiador gama de categoria II para grãos, que são despejados por cima do
equipamento, descem por gravidade, passam por dutos que envolvem a fonte
de cobalto-60 e, durante essa passagem, recebem a dose necessária para a
eliminação de insetos [IAEA, 2002].
21
Figura 2.7: Irradiador de cobalto-60 na Hungria, que opera por fluxo gravitacional,
para a inibição do brotamento de cebolas [MaClaughlin et al., 1989].
1. Fonte de cobalto-60 na posição de irradiação.
2. Fonte de cobalto-60 recolhida na sua blindagem seca.
3. Blindagem do irradiador.
4. Blindagem de chumbo.
5. Blindagem da fonte.
6. Esteira de carga.
7. Mesa giratória.
8. Esteira de saída.
22
Blindagem do Sala de
irradiador irradiação
Cabo de
elevação
Porta de
da fonte
acesso
Fonte na
posição de
exposição
Blindagem
Sala de controle da fonte
Corredor de acesso à sala de
Pistão para elevar a fonte
irradiação
B Fonte na posição de C
repouso
A
23
2.1.3 Irradiador gama de categoria III (autoblindado com água)
Trata-se de um irradiador em que a fonte é fixada no fundo de um tanque preenchido
com água. Isso implica que o material a ser irradiado deve ir até a fonte. A função dessa
coluna de água é tripla: a primeira e a mais importante é a de blindagem da radiação emitida;
a segunda é a de restringir o acesso humano à fonte e ao volume sob irradiação; a terceira é a
de funcionar como dissipadora do calor gerado pela fonte (por meio de correntes de
convecção naturalmente formadas), permitindo que essa categoria de irradiador gama possa
operar com atividades maiores do que os de categoria I e II cujas fontes são armazenadas a
seco [IAEA, 2004].
Para se ter uma ideia do aquecimento gerado, a potência emitida por uma fonte de
cobalto-60, que emite dois fótons com energia média de 1,25 Mev por desintegração, com
atividade de 18,5 PBq (500 kCi), é dada por:
24
Referências mostrando irradiadores gama de categoria III não são comuns na
literatura; a própria IAEA mostra sempre o mesmo desenho [IAEA, 1992, 1996a, 2003 e
2010], que pode ser visto na Figura 2.10a. A Figura 2.10b [McLaughlin et al. 1989] mostra o
mesmo modelo de irradiador, mas com uma vista em corte. Nesse modelo, as amostras
podem ser irradiadas tanto no centro dessa disposição anular, como podem ser colocadas em
outras posições a certas distâncias das fontes. Nessa disposição anular, a taxa de dose é
constante dentro do volume cilíndrico, desde que todas as fontes tenham atividades
semelhantes [McLaughlin et al. 1982].
a b
25
absorvida é determinada pelo tempo de permanência das campânulas, que são colocadas
primeiramente de um lado e, então, do outro da grade de fontes [Sommers e Fan, 2006].
26
Figura 2.12: Irradiador gama de categoria IV: um irradiador panorâmico, com
armazenamento da fonte em tanque com água [IAEA, 1992, 2010].
Hoist cable: cabo do guincho (ver observação para o Source hoist
cylinder).
2 m concrete shielding: blindagem de concreto de 2 metros de espessura
(essa espessura pode ser maior ou menor, dependendo da atividade
máxima licenciada para o irradiador).
Source hoist cylinder: guincho da grade de fontes (alguns modelos
possuem grades de fontes independentes e, por isso, possuem mais de um
guincho, um para cada grade).
Acess for source transport container: tampas de concreto para a entrada
do contêiner de transporte de fontes (na maioria dos irradiadores dessa
categoria, a entrada do contêiner blindado contendo as fontes individuais,
para serem colocadas na grade de fontes, é feita por uma abertura no teto,
que possui tampas de concreto, as quais devem ser removidas antes da
operação e recolocadas após).
Product conveyor: esteira de produtos (transporta o material para a
câmara de irradiação, faz o mesmo percorrer um trajeto em torno da fonte
e o retira).
Personnel access door: Porta de acesso ou do labirinto.
Control panel: painel de controle.
Source transport container: contêiner blindado para o transporte de
fontes individuais (não permanece dentro do irradiador durante a
operação normal).
Source array (safe position): grade de fontes (posição de repouso).
Guide cable: cabos guias (para evitar que a grade de fontes gire em torno
do próprio eixo).
Shielding pool: tanque com água para a blindagem da fonte.
27
O tanque e a sua água seguem os mesmos cuidados destinados a um irradiador gama
de categoria III (ver item 2.1.3) e, como no caso dos de categoria II (ver item 2.1.2), é
necessária uma blindagem externa de concreto, para reduzir os níveis de radiação
provenientes da grade de fontes a níveis inferiores aos da radiação de fundo local, quando ela
estiver fora do tanque.
Vamos analisar em maiores detalhes os componentes para essa categoria de
irradiador, ou seja, a fonte de radiação, o mecanismo de transporte dos materiais a serem
irradiados e a blindagem. O objetivo é facilitar a compreensão do porquê dos seus sistemas de
segurança, que serão analisados no próximo capítulo.
Co-59 + n → Co-60
28
paredes do lápis, mas o material radioativo (cobalto-60) não pode sair, ele está aprisionado
dentro da fonte. Em outras palavras: o material radioativo não tem como entrar em contato
direto com o produto que está sendo irradiado. O cobalto-60 é duplamente selado, para
maximizar a segurança. A Figura 2.13 mostra uma maquete de um lápis de cobalto-60 com
corte, para a visualização da parte interna, e com alguns peletes ao lado, que estaria pronto
para ser colocado em uma instalação [IAEA, 2004; MaCLaughlin et al., 1989].
A maioria das fontes de cobalto-60 para irradiadores gama industriais é na forma de
lápis, com um comprimento de 452 mm (17.8 polegadas) e com um diâmetro de 11,1 mm
(0,44 polegadas). A atividade de um lápis pode chegar a 527 Tbq (14,25 kCi) [Sommers and
Fan, 2006].
As cápsulas de césio-137 atualmente em uso são fabricadas de modo similar. Elas têm
um diâmetro maior, levando a uma maior autoabsorção da radiação e a uma menor eficiência
em relação às fontes de cobalto-60, para uma mesma atividade [MaCLaughlin et al., 1989].
Fontes de césio-137 não devem ser utilizadas em irradiadores de armazenamento de fontes
em água, por causa da alta solubilidade do cloreto de césio nela presente [IAEA, 2010, p. 51,
8.52].
29
A geometria adequada da fonte é obtida colocando os lápis, em posições pré-
determinadas, dentro de módulos e distribuindo esses módulos na grade de fontes do
irradiador (Fig. 2.14). O número de módulos na grade de fontes e o de lápis em cada módulo
varia de acordo com o modelo e o fabricante do irradiador.
Figura 2.14: Esquema fornecido pela MDS Nordion (Canadá), mostrando uma
montagem típica de uma grade de fontes (source rack) de um irradiador
industrial. Desde os peletes (slugs), passando pelos lápis (pencils),
módulos (module) até chegar à montagem final [IAEA, 2004].
30
O formato da grade de fontes e, consequentemente, dos módulos também pode variar,
dependendo da geometria de irradiação adotada. Por exemplo, há grade de fontes no formato
cilíndrico, como o irradiador de batatas da cooperativa de Shihoro (Japão), mostrado na
Figura 2.15, que visa estender o período de armazenamento desse tubérculo [IAEA, 2002].
Mas o formato mais adotado é o plano. Há irradiadores que possuem grade de fontes
independentes, como mostra a Figura 2.16, cujo objetivo é reduzir a taxa de dose aplicada em
produtos sensíveis a um limite de dose.
Observação: No Japão, é viável a irradiação de batatas porque lá esse alimento é caro
(assim como vários outros).
31
Figura 2.16: Irradiador com três grades de fontes independentes, sendo erguidas para a
posição de exposição (na época dessa foto, o irradiador ainda estava sendo
montado e os módulos só possuíam simuladores).
O transporte das fontes do fornecedor até o irradiador é feito por meio de contêineres
de transporte (de chumbo ou de urânio exaurido), como mostram as figuras 2.17 a e b.
32
a b
Figura 2.17: a) Fontes sendo colocadas no contêiner de transporte, por meio de mãos
mecânicas.
b) Contêiner de transporte carregado, sendo checado antes do embarque.
33
viaja pendurado. No primeiro caso, o sistema de irradiação faz com que o posicionamento do
contêiner seja acima ou abaixo do meio da grade de fontes. Isso exige que o produto passe
duas ou mais vezes em torno da grade em diferentes níveis, para atingir uma melhor
uniformidade de dose. No segundo caso, o tamanho da grade é maior do que o do contêiner,
então, normalmente, o produto necessita passar somente uma vez em torno da fonte e em
apenas um nível para atingir uma melhor uniformidade de dose [IAEA, 2004; Fairband,
2002]. A Figura 2.18 mostra o detalhe desses dois sistemas.
34
distribuição de material radioativo seja gradual. Isso é obtido, colocando-se mais
radioisótopos no topo e na base do que na região próxima ao centro. Para que seja alcançada
uma eficiência razoavelmente boa, a distância entre os carrieres e a fonte é, geralmente,
muito menor do que a distância encontrada nos irradiadores tipo “Tote” (“Product Overlap”)
(Fairband, 2002).
Dentre as principais diferenças entre um irradiador que opera no sistema “Tote” e um
que opera no sistema “Carrier”, é possível observar que o primeiro aproveita mais a radiação
emitida pela fonte, mas apresenta uma distribuição de dose mais inomogênea em relação ao
segundo sistema, considerando que os dois tipos de irradiadores apresentam os contêineres
com as mesmas dimensões e irradiam materiais de mesma densidade.
Para um melhor aproveitamento da radiação emitida, os projetos costumam ser de
várias fileiras de contêineres em torno da grade de fontes, como mostra a Figura 2.19.
Entretanto, se a densidade do material dentro dos contêineres não for uniforme, a dose
aplicada também não será uniforme. Se o produto a ser irradiado for sensível a variações de
dose (como é o caso de frutas), deve-se optar por um trajeto de apenas duas fileiras e poucas
posições.
As Figuras 2.12 e 2.20 mostram exemplos de irradiadores tipo Tote. A última figura
mostra um irradiador projetado e produzido no Brasil pelo IPEN/CNEN-SP, com
35
características inovadoras em relação aos estrangeiros (como o sistema de movimentação dos
contêineres estar do lado externo e a porta giratória permitir que ele seja compacto, pois
elimina o corredor). A Figura 2.21 mostra um irradiador tipo Carrier.
Figura 2.20: Irradiador gama de categoria IV tipo Tote, projetado e produzido no Brasil
pelo IPEN/CNEN-SP [Calvo et al., 2004].
Figura 2.21: Irradiador gama de categoria IV tipo Carrier. Devido às suas dimensões, esta
máquina irradia paletes inteiros [IAEA, 2002].
36
Há irradiadores em que o sistema de transporte para levar e trazer os contêineres da
sala de irradiação é manual; assim, o mecanismo de movimentação em torno da fonte pode
ser automático ou manual. Esse tipo é conhecido como de lote ou de batch, adequado para a
produção em pequena escala. Durante a operação de posicionamento dos contêineres na sala
de irradiação, a grade de fontes permanece recolhida no fundo do tanque [IAEA, 2004;
MaClaughlin et al., 1989]. As Figuras 2.22 e 2.23 mostram exemplos desse tipo de irradiador.
37
Figura 2.23: Irradiador gama de categoria IV tipo Carrier, operando no modo de batch ou
de lote. O transporte dos contêineres entre os armazéns e a sala de irradiação
é feito manualmente [IAEA, 2004].
38
Figura 2.24 Distribuição de dose em função da espessura em um produto dentro de
um contêiner cujos dois lados foram expostos a uma fonte de cobalto-60.
A curva “a” representa a distribuição de dose quando um lado do
contêiner é exposto (fonte na posição “a”) e a curva “b” quando o outro
lado é exposto (fonte na posição “b”). A dose total, devido à exposição
dos dois lados, é mostrada pela curva “a+b”. Notar que esta última curva
apresenta uma distribuição de dose mais uniforme do que as devidas à
exposição de um único lado (“a” ou “b”) [IAEA, 2002 e 2004].
39
Envolvendo a sala de irradiação, há uma blindagem para a radiação, também chamada
blindagem biológica ou simplesmente blindagem. Ela deve ser projetada para que o nível de
radiação na sua superfície externa, considerando a grade de fontes carregada em sua atividade
máxima (a licenciada perante a CNEN), esteja em conformidade com níveis de segurança
para os trabalhadores (em geral, no mesmo nível ou abaixo da radiação de fundo local). Se
for utilizado concreto comum, uma espessura entre 1,5 a 2 m propiciará uma blindagem
adequada para uma fonte de cobalto-60. No caso de a fonte ser de césio-137, essa espessura
pode ser reduzida de meio metro. A parede de concreto é construída com um corredor,
chamado labirinto, que permite a movimentação de produtos e pessoas e a absorção da
radiação espalhada, reduzindo significativamente o nível de radiação que alcança a parte
externa. A porta de acesso ao irradiador possui vários dispositivos de intertravamento, que
tornam impossível a entrada quando a fonte estiver na posição de exposição [IAEA, 2004;
MaClaughlin et al., 1989].
Em alguns modelos, a entrada do contêiner de transporte de fontes é feita pelo
labirinto. Mas na grande maioria dos casos, é feita por uma abertura no teto do irradiador,
como pode ser visto nas Figuras 2.12, 2.22 e 2.23. Quando não está ocorrendo uma carga ou
retirada de fontes, essa abertura é bloqueada com tampas de concreto [IAEA, 1996b].
Observação: é necessário um guincho que suporte várias toneladas para remover as
tampas de concreto, assim como para descer e retirar o contêiner de transporte de fontes do
fundo do tanque (ver capítulo 7, item 7.3).
2.2 Aceleradores
São equipamentos que aceleram elétrons dentro de um sistema de vácuo. O feixe de
elétrons é utilizado para irradiar os produtos diretamente ou para produzir raios X (pelo
direcionamento do feixe em um alvo de alto número atômico), que irradiarão os produtos. A
energia dos feixes deve ser limitada a 10 MeV no caso de feixe de elétrons, e 5 Mev para
raios X, para evitar a ativação dos materiais [IAEA, 2010]. Nesses equipamentos a fonte de
radiação pode ser desligada, o que não acontece com os que utilizam radiação gama.
A grande desvantagem dos irradiadores com feixe de elétrons é a baixa penetração, no
máximo 3,8 cm por passada pelo feixe para a água (densidade de 1g/cm3). Virando o material
e passando-o novamente, essa espessura aumenta para um pouco mais do dobro desse valor
[Miller, 2010], o que os inviabiliza para várias aplicações em que os materiais não podem ser
desmembrados, para pacotes de menor espessura. Mas caso isso seja possível, são imbatíveis
40
na rapidez do processamento, porque fornecem uma taxa de dose bem superior a dos
irradiadores gama. Por exemplo, na irradiação de grão se dá preferência a esse tipo de
máquina. Na reticulação (‘croslink’) de polímeros, processo que os deixa mais rígidos e
resistentes e, por isso, apresenta várias aplicações industriais, eles são a única opção viável
em termos de irradiação, pois esse processo exige taxas de dose altas.
A utilização de raios X, à primeira vista, parece ser a máquina ideal para a irradiação
de materiais, pois produz radiação com as mesmas características da gama sem necessitar de
material radioativo. Infelizmente, o que ocorre é que, nas melhores condições, a conversão de
um feixe de elétrons de 5 MeV em raios X é da ordem de 8%. Se a energia do feixe for
aumentada para 7,5 Mev, por vários estudos mostrarem que o nível de ativação é
insignificante, a conversão não vai além de 12 %, o restante é transformado em calor [IAEA,
2002; Miller, 2010]. Isso torna a operação com raios X muito cara e inviável
economicamente para a maioria das aplicações.
41
Figura 2.26 Acelerador de elétrons de categoria I utilizado para o tratamento da
superfície de filmes plásticos em uma etapa anterior à metalização. O
acelerador é a peça cilíndrica no topo da Figura [Mclaughlin et al., 1989].
42
Figura 2.27 Acelerador de elétrons de categoria II. A esteira leva os produtos para
serem irradiados sob o feixe de elétrons vindos da corneta (scan horn).
Caso seja necessária uma maior homogeneidade de dose, o material é
virado na saída e enviado para uma segunda irradiação [IAEA, 1992 e
2010].
Aceleradores de elétrons
43
A Figura 2.29 mostra um exemplo da distribuição de dose em um simulador com
densidade igual à da água nesse tipo de irradiador. O simulador foi irradiado duas vezes, uma
face de cada vez. Pode-se notar que a distribuição máxima de dose está dentro de um alcance
de cerca de 7 cm (cerca de 3,5 cm para cada face irradiada).
Figura 2.30 Acelerador de elétrons com conversor de raios X [Diehl, 1995]. Notar a técnica
de varredura aplicada ao feixe.
44
A
45
3. Segurança
Algo extremamente importante que eu aprendi com os mais experientes é que:
Se o projeto da instalação não for elaborado de forma adequada, não haverá serviço de
radioproteção que consiga consertá-lo.
Mas o que é um projeto adequado? É aquele em que todos do setor se veem e podem ser
vistos; desse modo, casos de desvio de conduta serão inibidos ou poderão ser detectados e
corrigidos antes de atingirem maiores proporções. E, nas situações de emergência, a mobilização do
setor será mais ágil.
A Figura 3.1 mostra um exemplo de disposição das áreas de uma empresa ou setor de
irradiação de materiais. Pelas janelas da área administrativa, onde estará localizada a sala do serviço
de radioproteção e que é mais conveniente estar em um segundo andar, é possível acompanhar toda
a movimentação do setor, o que inclui o painel de controle, os operadores e o pessoal auxiliar que
circula pelas imediações. Uma variação dessa disposição é a área administrativa estar sobre as baias
de carga e descarga de materiais.
Alguém pode sugerir que nos dias de hoje, a disposição das áreas não importa, pois há a
opção de instalar um conjunto de câmeras e de monitores que tornarão possível a observação de
todas as partes da empresa, não importando como elas estão distribuídas. Isso é uma meia verdade,
pois, do ponto de vista psicológico, é mais agradável olhar por uma janela do que para um monitor,
não importa quão maior ou mais definido ele seja. Essa técnica deve ser aplicada como um meio de
minorar projetos que não levaram em conta o princípio: todos devem se ver e ser vistos.
Observando a Figura 3.1, é possível também notar a organização da produção. A principal
característica é a segregação entre o material não irradiado e o irradiado em todas as etapas do
processo: recebimento, armazenamento, entrada no irradiador, saída do irradiador, armazenamento
após o processamento e expedição. Essa segregação é necessária, devido ao fato de ser impossível a
olho nu diferenciar se o material em si foi irradiado ou não.
Esse modo de organização segue a norma: ISO 11137 Sterilization of care products -
requeriments for validation and routine control - radiation sterilization, 1995, que é uma norma
voltada à esterilização de material médico, mas que, no aspecto de organização da produção, pode e
deve ser aplicada à irradiação de qualquer material.
47
Estacionamento e pátio de
manobras para caminhões
Administração
Estacionamento
Portaria
Saída e entrada
de veículos
Figura 3.1: Exemplo de disposição das áreas de uma empresa ou setor de irradiação de
materiais, que contempla o princípio: todos devem se ver e ser vistos
(baseada em Kotler, 2002 e na empresa Tech Ion Industrial Brasil S.A –
Manaus, AM). Uma variação dessa planta é a área administrativa estar
sobre as baias de carga e descarga de materiais.
3.1 Responsabilidades
A segurança da instalação é responsabilidade dos titulares e dos empregadores, que pode ser
delegada a supervisores de radioproteção, mas isso não os exime dessa responsabilidade [CNEN,
2011, p.9]. Portanto a direção deve realizar auditorias regulares, para se certificar de que as medidas
de segurança adotadas estão sendo seguidas [IAEA, 2010, p.18]. Essas medidas constam do plano
48
de radioproteção da instalação; isso significa que os responsáveis pela segurança devem se certificar
de que esse plano esteja sendo seguido.
Antes de começar a operar, o irradiador deve possuir um plano de radioproteção aprovado
pela CNEN. Esse plano, cujo roteiro mínimo pode ser encontrado na NN 3.01 [CNEN, 2011, p. 11],
deve contemplar as normas de segurança cabíveis emitidas pela CNEN e pela SSG-8, emitida pela
IAEA [IAEA, 2010]. Com o passar do tempo, a segurança evolui e, por necessidade própria ou por
exigência da CNEN ou por recomendação do fabricante, novos equipamentos e/ou instruções serão
necessários e eles deverão ser incorporados ao plano de radioproteção.
Outro ponto importante: a administração da instalação deve assegurar que todos os
documentos fornecidos pelo fabricante do equipamento com informações relevantes para a
segurança (manuais de operação, regras e procedimentos de operação e procedimentos de
emergência) sejam traduzidos em linguagem compreensível para os trabalhadores [IAEA, 2010, p.
12].
Os titulares e empregadores são sempre os responsáveis pela segurança da instalação, mas a
sua manutenção é obrigação de todos.
49
Um exemplo do conceito de defesa em profundidade utilizado na elaboração do projeto é
mostrado a seguir. Uma série de níveis (ou estágios) de defesa, em termos de equipamentos e
procedimentos, é aplicada, com o objetivo de prevenir acidentes ou minimizar as suas
consequências, caso as medidas preventivas venham a falhar:
1o Nível – objetivo: prevenir desvios da operação normal, o que envolve o projeto da
instalação, a construção (programa de qualidade para esta fase) e espaços livres para manutenções;
2o Nível – objetivo: detectar e responder a desvios das condições normais da operação, para
prevenir antecipadamente eventos cuja evolução pode acabar em um acidente;
3o Nível – objetivo: atenuar as consequências de um acidente.
Um irradiador somente deve ser operado se todos os níveis forem aplicados. Para atingir
esses níveis, os sistemas de segurança devem ser planejados para serem redundantes, diversos e
independentes [IAEA, 1992]:
• Redundância: usar mais do que o número mínimo de itens necessários para cumprir determinada
tarefa.
• Diversidade: é aplicada aos sistemas redundantes, possuem a mesma função, mas tem princípios
de funcionamento diferentes ou são de fabricantes diferentes ou estão submetidos a diferentes
condições de operação.
• Independência: separação física e funcional entre os sistemas de segurança:
i. Independência entre os sistemas redundantes.
ii. Independência entre componentes e equipamentos do sistema projetados para
minimizar o efeito de incidentes, por exemplo: um incidente não deve causar a falha
ou a perda de um sistema de segurança ou função de segurança que é exigida para
minimizar os efeitos de tal evento.
iii. Independência apropriada dos sistemas ou componentes de importâncias diferentes
para a segurança.
iv. Independência entre itens importantes para a segurança e aqueles que não estão
relacionados com a segurança.
A publicação da IAEA intitulada Radiation safety of gamma, electron and X ray irradiation
facilities, Specific Safety Guide No. 8 ou SSG-8 [IAEA, 2010], como também é conhecida, já
incorpora o conceito de defesa em profundidade.
50
3.3 Sistema de segurança pela SSG-8
A Figura 3.2 mostra alguns dos muitos sistemas de segurança de um irradiador de categoria
IV, neste caso específico, um fabricado pela MDS Nordion (Canadá) e a Tabela 3.1 fornece uma
tradução deles para o português com alguns comentários, quando necessário. Dependendo do
modelo e do fabricante o número e o tipo desses sistemas podem variar, mas, em geral, eles
seguirão, no mínimo, os descritos na SSG-8. Em geral, porque as publicações da IAEA são linhas
guias, referências, ou seja, nenhum país é obrigado a segui-las, mas como elas são feitas
envolvendo uma ampla participação dos países membros (o que inclui o Brasil) e versões
preliminares são submetidas a avaliações durante um longo tempo, elas costumam ser adotadas ipsis
litteris pelos órgãos reguladores dos países. Portanto, a descrição dos sistemas de segurança terá
como base a SSG-8 [IAEA, 2010, p. 39], o que implica a manutenção do nome em inglês e de sua
numeração original. Uma tradução livre com comentários também será fornecida. Recomendo a
leitura da SSG-8 na íntegra, pois ela traz informações complementares importantes à função de um
supervisor de radioproteção. Pode-se dizer, sem exageros, que é a Bíblia internacional da área de
segurança dos irradiadores.
Figura 3.2: Sistemas de segurança de um irradiador de categoria IV fabricado pela MDS Nordion
51
Tabela 3.1: Tradução dos nomes dos sistemas de segurança mostrados na Figura 3.2 com alguns
comentários, quando necessário.
Biological shield Blindagem. Atenua os níveis de radiação do lado de fora para níveis
abaixo da radiação de fundo local.
Cable tesion devices Aparato para manter os cabos guias tensionados. A grade de fontes é
puxada por um cabo central, para que ela não gire sobre o próprio eixo.
Há dois cabos guias, um em cada lado, para impedir esse movimento.
Para o correto funcionamento, esses cabos guias devem ser mantidos
tensionados (o aparato nada mais é do que uma série de arruelas de
pressão empilhadas ou uma mola).
Source hoist Guincho. Responsável por elevar a grade de fontes da sua posição de
mechanism repouso para a de exposição. Funciona com ar comprimido.
Source up switch Guincho da fonte e switch de fonte em cima. Quando a fonte chega à
posição de exposição, ela empurra uma barra que aciona um switch, que
envia um sinal ao painel de controle.
Personnel maze & Labirinto. Atenua a radiação por espalhamento.
Area radiation monitor Monitor de radiação de área de saída de contêineres. Se houver a detecção
de radiação, significa que material radioativo proveniente da grade de
fontes caiu dentro de um dos contêineres. Nesse caso, o sistema de
transporte será parado, a fonte irá para a sua posição de repouso e soará
um alarme de evacuação de área.
Personnel access door Porta do labirinto interligada com o monitor de radiação interna (L118 é
(maze) interlocked uma denominação técnica somente utilizada pela MDS Nordion). Essa
eletronically with L118 porta somente pode ser aberta por uma chave, que é a mesma utilizada
reader para ligar o guincho da fonte por meio do painel de controle. Ela somente
pode ser retirada do painel na posição desliga. Há somente uma em
operação e ela está conectada por meio de uma corrente a um monitor de
radiação portátil calibrado. Mas para abrir a porta, não basta a chave, é
necessário que o monitor de radiação interna não acuse a presença de
radiação com a grade de fontes supostamente no fundo do tanque. Ele é
ligado automaticamente, quando a grade chega à sua posição de repouso
(o monitor está do lado de fora ao lado da porta e o seu sensor próximo à
sala de irradiação) e só libera a porta para abertura com a chave após o
seu botão de checagem de funcionamento normal ter sido testado pelo
operador.
Control console Painel de controle. Nele se pode visualizar a posição da grade de fontes, a
movimentação dos contêineres, os sinais de alerta e de falha. Pode-se
ordenar o recolhimento da grade e o acionamento do irradiador, entre
outras funções.
Product separation Cerca para separação de produtos. Os produtos a serem irradiados entram
fence por um lado da cerca e saem processados pelo outro. Isto, além de
etiquetas indicativas, evita a mistura dos dois materiais.
Source hoist safety Válvula do guincho. Ao passar pela porta, o operador encontrará um
valve assembly obstáculo físico, que precisará mover para continuar o seu caminho até a
sala de irradiação. Esse obstáculo físico é uma cancela ou uma corrente
(nos modelos mais antigos). Ao movê-lo, ocorrerá o fechamento da
válvula que leva ar comprimido para o guincho. Desse modo, mesmo que
haja um sinal elétrico permitindo o seu acionamento, ele não erguerá a
52
grade de fontes por falta de ar comprimido.
Deionizer & Sistema de deionização de água. Os íons criados pela radiação nos sais
minerais presentes na água precisam ser continuamente removidos, para
que eles não ataquem a estrutura da grade de fontes e as próprias fontes.
Area radiation Monitor de radiação de área do sistema de deionização. Se houver a
monitors detecção de radiação, significa que houve vazamento de material
radioativo proveniente das fontes e ele foi sugado pelo sistema de
recirculação da água e ficou preso no sistema de deionização. Nesse caso,
o sistema de recirculação de água será parado, a grade de fontes irá para a
sua posição de repouso e soará um alarme de evacuação de área.
Source storage pool Tanque ou piscina. É preenchido com água, aloja a grade de fontes na sua
posição de repouso e a sua profundidade permite a atenuação da radiação
em sua superfície a níveis abaixo da radiação de fundo local.
Source rack Grade de fontes. Os lápis de cobalto-60 são alojados em módulos, que por
sua vez, são alojados em uma grade. Na Figura, ela é mostrada na sua
posição de repouso (no fundo do tanque).
Exhaust air ducts Dutos de exaustão de ar. Por causa da formação de ozônio (O3) e óxidos
de nitrogênio (NxOx) pela radiação, o ar da sala de irradiação precisa ser
continuamente removido.
Radiation room Sistema de exaustão de ar da sala de irradiação. Na parte mais larga, estão
ventilation system & os filtros absolutos do sistema. No topo das chaminés, que saem dessas
partes mais largas, estão as bombas elétricas responsáveis pela exaustão
de ar.
Área radiation Monitor de radiação de área do sistema de exaustão de ar. Se houver a
monitors detecção de radiação, significa que houve vazamento de material
radioativo proveniente das fontes e ele foi sugado pelo sistema de
exaustão de ar, ficou preso nos filtros desse sistema. Nesse caso, o
sistema de exaustão de ar será parado, a fonte irá para a sua posição de
repouso e soará um alarme de evacuação de área.
Air compressor Compressor de ar. Responsável pela manutenção do suprimento de ar dos
guinchos.
Pool water chiller Sistema de resfriamento da água. Para atividades muito altas, a
temperatura da água sobe a níveis que tornam a evaporação dela
significativa, o que acarreta o umedecimento da estrutura de transporte de
contêineres em torno da fonte, podendo ser a semente de futuros
problemas elétricos e mecânicos.
Pool water skimmer Peneira. Sistema para remoção de sujeira macroscópica, o que aumenta o
tempo de vida útil das resinas do sistema de deionização.
Safety key switch Partida interna do irradiador. Primeiro passo para início ou reinício de
operação. Está localizada no final da sala de irradiação, o que obriga o
operador a inspecionar toda a parte interna do irradiador antes de acioná-
la e sair.
L-118 probe Sensores do monitor de radiação interna. Ficam próximos à sala de
irradiação, recebendo radiação espalhada, o que evita a saturação e
aumenta a vida útil (L118 é uma denominação técnica somente utilizada
pela MDS Nordion).
Emergency stop cable Cabo de parada de emergência. Percorre boa parte da sala de irradiação e
todo o labirinto. Estando o operador dentro do irradiador e for detectada
alguma anormalidade, ele deve imediatamente puxar esse cabo. Isso
parará todo o sistema de transporte de contêineres e cortará a energia
53
elétrica que alimenta a válvula elétrica do guincho, expurgando o ar que
possa existir dentro dele e impedindo a entrada do ar comprimido.
Entrada no irradiador e sistemas de segurança interligados (Access to the radiation source and
safety interlock systems)
8.10. O projeto dos irradiadores deve ser feito de modo que a entrada neles é bloqueada, enquanto a
grade de fontes estiver na posição de exposição (ou o feixe de elétrons estiver ligado). Tal controle
de entrada se baseia na utilização de sistemas de segurança interligados.
8.11. O procedimento de entrada no irradiador após uma irradiação, o de preparativos para o início
de uma irradiação e o de iniciar a irradiação devem incorporar uma série de sistemas de segurança
interligados. Eles devem ser projetados, de modo a serem acionados em uma ordem específica;
assim, se não forem acionados nessa ordem, o procedimento não surtirá efeito.
8.12. A seguir, exemplos de como esse conceito é aplicado:
Sequência do procedimento de entrada no irradiador:
• No painel de controle, desligar a máquina e retirar a chave (que está presa ao monitor portátil) do
painel.
54
• Prestar atenção nos sinais (sonoro e visual) que indicam que a grade de fontes está se
movimentando.
• Observar se o sinal de grade de fontes na posição de repouso acende no painel (os sinais de
movimentação devem cessar).
• Ligar o monitor de bolso com alarme, verificar se a bateria não está descarregada e colocá-lo no
bolso ou na cintura.
• Verificar o nível de radiação interno por meio do monitor de radiação interna
• Testar o funcionamento do monitor de radiação interna.
• Verificar se a bateria do monitor portátil (ver Figura 3.4, Quadro 2) está carregada.
• Selecionar a escala mais sensível do monitor e testá-lo na fonte de baixa atividade localizada na
fechadura da porta.
• Esperar o indicativo de ozônio se apagar e abrir a porta de acesso com a chave (que está presa ao
monitor).
• Mover o obstáculo físico que ocasiona o fechamento da válvula de ar do guincho (abrir a
cancela, Figura 3.3, ou retirar a corrente, Figura 3.4: Quadros 6 e 7) e entrar prestando atenção na
leitura do monitor.
O monitor portátil acompanha o operador durante todo o tempo em que ele estiver dentro do
irradiador e ele é sempre o primeiro a entrar e o último a sair.
Figura 3.3: Obstáculo físico de fechamento da válvula de ar do guincho localizado após a porta
do labirinto, neste caso, uma cancela (MDS Nordion Safety Retrofit Systems
Catalogue):
Source interlock gate: Cancela interligada com a válvula de ar
Source interlock valve: Válvula de ar do guincho.
Source pressure switch: Sensor de pressão de ar.
55
A Figura 3.4 mostra a sequência ilustrada do procedimento de entrada no irradiador. Embora ela
tenha sido elaborada há muitos anos e necessite de certas correções, feitas na legenda da Figura 3.4,
ela ajuda a visualizar esse importante procedimento.
Figura 3.4: Procedimento de entrada ilustrado por uma página de manual da AECL, nome
anterior da MDS Nordion. Algumas correções: Quadro 2: A chave atualmente só sai
na posição “OFF” (que não implica mais o desligamento do painel); Quadro 4: além
de ouvir o som, o operador deve observar se o mostrador do monitor está
funcionando; Quadro 7: Entrar olhando para o monitor e não de olhos fechados.
56
O ser humano não é dotado de órgãos para sentir ou ver a radiação, o que o leva a perder o
medo de lidar com material radioativo. ISTO É UM GRANDE PERIGO. A radiação existe e,
apesar de não podermos senti-la, podemos detectá-la por meio dos nossos equipamentos (e somente
por meio deles).
Se esse procedimento não for seguido na íntegra ou algum dos equipamentos que o
compõem não estiver funcionando adequadamente, a probabilidade de o operador ser irradiado em
uma de suas entradas na máquina aumenta consideravelmente. Por esse motivo, esse procedimento
é certamente o mais crítico no trabalho de um operador em termos de radioproteção, motivo pelo
qual é composto por tantas verificações e procedimentos, que devem ser obrigatoriamente
realizados a cada entrada, pois garantem que a grade de fontes esteja na posição de repouso, que
continuará nessa posição e que não há níveis de radiação acima do predeterminado na sala de
irradiação (na eventualidade de o material radioativo se soltar da grade e não ir para a posição de
repouso). Uma exposição de alguns segundos a uma fonte com algumas dezenas de PBq (centenas
de kCi) é o suficiente para ser letal (mas não instantaneamente).
O procedimento de entrada e saída do irradiador só pode ser executado autonomamente por
funcionários treinados e autorizados pelo supervisor de radioproteção responsável pelo irradiador,
que costuma receber o nome de operador. Todas as funções desempenhadas pelo operador podem
ser desempenhadas pelo supervisor de radioproteção, mas o operador não tem autonomia para
autorizar funcionários sem treinamento em radioproteção ou pessoas estranhas à empresa (por
exemplo: visitas) a adentrar áreas supervisionadas e controladas. Isso é atribuição exclusiva do
supervisor de radioproteção.
57
• Recolocar o obstáculo físico (fechar a cancela ou puxar e prender a corrente) de fechamento da
válvula de ar do guincho.
• Fechar a porta.
• Acionar a partida no painel com a chave (que está presa ao monitor)
• Prestar atenção nos sinais (sonoro e visual) que indicam que a fonte está se movimentando.
• Observar se o sinal de fonte em cima acende no painel.
Após acionar a partida interna, o operador terá um tempo (cerca de um minuto) para realizar toda a
sequência de saída do irradiador. Se a máquina não for ligada dentro desse período, a sequência será
interrompida e o operador terá que executar todo o procedimento novamente.
Observação: se o operador for sair do irradiador, mas não for ligá-lo, ele também deve percorrer
todo o labirinto para se assegurar de que ninguém seja esquecido e fechar a porta, pois a
permanência de outros funcionários dentro da máquina só é permitida quando acompanhados por
um operador.
Detector do estado da porta do labirinto (Safety interlock for the personell Access door)
8.13. Ao fechar a porta do labirinto, ela será automaticamente trancada. Para abri-la novamente,
será necessário executar o procedimento de entrada (por questões de segurança, é possível abri-la
por dentro, por meio de uma barra antipânico). Quando ela é fechada, a sua parte superior aciona
um detector (em geral, um microswitch), que envia ao painel de controle o estado da porta (aberta
ou fechada). Se durante uma irradiação ela se abrir por problemas técnicos ou for arrombada ou o
detector quebrar, o processamento será interrompido e a grade de fontes retornará imediatamente
para a sua posição de repouso (ou o feixe de elétrons será desligado).
58
da irradiação (grade de fontes retorna para a posição de repouso ou feixe de elétrons é desligado) e a
ativação de alarmes sonoros e visuais, com o objetivo de avisar o operador da intrusão e ao intruso
que há risco no caminho que ele pretende percorrer.
Sistema de segurança para as portas de entrada e saída de contêineres (Safety interlocks for product
entry and exit ports)
8.15. As portas de entrada e saída de contêineres devem se dotadas de sistemas que previnam
entradas inadvertidas de pessoas nas áreas de alta dose de radiação. Métodos para cumprir esse
objetivo baseados no bloqueio físico à passagem humana incluem: a utilização de portões ou portas
que somente abrem para permitir a passagem dos produtos e, após a passagem, fecham
imediatamente (ver Figura 3.5); manter um contêiner na entrada e um na saída, por meio de um
sistema de detectores de posição e posicionamento de contêineres. Se ocorrerem problemas técnicos
nesses sistemas, um sinal de falha aparecerá no painel, a irradiação será interrompida e alarmes
sonoros e visuais serão acionados.
Figura 3.5: Portas de entrada e saída de produtos, que somente abrem para permitir a passagem
dos produtos e, após a passagem, fecham imediatamente (MDS Nordion Safety
Retrofit Systems Catalogue).
Product tote ou Carrier: produtos em contêineres tipo tote ou Carrier.
Barrier door: Portas de bloqueio para a passagem de pessoas.
59
Controles extras de entrada não autorizada de pessoas pelas portas de entrada e saída de produtos
(Backup Access control – Product entry and exit ports)
8.16. Adicionalmente aos sistemas de bloqueio físico nas portas de entrada e saída de contêineres,
deve haver um sistema paralelo (redundante) e independente de monitoramento de entrada não
autorizada, quando a fonte estiver em exposição (ou o feixe de elétrons estiver ligado – ver item
8.14). Um exemplo utilizando fotocélulas é mostrado na Figura 3.6. São quatro fotocélulas, duas
para cada porta, as quais são ligadas quando não há contêineres.
Figura 3.6: Fotocélulas de monitoração de entrada não autorizada pelas portas de entrada e saída
de contêineres (MDS Nordion Safety Retrofit Systems Catalogue):
Product Totes: Contêineres
Photocells/ reflectors: Fotocélulas/ refletores.
Flashing beacon/ siren: Sinal sonoro e visual de aviso de intrusão.
60
a
b
Figura 3.7: a) Tampas de concreto fora da abertura no teto do irradiador gama de categoria IV,
neste caso, em número de três; b) Tampas dentro da abertura [IAEA, 2004]
A função desses sensores não está ligada à tentativa de roubo de material radioativo, visto que as
tampas, assim como o contêiner de transporte de fontes, pesam várias toneladas, necessitando de
um guindaste enorme, que dificilmente passaria despercebido. A função deles é desligar o
irradiador, caso o operador se esqueça de fazê-lo antes do início da operação de retirada das tampas.
61
Painel de controle (Control console)
c
a b
Figura 3.8: Irradiador JS 9600 fabricado pela MDS Nordion: a) Vista geral do painel de controle;
b) Detalhe onde se pode ver o monitor portátil ligado e amarrado à chave
multipropósito, que está no miolo do painel, alguns indicadores de falha e de cuidado
e o botão de parada de emergência; c) Detalhe do botão de parada de emergência do
painel de controle.
Botão de parada de emergência do painel (Emergency stop device at the control console)
8.23. Além dos outros meios normais disponíveis no painel de controle para desligar o irradiador,
deve haver um botão de parada de emergência, claramente identificado (ver Figura 3.8 c). Ao ser
acionado, provocará a imediata interrupção do processo de irradiação (grade de fontes retorna para
a posição de repouso ou o feixe de elétrons é desligado), o aparecimento de um sinal de falha no
painel e a imediata parada do sistema de movimentação de contêineres. Esse botão é
particularmente importante, caso algum funcionário, por acidente, fique preso em uma das esteiras
62
externas. Caso seja necessário ficar muito tempo dentro do irradiador, por exemplo, para uma
manutenção, deve-se pressionar esse botão, para aumentar o nível de segurança.
8.27. A partida interna deve ser integrada com o painel de controle, o que significa que ela só pode
ser acionada se não houver nenhum sinal de falha no painel e que ela deve ser realizada dentro do
tempo estipulado. Caso contrário, ela será desarmada, os alarmes serão desativados e o
procedimento terá que ser reiniciado. Detalhe: somente quando todo o procedimento de saída ou de
partida do irradiador tiver sido executado (recolocar o obstáculo físico, fechar a porta etc.) é que a
fonte começará a se mover.
63
percorra a sala de irradiação e parte do labirinto, como mostra a Figura 3.9. O acionamento desse
cabo deve causar um sinal visual ou sonoro do lado de fora do irradiador. O mais adotado é um
sinal de falha visual no painel de controle, o que permite o seu acionamento como medida adicional
de segurança, por exemplo, durante uma manutenção ou colocação de cobalto na grade de fontes.
Figura 3.9: Cabo de parada de emergência dentro de um irradiador gama de categoria IV (MDS
Nordion, Cobalt 60 IR-202 Operator`s Manual).
Emergency stop cables: cabos de parada de emergência
Pull cable switch: Switch acionado pelos cabos de parada de emergência (dentro do
irradiador, mas afastado da sala de irradiação)
64
(rodovias próximas, fábricas que utilizam materiais inflamáveis ou explosivos, queda de aeronaves
etc.) que possam afetar a integridade da blindagem. Essas avaliações devem utilizar as normas,
códigos e padrões nacionais adequados e, na falta destes, deve-se procurar na legislação
internacional (IAEA, Estados Unidos ou Europa). Em áreas comprovadamente sísmicas, a
instalação deve ter um sensor sísmico firmemente preso à blindagem e interligado com o sistema de
segurança, para que o irradiador seja desligado em caso de terremoto.
Ventilação (Ventilation)
8.34 a 8.36. A irradiação do ar produz ozônio (O3), que é instável e, após algum tempo, é revertido
para oxigênio (O2). O ozônio é oxidante e, em certas concentrações, é prejudicial à saúde, motivo
pelo qual deve ser mantido dentro dos níveis legais. Por isso um irradiador deve ser dotado de:
• Um sistema de ventilação para extrair o ar continuamente da sala de irradiação, mantendo-a
à baixa pressão, o que evita a migração do gás para áreas de trabalho. O ar retirado passa por
um sistema de filtros e por uma tubulação, que vai até o teto do irradiador, onde é expelido
(ver Figura 3.10).
• Um sistema de retardo de entrada, com o objetivo de fornecer tempo para a redução dos
níveis de ozônio a níveis seguros, pela sua extração e pela sua reversão em oxigênio.
8.37. O sistema de ventilação deve ser monitorado quanto ao seu funcionamento adequado. Se o
sistema é desligado ou apresenta uma vazão abaixo da estabelecida, um sinal de falha deve aparecer
no painel de controle, o que acarretará o retorno da grade de fontes para a posição de repouso ou o
desligamento do feixe de elétrons.
65
Figura 3.10:
Indicação da situação da irradiação (da grade de fontes) [Indication (source) status indicators]
8.42. Os indicadores de situação da irradiação devem informar:
_ Quando o irradiador NÃO está operando (grade de fontes na posição de repouso ou feixe de
elétrons desligado);
_ Quando o irradiador está operando (grade de fontes na posição de exposição ou feixe de
elétrons ligado);
_ Quando a grade de fontes está em transito ou quando o raio X ou o feixe de elétrons está
prestes a ser ligado (neste caso, o sinal visual deve vir acompanhado de um sonoro).
66
8.43. Um indicador de situação da irradiação deve ser claramente visível tanto no painel de controle
como na porta de acesso e nas de entrada e saída de produtos.
Indicação Cor
Emergência (sistemas de parada de emergência ou luzes de advertência) Vermelha
Alerta ou perigo Trifólio ou vermelha
Informação crítica; sinais de falha (mau funcionamento do irradiador) Vermelha
Cuidado (não é uma emergência, mas requer atenção para que não se Amarela ou laranja
transforme em uma)
Normal (o irradiador não está operando ou seu funcionamento não apresenta Verde
anormalidades)
Informação Azul
67
A
B
8.47. Outras informações relevantes que devem estar disponíveis e visíveis são:
_ Cópias das licenças de operação emitidas por cada um dos órgãos de fiscalização. Se não for
praticável expô-las, um aviso de onde esses documentos podem ser encontrados dentro da
instalação deve estar visível (por exemplo, todas as licenças de operação encontram-se no
arquivo da gerência).
_ Telefones ou outras formas de contato (por exemplo, rádio) com o supervisor de
radioproteção e com outros indivíduos responsáveis pelo irradiador, em caso de emergência.
68
_ Certificado ISO 2919 para as fontes;
_ Certificado de flexão (quando exigido);
_ Certificado do teste de contaminação;
_ Certificado de aprovação do material radioativo sob forma especial, se disponível;
_ Qualquer outra documentação exigida pelo órgão regulador.
Projeto interno: todo equipamento dentro da sala de irradiação (fiação, luzes, equipamento elétrico,
avisos) deve ser resistente à exposição prolongada à radiação.
Observação passada por técnicos: nunca utilizar fita de PVC na estrutura do irradiador, pois a
exposição do PVC à radiação gama libera gás cloro (Cl2), que é corrosivo para o aço inoxidável.
Quando aplicável, a grade de fontes deve possuir fechos em sua parte superior, para impedir que os
módulos (e, consequentemente, as fontes) sejam lançados, caso ela pare bruscamente na posição de
exposição. Isto pode ocorrer por causa, por exemplo, de um repentino aumento da pressão de ar do
guincho, em virtude de um defeito na válvula reguladora, que faria a grade de fontes subir em alta
velocidade. A Figura 3.12 mostra esses fechos.
Quando há a chegada de uma nova carga de material radioativo, toda a operação que envolva o
manuseio das fontes, tais como: retirada das fontes do contêiner de transporte, abertura dos fechos,
retirada dos módulos, abertura dos módulos, retirada dos simuladores, colocação das novas fontes,
rearranjo das fontes antigas, fechamento dos módulos, recolocação dos módulos na grade de fontes
e fechamento dos fechos, deve ser efetuada no fundo do tanque. O que exige ferramentas de vários
metros de comprimento, para que os técnicos responsáveis por essa operação possam executar esse
serviço da borda do tanque. Em geral, o cabo dessas ferramentas é feita de tubos de alumínio
acopláveis, com cerca de um metro cada um. DETALHE IMPORTANTE: esses tubos devem
possuir furos para permitir a entrada de água; caso contrário, a ferramenta transformar-se-ia em um
duto de fuga para a radiação, se apontado para a grade de fontes.
69
Figura 3.12: Fecho na parte superior da grade de fontes para impedir o lançamento dos módulos,
no caso de uma parada brusca dela, ao chegar à posição de exposição (MDS
Nordion Safety Retrofit Systems Catalogue).
Source rack: Grade de fontes
Source module: Módulo de acomodação das fontes
Source module latch: Fecho para os módulos (na posição fechada)
70
a b c
Figura 3.13: Sistemas para evitar o contato da grade de fontes com os contêineres: a) Shroud
(irradiador gama de categoria IV do IPEN/CNEN-SP); b) Sistema de barras guias
de um irradiador tipo Tote e c) de um Carrier.
8.59. Deve haver um mecanismo para prevenir a passagem na fileira mais próxima da fonte de
contêineres cujos produtos não estejam acondicionados de forma correta dentro deles; em outras
palavras, estejam sobrando pelas laterais do contêiner. Em alguns modelos de irradiadores tipo
carrier, os contêineres são dotados de portas (para evitar que os produtos caiam durante o
percurso), as quais, por acidente, podem se abrir durante o trajeto em torno da grade de fontes.
Desse modo, existe a possibilidade de o shroud ser prensado e prender a grade e/ou danificar as
fontes. Para evitar esse tipo de dano, deve-se colocar um sistema de detecção de contêineres fora do
padrão, nas fileiras imediatamente vizinhas à grade de fontes. Veja um exemplo de mecanismo
desse tipo na Figura 3.14 (Carrier collision sensors). Se um contêiner fora do padrão for detectado,
o sistema de transporte de contêineres deve parar imediatamente, a grade de fontes deve voltar para
a posição de repouso e gerar um sinal de falha no painel de controle.
71
consiste em uma bomba que retira água do tanque e a dispersa sobre a grade de fontes. Para impedir
o acionamento acidental desse sistema, o encanamento que vai até o dispersor passa por fora da
blindagem, onde há uma válvula que permanece fechada e é aberta manualmente no caso de
constatação de perigo de incêndio pelos sinais mostrados no painel (fonte fora da posição de
repouso, excedido o tempo de trânsito da grade de fontes, alta temperatura e fumaça).
72
Aberturas para acesso de emergência (Emergency acess ports)
8.62. Caso a grade de fontes fique presa em uma posição de exposição, deve ser possível acessá-la
por aberturas no teto do irradiador alinhadas a ela. Obviamente, esse acesso não será feito de forma
direta. As referidas aberturas servirão para descer câmaras de vídeo, com o objetivo de verificar o
que a está prendendo, e para enfiar ferramentas compridas, com o objetivo de desprendê-la. Essas
aberturas não são as tampas de concreto (item 8.17). Elas são redondas e com cerca de quinze
centímetros de diâmetro e são lacradas com cilindros de concreto com a espessura da blindagem,
necessitando de um guincho de grande porte para retirá-las. O número delas variará, dependendo do
tamanho e do modelo do irradiador, mas nunca é inferior a duas. A retirada desses cilindros deve
ser autorizada e supervisionada pela CNEN e realizada por uma equipe de resgate formada por
técnicos do fabricante do irradiador e da instalação.
73
Figura 3.15: Sistema de detecção da chegada da
grade de fontes no fundo do tanque
(MDS Nordion Safety Retrofit
Systems Catalogue).
74
Acesso às fontes radioativas e sistemas de segurança interligados (Access to radioactive sources
and safety interlock systems)
Acesso ao tanque de irradiadores gama de categoria III (autoblindado com água) [Access to storage
pools in Category III (self-contained wet source storage) irradiators]
8.65. Irradiadores autoblindados com água (categoria III) devem ter uma barreira em volta do
tanque (em geral, ela envolve o irradiador inteiro), que deve permanecer trancada quando a máquina
estiver desatendida, para evitar acessos não autorizados. Somente os operadores, supervisores de
radioproteção e titulares da instalação poderão ter acesso às chaves. A barreira deve ser dotada de
um alarme de intrusão, para quando a máquina estiver desatendida.
Controles extras de entrada não autorizada de pessoas pelas portas de entrada e saída de produtos
(Backup Access control – Product entry and exit ports)
8.66. Ver itens 8.14 a 8.16
Tampas removíveis da sala de irradiação de irradiadores gama (Removable radiation room shield
plugs at gamma irradiators)
8.67. A abertura no teto sobre a sala de irradiação (descrita no item 8.17) deve ser projetada para
uma posição sobre o tanque e que não seja na direção da grade de fontes. Desse modo, se houver
um acidente e o contêiner de transporte de fontes se desprender, ele não cairá sobre a grade. O
fundo do tanque deve ser projetado para resistir a esse impacto.
Monitores de radiação fixos com alarmes em irradiadores de categoria III (autoblindado com água)
[Fixed radiation monitor with alarms at Category III (self-contained wet source storage)
irradiators]
8.68. Se esse tipo de irradiador não tiver uma blindagem envolvendo-o (como o prédio dos
irradiadores de categorias II e IV), então, ele deve ter um monitor de radiação ou a sua sonda sobre
o tanque para detectar níveis anormais de radiação. Esse monitor deve gerar um alarme sonoro e
visual, que possa ser notado da entrada da barreira que cerca o tanque (em geral, ela envolve o
irradiador inteiro).
Controles extras para descer a grade de fontes (Backup system for lowering the source rack)
8.69. No caso de ocorrer uma falha no guincho, deve haver um sistema alternativo que permita
baixar a grade de fontes. Para guinchos mecânicos, o sistema poderia ser um breque manual, que
75
permitisse controlar a velocidade de descida até o fundo do tanque. No caso de guinchos
pneumáticos (ar comprimido), eles devem ter uma segunda válvula, caso falhe a principal, para
permitir a saída do ar comprimido de forma controlada. A falha dos sistemas primários de descida
deve ser mostrada pelo painel de controle e gerar um alarme audível e visual.
Figura 3.17: a) Monitor de radiação de área com alarme e sonda externa; b) Monitor de radiação
de área fixado na porta de saída de contêineres (MDS Nordion Safety Retrofit
Systems Catalogue).
76
Irradiadores com fonte armazenada em água (Wet source storage irradiators)
8.71. Nesses tipos de irradiadores, a água desempenha a importante função de blindagem, o que
implica a importância da manutenção do seu nível. Para mantê-lo, um sistema automático deve ser
instalado. A Figura 3.18a mostra um sensor de nível para esse sistema da MDS Nordion. Esse
sensor pode ser colocado diretamente no tanque ou em um vaso comunicante do lado de fora da
blindagem, como mostra a Figura 3.18b. Todos os componentes desse sistema que ficam debaixo da
água, com exceção da boia, devem ter uma densidade igual ou superior a 1 g/cm3. Se for usado um
tubo oco para a fixação do sistema, ele deve ter aberturas para permitir a entrada de água e, desse
modo, evitar o risco de produzir um feixe de radiação colimado.
b
a
Figura 3.18: a) Sensor do nível de água do tanque (MDS Nordion Safety Retrofit Systems
Catalogue):
High water level: Nível de água acima do normal
Normal operating water level: Nível de água normal
Start make-up water flow: Nível de reposição de água
Low water alarm: Alarme de nível de água baixo e disparo do alarme
Float: boia
Collar: Limitador de final de curso
Reed switch: switch em forma de vareta (sensor magnético que detecta a posição da
boia de metal)
b) Sensor em um vaso comunicante com o tanque do lado de fora da blindagem no
irradiador gama do IPEN/CNEN-SP
77
8.72. Apesar de todo cuidado com a limpeza das instalações, inevitavelmente o fundo do tanque de
armazenamento da grade de fontes ficará sujo. Como a sujeira pode ser uma fonte de material
ionizado pela radiação que pode atacar a fonte, essa sujeira deve ser removida de tempos em
tempos.
8.73 e 8.74. Para a retirada de sujeiras sólidas e relativamente grandes, são utilizadas ferramentas de
alguns metros de comprimento (ver as últimas linhas do último parágrafo do item em bloco: 8.48 a
8.57). Durante a remoção a sujeira deve ser monitorada. Para remover a sujeira mais fina utiliza-se
um sistema de sucção, como uma bomba de água de pequena potência. A entrada da bomba é
conectada a uma mangueira pré-enchida com a água do próprio tanque. A extremidade livre da
mangueira é amarrada a uma ferramenta e guiada até o fundo. A saída da bomba é conectada a um
filtro e a saída do filtro é conectada a outra mangueira que devolve a água para o tanque. Desse
modo evita-se perda de água, que, por acidente, poderia baixar muito o nível e comprometer a
blindagem. Durante a operação, o filtro deve ser constantemente monitorado e, se houver qualquer
indício de radiação, a operação deve ser imediatamente interrompida. O filtro só poderá ser
descartado após uma cuidadosa monitoração que indique a ausência de material radioativo
proveniente da fonte.
Monitor de radiação do sistema de tratamento da água (Radiation monitor of the water treatment
system)
8.75. Um monitor de radiação de área deve ser colocado no sistema de tratamento de água, para
detectar uma contaminação radioativa na água, originada de um eventual vazamento da fonte, que
ficaria retida nos filtros. Ele pode ser fixado, por exemplo, na coluna de deionização (ver Figura
3.19) ou no filtro de partículas.
8.76. Esse monitor deve estar interligado ao sistema de segurança; consequentemente, se um nível
de radiação acima do predeterminado for detectado, o sistema de recirculação de água deve parar
imediatamente, a grade de fontes deve retornar para a posição de repouso e um alarme sonoro e
visual deve ser acionado. Essa situação requer a evacuação do setor em direção ao ponto de
encontro; O operador (que deve evacuar, levando o monitor portátil) deve comunicar o fato ao
supervisor de radioproteção, que, seguindo o procedimento específico para essa situação, deverá
verificar se o alarme foi real ou falso (devido, por exemplo, a um mau funcionamento desse
monitor).
78
Figura 3.19: Monitor de radiação de área com alarme e
sonda externa na coluna de deionização do
sistema de tratamento de água do tanque
(MDS Nordion Safety Retrofit Systems
Catalogue).
8.78. Não deve haver aberturas (tais como tubos ou furos tampados) no fundo do tanque. Qualquer
abertura não deve estar a mais do que 30 cm abaixo do nível normal de água.
Controle do nível de água – nível normal (Water level control — Level normal)
8.80. Deve existir um sistema de reposição de água do tanque, principalmente por causa da perda
por evaporação, para manter um nível seguro de blindagem da radiação proveniente da grade de
79
fontes em sua posição de repouso. Antes de a água de reposição entrar no tanque, ela deve passar
pelo sistema de tratamento de água (sistema de desmineralização). Quando o nível chegar ao
normal, a entrada de água deve ser interrompida (ver item 8.71).
8.81. Um hidrômetro deve ser instalado para medir a quantidade de água reposta e um registro
dessas entradas deve ser mantido, o que permite calcular a quantidade média reposta. Um desvio
dessa média pode significar um vazamento do tanque.
8.82. Deve-se evitar que a água do tanque migre para o sistema de abastecimento de água da cidade
(rios, lençóis freáticos etc.), em caso de vazamento ou de transbordamento.
Controle do nível de água anormal – nível baixo (Water level control abnormal — Level low)
8.83. Se o nível da água descer a um ponto que comprometa a blindagem, por volta de 30 cm abaixo
do nível normal (ver item 8.71 e 8.80), um alarme sonoro e visual deve ser ativado e a porta do
labirinto permanecerá trancada até o restabelecimento do nível normal de água.
Controle do nível de água anormal – nível alto (Water level control abnormal — Level high)
8.84. Se o nível de água subir acima do nível normal (ver item 8.71), um alarme sonoro e visual
deve ser ativado. A manutenção deve investigar as causas do problema e tomar as ações necessárias
para evitar o transbordamento.
8.86. Deve-se ter grande cuidado para evitar a introdução de contaminantes no sistema de
tratamento de água (por exemplo: regenerantes das resinas do deionizador, materiais de limpeza,
materiais de combate a incêndio, derramamento de produto em irradiação). Os fabricantes de fontes
80
seladas estabeleceram recomendações para níveis aceitáveis e frequência de testes para os
indicadores de qualidade da água, tais como: condutividade, pH e concentrações de cloreto.
8.87. Todos os filtros e resinas no sistema de tratamento de água devem ser testados quanto à
contaminação radioativa antes de serem removidos ou sofrerem retrolavagem ou regeneração do
sistema. Os fluidos resultantes da retrolavagem ou da regeneração somente devem ser descartados
se o nível de contaminação estiver abaixo dos limites autorizados estabelecidos pela entidade
reguladora local (no caso do Brasil, a CNEN).
Tubulações no tanque
8.89. Como há tubos dentro do tanque [para o sistema de incêndio (8.60), entrada e saída de água] e
eles estão cheios de água, se houver uma quebra no prolongamento de um desses canos abaixo do
nível do tanque, ele poderá atuar como um sifão, retirando a água e comprometendo a blindagem
que ela fornece. Por isso, tais tubos devem ser dotados de válvulas bloqueadoras de sifonagem
(siphon breakers). Com relação ao sistema de recirculação de água, a boca do tubo responsável pela
sucção da água do tanque não deve estar mais do que 30 cm abaixo do nível normal.
81
Proteção contra o fogo (Fire protection)
8.91. Um sistema de combate ao fogo deve ser instalado dentro da sala de irradiação. O controle
para a ativação do sistema deve estar localizado do lado de fora do irradiador (ver item 8.60).
8.92. Salas de irradiação equipadas com sprinklers devem ter uma válvula de fechamento desse
sistema do lado de fora do irradiador, com o objetivo de evitar o transbordamento do tanque e o
consequente espalhamento da água para as áreas vizinhas. A seleção do sistema de sprinklers deve
levar em conta: a máxima temperatura do teto da sala de irradiação durante as operações de rotina
(evitar acionamentos indevidos), assim como os efeitos da longa exposição à radiação e ao ozônio.
8.93. A sala de irradiação deve ser equipada com detectores de fumaça e de calor. Se um desses
dispositivos for acionado, a fonte deve imediatamente descer para a sua posição de repouso; o
sistema de transporte de contêineres deve parar; o sistema de ventilação, para a retirada de ozônio,
deve ser desligado (motivo: interromper o fluxo de ar das aberturas para o sistema de ventilação,
que alimentaria um eventual foco de incêndio); um sinal de falha e um alarme sonoro devem ser
acionados no painel de controle.
8.94. Substâncias químicas e corrosivas que possam afetar desfavoravelmente a integridade das
fontes seladas não devem ser utilizadas no sistema de combate ao fogo.
Eletricidade
8.95 e 8.96. Se uma interrupção de energia elétrica durar mais de dez segundos, a grade de fontes
deve automaticamente voltar para a sua posição de repouso. Um sinal de falha deve ser mostrado no
painel de controle, que deve ser dotado de alimentação de emergência para que se tenha plena
informação do estado da máquina.
Observação: Há regiões em que interrupções de energia elétrica de menos de dez segundos são
comuns. Nesses casos, essa medida se justifica, pois a situação de maior risco potencial para um
operador é a entrada no irradiador, assim, quantos menos entradas, menor o risco, principalmente
em situações como esta, em que as condições operacionais retornam em poucos segundos, porque,
psicologicamente, o operador pode se autopressionar a ligar a máquina rapidamente e se esquecer
de seguir os procedimentos de segurança.
82
Falta de potência, sem relação com a eletricidade (Non-electrical power)
8.96. Falhas de potência, que não sejam elétricas (por exemplo: potência pneumática ou hidráulica),
utilizadas para controlar ou operar qualquer sistema de segurança do irradiador, devem provocar o
retorno da grade de fontes para a posição de repouso.
NOTA: Corrente escura (dark current): refere-se à condição em que um acelerador gera radiação
quando não há corrente no cátodo, mas a tensão de aceleração (isto é, alta tensão) ainda está
aplicada. Então, elétrons ainda podem estar sendo emitidos do cátodo frio e sendo acelerados,
resultando em um feixe de elétrons, mesmo sem haver corrente no cátodo. Para maior clareza, ver a
Figura 3.20, que mostra o funcionamento de uma ampola de raios X diagnóstico: a corrente passa
pelo cátodo aquecendo o filamento e fornecendo energia aos elétrons que saltam dele atraídos pelo
ânodo. Se somente a alta tensão está sendo aplicada, os elétrons ainda podem ser atraídos pelo
ânodo, mas em menor número.
83
saída do acelerador, os níveis de radiação resultantes da ativação dos materiais nesses componentes
podem ser significativos. Se isto ocorrer, deve ocasionar o imediato desligamento do acelerador.
8.101. Um acelerador confiável, isto é, que apresenta poucos problemas técnicos, irá oferecer
menos risco de exposição acidental, pois haverá menor número de entradas para manutenção e
reparos. Uma redução ainda maior pode ser atingida quando o projeto prevê facilidades para a
resolução de problemas técnicos (espaço para a manutenção, possibilidade de as peças serem
trocadas em poucos estágios etc.). Isso também reduz a probabilidade de outros acidentes não
radioativos, tais como: choques elétricos, exposição à radiofrequência, cortes ou hematomas. As
seguintes características devem ser consideradas no projeto de um acelerador industrial:
_ Meios físicos ou mecânicos de desabilitar o sistema principal do acelerador;
_ Sistema de monitoração dos parâmetros da máquina;
_ Sistema de diagnóstico remoto da máquina.
84
8.102. Os parâmetros de operação do acelerador (tensão e corrente) devem ser interligados ao
sistema de transporte de produtos.
8.103. Os testes para o licenciamento devem ser executados nos parâmetros máximos (tensão e
corrente) e com o sistema de transporte de produtos em funcionamento, ou seja, na condição limite
do equipamento.
Mecanismo de desativação para o sistema principal de aceleração (Disabling mechanism for the
main acceleration system)
8.104. O mecanismo de desativação para o sistema principal de aceleração, que deve interromper a
tensão aplicada, deve desativar os meios de aceleração sem causar dano aos componentes da
máquina. Essa desativação deve ser feita, de modo a não interferir nos sistemas de diagnóstico. O
sistema de desativação deve estar claramente identificado e detalhadamente explicado na
documentação do fabricante, que acompanha o acelerador.
Blindagem (Shielding)
8.107. Para aplicações utilizando elétrons de alta energia, o feixe sairá de um ambiente em vácuo,
dentro do acelerador, para a sala de irradiação, que estará à pressão ambiente (preenchida com ar ou
com um gás inerte), atravessando uma janela fina que permita a passagem dos elétrons com uma
perda de energia tão baixa quanto possível.
85
8.108. Os elétrons têm um alcance finito dentro da matéria, que é uma função da energia inicial
deles e da densidade do material absorvedor. O alcance máximo dos elétrons é pequeno em
comparação com o do raio X, que é gerado como consequência da interação dos elétrons com a
matéria com que eles colidem. Os cálculos para o projeto da blindagem de instalações com
aceleradores de elétrons somente deve levar em conta os raios X gerados.
8.109. Há dois tipos de raios X gerados pela interação de elétrons com a matéria: radiação de
freamento (bremsstrahlung) e raios X característicos. Os últimos devem ser considerados somente
para elétrons acelerados até 300 keV que são blindados com elementos pesados, tais como: chumbo
ou urânio empobrecido. Na maioria dos casos, a radiação de freamento deve ser considerada mais
importante do que os raios X característicos quando estiver determinando os requisitos do projeto
para a blindagem.
8.110. Materiais que contenham elementos de baixo número atômico devem ser utilizados, tanto
quanto possível, para as estruturas que estarão sujeitas à irradiação pelo feixe de elétrons, para
minimizar a geração de raios X. Os cálculos da blindagem devem ser executados sob a suposição de
que um produto hipotético, quando submetido ao feixe, absorverá todos os elétrons (produzindo
raios X). Convém repetir o mesmo raciocínio para a composição dos materiais estruturais e para os
produtos, que podem ser irradiados na instalação. Os cálculos de blindagem devem ser realizados
para o máximo de energia e para a corrente máxima que o acelerador de elétrons pode fornecer.
8.111. Deve ser dada atenção aos raios X secundários do lado de fora da sala de irradiação, em
particular nos aceleradores que operam em níveis de alta tensão e com os estágios de aceleração do
feixe de elétrons. Existem várias causas para essa radiação espúria:
_ Elétrons retroespalhados podem possuir energia suficiente para voltarem pelo tubo
acelerador. Esse efeito é particularmente pronunciado quando elétrons de alta energia
colidem com um material alvo que contenha elementos com um número atômico elevado,
gerando raios X por bremsstrahlung.
_ Durante a preparação do acelerador de elétrons e durante a operação sob condições de vácuo
relativamente pobres, pode haver uma corrente escura no tubo acelerador que pode gerar
raios X.
8.112. Com exceção dos casos de aceleradores na faixa de baixa energia (até cerca de 500 keV) e
máquinas especiais que operam a energias mais elevadas, o concreto padrão será o material de
86
blindagem preferido, por razões econômicas e para minimizar a probabilidade de ativação.
Exemplos de cálculo de espessura de blindagem e a disposição dos labirintos para o acesso de
pessoas e para o transporte de produto da e para a sala de irradiação podem ser obtidas em:
• INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, Radiological Safety Aspects of the
Operation of Electron Linear Accelerators, Technical Reports Series No. 188, IAEA, Vienna
(1979).
• NATIONAL COUNCIL ON RADIATION PROTECTION AND MEASUREMENTS,
Structural Shielding Design and Evaluation for Megavoltage X- and Gamma-Ray
Radiotherapy Facilities, Report No. 151, NCRP, Washington, DC (2005).
8.113. No licenciamento de uma instalação de irradiação com feixe de elétrons, atenção especial
deve ser dada aos “pontos quentes”, isto é, pequenas áreas de alta intensidade de radiação, por causa
de radiação espúria, passando através de aberturas na blindagem (para a passagem de cabos
elétricos, por exemplo). Esse tipo de ocorrência deve ser reduzido a níveis aceitáveis. O que é
frequentemente conseguido pela utilização de blindagem adicional, tal como aquela feita com grãos
de chumbo ou de aço. O fabricante deve disponibilizar a sua experiência com as instalações
existentes do mesmo tipo ou semelhantes.
8.115. Como o projeto de proteção para instalações de irradiação de elétrons é baseado na produção
provável de raios X pela interação do feixe com os componentes internos do sistema e com a
blindagem, a avaliação dos requisitos para uma instalação de irradiação de raios X é comparável
com a de instalações de irradiação de elétrons. A exceção é que, nessas instalações, os elétrons são
convertidos em raios X de uma maneira conhecida e previsível. Isso faz com que as previsões sobre
a geração de radiação de freamento (bremsstrahlung) sejam menos incertas do que aquelas para as
instalações de irradiação de elétrons. A eficiência de conversão de elétrons para raios X e,
87
consequentemente, a intensidade do feixe emergente é maior para um alvo especialmente concebido
do que para o processo secundário, que ocorreria em uma instalação de irradiação com feixe de
elétrons, que se originaria da interação do feixe com o equipamento do processo ou com o
mecanismo de transporte de produtos.
8.117. Para instalações de irradiação de raios X operando a partir de 5 MeV, a geração de nêutrons
no alvo de elevado número atômico e a sua propagação deve ser considerada nos cálculos de
blindagem. A taxa de fluência de nêutrons pode não ser significativa para a ativação dos produtos
que estão sendo irradiados, mas pode ser significativa para ser levada em conta no projeto da
blindagem e dos labirintos.
8.118. Devido ao potencial para a ativação dos raios X de energias mais altas, blindagens para essas
instalações não devem ser construídas em metal, especialmente para a barreira primária. Concreto é
o material mais indicado para a construção das blindagens necessárias, por ter número atômico
efetivo relativamente baixo.
88
meia-vida curta (se o projeto foi executado de forma adequada), mas a atividade, logo após o
desligamento do acelerador, pode ser significativa e se forem realizadas operações, como de solda
ou de perfuração nos componentes ativados, os trabalhadores podem sofrer exposição interna e
externa.
8.122. Antes de realizar qualquer modificação, a direção operacional da instalação deve consultar
profissionais com conhecimento na área, como um perito qualificado, para avaliar se ela tem o
potencial de causar algum risco de exposição antes de submetê-la à aprovação da CNEN. Alguns
exemplos de tais modificações são:
_ Modificações dos procedimentos operacionais;
_ Modificações nos sistemas de segurança (no sentido de reduzi-los);
_ Modificações significativas no irradiador;
_ Carga, recarga, remoção ou redistribuição das fontes radioativas, ou reorientação do feixe de
elétrons. Em resumo, qualquer modificação na fonte de radiação em relação àquela que foi
aprovada pela CNEN na época do licenciamento;
_ Mudanças no quadro de pessoal, quando ocorre com aqueles responsáveis pela
radioproteção (empregados ou com consultores).
3.4 Conceito de Falha Segura (ou de falhar com segurança) (Fail Safe)
O projeto dos sistemas de segurança de um irradiador deve ser elaborado, de acordo com a
seguinte lógica:
89
Se algum componente de um sistema de segurança parar de funcionar, essa situação deve
desencadear o sinal de falha a que esse sistema pertence, colocando o irradiador na situação
mais segura (grade de fontes no fundo do tanque ou feixe de elétrons desligado).
Por exemplo, se uma das fotocélulas do sistema de detecção de intrusão parar de funcionar,
isso será encarado como uma tentativa de entrada irregular e, consequentemente, acarretará: o
disparo dos sinais sonoros e visuais de intrusão, o recolhimento da grade de fontes, a parada das
esteiras e o aparecimento no painel do sinal de falha correspondente. A situação somente será
remediada quando a fotocélula for consertada ou trocada.
90
Figura 3.21: Maquete utilizando peças tipo Lego de um irradiador gama de categoria IV:
1 Painel de controle.
2 Monitor de radiação interna.
3 Switch acionado por chave para a abertura da porta.
4 Entrada para o labirinto.
5 Contêiner saindo do irradiador.
6 Monitor de radiação de área de saída de contêineres.
7 Sinal visual de que a fonte está na posição de exposição.
8 Sinal sonoro e visual que indica que a grade de fontes está se movimentando.
9 Sinal interno sonoro e visual indicando que a máquina será ligada
10 Labirinto.
11 Sensores do monitor de radiação interna.
12 Sala de irradiação.
13 Sensor de nível da água do tanque.
14 Tanque ou piscina.
15 Planos de irradiação dos contêineres.
16 Duto de exaustão de ar.
17 Sistema de exaustão de ar da sala de irradiação.
18 Sistema de deionização de água.
19 Blindagem.
20 Partida interna do irradiador.
91
Figura 3.22: Maquete utilizando peças tipo Lego de um irradiador gama de categoria IV, vista
superior
92
Figura 3.24: Vista lateral da maquete
93
Figura 3.26: Sequência de acionamento do sistema de detecção da grade de fontes na posição de
repouso
94
Figura 3.28: Sequência de retirada das tampas de concreto do teto
95
4. Manutenções
De nada adiantarão os dispositivos e sistemas de segurança descritos no capítulo anterior, se
eles não forem checados periodicamente e consertados, se for o caso. A SSG-8 [IAEA, 2010] no
seu item 9 (Testing and maintenance of equipment) faz recomendações sobre a periodicidade das
manutenções, que devem ser realizadas seguindo as instruções do fabricante, por pessoal
qualificado e com o acompanhamento do supervisor de radioproteção responsável. Na seção de
apêndices foram colocados, para servir de exemplo, manuais e planilhas de manutenção periódicas
escritos para um irradiador gama de categoria IV.
Quando um irradiador é adquirido, o fabricante fornece planilhas de manutenção em que a
periodicidade de checagem de alguns itens pode ser maior ou menor do que as recomendadas pela
SSG-8. Qual se deve seguir? Devemos lembrar que as publicações da IAEA são recomendações e
que a evolução tecnológica pode produzir equipamentos mais confiáveis do que na época em que a
publicação foi escrita, o que acarreta o espaçamento da periodicidade da checagem desse
equipamento. A palavra final será dada pela CNEN, durante o processo de licenciamento, em que as
planilhas de manutenção do futuro irradiador devem ser apresentadas para avaliação e durante o
tempo de funcionamento da instalação. Os fiscais da CNEN realizarão inspeções periódicas em que
eles, ou os responsáveis pelo irradiador, podem pedir a alteração da frequência de checagem ou a
instalação de novos dispositivos de segurança, à luz de algum evento contra a segurança ocorrido na
própria instalação ou em outra.
Toda vez que for exigida a utilização de um monitor de radiação portátil, ele deve estar
calibrado por algum laboratório autorizado pela CNEN. Os certificados de calibração têm validade
de um ano, com a ressalva de que, nesse período, o equipamento pode sofrer manutenções que
interfiram na sua sensibilidade. Por exemplo, troca do tubo Geiger ou de um componente da
eletrônica associada à leitura. Exemplos de manutenções que não implicariam a perda da validade
do certificado: troca da alça, do botão liga-desliga ou do vidro do galvanômetro.
4.1 Semanalmente
Para irradiadores gama categorias II e IV, checar os níveis de radiação nos filtros do
exaustor de ar.
Para Irradiadores gama categorias III e IV, Checar:
Os níveis de radiação nos tanques do sistema de desmineralização de água;
Os níveis de condutividade da água que vem e vai para o tanque;
97
O funcionamento do sistema de refrigeração da água e a temperatura da água que vai e vem
do tanque.
4.2 Mensalmente
Checar se o monitor de radiação interna está funcionando. Para issto deve-se aproximar uma
fonte teste de baixa atividade dos sensores de radiação.
Checar se o acionamento do monitor interno bloqueia a entrada à sala de irradiação e se a
porta de acesso pode ser facilmente aberta pelo lado de dentro.
Testar o monitor de radiação de saída de produtos, aproximando uma fonte teste de baixa
atividade do sensor de radiação. Um alarme deve soar, a fonte deve voltar para a posição de repouso
e o sistema de movimentação de produtos deve parar imediatamente.
Para irradiadores gama de categorias III e IV, checar se o monitor de radiação do sistema de
tratamento de água está funcionando, utilizando a fonte teste de baixa atividade.
Testar os sistemas de desligamento imediato, durante a operação normal do irradiador, se
possível: alta temperatura, sensores de posicionamento da grade de fontes, detectores de intrusão e
detector de terremoto.
Testar os guinchos da fonte, o sistema de ventilação e qualquer mecanismo similar que seja
importante para a operação segura do irradiador.
Testar o sistema de transporte de produtos.
Para aceleradores, checar se os componentes principais responsáveis pela produção de
radiação estão funcionando adequadamente e não mostram sinais de desgaste excessivo ou falha
potencial.
Checar se todos os contêineres estão em boas condições, sem amassados, desgastes ou furos
que possam se prender no sistema de movimentação.
Para irradiadores gama de categorias III e IV, checar se o sistema de controle do nível da
água do tanque está operando corretamente.
98
Checar se os botões de parada de emergência no painel de controle e em outras posições
estão funcionando corretamente.
Checar se todos os sinais visuais de aviso de alerta e de falha acendem. Fazer o mesmo para
os sinais de operação normal.
Tentar ligar o irradiador, não executando deliberadamente todo o procedimento de partida,
para assegurar que os sistemas de segurança interligados e a sequência de acionamento deles estão
funcionando corretamente.
Para irradiadores gama de categorias II e IV, verificar se, ao interromper o fornecimento de
energia elétrica, as baterias são capazes de manter o computador e o painel funcionando, para
permitir o monitoramento da posição das fontes ou ordenar o seu recolhimento para a posição de
repouso (em conformidade com os itens 8.95 e 8.96 do capítulo 3).
Verificar se os detectores de calor e fumaça estão funcionando.
Para irradiadores gama, verificar se os sensores de retirada das tampas de concreto do teto
estão funcionando. Obviamente, não é necessária a retirada das tampas para isso, deve-se “enganar”
os sensores.
Para irradiadores gama categorias III e IV, determinar a quantidade de água adicionada ao
tanque (subtrair a marcação do hidrômetro de entrada de água atual com a do mês anterior) e
verificar se ela está dentro da média. Se estiver acima ou abaixo, investigar a causa (vazamento do
tanque ou problemas no sistema de reposição de água). Pela importância desse item, além do
registro na manutenção mensal, é aconselhável ter uma planilha em separado somente para esse
item (ver exemplo na seção de apêndices).
Verificar se os avisos (por exemplo, lista dos telefones de emergência) ou símbolos afixados
ainda estão presentes, legíveis e claramente visíveis.
Teste o temporizador de monitoramento do procedimento de saída (ver itens 8.25 e 8.26 do
capítulo3), executando-o quando falta apenas a partida no painel de controle, deixar passar o tempo
limite e tentar executar a partida no painel. Não deve ser possível ligar o irradiador.
99
4.3 Semestralmente
Semestralmente (ou em qualquer outro intervalo acordado), para irradiadores gama II e IV,
deve-se realizar uma inspeção em todo o comprimento dos cabos dos guinchos (caso possua mais
de um) e nos cabos guias. Se os cabos mostrarem excessivos sinais de desgaste, eles devem ser
substituídos. Para irradiadores gama III e IV, as barreiras guarda-corpo para impedir a queda de
pessoas e objetos no tanque devem ser inspecionadas à procura de ferrugem ou outro fator que
possa afetar a integridade delas.
100
visando ao aumento da produção). Em casos como esses, deve-se também consultar o fabricante do
irradiador. Toda modificação de projeto executada deve ser registrada.
Tal levantamento deve ser repetido em intervalos que não excedam três anos (A CNEN, em
geral, exige intervalos menores) ou após o irradiador gama receber uma nova carga de material
radioativo ou o sistema de produção do feixe do acelerador sofrer alguma modificação (mudança de
orientação, energia ou potência do feixe).
Um exemplo de planilha de levantamento radiométrico pode ser vista na seção de apêndices.
Notar que os primeiros pontos estão na região por onde o operador circula. Isso não é por acaso,
pois sempre haverá um ser humano nessas regiões quando a máquina estiver em operação. Na parte
inferior da planilha, há espaço para o preenchimento de quem realizou o levantamento, em que data,
com que monitor, a data da última calibração dele e a atividade da fonte em uma data de referência.
O monitor de radiação portátil deve permanecer ligado durante o levantamento, porque ao se
afastar da blindagem para ir a outro ponto de checagem, o monitor poderá detectar um feixe
espalhado por uma fissura, que, próximo à blindagem, estaria colimado e, portanto, difícil de ser
detectado.
101
4.7 Auditorias
Pelo menos, uma vez por ano deve ser realizada uma auditoria interna, visando:
• Checar se falta algum registro de manutenção;
• Se os registros de manutenção estão devidamente preenchidos;
• Se há necessidade de fazer alguma modificação nas manutenções, por exemplo:
forma de registro, adequação de procedimento, aumentar ou diminuir a frequência de
algum item;
• Se há necessidade de atualizar ou adicionar sistemas de segurança ou procedimentos.
102
5. Treinamento
De nada adiantarão os sistemas de segurança se os funcionários responsáveis pela operação
do irradiador e os que trabalham nas funções de apoio não forem bem treinados e, principalmente,
retreinados periodicamente. Esses funcionários são nomeados Indivíduos Ocupacionalmente
Expostos (IOE) [CNEN, 2011, p. 7].
Há três níveis de treinamento para os IOE abaixo do supervisor de radioproteção:
Inicial: Obrigatório para todos os níveis e precede o início das atividades do indivíduo
contratado, sendo sua carga horária mínima de duas horas.
5.1 Inicial
Finalidade: esclarecer o novo funcionário sobre as características da empresa, do processo
de irradiação e sobre as normas e condições de segurança.
Todo novo funcionário contratado para trabalhar no setor de produção e que será um IOE
deve passar por esse treinamento antes de iniciar a sua função.
Programa mínimo:
Características da empresa.
Política da qualidade.
103
Existência de microorganismos e insetos no ambiente.
Exemplo de produtos destinados à esterilização.
Exemplo de produtos destinados à redução da contagem microbiana
Exemplo de produtos destinados a processos quarentenários e/ou extensão de vida de
prateleira.
Por que irradiar produtos e o porquê do cuidado com o seu manuseio.
Definição de radiação e o espectro eletromagnético*.
Diferença entre irradiação e contaminação radioativa.
Unidades de medida*.
Equipamentos para medir a radiação*.
Produção de radiação pelo decaimento do Cobalto-60.
Radiação de fundo (natural e artificial) e o seu nível.
Limites ocupacionais para trabalhadores que lidam com radiação.
Dosímetro pessoal, leitura do relatório de coleta de doses e da ficha radiológica individual.
Riscos à saúde, devido à exposição à radiação*.
Princípios básicos de radioproteção: tempo, distância e blindagem*.
Procedimento de segurança obrigatório: nunca adentrar a área restrita sem a autorização do
operador e nunca permanecer nela sem a presença dele*.
Procedimento de evacuação se soarem os monitores de área e por que cada um deles soaria*.
Relato sucinto de acidentes ocorridos em irradiadores.
Testar os monitores de área e o botão de parada de emergência e treinar o procedimento de
evacuação*.
Bibliografia:
Livro: Radiação: efeitos, riscos e benefícios, autora: Emico Okuno, editora: Harbra, São
Paulo,1998.
Apostila Complementar ao Treinamento Básico dos Funcionários.
*Esses itens satisfazem a SSG 8 [IAEA, 2010]
5.2 Periódico
Como as informações relembradas serão basicamente as mesmas, com o tempo esse
treinamento tornará-se-á repetitivo e, portanto, sem atrativos. Existem vários modos de evitar essa
situação, como, por exemplo, exibir vídeos e discuti-los com os alunos, pedir aos funcionários que
104
expliquem os itens do programa ou aplicar o treinamento na forma de jogos. Na seção de apêndices
são reproduzidos dois artigos, que podem ajudar nessa tarefa. O importante é sempre procurar
formas de inovar.
Bibliografia:
Livro: Radiação: efeitos, riscos e benefícios, autora: Emico Okuno, editora: Harbra, São
Paulo,1998.
105
Apostila Complementar ao Treinamento Básico dos Funcionários.
*Esses itens satisfazem a SSG 8 [IAEA, 2010]
106
Bibliografia:
Livro: Radiação: efeitos, riscos e benefícios, autora: Emico Okuno, editora: Harbra, São
Paulo,1998.
Apostila Complementar para o Curso de Qualificação de Operadores.
Manual de Procedimentos do Operador.
*Esses itens satisfazem a SSG 8 [IAEA, 2010].
107
Grandezas e unidades de física das radiações: Grandezas: dose absorvida, dose equivalente
e atividade; unidades: gray, rad, sievert, rem, bequerel, curie e elétron-volt.
Manuseio do monitor portátil: Uso do monitor e suas escalas*.
Conversão de unidades: De mSv para mR e de mR para mSv*.
Efeitos biológicos das radiações: Estágios dos efeitos biológicos produzidos, mecanismos
direto e indireto, efeitos somáticos e hereditários, sensibilidade à radiação.
Radiação de fundo: Exposição externa, exposição interna e exposição, devido à radiação
artificial.
108
Manutenção corretiva**: Identificação se a falha é elétrica e/ou mecânica, troca de
componentes (sensores, microswitches e fiação).
Manutenção preventiva**: Checagem do sistema de movimentação, sistemas de
lubrificação, sistema de tratamento de água, lâmpadas indicativas e avisos sonoros.
Circuito elétrico da máquina**: Lei de ohm, corrente contínua, uso de um multiteste,
circuito elétrico série, circuito elétrico paralelo, circuito elétrico série-paralelo, corrente alternada,
como funciona e como testar um sensor, um microswitch e um relê, interpretação do circuito
elétrico da fiação, do barramento do sistema de transporte e do painel.
Bibliografia:
Livro: Radiação: efeitos, riscos e benefícios, autora: Emico Okuno, editora: Harbra.
Manual de procedimento do operador, publicação interna.
Apostila Complementar para o Curso de Qualificação de Operadores da (Nome da
Empresa).
Esquemas elétricos do irradiador fornecidos pelo fabricante.
Normas CNEN-NN-3.01 e NE-3.02.
*Esses itens satisfazem a SSG 8 [IAEA, 2010].
**Itens destinados aos funcionários responsáveis pela manutenção do irradiador, que,
eventualmente, podem ser os próprios operadores.
109
O registro de cada aula deve conter:
• A data;
• A hora de início e de término;
• O programa dado;
• A carga horária;
• A avaliação (se for o caso);
• O nome completo e a assinatura do(s) aluno(s);
• O nome completo e a assinatura do(s) instrutor(es), o(s) seu(s) cargo(s) e a(s)
instituição(ões) a que pertence(m).
Sugestão: Manter também um registro físico dos treinamentos. Como organizá-lo: Colar os
registros de treinamento em ordem cronológica nas folhas de um livro ata (cujas páginas são
numeradas) e carimbar as suas quatro laterais, de modo que tanto o registro quanto a página
recebam uma parte do carimbo. Isso evitará suspeitas de fraude.
Adicionalmente, cada funcionário deve ter uma ficha individual, em que são registrados os
treinamentos recebidos e eventuais desvios de conduta segura durante o exercício da função.
Opcionalmente, pode ser emitido um certificado do treinamento.
110
6. Acidentes
Quando as pessoas começam a trabalhar em uma atividade que envolve riscos de perder a
vida, elas trabalham com todo o cuidado e seguem todos os procedimentos de segurança,
principalmente este: NO CASO DE DÚVIDA, NUNCA AGIR SOZINHO. Com o passar do tempo,
elas ficam mais relaxadas e desleixadas, e aí começam a ser plantadas as sementes de futuros
problemas, que o supervisor de radioproteção deve detectar e matá-las antes que elas cresçam e se
transformem em acidentes.
É oportuno esclarecer a diferença entre incidente e acidente.
Incidente: Acontecimento que sai das condições normais de trabalho, mas que estava
previsto nas especificações de segurança. Por exemplo: o caminhão que leva o contêiner de
transporte de material radioativo tomba durante o trajeto. Isso é um incidente porque ele é projetado
para resistir a quedas maiores do que essa. Claro que uma inspeção cuidadosa, que inclui um
levantamento radiométrico por parte do supervisor de radioproteção, deve ser realizada, para se ter
certeza de que a integridade do contêiner não foi afetada, antes de autorizar a colocação dele em
outro caminhão.
Acidente: Acontecimento que sai das condições normais de trabalho e que não estava
previsto nas especificações de segurança. Por exemplo: o contêiner de transporte de material
radioativo é atropelado por um tanque de guerra e ocorre comprometimento da blindagem. Isso é
um acidente, porque, nas especificações de segurança, essa situação inusitada não foi prevista (isso
é uma caricatura, pode ser que a blindagem dele continue íntegra nessa situação). Neste caso, o
supervisor de radioproteção deve isolar a área, com a ajuda da escolta que acompanha o transporte,
até o ponto em que o nível de radiação esteja abaixo do limite de dose para o público e avisar
imediatamente a CNEN. NUNCA AGIR SOZINHO.
Vamos estudar alguns acidentes importantes que ocorreram em irradiadores, baseados nos
seguintes relatórios da IAEA (cuja leitura atenta eu recomendo, pois os relatos e as análises
apresentadas serão sucintos):
111
INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, The radiological accident in Nesvizh, Vienna,
1996*.
INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, The radiological accident in Hanoi, Vienna,
1996.
INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, Lessons learned from accidents in industrial
irradiation facilities, Vienna, 1996.
* Disponíveis gratuitamente na internet.
Em cada acidente, três elementos contribuíram, de forma evidente, para que eles ocorressem
[IAEA, 1996e]:
• Havia uma falha no projeto original, ou a instalação ou o equipamento não recebeu
manutenção adequada para que eles se mantivessem de acordo com o projeto original, ou
novos procedimentos e modificações criaram situações que não foram previstas pelo
projeto.
• O sistema de segurança como um todo não estava funcionando de maneira adequada, por
causa da falha de um componente, ou porque partes dele estavam sendo burladas ou
desativadas pelos operadores ou pela administração.
• Alguém agiu de maneira inapropriada por causa de informação errada ou falta de
conhecimento, ou uma decisão foi tomada ignorando informações conflitantes (por
exemplo, grade de fontes na posição de exposição e repouso ao mesmo tempo, e se
considerou que ela estava na de repouso, quando sempre deve ser considerado o
contrário, ou seja, sempre a informação que lhe dá a pior condição, neste caso, grade de
fontes na posição de exposição).
2
Aposta que consiste em carregar um revólver com uma só bala, girar o tambor várias vezes e apontar a
arma contra si mesmo, puxando o gatilho [Dicionário Michaelis escolar, versão 2.0, agosto de 2002].
112
um acidente”. Pensamento similar àqueles que insistem em dirigir sem utilizar o cinto de segurança.
A bala está no tambor e ele é girado constantemente, é só uma questão de tempo.
6.1.1 O irradiador:
Era um gama de categoria II (panorâmico e com armazenagem da fonte a seco), utilizando
cobalto-60. A instalação era uma planta piloto para a irradiação de sementes de milho. Foi projetado
para uma atividade máxima de, aproximadamente, 1330 TBq (36000 Ci) de cobalto-60, subdividida
em quatro barras: duas de 165 TBq (4500 Ci) e duas de 500 Tbq (13500 Ci). As barras eram
recolhidas dentro de uma blindagem de concreto baritado (3,2 g/cm3) na parte superior da
blindagem, que era resfriada por meio de ventilação forçada (ver Figura 6.1 e 6.2).
113
Dry storage bank (barytic concrete): blindagem de armazenagem a seco das barras
com fontes (concreto baritado).
Control Rod: hastes de controle.
Inlet conveyor: esteira de entrada.
Conveyor maze: labirinto.
Control console: painel de controle.
Gamma monitor under the cell: monitor de radiação gama na parte inferior da sala de
irradiação.
Figura 6.2: Vista superior da instalação do irradiador de Stimos (Itália) [IAEA, 1996e]:
Irradiated sacks: sacos irradiados.
Re-irradiated conveyor path: trajeto da esteira de reirradiação (para virar os sacos e
os enviar para a irradiação complementar de dose).
Unirradiated sacks: sacos não irradiados.
Seed storage area: área de estocagem dos sacos de grãos.
Condições:
• Correto recolhimento das barras com as fontes na blindagem.
• Um sinal de ausência de radiação do monitor de radiação interno.
114
• Alimentação elétrica do mecanismo do guincho da porta de acesso, sendo essa alimentação
somente ligada se as duas condições anteriores fossem satisfeitas.
• Abertura da porta pelo operador, por meio do painel de controle.
6.1.3 O acidente
Uma das barras com cerca de 500 TBq (13500 Ci) foi deixada na posição de exposição
dentro da sala de irradiação. Havia algumas amostras de borracha, que seriam colocadas mais tarde
pelo operador dentro da sala de irradiação, para um teste de resistência à radiação gama de cobalto-
60.
Um trabalhador, cuja função era carregar a esteira com os sacos de sementes, com o intuito
de ajudar o operador, que estava ausente, burlou todo o sistema de segurança, entrando pelas
esteiras, que estavam vazias, pelo fato de a máquina não estar em operação, para colocar essas
amostras na sala de irradiação.
Ele foi exposto por pouco tempo, de 1 a 4 minutos, com sua cabeça a poucos centímetros da
barra de fontes. As doses estimadas foram: 12 a 24 Gy para o cérebro; 8 a 20 Gy para os órgãos
internos; 10 a 16 Gy para as gônadas e 12 Gy para a medula óssea. Ou seja, todas acima do nível
letal. O atendimento médico foi praticamente imediato após a exposição, mas pouco poderia fazer
para salvar sua vida. Ele morreu treze dias após a exposição.
115
6.1.5 Atualização do irradiador
Para oferecer mais segurança ao pessoal de apoio e também ao trabalho do operador, foram
instalados dispositivos de segurança adicionais, colocando esse irradiador mais próximo do grau de
segurança mostrado no capítulo 3. Esse acidente mostrou que, além dos operadores, os demais
trabalhadores de apoio que têm acesso ao irradiador também devem receber treinamento.
6.2 San Salvador (El Salvador – 05 de fevereiro de 1989) [IAEA, 1990, 1996e]
Neste caso, a grande dúvida não é por que o acidente ocorreu e, sim, como ele não ocorreu
antes? San Salvador estava passando por uma guerra civil (de 1980 a 1992), que deixava o país em
condições precárias de funcionamento em praticamente todos os setores e com o irradiador gama
não foi diferente.
6.2.1 O irradiador
Foi construído em 1974 e iniciou suas atividades em 1975, pertencia e estava localizado
dentro de uma indústria de material médico e somente irradiava os produtos dela (irradiador cativo).
Era gama de categoria IV (panorâmico e de armazenagem da fonte em água), modelo JS 6300
fabricado pela Atomic Energy of Canada Limited (AECL), atualmente MDS Nordion (ver Figuras
6.3 e 6.4). Sua grade de fontes era composta de dois módulos (ver Figuras 6.4b e 6.5) e pelo projeto
sua capacidade máxima era de 9,25 a 18,5 PBq (250 a 500 kCi) de cobalto-60 . Entretanto, sua
carga inicial foi de apenas 4,0 PBq (108 kCi). Nunca houve cargas adicionais e, na época do
acidente, a atividade era de 0,66 PBq (18 kCi).
Durante a construção da instalação e as etapas de licenciamento, o fabricante treinou três
operadores em proteção radiológica e na operação do irradiador, mas esses três operadores
deixaram a empresa em 1975, depois que ela mudou de dono. Dessa época em diante, qualquer
treinamento ministrado aos operadores era somente oral e informal.
Em 1975, ocorreu um incidente: os contêineres, que eram de fibra de vidro, carregados com
produtos, obstruíram a movimentação da grade de fontes. A grade foi deformada, o que causou a
queda de alguns lápis de cobalto-60. O sistema de segurança e o treinamento dos operadores foram
suficientes para evitar qualquer exposição. O fabricante foi informado e enviou uma equipe para
efetuar os devidos reparos.
Com a escalada da guerra civil, além dos problemas de segurança, os problemas econômicos
do país aumentaram enormemente, provocando uma atitude de: “Faça funcionar como for possível”,
não só nessa indústria como também em todos os lugares. Por causa dessa situação de insegurança,
a direção não conseguiu realizar novas cargas de material radioativo, para reabastecer a grade de
116
fontes e, consequentemente, não pôde se beneficiar das auditorias de radioproteção, que
normalmente acompanham cada carga, quando feitas pelo fabricante do equipamento. Em 1981,
durante as negociações para uma carga entre a direção da empresa e o fornecedor, o último enviou
um representante para San Salvador, que não conseguiu sair do aeroporto, devido às condições
inseguras da capital e retornou para o seu país. Desde 1975 e por 14 anos, a direção e o fabricante
do equipamento somente mantiveram contato telefônico, ou seja, até o acidente. Para agravar a
situação, não havia um órgão governamental para fazer a devida fiscalização periódica da planta,
como a CNEN.
Com o passar dos anos, essas deficiências resultaram em uma séria perda de entendimento
do funcionamento do sistema de segurança instalado, da sua importância para a radioproteção e dos
perigos da radiação ionizante de alta intensidade.
Figura 6.3: Vista geral do irradiador de San Salvador (EL Salvador), modelo JS 6300 da MDS
Nordion [IAEA, 1990].
117
a b
Figura 6.4: Vista superior (a) e lateral (b) do irradiador de San Salvador (El Salvador) [IAEA,
1990].
Figura 6.5: Grade de fontes do irradiador JS 6300 de San Salvador (El Salvador) [IAEA, 1990].
118
Entre 1975 e 1981, houve um significativo número de incidentes nos irradiadores do mesmo
fabricante, em que os contêineres obstruíam o trajeto da grade de fontes e ocasionavam o seu
travamento. Consequentemente, em 1981, o fabricante emitiu um comunicado (Warning Notice
IND-81-1) em que recomendava a instalação de um shroud. Também foi recomendada a inspeção
periódica dos contêineres e a retirada de operação dos danificados. A direção da planta recebeu esse
comunicado, mas nunca implementou as recomendações, devido ao custo e ao aumento do tempo
de exposição que seria necessário para compensar a absorção da radiação causada pelo shroud
(entre 3 e 5%).
a b
Figura 6.6: a) Sala de Irradiação do irradiador JS 6300 de San Salvador, em que é possível notar
a ausência do shroud e a péssima condição de conservação dos contêineres de fibra
de vidro; b) Detalhe de um contêiner de fibra de vidro, em que se podem notar as
rachaduras e os remendos feitos com fita adesiva [IAEA, 1990].
Outro exemplo de manutenção precária ou da falta dela era o sistema de tratamento de água
cujo estado, na época do acidente, pode ser visto na Figura 6.7.
119
Figura 6.7: Estado do sistema de tratamento de água na época do acidente [IAEA, 1990].
• O painel de controle era adequado, mas todos os seus indicadores de operação e falha não
apresentavam qualquer legenda. Entretanto, os operadores entrevistados conheciam o
significado de cada um deles. Durante o dia, a luz que entrava pela claraboia tornava difícil
saber se os indicadores luminosos estavam acesos ou não. A Figura 6.8 mostra o
comparativo entre um desenho do painel original e o do irradiador.
• O monitor de radiação interna (ver capítulo 3, item 8.18) teve seu sensor de radiação (nove
tubos geigers), localizado próximo à sala de irradiação, removido mais de cinco anos antes
do acidente, por causa de problemas técnicos. Mas todo o cabeamento foi mantido, o que,
em princípio, tornava a entrada no irradiador impossível, se não fosse o truque de apertar
repetidamente os botões no painel desse monitor, provocando um ruído eletrônico que
liberava a porta (falha de projeto). Esse método tornou-se o rotineiro para entrar no
irradiador. Por falta de manutenção, a porta de acesso não ficava bem encaixada e a sua
abertura podia ser feita, usando uma lâmina ou qualquer objeto semelhante, como mostram
as Figuras 6.9 b e c. Concluindo: um dos principais sistemas de segurança estava sendo
rotineiramente burlado.
120
a
b
Figura 6.8: a) Desenho do painel de controle original do irradiador JS 6300 de San Salvador com
as devidas legendas (a direção da instalação sempre deve providenciar a tradução
delas para o idioma local, neste caso, o espanhol); b) Foto do painel de controle sem
vestígios das legendas originais [IAEA, 1990].
a b c
Figura 6.9: a) Painel de controle, monitor de radiação interna e porta de acesso; b e c) Abertura
da porta de acesso, utilizando uma lâmina [IAEA, 1990].
121
• A geração e a distribuição de energia elétrica eram alvos comuns dos oposicionistas ao
governo, o que tornou frequente a interrupção de energia elétrica. Para reduzir o tempo de
partida do irradiador após uma interrupção, o sistema de partida (ver capítulo 3, item 8.10 a
8.12) foi modificado e ela podia ser feita a partir do painel por meio de um switch, ao invés
da chave.
• A chave de acionamento do painel não estava presa ao monitor de radiação portátil e
ninguém sabia onde se encontrava a fonte de radiação de baixa atividade para testá-lo. Por
isso, há dúvidas se o monitor de radiação portátil era sempre utilizado e se ele era utilizado
corretamente.
• Um programa de manutenção preventiva, como recomendado no manual do fabricante,
visando diminuir o número de entradas no irradiador, que é o procedimento mais crítico,
nunca foi implementado.
• Qualquer modificação no projeto original por parte da direção do irradiador deve ser
submetida ao fabricante e se aprovada ou rejeitada, deve ser feita por escrito pelo fabricante
à direção do irradiador. Isso não estava acontecendo. As modificações estavam ocorrendo
apenas com aprovação unilateral (qualquer modificação proposta pelo fabricante também
deve ser comunicada por escrito à direção, como foi o caso da instalação do shroud).
• O manual de instruções em inglês fornecido pelo fabricante foi traduzido para o espanhol,
mas a tradução não era precisa e não era completa.
• Cada um dos procedimentos do manual de instruções foi contornado ou adaptado.
• Ninguém dentro da instalação que ocupasse um cargo de chefia foi designado como
responsável pela radioproteção.
Nessas condições, o potencial para um acidente está praticamente no seu nível máximo e,
finalmente, ele ocorreu.
6.2.3 O acidente
• Sábado, às 18h15 do dia 4 de fevereiro de 1989, o Trabalhador A começava o seu turno cuja
duração era de 12 horas.
Em fevereiro de 1988, ele foi contratado como técnico de manutenção. Em setembro
desse mesmo ano, torna-se operador, após um treinamento oral. Era considerado um funcionário
de iniciativa e que resolvia os frequentes problemas de manutenção do irradiador com
desenvoltura.
122
• Como de costume, ele teve que lidar com alguns cortes de energia elétrica e falhas dos pistões.
• Domingo, por volta das 2h do dia 5 de fevereiro, durante uma parada para o café, ocorreu mais
uma falha e o consequente recolhimento da fonte para a posição de repouso
• Ao retornar para o seu posto, o sinal sonoro de movimentação da grade de fontes soou, indicando
que a fonte não estava nem na posição de exposição nem na de repouso.
• Foi até o painel de controle e tentou sem sucesso zerar o sinal de falha.
• Subiu até o teto do irradiador onde se localizava o guincho e seguiu um procedimento “usual”
(não recomendado pelo fabricante) para tentar retornar a grade de fontes para a posição de
repouso, que consistia em desatarraxar o regulador de pressão e aplicar uma sobrepressão, para
forçar a grade a subir, na esperança de que isso pudesse libertar a grade e permitir a descida dela.
• Esse “procedimento” não funcionou, o sinal de movimentação continuou soando e o cabo da
grade de fontes continuava frouxo.
• Ele desenrolou o cabo do guincho, o que fez acionar o seu microswitch de final de curso e
consequentemente, parar o alarme de movimentação. Nesse modelo de irradiador a indicação da
grade de fontes na posição de repouso era dada de forma indireta: guincho no final de curso,
fontes na posição de repouso. O cabo desenrolado foi enfiado para dentro da blindagem.
• O Trabalhador A retornou para o painel de controle e constatou que a lâmpada vermelha
indicativa de fonte em cima ainda estava acesa. Voltou ao telhado, mexeu no microswitch de
final de curso do guincho e voltou ao painel. Desta vez, a lâmpada verde de fontes na posição de
repouso estava acesa.
• Por volta das 2h30, ele destravou a porta de acesso pelo método rotineiro (descrito em 6.2.2 e
não recomendado pelo fabricante), esperou alguns minutos para que o ozônio fosse ventilado da
sala de irradiação e desligou a energia elétrica do irradiador.
• As declarações colhidas após o acidente indicam que o Trabalhador A pensava que a radiação
era como o ozônio, deveria se dissipar no ar, e que, como um equipamento de raios X, após
desligar a energia elétrica, não haveria mais a emissão de radiação.
• Entrou no irradiador com uma lanterna sem checar os níveis de radiação do monitor portátil.
• Na sala de irradiação, constatou que, devido a um problema técnico, cinco contêineres foram
espremidos em quatro posições na parte superior do trajeto. A deformação dos contêineres
provavelmente entortou as barras guias dos contêineres (ver capítulo 3, item 8.58), prendendo a
grade de fontes e impedindo a sua descida.
123
• Trabalhando à luz da lanterna, ele removeu dois dos cinco contêineres que estavam presos contra
a grade de fontes. Essa operação levou vários minutos.
• Não conseguindo soltar a grade de fontes sozinho, ele saiu após cerca de cinco minutos de ter
entrado, para procurar ajuda. Ligou a energia elétrica.
• Por volta das 3h, o Trabalhador A voltou com os Trabalhadores B e C de outro setor da empresa
e que não tinham experiência com o irradiador. Sendo perguntado se havia algum perigo de
entrar na máquina, o Trabalhador A assegurou que não havia nenhum risco, desde que ela
estivesse desligada.
• Os três entraram e procederam à retirada dos contêineres de fibra de vidro com os produtos, para
conseguir espaço suficiente para soltar a grade de fontes (que tinha por volta de 60 kg). Primeiro,
puxando-a pelo cabo do guincho e, depois, soltando-a.
• Eles se movimentaram dentro da sala de irradiação, mas pelos depoimentos e pelas doses, as
posições que eles ocuparam na maior parte do tempo podem ser vistas na Figura 6.10 a, b e c. O
Trabalhador A foi o que mais recebeu dose, por ter entrado duas vezes e por ter ficado abaixado
e mais próximo da grade de fontes (Figura 6.10 b).
a b c
Figura 6.10: Prováveis posições ocupadas pelos Trabalhadores A, B e C: a) Para a retirada dos
contêineres de fibra de vidro, b) Pelo Trabalhador A ao examinar a situação e para
liberar a grade de fontes, c) Ao puxar o cabo do guincho para tentar desvencilhar a
fonte [IAEA, 1990].
124
• Após alguns minutos de trabalho, eles conseguiram liberar a grade de fontes, que ao atingir a
água, produziu o efeito Cherenkov (brilho azulado, devido à interação da radiação com um
dielétrico, neste caso, a água), o que surpreendeu o Trabalhador A. Quando a grade chegou à sua
posição de repouso, ele ordenou aos seus dois ajudantes improvisados que saíssem rapidamente.
Neste ponto, ele aparentemente começou a suspeitar de que havia algum tipo de risco, mas não o
quanto letal ele era.
• Do lado de fora, o Trabalhador B notou o monitor de radiação portátil a alguma distância do
irradiador e perguntou para o que ele servia. O Trabalhador A respondeu que aquele
equipamento era utilizado para medir radiação, mas que ele não era necessário.
• Poucos minutos depois de saírem do irradiador, o Trabalhador A começou a vomitar. Os três
foram para fora do edifício e sentaram. O Trabalhador A se sentia muito mal e, por volta da
3h30, começou a vomitar sangue.
• O Trabalhador A foi socorrido pelo Trabalhador B. Eles pegaram um táxi para o hospital e, no
caminho, o Trabalhador B também começou a vomitar.
• O Trabalhador C também começou a vomitar após voltar a sua área de trabalho e também foi
para o hospital.
• Os médicos diagnosticaram intoxicação alimentar. Este era o diagnóstico mais provável, afinal, o
fato de três funcionários da mesma empresa apresentarem distúrbios gastrointestinais, parecia
indicar que haviam ingerido algo contaminado durante o expediente fornecido pela empresa,
como água ou algum alimento. Foram medicados e receberam licenças médicas por alguns dias.
• Às 6 h, chegou o Trabalhador D (o operador do turno seguinte), que encontrou a porta de acesso
aberta, fez uma vistoria geral, arrumou os contêineres, ligou a máquina e, mais tarde, reportou
como encontrou a área ao gerente de manutenção.
• A empresa foi informada das licenças médicas dos três funcionários, mas não ligou os fatos.
• Alguns dias depois, todos os três trabalhadores acabaram voltando para o hospital, com a
presença de outros sintomas, além dos vômitos, que, desta vez, foram interpretados pelos
médicos como causados pela exposição aguda à radiação.
• Após os médicos entrevistarem os três pacientes sobre o ramo de atividade da empresa e o que
aconteceu antes de eles começarem a passar mal, veio a confirmação da suspeita.
• No quarto dia após o acidente, o hospital notificou a empresa que três dos seus funcionários
foram expostos a altas doses de radiação (quando deveria ter sido justamente o contrário).
125
• Todos foram encaminhados a hospitais especializados em El Salvador e, posteriormente, no
México.
• O Trabalhador A recebeu uma dose média estimada de 8,1 Gy. Faleceu 197 dias após o acidente,
apesar de todos os esforços despendidos, que incluíram: transfusões de sangue, transplante de
medula e a amputação da perna direita.
• O Trabalhador B recebeu uma dose média estimada de 3,7 Gy. Continuava vivo 221 dias após o
acidente (14 de setembro de 1989). Os médicos tiveram que amputar as duas pernas.
• O trabalhador C recebeu uma dose média estimada de 2,9 Gy. Também continuava vivo 221 dias
após o acidente (14 de setembro de 1989). Os médicos previam sua completa recuperação, mas
permanecia a possibilidade da ocorrência de efeitos tardios.
6.2.4 Desdobramentos
Quem achou que o acidente havia terminado se enganou. Nos dias seguintes, houve outros
eventos graves, que, felizmente, não terminaram em mortes, mas chegaram muito perto.
• No quarto dia após o acidente, às 13h55, a grade de fontes ficou presa novamente, mas foi solta
pela técnica “usual” de sobrepressão. Exames posteriores mostraram uma deformação nos dois
módulos que compõem a grade de fontes, provocada quando ela ficou presa no primeiro dia e
agravada nesta segunda vez.
• Por causa dessa deformação, alguns lápis caíram do módulo superior dentro do tanque entre o
quinto e o sexto dia (9 e 10 de fevereiro, terça-feira e quarta-feira).
• A ausência desses lápis foi descoberta no sexto dia (10 de fevereiro, sexta-feira), após a leitura
dos dosímetros, que acompanham o material que está sendo irradiado, indicar uma redução na
dose aplicada.
• Para investigar o porquê dessa ocorrência, o gerente de manutenção e o especialista em controle
de qualidade entraram no irradiador às 12h. Eles observaram pelo brilho, devido ao efeito
Cherenkov, que faltavam alguns lápis no módulo superior da grade de fontes, que, por sorte,
caíram no fundo do tanque e que os dois lápis remanescentes estavam cruzados no centro do
módulo. Nessa configuração, com certeza, um deles estava se projetando para fora da grade.
• Foi feita uma medida do nível de radiação na sala de irradiação e ele estava normal, indicando
que nenhum lápis havia caído fora do tanque.
126
A única medida cabível era interromper imediatamente a operação do irradiador, pois
claramente havia o risco de a fonte ficar presa quando fosse erguida, por causa desse lápis se
projetando para fora da grade, ou de um ou mais lápis caírem, desta vez, na sala de irradiação.
• A medida tomada foi continuar a operação, mas com tempos mais longos, para compensar a
diminuição da taxa de dose.
• Às 16h daquele dia (sexto dia, 10 de fevereiro, sexta-feira), a operação foi interrompida, devido a
uma falha eletromecânica. O operador, Trabalhador Y, não estava conseguindo fazer a grade de
fontes voltar para a posição de repouso e chamou o chefe de manutenção, Trabalhador X, para
ajudá-lo.
• Eles checaram o nível de radiação com um monitor portátil, do tipo que só emite “bips” (quanto
mais bips por unidade de tempo, maior a taxa de dose) do lado de fora da porta de acesso e
concluíram que a grade de fontes devia estar emperrada na posição de exposição.
• De algum modo, eles conseguiram desvencilhar a grade de fontes, provavelmente pelo método
de sobrepressão. Enquanto a grade de fontes descia, eles ouviram um barulho cuja origem
provável era a queda dos lápis remanescentes do módulo superior nas esteiras da sala de
irradiação.
• A luz verde no painel indicando fonte na posição de repouso acendeu e a taxa de “bips” medida
do lado de fora da porta de acesso caiu.
• Os Trabalhadores X e Y abriram a porta pelo método usual.
• O Trabalhador X e dois outros da sua equipe, Trabalhadores Y e Z, entraram no irradiador sem
checarem o nível de radiação durante o trajeto com o monitor portátil emissor de “bips” e, ao que
parece, sem o monitor de radiação portátil. Não encontrando nada anormal, eles pediram uma
inspeção do gerente de manutenção.
• O gerente de manutenção observou que, de fato, a grade de fontes estava no fundo do tanque,
mas o módulo superior não tinha lápis. Ele saiu do irradiador e voltou com o monitor de radiação
portátil e, monitorando o trajeto durante a entrada, constatou que a taxa de dose estava acima da
normal. Ele fechou a porta de acesso e fez a grade de fontes subir e descer para verificar se isso
fazia alguma diferença (procedimento sem sentido e, portanto, desnecessário e perigoso, pois a
grade de fontes poderia ficar presa novamente). Ela se moveu sem dificuldade. Ele checou
novamente o nível de radiação e constatou que ele ainda se encontrava elevado.
• Depois de repetir o procedimento de erguer e recolher a grade de fontes mais duas vezes e obter
o mesmo nível de radiação, ele concluiu que algo estava errado e além da sua experiência, e às
127
16h35, mandou fechar o setor de irradiação e realocou os funcionários em outros setores da
empresa.
• A maioria dos lápis, que se soltaram do módulo superior, caiu dentro do tanque, mas quatro
deles, um ativo e três simuladores, foram posteriormente encontrados nas esteiras da sala de
irradiação.
• As doses médias estimadas recebidas pelo gerente de manutenção e pelos trabalhadores X, Y e Z
foram, respectivamente, de 0,22; 0,09; 0,16 e 0,16 Gy. Apesar de serem doses acima do limite
ocupacional, não foram doses letais ou que provocassem danos à saúde no curto prazo.
• Para saber o que fazer nessa situação, a direção da empresa contatou o fabricante, que enviou
dois técnicos para proceder ao resgate do material radioativo. O procedimento resumidamente
consiste em perfurar o teto do irradiador, para abrir dois furos próximos ao suposto local onde se
encontra o material radioativo. Por um dos furos, descer uma pequena câmera de televisão e,
pelo outro, uma ferramenta para pegar os lápis e jogá-los para dentro do tanque.
• Nesse acidente, foi possível economizar um furo, porque foi possível enviar a câmera de
televisão pelas esteiras sobre um contêiner.
Como podemos ver, para esse acidente ter sido completo, somente faltou sair material
radioativo dentro dos contêineres e a corrosão dos lápis de cobalto-60 pela água do tanque.
128
6.3 Soreq (Israel – 21 de junho de 1990) [IAEA, 1993, 1996e]
Ao analisar os dois acidentes anteriores, podemos ser levados a acreditar que funcionários
bem treinados e com bom nível de escolaridade não estariam sujeitos a acidentes desse tipo.
Infelizmente, isso é não é verdade, isso é um mito, como mostrará a análise dos próximos acidentes.
O motivo? O funcionário competente é traído pelo excesso de confiança, enquanto que o
desinformado sofre o acidente exatamente porque é desinformado. Qual deles sofre mais acidentes?
O competente. Isso é uma surpresa? Não, pois a esmagadora maioria dos irradiadores de grande
porte segue padrões rígidos de segurança e é constantemente fiscalizada, não raro por mais de uma
instituição, por isso, necessitam empregar pessoas competentes e treiná-las convenientemente.
Se o número de funcionários empregados fosse de baixa escolaridade e sem treinamento, o
número de acidentes, com certeza, seria bem maior. Então, o mito tem certo fundamento, mas está
longe de ser uma verdade absoluta. Funcionários com boa escolaridade e bem treinados são
condições necessárias, mas não suficientes para a redução da probabilidade de ocorrência de um
acidente.
6.3.1 O irradiador
Foi construído no final dos anos sessenta e obteve sua licença de operação em 1970. Ele foi
um empreendimento conjunto entre a Holanda e a Comissão de energia Atômica Israelense. Por
causa deste último, o irradiador estava localizado dentro do centro de pesquisas nucleares de Soreq.
Entretanto, era operado como uma planta comercial à parte, sob o nome de Sor-Van Radiation
Limited.
O irradiador era gama de categoria IV (panorâmico e de armazenagem da fonte em água),
modelo JS 6500 fabricado pela Atomic Energy of Canada Limited (AECL), atualmente MDS
Nordion (ver Figuras 6.11 e 6.12), utilizado, principalmente, para o processamento de especiarias e
de material médico. O seu projeto era similar ao de San Salvador (ver item 6.2). Os contêineres
utilizados eram de papelão e movimentados em torno da grade de fontes por pistões pneumáticos.
Durante as investigações do acidente, foi constatado que os contêineres eram todos novos e não
apresentavam deformações (ao contrário do acidente de San Salvador).
129
Figura 6.11: Vista geral do irradiador de Soreq (Israel), modelo JS 6500 da MDS Nordion
[IAEA, 1993].
a
B
Figura 6.12: Vista superior (a) e lateral (b) do irradiador de Soreq (Israel) [IAEA, 1993].
130
A grade de fontes utilizava cobalto-60 e era composta por seis módulos (ver Figura 6.13).
Na época do acidente, a atividade era de 12,6 PBq (340 kCi)
Figura 6.13: Grade de fontes do irradiador JS 6500 de Soreq (Israel) [IAEA, 1993].
A informação de que a grade de fontes estava na posição de repouso era feita de modo
indireto, por meio de um microswitch acoplado ao guincho. A Figura 6.14 ilustra a sua operação.
Quando esse microswitch é trocado, é necessário ajustá-lo corretamente no suporte para que
ele funcione adequadamente. Aparentemente, na época do acidente, ele estava fora de ajuste, o que
produziu uma indicação falsa de grade de fontes na posição de repouso.
Em 1981, a direção da instalação recebeu o comunicado do fabricante do irradiador
(Warning Notice IND-81-1), que recomendava a instalação de um shroud (placas de metal paralelas
aos lados da fonte, quando ela se encontra na posição de exposição, formando uma capa protetora –
ver capítulo 3, itens 8.58 e 8.59), por causa de um significativo número de incidentes nos
irradiadores do mesmo fabricante entre 1975 e 1981, em que os contêineres obstruíam o trajeto da
grade de fontes e ocasionavam o seu travamento. Mas não a implementou, não sendo claro os
motivos. Ao que parece, a empresa encarou o comunicado como uma sugestão e não como uma
importante recomendação de segurança (em resposta, eles disseram que nunca aceitavam
contêineres de papelão de clientes).
131
Figura 6.14:
Diagrama de funcionamento do
microswitch LS-109 montado
no cilindro do guincho, para
indicar, de modo indireto, que a
fonte está na posição de repouso
[IAEA, 1993].
132
operadores, sem notar o que isso significava em termos de perda de segurança. É importante
esclarecer: a direção não estava sabendo da utilização desse truque, que era um procedimento não
autorizado.
A demora do monitor de radiação interna em liberar a porta era ocasionada pela degradação
do seu sensor, localizado próximo à sala de irradiação. Ele era composto por nove geigers ligados
em paralelo, que, com o passar do tempo, por causa da exposição à radiação ionizante, vão
perdendo sensibilidade. O fabricante previu esse problema e incluiu um botão de ajuste de
sensibilidade no monitor de radiação interna. Ao chegar à sensibilidade mínima, o sensor deve ser
trocado.
Três anos antes do acidente, o monitor de radiação interna forneceu uma indicação falsa
(fonte na posição de exposição, quando ela estava na posição de repouso). As razões desse alarme
falso não foram documentadas, mas a sua ocorrência foi relevante para a ocorrência do acidente.
O monitor portátil de radiação em uso no painel estava com seu certificado anual de
calibração dentro da validade. Ele operava em duas faixas de taxa de dose. No decorrer da
investigação, descobriu-se que a faixa mais baixa não estava funcionando, por causa de uma
conexão elétrica quebrada.
O manual de instruções do irradiador prescrevia um programa de manutenções periódicas,
com o objetivo de manter o número de paradas por problemas técnicos da máquina em um patamar
mínimo e, consequentemente, o de entradas no irradiador, que é o procedimento mais crítico. Todos
os sistemas de desligamento automático deveriam ser testados mensalmente. A maioria dos
equipamentos estava em condições satisfatórias depois do acidente, mas não se mantinham registros
escritos da manutenção preventiva, portanto, não foi possível saber se o programa de manutenção
preventiva estava sendo rigorosamente seguido.
133
funcionários 24 horas por dia. Se houvesse algum problema técnico com a máquina durante a noite,
eles avisariam o operador responsável, que deveria comparecer à empresa para resolvê-lo.
O número de operadores, todos com nível técnico, era quatro, sendo:
• Um sênior com trinta anos de casa, que trabalhava na planta desde que ela começou a
ser construída (final dos anos 1960) e que foi designado como o supervisor de
radioproteção do irradiador.
• Um com nove anos de casa.
• Dois com três anos de casa.
• Todos foram treinados localmente e certificados pelo fornecedor do irradiador, após
um exame.
• Somente após o treinamento e um ano de experiência prática é que lhes era dada
permissão para operar sozinhos.
• Adicionalmente, cada operador participou de um curso de quatro dias de
radioproteção básica, exigido pelas autoridades israelenses. Esse curso foi oferecido
pelo centro de pesquisas nucleares de Soreq e todos foram aprovados.
• Detalhe importante: apesar desse intenso treinamento inicial, não havia treinamento
periódico.
Todos eles eram monitorados com dosímetros termoluminescentes (TLDs), mas não
possuíam monitores de bolso com alarme. O treinamento foi dado em hebreu, mas o material escrito
estava em inglês, assim como o manual de operações e as instruções de segurança. Na língua local,
havia somente uma lista curta, com instruções de rotina e segurança, que incluía o procedimento de
entrada no irradiador. Dos quatro operadores, o único com um bom conhecimento de inglês era o
sênior; os demais possuíam conhecimento básico. Uma das causas apontadas para o acidente foi a
falta de informação escrita na língua local, inclusive, a instrução de que se soarem os alarmes dos
monitores de área, o operador perde a sua autonomia e não pode mais agir sozinho. Tal instrução
estava em inglês.
Como a empresa estava dentro de um centro de pesquisas nucleares, no início, havia
inspeções rotineiras, que foram se tornando cada vez mais esparsas com o decorrer dos anos até não
mais ocorrerem.
A responsabilidade de fiscalização por parte do governo de Israel poderia ser executada por
três órgãos: Ministério da Saúde, Comissão de Energia Atômica e Ministério do Trabalho e do
Bem-Estar. Não fica claro no relatório [IAEA, 1993] se esses órgãos estavam exercendo essa
134
responsabilidade ou se estavam preparados para exercê-la, com inspetores familiarizados com o
sistema de segurança e rotinas de manutenção de um irradiador gama de categoria IV.
6.3.3 O acidente
• Às 17 h de 21 de junho de 1990, o ciclo não se completou.
• Apesar das boas condições dos contêineres de papelão, a pressão exercida pelos cilindros
pneumáticos na esteira inferior externa da sala de irradiação fez com que os contêineres
inchassem, se rompessem e travassem o sistema de movimentação de contêineres (ver a Figura
6.15).
Figura 6.15: Contêiner de papelão na esteira inferior externa da sala de irradiação que causou o
travamento da movimentação e no qual o operador trabalhou para remover [IAEA,
1993].
• Essa deformação se propagou até os contêineres da esteira adjacente, a interna inferior. Isso
ocasionou a deformação, que se projetou em direção à grade de fontes.
• O sistema de detecção de tempo de ciclo excedido foi acionado e automaticamente provocou o
recolhimento da grade fontes para a posição de repouso.
• A grade de fontes desceu por cerca de um metro, ficando presa por seus módulos superiores na
deformação do contêiner na esteira inferior interna (ver Figura 6.16).
• O micro do guincho estava com problemas e o painel acusava fonte embaixo.
• O centro de emergência de Soreq registrou a interrupção do funcionamento do irradiador e
telefonou para o operador do turno, que estava na sua casa.
• O operador chegou às 17h35.
135
• O painel indicava a grade de fontes na posição de repouso, mas o monitor de radiação interna
indicava a grade de fontes na posição de exposição.
• 1º Erro: Desconsiderou o sinal do monitor de radiação interna, que lhe dava a pior condição,
porque a fonte sempre desceu e há três anos esse monitor havia dado uma falsa indicação de
fonte em cima.
Figura 6.16: Contêiner de papelão na esteira inferior interna da sala de irradiação, que prendeu a
grade de fontes. Também é possível ver a barra guia de aço e o cabo do guincho
[IAEA, 1993].
Não importa quantas vezes o equipamento tenha apresentado um defeito (uma, duas, três
ou um milhão) ou o tempo em que isso ocorreu, poderia ter sido até no mesmo dia. Sempre se
deve considerar a indicação de pior situação; nesse acidente, a indicação que a grade de fontes
está na posição de exposição. Neste caso, a autonomia do operador cessa e ele não deve tentar
entrar no irradiador. Ele pode realizar uma investigação pelo lado de fora do irradiador. Por
exemplo: testar o monitor de radiação portátil, levá-lo até o teto do irradiador e medir o nível de
radiação pelo orifício do cabo do guincho. Se o monitor acusar radiação, significa que a grade de
fontes não está na sua posição de repouso ou que o nível de água do tanque é insuficiente para
fornecer uma blindagem segura (se o cabo do guincho estiver frouxo, a probabilidade de ela estar
travada em algum ponto do seu trajeto é grande).
• 2o Erro: sem obter consentimento de seus superiores, por meio de um “truque”, conseguiu que o
monitor de radiação interna liberasse a porta e seguiu o procedimento de entrada normal, abrindo
a porta com a chave presa ao monitor portátil.
136
Como a autonomia do operador cessa em casos como esses, era obrigatório chamar o
supervisor de radioproteção ou algum chefe imediato. Nunca agir sozinho. Essa recomendação
serve mesmo para supervisores de radioproteção, quando a situação está difícil de ser
visualizada.
• 3o Erro: Colocou o monitor na escala mais sensível, mas não o testou contra a fonte de baixa
atividade (mantida dentro da fechadura da porta) antes de entrar. Essa escala não estava
funcionando. Havia um monitor de reserva, em perfeitas condições, na sala do supervisor de
radioproteção (que ele não chamou).
137
• O operador foi encaminhado a hospitais especializados e faleceu 36 dias depois, apesar de todo o
tratamento médico despendido, que incluiu um transplante de medula.
O relatório da IAEA não deixa claro quantos anos de casa tinha o operador, mas, lendo-o
atentamente, infere-se que o acidente ocorreu com o de nove anos.
138
operadores. Implementado, o fabricante enviou um comunicado a todos os seus
clientes, recomendando a substituição da placa.
6.3.4.4 Complementares
• Deve ser implementado um treinamento periódico, para relembrar e reforçar os
principais pontos de segurança. Principalmente, não ser apressado ao tentar resolver
um problema técnico, pois isso induz a pular etapas do procedimento estabelecido, o
que pode provocar a exposição do profissional à radiação e, nesse tipo de máquina,
basta uma vez. A periodicidade deve ser, no mínimo, anual e, no caso de
implementação de algum novo sistema ou procedimento, ele deve ser antecipado.
• Os operadores devem portar obrigatoriamente monitores de bolso com alarme.
• Implementar auditorias internas, pelo menos, uma vez ao ano, que cubram todos os
aspectos de segurança radiológica, para detectar desvios de operação (como o truque
utilizado pelos operadores para liberar a porta de acesso e desconhecido das chefias).
Ao final de cada auditoria, um relatório formal deve ser gerado e entregue à gerência,
que tomará as providências cabíveis, se for o caso, para o retorno à condição de
segurança padrão.
• IAEA: Promover programas de treinamento de proteção radiológica em várias
regiões do mundo, específicos para irradiadores. A IAEA iniciou esse programa em
1991.
6.4.1 O Irradiador
Gama de categoria II (panorâmico e com armazenagem da fonte a seco), ele estava
localizado no setor bioquímico da Pharmindustry Corporation na cidade de Nesvizh, cerca de 120
139
km de Minsk, capital da Bielorússia. Era um modelo Pepel, fabricado pela All-Union Scientific
Research Institute of Radiation Technology da extinta URSS. Foi projetado em 1981 e iniciou suas
operações em 1984; em seguida, sofreu uma reforma, que terminou em 1989. Sua capacidade
máxima era de 30 PBq (800 kCi) de cobalto-60. Operava, principalmente, para irradiar material
médico. Na época do acidente, a atividade era de 28,1 PBq (760 kCi).
A descrição da instalação foi feita, seguindo-se as especificações originais e as observações
e os dados apresentados aos inspetores durante a visita, pois a documentação relativa às condições
na época do acidente e as alterações realizadas não estavam disponíveis.
Em um modelo Pepel, a posição de repouso da grade de fontes é dentro de uma fenda no
piso da sala de irradiação. Para ser colocada em uso, ela é içada até a posição de exposição. No topo
da grade, havia uma blindagem de concreto, que funcionava como a tampa dessa fenda, o que fazia
a sua operação de subida e descida semelhante à abertura e fechamento de uma gaveta vertical. Essa
fenda era refrigerada com água, para remover o calor gerado pela irradiação.
Entre o lado externo e a sala de irradiação, havia um labirinto e uma variedade de sistemas
de segurança, para evitar a entrada, com a grade de fontes na posição de irradiação. A Figura 6.17
mostra uma vista superior da instalação.
Figura 6.17: Vista superior do irradiador, mostrando a localização dos sistemas de segurança
[IAEA, 1996c].
140
A grade de fontes era ligada a dois cabos de aço e cada um deles era ligado a um contrapeso.
Tanto a grade como os contrapesos deslizavam em guias verticais de aço inoxidável, como mostram
as Figuras 6.18 e 6.19. Para protegê-la contra interferências externas, como a dos contêineres, havia
uma cerca metálica em torno da posição de exposição. A movimentação da fonte era feita por um
motor elétrico do lado externo da blindagem. Durante o trajeto de subida ou descida, era possível
parar a grade de fontes em uma posição intermediária. Em uma emergência, o motor poderia ser
desconectado e a grade desceria por gravidade.
Figura 6.18: Vista lateral do irradiador. Observar a grade de fontes (source rack), os contrapesos
(counterweights) e o motor elétrico (drive mechanism) que movimenta todo o
conjunto [IAEA, 1996c].
141
a b
142
a b
Figura 6.20: a) Contêineres compostos de duas caixas na sala de irradiação; b) Distribuição dos
contêineres dentro da sala de irradiação, quando todas as posições estão ocupadas
[IAEA, 1996c].
143
Figura 6.21: Unidades acopláveis da correia transportadora: a) Posição normal de acoplamento;
b) Unidades desacopladas [IAEA, 1996c].
144
6.4.3 Sistema de segurança (ver Figura 6.17)
• Não havia interligação do sistema de transporte dos carrieres com o sistema de controle da
fonte. Se houvesse o travamento do sistema de transporte, a fonte não era recolhida
automaticamente para a posição de repouso, sendo necessário um comando do operador.
• Havia dois sensores de radiação dentro do irradiador: um na última perna do labirinto (Position
Y) e o outro na sala de irradiação (Position X), coberto com um copo de chumbo para atenuar a
radiação. Mas não havia interligação deles com o sistema de controle da fonte e nenhum aviso
sonoro para alertar o operador.
• Havia dois sensores externos: um na entrada do labirinto (Position S) e o outro no orifício por
onde passava a corrente da fonte (Position T). Eles eram interligados com o sistema de controle
da fonte, ou seja, fariam a grade de fontes retornar para a posição de repouso.
Cada um desses pares de sensores era ligado a um mostrador (um total de dois) na sala de
controle e o operador podia escolher qual sensor deveria ser mostrado (ver Figura 6.23). Entretanto,
não ficava imediatamente claro qual leitura estava sendo mostrada, o que poderia facilmente causar
um erro de interpretação.
Figura 6.23: Painel com dois mostradores, em que a leitura de cada par de sensores de radiação
era mostrada. A seleção de qual sensor mostrar era feita por um botão para cada
mostrador [IAEA, 1996c].
• A detecção do posicionamento da grade de fontes era feita de forma direta, ou seja, a própria
estrutura da grade acionava microswitches quando ela chegava à posição de exposição ou de
repouso. Esses microswitches enviavam sinais ao painel de controle, para informar onde a
grade de fontes se encontrava.
145
6.4.4 Sequência de entrada no irradiador
• Apertar o botão “para baixo” no painel.
• Esperar quatro minutos, para que o sistema de exaustão retire o ozônio e os óxidos de nitrogênio
formados pela irradiação do ar. Esse é um procedimento, mas máquina não possuía um
temporizador para forçar o operador a segui-lo.
• Girar a chave para a posição “desliga” e retirá-la.
• Antes de entrar, o operador deve checar a leitura dos monitores internos (X e Y) e externos (S e
T) em um painel na sala de controle. Este também é um procedimento, se forem detectadas
doses altas de radiação, quando a grade de fontes deveria estar na posição de repouso. Nenhum
desses monitores está interligado ao sistema de segurança, para automaticamente não habilitar o
mecanismo de entrada ou soar um alarme de advertência ao operador.
• Em vez de uma porta, o irradiador tinha um fosso na entrada do labirinto. Para entrar, o
operador usava a mesma chave do painel, que acionava um motor elétrico, que fazia deslizar
uma placa metálica para cobrir esse fosso.
Após o acidente, o fosso foi alargado pela retirada das cantoneiras laterais e o motor
elétrico foi mudado de posição (ver Figura 6.24), porque juntos eles possibilitavam um meio de
cruzar o fosso sem precisar da colocação da placa metálica.
• Testar o monitor portátil e entrar, prestando atenção nele. Os monitores colocados em uso não
eram exatamente portáteis, eles precisavam das duas mãos para serem manuseados. Somente
seus sensores de radiação mediam cerca de 50 cm e foram projetados para pesquisa geológica
de materiais radioativos (ver Figura 6.25).
• Após a primeira curva do labirinto, havia uma placa sensível à pressão cobrindo todo o
caminho. Ao pisar nessa placa, a fonte retornaria para a posição de repouso se ela estivesse em
exposição.
146
Figura 6.24: Fosso com tampa móvel na entrada do irradiador, mostrando a posição atual do
motor e onde ficavam as cantoneiras [IAEA, 1996c].
Figura 6.25: Monitor “portátil” utilizado para o procedimento de entrada. Somente seu sensor de
radiação media 50 cm e eram necessárias as duas mãos para manuseá-lo [IAEA,
1996c].
147
• Quando os sinais do painel indicassem que a grade de fontes havia chegado à posição de
exposição, o sistema de transporte de contêineres poderia ser ligado.
Se não fosse necessária a entrada no irradiador, a grade de fontes poderia ser repetidamente
descida e subida pelo painel, inclusive, parando-a em posições intermediárias (aparentemente, essa
característica não tinha qualquer aplicação prática).
Como se pode notar, as exigências para ser e se manter como operador eram grandes. Outro
ponto a favor da segurança nessa instalação era a baixa rotatividade desses funcionários, quase
todos eles trabalhavam no irradiador desde a entrada em operação. Mas isso acrescenta pouco se o
sistema de segurança é fraco, como era o caso desse irradiador. Se somente treinamentos iniciais e
periódicos intensos fossem a condição principal para evitar acidentes, o problema dos acidentes
automobilísticos já teria sido resolvido há muito tempo. O fator humano não pode ser ignorado e
quanto menos se depender dele, menor o risco de acidentes. Um bom exemplo é a aviação: quanto
mais automatizada ela se torna, menor é o índice de acidentes. Costuma-se dizer que um bom
sistema de segurança é aquele que é Fool Proof, que, em tradução literal, quer dizer: à prova de
idiotas; mas que pode ser traduzido como à Prova de Tolos, ou melhor ainda: à Prova de Tolices.
148
Todo ser humano comete uma, mais cedo ou mais tarde, por mais treinado e condicionado que
esteja (em tempo, Foolprof, tudo junto, significa Infalível).
Todo o sistema de segurança era checado uma vez por mês pelo pessoal interno e, a cada
três meses, uma organização externa realizava a manutenção preventiva. Na época do acidente, os
registros mostravam que os serviços de manutenção haviam sido realizados dentro dos prazos e que
os sistemas do irradiador estavam dentro dos padrões.
Tanto os operadores quanto os assistentes portavam um dosímetro de leitura direta do tipo
eletrômetro com fibra de quartzo (QFE) e um dosímetro termoluminescente (TLD).
6.4.8 O acidente
• Às 3h40 do sábado de 26 de outubro de 1991, o sistema de transporte dos contêineres emperrou,
por causa de uma desconexão na correia transportadora, como mostra a Figura 6.21, um
problema comum.
• Esse problema podia ser visualizado, pela observação contínua dos indicadores de posição dos
contêineres no painel de controle, mas não havia um alarme para chamar a atenção do operador.
• O operador estava na sala de controle lendo jornal e não notou o que estava ocorrendo.
• Seu assistente, que estava na área de carga, ouviu o barulho característico de emperramento do
sistema de transporte e gritou para alertar o operador, que não estava portando seus dosímetros
pessoais QFE e TLD. Ambos estavam em sua lancheira, portanto, a dose recebida teve que ser
estimada.
149
também parecia relutante em informar qualquer detalhe preciso do que aconteceu (talvez por ser
um funcionário experiente e ter cometido erros tão tolos). Isso dificultou a investigação. Então,
será feita a distinção entre os fatos conhecidos e os prováveis.
150
• A dose recebida foi estimada entre 8 e 16 Gy.
• O operador faleceu 113 dias após o acidente.
151
devem ser revistos periodicamente, atualizados e reforçados quando necessário; ii)
Deve ser dada ênfase às funções dos componentes do sistema de segurança,
procedimentos e as possíveis consequências de não segui-los corretamente; iii) Deve
ser escrito um Manual de Instruções em linguagem clara, mostrando o esboço da
instalação, os sistemas de segurança e os alarmes, as regras de operação, os
procedimentos de emergência e o que foi ensinado nos treinamentos. Ele deve ser
mantido atualizado e estar disponível para os que trabalham com o irradiador.
• Monitoração pessoal de dose: i) Adotar a utilização de monitor de bolso com alarme;
ii) Elaborar um procedimento para checar o correto funcionamento desses monitores;
iii) Os monitores de bolso com alarme devem ser utilizados em conjunto com os
monitores de radiação portáteis (redundância) e não para substituí-los.
6.5.2 O acidente
• Um operador entrou na sala de irradiação, para colocar um produto sob o feixe de
elétrons, enquanto ele estava ligado.
• Ele burlou o sistema de segurança, entrando pela abertura inferior da porta de acesso.
• A dose recebida pelo trabalhador foi estimada em: 400 a 2400 Gy para várias partes
da mão direita; 3 a 290 Gy para várias partes do pé direito; até 290 Gy para várias
partes da perna direita; 2,45 a 3,25 Gy para a pele do lado direito do corpo e 0,002 a
0,05 Gy para o interior do corpo.
• Sérias queimaduras causadas por radiação apareceram na mão e no pulso direitos,
assim como na perna direita.
• 138 dias após o acidente foi necessária a amputação do braço direito logo acima do
cotovelo e, após 6 meses, houve a amputação da perna direita logo acima do joelho.
152
6.5.3 Causas do acidente
• Houve erro do operador que, intencionalmente, entrou na sala de irradiação por um
método não autorizado, burlando todo o sistema de segurança.
• Houve um erro crasso de avaliação e de projeto por deixar uma abertura permanente
na parte inferior da porta de acesso, suficientemente grande para passar um ser
humano.
• O relato não menciona, mas certamente faltou treinamento para o operador não
cometer a bobagem que ele cometeu.
153
6.6.2 Perfil do operador e do seu assistente
• O operador tinha um ano e meio de casa e havia sido aprovado para essa função dez
meses atrás.
• O assistente era um empregado temporário, estava no seu primeiro dia de trabalho e
não tinha recebido qualquer treinamento em proteção radiológica (o correto é utilizar
empregados próprios para essa função e receber o treinamento inicial antes de
começar a trabalhar, ver capítulo 5).
• Nenhum deles estava portando dosímetros pessoais. Pelos acidentes anteriores,
podemos notar que este é um ponto comum em todos eles; aparentemente, é um sinal
de que a segurança não está sendo levada a sério.
6.6.3 O acidente
• Na tarde de 11 de dezembro de 1991, um operador e seu assistente completavam o
terceiro dia de manutenção do irradiador, que estava inativo há algum tempo (não
especificado no relato).
• O vácuo na parte da corneta havia sido quebrado para a troca da janela, que sofre
superaquecimento pelo feixe de elétrons durante a operação e necessita ser trocada
periodicamente.
• Após a instalação da janela, o acelerador foi operado na potência (3 MV) e corrente
(25 mA) máximas por 15 a 20 minutos, com a esteira vazia.
• Ao fim desse período, o operador caminhou pelo labirinto até a sala de irradiação,
que era também o trajeto da esteira de entrada, para checar se a montagem da janela
não havia sofrido danos, devido ao superaquecimento.
• O assistente permaneceu do lado de fora.
• A tensão do filamento da fonte de elétrons foi desligada, mas a alta tensão não, o que
gerou uma corrente escura (também conhecida como corrente fria) da ordem de 50
µA (ver capítulo 3, item 8.98).
• O aviso luminoso intermitente de alta tensão ligada foi ignorado, porque ele não era
de aviso de radiação.
• Tanto a entrada como a saída de produtos possuíam portões automáticos próprios,
que abriam somente na presença de produtos nas esteiras, para evitar entradas não
autorizadas. Quando o irradiador não estava operando, eles eram fechados com
154
cadeados. Na época do acidente, os portões estavam destravados e os cadeados
haviam sido removidos.
• Havia um sistema composto de três células fotoelétricas, que desligavam
automaticamente o acelerador, se o feixe de infravermelho delas fosse interrompido.
• A primeira célula fotoelétrica estava localizada próxima ao portão de entrada de
produtos e a terceira, próxima ao portão de saída de produtos. Mas um interruptor foi
instalado para desabilitá-las, sem notificar ou obter permissão da autoridade
reguladora. No dia do acidente, o interruptor estava na posição “desliga”.
• Dentro do labirinto, havia uma placa sensível à pressão, que desligaria o irradiador se
alguém andasse em cima dela. Ela foi removida sem a aprovação da autoridade
reguladora.
• A segunda célula fotoelétrica estava localizada dentro do labirinto a 1,22 m do solo.
O operador, deliberadamente, passou por baixo do feixe. Durante as investigações do
acidente, ele reportou que: i) Acreditava que não haveria feixe de elétrons, se a
tensão do filamento estivesse desligada e ii) Economizaria tempo, deixando a alta
tensão de aceleração ligada, caso fossem necessários mais testes. Foi constatado que
os outros operadores também burlavam rotineiramente o sistema de segurança.
• Ele inspecionou a janela com a ponta dos dedos e também visualmente, inclinando a
cabeça em um ângulo oblíquo. Ele estava usando seus óculos, que tinham lentes
plásticas, o que protegeu seus olhos.
• Ele permaneceu dentro da sala de irradiação por um ou três minutos, saiu, trancou a
máquina e foi para casa.
• O corpo do operador, especialmente suas extremidades e sua cabeça, foi exposto à
radiação devido à corrente escura.
• Três meses após o acidente, as quatro pontas dos dedos da mão direita e a maior
parte dos dedos da mão esquerda tiveram que ser amputadas.
155
6.7 Hanói (Vietnam – 17 de novembro de 1992) [IAEA, 1996d, 1996e]
6.7.1 O irradiador
O HINP – Instituto de Física Nuclear de Hanói teve estreitos vínculos com o instituto de
pesquisas de Dubna (da extinta União Soviética) por muitos anos e vários cientistas do Vietnam
estiveram lá realizando pesquisas, utilizando um acelerador de elétrons de categoria II (irradiador
dentro de uma sala blindada – ver capítulo 2 e 2.2.2). Então, quando os russos ofereceram esse
acelerador como um presente, ele foi alegremente aceito. Ele não era do tipo industrial
(processamento em grande escala, por meio de uma esteira) e, sim, voltado para a pesquisa, em que
o espaço de irradiação permitia apenas o acomodamento de amostras pequenas, posicionadas
manualmente.
O acelerador era um Microtron MT-17, que produz nêutron e raios X a partir de elétrons
acelerados até 15 MeV. Nesse tipo de máquina, os elétrons são acelerados em órbitas circulares e
direcionados para o material alvo escolhido, por meio de dois tubos guias. No final de um tubo,
havia um alvo de tungstênio, para produzir raios X, e no do outro, um de urânio, para a produção de
nêutrons. A Figura 6.27 mostra o diagrama desse equipamento. As amostras poderiam ser
remotamente levadas e trazidas de suas posições de irradiação, por meio de um sistema de tubos
plásticos e ar comprimido, mas ele não era utilizado.
Em Dubna, ele iniciou suas operações em 1974 e foi enviado para o HINP em 1982, com
todas as despesas pagas pelos russos. Ele foi remontado pelos cientistas locais, que haviam
trabalhado nele. Esse acelerador era um modelo experimental e, por isso, possuía somente um
manual de instruções manuscrito, que fornecia informações detalhadas sobre a operação do
equipamento, mas não cobria: os sistemas de segurança, o projeto da sala de irradiação e os
procedimentos de radioproteção.
Os cientistas vietnamitas possuíam alto grau acadêmico, mas praticamente nenhuma
experiência ou treinamento em radioproteção e, por causa da falta de verba, poucos equipamentos
de monitoração de radiação. Então, após o término da montagem, não houve uma inspeção dos
sistemas de segurança nem a verificação da eficiência da blindagem, por meio de um levantamento
radiométrico.
A VINATOM (Comissão de Energia Atômica do Vietnam) é a instituição do governo
responsável, entre outras atribuições, pela aprovação, acompanhamento da montagem, fiscalização
e inspeção de irradiadores. Na época do acidente, a VINATOM, por falta de recursos financeiros,
não possuía técnicos treinados para exercer essas funções. Havia também uma dificuldade formal,
pois, na estrutura governamental, o HINP estava no mesmo nível da VINATOM, mas isso
156
provavelmente não faria muita diferença. Estas e outras discrepâncias foram revistas e corrigidas
após o acidente.
Figura 6.27: Diagrama do Microtron MT-17 do Instituto de Física Nuclear de Hanói [IAEA,
1996d]. 1 Magnetron; 2 Tubo guia; 3 Cátodo; 4 Ímãs; 5 Alvo de tungstênio; 6 Alvo
de urânio.
157
Também foram detectadas outras irregularidades, tais como:
• Falta de equipamentos de monitoração calibrados.
• Nenhum treinamento em radioproteção.
• Nenhum levantamento radiométrico.
• A sala de controle estava situada a vários metros da sala de irradiação. Ver, na Figura
6.28, a planta da instalação.
158
• Não havia avisos sonoros e visuais dentro ou fora do irradiador, avisando que o
acelerador estava sendo ligado (o procedimento de ligá-lo demandava certo tempo).
• Por causa da dificuldade em obter peças sobressalentes e do alto preço delas, havia
uma forte rotina de manutenção preventiva, mas ela não cobria os sistemas de
segurança.
6.7.3 O acidente
• No meio da tarde do dia 17 de novembro de 1992, um grupo de pesquisadores,
liderados pelo diretor da instalação, estava realizando experimentos, envolvendo a
irradiação de amostras de minério de ouro.
• Colocaram a primeira amostra e a sua irradiação foi realizada, conforme o plano.
• O diretor e dois assistentes entraram na sala de irradiação para remover a primeira
amostra.
• Depois de posicionar a segunda amostra próxima ao alvo de tungstênio, eles saíram
do irradiador e foram em direção à sala de controle (microtron control room).
• Quando eles estavam próximos à sala de controle (ponto P na Figura 6.28), o diretor
pediu que um dos assistentes lhe arranjasse uma barra de sabão e voltou pelo
corredor, como se fosse até a pia (sink) localizada no pátio (courtyard).
• Como a assistente teria que passar próximo à sala de controle para arranjar uma barra
de sabão, ela avisou o operador que o experimento estava pronto e que a máquina
poderia ser ligada.
• Entretanto, em vez de o diretor ir para o pátio, ele reentrou na sala de irradiação, para
checar novamente o posicionamento da amostra e achou que ele não estava correto.
Utilizando alguns blocos de cera estocados na sala, ele começou a reajustar o
posicionamento da amostra.
159
• Ele manuseou a amostra cerca de três vezes e suas mãos ficaram a cerca de 3 a 30 cm
do alvo. Durante parte desse tempo, o acelerador estava ligado e ele não estava a par
disso. A Figura 6.29 mostra um esquema das posições de exposição e a Figura 6.30,
a variação da taxa de dose com a distância do alvo.
Figura 6.30: Variação da taxa de dose com a distância do alvo [IAEA, 1996d].
160
• A assistente voltou com o sabão, mas não encontrou o diretor no pátio.
• Ela chamou pelo diretor várias vezes sem obter resposta, então correu para o
irradiador, onde encontrou a porta de acesso aberta. Novamente chamou pelo diretor
sem obter resposta.
• O ruído de fundo originado pelo gerador e pelos sistemas de condicionador de ar e de
resfriamento devem ter abafado os chamados de sua assistente. Entretanto, quando a
corrente elétrica do Magnetron foi ligada, houve um som alto e característico acima
do ruído de fundo que deveria ter alertado o diretor. Na investigação do acidente, ele
disse que se lembrava vagamente de ter ouvido esse som, mas não reagiu às suas
implicações.
• A assistente correu até a sala de controle e mandou o operador desligar o irradiador
imediatamente. O tempo de funcionamento foi de 2 a 4 minutos, com uma corrente
de 6 µA.
• A assistente e o operador correram para a porta de acesso do irradiador, que estava
aberta cerca de 60 cm. Eles entraram e viram o diretor, manuseando alguns blocos de
cera em um dos cantos do labirinto.
• Eles lhe informaram o que ocorreu.
• Suas mãos foram expostas a altas taxas de dose por alguns segundos e, em duas
semanas, elas apresentavam sinais de exposição aguda à radiação.
• Ele não informou a ninguém sobre o acidente e assegurou a sua assistente e ao
operador de que não haveria qualquer problema com suas mãos.
• Ele não procurou tratamento médico até o 24º dia após o acidente, embora os
primeiros sintomas de dano biológico tenham aparecido no 11º e 12º dia.
• Ele recebeu tratamento médico em Hanói e depois foi transferido para um centro
mais especializado na França.
• Segundo as últimas informações, ele teve que amputar a mão direita (julho de 1993)
e dois dedos da mão esquerda (novembro de 1993 e fevereiro de 1994).
• Ironicamente, ele era o responsável pela radioproteção da instalação (provavelmente,
um cargo fictício, somente para atender a legislação).
• A estimativa de dose para as suas mãos ficou entre 20 e 45 Gy. Para o corpo todo
ficou entre 1 e 2 Gy.
161
6.7.4 Lições aprendidas ou causas do acidente
Neste acidente, assim como no de San Salvador (ver 6.2), a grande dúvida é: Como ele não
ocorreu antes? Nos dois casos, estava tudo errado em termos de radioproteção. A grande diferença
é que as pessoas que cuidavam do irradiador em Hanói possuíam alto grau acadêmico.
Em 1988 (quatro anos antes do acidente), uma missão da IAEA enviada ao Vietnam
detectou falhas de radioproteção em várias instituições, inclusive no HINP. Elas foram repassadas
na forma de relatório à VINATOM. Não foram tomadas providências ou elas foram tímidas por
causa da falta de verba para o setor (ou pelo maior interesse em pesquisa do que em segurança,
embora um não exclua o outro).
O relato específico [IAEA, 1996d] sobre esse acidente apresenta várias providências a serem
tomadas, mas todas elas já foram vistas nos acidentes anteriores. Então, prefiro não cansá-los,
repetindo-as.
Existem vários acidentes em irradiadores que não contam com um relatório da IAEA, por
não acrescentarem mais informações aos já relatados ou por não terem resultado em danos
biológicos extremos (amputações e mortes). O acidente de Fleurus se encaixa na segunda categoria,
mas não na primeira, porque nele a máquina “conspirou” contra o operador.
O único documento disponível sobre ele está no sítio da FANC – Agência Federal para
Controle Nuclear (Bélgica), um relatório preliminar com somente sete páginas sem qualquer
ilustração e apresenta apenas informações essenciais, que não incluem a descrição do sistema de
segurança. Toda a informação colhida na internet parece se basear nesse documento. Se houve um
relatório final, ele está muito bem guardado. Alguns colegas tiveram a oportunidade de conversar
com os investigadores desse acidente em eventos internacionais e me repassaram um pouco mais de
dados.
6.8.1 O irradiador:
A instalação contava com dois irradiadores gama de categoria IV (panorâmico e de
armazenagem da fonte em água), utilizando cobalto-60 fabricados pela Sterigenics (EUA). Um
operava de forma contínua e o outro por lote (ou por batch – o transporte do material para e da sala
de irradiação é feito manualmente: a retirada de um lote irradiado e a colocação de outro a ser
irradiado implica a interrupção do processamento). O acidente ocorreu neste último. Não há
informações sobre o modelo ou sobre a atividade na grade de fontes.
162
6.8.2 O acidente
Um operador foi chamado por seus colegas quando eles notaram que o detector do lado de
fora do irradiador acusava a presença de radiação sem que houvesse processamento em progresso.
Ele zerou o monitor, que não voltou a acusar a presença de radiação, então, concluiu que a sua
ativação se devia a algum ruído elétrico no circuito. A porta de chumbo de acesso à sala de
irradiação estava aberta e, como a máquina não estava em operação, achou melhor fechá-la, mas
antes disso, o procedimento exigia a verificação do seu interior, para que ninguém fosse esquecido
dentro.
Nesse procedimento, o operador deve entrar na sala de irradiação e pressionar um botão na
extremidade oposta dela, o que indica que ele fez a verificação (ou que, pelo menos, foi até o fundo
da sala). Ele testou o monitor portátil, entrou checando os níveis de radiação, que estavam normais,
colocou o monitor no chão da sala, procedeu à verificação, pressionou o botão, voltou, pegou o
monitor, saiu e fechou a porta. Todo esse procedimento demorou cerca de 20 segundos.
Algum tempo depois, o operador começou a sentir náuseas e a vomitar, mas não relacionou
esses sintomas com a entrada no irradiador. Mais tarde, ele se consultou com o médico de sua
família, que diagnosticou problemas de digestão.
Após três semanas, ele reportou que estava tendo perda de cabelo ao médico da empresa,
que levantou a hipótese de ele ter sido irradiado sem saber. Exames de sangue foram imediatamente
providenciados e indicaram uma forte suspeita de ele ter recebido uma dose da ordem de 4 Gy. Em
31 de março, o operador foi transferido para um hospital francês especializado em tratamento de
exposições à radiação. Um exame mais completo estimou a dose entre 4,4 e 4,8 kGy. Quatro outros
operadores presentes no mesmo dia do acidente foram examinados, mas não mostraram sinais de
irradiação.
Analisando os dados registrados pelo computador, verificou-se que a fonte saiu e retornou
para a sua posição de repouso, provavelmente sem sair totalmente do tanque, durante o tempo em
que o operador esteve dentro da sala de irradiação.
O alarme do monitor portátil poderia tê-lo alertado, mas ele não o carregou o tempo todo,
porque era difícil passar pelo equipamento, portando-o. Além disso, não era necessária a chave
(normalmente presa a ele) para ativar o botão e, como o nível do chão era abaixo da borda do
tanque, o monitor não recebeu um feixe direto da radiação e a radiação espalhada não deve ter sido
suficiente para sensibilizá-lo.
163
Deixar o monitor de radiação portátil em um canto qualquer após entrar na sala de irradiação
é um procedimento comum no mundo todo, pois na maioria das vezes, o trabalho, que levou o
operador a entrar no irradiador, lhe exigirá o uso das duas mãos. Isso mostra a importância da
utilização do monitor de bolso com alarme.
164
O PREÇO DA SEGURANÇA É A ETERNA VIGILÂNCIA3
3
O preço da liberdade é a eterna vigilância.
165
7. Transporte e carga do material radioativo
Obviamente, esta parte diz respeito somente a irradiadores gama.
7.2 Transporte
Deve-se seguir a norma de transporte da CNEN [CNEN, 1988] (da qual recomendo uma
atenta leitura), que também engloba a maioria das exigências de outros órgãos de fiscalização, como
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e a Polícia
Rodoviária Federal.
O processo começa com o preenchimento do Requerimento para Transporte de Material
Radioativo (RTMR), disponível no sítio da CNEN e o pagamento da taxa correspondente.
Submeter o RTMR e o Plano de Transporte à CNEN, para ser avaliado. Este último deve
conter as seguintes informações básicas:
• Data aproximada da chegada ao Brasil e duração prevista do transporte até a
instalação.
• Descrição do conteúdo radioativo a ser transportado e da sua embalagem.
167
• Meio de transporte a ser utilizado (um caminhão de transporte de contêineres
marítimos).
• Descrição do trajeto a ser percorrido, destacando as vias principais (deve-se escolher
o horário e a rota de menor risco, tanto em termos de ocorrência de um acidente
comum quanto para minimizar as consequências de um acidente radiológico, como,
por exemplo, baixa densidade populacional ou menor quantidade de acidentes
geográficos).
• Identificação do supervisor de radioproteção que acompanhará o transporte (pode ser
indicado mais de um, no caso de o escolhido não estar disponível). O supervisor de
radioproteção deve acompanhar o transporte em outro veículo, que servirá como
apoio em caso de acidente, e deve portar um monitor de radiação calibrado, bem
como um kit de emergência, contendo cones e fita zebrada.
• Procedimento de emergência em caso de acidente (monitorar a área, cercar com
cones e fitas, acionar a defesa civil, polícia rodoviária e a CNEN; ter todos os
respectivos telefones anotados; NÃO AGIR SOZINHO).
• O motorista deve ter licença para transporte de cargas perigosas.
• O transporte será acompanhado por escolta armada (para inibir o roubo por ladrões
comuns desavisados ou por terroristas).
• O veículo transportador estará identificado em seus três lados (laterais e traseira)
com o símbolo de radiação (ver Figura 7.1). Como veremos o contêiner marítimo
que contém o contêiner de transporte também virá identificado do fornecedor com
esse símbolo em suas quatro faces (ver Figura 7.2).
168
• Índice de Transporte (IT): nível de radiação máximo (NRM) a 1 m da superfície
externa da carga considerada, e multiplicado por 100 se expresso em mSv/h (ou por
um se expresso em mrem/h)
• 7: Número da Organização das Nações Unidas (ONU) para o transporte de materiais
radioativos.
Figura 7.1: Placa de aviso para tanques e Figura 7.2: Placa de aviso para tanques e
contêineres [CNEN, 1988]: contêineres [CNEN, 1988]:
• Parte superior do fundo: • Parte superior do fundo: Amarelo
Amarelo • Parte inferior do fundo: Branco
• Parte inferior do fundo: Branco • Trifólio e letras: Preto
• Trifólio e letras: Preto • Barra da categoria: Vermelho
A Figura 7.3 mostra o contêiner de transporte (assim como a Figura 2.17 do capítulo 2). Ele
é do tipo B(U) confeccionado em chumbo ou urânio exaurido e sua massa é de cerca de cinco
toneladas. A letra “B” significa que ele pode conter uma grande quantidade de material radioativo,
neste caso específico, até 7,4 PBq (200 kCi), e é resistente aos maus tratos normais e à maioria dos
acidentes de transporte (impactos severos e incêndio). A letra U significa que requer somente
aprovação unilateral do projeto. Podemos nos referir a ele como: embalado (ou volume), que é o
nome dado a todo o conjunto composto de embalagem mais material radioativo.
Devido à alta atividade que ele geralmente contém, não é mais permitido o seu transporte
por via aérea. Portanto, ele chegará ao nosso país por via marítima, dentro de um contêiner
marítimo, como mostra a Figura 7.4.
169
Pela Legislação, materiais radioativos não podem ficar estocados no porto, portanto, ao ser
retirado do navio, o contêiner deve ser colocado sobre o caminhão e o caminhão deve sair do porto
(ver Figura 7.5). Isso implica que o supervisor de radioproteção (e talvez a escolta armada) tem que
ficar de plantão no porto até chegar a vez da descarga do seu contêiner.
Figura 7.3: Contêiner de transporte de material radioativo tipo B(U). Sua capacidade máxima é
de 7,4 PBq (200 kCi) para cobalto-60.
170
a b
7.3 Carga
Antes de iniciar o processo de carga, a integridade dos lápis de cobalto-60 deverá ser
checada. Como isso é feito? A Figura 7.7a mostra um contêiner de transporte por dentro, no
compartimento marcado com o número 16, onde se encontram os lápis acondicionados dentro de
uma cestinha. A Figura 7.7b mostra uma réplica dela com simuladores. Após o fechamento do
contêiner de transporte, o compartimento da cestinha é preenchido com uma atmosfera do gás inerte
hélio; assim, evita-se o contato dos lápis com o ar, que contém oxigênio e que, por isso, é oxidante.
171
Esse gás é injetado pelo orifício 11, que percorre o duto 13 (notar a tortuosidade dele), chega até o
compartimento 16, percorre o duto 17 (novamente tortuoso) e sai pelo orifício acionado por pressão
20, por cerca de alguns minutos, que é o tempo suficiente para substituir o ar por hélio. Em seguida,
o orifício 11 é fechado e o 20 se fecha automaticamente.
Figura 7.6: Ficha de Monitoração da Carga e do Veículo [CNEN, 1988], que deve ser preenchida
pelo supervisor de radioproteção responsável pelo transporte, após ele receber a
carga.
Para checar a integridade dos lápis, instala-se um filtro (por exemplo, de gasolina) no
orifício 20 e injeta-se água (pode ser de torneira) pelo orifício 11, por meio de um galão de cinco
litros acoplado a uma mangueira. A água passará pelos lápis e pela cestinha, lavando-os e se
transformando em vapor, por causa do calor gerado pela alta atividade. Esse vapor provocará uma
alta pressão e sairá pelo orifício 20. Por causa desse calor, o contêiner de transporte deve ser
projetado para dissipá-lo no ambiente. Quando o vapor de água parar de sair, um técnico munido de
um monitor calibrado se aproximará e checará o nível de radiação do filtro. Se for do nível da
172
radiação de fundo, o início da carga será liberado. Caso contrário, a carga não ocorrerá e medidas
conjuntas CNEN – Fornecedor – Empresa terão que ser decididas.
a b
Figura 7.7: a) Vista interna de um contêiner de transporte [catálogo AECL – Atomic Energy of
Canada Limited].
b) Réplica da cestinha com simuladores. A original é alojada no compartimento
marcado sob o número 16.
173
a
Figura 7.8: Sequência da retirada das tampas de concreto do teto do irradiador (em um dia
chuvoso) por meio de um guindaste, neste caso, são duas tampas: a) retirada da tampa
superior; b) e c) retirada da tampa inferior.
174
Içar o contêiner de transporte de material radioativo do contêiner marítimo (ver Figura 7.9).
As figuras referentes ao contêiner de transporte são de duas cargas distintas, portanto haverá
diferenças entre elas.
Figura 7.9: Da esquerda para a direita, retirada do contêiner de transporte de dentro do contêiner
marítimo.
Descida do contêiner de transporte pela abertura no teto do irradiador (ver Figura 7.10).
175
a
Figura 7.10: Sequência da descida do contêiner de transporte pelo teto do irradiador (em um dia
chuvoso): a) aproximação do contêiner de transporte; b) posicionamento dele em
cima da abertura do teto; c) início da descida em direção ao fundo do tanque.
176
O contêiner de transporte faz uma parada na borda do tanque, para que os técnicos retirem
os parafusos, que prendem a tampa ao corpo do contêiner. A Figura 7.11 mostra essa etapa, com os
parafusos já retirados. A seta indica a posição de um dos parafusos (neste modelo, eles são em
número de oito).
Figura 7.11: Contêiner de transporte parado na borda do tanque, para que os técnicos retirem os
parafusos que prendem a tampa ao corpo do contêiner. A seta indica a posição de
um dos parafusos (neste modelo, eles são em número de oito).
Nessa etapa, é passado um cabo pela argola da tampa, como mostra a Figura 7.12a. Após o
contêiner de transporte ter sido pousado no fundo do tanque, os cabos de sustentação no gancho são
trocados pelo cabo da tampa (ver Figura 7.12b). O guincho ergue o gancho e, consequentemente, a
tampa (ver Figura 7.12c).
177
a b c
Figura 7.12: a) Parada do contêiner de transporte na borda do tanque, para a retirada dos
parafusos que prendem a tampa ao corpo do contêiner e para passar um cabo pela
argola da tampa.
b) Chegada do contêiner no fundo do tanque, troca dos cabos de sustentação pelo
cabo da tampa.
c) O gancho é erguido e a tampa é retirada
a b
Figura 7.13: a) Utilização de uma ferramenta com vários metros de comprimento para a retirada
da cestinha com lápis de cobalto-60.
b) A cestinha é colocada em um dos cantos do tanque, para não ser atingida no
procedimento de retirada do contêiner de transporte.
178
Então, a tampa é recolocada, o cabo da tampa é trocado pelos cabos de sustentação, o
contêiner é erguido até a borda do tanque, os parafusos são recolocados, o cabo da tampa é retirado,
o contêiner de transporte é içado do irradiador e recolocado no contêiner marítimo e as tampas de
concreto são recolocadas. Neste momento, a operação de carga propriamente dita pode começar.
Os módulos da grade de fontes são retirados e os novos lápis e os que já estão lá serão
alocados em posições determinadas por um programa de geometria de irradiação, que visa
maximizar a distribuição de dose durante o processamento. Se a empresa possuir um programa
desses, ela mesma pode determinar tais posições; caso contrário, o fornecedor enviará uma planilha
com as novas posições. O rearranjo dos lápis é feito por uma equipe enviada pelo fornecedor ou por
uma da própria instalação (desde que autorizada pela CNEN), que utilizam ferramentas com vários
metros de comprimento, uma mesa de alumínio especialmente projetada para essa tarefa e cabos de
aço finos, que serão usados como corda, para descer e suspender a mesa.
Para cada lápis que entra, sai um simulador ou um lápis radiativo com mais de vinte anos.
Neste último caso, eles devem ser devolvidos ao fornecedor, então eles são colocados dentro da
cestinha e a cestinha é colocada dentro do contêiner de transporte e segue todo o procedimento já
mencionado. Com a diferença de que, agora, o contêiner de transporte não está vazio e o
procedimento de devolução ao fornecedor seguirá todos os ritos descritos no item 7.2, só que o
trajeto será invertido.
Antes do contêiner de transporte chegar, esses lápis antigos já deverão ter sido retirados e
deixados no fundo do tanque, dentro, por exemplo, de um balde de alumínio, em um canto
qualquer, que não atrapalhe a operação de descida do contêiner. Os lápis novos na cestinha deverão
ser retirados e colocados em outro balde de alumínio no fundo do tanque e os lápis antigos são
colocados na cestinha e a cestinha é colocada dentro do contêiner de transporte e segue todo o
procedimento normal de retirada do contêiner. Desse modo não é preciso repetir a operação de
descida e subida do contêiner.
No caso de somente serem retirados simuladores, eles sairão no final da carga, junto com a
mesa. A cestinha permanece no fundo do tanque até o final da carga, então, vazia, ela é retirada,
secada, embalada e amarrada em uma das laterais do contêiner de transporte.
Para a operação de carga, é necessário iluminação adicional, que é obtida, mergulhando-se
luminárias na água, que, por ser desmineralizada, atuará como isolante.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Monitores de radiação calibrados e testados devem
acompanhar todo o processo de carga e tudo que estiver saindo do tanque deverá ser monitorado,
para constatar que não houve contaminação dos objetos, ocasionada por um eventual vazamento dos
lápis.
179
8. Reflexão final sobre segurança
Você sabe que tem um bom profissional responsável pela área de segurança, quando não se
lembra do nome dele.
Este ditado popular em administração serve para qualquer área ligada à segurança, inclusive,
a de radioproteção. Claro que isso é uma meia verdade, boas empresas procuram lembrar e valorizar
os profissionais responsáveis pela segurança. Mas não se iluda. Fazendo uma comparação com a
área de vendas, os bons profissionais desse setor são lembrados pelos altos escalões da instituição
sem muito esforço e recompensados pelo seu desempenho, afinal, em última análise, é deles que
depende a sobrevivência financeira da empresa. Por isso, também podem perder rapidamente sua
posição se a desempenharem muito abaixo das expectativas.
A implantação e a manutenção de um bom sistema de segurança têm por objetivo prevenir a
ocorrência de acidentes e de incidentes (as anormalidades devem ser a exceção) e, se eles
ocorrerem, minimizar as suas consequências.
Com o tempo, a área de segurança pode começar a ser esquecida, pois nada acontece, não é
mesmo? Então, mais cedo ou mais tarde, ocorrerá uma daquelas famosas reuniões para cortar custos
e, certamente, alguém mal informado (ou idiota mesmo) irá olhar o investimento em segurança
como despesa e dizer: Por que estamos gastando tanto com segurança? Nunca aconteceu nada.
Isso é verdade, não aconteceu nada porque há um bom sistema de segurança, há
investimento na sua manutenção, há bons profissionais atuando nesse setor, há baixa rotatividade e
uma cultura de segurança implantada. Mas ninguém contesta o colega, por vários motivos: uns
porque acham que a observação dele está correta e outros porque há metas de corte de custos a
serem atingidas e ninguém quer que seja no seu setor. Então, a verba para o setor de segurança é
reduzida.
Mas e o responsável pelo setor citado? Por que ele não se pronuncia? Ora, simplesmente
porque ele não foi convidado para a reunião. Afinal, ninguém se lembra do nome dele, não é
verdade?
Graças a situações como estas, verdadeiras bombas relógios são montadas. A única
diferença é que ninguém sabe quando elas vão explodir. São como roletas russas (ver o início do
capítulo 6). È como dirigir um carro sem cinto de segurança, com os pneus carecas, freios
defeituosos, breque de mão quebrado, sem lanternas e faróis queimados. Para um acidente, é só uma
181
questão de tempo. Eu disse acidente? Desculpem-me, essa situação se assemelha mesmo a uma
morte anunciada.
Para tentar evitar situações desse tipo, é que o setor de radioproteção se reporta diretamente
a ao titular da instalação, estando acima de todos os outros setores. Convém lembrar que o interesse
da administração se reflete nos subordinados e, por isso, o desenvolvimento de uma cultura de
segurança somente será possível se houver o envolvimento da direção da empresa.
O supervisor de radioproteção deve ter certa autonomia tanto administrativa quanto de
verba, não deve precisar de autorização do titular a cada passo que for dar. Ou se confia nele ou
não, é o sistema do capitão do navio. O capitão é um empregado, tem suas responsabilidades e
objetivos a serem alcançados e, dentro do navio (ou seja, dentro das atribuições que lhe foram
conferidas), é a autoridade máxima. Se a direção não está satisfeita com ele ou discorda de seus
métodos, que o demita, mas nunca deve tentar cerceá-lo. Para o supervisor de radioproteção,
convém frisar que o capitão é um chefe e não um ditador.
Algo importante no sentido de não ser um ditador é não chamar a atenção de um
subordinado em público, faça isso discretamente. Se ele responder ou ficar irritado, não dê atenção,
ninguém gosta de levar bronca, mas elas são necessárias e fazem parte do seu trabalho. Se ele for
um bom funcionário, refletirá sobre o que você disse e, depois de algumas horas ou no dia seguinte
(o que é mais provável), seguirá as suas recomendações. As pessoas precisam de um tempo para
poder digerir o que lhes foi dito.
As equipes, que são formadas por pessoas, não são diferentes. É comum, em reuniões de
auditoria, alguém sugerir a instalação de um novo dispositivo de segurança ou a sua atualização e os
membros da reunião quase o lincharem. Isso acontece porque dificilmente uma empresa mantém
uma equipe cujos membros trabalhem exclusivamente com segurança. A regra é que segurança seja
a atividade paralela dessas pessoas (para reforçar a ideia de que a segurança é obrigação de todos).
Originalmente, elas foram contratadas para serem operadores ou técnicas ou gerentes etc., ou seja,
tem outras funções e obrigações que já lhes ocupam bastante o tempo e não precisam e não querem
outras como essas que “São levantadas nas reuniões de auditoria”. Mais uma vez, não se preocupe,
dê um tempo para elas refletirem. Se for uma equipe preocupada com a segurança, no dia seguinte,
no início do expediente, já na sala do café, elas já estarão discutindo como implementar aquela
sugestão.
Convém lembrar que modificações que envolvam mudanças físicas no irradiador ou no
programa do painel de controle necessitam de aprovação do fabricante e da CNEN.
Com relação ao fato de a segurança ser a atividade paralela dos membros da equipe que zela
pela segurança da instalação, o supervisor de radioproteção não é exceção. Ele pode ser o
182
responsável pelo controle de qualidade ou pela parte elétrica, ou mecânica, ou eletrônica, ou civil
etc. Ele só não deve ser o responsável pela produção, por ser antagônica à segurança. A pressão que
esse posto sofre para o cumprimento das metas, com certeza, o levará a deixar a segurança em
segundo plano, mesmo que inconscientemente.
Lembre-se de evitar o pânico generalizado em situações anormais (começando por você
mesmo). Segundo os bombeiros, é muito comum em incêndios morrerem mais pessoas pisoteadas
do que queimadas.
Para concluir. Você, supervisor de radioproteção, é um herói, já salvou muitas vidas, mas
não é um herói querido, simpático, daqueles que todos querem apertar a mão e tirar fotos. Não, você
é considerado o chato, aquele que pode colocar observações na minha ficha, no caso de eu ser
flagrado em uma conduta insegura ou ocasionar a minha mudança de setor ou, até mesmo, a minha
demissão! Certamente, será xingado pelas costas inúmeras vezes. Não se importe, a natureza
humana é assim mesmo. Se você estivesse no lugar deles, faria a mesma coisa. Tenha orgulho da
sua função, eu tenho muito de ser um supervisor de radioproteção que já salvou vidas, sem que
ninguém percebesse e pretendo continuar assim, pois quem lida com segurança somente é muito
bem lembrado quando acontece um acidente.
183
9. Questões de exames específicos da CNEN
A seguir, são apresentadas questões reais de exames específicos da CNEN, para obter a
certificação de supervisor de radioproteção para irradiadores gama. São questões que exigem
respostas dissertativas, ou seja, questões abertas que aceitam mais de uma interpretação e, portanto,
mais de uma resposta. Por isso, na segunda parte deste capítulo, serão apresentadas sugestões de
resposta.
9.1 Questões
1) A Figura a seguir mostra uma planta baixa de um irradiador gama de categoria IV.
Indique a localização de 15 sistemas de segurança intrínsecos e descreva a função de cada um.
185
5) O que você, na condição de supervisor de radioproteção, faria nos seguintes casos:
a) A fonte ficou presa na posição de exposição.
b) Alguns lápis de cobalto-60 saíram dos módulos e caíram na sala de irradiação.
c) Saiu cobalto-60 dentro de um contêiner.
186
8) Elabore uma árvore de falhas para um irradiador gama de categoria IV, levando-se em
consideração a exposição de um operador devido ao travamento da grade de fontes, provocada pela
colisão de um contêiner ou de um produto com ela. Indique quais seriam os meios para evitar e
mitigar as suas consequências aplicando a filosofia de projeto de defesa em profundidade.
10) Antes da autorização para operação, uma inspeção verificou que a porta de acesso de
pessoal não estava na localização prevista no projeto aprovado na licença de construção. Com
relação a essa situação:
a) Qual foi a irregularidade cometida?
b) Qual o ato administrativo que deveria ter sido providenciado para que essa irregularidade
não houvesse ocorrido?
c) Cite 3 itens técnicos a serem apresentados a CNEN para uma nova aprovação.
12) Considere um irradiador da categoria IV, pela classificação da Safety Series 107 (agora
pela SSG-8):
a) Os procedimentos passo a passo relativos à segurança radiológica para que o operador
coloque em funcionamento o irradiador. Salientar a importância da chave mestra.
b) Cite pelo menos três itens relacionados à segurança da piscina desde o projeto até os
procedimentos de manutenção preventiva.
187
c) Cite pelo menos cinco situações (acidentes ou anormalidades) que devem constar no
plano de emergência.
d) Cite pelo menos cinco itens de segurança a serem testados e a frequência de realização:
diário, semanal, mensal, trimestral, semestral ou anual.
13) Uma instalação tem intenção de aumentar a atividade de um irradiador em 7400 TBq
(200 kCi) de cobalto-60. A troca será realizada pelo fornecedor das fontes. Como supervisor de
radioproteção, cite três itens importantes para a segurança radiológica, nas seguintes situações:
a) Na operação de carregamento e montagem das fontes nos módulos.
b) Na liberação final da instalação.
15) Descrever:
188
1 Indicação da grade de fontes na posição de repouso no painel de controle: Somente acende
quando a grade de fontes estiver nesta posição.
2 Chave: Só sai do painel quando girada para a posição desliga e só há uma em uso.
3 Monitor de radiação portátil: Está preso à chave e com ele, o operador deve verificar o
nível de radiação durante todo o tempo em que estiver dentro do irradiador. Antes de entrar, ele
deve verificar se a bateria está carregada, selecionar a escala mais sensível e testá-lo na fonte de
baixa atividade.
4 Monitor de bolso: Deve ser utilizado durante todo o tempo em que o operador estiver
dentro do irradiador. Antes de entrar, ele deve verificar se a bateria dele está carregada e testá-lo na
fonte de baixa atividade.
5 Monitor de radiação interna: Verifica os níveis de radiação nas proximidades da sala de
irradiação.
6 Sinal sonoro e visual de movimentação da grade de fontes: Indica que a grade de fontes
está em trânsito entre a posição de exposição e a de repouso e vice-versa. Em geral, localiza-se
sobre a porta de entrada.
7 Porta de acesso: Somente pode ser aberta com a chave presa ao monitor, se a grade de
fontes estiver na sua posição de repouso, se não houver níveis de radiação internos e se o nível de
água do tanque estiver acima do Nível de Água Baixo.
189
8 Barra antipânico: permite abrir a porta de acesso rapidamente pelo lado de dentro.
9 Microswitch da porta de acesso: Detecta o estado da porta do labirinto. Se durante uma
irradiação ela se abrir por problemas técnicos ou for arrombada ou o detector quebrar, o
processamento será interrompido e a grade de fontes retornará imediatamente para a sua posição de
repouso.
10 Fotocélulas: Detectar entrada não autorizada (arrombamento) ou uma tentativa de
entrada, burlando os sistemas de segurança. Ao serem acionadas, a grade de fontes irá
imediatamente para a posição de repouso.
11 Obstáculo físico: ao ser removido, ocasiona o fechamento da válvula de ar do guincho,
impossibilitando a subida da grade de fontes. Desse modo, mesmo que haja um sinal elétrico
permitindo o seu acionamento, ele não erguerá a grade de fontes por falta de ar comprimido.
12 Blindagem: Atenuar os níveis de radiação por absorção para níveis abaixo da radiação de
fundo local.
13 Labirinto: Atenuar os níveis de radiação por espalhamento para níveis abaixo da radiação
de fundo local.
14 Sistema de monitoramento da água do tanque: Informa o nível de água do tanque e
providencia a manutenção do seu nível. Se o nível estiver abaixo do mínimo, a porta de acesso é
bloqueada e um sinal sonoro e visual é acionado no painel de controle.
15 Sistema de desmineralização da água do tanque: Mantém condutividade da água baixa,
para evitar a corrosão dos lápis de cobalto-60.
16 Água do tanque: Atenuar os níveis de radiação por absorção, provenientes da grade de
fontes na posição de repouso, para níveis abaixo da radiação de fundo local.
17 Exaustor de ar: Retira o ozônio formado pela irradiação do ar
18 Cabo de parada de emergência: Ao ser puxado, o sistema de transporte de contêineres
será parado, a energia elétrica que alimenta a válvula elétrica do guincho será cortada e o ar
comprimido remanescente será expurgado.
19 Partida interna: Somente pode ser acionada com a chave presa ao monitor, que é a mesma
que aciona a partida no painel de controle.
21 Sinais internos (sonoro e visual): Avisam para quem mais estiver dentro do irradiador
que o operador acionou a partida interna.
22 Monitor de radiação de área de saída de contêineres: Monitora os níveis de radiação nos
contêineres que estão saindo do irradiador. Se forem detectados níveis acima do estabelecido,
significa que material radioativo proveniente da grade de fontes caiu dentro de um dos contêineres.
190
Neste caso, o sistema de transporte será parado, a fonte irá para a sua posição de repouso e soará um
alarme de evacuação de área.
Creio que se pode parar por aqui para atender aos objetivos do examinador.
2) A resposta para esta questão está na Safety Series 107 de 1992, que foi substituída pela
Specific Safety Guide No 8 de 2010, que não os explica, apenas os cita de passagem e remete a
Safety Series 115 de 1996 cuja explicação é bem superficial, comparada à da Safety Series 107.
Todas elas são publicações da IAEA.
Portanto, pode ser que questões como essa não sejam mais pedidas em exames da CNEN,
mas como eu gosto muito da filosofia de defesa em profundidade, responderei a esta pergunta com
base no conteúdo da Safety Series 107.
Defesa em profundidade: Utilizar uma série de níveis (ou estágios) de proteção, em termos
de equipamentos e procedimentos, com o objetivo de minimizar a intervenção humana, prevenir
acidentes ou minimizar as suas consequências.
Redundância: usar mais do que o número mínimo de itens necessários para cumprir
determinada tarefa.
Diversidade: é aplicada aos sistemas redundantes, que possuem a mesma função, mas têm
princípios de funcionamento diferentes ou são de fabricantes diferentes ou estão submetidos a
diferentes condições de operação.
Independência: separação física e funcional entre os sistemas de segurança.
Exemplo:
No procedimento de entrada: garantia de que a grade de fontes continuará na posição de
repouso. Há dois sistemas de segurança:
Switch da porta de acesso: Quando a porta é aberta, este switch interrompe a alimentação
elétrica do guincho da grade de fontes e qualquer vestígio de ar comprimido que tenha restado nele
é liberado.
Obstáculo físico de fechamento da válvula de ar do guincho: quando o obstáculo é
removido, a válvula que permite a passagem de ar para o guincho da grade de fontes é fechada e
qualquer vestígio de ar comprimido que tenha restado nele é liberado.
Dois níveis de proteção: são redundantes porque desempenham a mesma função (impedem a
subida da grade de fontes); são diversos porque têm princípios de funcionamento diferentes (um é
elétrico e o outro, físico); são independentes porque a quebra de um não implica a quebra do outro.
191
3) a) A árvore de falhas de um irradiador é fornecida pelo fabricante do equipamento e
acompanha o manual de instruções. A de incêndio, apresentada a seguir, foi construída com base
nas informações da SSG-8. Tanto o acionamento do detector de fumaça ou de temperatura
implicará a entrada em ação dos quatro sistemas mostrados na segunda coluna. Mas o sistema de
bombear água sobre a fonte precisará de quatro eventos e da ação do operador para ocorrer.
192
Cenário 2: A grade de fontes foi para a posição de repouso: Realizar o procedimento de
entrada no irradiador para avaliar a situação junto com a brigada de incêndio e/ou os bombeiros.
Permanecer no interior do irradiador, monitorando os níveis de radiação com o monitor calibrado
enquanto durar o combate ao incêndio. Após o incêndio se extinguir, realizar um levantamento
radiométrico completo, entrar em contato com o fabricante do irradiador e com a CNEN para relatar
o ocorrido e não entrar em operação sem a permissão da CNEN e a recomendação do fabricante do
irradiador.
4) Tanque: É preenchido com água, aloja a grade de fontes na sua posição de repouso (no
fundo do tanque) e a sua profundidade permite a atenuação da radiação a níveis abaixo da radiação
de fundo local. As correntes de convecção produzidas pelo aquecimento, provocado pelo material
radioativo, auxiliam no resfriamento da grade de fontes.
Sistema de desmineralização: Retira as impurezas da água do tanque, como os haletos (por
exemplo: cloretos e fluoretos, que são conhecidos por serem corrosivos para o aço inoxidável),
evitando a corrosão da grade de fontes e dos lápis de cobalto-60. Para isso, a água do tanque é
continuamente recirculada por dentro desse sistema.
A condutividade máxima (resistividade mínima) deve ser de 1000 µS/m ou 1 mS/m (1
kΩ.m). As medidas de condutividade (resistividade) servem como indicador de níveis
potencialmente altos de haletos.
5) Vamos presumir que já houve uma verificação que constatou a veracidade dessas
ocorrências, com exceção do item “c”.
a) A fonte ficou presa na posição de exposição: Não tentar entrar no irradiador e não agir
sozinho. Avisar o titular da instalação e entrar em contato com o fabricante do equipamento para
pedir orientações e com a CNEN para informar a ocorrência. As ações recomendadas pelo
fabricante devem ter o aval da CNEN para serem executadas. Enquanto isso, a porta do irradiador
deverá ser lacrada e a chave do painel guardada, juntamente com o monitor de radiação.
b) Lápis de cobalto-60 saíram dos módulos e caíram na sala de irradiação: Praticamente o
mesmo procedimento do item “a”, acrescido da instrução de não tentar empurrar os lápis para
dentro do tanque, mesmo que seja pelo lado de fora, por exemplo, utilizando a abertura do cabo do
guincho ou deslacrando as aberturas de emergência no teto do irradiador. Provavelmente, o
fabricante terá que enviar uma equipe para efetuar o regate dos lápis e a CNEN supervisionará a
operação.
193
c) Saiu cobalto-60 dentro de um contêiner: Ao sair cobalto-60 dentro de um contêiner, ele
será detectado pelo monitor de área da porta de saída de produtos, o que parará imediatamente o
sistema de transporte de contêineres (o material radioativo não chegará a sair totalmente do
irradiador), a grade de fontes retornará para a posição de repouso e um alarme sonoro e visual será
acionado. Este último provocará a evacuação do setor em direção ao ponto de encontro. O
Supervisor de radioproteção deve arranjar um monitor de radiação calibrado e testado (deve-se ter
um de reserva para essas situações em outro setor da instalação, assim como uma fonte radioativa
de baixa atividade, para testar a escala mais sensível), para verificar se o alarme foi real ou falso
(devido, por exemplo, a um mau funcionamento do monitor de área da porta de saída de produtos).
Se a ocorrência for real, o setor deve ser lacrado, o titular da instalação deve ser avisado, o
fabricante do equipamento deve ser contatado, para pedir orientações ou para enviar uma equipe de
emergência e a CNEN deverá ser informada da ocorrência.
No piso térreo:
1 Painel de controle
2 Trincheira que acomoda os cabos que vão do painel aos equipamentos dentro do irradiador
3 Porta de acesso
4 Frestas da porta de acesso
5 Porta de entrada de contêineres
6 Porta de saída de contêineres
7 Filtro de ar do sistema de exaustão
8 Filtros do sistema de deionização
9 Sistema de refrigeração da água
10 Trincheira que acomoda os canos de água do sistema de recirculação de água.
11 Superfície da água do tanque
12 a 23 Pontos em torno da blindagem, com o objetivo de verificar a existência de fissuras
194
Piso térreo
No teto:
24 a 27 Frestas das tampas de concreto
28 Sobre a tampa de concreto superior
29 e 31 Cabos guias da grade de fontes
30 Orifício no teto para o cabo do guincho
32 a 40 Pontos sobre o teto, com o objetivo de verificar a existência de fissuras
Teto
195
7)
Primeiro erro: Desconsiderou o sinal do monitor de radiação interna, que lhe dava a pior
condição (o painel indicava a grade de fontes na posição de repouso, mas o monitor de radiação
interna indicava a grade de fontes na posição de exposição).
Segundo erro (e o pior deles): Agiu sozinho, sem obter consentimento de seus superiores.
Por meio de um “truque”, conseguiu que o monitor de radiação interna liberasse a porta e seguiu o
procedimento de entrada normal, abrindo a porta com a chave presa ao monitor portátil.
Alternativamente, ele poderia ter subido no teto do irradiador e medido o nível de radiação pelo
orifício do cabo do guincho. Deste modo, constataria que a grade de fontes não estava na posição de
repouso.
Terceiro erro: Colocou o monitor na escala mais sensível, mas não o testou contra a fonte de
baixa atividade (mantida dentro da fechadura da porta) antes de entrar. Essa escala não estava
funcionando.
Quarto erro: Não notou o forte cheiro de ozônio, conforme ia entrando.
Quinto erro: Não notou a ausência do efeito Cherenkov, que é aparente quando a grade de
fontes está no fundo do tanque, que, naquele irradiador, era visível ao entrar na sala de irradiação e
olhar sob as esteiras.
196
h) O titular da instalação deveria implementar auditorias internas de segurança, pelo menos,
uma vez ao ano.
Titular da Instalação
2 supervisores de radioproteção ou Diretoria
197
Documentos:
Plano de radioproteção
Manuais de procedimento
Instruções de segurança
Programas de treinamento
Manuais dos equipamentos
Relatório mensal de leitura de dosímetros
Certificados de calibração dos monitores de radiação
Classificação das áreas livres e restritas
Plantas gerais e detalhadas
Plano de transporte
Observação: o plano de radioproteção já contém os manuais de procedimento, as instruções
de segurança, os programas de treinamento e a classificação das áreas livres e restritas, mas como é
uma questão de prova, é aconselhável detalhar, para mostrar ao examinador o que você sabe.
Registros:
Atas das reuniões
Doses individuais
Fichas individuais
Manutenções (semanais, mensais, trimestrais, semestrais e anuais)
Levantamento radiométrico
Histórico dos monitores de radiação
Treinamentos: iniciais, periódicos, de operadores e de qualificação
Identificação dos trabalhadores
Acidentes e incidentes
Inventário das fontes radioativas, inclusive as de teste.
Normas:
3.01 Diretrizes básicas de radioproteção, CNEN
Safety Series 107, IAEA
Specific Safety Guide 8, IAEA
3.02 Serviço de radioproteção, CNEN; praticamente todos os documentos e registros
discriminados são exigidos por essa norma.
5.01 Transporte de materiais radioativos, CNEN
198
6.02 Licenciamento de instalações radiativas, CNEN
10)
a) O projeto apresentado e aprovado pela CNEN foi alterado sem a permissão dela.
b) Deveria ter havido uma comunicação formal da direção da instalação para a CNEN,
solicitando essa alteração, com a justificativa dos motivos, com a anuência do fabricante e
apresentação dos novos desenhos. Somente após a aprovação da CNEN é que a direção da
instalação poderia realizar essa alteração (a partir desse ponto, certamente a inspeção será mais
rígida, pois os inspetores irão querer se certificar de que esta foi a única alteração não comunicada).
c) Os três documentos são:
A justificativa para a mudança.
Declaração do fabricante, autorizando a mudança.
Análise, mostrando que essa mudança não comprometerá a segurança.
Após a aprovação da mudança pela CNEN, entrar novamente com o pedido de licença de
operação, apresentando os documentos solicitados para a obtenção dela, devidamente atualizados.
Observação: essa irregularidade já teria sido percebida na obtenção da terceira licença, que é
a de importação de material radioativo. Para irradiadores gama de categoria IV, são necessárias
quatro licenças: Prévia (pedindo a aprovação do terreno), de Construção, de Importação do material
radioativo e de Operação. No caso dos aceleradores de categoria II, só não há a licença de
importação de material radioativo. Para maiores detalhes, ver a norma de licenciamento de
instalações radioativas no sítio da CNEN.
11)
Quanto ao item “a”, esse sistema de segurança indica que há material radioativo, saindo
dentro de um contêiner ou carrier.
No caso do item “b”, eu presumo que esse: “alarme visual e sonoro de radiação na porta de
entrada de pessoal” se origina do monitor de radiação interna, que é ativado automaticamente
quando a fonte está na sua posição de repouso, indicação esta providenciada pelo “pedal” no fundo
do tanque, o que é descrito pelo item “c”.
199
O que se pode deduzir dessa situação é que o material radioativo, de alguma forma, saiu da
fonte e caiu dentro de um tote ou carrier na sala de irradiação. Quando o tote ou carrier se
aproximou da porta de saída de materiais, o monitor da saída de produtos detectou um nível
anormal de radiação, acionou o alarme e desligou o guincho. Quando a fonte chegou ao fundo do
tanque, o monitor de radiação interna foi ligado e os seus sensores de radiação, que ficam próximos
à sala de irradiação, lhe enviaram a informação de que havia material radioativo naquele local, o
que ocasionou o acionamento do seu alarme visual e sonoro.
Quais os sistemas de segurança que impedem a ocorrência deste evento, ou seja, a saída dos
lápis de sua grade?
São os seguintes:
1 Os lápis de cobalto-60 são firmemente encaixados dentro dos módulos e os módulos são
encaixados dentro da grade, o que forma o conjunto da fonte radioativa ou grade de fontes.
2 Na parte de cima da grade, há fechos, que impedem o lançamento dos módulos, caso a
fonte suba muito rapidamente, o que ocasionaria uma parada abrupta.
3 O material de confecção dos lápis, dos módulos e da grade é de aço inoxidável especial,
proporcionando mais resistência à corrosão.
4 O sistema de desmineralização contínuo impede o acúmulo de radicais livres na água, que
poderiam afetar a integridade da grade, dos módulos e dos lápis.
Observação: no caso específico de os lápis de cobalto-60 sofrerem corrosão, o material
radioativo poderia sair deles, mas como o cobalto-60 é mais denso do que a água, este se depositaria
no fundo do tanque.
5 Na posição de exposição, a grade fica entre placas de aço inoxidável, o “shroud” cuja
função é impedir o contato direto da grade com os contêineres ou carrieres. Desse modo, em uma
eventual saída de lápis da fonte, eles bateriam no “shroud” e cairiam para o fundo do tanque, não
havendo a possibilidade de queda dos lápis nos totes ou carrieres, para serem transportados para
fora da blindagem biológica.
6 A colisão dos totes ou carrieres com o “shroud” e com a fonte é evitada por sistemas
físicos de guias que os impedem de se desviarem do seu trajeto. Se houver desvio, há um sistema
que recolhe a fonte para o fundo do tanque, caso haja uma colisão do tote ou carrier com a estrutura
que envolve a fonte na posição de exposição.
7 O ciclo de movimentação dos totes ou carrieres na sala de irradiação deve ser feito dentro
de um certo período de tempo; caso contrário, a máquina será desligada e, consequentemente, a
fonte irá para o fundo do tanque.
200
8 Se, mesmo assim, houver a saída de material radiativo da fonte para a sala de irradiação
e/ou para dentro dos totes/carrieres, essa ocorrência será detectada, respectivamente, pelo monitor
de radiação interna, quando a fonte for para a posição de repouso, e pelo monitor de área de saída
de produtos.
Temos, então, oito sistemas de segurança, sendo todos eles redundantes, diversos e
independentes.
12)
a) Para esse procedimento, contamos com verificações e procedimentos muito importantes,
que devem ser obrigatoriamente realizados a cada saída, pois nos garantem que ninguém será
esquecido dentro do irradiador e que a fonte só sairá da posição de repouso quando todas as
condições de segurança forem satisfeitas.
A sequência do procedimento de saída do irradiador é a descrita a seguir, sendo que o
operador é sempre o último a sair:
• Acionar a partida interna com a chave (que deve estar presa ao monitor), localizada no final da
sala de irradiação. Serão ativados os sinais internos, sonoro e visual, indicando que a máquina
será ligada.
• Percorrer o labirinto até a entrada, assegurando-se de que não há mais ninguém dentro do
irradiador.
• Recolocar o obstáculo físico (fechar a cancela ou puxar e prender a corrente) de fechamento da
válvula de ar do guincho.
• Fechar a porta.
• Acionar a partida no painel com a chave (que está presa ao monitor).
• Prestar atenção nos sinais (sonoro e visual) que indicam que a grade de fontes está se
movimentando.
• Observar se o sinal de grade de fontes na posição de exposição acende no painel.
A chave que aciona a partida interna e a do painel é a mesma e só existe uma em uso. Ela
está presa ao monitor de radiação utilizado exclusivamente pelo operador. Isso é uma garantia de
que nenhum outro funcionário poderá ligar a máquina, além do operador.
201
b) O terreno em que será construído o irradiador (e, consequentemente, o tanque) deverá ser
capaz de suportar dezenas de metros cúbicos de água sem afundar.
Quando o tanque for fixado à sua “cama” de concreto, o cimento deve ser depositado
lentamente e com cuidado entre a cama e o tanque, para evitar que ele sofra envergaduras, devido à
pressão do cimento.
O tanque deve ser feito de aço inoxidável, resistente à corrosão, provocada por exposição
permanente à água e com o menor número de emendas possível.
A qualidade da água, com relação à resistividade e à limpeza, deve ser checada
periodicamente.
O volume de reposição de água deve ser medido e registrado periodicamente. Um aumento
acima da média histórica pode ser um indício de vazamento.
A boia do tanque e todas as suas funções (reposição e alarmes) devem ser checadas
periodicamente.
202
Os níveis de condutividade da água que vem e vai para o tanque;
Sistemas de parada de emergência internos e externos.
Mensalmente:
Monitor de saída de produtos;
Sistema de controle do nível da água do tanque;
Detectores de calor e fumaça.
Semestralmente:
Cabo do guincho;
Guarda-corpo.
203
Deve ser realizado o teste de esfregaço da fonte.
A mesa, as ferramentas e as luminárias utilizadas na montagem da fonte devem ser retiradas
e monitoradas quando estiverem saindo do tanque.
O calço do guincho deve ser removido.
Deve ser realizado um novo levantamento radiométrico.
Observação:
As ferramentas citadas aqui são formadas por tubos de metal (alumínio) de cerca de um
metro de comprimento, que podem ser rosqueados uns aos outros para formarem uma haste de
vários metros de comprimento, em cuja extremidade pode ser acoplada uma ponta, sendo que cada
ponta tem uma função diferente.
Há pontas que servem para retirar os módulos, pinçar os lápis etc. Um ponto importante é
que todos esses tubos de metal são abertos de ambos os lados e ainda possuem pequenos furos nas
suas laterais. A função dessas aberturas é permitir a entrada de água, quando essas ferramentas
forem mergulhadas no tanque e, consequentemente, não permitir a formação de um duto de ar, por
onde poderia sair um feixe de radiação, violando a blindagem realizada pela água do tanque.
14)
a) A licença de operação deve ser cancelada
b)
b1) Exigir do titular da instalação que todas as vias de acesso à sala de irradiação e ao
irradiador sejam trancadas (porta de acesso e de saída e entrada de contêineres, todas as portas de
acesso ao galpão onde se encontra a máquina). Somente terão acesso ao irradiador o titular e o
supervisor de radioproteção para monitorar o estado geral do equipamento e, principalmente, o
nível da água do tanque. Se nenhum deles for localizado ou se negarem a realizar essa tarefa, a
CNEN designará um profissional para executá-la.
b2) Exigir do titular da instalação a implementação de vigilância armada 24 horas por dia,
sete dias por semana, para evitar o acesso de ladrões ou curiosos à instalação e, consequentemente,
ao material radioativo. Caso o titular não tenha condições ou se recuse a implementá-la, a CNEN o
fará.
b3) Entrar na justiça com pedido de retirada e guarda das fontes radioativas.
b4) Se a decisão judicial for favorável, o titular ou a CNEN providenciará à retirada das
fontes e as transportará para uma instalação adequada, provavelmente para um dos institutos de
204
pesquisa nucleares existentes no Brasil, como o IPEN (SP), IEN (RJ), IRD (RJ), CDTN (MG) ou
CRCN (PE).
b5) Após a retirada do material radioativo, deve-se proceder a um levantamento
radiométrico do tanque, do sistema de desmineralização, dos filtros de ar e a análise de amostras de
água em detectores mais sensíveis do que o Geiger, como os de cintilação. Sendo todos os
resultados negativos, pode-se considerar que essa instalação não é mais radioativa, ela foi retirada
de operação.
15)
a) Irradiador gama de categoria:
I: Autoblindado: a fonte está completamente encerrada em um contêiner seco, feito de
material sólido, que a blinda e a encerra permanentemente, de tal modo que o acesso humano às
fontes seladas e ao volume sob irradiação não é fisicamente possível. O material a ser irradiado
deve ir até a fonte.
II: Panorâmico e com armazenagem da fonte a seco; quando a fonte não está sendo utilizada,
ela é recolhida para um contêiner de armazenamento seco, feito de material sólido, para blindá-la.
Quando se deseja iniciar o processamento, ela é içada de sua blindagem. Para que as pessoas na
parte externa do irradiador não sejam expostas, há uma blindagem externa de concreto.
III: Autoblindado com água: a fonte é fixada no fundo de um tanque preenchido com água, o
que implica que o material a ser irradiado deve ir até a fonte. A função dessa coluna de água é
tripla: a primeira e a mais importante é a de blindagem da radiação emitida, a segunda é a de
restringir o acesso humano à fonte e ao volume sob irradiação, a terceira é a de dissipar do calor
gerado pela fonte (por meio de correntes de convecção naturalmente formadas).
IV: panorâmico e de armazenagem da fonte em água: A fonte possui duas posições: a de
repouso e a de exposição. Na posição de repouso, a fonte está no fundo de um tanque com vários
metros de profundidade cheio de água cuja função é blindar a radiação, no caso de haver a
necessidade de entrar na sala de irradiação, por exemplo, para efetuar algum reparo no sistema de
transporte ou uma inspeção de rotina ou para colocar alguma mercadoria. Na posição de exposição,
a fonte é içada para fora do tanque para irradiar os produtos. Como no caso do irradiador de
categoria II, deve haver uma blindagem de concreto, para que as pessoas na parte externa não sejam
irradiadas, quando a fonte estiver na posição de exposição.
205
b) Pelo menos, dois sistemas de segurança inerentes a cada um:
Categoria I: Fonte permanentemente dentro de uma blindagem seca, o acesso humano às
fontes seladas e ao volume sob irradiação não é fisicamente possível, o material deve ir até a fonte.
Categoria II: Blindagem externa, monitor de radiação interna, indicador de posicionamento
da grade de fontes, sistemas de intertravamento para a liberação da porta de acesso.
Categoria III: Monitor de radiação de área sobre o tanque, fonte permanentemente no fundo
de um tanque preenchido com água, sistema de monitoramento do nível e de reposição de água do
tanque, grade guarda-corpo, sistema de desmineralização.
Categoria IV: Blindagem externa, monitor de radiação interna, sistema de monitoramento do
nível e de reposição de água do tanque, sistema de desmineralização, grade guarda-corpo, indicador
de posicionamento da grade de fontes, sistemas de intertravamento para a liberação da porta de
acesso, monitor de área na porta de saída dos contêineres.
206
Referências:
ATOMIC ENERGY COMMISSION (Division of Technical Information). Food preservation by
irradiation, Understanding the atom series, EUA, 1968
CALVO, W. A. P.; RELA, P. R.; SPRENGER, F. E.; COSTA, F. E.; OMI, N. M.; VIEIRA, J. M. A
Small Size Continuos Industrial Gamma Irradiator. Radiat. Phys. Chem, v. 71, p. 563-565,
2004
BIRAL, A. R. Radiações ionizantes para médicos, físicos e leigos, 1 ed. Florianopolis: Insular,
2002.
DIEHL, J. F. Safety of irradiated foods, Marcel Dekker Inc, New York, 1995
FAIRAND, B. P. Radiation sterilization for health care products. New York, N. Y.: CRC Press,
2002
207
INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY, The radiological accident in Hanoi, Vienna,
1996d.
JOHNS, H. E.; CUNNINGHAM, J. R. The Phisics of radiology, 4 ed. Springfield, Ilinois: Charles
C. Thomas, 1983.
OKUNO, E. Radiação: efeitos, riscos e benefícios. ed. Harbra ltda., São Paulo, 1998.
OKUNO, E.; YOSHIMURA, E. M. Física das radiações, Oficina de textos, São Paulo, 2010
SOMMERS, C. H.; FAN, X. Food irradiation, research and technology, Blackwell Publishing
Ltd, Ames, lowa, 2006. Chapter 2, ADVANCES IN GAMMA RAY, ELECTRON
BEAM,AND X-RAY TECHNOLOGIES FOR FOOD IRRADIATION Marshall R.
Cleland, Ph.D.
UNSCEAR 2008 - United Nations Scientific Commite on the Effects of Atomic Radiation. Sources
and effects of ionizing radiation, United Nations, New York, 2010*.
208
Seção de apêndices
Interação da radiação gama e X
com a matéria
Interação da radiação gama e X com a matéria
Com que energia a radiação eletromagnética torna-se ionizante? A partir de 12,4 eV; faixa do
ultravioleta “duro” (quase raios-X) [Biral, 2002]
Como se dá a interação das radiações ionizantes eletromagnéticas (gama e X) com a matéria? Por
vários mecanismos, mas os principais são três:
• Efeito fotoelétrico;
• Efeito Compton;
• Produção de pares.
Efeito Fotoelétrico [Biral, 2002; Eisberg e Resnick, 1986; Johns e Cunnigan, 1974; Okuno,
1988]
Ocorre quando um elétron ligado (aquele que está “orbitando” o núcleo do átomo) é ejetado, pela
absorção completa de um fóton incidente (ver Figura 1).
1
A Energia cinética do elétron ejetado será:
K = h.f – w
Onde:
K = energia cinética do elétron ejetado;
h.f = a energia do fóton incidente;
w = força de ligação do elétron com o átomo.
Os ossos feitos de cálcio (Z=20) absorverão mais radiação do que os tecidos formados de carbono
(Z=6) e água (ZH=1; ZO= 8), em um cálculo grosseiro:
203=8000 ; 63+83+2=730
8000/730 ≈ 11 vezes mais absorção
Simplificadamente: Os fótons “colidem” com os elétrons ligados, “da mesma forma que duas bolas
de bilhar”, ou seja, há uma transferência de energia do fóton incidente para o elétron (ver Figura 3).
2
Figura 3: Representação esquemática do efeito Compton
Características:
• Energia de ligação entre os elétrons mais externos é desprezível (exceto para núcleos com
“Z” muito grande).
• A energia cedida ao elétron (K) é muito maior do que a energia de ligação:
K = Eo – E1 – w
Onde:
K é a energia cinética do elétron ejetado;
Eo é a energia do fóton antes da colisão;
E1 é a energia do fóton após a colisão.
Sendo: Eo – E1 >> w
Teremos que: K ≈ Eo – E1
Conclusão: A energia transferida ao elétron pelo fóton, praticamente, independe dos elementos que
estão sendo irradiados.
Ou seja, o número de elétrons por cm3 que o material a ser irradiado contém. Dedução de De-:
3
Mas “Ne” é constante para a maioria dos elementos leves, pois:
Sabendo que 6.02 x 1023 (número de Avogadro ou NA) átomos de um elemento correspondem
exatamente ao número de massa atômica (A) em gramas desse elemento (para qualquer elemento da
tabela periódica), pode-se estabelecer a seguinte regra de três:
E obter:
Número de Avogadro NA
__________________________ _____
Número de átomos / grama do elemento = =
Massa atômica do elemento A
E que:
Número de e- do elemento = Z (número atômico do elemento)
Temos:
NA Z
______ x __
Ne = Z = x NA
A A
Z 1
≈
__ ___
A 2
Então:
NA 6,02 x 1023
≈
______ ______
Ne = e- / g
2 2
Ne ≈ 3,01 x 1023 e- / g
4
Concluindo: De- = Ne.d ≈ 3,01 x 1023 . d (e- / cm3), para a maioria dos elementos leves da tabela
periódica, que são os que compõem a maior parte dos materiais.
Um fóton de alta energia perde toda a sua energia “h.f” em uma interação com o campo
eletrostático do núcleo de um átomo, criando um par elétron – pósitron com certa energia cinética
(ver Figura 4).
Um pósitron é uma partícula que tem todas as propriedades do elétron, exceto o sinal de sua carga,
que é positivo.
Isso é explicado pela famosa equação de Einstein de transformação de energia em matéria e vice-
versa:
E = M.c2
5
A energia de repouso do elétron é de 0,51 MeV. Portanto, a energia mínima do fóton, para ocorrer
esse efeito, é de 1,02 MeV. Mas para que a produção de pares seja um fenômeno significativo, o
fóton deverá ter energias muito maiores.
Para a água, o efeito de produção de pares é dominante a partir de: 107 eV. Acima desse nível, os
elétrons e pósitrons produzidos terão energias suficientes para ionizar outros átomos.
Quando o pósitron perder quase toda a sua energia cinética por colisões sucessivas e encontrar um
elétron, há a aniquilação de ambos, com a produção de dois fótons de mesma direção, energia e
sentidos opostos (ver Figura 5). No caso do elétron, ele será capturado por um átomo e passará a
fazer parte de sua coroa eletrosférica.
6
Figura 6: Predominância, em termos de energia e número atômico, do efeito fotoelétrico, do efeito
Compton e da produção de pares [Attix e Roesch, 1968].
Referências
ATTIX, F., H.; ROESCH, W., C. Radiation dosimetry. 2 ed., v. 1. New York and London:
Academic Press, 1968
BIRAL, A. R.. Radiações ionizantes para médicos, físicos e leigos. Florianópolis, S.C.: Insular,
2002
EISBERG, R.; RESNICK, R. Física quântica átomos, moléculas, sólidos, núcleos e partículas.
4ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986
JOHNS, H., E.; CUNNIGHAM, J., R. Physics of radiology. Springfield: Charles C. Thomas, 1974
OKUNO, E. Radiação: efeitos, riscos e benefícios. ed. Harbra ltda., São Paulo, 1988
7
Exemplo de manual e de planilha
da manutenção semanal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:1/3
Título: Manual da Manutenção Semanal Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araújo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
Manual da semanal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:2/3
Título: Manual da Manutenção Semanal Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araújo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
3. Resfriador de ar
3.1 pressão baixa (suction): anotar esta pressão, que deve estar ente 20 e 25 psi.
3.1 pressão alta (head): anotar esta pressão, que deve estar ente 150 e 200 psi.
4. Linhas de ar:
4.1 drenar o pulmão: abrir a válvula do fundo do tanque externo dos compressores
para retirar a água acumulada.
4.2 drenar os copos dos reguladores: abrir a válvula do fundo dos copos dos
reguladores de pressão para retirar a água acumulada.
4.3 ausência de vazamentos: a linha não deve apresentar vazamentos e, se houver, os
mesmos deverão ser sanados.
4.4 pressão de saída do compressor (110 psi): anotar esta pressão e verificar se está
dentro do nível de referência.
4.5 manômetros: anotar e checar a pressão dos manômetros e, se necessário, ajustar
para os valores de referência.
4.5.1 guincho da fonte 2 (50 psi).
4.5.2 guincho das fontes 1 e 3 (40 psi).
4.5.3 P9 e P8 (40 psi).
4.5.4 P6A, P4 e P2A (70 psi).
4.5.5 P7, P5, P3 e P1 (85 psi).
4.5.6 geral (100 psi)
4.5.7 P108 a P114 (60 psi).
4.5.8 P102 a P 107 (60 psi).
4.5.9 P201 a 205, P301 e P302 (60 psi).
4.5.10 P206, P207, P303 e 304 (60 psi).
Manual da semanal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:3/3
Título: Manual da Manutenção Semanal Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araújo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
5.2 aviso de radiação da sala de controle: verificar se acende com a fonte em posição
de exposição.
5.3 aviso externo à sala de controle: verificar se acende com a fonte em posição de
exposição.
5.4 sinal da partida interna: verificar se a lâmpada e a campainha estão funcionando.
5.5 sinais de movimentação da fonte: verificar se a lâmpada e a campainha estão
funcionando, quando a fonte está subindo ou descendo.
6. Registro automático:
6.1 impressora: checar se a impressora está funcionando.
6.2 papel: checar se a impressora possui papel suficiente para uma semana.
6.3 fita: checar se a fita da impressora não precisa ser trocada.
8. Observações (data, item e ocorrência): este campo está disponível para qualquer
observação que o responsável pela manutenção julgue importante.
Manual da semanal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:1/4
Título: Manutenção Semanal do Identificação do Irradiador
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
1. Níveis de Radiação:
1.1 Exaustor 1
1.2 Exaustor 2
1.3 Filtro com carvão
1.4 Filtro com resina aniônica
1.5 Filtro com resina catiônica
3. Resfriador de ar
4. Linhas de ar:
6. Registro automático:
6.1 impressora:
6.2 papel:
6.3 fita:
7.1 P1:
7.2 P2A:
7.3 P2B:
7.4 P4:
7.5 P5:
7.6 P6A:
7.7 P6B:
7.8 P7:
7.9 P8:
7.10 P9:
Manual da mensal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:2/6
Título: Manual da Manutenção Mensal do Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araújo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
Manual da mensal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:3/6
Título: Manual da Manutenção Mensal do Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araújo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
2.27 movimentação dos carrieres: ajustar o tempo do relê de tempo deste sistema
para um tempo inferior ao do ciclo e observar se após esse tempo, aparece o
sinal de falha correspondente no painel e a máquina desliga (não esquecer de
reajustar o relê para o tempo original, que, no caso deste irradiador, é de 120
min).
Manual da mensal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:4/6
Título: Manual da Manutenção Mensal do Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araújo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
Manual da mensal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:5/6
Título: Manual da Manutenção Mensal do Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araújo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
5. Monitores:
5.1 monitor da saída dos carrieres: usando uma fonte radioativa de teste, aproximá-la
do sensor do monitor quando um carrier estiver se aproximando da saída;
observar se o mesmo emite o alarme sonoro, se o indicativo de falha “monitor”
acende no painel, se a máquina desliga e se o sistema de movimentação dos
carrieres para.
5.2 monitor do deionizador: usando uma fonte radioativa de teste, aproximá-la do
sensor do monitor e observar se o mesmo emite um alarme sonoro, se o
indicativo de falha “monitor” acende no painel, se a máquina desliga e se a
bomba de circulação da água para.
5.3 monitor de radiação interna: com a porta de acesso à sala do irradiador fechada e
as fontes na posição de repouso, aproximar uma fonte radioativa dos geigers no
interior da sala do irradiador e observar se o alarme sonoro toca e se a porta de
entrada do irradiador fica travada.
Manual da mensal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:6/6
Título: Manual da Manutenção Mensal do Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araújo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
8. Sistema de exaustão:
8.1 cinta em “V” do motor: verifique a correia em “V” do motor quanto à tensão e ao
desgaste.
8.2 alinhamento da roldana: verifique o alinhamento da roldana, solte os ferrolhos e
ajuste-os se necessário.
8.3 lubrificação: lubrifique a roldana e os rolamentos.
11. Observações (data, item e ocorrência): este campo está disponível para qualquer
observação que o responsável pela manutenção julgue importante.
Manual da mensal
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:1/4
Título: Manutenção Mensal do Identificação do Irradiador
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
1. Níveis de Radiação:
1.1 Exaustor 1
1.2 Exaustor 2
1.3 Filtro com carvão
1.4 Filtro com resina aniônica
1.5 Filtro com resina catiônica
5. Monitores:
8. Sistema de exaustão:
8.3 lubrificação:
MANUTENÇÃO TRIMESTRAL
2. Observações (data, item e ocorrência): este campo está disponível para qualquer
observação que o responsável pela manutenção julgue importante.
Manual da trimestral
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:2/2
Título: Manual da Manutenção Trimestral, Semestral e Anual do Identificação do Irradiador
Autor: Ary de Araujo Rodrigues Júnior Data de emissão: mês de ano
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
MANUTENÇÃO SEMESTRAL
MANUTENÇÃO ANUAL
1. Levantamento radiométrico completo: realizá-lo com um monitor calibrado. Se a
leitura de um ponto for inferior ou igual a 0,3µSv/h (0,03 mR/h ), anotar “RF”
(Radiação de Fundo); ele deve ser repetido imediatamente após uma carga de
cobalto-60.
Atenção: os levantamentos radiométricos com as maiores atividades devem
ser mantidos permanentemente.
2. Inspeção do shroud: observar se ele apresenta sinais de degradação (ferrugem,
deformações, amassados etc.).
3. Observações (data, item e ocorrência): este campo está disponível para qualquer
observação que o responsável pela manutenção julgue importante.
Manual da trimestral
Nome da empresa Serviço de Radioproteção Página:1/2
Título: Manutenção Trimestral, Semestral e Anual do Identificação do Irradiador
Sigilo: comum Retenção: 3 anos Emissor: SRP Versão: 1ª
MANUTENÇÃO TRIMESTRAL
MANUTENÇÃO SEMESTRAL
1. Teste do esfregaço
2. Análise da água
2.1 Radiação de Fundo (cpm)
2.2 Contagem (cpm)
3. Shroud:
MANUTENÇÃO ANUAL
Instruções:
1) Na coluna “leitura do hidrômetro”, anotar a última leitura do mês do hidrômetro
efetuada pelos operadores e registrada no controle correspondente.
2) Na coluna “quantidade de água reposta”, anotar o resultado da subtração da leitura
do hidrômetro do mês corrente com a do mês anterior.
3) Na coluna “observações”, anotar acontecimentos relevantes que possam mascarar
a estatística (válvula de reposição emperrada, aumento de atividade etc.).
Ano: _________
fevereiro
março
abril
maio
junho
julho
agosto
setembro
outubro
novembro
dezembro
RESUMO
Somente após um treinamento, de no mínimo um ano e meio, é que um funcionário da
EMBRARAD estará qualificado a operar um irradiador de grande porte. Após este treinamento os
principais conceitos de radioproteção são relembrados a cada seis meses. Neste treinamento
semestral os operadores tornam-se professores e explicam os conceitos de radioproteção, sob a
supervisão de um instrutor. Após alguns anos este tipo de treinamento periódico torna-se
monótono e repetitivo, pois os temas, e consequentemente as explicações, não mudam ou mudam
pouco. Então alguma mudança era necessária para reavivar o interesse pelo treinamento periódico.
O caminho escolhido foi adaptar um jogo comercial de perguntas, para relembrar os conceitos de
radioproteção e incluí-lo neste treinamento. O jogo foi bem aceito pelos operadores, motivando a
competição entre eles, pois todos queriam vencer, e, consequentemente, estimulando–os a estudar.
REFERÊNCIAS
RESUMO
Vencedor do jogo:
O jogo termina quando as cartas acabarem e vence a
equipe que tiver mais pontos.
ABSTRACT