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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

Isabella Geórgia Cunha Vigevani


Nicolau Fioravanti Alayon

PROXIMIDADES E DIFERENÇAS ENTRE OS DESEQUILÍBRIOS DE


JATHARAGNI NA MEDICINA AYURVEDA E DO PI NA MEDICINA CHINESA

Monografia apresentada ao Curso de Naturologia da


Escola de Ciências da Saúde da Universidade
Anhembi Morumbi (UAM) como requisito parcial
para a obtenção do título de Bacharel em
Naturologia.

Orientadora: Profa. Msc. Dra. Phd. Raquel de Luna Antonio

Co-orientador: Profº. Msc. Caio Fabio Portella

São Paulo

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2020

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PROXIMIDADES E DIFERENÇAS ENTRE OS DESEQUILÍBRIOS DE
JATHARAGNI NA MEDICINA AYURVEDA E DO PI NA MEDICINA
CHINESA
THE DIFFERENCES AND SIMILARITIES BETWEEN JATHARAGNI IN
AYURVEDIC MEDICINE AND PI IN CHINESE MEDICINE
Isabella Georgia Cunha Vigevani1 e Nicolau Fioravanti Alayon2
Orientadora: Raquel de Luna Antonio3
Co-orientador: Caio Fabio Portella4

RESUMO: Esta pesquisa surgiu da necessidade de dialogar as medicinas tradicionais chinesa e


ayurveda para se aprofundar o campo de conhecimento da naturologia. OBJETIVO: A proposta foi
comparar os desequilíbrios de jatharagni, na visão do ayurveda, e do pi, na visão da medicina
chinesa. MÉTODO: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, com recorte qualitativo, que foi
baseada na proposta de diálogo entre saberes, neste caso de racionalidades médicas, com vista a
desenvolver um conhecimento inter ou transracionalidades (PORTELLA, 2013; SILVA, 2013).

1 Formanda do curso de naturologia da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: isageorgia@hotmail.com


2 Formando do curso de naturologia da Universidade Anhembi Morumbi. E-mail: nicolau.alayon9@gmail.com
3 Professora do curso de naturologia da Universidade Anhembi Morumbi, Bacharel em naturologia pela UAM,

mestre e doutora em Psicobiologia pela UNIFESP. E-mail: raantonio@anhembi.br


4 Mestre em saúde pública pela FSP/USP. Bacharel em naturologia pela UAM, especialista em fitoterapia. E-

mail: caiofabio1@gmail.com

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DESENVOLVIMENTO: Após o esclarecimento do embasamento, que permeiam jatharagni e pi, foi
desenvolvido aproximações a partir das ações, que ambos exercem em suas respectivas fisiologias
relacionadas ao trato digestivo, além dos fatores etiológicos dos desequilíbrios, suas manifestações
clinicas e o comprometimento, que os desequilíbrios acometem no organismo. CONSIDERAÇÕES
FINAIS: Foi possível estabelecer semelhanças entre os padrões de desequilíbrios de jatharagni e de
pi, por meio da comparação da manifestação clinica de cada padrão patológico, o que permitiu traçar
um diálogo entre os sistemas médicos. Porém, é importante ressaltar que a aproximação de um
conceito isolado de cada medicina foge da proposta integral e complexa, que caracterizam essas
medicinas podendo acarretar em interpretações superficiais e levianas.
PALAVRAS-CHAVE: racionalidades médicas, naturologia, jatharagni, pi (baço), ayurveda, medicina
tradicional chinesa.

ABSTRACT: This research arose from the need to converse Traditional Chinese Medicine and
Ayurveda to deepen the field of knowledge of naturology. OBJECTIVE: The intention was to compare
the imbalances of jatharagni, in a view of Ayurveda, and pi, in Chinese Medicine view. METHOD: This
is a narrative review of literature, with qualitative cutout, which was based on the proposal of dialogue
between knowledge’s, in this case of medical rationalities, in order to develop an inter or transrational
knowledges (PORTELLA, 2013; SILVA, 2013). DEVELOPMENT: After the clarification of the basis
that permeate jatharagni and pi, approaches were developed based on the actions which both exert in
their respective physiologies, related to the digestive tract, in addition to the etymological factors of
the imbalances, their clinical manifestations and the results that the imbalances create in the body.
FINAL CONSIDERATIONS: It was possible to establish similarities between the patterns of
imbalance of jatharagni and pi through comparison of the clinical manifestation of each pathological
pattern, which allowed a dialogue between the two medicals systems. However, it is important to
emphasize that the approximation of an isolated concept of each medicine is contrary to the integral
and complex proposal that characterize these medicines, which can potentially lead to superficial and
imprudent interpretations.
KEYWORDS: Medical rationalities, Naturology, Jatharagni, Pi (spleen), Ayurvedic medicine,
traditional chinese medicine.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu da necessidade de dialogar as medicinas tradicionais


chinesa e ayurveda para se aprofundar o campo de conhecimento da naturologia. A
proposta foi comparar os desequilíbrios de jatharagni, na visão da Medicina
Tradicional Ayurveda (MTA), e do pi, na visão da Medicina Tradicional Chinesa
(MTC), a partir de uma revisão narrativa da literatura.
Para tal, foram levantados artigos científicos e bibliografias que abordam
essas duas racionalidades em comparação uma com a outra. Segundo

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Svoboda (1995), em ambas as racionalidades médicas aborda-se a existência de
uma força vital: qi para os chineses e prana para os indianos. Ainda, canais
energéticos que são referidos como meridianos (MTC) e nadis (MTA). Outras
comparações possíveis são por exemplo o sangue xue (MTC) e rakta (MTA) e a
essência jing (MTC) e ojas (MTA).
Na busca por artigos e livros que relacionam estas racionalidades, não foi
encontrado nada que relacionasse diretamente o termo jatharagni com o pi. O que
mostrou a inovação dessa pesquisa no âmbito do campo da saúde.
Ayurveda do sânscrito ayur que significa vida e veda que significa
conhecimento é geralmente traduzido como a ciência da vida, porém, o ayurveda
não é unicamente categorizado como ciência, mas também como filosofia. Estima-
se que o ayurveda tem mais de cinco mil anos de existência sendo conhecido como
uma das medicinas mais antigas do mundo (CARNEIRO, 2009).
Essa medicina foi construída a partir dos cinco elementos (éter, ar, fogo,
água e terra) que são a parte sutil de toda a matéria existente no universo, portanto,
estão presentes nos climas, estações, medicamentos e alimentos. Nos seres vivos,
os cinco elementos se manifestam na forma de três doshas que são,
respectivamente, vata (éter e ar), pitta (fogo e água) e kapha (água e terra). Dosha
significa aquilo que é fácil de se desequilibrar e são responsáveis por coordenar as
funções fisiológicas. Logo, os doshas quando em desequilíbrio, afetam diretamente
outras estruturas fisiológicas do corpo provocando aumento ou diminuição dos
dhatus (tecidos), agni (metabolismo) e os malas (secreções) (VAGBAHATA, 1991).
O agni é representado pelo elemento fogo, e refere-se à força responsável
pelas funções metabólicas do corpo, através de um conjunto enzimático que permite
que o exógeno se torne endógeno. O agni diz respeito a todos os processos
fisiológicos de digestão, absorção, assimilação, metabolização, percepção, paladar,
tato, audição, vitalidade, clareza, alerta, apetite regular e combustão química.
Existem 13 tipos de agni e todos eles estão relacionados com o processo digestivo
(LAD, 2002, POLE, 2007)
O jatharagni é um dos 13 tipos de agni presentes no corpo, localizado no
trato gastrointestinal, ele representa o calor necessário para o processo da digestão
e metabolização dos nutrientes ingeridos pela dieta, transformando-os em uma
substância mais simples denominada de “ahara rasa” (equivalente ao quilo). Os
doshas influenciam diretamente a atividade do agni e, quando os três doshas estão

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em equilíbrio, os processos fisiológicos da digestão ocorrem harmonicamente,
gerando saúde ou samagni (digestão normal). Porém, quando os doshas estão em
desequilíbrio, o agni é afetado, causando alteração característica do dosha que
causou o desequilíbrio e a formação de biotoxina (ama). (POLE, 2007).
Quanto à medicina chinesa, devido à falta de registro, não se sabe
exatamente sua origem, porém, se tem conhecimento que a filosofia utilizada para
estruturar o campo de conhecimento desta medicina foi embasada pelo taoísmo. A
partir disso, se instituiu três pilares desta racionalidade que são: a teoria do yin-
yang, a teoria dos cinco elementos (madeira, fogo, terra, metal e água) e a teoria do
qi (MACIOCIA, 2007).
A MTC considera o homem como um conjunto de corpo-mente-espírito onde,
o indivíduo é ligado à totalidade macrocósmica. Nessa ótica, a manifestação de
doenças surge do desequilíbrio da relação do indivíduo com a realidade exterior, ou
com a interior (SVOBODA, 1995). Como vimos essa abordagem é semelhante no
ayurveda.
Na MTC toda sua fisiologia, patologia, diagnóstico e tratamento podem ser
reduzidas a teoria de yin e yang. No conceito chinês yin e yang são representados
por qualidades opostas, mas complementares, dependendo uma da outra para
existir. Na figura do yang, contêm a semente do yin e, na figura do yin, contêm a
semente do yang, onde yang pode se transformar em yin, e o yin pode se
transformar em yang. (MACIOCIA, 2007).
Esta medicina leva em conta que toda função do corpo e da mente vem do
resultado da interação de cinco substâncias vitais. Essas substâncias são
abordadas com níveis diferentes de densidade do qi e que são, respectivamente, o
jing (essência), qi (energia), xue (sangue), jin ye (fluidos corporais) e shen (mente-
espírito) (MACIOCIA, 2007).
A teoria dos órgãos internos (zang fu) é descrita como centro da teoria da
medicina chinesa. Nela foram determinados cinco órgãos internos, dentro deles o pi
(baço), no qual sua principal função, dentre muitas, é auxiliar sua víscera, o
estômago (wei), na digestão através da transformação e transporte da essência dos
alimentos, absorvendo a nutrição destes também, e separando as partes puras (gu
qi) que servirão de substrato para formação de xue e de qi, das partes impuras, que
irão para os intestinos para serem eliminadas (MACIOCIA, 2007).

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O sistema de saúde contemporâneo é operado na linha de especialização
médica, que é consequência da cosmologia cartesiana, em que se compreende o
processo de saúde com uma visão mecânica reducionista e materialista. Diante
desse contexto surge a naturologia, ciência da área da saúde que trás um conceito
diferenciado sobre os processos de saúde e doença, busca um olhar integral para o
indivíduo, e faz uso de práticas integrativas e complementares para a promoção,
manutenção e cuidado à saúde (PORTELLA, 2013; SILVA, 2013).

A naturologia é um conhecimento da área da saúde embasado na


pluralidade de sistemas terapêuticos e complexos vitalistas que parte de
uma visão multidimensional do processo de saúde-doença, da relação de
interagência e de praticas integrativas complementares no cuidado e
atenção a saúde. (SABBAG, NOGUEIRA, 2013, 15p.).

A naturologia considera a esfera física, metabólica, vital, mental e supra


mental do indivíduo e além das diversas dimensões, a naturologia propõe como
princípio o diálogo entre as racionalidades (ayurveda, medicina chinesa,
biomedicina, fenomenologia, florais, entre outros) para se contribuir para uma visão
mais ampla, de se enxergar o indivíduo, afim de se entender a causa do
desequilíbrio, que o acomete. Esse modo de se dialogar saberes é chamado, no
âmbito científico, de transdisciplinaridade (PORTELLA, 2013; SILVA,2013).
A abordagem de transrascionalidade de Portella (2013), é recente no âmbito
acadêmico contando com poucos dados e artigos publicados. Neste sentindo esta
pesquisa visa contribuir na construção do saber complexo e para o desenvolvimento
deste conhecimento que é de extrema relevância para a naturologia como também
para outros profissionais da saúde que incorporam essas duas racionalidades na
sua prática clínica. (madel luz)
Em vista de se contribuir para o diálogo entre as racionalidades médicas de
MTA e MTC esta pesquisa se objetivou em discutir as proximidades e diferenças
entre os desequilíbrios de jatharagni e de pi. Para isso foi necessário revisar a
literatura pertinente de cada racionalidade, sistematizar as funções biológicas e
sintomatológica dos desequilíbrios de jatharagni e de pi, para comparar esses dois
conceitos.

MÉTODO

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Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, com recorte qualitativo,
baseada na proposta de diálogo entre saberes, neste caso de racionalidades
médicas, com vista a desenvolver um conhecimento inter ou transracionalidades
(PORTELLA, 2013; SILVA, 2013). Nesta proposta, discutiu-se as diferenças e
proximidades entre as racionalidades de MTA e MTC. A pesquisa bibliográfica foi
realizada em duas partes: a primeira nas bases de dados Pubmed e Scielo, entre
agosto e outubro de 2019, nos idiomas português e inglês, a qual resultou em
poucos trabalhos que versaram sobre as noções de fundamentação necessárias
para esta pesquisa; a segunda utilizou livros de referência de cada racionalidade,
selecionados a partir da qualidade e reconhecimento de seus autores na área de
pesquisa. Foram escolhidos livros de relevância no meio acadêmico: 1- sobre
medicina ayurveda: Ayurvedic Medicine - The Principles of Traditional Practice
(POLE, 2007), Astanga Hrdayam (VAGBHATA,1991), Ayurveda: Saúde e
Longevidade na Tradição Milenar da Índia (CARNEIRO, 2009), Textbook of
Ayurveda – Fundamental Principles (LAD, 2002). 2- Sobre medicina chinesa:
Diagnóstico na Medicina Chinesa (MACIOCIA, 2005), Os Fundamentos da Medicina
Chinesa (MACIOCIA, 2007), A Prática da Medicina Chinesa (MACIOCIA, 2010), O
Diagnostico na Medicina Chinesa (AUTEROCHE, NAVAIHL, 1987), Sistemas de
Órgãos e Vísceras da Medicina Tradicional Chinesa (ROSS, 1994) e, por fim, 3 -
sobre transrascionalidade: O Tao e Dharma (SVOBODA, 1995), além de artigos
sobre o tema.
O processo de análise de dados consistiu na comparação das racionalidades
com base nos conceitos de jatharagni e pi. Consideramos, para isso, as funções
biológicas que cada um dos conceitos desempenha assim como suas
características e padrões de desequilíbrios. O critério utilizado para estabelecer as
proximidades e diferenças entre os conceitos, com foco em seus desequilíbrios, se
deu através da identificação das manifestações clinicas. Para operacionalizar a
comparação foram utilizados quadros comparativos e mapas conceituais.

DESENVOLVIMENTO

Jatharagni na visão do ayurveda


O ayurveda é um sistema médico originário da Índia, que é conhecido por ser
uma das medicinas mais antigas do mundo. A cosmologia do ayurveda se baseia na

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filosofia da evolução presente no Samkhya, que é uma escola filosófica clássica
indiana, onde do desdobramento da matéria (prakriti) na presença da consciência
(purusha) emergem diversas estruturas que culminam nos cinco elementos. O
ayurveda é uma medicina que abrange não só a ciência, mas como também a
filosofia e envolve oito ramos de prática. Kaya chikitsa, que cuida dos desequilíbrios
internos do corpo; graha chikitsa, que cuida da parte das doenças mentais e
emocionais “psiquiatria”; vurdwanga chikitsa, que enfoca doenças da clavícula para
cima; salya chikitsa, cirurgia; damsta ou agada chikistsa, toxicologia; jara chikitsa ou
rasayana, longevidade e rejuvenescimento; vrusha ou vajeeekarana chikitsa,
afrodisíaco (POLE, 2007; CARNEIRO, 2009).
O ayurveda pressupõem que os cinco elementos (éter, ar, fogo, água e terra)
são a parte sutil de toda a matéria existente no universo. Esses elementos possuem
propriedades que os qualificam. A proporção destes varia de acordo com o tipo de
matéria a ser observada, pois sempre há predominância de um ou outro elemento.
Um exemplo disso é a pimenta, que promove as características de calor,
penetrância e leveza, essas características por sua vez, tem relação com o
elemento fogo. (POLE, 2007; LAD, 2002).

Quadro 1: Qualidades (gunas) associadas a cada um dos 5 elementos


do ayurveda
ÉTER AR FOGO ÁGUA TERRA

Leve Leve Quente Úmida Solida

Sutil Móvel Afiado Fluida Estável

Claro Limpo Fluido Pesada Espessa

Infinito Áspero Penetrante Lubrificante Densa

Abrangente Seco Luminoso Macia Dura

Irregular ascendente Coesa Pesada

Estável

Fonte: Adaptado de POLE, 2007.

Como citado anteriormente, os cinco elementos se manifestam no corpo


através de três doshas. Os doshas são responsáveis por coordenar a fisiologia do

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corpo: Vata é responsável pelos processos de circulação e transporte, através de
canais denominados srotas. Pitta é responsável por todos os processos de
transformação e metabolização, através de enzimas digestivas que são
representadas pelo agni. Já kapha, é responsável por manter a estrutura física e
lubrificação que se dá através dos dhatus (tecidos corporais). A predominância
individual dos doshas (prakriti – constituição) descreve os traços herdados,
características e tendências individuais como estrutura corporal, capacidade
digestiva, equilíbrio emocional e como também, tendências a desequilíbrios e
órgãos e sistemas sensíveis. Todos os indivíduos possuem os três doshas, porém,
a proporção deles é diferente para cada um. Essa quantidade deriva de atributos
genéticos, dieta, clima e as condições do meio em que o indivíduo está inserido
como um todo. (POLE, 2007; CARNEIRO, 2009).

Doshas são substâncias matérias sempre presentes no corpo que possuem


pramãna (quantidade), guna (qualidade) e karma (funções) próprias e
definidas. Quando estão normais, desempenham diferentes funções do
corpo e desta forma são responsáveis pela manutenção do mesmo. Mas,
eles têm tendência a se tornarem anormais (vikrta), experimentando
aumentos (vrddhi) ou reduções (ksaya) em sua quantidade, em uma ou
mais de suas gunas (qualidades) e em suas funções. Quando se tornam
anormais, eles desequilibram os sítios onde se localizam os dhatus
(tecidos). Por causa desta tendência ao desequilíbrio, eles são
denominados doshas ou fatores que provocam doenças ou patogênicos.
(VAGBAHATA vol 1, 1991, 31p).

Os três doshas vata, pitta e kapha, embora impactem a mente e as emoções


estão envolvidos mais diretamente com o aspecto mais físico e metabólico, ou seja,
o corpo, definido como (sariraka doshas). Eles estão presentes em todas as células
do corpo e assim como os cinco elementos também possuem (gunas)
qualidades/atributos.

Quadro 2: Qualidades (gunas) associadas a cada um dos três doshas


VATA (éter + ar) PITTA (fogo + água) KAPHA (terra + agua)

Seco Levemente oleoso Oleoso

Leve Leve Pesado

Frio Quente Frio

Áspero Penetrante Macio

Sutil Liquido Viscoso

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movimento Fluido Estável/ estático

Lento

Fonte: Adaptado de VAGBAHATA, 1991.

O ayurveda possui o princípio alopático, ou seja, o tratamento é feito com o


uso das propriedades opostas ao desequilíbrio. O aumento e a redução dos doshas
ocorre pelo excesso ou em deficiência das gunas (qualidades, propriedades) das
substâncias (alimento, clima, ritmos, estados emocionais, etc.). Essas substâncias
são representadas por dez pares de opostos. (VAGBAHATA, 1991; CARNEIRO,
2009).

Quadro 3: Os dez pares de atributos (gunas) do ayurveda


Guru (pesado) Laghu (leve)

Manda (lento) Tiksna (rápido)

Hima (frio) Usna (quente)

Snigdha (oleoso) Ruksa (seco)

Slaksna (macio) Khara (áspero)

Sandra (sólido) Drava (liquido)

Mrdu (mole) Kathina (duro)

Sthira (estável) Cala (instável, móvel)

Suksma (sutil, pequeno) Sthula (grande, grosseiro)

Visada (não viscoso) Picchila (viscoso)

Fonte: VAGBAHATA vol I, 1991, 38 p.

O corpo humano é uma combinação dos cinco elementos, que se manifestam


pelos três doshas. O ayurveda ainda divide cada dosha em cinco subtipos
chamados de subdoshas, classificados de acordo com a sua localização e função.
O processo digestivo ocorre onde, se localiza a sede principal de cada dosha. O
jatharagni exerce sua função junto dos subdoshas que estão relacionados com o
processo digestivo que ocorre em três etapas. A primeira acontece no subdosha
kledaka kapha, que se localiza no estômago e tem como uma de suas funções
proteger o trato digestivo das enzimas ácidas da digestão. A segunda etapa ocorre

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no subdosha pachaka pitta, ele ocupa o intestino delgado entre a porção inferior do
estômago e a válvula ileocecal, ele é responsável pelo processo de digestão e
assimilação do alimento. A terceira e última etapa da digestão ocorre no apana
vayu, subdosha de vata que se localiza no abdome inferior mais precisamente na
bexiga e no intestino grosso, ele tem como função regular todo o movimento das
fezes e urina, e como também a absorção de água no intestino grosso. As etapas
da digestão, portanto começam com o dosha kapha, depois passa para fase pitta
sendo finalizado na fase vata. (POLE, 2007).
O processo digestivo é coordenado pelo agni. O agni é representado pelo
elemento fogo e é responsável por manter o funcionamento da fisiologia do corpo.
No ayurveda um bom funcionamento do agni é sinal de uma boa saúde, as funções
que ele desempenha no organismo são de pakti- digestão, absorção e assimilação
dos alimentos e experiências sensórias o que produz nutrição, conhecimento e
compreensão; darshana – percepção visual; matroshana – manter a temperatura;
prakruti varna – mantem a constituição física e a cor da pele; shauryam – confiança,
coragem; harsha – alegria, risadas, satisfação, felicidade; prasada – clareza mental;
raga – carinho, afeto, interesse, entusiasmo; dhatu poshanam – nutrição tecidual;
ojah kara – produção de ojas que é necessário para imunidade; tejah kara –
produção de tejas que é essencial para a manutenção da semi-permeabilidade das
membranas e da atividade metabólica celular; pranakara – produção e utilização de
prana na respiração pulmonar e celular; buddhi – capacidade de raciocínio da
mente, pensamento lógico e discernimento; medhakara – mantém a inteligência e o
fluxo da comunicação celular; dhairyam – dá paciência, estabilidade e confiança;
dlrgham – mantém a vida útil; prabha – cria brilho; bala – fornece força e vitalidade.
(LAD, 2009).
A função primaria do agni é de digestão absorção e assimilação dos
nutrientes e sensações. Essa função é desempenhada por jatharagni. Existem 13
tipos de agni, um deles é o jatharagni, que se localiza da boca até o ânus e é
responsável por digerir os alimentos ingeridos pela dieta e transformá-los em uma
substância mais simples, denominada de ahara rasa. Cinco bhutagnis, que se
localizam no fígado, irão digerir o ahara rasa que é o resultado da digestão de
jatharagni, liberando os cinco mahabuthas (cinco elementos) que serão quebrados
(digerido) pelos sete dhatuagni, que estão localizados em todos os sete tecidos do
corpo. Os sete dhatuagni são enzimas especiais, com a finalidade de transformar os

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cinco elementos adquiridos da digestão de bhutagni em todos os tecidos do corpo.
O jatharagni é responsável por regular todos os agnis do corpo provocando
diminuição ou aumento dos cinco bhutagni e consequentemente dos sete dhatuagni.
(POLE, 2007).
Os Dhatus (tecidos), são formados pelo material fornecido do resultado dá
digestão de bhutagni que acontece no fígado. Sua principal função é dar suporte ao
corpo. A nutrição desses tecidos se da a partir de uma ordem cronológica do
primeiro até o último. O primeiro tecido é o rasa (plasma), o segundo é o rakta
(sangue), o terceiro é o mamsa (músculos), o quarto é o meda (gordura), o quinto é
o asthi (osso), o sexto é o majja (medula óssea) e o sétimo e último tecido é o sukra
(reprodutivo). Os dhatus são conhecidos por serem aqueles que se tornam
desequilibrados pelos doshas. Para se manter a qualidade e quantidade dos tecidos
é vital um bom funcionamento do agni (fogo digestivo). Uma vez que ele se
encontrar alto acarretará em uma deficiência de tecido que é consequência do
hipermetabolismo. Já um agni muito baixo, resultará em um excesso de tecido
devido ao baixo poder metabólico. (VAGBAHATA, 1991; POLE, 2007).

Cada um dos doshas, dhatus e malas possuem suas próprias pramanas


(quantidades), gunas (qualidades, propriedades), e karma (funções), as
quais em estado de normalidade (samya), conduzem à saúde. Ás vezes
podem sofrer vrddhi (aumento) e ksaya (redução) em suas quantidades e
em uma ou mais de suas qualidades e funções. O vrddhi (aumento) de
todos eles (doshas, dhatus e malas) é causado pela utilização de samana
(semelhante) e o oposto (redução) é causado pela utilização de viparita
(dessemelhantes). (VAGBAHATA vol 1, 1991, 35p).

O jatharagni além de fornecer a matéria-prima necessária para a nutrição dos


tecidos “ahara rasa” que se caracteriza pela essência do alimento (quilo), ele
também é responsável por separar os resíduos “kitta” obtidos da digestão que
simbolizam a parte impura e que não servem para nutrir o corpo. Esses resíduos
irão se dividir em três canais diferentes “malas” que darão origem ao suor, urina e
as fezes com a finalidade de serem descartados. (VAGBAHATA, 1991; POLE,
2007).
O jatharagni, como dito tem sua atividade diretamente influenciada pelos
doshas. Quando os três doshas se encontram em equilíbrio, ocorrerá digestão

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normal e equilibrada (samagni), onde os alimentos são perfeitamente digeridos.
Porém, quando os doshas estão aumentados ocorrerá comprometimento na
digestão, produzindo alterações características do dosha de desequilíbrio podendo
acarretar em formação de biotoxina (ama) (POLE, 2007).
A qualidade fria de vata diminui as funções do agni, já as qualidades leve,
móvel e seca aumentam as funções do agni, gerando, portanto, no indivíduo
acometido por esse estado de desequilíbrio, um metabolismo irregular (vishmagni),
que pode se manifestar através de apetite irregular, distensão abdominal,
indigestão, gases, constipação, podendo alternar em diarreia e, como também,
sensação de peso depois de comer. O indivíduo pode ficar com a pele seca,
rachaduras nas articulações, lombalgia e, até mesmo, insônia (POLE, 2007).
As qualidades quentes, penetrantes, afiadas, leves, picantes de pitta
aumentam as funções do agni, já que ambos compartilham dos mesmos atributos,
gerando no indivíduo acometido por esse estado de desequilíbrio, um metabolismo
forte (tikshnagni), que queima os nutrientes antes mesmos deles serem assimilados,
acarretando em uma fome excessiva devido a esse comprometimento, que gera
uma má absorção dos nutrientes. Outros sintomas desse desequilíbrio são
garganta, lábios e palato secos, hiperacidez, gastrite, hipoglicemia, colite, diarreia,
disenteria, dor no fígado, náusea, condições inflamatórias e, como também, raiva,
ódio, inveja e o excesso de senso crítico em relação a tudo e a todos (POLE, 2007).

Já as qualidades fria, pesada, viscosa e lenta de kapha diminuem as funções


do agni, inibindo as qualidades leve, quente e penetrante, que qualificam o agni
causando o seu embotamento, acarretando no indivíduo acometido por esse estado
de desequilíbrio, um metabolismo fraco e lento (mandagni), onde os alimentos não
conseguem ser digeridos adequadamente. O indivíduo pode apresentar sensação
de peso no estômago, frio, congestão, tosse, edema, excesso de salivação, perda
de apetite, alergias, náuseas, vômito com muco, letargia, sono excessivo, pele fria e
úmida, fraqueza generalizada e mentalmente pode haver apego, ganância e
possessividade (POLE, 2007).

Quadro 4: Os quatro estados de jatharagni e suas relações com doshas, gunas


e estímulos
SAMAGNI VISHAMAGNI TIKSHNAGNI MANDAGNI
DOSHA 3 doshas em Vata aumentado Pitta aumentado Kapha aumentado

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equilíbrio com a
constituição.
QUALIDADES Frio- diminui agni. Quente/leve/agudo/ Frio/oleoso/pesado
Seco/móvel/leve
(GUNAS) aumenta o agni. penetrante aumenta viscoso/lento
o agni. diminui o agni

MENTE/ Tranquilidade, Medo, Raiva, ciúmes, inveja. Melancolia,


EMOÇÕES calma, clareza, insegurança, possessividade,
consciência ansiedade. ganância

METABOLISMO Equilibrado Irregular Forte/intenso Lento/fraco


hipermetabolismo hipometabolismo

SINAIS/SINTOMA Digestão Estufamento, Sensação de Sensação de peso,


S T.G.I realizada em 6 gases, borborigmo queimação, fome e digestão lenta.
horas, sem constipação sede
sinais ou podendo variar em frequente/excessiva,
sintomas de diarreia, apetite diarreia, náuseas,
desequilíbrio. irregular, dor condições
abdominal e em inflamatórias.
geral.

SABOR Amargo (ar e éter) Salgado (água e Doce (terra e água)


fogo)
Adstringente (ar e Salgado (agua e
terra) Picante (fogo e ar) fogo)

Picante (fogo e ar) Azedo(terra e fogo) Azedo(terra e fogo)

CLÍMA Outono, clima Verão, clima seco, Inverno, umidade, a


seco, manhã noite.
noite/madrugada

DESEQUILÍBRIOS Este agni é Este agni é percursor Este agni é


percursor de de quase todos os percursor de quase
quase todos os desequilíbrios de pitta todos os
desequilíbrios de desequilíbrios de
vata kapha

Fonte: Adaptado de POLE,2007; LAD, 2002.

Quando os doshas estão aumentados, o sistema digestivo é o primeiro a ser


impactado por esse aumento, uma vez que é a sede principal de cada dosha. Esse
impacto causa variação no estado do agni, fazendo com que ele não exerça sua
função fisiológica de forma funcional. O organismo passa por comprometimento no
processo digestivo e não consegue digerir os alimentos de forma apropriada, o que
acarretará em formação de toxinas (ama) no corpo. (POLE, 2007). “Quando ahara
rasa não é digerido porque o agni esta baixo ele se torna viciado e acumula no
estômago. Isso é conhecido como ama” (VAGBAHATA, 1991, 13.25,).
Para o ayurveda o indivíduo é aquilo que ele tem capacidade de digerir, e
tudo aquilo que ele não digere vira ama (toxina). Ama é o resultado do alimento não

15
metabolizado e que não serve para nutrir o organismo. Pode ser formado por
alimentos que são absorvidos, mas não utilizados ou os que não foram digeridos e
que criaram fermentação. As propriedades pesada, pegajosa, viscosa, úmida, fria
e doce, de ama, são atributos que acabam por causar obstrução dos (srotas) canais
do corpo, acarretando no acúmulo dos doshas. Quando o Agni está baixo com
predominância do dosha kapha por exemplo, o agni não tem calor suficiente para
digerir os alimentos propriamente e, portanto, faz com que o corpo acumule e gere
(ama) toxina, ao invés de imunidade, tecidos saudáveis e vitalidade (ojas) (POLE,
2007).
As causas que desequilibram os doshas e consequentemente a formação de
ama são o baixo poder digestivo, comer demais, alimentos crus, alimentos pesados,
alimentos frios, alimentos contaminados, alimentos muito úmidos, alimentos
incompatíveis, alimentos irritantes, alimentos gasosos, frituras, emoções extremas,
hábitos alimentares irregulares, laticínios, alimentos processados, levedura, sabor
excessivamente doce, salgado ou azedo, dormir ou comer antes da digestão dos
alimentos, dormir durante o dia e falta de exercício físico. Os sinais de ama no corpo
são sentir-se pesado, cabeça confusa, pensamentos pouco claros, olhos sem brilho,
dores, má circulação, dor nas articulações, inchaço, gases, manchas na pele, febre,
falta de energia, apetite e paladar, viscosidade nas fezes, catarro e urina, odores
fortes, fezes que afundam, muco nas fezes, urina turva, indigestão, cansaço depois
de comer, gosto pegajoso ou doce na boca, catarro abundante, pulso: profundo sem
brilho, escorregadio, língua: revestimento espesso, sujo e oleoso, corpo inchado.
Todos os sintomas acima são agravados pelo frio, inverno, umidade e à noite como
também alimentos com qualidade semelhante à ama; pesado, molhado, untuoso,
pegajoso e doce, frio (POLE, 2007; VAGBAHATA, 1991).
Os sinais modernos de ama que acometem a sociedade atual são:
Triglicérides alto, aterosclerose, diabetes tipo II, altos níveis de açúcar no sangue,
algumas formas de depressão, fator reumatoide, H. pylori, leucocitose ou
leucocitopenia, excesso de anticorpos, candidíase no intestino e no útero, ureia no
sangue, gota, excesso de plaquetas, altos níveis de IgE de reações alérgicas,
excesso de glóbulos vermelhos, cálculos biliares como sinal de excesso de bile,
cálculos renais como sinal de cálcio e oxalatos não metabolizados, alto nível de
enzimas hepáticas (soro alanina amino-transferase, aspartato sérico amino-

16
transferase), pressão intraocular (glaucoma), infecção bacteriana, alta temperatura,
tumores (POLE, 2007).

Quadro 5 – Comparação entre os atributos (gunas) de agni e de ama do


Ayurveda
AGNI AMA

leve pesado

quente frio

Penetrante pegajosa

agudo viscosa

Seco Úmida

picante Doce

Fonte: Adaptado de POLE, 2007.

Para representar de forma integral a discussão de jatharagni na visão do


ayurveda, foi realizado um mapa mental para organizar as informações que este
conceito exerce na fisiologia e patologia do organismo, afim de se, evidenciar toda
complexidade da medicina que ele está inserido. Este mapa pode ser encontrado no
APÊNDICE A – Mapa Mental: Jatharagni.
Pi na visão da medicina chinesa
A medicina tradicional chinesa surgiu há mais de cinco mil anos, tendo o Nei
Jing como seu primeiro grande clássico, cuja a autoria é atribuída ao lendário Huang
Ti (Imperador Amarelo) e se tem conhecimento que o taoísmo forneceu o arcabouço
filosófico utilizado para estruturar a racionalidade médica chinesa (INADA, 2000;
MACIOCIA, 2007).
A teoria do yin e yang considera que todos os aspectos do universo são
constituídos pelo movimento e transformação desses dois princípios. Na medicina
tradicional chinesa o conceito de yin e yang é o que da base para toda a filosofia
dessa medicina (MACIOCIA, 2007).

Quadro 6 – Complementaridade e interdependência de yin e yang


YANG(função) YIN(estrutura)

Luminosidade Escuridão

17
Sol Lua

Brilho Sombra

Atividade Descanso

Céu Terra

Redondo Plano

Tempo Espaço

Leste Oeste

Sul Norte

Masculino Feminino

Fonte: MACIOCIA, 2007, p 5.

Na ótica da medicina chinesa, toda sua fisiologia, patologia, diagnóstico e


tratamento podem ser analisados pela teoria do yin e yang. Na fisiologia, o Yang
corresponde ao aspecto funcional dos órgãos enquanto o Yin corresponde ao
estrutural.
A MTC leva em conta que toda função do corpo e da mente vem do resultado
da interação das substâncias vitais. Essas substâncias são abordadas com níveis
de densidade diferentes de qi. O qi é um conceito filosófico chinês de difícil tradução
já que a palavra qi tem uma natureza versátil; ela vem sido traduzida de muitas
maneiras como: energia, matéria-energia, éter, poder vital entre outras, porém,
nenhuma define precisamente o conceito. O qi é a base para todos os fenômenos
do universo deis das formas mais materiais até as mais imateriais. (MACIOCIA,
2007).“Assim como o qi é substrato do material do universo, também é o substrato
material e mental-espiritual da vida” (MACIOCIA, 2007, p 36).
Esta medicina classifica as substâncias vitais em cinco tipos que são
denominadas respectivamente de jing (essência), qi (energia), xue (sangue), jin ye
(fluidos corporais) e shen (mente-espírito). A essência jing tem o princípio de ser o
refinamento de uma substância mais dura e volumosa. O termo essência aparece
em três contextos conhecidos como a essência pré-celestial, essência pós-Celestial
e a essência do rim. A essência pré-celestial é a combinação das energias sexuais
paternas e maternas que concebem o ser humano, ela nutre o embrião durante a
gravidez e é o fator que determina a constituição básica de cada pessoa, assim

18
como a força e a vitalidade. É o que faz cada ser um indivíduo único. A essência
pós-Celestial é a essência extraída dos alimentos e fluidos após o nascimento. Já a
essência do Rim corresponde à interação entre as essências pré-celestial e pós-
celestial que se localizam armazenadas nos rins. O qi quanto substância vital
também é sub-classificado em: yuan qi (qi original), gu qi (qi do alimento), zong qi (qi
da reunião), zhen qi (qi verdadeiro), ying qi (qi nutritivo), wei qi (qi defensivo), zhong
qi (qi central), zheng qi (qi correto). O qi original é a essência transformada em qi. O
qi do alimento é o primeiro estágio de transformação dos alimentos em qi. O qi da
reunião é a interação do qi do alimento com o ar. O qi verdadeiro é o fruto da junção
do qi da reunião com o qi original, sendo considerado o último estágio de
transformação do qi. O qi nutritivo é uma parcela do zhen qi que tem como função
nutrir os órgãos internos e todo organismo, enquanto o qi defensivo é a outra
parcela do zhen qi, que flui pelas camadas exteriores do corpo e tem como função
proteger o corpo de fatores patológicos exteriores. O qi é responsável por algumas
funções fisiológicas que são; transformar, transportar, manter, subir, proteger e
aquecer. O xue tem como principal função nutrir o organismo e o qi, além de
proporcionar a fundamentação necessária para a mente (shen), desta forma o xue é
responsável por “abrigar a mente” pois, é ele quem fornece o subsidio e a nutrição
necessária
que permite que mente (shen) floresça. O xue também tem uma função
umedecedora que assegura que os tecidos corpóreos não sequem. O jin ye vem de
uma série de processos de purificação dos fluidos impuros até serem transformados
em fluidos corpóreos puros, que tem a função de lubrificar o organismo. O shen é
considerado a mente, que na ótica dessa medicina continua sendo uma substância
vital, visto o olhar de integração de corpo-mente-espirito desta medicina
(MACIOCIA, 2007).

A teoria dos órgãos internos zang fu é composta por cinco zang (órgãos) e
seis fu (vísceras). Ela é descrita como centro da teoria da medicina chinesa visto
que ela expressa a melhor visão do organismo como um todo integrado. Na ótica
dessa teoria é necessário desvincular o conceito ocidental sobre os órgãos, uma
vez que o ocidente denomina cada órgão apenas pelo aspecto anatômico-material.
Já a medicina chinesa considera que cada zang é entendido como um sistema de
interdependências fisiológicas, ou seja, além do órgão em si, outras funções e

19
estruturas pelo corpo trabalham em conjunto e se interdependem, formando o
conceito zang fu. Os órgãos internos estão diretamente ligados com a produção,
manutenção, abastecimento, transformação e movimentação das sustâncias vitais.
Os cinco órgãos internos são: (xin) coração, (fei) pulmão, (gan) fígado, (shen) rins,
(pi) baço. Todo órgão tem uma víscera que o auxilia, exceto o coração que se
associa a duas vísceras. Cada combinação zang fu é atribuída a um elemento. O
zang pi por exemplo, tem como víscera o estômago (wei) e ambos estão associados
ao elemento terra (MACIOCIA, 2007).

Quadro 7 – Órgãos, Vísceras e respectivos elementos da Medicina


Chinesa
Element Madeira Fogo Terra Metal Água
o

Zang Fígado (Gan) Coração (Xin) Baço (Pi) Pulmão (Fei) Rim (Shen)

Fu Vesícula biliar Intestino delgado Estômago (Wei) Intestino grosso Bexiga (Pang
(Dan) (Xiao Chang) (Da Chang) Guang)

Fonte: Adaptada de MACIOCIA, 2007.

Do ponto de vista da fisiologia e da patologia os órgãos são mais importantes


do que as vísceras, visto que os órgãos lidam com as substâncias puras enquanto
as vísceras, lidam com as sustâncias impuras (MACIOCIA, 2007).
O pi tem um amplo aspecto funcional e suas funções também podem ser
vistas da boca ao ânus. A principal função do pi é auxiliar sua víscera estômago
(wei) na digestão, transformando e transportando os alimentos e líquidos ingeridos
pela dieta. O alimento após penetrar o corpo vai ser descomposto pelo estômago
(wei) e posteriormente o baço (pi) irá transformar esse alimento decomposto em
uma substância mais simples e pura denominada de (gu qi). Essa substância “sobe”
para o pulmão (fei) onde, irá se fundir com o puro do ar para formar o (qi da reunião)
que é a base para formação do (zhen qi), ou seja, o (qi verdadeiro). O (gu qi)
também, partirá do pulmão (fei) para o coração (xin) onde lá, irá formar o sangue
(xue), que consequentemente irá nutrir o organismo de forma sistêmica. O pi além
de extrair a essência dos alimentos, ele também é responsável por separar essas
partes puras (utilizáveis) das partes impuras (inutilizáveis) do resultado da digestão.

20
O estômago (wei) envia as partes impuras que irão descer para os intestinos onde
serão posteriormente descartada pelos mesmos. Se a função do pi de transformar e
transportar as partes puras dos alimentos para a produção de qi e xue estiver
normal o indivíduo irá apresenta digestão boa sem sinais ou sintomas digestivos de
desequilíbrio. Por outro lado, se esta função estiver comprometida pode haver
sintomas de deficiência de pi como por exemplo o cansaço, falta de apetite e a má
digestão (MACIOCIA, 2007).
Além de separar os alimentos em partes puras e impuras o pi também tem
como função controlar a transformação e movimentação dos fluidos, separando as
partes utilizáveis das inutilizáveis. A parte “pura” sobe para pulmão para ser
distribuída para a pele e o espaço entre a pele e o músculo. Já a parte impura desce
para os intestinos onde posteriormente será separada (MACIOCIA, 2007).
O pi também tem como função “controlar o xue” e, isso pode ser visto de
duas formas. O pi tem um papel importante na fabricação desta substância vital, já
que é ele quem extrai o (gu qi) dos alimentos que servirá de matéria prima para a
fabricação de xue, portanto, o pi tem o controle da fabricação desta substância vital.
O qi possui um papel importante em sustentar os órgãos para que eles fiquem em
seus lugares porém, é o qi do pi quem esta mais especificamente encarregado de
“manter e sustentar” o xue em seu devido local, se certificando de que ele fique
unido, ou seja, dentro dos vasos sanguíneos. Desta forma, ele controla o xue
prevenindo que ele escape e cause hemorragias (MACIOCIA, 2007).
O pi controla os músculos e os quatro membros já que ele extrai o gu qi e o
transporta com a finalidade de nutrir todos os músculos do corpo (esqueléticos, lisos
e cardíaco) especialmente os músculos localizados nos quatro membros. Se o pi
estiver forte ele transportará o gu qi para os músculos, ou seja, para os quatro
membros gerando força física, músculos saudáveis e contribui para que as
estruturas fiquem em seus devidos locais. Porém, se o pi estiver debilitado o gu qi
não poderá ser transportado para os músculos gerando cansaço físico, músculos
flácidos e em casos mais graves podem até atrofiar (MACIOCIA, 2007).
O pi também tem como função “abrir-se na boca e manifestar-se nos lábios”.
A boca é o local onde os alimentos vão ser triturados com a finalidade de prepara-
los para o pi transforma-los em um produto utilizável para o corpo, e por conta disso
o pi também tem como função “controlar a saliva” já que a saliva tem como função

21
umedecer a boca e ajudar a misturar os alimentos e líquidos, preparando-os para a
digestão (MACIOCIA, 2007).
Na MTC cada órgão interno corresponde a um aspecto mental-espiritual
(shen) do ser humano. O pi corresponde ao aspecto mental do intelecto (yi) pois, é
lá onde reside a capacidade de pensar, estudar, memorizar e focar o aprendizado,
portando, se o pi estiver forte então o pensamento, a memoria e a capacidade para
se concentrar e criar estarão boas. Já um pi fraco indicará um pensamento lento,
uma memoria fraca e a capacidade de se concentrar estará comprometida
(MACIOCIA, 2007).
De acordo com os cinco elementos, o pi (baço) e o wei (estômago)
pertencem ao elemento terra onde, o pi é yin e o wei é yang. Esses órgãos tem uma
intima relação de maneira que poderiam ser considerados como dois aspectos de
um mesmo órgão já que ambos exercem varias ações combinadas no trato
digestivo (MACIOCIA, 2007).

Quadro 8 – Comparando as características de Pi e de Wei


PI WEI
Yin Yang
Qi do pi sobe Qi do wei desce
Gosta de secura Gosta de umidade
Não gosta de umidade Não gosta de secura
Sofre facilmente de deficiência Sofre facilmente de excesso
Esta mais propenso ao frio Esta mais propenso ao calor
Tendência a deficiência de yang Tendência a deficiência de yin
Fonte: Adaptada de MACIOCIA, 2007.
Dentro da etiologia geral do pi existem três principais fatores que contribuem
para o seu desequilíbrio. Entre eles estão os fatores patológicos interiores, de dieta
e os exteriores. Os desequilíbrios interiores são decorrentes do estado da mente e
das emoções mais especificamente no caso do pi do “excesso de preocupação” que
gera insegurança e, do “ato de ficar pensativo” que refere-se ao exercício mental
excessivo como por exemplo, o excesso de trabalho e estudo ou até mesmo
pensamentos constantes, nostálgicos que podem acarretar em pensamentos
obsessivos. A dieta irregular, excessiva ou deficiente é outro fator responsável por
causar os padrões de desequilíbrio do pi. O pi gosta de secura portanto, alimentos

22
úmidos, frios, crus e processados como por exemplo o consumo excessivo de
líquidos frios e gelados podem levar à obstrução do pi, comprometendo sua função
de transformar e transportar os alimentos. É importante lembrar que o frio se refere
não só a temperatura do alimento mais também ao seu aspecto energético. Os
fatores exteriores são gerados pelo clima mais especificamente no caso do pi, pela
umidade exterior decorrente de circunstâncias ambientais ou hábitos de vida, como
morar em uma casa úmida ou usar roupas molhadas após nadar. Os fatores
etiológicos interiores advindos da mente e emoções e os fatores etiológicos da dieta
vão originar todos os padrões de deficiência do pi. Já os fatores etiológicos
exteriores vão originar todos os padrões de excesso do pi. (MACIOCIA, 2007).
A racionalidade chinesa categoriza os desequilíbrios dos órgãos através de
padrões energéticos. No caso do pi foram estabelecidos sete padrões de
desequilíbrios, sendo eles divididos em cinco padrões de deficiência (deficiência do
qi do pi, deficiência de Yang do pi, afundamento do qi do pi, pi não controlando xue
e deficiência de xue do pi) e dois padrões de excesso (Umidade-Frio e Umidade-
Calor invadindo o pi) (MACIOCIA, 2007).
A deficiência do qi do pi é o desequilíbrio mais comum do pi. Ele é precursor
de todos padrões de deficiência do pi e como também, provável precursor dos
desequilíbrios que afetam os outros quatro órgãos internos. Toda e qualquer doença
crônica leva a um padrão de desequilíbrio do qi do pi. Esse desequilíbrio tem como
desenvolvimento patológico a formação de umidade interna, deficiência de xue,
deficiência do yang do pi, afundamento do qi do pi, deficiência de xue do pi, o pi não
controlando o xue, deficiência de qi do xin, deficiência de qi do fei, deficiência de
yang do rim. Quando o qi do pi está deficiente o pi, não consegue exercer suas
funções de transformação e transporte dos alimentos, causando assim vários
problemas digestivos (MACIOCIA, 2007).
A deficiência de yang do pi é um agravamento da deficiência do qi do pi.
Esse padrão tem como diferença a presença de frio, além de maior formação de
umidade interna. Ele tem como desenvolvimento patológico os mesmos padrões
que acometem a deficiência do qi do pi (MACIOCIA, 2007).
O afundamento do qi do pi é um agravamento do padrão do qi do pi, onde o
pi não consegue exercer suas funções de erguer os órgãos gerando o prolapso de
algum órgão interno. Este desequilíbrio tem como desenvolvimento patológico os

23
mesmos padrões que envolvem a deficiência de qi do pi e também, pode conduzir
ao afundamento do qi do rim (MACIOCIA, 2007).
O pi não controlando o xue é um agravamento do padrão do qi do pi, onde o
pi não consegue exercer a sua função de manter o xue dentro dos vasos
sanguíneos acarretando em um sangramento advindo de várias fontes como nas
fezes, debaixo da pele, na urina e no útero. Este desequilíbrio tem como
desenvolvimento patológico os mesmos padrões envolvidos na deficiência de qi do
pi, porém, com mais facilidade de levar aos padrões de deficiência de xue e/ou
qi (MACIOCIA, 2007).
A deficiência de xue do pi é um estágio do agravamento da deficiência de qi
do pi onde, pi falha em exercer sua função de gerar xue. Este padrão também tem
como percursor a deficiência de xue. Seu desenvolvimento patológico é o mesmo
dos padrões envolvidos na deficiência de qi do pi e também, pode conduzir a
deficiência de xue do xin (coração) e xue do gan (fígado) (MACIOCIA, 2007).
O padrão de Umidade-Frio invadindo o pi obstrui o tórax e o epigástrio
impedindo os movimentos normais do qi e também, impede que o yang puro suba
para a cabeça. Sua etiologia consiste na exposição ao clima frio e úmido
(MACIOCIA, 2007).
O padrão de Umidade-Calor invadindo o pi é muito parecido com o de
Umidade-Frio invadindo pi porém, com a presença de calor que pode ser observada
na febre baixa, nas fezes e urina com cheiro forte e gosto amargo na boca. Sua
etiologia consiste na exposição ao clima quente e úmido. Seu desenvolvimento
patológico é condensar a umidade e a deficiência de qi do pi (MACIOCIA, 2007).

Quadro 9 –Desequilíbrio de pi, suas manifestações clínicas e princípios de


tratamento

Padrão de Manifestação clinica Princípio de


desequilíbri tratamento
o

Deficiência Distensão abdominal após comer, fezes amolecidas, pouco apetite, membros fracos, cansaço, Tonificar o qi do
de qi do pi tendência a obesidade, lassitude, compleição pálida, língua pálida e pulso vazio. pi

Deficiência Distensão abdominal após comer, fezes amolecidas, pouco apetite, membros fracos, cansaço, Tonificar o yang
de yang do pi tendência a obesidade, lassitude, compleição pálida, sensação de frio, membros frios, língua do pi
pálida e úmida e pulso profundo e fraco.

Afundamento Pouco apetite, lassitude, compleição pálida, fraqueza dos membros, fezes amolecidas, Tonificar o qi o
do qi do pi depressão, tendência a obesidade, tenesmo e tensão abdominal, prolapso do estômago, útero, pi e aumentar o

24
bexiga ou do ânus, frequência e urgências urinarias, menorragia, língua pálida, pulso fraco. qi.

Deficiência Pouco apetite , ligeira distensão abdominal após comer, cansaço, lassitude, compleição pálida tonificar o qi do
de xue do pi e embotada, fraqueza dos membros, fezes amolecidas, depressão, corpo magro, pi e nutrir o xue.
menstruações escassas ou amenorreia, insônia e dores articulares, língua pálida, fina e
ligeiramente seca e pulso áspero ou fino

Pi não Pouco apetite, ligeira distensão abdominal após comer, cansaço, lassitude, compleição pálido- Tonificar o qi do
controlando o amarelada, fraqueza dos membros, fezes amolecidas, depressão, tendência a obesidade, pi e interromper
xue manchas de sangue sobre a pele, sangue na urina ou nas fezes, sangramento uterino o sangramento.
excessivo, língua pálida, pulso fraco ou fino

Umidade- Sensação de plenitude e dor no epigástrio ou na região inferior do abdome, pouco apetite, Resolver a
Calor sensação de peso, sede mas sem vontade de ingerir líquidos, náusea, vômito, fezes Umidade e
invadindo pi amolecidas com odor desagradável, sensação de queimação no ânus, sensação de calor, retirar o calor.
urina escura e escassa, febre baixa, cefaleia surda com sensação de peso na cabeça,
compleição amarela e opacam, suor oleoso, gosto amargo na boca, pele com erupções,
sudorese, língua vermelha com saburra amarela pegajosa, pulso deslizante rápido.

Umidade-Frio Pouco apetite, sensação de plenitude no epigástrio e abdome, sensação de frio no epigástrio, Resolver a
invadindo pi sensação de peso na cabeça e no corpo, gosto adocicado ou ausência de gosto, ausência de Umidade e
sede, fezes amolecidas, cansaço, lassitude, náusea, edema, compleição branca e opaca, retirar o frio
secreção vaginal branca e excessiva, língua pálida com saburra branca e pegajosa, pulso
deslizante-lento

Fonte: Adaptada de MACIOCIA, 2007.

Quando o pi não consegue exercer suas funções de transformar e transportar


os nutrientes ele gera umidade interna, um fator patogênico que tem como
características; prejudicar o yang, ser yin, pegajosa, pesada, impura, difícil de
eliminar, lenta, infundir em descida, causar ataques repentinos, acumular nos
órgãos, canais e pele e prejudica severamente as funções do pi fazendo com que, o
mesmo, gere cada vez mais umidade. Visto isto muitas linhagens buscam tratar
primeiro a umidade interna (MACIOCIA, 2007).
Para representar de forma integral a discussão do pi na medicina chinesa,
também foi realizado um mapa mental que pode ser encontrado no APÊNDICE B –
Mapa Mental: Pi (baço).

Comparando os desequilíbrios de jatharagni e de pi


Funções Biológicas
Os componentes de jatharagni e pi exercem ação nas funções biológicas
relacionadas ao trato digestivo. Ambos são responsáveis por transformar os
alimentos ingeridos pela dieta em uma substância mais pura denominada de ahara
rasa para o ayurveda e gu qi pela medicina chinesa. Essas substâncias têm a
mesma finalidade de nutrir os tecidos e órgãos em ambas as racionalidades. No

25
caso do ayurveda essa nutrição irá chegar aos sete tecidos do corpo, ou seja, todas
as células, onde serão nutridos de uma forma cronológica começando pelo primeiro
tecido rasa (plasma), depois rakta (sangue) e assim por diante. Na MTC o gu qi
servirá de substrato para criação de xue (sangue) e contribui para a formação de qi,
que também circulam por todo organismo.
No ayurveda o agni é representado pelo elemento fogo e está relacionado às
funções biológicas governada pelo dosha pitta. Na medicina chinesa o pi é
representado pelo elemento terra e é considerado um dos cinco zangs (órgãos).
Etiologia dos desequilíbrios
A Medicina chinesa e o ayurveda tem como princípio identificar e tratar as
causas que acometem os desequilíbrios. Podemos observar que os desequilíbrios
de jatharagni e de pi podem ser afetados pelo clima, dieta inapropriada, ambiente e
estilo de vida prejudicial e, também pelo estado da mente e emoções. Para o
ayurveda as condições de dieta, clima, ambiente, estilo de vida e da mente são
classificadas de acordo com suas características referentes aos dez pares de
atributos das substâncias. A depender dos tipos de atributos presentes nas
condições que o indivíduo se expõe, poderá acarretará no aumento dos cinco
elementos, e portanto, dos doshas e esse aumento pode ser excessivo e levar ao
desequilíbrio. Um exemplo disso é se um indivíduo se encontrar em um clima seco
de outono, fazendo uso excessivo de alimentos secos como a farinha de trigo e
pouca ingestão de água, o que poderá acarretar no aumento de secura no corpo, e
consequentemente o aumento do dosha vata que contém o mesmo atributo.
Portanto, pode-se compreender que os padrões de desequilíbrios de jatharagni
podem ser vistos como padrões de excesso uma vez que isso indica o aumento de
determinado dosha impactando o agni. Mesmo quando é o caso de um agni fraco
(mandagni) o desequilíbrio é causado pelo aumento excessivo das propriedades de
kapha (frio, lento, pesado, úmido, oleoso) que são opostas ao agni e causam
fraqueza das funções metabólicas. Para a MTC a etiologia dos desequilíbrios de pi
que vão dar origem aos padrões de deficiência de pi são advindos de fatores
interiores causados pela condição da mente e emoções e, também, podem ser
originados por fatores dietéticos inapropriados. Já a etiologia dos padrões de
excesso de pi são causadas pelo clima. A rotina e o estilo de vida na medicina
chinesa podem tanto acarretar em desequilíbrios exteriores como por exemplo um
surfista que passa grande parte do dia no mar se expondo excessivamente ao clima

26
úmido e como também, pode acarretar em desequilíbrios dietéticos como por
exemplo um indivíduo que consome excessivamente alimentos frios e úmidos que
prejudicam as funções do pi.

Figura 1: Mapa mental – Etiologia de jatharagni e de pi

Comparando os padrões de desequilíbrio


As duas racionalidades classificaram os padrões de desequilíbrio de acordo
com um agrupamento de sinais e sintomas que prejudicam o funcionamento de
suas respectivas fisiologias. Pode-se constatar na medicina chinesa, que o pi
quando em estado de desequilíbrio sofre prejuízo e diminuição de suas funções
principalmente na capacidade de transformar e transportar os alimentos e fluidos
adquiridos pela dieta impactando na sua capacidade digestiva. No ayurveda o agni
em desequilíbrio também prejudica a capacidade de digerir, metabolizar e assimilar
os nutrientes e eliminar toxinas.
Como o agni tem a maior parte de seus atributos iguais aos atributos de pitta,
quando ele se encontra desequilibrado por pitta, (tikshnagni) ele acarretará em um
agni forte e em estado de hipermetabolismo, o que também é prejudicial e gera ama
(toxina). Quando o agni se encontra aumentado por vata (vishmagni) ele acarretará
em um metabolismo irregular, que varia repentinamente entre um estado de
hipermetabolismo pelos atributos seco, móvel e leve, que aumentam as funções do

27
agni para um estado de hipometabolismo, já que vata possui o atributo do frio que
enfraquece as funções do agni. O estado de mandagni, é entre os desequilíbrios, o
que mais enfraquece o agni, já que kapha possui os atributos totalmente opostos ao
agni, gerando um estado de hipometabolismo no indivíduo acometido por esse
desequilíbrio.
Na medicina chinesa nenhum desequilíbrio de pi tem características de
hipermetabolismo como podemos ver no ayurveda no desequilíbrio de tikshnagni,
porém esse estado do agni se assemelha às manifestações clínicas do padrão de
Umidade-Calor invadindo o pi já que os dois tem características de calor em seus
sintomas. O funcionamento de tikshnagni é caracterizado por um metabolismo forte
que queima os nutrientes antes deles serem assimilados. Já o padrão de Umidade-
Calor invadindo o pi sofre um comprometimento na função o que acarreta em um
metabolismo mais lento e fraco uma vez que ele sobrecarrega o uso de sua função
para conseguir eliminar o fator patológico.

Quadro 10 – Comparação dos sintomas e estado metabólico entre os


desequilíbrio de tikshnagni e de Umidade-Calor Invadindo o baço (pi)
Desequilíbrio Impacto fisiológico Manifestação clínica em comum

Tikshnagni Hipermetabolismo, caracterizado Sensação de queimação, odor


por um calor excessivo que queima desagradável, diarreia, náuseas,
os nutrientes antes mesmo de vômitos, condições inflamatórias urina
serem assimilados pelo organismo. escura, febre.

Umidade-Calor invadindo o Hipometabolismo, devido ao Náusea, vômito, fezes amolecidas,


pi desgaste das funções utilizadas odor desagradável, sensação de
para eliminar o fator patológico. queimação no ânus, sensação de
calor, urina escura, febre, compleição
amarelada.

Fonte: Adaptada de MACIOCIA, 2007; POLE,2007

Embora o foco do trabalho refere-se à aproximação dos desequilíbrios de pi,


como dito anteriormente, o pi está acoplado a sua víscera wei e, juntos
desempenham várias funções fisiológicas no organismo. Segundo Maciocia (2007),
existem nove padrões de desequilíbrio de wei porém, foram selecionados dentre
esses nove padrões, quatro deles que julgamos se aproximar dos estados de
desequilíbrio de jatharagni na medicina ayurveda.
Apesar do pi não manifestar um estado patológico de hipermetabolimo, o
padrão de desequilíbrio de fogo do wei, que acomete sua víscera, tem as
características de calor interno, gerado por um excesso de função, acarretando em

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um estado de hipermetabolismo e, também, tem manifestações clínicas de calor e,
portanto, se assemelha ao estado de desequilíbrio de tikshnagni no ayurveda. Além
deste padrão abordaremos as características dos outros três na tabela a seguir:

Quadro 11 – Comparação dos sintomas e estado metabólico dos


desequilíbrios de wei e de jatharagni
Padrão de Manifestação clínica Relação com os Metabolismo
desequilíbrio desequilíbrios
de jatharagni
Fogo do wei Dor epigástrica com sensação de queimação, Tikshnagni Hipermetabolismo
regurgitações acidas, vômito após refeição, mau hálito,
sangramento das gengivas, fome e sede excessiva,
vontade de beber líquidos frios, afta, boca e fezes
secas, inquietude mental, sensação de calor, língua
vermelha no centro com revestimento amarelo seco.
Deficiência de Falta de apetite, constipação com fezes ressecadas, dor Vishmagni Metabolismo
yin do wei ou queimação epigástrica, boca e gargantas secas, instável
especialmente à tarde, sensação de plenitude após
comer, vontade de beber águas em pequenos goles,
língua sem revestimento no centro ou com revestimento,
mas sem raiz.
Umidade- Sensação de plenitude e dor no epigástrio, sensação de Mandagni e Hipometabolismo
Calor no wei peso, dor facial, obstrução ou secreção nasal pegajosa e tikshnagni
espessa, sede sem vontade de ingerir líquidos, náusea,
sensação de calor, língua vermelha com revestimento
amarelo pegajoso
Deficiência de Sensação de desconforto no epigástrio, falta de apetite e mandagni Hipometabolismo
qi do wei de paladar, fezes amolecidas, cansaço principalmente de
manhã, membros fracos, língua pálida
Fonte: Adaptada de MACIOCIA, 2007

No ayurveda os estados do agni dizem respeito ao estado do metabolismo de


um indivíduo podendo estar em equilíbrio ou não. Por conta disso é impossível um
indivíduo se encontrar simultaneamente com mais de um estado de agni. Na
medicina chinesa o indivíduo pode apresentar mais de um padrão de desequilíbrio
simultaneamente e os padrões de desequilíbrios de pi não correspondem a um
estado do metabolismo como podemos ver no ayurveda. Porém, esses padrões
podem causar impacto na função metabólica gerando um comprometimento

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caracterizado por uma fraqueza e pobreza metabólica o que se aproxima das
características do estado de mandagni.
Os padrões da MTC que mais aproximam os sintomas do estado de
mandagni são os padrões de deficiência, principalmente de qi do pi e deficiência de
yang do pi. Como todos os padrões de deficiência do pi tem como percursor o
padrão de deficiência de qi do pi todos os padrões de deficiência de pi vão ter como
manifestação clínica também as mesmas que são apresentadas pela deficiência de
qi do pi além de, outros sintomas próprios característicos de cada padrão e,
portanto, vão apresentar manifestações clínicas similares ao desequilíbrio de
mandagni.
Os padrões de desequilíbrio que acometem vata (vishmagni) tem uma
manifestação clínica similar ao padrão de deficiência de xue do pi. Estes padrões
estão relacionados à uma deficiência de nutrição e podem apresentar sintomas de
perda de peso e desnutrição.

Quadro 12 – Semelhanças Entre os Desequilíbrios e Suas Manifestações


Clínicas
Jatharagni Pi Manifestação clínica

Mandagni Deficiência Hipofunção digestiva, metabolismo e digestão lenta e fraca, sensação de peso,
de qi do pi tendência à obesidade.
Obs: Agravado por condições frias, úmidas e pesadas.
Deficiência Hipofunção digestiva, metabolismo e digestão lenta e fraca, sensação de peso,
de yang do tendência à obesidade e sensação de frio.
pi Obs: Agravado por condições frias, úmidas e pesadas.

Vishmagni Deficiência Desnutrição, tendência a perda de peso, instabilidade da mente, fraqueza,


de xue do pi. insegurança, secura, dores articulares e ambos são afetados pelo frio.

Fonte: Adaptada de MACIOCIA, 2007; POLE,2007

Os padrões de afundamento de qi do pi e pi não controlando o xue também


são percursores do padrão de deficiência de qi do pi, e por conta disso, eles
possuem as mesmas manifestações clínicas que são atribuídas ao percursor do
padrão de deficiência além de suas próprias manifestações. Como dito, o padrão de
deficiência de qi do pi se aproxima das manifestações clínicas de mandagni do
ayurveda, porém, esses dois padrões de agravamento na MTC possuem sintomas
muito específicos como por exemplo o prolapso dos órgãos que acomete o

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afundamento do qi do pi e hemorragia interna que é atribuída ao pi não controlando
o xue.
O padrão de Umidade-Frio invadindo o pi também pode ser aproximado ao
desequilíbrio de mandagni já que os dois tem características de frio e peso e se
manifestam clinicamente através de pouco apetite, edema, náusea, sensação de frio
no sistema digestivo, ausência de sede, gosto adocicado e compleição branca.
Como o padrão de Umidade-Frio é um desequilíbrio exterior ele tem como etiologia
o clima frio, já o mandagni pode ser desequilibrado pelo clima frio, mas também,
alimentos e estilo de vida que possuem os mesmos atributos de kapha (mandagni).
O jatharagni e o pi, sofrem impacto em suas respectivas fisiologias com a
criação endógena de uma substância fria, pegajosa, pesada, lenta e difícil de
eliminar que é conhecida como ama para o ayurveda e umidade interna pela
medicina chinesa. Em ambas as racionalidades essa substância impura pode ser
gerada pela exposição ao clima frio e úmido e pela ingestão de alimentos que
também possuem essas características e como também, alimentos pesados e
processados.
O mal funcionamento do agni e do pi levam a formação dessa substância que
tem como consequência se acumular nos órgãos e tecidos e estão associadas a
doenças crônicas. Essa substância tem como característica ser material, espessa
oleosa, pegajosa, lenta, de odor desagradável e é localizada na língua concebida
como saburra, que é um indicativo que o indivíduo está acometido por essa
condição de ama/umidade interna. No ayurveda a saburra pode variar de cor e
localização que irá se diferenciar de acordo com o estado do agni: No indivíduo
acometido por toxina (ama) com um aumento de kapha a saburra se encontrará na
região anterior do corpo da língua e sua coloração será branca, um desequilíbrio de
origem pitta ocasionará em uma saburra amarelada na parte central do corpo da
língua e um desequilíbrio causado por vata resultará em uma saburra amarronzada
ou cinza que pode ser encontrada na região posterior do corpo da língua. Na
medicina chinesa a saburra quando acumulada, também é um indicativo da
presença de umidade interna. Quando a saburra se encontra branca é um indicativo
de presença de frio, quando está amarelada, acinzentada, esverdeada ou preta é
um sinal de calor.
Além da saburra os principais sinais de presença de ama/umidade interna
são a perda do apetite, cansaço após comer, indigestão, falta de energia, confusão

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mental e doenças biomédicas crônicas como por exemplo a diabete tipo II e a
obesidade. Essas medicinas acreditam que essa substância também pode ser
gerada pelo estado da mente como por exemplo o estresse, mente perturbada ou
até mesmo emoções excessivas que perturbam a mente.

Figura 2: Mapa mental – Ama e umidade interna

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tanto o ayurveda quanto a medicina chinesa são medicinas oriundas de uma


visão integrativa, vitalista e que por si só já são complexas e completas. Cada
racionalidade definiu um arcabouço de conceitos que se interligam a uma totalidade
e juntos são responsáveis por estruturar o campo fisiológico e patológico de cada
medicina. Quando isolamos um conceito para observar ele individualmente,
perdemos a visão dessa totalidade à qual ele está inserido que é a mesma que dá
sentindo a sua existência. O mesmo acontece quando aproximamos um conceito
isolado das diferentes racionalidades fugindo da proposta integral e complexa que
caracterizam essas medicinas, podendo acarretar facilmente em interpretações
superficiais sobre os conceitos. Apesar de ambas possuírem um olhar

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fenomenológico sobre o homem e a natureza, cada medicina possui sua própria
cosmologia que foi influenciada por suas diferentes culturas, filosofias, religiões e
regiões geográficas.
Por outro lado, esta pesquisa contribui para o diálogo entre os saberes,
beneficiando as equipes de multiprofissionais da saúde que possuem pacientes em
comum mesmo sendo de diferentes áreas de atuação, em vista de promover ações
de bem-estar físico, mental, emocional e social. Por mais distintas que sejam as
formas de pensar entre os saberes médicos, é necessário o entendimento dos
pontos de semelhança e diferenças dessas medicinas para que, os profissionais da
saúde possam atuar de forma complementar, multi-alvo e segura evitando qualquer
interação negativa que possa ocorrer entre as práticas médicas.
Como os desequilíbrios de jatharagni e de pi estão inseridos dentro de um
sistema complexo, o ideal seria realizar as comparações dos possíveis
desequilíbrios dentro de um mesmo caso clínico que, por meio do diagnóstico
completo de cada sistema, seria possível traçar com mais profundidade e precisão
um diálogo de aproximação desses sistemas, levando em consideração as
possíveis variáveis, que podem surgir dentro de cada medicina. Porém, dentro
desse método escolhido de comparar os desequilíbrios por meio das manifestações
clínicas e os principais impactos gerados na fisiologia, que acomete cada
desequilíbrio, foi possível observar que o estado de mandagni se aproxima das
manifestações clinicas dos padrões de deficiência de pi e, ambos desequilíbrios,
também acarretam em um estado similar de hipofunção digestiva. O estado de
vishmagni mostrou proximidades em suas manifestações clínicas com padrão de
deficiência de xue do pi. Já o estado de tikshnagni, apesar de possuir manifestações
clínicas semelhantes ao padrão de Umidade-Calor invadindo o pi, ele se aproxima
mais diretamente do padrão de Fogo do wei, que é um padrão de desequilíbrio da
víscera do pi. Tanto o tikshnagni quando o padrão de Fogo do wei apresentaram
similaridades em ambas as suas manifestações clínicas e, também, ambos geram
um estado de hipermetabolismo no organismo.
Os padrões de desequilíbrio de jatharagni e de pi, podem acarretar na
formação endógena de uma substância patológica denominada de ama, para o
ayurveda, e Umidade-Interna, para a medicina chinesa, que possuem
características patológicas em comum, e ambas prejudicam o funcionamento
sistêmico do organismo.

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REFERÊNCIAS

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(Doutorado em ciências sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
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MACIOCIA, G. Fundamentos da Medicina Chinesa: um texto abrangente para


acupunturistas e fitoterapeutas. 2ª edição. São Paulo- SP. ROCA LTDA, 2007

AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O Diagnóstico na Medicina Chinesa. 1ª Edição, São Paulo,


Editora Andrei, CHUNCAI, Zhou, 2002

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SOUZA, Eduardo Frederico Alexander Amaral de; LUZ, Madel Therezinha. Análise crítica
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FERREIRA, Claudia dos santos; LUZ, Madel Therezinha. Shen: categoria estruturante da
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PORTELLA, Caio Fabio Schlechta. Naturologia, transdisciplinaridade e


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SABBAG, Silvia Helena Fabbri; NOGUEIRA, Beatriz Mendes Reis; CALLIS, Andrea Lucila
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terapias complementares, v.2, n.2, 2013, p. 11-15

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APÊNDICE

APÊNDICE A – Mapa Mental Jatharagni


https://drive.google.com/file/d/1YNX_vg7zKEgeh1DDd8JgfSUViqzNlkNe/view?usp=sharing

APÊNDICE B – Mapa Mental Pi (baço)

https://drive.google.com/file/d/1f8T9gucnko69Yoh903URBGhvlhLogULt/view?usp=sharing

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